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Trabalho: Comentários 1 a acórdão do STF sobre princípios Princípio da publicidade dos atos processuais

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB Faculdade de Direito – FD

Disciplina: Teoria Geral do Processo II

Trabalho: Comentários 1 a acórdão do STF sobre princípios

Princípio da publicidade dos atos processuais

Professor: Vallisney Oliveira

Alunas: Natália Butignoli Segala 12/0130840 e Tâmara Cordeiro Pólo Mendes 12/0135931

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- HABEAS CORPUS. AMPLA DEFESA. PAUTA: FALTA DE PUBLICAÇÃO. A garantia constitucional da ampla defesa (artigo 5.-LV da CF) e o princípio da publicidade (artigo 93-IX da CF) foram frustrados por não terem o réu e seu defensor ciencia do julgamento de seu interesse. Ordem concedida.

(STF - HC: 71250 RJ , Relator: FRANCISCO REZEK, Data de Julgamento: 25/10/1994, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 04-08-1995 PP-22442 EMENT VOL-01794-02 PP-00239)

- ACÓRDÃO:

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, em deferir o habeas corpus, nos termos do voto do relator.

Brasília, 25 de outubro de 1994.

NÉRI DA SILVEIRA – PRESIDENTE FRANCISCO RESEK – RELATOR

- VOTO:

O Sr. MINISTRO FRANCISCO REZEK (RELATOR): - Meu voto abona o parecer do Ministério Público Federal, que vestibular mente requisitou, para melhor análise da espécie, os autos do processo pertinente. Está claro que tanto a garantia constitucional da ampla defesa (art. 5º - LV da CF), quanto o princípio da publicidade (art. 93 – IX da CF) foram, no caso, frustrados por não terem o réu e seu defensor ciência do julgamento de seu interesse.

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Observo, por fim, que sobre o pedido de liberdade do paciente, a jurisprudência da casa o desautoriza quando já sob custódia o réu no momento da sentença.

Este o quadro, concedo a ordem para anular a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, determinando que outro julgamento se realize precedido de regular intimação.

Este é o voto.

Comentários

O princípio da publicidade, o qual apresenta destaque no presente acórdão, classifica-se como fundamental, pois tem o cunho político de traçar diretrizes ideológicas ao processo. Ele encontra-se expressamente alicerçado na Constituição Federal Brasileira, além de estar presente em outros importantes documentos do ordenamento jurídico. Esta é a previsão do dispositivo constitucional:

Art. 93. [...] IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação

Posto assim, deve-se ter em vista que o princípio da publicidade mostra-se como o dever de transparência relativo ao funcionamento do Judiciário.

Destarte, ele está diretamente ligado à ideia de democracia em que se baseia a República Federativa do Brasil. Tal princípio se enquadra, então, no âmbito de interesse tanto das partes e seus representantes, que por ele têm acesso aos autos e podem aparecer nas audiências judiciais, quanto da coletividade, que também é capaz de acessar os autos, conhecendo, assim, o funcionamento e a lógica do processo judicial. O princípio da publicidade atende, portanto, ao controle democrático dos atos judiciais, e, juntamente com a fundamentação das decisões, também descrita no art. 93, IX, legitimam a atividade dos juízes perante a sociedade.

Entendido com a tamanha abrangência da publicidade ampla, que se refere à sociedade como um todo, com mais razão se justifica a publicidade restrita, relativa às partes e seus representantes, por albergar os principais interessados do processo, os mais diretamente atingidos por seu resultado. E, em primeiro lugar, foi a lesão a essa publicidade restrita que motivou o presente recurso ao STF. Tal omissão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro é uma visível arbitrariedade a que a publicidade tem a pretensão de limitar.

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A prolação do acórdão sem publicação de pauta, não intimando, assim, as partes para a sessão de julgamento, feriu não só princípio da publicidade, mas foi além, pois isso implica lesão ao devido processo legal, ou seja, o direito ao processo regular e dotado de garantia para as partes, e lesão à ampla defesa, que é o direito de defender-se com os meios apropriados. A ampla defesa é consequência direta da publicidade, já que, sem esta, não há possibilidade de o indivíduo produzir as provas necessárias a sua defesa e demonstrar o direito que afirma possuir. A parte, a não ser intimada, não teve a oportunidade de se defender, de tentar convencer o juiz de seus direitos, o que caracteriza uma atitude arbitrária, despótica, injusta, não condizente com um Estado de Direito.

O descumprimento à exigência da aplicação do princípio da publicidade ganha maior relevância em se tratando do Direito Penal, o qual realiza uma proteção a bens jurídicos em ultima ratio, por implicar uma intervenção muito grave do Estado na esfera de direitos do cidadão, devendo, com muita razão, o processo penal estar cercado por garantias ao indivíduo frente ao poder punitivo do Estado. Isso, como bem relatado no acórdão, não é imperativo por haver alguma prova de o resultado do recurso mudar, mas porque a publicidade e a ampla defesa são direitos subjetivos dos indivíduos garantidos pela própria Carta Magna, fundamentais ao cumprimento do devido processo legal.

Entretanto, o princípio da publicidade encontra certos limites, como as exceções feitas pelas seguintes normas:

Art. 5° [...] LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; (CF)

Art. 93. [...] IX (...) podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação (CF)

Art. 792. [...] § 1o Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes. (CPP)

Nota-se que, em regra, em tais exceções, os entraves se referem ao público geral, no máximo às partes, mas não a seus representantes, permanecendo, assim, a publicidade restrita. Isso só vem a reforçar a questão do interesse maior da publicidade em relação às partes, pois o réu pode, atendendo as condições legais, unilateralmente renunciar à publicidade ampla, a fim de se preservar de constrangimento pela exposição de sua imagem. Assim, tanto a publicidade ampla, quanto a opção de restringi-la em favor de sua intimidade visam à proteção do acusado, parte no caso analisado. Além disso, vê-se que só a lei pode criar regras de sigilo, não seus aplicadores, o que tira a legitimidade da ação do TJ do Rio de Janeiro.

O processo penal moderno, com o pensamento político liberal, estabelece o princípio da publicidade como garantia do acusado, diferentemente do modelo inquisitorial, em que a condução do processo viabilizava as atrocidades cometidas no

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período contra aqueles acusados nos tribunais de inquisição. O sigilo era o elemento mais importante do processo inquisitório, pois era o mais opressor no que se refere à negação da ampla defesa.

A origem do princípio da publicidade no âmbito do processo está relacionada com a Revolução francesa (1789). É neste momento histórico que o sistema da publicidade judicial tornou-se uma das “maiores garantias de independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade do juiz” 1

, como forma de reação contra os juízos secretos que aconteciam no período anterior. No Brasil, entretanto, a primeira vez em que o princípio constou no texto constitucional foi após a promulgação da Constituição de 1988.

A publicidade da atuação dos órgãos estatais é exigência da democracia e do funcionamento do Judiciário de maneira transparente. Os juízes brasileiros exercem parcela do poder estatal e, neste sentido, estão sujeitos à prestação de contas da forma como exercem suas atribuições jurisdicionais e administrativas. Assim, inicialmente, a garantia da publicidade está associada à exigência de controle democrático dos atos judiciais.

Essa transparência do funcionamento da Justiça tem o escopo de levar ao conhecimento da população a forma como atua o Poder Judiciário e a lógica do processo e das decisões judiciais. É com fundamento na publicidade processual que se permite que, em regra, qualquer cidadão possa examinar os autos do processo; fazer-se presente em audiências; acompanhar o andamento do processo por meio de consultas via internet, por exemplo. Isto tudo sem a necessidade de prestar justificativas.

Contudo, a Constituição de 1988 apresenta a dupla natureza do princípio da publicidade. Este princípio é o elemento do processo judicial relacionado à exigência de transparência e de controle democrático do Poder Judiciário. Mas, ao mesmo tempo, ele é garantia do acusado, inerente ao devido processo legal e ao princípio acusatório. A publicidade dos atos processuais destina-se, pois, a garantir um julgamento justo, e não apenas a publicidade de forma mais restrita. A publicidade ampla foi instituída também como garantia do acusado na ação penal.

A publicidade dos atos procedimentais e processuais coloca os sujeitos do processo em nível de igualdade, estando vinculado a outro princípio constitucional do processo: o da ampla defesa. A pertinência da afirmação reside na garantia de acompanhamento do processo pelas partes, o que possibilita que as mesmas tomem conhecimento das informações necessárias à adequada apresentação de defesa e produção de provas.

No caso em análise, verificou-se que o princípio constitucional da publicidade dos atos processuais foi violado e, por conseguinte, a ampla defesa do réu ficou comprometida. Deste modo, parece-nos - mais do que pertinente - justo, que a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro seja anulada pelo Supremo Tribunal Federal.

É importante destacar, como bem ilustra o caso, que o direito processual regula as decisões tomadas pelos tribunais. O princípio da publicidade demonstra que sua aplicação ou restrição será definida mediante a complexidade dos casos apresentados

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aos tribunais. Nem sempre será fácil identificar as condições para as restrições previstas em lei, e caberá ao judiciário analisar as circunstâncias. De qualquer maneira, restringindo a publicidade ou aplicando-a, a finalidade do juiz deve ser a concordância ao Estado Democrático de Direito e proteção dos cidadãos. Não foi o que ocorreu na decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro quando restringido o princípio da publicidade.

É isto também o que defende José Frederico Marques, ao afirmar que o “direito processual” abarca não somente as normas relativas às garantias do contraditório, do devido processo legal, dos poderes, direitos e ônus que constituem a relação processual; como, também, as normas que têm em vista a composição de preceitos os quais regulem os atos destinados a realizar “causa finalis” da jurisdição.2 Portanto, a publicidade tornou-se não apenas pressuposto de validade do ato de julgamento realizado pelo tribunal, mas da própria decisão tomada por este órgão jurisdicional.

2 Frederico Marques, “Organização Judiciária e Processo”, in Revista de Direito processual Civil, Vol. I,

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