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Sumário APRESENTAÇÃO...11 INTRODUÇÃO A conceituação de função A proposição funcionalista de funções da linguagem...

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APRESENTAÇÃO ...11

INTRODUÇÃO ...15

1. GRAMÁTICA FUNCIONAL: EM FOCO AS FUNÇÕES ...19

1.1 A conceituação de função ...19

1.2 A proposição ‘funcionalista’ de ‘funções’ da linguagem ...22

2. O FUNCIONALISMO EM LINGUÍSTICA ...27

2.1 Uma visão geral do Funcionalismo linguístico ...27

2.2 Princípios que dirigem o Funcionalismo em Linguística ...29

2.3 Principais temas de investigação funcionalista ...31

2.4 Bases históricas do Funcionalismo: a Escola Linguística de Praga ...32

2.5 Sistematicidade e funcionalidade na língua ...34

2.6 A integração de componentes na Gramática funcional ...36

3. FUNCIONALISMO E INTERAÇÃO VERBAL ...39

3.1 A língua como instrumento de interação verbal ...39

3.2 O componente gramatical-discursivo ...41

3.3 A pragmática na gramática ...43

3.4 A organização gramatical e o fluxo da informação ...47

(3)

4. AS DUAS GRANDES CORRENTES DO PENSAMENTO

LINGUÍSTICO: FUNCIONALISMO E FORMALISMO ...51

4.1 A visão conjunta dos dois modelos ...51

4.2 A visão contrastada desses modelos ...53

4.3 Uma visão geral das críticas a esses modelos ...61

4.4 Uma questão particular no contraponto entre Funcionalismo e Formalismo ...63

5. MODELOS FUNCIONALISTAS ...65

5.1 Os diferentes ‘Funcionalismos’ ...65

5.2 Duas ‘Gramáticas’ de proposição explicitamente funcional/funcionalista ...68 5.2.1 A Gramática sistêmico-funcional (GSF) de Michael A. K. Halliday ...68 5.2.1.1 O arcabouço da teoria ...68 5.2.1.2 O histórico ...71 5.2.1.3 A explicitação da teoria ...73 5.2.2 A Gramática funcional (GF) e a Gramática discursivo-funcional (GDF) da Holanda ...85

5.2.2.1 O arcabouço inicial da teoria ...85

5.2.2.2 O histórico ...88

5.2.2.3 A explicitação da teoria da Gramática funcional (GF) ...92

5.2.2.4 A explicitação da teoria da Gramática discursivo-funcional (GDF), na decorrência da Gramática funcional (GF) ...104

6. GRAMÁTICA FUNCIONAL E COGNITIVISMO ...111

6.1 A(s) teoria(s) cognitivista(s) da linguagem humana ...111

6.2 A linguagem como representação de um sistema conceptual ...115

6.3 Cognição e comunicação humana ...119

6.4 A Gramática funcional / as Gramáticas funcionais de tipo cognitivo ...122

6.4.1 A Teoria da metáfora conceptual ...125

6.4.2 A Teoria dos espaços mentais ...127

6.4.3 A Teoria das construções gramaticais ...128

(4)

7. FUNCIONALISMO, TEXTO E DISCURSO ...133

7.1 Funcionalismo(s) e funcionamento discursivo-textual ...133

7.2 O funcional marcadamente voltado para a interação e o discurso ...135

7.2.1 Uma amostra do modelo da Costa Oeste americana ...135

7.2.2 A correlação de padrões gramaticais e padrões discursivos: John du Bois ...135

7.2.3 A proclamação da não autonomia da gramática: Talmy Givón ...137

7.2.4 O modelo da Holanda: a gramática como instrumento de interação social / gramática e discurso ...138

7.2.4.1 Simon Dik: a Gramática funcional ...138

7.2.4.2 Kees Hengeveld e Lachlan Mackenzie: a Gramática discursivo-funcional ...139

7.2.5 A gramática sistêmico-funcional de Halliday: o funcional voltado para as funções da linguagem e o texto ...140

7.3 A visão funcional da produção linguística e a Linguística do texto ...142

7.4 Afinal, o texto na teoria funcionalista da linguagem: no centro a interação e o discurso...144

8. GRAMÁTICA E EFICIÊNCIA DISCURSIVA: AS NECESSIDADES COMUNICATIVAS, AS DETERMINAÇÕES COGNITIVAS E O SISTEMA ...147

8.1 A ativação da gramática ...147

8.2 O dinamismo da gramática ...149

8.3 A representação conceptual e a codificação linguística ...152

8.3.1 A relação entre o empacotamento cognitivo e o empacotamento gramatical: a iconicidade (diagramática) ...152

8.3.2 A relação entre o esquema cognitivo (global) e o processamento linear e segmentável da linguagem verbal: a prototipia (categorial) ...158

9. AS ACOMODAÇÕES DO SISTEMA NO USO: A GRAMATICALIZAÇÃO ...165

9.1 A complexa natureza do processo ...165

9.2 O histórico da questão ...167

(5)

9.4 O campo e a perspectiva de estudo ...171

9.5 O percurso: níveis, fatores e fenômenos ...173

9.6 Princípios e efeitos ...175

9.7 A abstratização (metáfora) e a contextualização (metonímia)...182

10. UMA RECOLHA ANALÍTICA. OU: DO QUE NÃO FOI DITO ...189

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...193

(6)

O centro da questão é a indeterminação da linguagem, que condiciona uma multiplicidade de relações e uma multiplicidade de tensões, tudo a determinar mais fluidez do que rigidez no uso linguístico, ou seja, mais acomodações contínuas do que instalações imutáveis. (Da “Apresentação” de Neves (2015a: 15), fazendo referência a ‘motivações’ e a ‘pressões’ no uso linguístico, e defendendo a necessidade de atenção do analista às pressões discursivas e às motivações cognitivo-perceptuais atuantes na interação linguística, um dos temas centrais de discussão na teoria funcionalista da linguagem)

Esta obra tem como matriz de organização o livro A Gramática funcional, de minha autoria, editado em 1997 pela Editora Martins Fontes, nunca submetido à necessária revisão ortográfica, nunca tendo recebido uma reedição registrada (apesar do número de seus leitores, sabidamente, muito grande), e há bastante tempo indisponível para venda (a não ser no mercado de usados).

Esta não é uma reedição, é uma refacção total da obra, com incorporação de pesquisas atualizadas sobre o desenvolvimento da teoria funcionalista e com incor-poração de reflexões pessoais que desenvolvi durante o tempo que decorreu desde essa publicação de 1997. Em todo esse tempo, apresentei resultados de pesquisa, em conferências e palestras, e publiquei dezenas de estudos (teóricos e práticos) abrigados na chancela da visão funcionalista da linguagem (livros, capítulos e artigos), alguns citados e recuperados nesta obra.

O que faço, de certa maneira, neste “Manual” (de consulta/de estudo), é res-gatar a proposta de estudo de Neves (1997), para incorporá-la a um contingente de reflexões que compõe, em um plano teórico de direção particular, a recolha de alguns dos estudos que desenvolvi desde então. O pensamento se organiza com programação determinada para tratamento correlacionado de temas diretamente envolvidos naquilo que, no geral, considera-se que sejam pesquisas dirigidas pela

(7)

12 Gramática funcional

linha do Funcionalismo linguístico/da Gramática funcional (rótulos que coloco em um mesmo território de busca de fatos). Por essa razão, o que trago (no conteúdo e no discurso) são, particularmente, indicações sobre proposições teóricas, rara-mente alguma indicação de análises práticas de uso (o que, na verdade, foi algo que muito prioritariamente desenvolvi em meus trabalhos,1 mas que não cabem

diretamente neste livro, eventualmente entrando em citação).

Assim, além de estarem aqui conservadas (revistas e redistribuídas) pratica-mente todas as informações oferecidas na obra inicial (Neves, 1997) – que aproxi-madamente representam cerca de 40% da extensão atual –, uma parte considerável do que vai exposto é captado em estudos que foram desenvolvidos posteriormente, nem todos nominalmente citados. Afinal, na organização deste livro esse conjunto se submete a uma nova angulação, a fim de compor a trajetória que foi projetada para a configuração atual da obra.

São estes (de modo muito geral, e com apresentação em tópicos) os passos (capítulos) dessa configuração em que, dentro dos limites de extensão que a na-tureza da obra impõe, é tratado o tema do lugar e do papel do FunciOnAlismO/da

Gramática FunciOnAl nos estudos linguísticos:

0. (Introduzindo) Os termos Funcionalismo/Gramática Funcional: definição de

uma teoria da organização gramatical das línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global da interação social, propondo que as relações entre as

unidades e as funções das unidades têm prioridade sobre seus limites e sua posição, e por aí entendendo a gramática como suscetível às pressões do uso, com a tarefa central de correlacionar forma e significado no plano discursivo-textual.

1. A noção mais amplamente identificadora da direção Funcionalista da

aná-lise das línguas naturais: foco no uso linguístico, na ‘língua em função’, com a necessária atenção no estabelecimento da categoria ‘função’.

2. A caracterização geral do ‘Funcionalismo linguístico’/da ‘Gramática Fun-cional’: seus princípios, seus temas de investigação, suas bases históricas, sua natureza teórica (sistematicidade e FunciOnAlidAde imbricadas), sua

componen-cialidade FunciOnAl (sintaxe, semântica e pragmática imbricadas).

3. A compreensão da intrínseca relação de ‘uso e sistema’: a ‘língua’ como suporte

da ‘linguagem’ no seu fazer-se; a interação verbal no propósito e na motivação das

‘expressões linguísticas’, na organização discursiva e na organização gramatical da expressão (segundo “modelos mentais” que se ativam).

(8)

Apresentação 13 4. A necessária visão crítica da correlação entre as duas correntes de visão

linguís-tica tradicionalmente postas em confronto, Funcionalismo e Formalismo: a con-junção e o contraste dos dois modelos, mediante a análise dos fundamentos da questão. 5. É o capítulo mais documental da obra: apresentação e discussão de ‘diferentes’ Funcionalismos, especialmente as duas nomeadas “Gramáticas Funcionais”

constituídas (a visão histórica das propostas, seu arcabouço teórico e a explici-tação da teoria).

6. o componente cognitivista da visão de gramática, língua e linguagem: com as teorias de base, o cognitivo na linguagem visto como representação de um sistema conceptual e como mediação de funções comunicativas (exatamente em contraponto com essas duas grandes âncoras da visão FunciOnAlistA); na sequência,

notícia de ‘Gramáticas FunciOnAis’ de tipo cognitivo.

7. a explicitação do(s) Funcionalismo(s) na sua ligação com as entidades

‘tex-to’ e ‘discurso’: de um lado, propostas que vão essencialmente à explicitação do

FunciOnAmentO discursivo-textual (amostra de uma proposta baseada na correlação

entre padrões gramaticais e padrões discursivos, e de outra baseada na proclamação da não autonomia da gramática); de outro lado, propostas que vão à explicitação da gramática como instrumento de interação social (amostra de duas propostas desenvolvidas em continuidade, centradas na organização discursiva); de outro lado, ainda, uma proposta que, centrada essencialmente nas ‘funções’ da linguagem sistemicamente resolvidas, vai à organização linguística como organização textual. 8. a gramática e seu papel na organização da eficiência discursiva, em

atendi-mento das necessidades comunicativas: a ativação da gramática e seu dinamismo; a ligação entre a representação conceptual e a codificação linguística; a relação entre o empacotamento cognitivo e o empacotamento gramatical (com resultado no paradigma da iconicidade ‘diagramática’); a relação entre o esquema cogni-tivo (global) e o processamento linear e segmentável da linguagem verbal (com resultado no paradigma da prototipia ‘categorial’).

9. as acomodações da língua no uso (ilustrando as mais significativas propostas dos ‘Funcionalismos’) e a possibilidade de chegada à ‘gramática’ do que não

era (de direito) ‘gramatical’, com a ‘gramaticalização’: sua conceituação e seus limites; sua (complexa) natureza; seu histórico; seu campo e a perspectiva de seu estudo; seu percurso (níveis e fenômenos), seus princípios e seus efeitos. A conjunção de abstratização (metáfora) e contextualização (metonímia) no processo.

(9)

14 Gramática funcional

10. uma leve recolha analítica, com duas questões para observação e para exame: (i) o perigo que representa a tendência de ‘superestimar’ explicações Funcionais das formas linguísticas: a necessidade de uma visão devidamente balanceada (teo-ricamente sustentada) da natureza dos fatos de língua no uso, e do papel dos fatores FuNcIONAIS; (ii) no contraponto (e com destaque), a grande importância da sustentação teórica que a teoria FuNcIONAlIStA pode dar (e tem dado) às pesquisas em tipologia linguística (já possível de ser rastreada na história da proposta FuNcIONAlIStA e agora documentada em estudos atuais de grande validade): ela pode ser verificada, nota-velmente, como uma natural decorrência do desenvolvimento sustentado de noções ligadas ao tratamento FuNcIONAl da linguagem, tais como ‘motivação’, ‘propósito comunicativo’, ‘dinamicidade’, ‘dependência situacional’, ‘instrumentalidade’ (ter-mos colhidos rastreando a exposição aqui oferecida), que explicam a conveniência e a necessidade de investigação em diferentes línguas particulares.

No rescaldo das indicações: em qualquer dos modelos FuNcIONAIS em desen-volvimento, examina-se a configuração de uma gramática que, explicável em

bases sociointeracionais e em bases cognitivistas inter-relacionadamente, tem

suas descrições dirigidas pela tentativa de atingir o equilíbrio entre o mais geral e

as especificidades linguísticas, que é o que corresponde ao uso linguístico efetivo.

NOTA

1 cito apenas obras completas (livros) de autoria individual: 2 gramáticas de referência que preparei, a

Gra-mática de usos do português (2011a [2000]) e a GraGra-mática do português revelada em textos (a sair); 1 obra

de indicação de uso em confronto com norma: Guia de uso do português (2012 [2003]); uma série de livros autorais em que, no geral, operam-se análises de uso, com o amparo das indicações teóricas desenvolvidas: Neves (2002; 2003; 2006; 2010a; 2012; 2015a).

(10)

Com efeito, pode-se, e até parece necessário, fazer esta distinção na Darstellung bühleriana, dado que, na realidade, somente a informação pode ser considerada como uma função particular da linguagem, enquanto a representação pertence à linguagem na sua totalidade, coincidindo com sua natureza cognitiva.1

(Eugenio Coseriu, El hombre y su lenguaje: estudios de teoría y metodología lingüística, 1991, p. 79)

1.1

A conceituAção de função

O termo função apresenta tal variedade de usos que, simplesmente com chamar-se funcional a uma teoria linguística, não chamar-se obtém caracterizá-la realmente.

Buscando precisar a noção do que denomina “Linguística Funcional”, Martinet (1994: 11-12) inicia pela tentativa de definição do termo função segundo três valores: 1. o valor de “papel”, ou de “utilidade de um objeto ou de um

compor-tamento” (que é o adotado pela Sociedade Internacional de Linguística Funcional – SILF);

2. o valor de “papel de uma palavra em uma oração”, acrescentado ao signifi-cado da palavra em seu contexto (que é o que está na tradição gramatical); 3. o valor matemático de “grandeza dependente de uma ou de diversas

variá-veis” (valor cuja utilização em Linguística é muito perigosa).

Para Martinet (fundador da SILF), o termo funcional só tem sentido para os linguistas “em referência ao papel que a língua desempenha para os homens, na comunicação mútua de sua experiência” (Martinet, l994: 13).

Como mostra Dillinger (1991: 398), no estudo da linguagem não se usa o termo função em seu sentido matemático (algébrico) de “relação especial entre dois conjuntos na qual todos os elementos de um conjunto (o domínio) têm

ape-1.

Gramática funcional:

em foco as funções

(11)

20 Gramática funcional

nas um elemento correspondente no outro conjunto (o contradomínio)” (grifos

do autor). Pelo contrário, continua Dillinger (1991: 399), na Linguística usa-se

função no sentido de “relação”. E, citando Garvin (1978: 336), ele aponta que

esse termo pode indicar relações de três tipos: (i) entre uma forma e outra (função interna); (ii) entre uma forma e seu significado (função semântica); (iii) entre o sistema de formas e seu contexto (função externa). Assim – continua o autor –, da mesma maneira que o ‘Formalismo’ não distingue claramente entre “o estudo da forma linguística” e “o uso de dispositivos formais”, o ‘Funcionalismo’ não identifica claramente as funções ou relações que constituem objeto de estudo. Os gerativistas, por exemplo, seriam “funcionalistas” par excellence no sentido da relação em (i), mas no binômio forma/função o que se privilegia é o tipo (iii), isto é, a função social-comunicativa.

Nichols (1984) distingue cinco significados para o termo função, relacio-nados com cinco diferentes componentes da gramática: a função interdepen-dência; a função propósito; a função contexto; a função relação; e a função significado. Observa, entretanto, que “a maioria das obras funcionalistas usa

função apenas com os significados de propósito e de contexto, e não distingue

entre os dois” (1984: 101).

O berço da colocação dos termos função e funcional em foco nos estudos linguísticos está na Escola Linguística de Praga, mas, segundo Danes (1987: 4), não é tarefa fácil verificar a interpretação que ela dá a esses termos. Em primeiro lugar, há nessas obras muito poucas tentativas de definição dos termos usados; em segundo lugar, o conceito é aplicado a variados domínios e fenômenos da lingua-gem, e, por isso, sofre muitas modificações, aparecendo com variações nocionais;2

em terceiro lugar, há diferenças e vacilações entre os diferentes autores; em quarto lugar, o termo funcional é usado, em alguns casos, num sentido muito vago, como uma espécie de simples rótulo; e, em quinto lugar, os termos função e funcional não são os únicos relevantes para a interpretação daquilo que o autor dessa escola considera que seja a visão “funcionalista”: de um lado, outros termos e expressões provindos da interpretação finalista (teleológica, teleonômica), como meios, fins,

instrumento, eficiência, necessidades de expressão, servir para evidenciam a visão

finalista; de outro lado, essa visão pode estar presente e ser determinável na dis-cussão científica dos fatos da língua sem o uso explícito de termos teleonômicos (por exemplo, expressões adjetivadas, como traços distintivos/traços expressivos devem ser interpretadas como “traços que têm uma função distintiva / expressiva”).

Anscombre e Zaccaria (1990) citam as Thèses (1929) (la langue est un

sys-tème d’expressions appropriés à um but) para afirmar que, na Escola de Praga,

(12)

Gramática funcional: em foco as funções 21 ela desempenha no processo comunicativo, noção baseada na concepção da lín-gua como ‘código’. Danes (1987: 4-5) mostra que, afinal, a maioria dos autores da Escola Linguística de Praga usou o termo função para indicar as ‘tarefas’ que a linguagem ou seus componentes desempenham, ou o ‘propósito’ ao qual eles servem, significado que se afasta do valor lógico-matemático que o termo tem nos Prolegomena de Hjelmslev (1943). Diz Danes (1987: 7) que, no campo da Linguística, seria a Jakobson, afinal, que se deveria um tratamento do conceito de função dentro do quadro teórico ‘finalista’ ou ‘teleológico’. No quadro geral da teleologia, ou teleonomia, existe uma asserção básica: (1) “Um fenômeno X é um meio para a realização de um fim F”. Esse princípio, como mostra Danes, pode ser reformulado de forma mais breve introduzindo-se a noção de ‘função’ teleonômica: (2) “Um fenômeno X tem uma função f”. Assim, a propriedade “ter a função f” aparece como idêntica à propriedade “servir como meio para o fim (propósito) F”. As asserções (1) e (2) são, pois, equivalentes. A noção de “fun-ção” inclui o propósito, isto é, inclui os fins, e também o meio, isto é, inclui os portadores da função.

Ampliando a noção para a visão funcionalista, pode-se tomar Halliday (1973a: 104), para quem o termo função refere-se ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos, servindo a muitos e variados tipos universais de demanda, não se refere aos papéis que as classes de palavras ou os sintagmas desempenham dentro da estrutura das unidades maiores.

Vários estudiosos têm tentado a classificação de função segundo uma espe-cificação dos propósitos pelos quais se tem entendido que as línguas são usadas. Declarando textualmente que “função é um princípio linguístico fundamental”, Halliday e Hasan (1989: 16) indicam que, entretanto, o que muitos estudos têm feito é construir o conceito em termos não linguísticos, montando a interpretação a partir dos diferentes modos pelos quais as pessoas usam a língua, e, portanto, interpretando o termo função como sinônimo de uso (não se negando que, de fato, as pessoas fazem as mais diferentes coisas com a língua que falam). E os autores mostram, em um quadro, uma série de quatro propostas históricas nes-se nes-sentido, as quais vão de Malinowski (1923) a Britton (1970), passando por Bühler (1934) e Morris (1967).3 Trata-se de uma importante indicação, a qual

(13)

22 Gramática funcional

Quadro 1 – Teorias linguísticas funcionais, em que função é o mesmo que ‘uso’

pragmática mágica MALINOWSKI

(1923)

narrativa ativa

representacional

(3ª pessoa) conativa(2ª pessoa) expressiva(1ª pessoa) BÜHLER(1934)

transacional expressiva poética BRITTON

(1970) informativa conativa

informação

fala tratofala modofala exploratóriafala MORRIS(1967) usos informativos

(orientação para o conteúdo)

usos interativos

(orientação para o efeito) usos imaginativos de controle do outro de suporte mútuo de

autoexpressão ritual poético Nota: As células não preenchidas correspondem a usos não cobertos pelo autor em questão. (Reproduzido do original inglês de Halliday e Hasan, 1989: 17).

E exatamente nessa linha, dizem Halliday e Hasan (1976) que, se o que está em questão são as “funções linguísticas” (1976: 17), a interpretação do termo função tem de dar um passo adiante, indo à organização da língua em si, e, particularmente, à organização do sistema semântico. Em outras palavras, o termo função tem de ser interpretado como uma propriedade fundamental da língua, algo que é básico para a evolução do sistema semântico.

1.2

A proposição ‘funcionAlistA’

de ‘funções’ dA linGuAGem

A proposição linguisticamente orientada de ‘funções’ da linguagem é uma questão complexa, exatamente porque, como apontam Garvin e Mathiot (1975: 150), o termo função, tomado em relação à linguagem, tanto pode referir-se ao propósito do uso (isto é, à intenção do usuário) quanto ao papel ou ao efeito do uso, e, além disso, é necessária uma distinção entre funções imediatas, que têm baixo nível de abstração, e funções mediatas, com nível de abstração bastante elevado.

Uma proposta de determinação das ‘funções’ da linguagem tem ampla adoção entre os estudiosos da questão, e, evidentemente, tem de ser destacada. É a proposta de Karl Bühler – já anunciada no quadro em 1.1 –, que indica três funções para a linguagem, as quais se apresentam hierarquizadas, nos diferentes enunciados: a de representação (Darstellungsfunktion), a de exteriorização psíquica

(14)

Gramática funcional: em foco as funções 23 notícia do artigo “Kritische Musterung der neueren Theorien des Satzes” (que tra-duzem em inglês como Critical Assessment of New Sentence Theories), publicado em 1918 no Kritische Musterung der neueren Theorien des Satzes (que traduzem como Critical Assessment of New Sentence Theories), no qual Bühler propôs um modelo triádico de ‘funções’ (Leistungen) da linguagem, baseadas nos três prin-cipais fundamentos de qualquer interação constitutiva de sentido: (i) o falante, a cujos sentimentos e atitudes se dá expressão; (ii) o ouvinte, a quem se provê um ‘estímulo’ que elicia reações; (iii) os objetos e estados de coisas, que formam os referentes para representação (Bühler, 1918: 16, apud Daalder e Musolff, 2011: 234). Nesse ponto, documentando a questão com recurso a Bühler (1927: 29 e 57-62), esses autores apontam que tal modelo de três funções forma um esquema para uma concepção de psicologia como estudo integrado da “experiência subjetiva”, do “comportamento” social e de “estruturas de sentido objetivo” (1927: 233).

Nas obras em que se dedicou mais especificamente à linguagem, Bühler (1932: 106; 1933: 74-90), como desenvolvem Daalder e Musolff (2011: 233),4 chamou às três

funções, respectivamente: Darstellung (representação), Ausdruck (expressão), Appell (apelo), destacando a primeira (a função representativa) como aquela que caracteriza a linguagem como atividade tipicamente humana. Como propõe o autor, em toda rea-lidade linguística há: (i) alguém que se expressa; (ii) alguém que apela a seu receptor (o qual o “escuta” e recebe efeitos produzidos sobre si, nessa “escuta”); (iii) algo que representa/significa algo (ou seja, diz algo sobre algo). Cada evento de fala constitui um drama, no qual se reconhecem três elementos: uma pessoa (Sender) informa outra pessoa (Empfänger) de algo (Gegenstände und Sachverhalte), e é nessa atividade que se manifestam as três funções, as quais não são mutuamente exclusivas, mas coexistem no mesmo evento. Uma proposição particularmente relevante de Bühler é a de que ‘comunicar’, em si, não é algo que se ponha como ‘função’ da linguagem, porque a capacidade que tem a linguagem de funcionar comunicativamente é exatamente aquilo que condiciona todo o complexo que constitui o evento de fala.

As diversas propostas de estabelecimento de funções linguísticas que se encontram historicamente são quase determinantemente correlacionadas com a proposição de Bühler. Entretanto, estabelecer correlações muito diretas é peri-goso, porque o termo função nem sempre tem o mesmo significado e a mesma abrangência, existindo diferentes critérios e diferentes níveis de generalização nas diferentes classificações oferecidas dentro de cada quadro teórico.

Especificamente para a Escola de Praga, já ficou apontado, aqui, que a interpre-tação do termo função é problemática. Na proposta de Mathesius (1923 apud Danes, 1987: 11-12), a função externa da linguagem apontada como básica é justamente a comunicativa, à qual se segue (e com a qual se mescla), como secundária, a expres-siva, referente à manifestação espontânea (também das emoções) do falante.

(15)

Enun-24 Gramática funcional

ciados de caráter puramente comunicativo, ocorrentes em um discurso científico, são considerados casos extremos, e apenas em relação a eles Mathesius fala de uma função “de representação”, no sentido de Bühler. A “função comunicativa” a que se refere Mathesius cobre, na verdade, a “representação” e o “apelo” de Bühler, já que a própria comunicação é vista em duas variedades: a comunicação pura e simples (informar ou declarar) e a comunicação de um apelo (ordenar ou perguntar).

As Thèses da Escola de Praga, de 1929, como indica Danes (1987: 12), es-tabeleceram diferentemente as funções da linguagem, com evidente inspiração na Escola Formalista Russa. O ponto de vista básico assenta-se no modo como essas funções e seus modos de realização alteram a estrutura fônica, gramatical e lexical da língua. Em vez de uma classificação de funções, apresenta-se uma classificação de “línguas funcionais”, que traz oposições binárias, como interna/ externa, intelectual/emocional, prática/teórica, etc.

Na verdade, as propostas de conjuntos de funções da linguagem são diversas também entre os diversos autores da Escola Linguística de Praga.

Roman Jakobson, que tem a proposta mais amplamente divulgada, adiciona às três funções de Bühler outras tantas, constituindo uma série de seis funções da linguagem, cada uma delas ligada mais diretamente a um dos fatores intervenientes no ato de comunicação verbal: (i) ligação com o contexto: função referencial; (ii) ligação com o remetente: função emotiva; (iii) ligação com o destinatário: função conativa; (iv) ligação com o contato: função fática; (v) ligação com o código: fun-ção metalinguística; (vi) ligafun-ção com a mensagem: funfun-ção poética. Para Jakobson (1969), em cada mensagem se incorpora um ‘feixe’ de funções da linguagem; entre os seis fatores envolvidos no processo de comunicação, um recebe mais destaque em determinado enunciado, outro é enfatizado em outro enunciado, e assim por diante, configurando-se, pois, em cada mensagem, a existência de uma função primária e outras secundárias, ou seja, uma hierarquia de funções.

Na escola britânica de John Rupert Firth, Michael Halliday e seguidores, o conceito de “função”, como aponta Beaugrande (1993, cap. I), é semelhante ao dos tchecoslovacos, devendo-se observar que a formação daqueles estudiosos não era em línguas eslavas, mas em língua inglesa e em línguas orientais. O conceito que se formou derivaria do grande interesse em ‘prosódia’ ou ‘entonação’, e ao compromisso de, nos termos de Firth, “tratar o significado por meio de uma abor-dagem completa da disciplina” e “em todos os níveis de análise” (1993: 20). O sistema da língua continua a ser visto como uma “rede” de opções cujas funções controlam as operações de escolha e arranjo.

Halliday (1973a) afirma que usa o termo função do mesmo modo que Bühler, embora não se mova na mesma teoria, já que o esquema de Bühler, como já ob-servado, tem um ponto de vista psicológico, pondo sob consideração as funções

(16)

Gramática funcional: em foco as funções 25 a que a linguagem serve na vida do indivíduo. Para Halliday (1978: 48), Bühler tem interesse psicolinguístico, não buscando explicar a natureza do sistema lin-guístico em termos funcionais, mas usando a linguagem para investigar coisas que estão fora dela. Diferentemente, Halliday insiste em uma teoria das funções da linguagem não apenas extrínseca, mas também intrínseca, uma teoria segundo a qual a multiplicidade funcional se reflete na organização interna da língua, e, assim, a investigação da estrutura linguística revela, de algum modo, as várias necessidades a que a linguagem atende. A pluralidade funcional constrói-se cla-ramente na estrutura linguística, formando a base de sua organização semântica e sintática, ou seja, lexical e gramatical.

Já nos anos 1970 Halliday (1970, 1973a, 1973b, 1977) faz uma proposição de funções (ou, mais precisamente, de “metafunções”) da linguagem que se mantém nas suas obras subsequentes de exposição da teoria, e que vem sendo invocada, em geral, em trabalhos sobre língua e linguagem.

A proposta é que a linguagem serve, em primeiro lugar, à expressão do conteúdo, isto é, ela tem uma função “ideacional”. Isso corresponde ao que comumente se denomina significado cognitivo, embora, para Halliday, esse termo seja enga-nador, já que existe elemento cognitivo em todas as funções linguísticas. É por meio dessa função que o falante e o ouvinte organizam e incorporam na língua sua experiência dos fenômenos do mundo real, o que inclui sua experiência dos fenômenos do mundo interno da própria consciência, ou seja, reações, cognições, percepções, assim como os atos linguísticos de falar e de entender. Dentro dessa função ideacional da linguagem se reconhecem duas subfunções, a “experiencial” e a “lógica”. Afirma Halliday (2004: 29) que não há nenhuma faceta da experiência humana que não possa ser transformada em “significado”.

Em segundo lugar, para Halliday a linguagem serve à função “interpessoal”, isto é, o falante usa a linguagem como um meio de participar do evento de fala: ele expressa seu julgamento pessoal e suas atitudes, assim como as relações que estabelece entre si próprio e o ouvinte, em particular o papel comunicativo que assume. Isso significa que a função interpessoal subsume tanto a função expres-siva como a conativa de Bühler, as quais, como diz Halliday (1973a), não são realmente distintas, no sistema linguístico. O elemento interpessoal da linguagem, além disso, vai além das funções retóricas, servindo, num contexto mais amplo, ao estabelecimento e à manutenção dos papéis sociais, que, afinal, são inerentes à linguagem. A função interpessoal é, pois, interacional e pessoal, constituindo um componente da linguagem que serve, ao mesmo tempo, para organizar e expressar o mundo interno e o mundo externo do indivíduo. Halliday (2004: 29) esclarece que, enquanto a função ideacional da gramática é “linguagem como reflexão”, a função interpessoal é “linguagem como ação”.

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26 Gramática funcional

O próprio Halliday observa que essas duas funções parecem suficientes para a visão da linguagem, entretanto existe uma terceira função, que ele propõe como instrumental em relação às outras duas. Trata-se da função “textual”, que diz res-peito à própria criação do texto; por ela, a linguagem contextualiza as unidades linguísticas, fazendo-as operar no cotexto e na situação: o discurso torna-se possível porque o emissor pode produzir um texto, e o ouvinte ou leitor pode reconhecê-lo. Assim como a oração é uma unidade sintática (unidade no processamento da gramática), o texto é uma unidade operacional (unidade de trabalho), e a função textual não se limita simplesmente ao estabelecimento de relações entre uma e outra frase, referindo-se, antes, à organização interna da frase, ao seu significado como mensagem, tanto em si mesma como na sua relação com o contexto. Trata-se de uma função “capacitadora”, “facilitadora” (Halliday, 2004: 29), já que as outras duas dependem de que seja habilitada a construção das sequências discursivas, com organização de fluxo informativo, bem como com coesão e continuidade textual.

Diz Halliday (1973a) que, sendo interna à linguagem, a função textual não é comumente levada em conta quando o objeto de investigação é extrínseco. Entre-tanto, ela se associa especificamente ao que se diz “funcional” nos trabalhos dos linguistas da Escola de Praga, que desenvolveram as ideias de Bühler dentro da teoria linguística e que têm eco no Funcionalismo linguístico.

NOTAS

1 “En efecto, se puede, y hasta parece necesario, hacer esta distinción en la Darstellung bühleriana, dado que,

en realidad, solamente la información puede considerarse como función particular del lenguaje, mientras que la representación pertenece al lenguaje en su totalidad, coincidiendo con su naturaleza cognoscitiva.”

2 Nuñez (1999: 10) aponta que as inúmeras reformulações do conceito de função, nessa Escola, aludiram: à

finalidade da língua como instrumento de comunicação bem como às distintas funções da linguagem; ou à função geral das unidades linguísticas, o que posteriormente se traduz: em uma função distintiva; ou em uma função semântica deduzida a partir de um comportamento paradigmático e sintagmático determinado; ou em uma função semântica como correlato das distintas funções sintáticas (nesses dois últimos casos denominada por alguns como forma de conteúdo).

3 A proposta de Bühler será tratada adiante, nesta seção. Das outras três (nenhuma provinda de um ‘linguista’),

pode-se fazer este resumo, bem sucinto: o antropólogo Malinowski propôs duas amplas funções da linguagem, a prática, ou pragmática (subdividida em ativa e narrativa), e a mágica/ritual. Britton, um educador, desenvolven-do o esquema triádico de Bühler, propôs as funções: transacional (que enfatiza o papel participativo), expressiva e poética; Morris, etologista e zoólogo, a partir de um estudo da espécie humana do ponto de vista behaviorista (Morris, 1967), chegou à proposta de quatro funções da linguagem: uma de troca de informação cooperativa, uma expressiva, uma estética ou recreativa (‘falar por falar’) e uma de puro contato social (fática).

4 É interessante observar que, também como mostram Daalder e Musollf (2011: 234), Bühler (1990) remete

a Saussure, diretamente, o fato de ter-se motivado para reconceptualizar a teoria linguística a partir de um ponto de vista “semiológico”. Ainda índicam esses autores que, além do Curso, de Saussure, Bühler (1990) relaciona outras três obras como preparadoras de uma base funcional para a Linguística: Investigations into

the Fundamental Questions of the Use of Language (1885), de Philipp Wegener; Indo-European Pronoun Systems (1904?), de Karl Brugmann’s; e Theory of Speech and Language (1932), de Alan Gardiner (que

Büh-ler considerou “a mais interessante tentativa” de efetuar um projeto semelhante ao seu, entretanto ressalvando que Gardiner se empenhou exclusivamente em uma “teoria situacional da linguagem”).

Referências

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