• Nenhum resultado encontrado

Crise da democracia: o negacionismo de Donald Trump sobre as mudanças climáticas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Crise da democracia: o negacionismo de Donald Trump sobre as mudanças climáticas"

Copied!
58
0
0

Texto

(1)

EDUARDA MARIA ZANCO

CRISE DA DEMOCRACIA:

O NEGACIONISMO DE DONALD TRUMP SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Florianópolis 2019

(2)

EDUARDA MARIA ZANCO

CRISE DA DEMOCRACIA:

O NEGACIONISMO DE DONALD TRUMP SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de graduação.

Orientador: Prof. Ms. Luciano Daudt da Rocha.

Florianópolis 2019

(3)
(4)

Dedico este trabalho aos meus pais, pelas oportunidades e pela liberdade que me deram.

(5)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço aos meus pais, por todo suporte durante minha jornada. Vocês são as minhas maiores inspirações, eu devo a vocês tudo que sou.

As minhas irmãs Gabriela e Juliana. De forma especial à minha irmã Gabriela que, por ter um ponto de vista tão diferente do meu, auxiliou-me a compreender melhor ambos os lados, bem como, a conceber alguns dos pontos de conclusão nesta pesquisa. Agradeço também pelo apoio e o auxílio durante o período de construção desse trabalho, sempre me motivando a continuar.

Também agradeço ao meu orientador Luciano por ter idealizado essa pesquisa junto comigo. Esta foi uma experiência ímpar e engrandecedora.

Agradeço por me apresentar um caminho novo, pelo qual encontrei autoconhecimento e propósito de vida.

Por fim, às minhas amigas Maria, Roberta e Nahari, que diversas vezes deram sentido a palavra sororidade, demonstrando seu apoio incondicionalmente. Perdi as contas de quantas vezes busquei conforto na empatia de vocês.

(6)

mesmo aos melhores contra-argumentos: sinal do carácter forte. Também uma ocasional vontade de

(7)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar de que maneira o negacionismo em especial sobre as mudanças climáticas, protagonizada por Donald Trump, afeta a democracia dos Estados unidos. Dessa forma, fez-se uma análise do período de 2012 até 2019 das publicações de Trump em seu Twitter, sobre aquecimento global e mudanças climáticas a fim de delinear os traços de seu discurso negacionista. Fez-se também, uma análise do período de 2017 até 2019, que corresponde ao período de seu mandato até o tempo presente, das publicações no The New York Times buscando verificar de que forma a mídia responde a esse negacionismo e, para isso, foram selecionadas as datas: a) Saída do Acordo de Paris; b) COP23 (2017) e COP24 (2018); c) Assembleia Geral da ONU dos anos de 2017, 2018 e 2019; d) Contestação do relatório sobre clima elaborado por cientistas do governo. Esta pesquisa configura-se como básica, qualitativa, explicativa, bibliográfica e qualitativa, tendo em vista que, houve coleta de dados, diretamente no Twitter de Trump e no jornal The New York Times. Como resultado, percebeu-se que o negacionismo é um dos principais traços da ameaça a democracia.

(8)

ABSTRACT

The aim of this paper is to analyze how Donald Trump's special denial on climate change affects the democracy of the United States. Thus, an analysis of the 2012-2019 period of Trump's Twitter posts on global warming and climate change was made in order to delineate the traits of his denialist discourse. An analysis of the period from 2017 to 2019, which corresponds to the period from his mandate to the present time, was also made, from the publications in The New York Times seeking to verify how the media responds to this denial and, for this, they were dates selected: a) withdraw from the Paris Agreement; b) COP23 (2017) and COP24 (2018); c) UN General Assembly of 2017, 2018 and 2019; d) Dispute climate report prepared by government scientists. This research is configured as basic, qualitative, explanatory, bibliographical and qualitative, considering that there was data collection, directly on Trump's Twitter and The New York Times. As a result, it was realized that negationism is one of the main features of the threat to democracy.

(9)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Publicação de Trump em seu Twitter: Frio no Texas, Arizona e Oklahoma, 2013. ... 23 Figura 2 Publicação de Trump em seu Twitter: Organizações Internacionais, 2012. ... 26 Figura 3 - Publicação de Trump em seu Twitter: cita o site Watts Up With That, 2013. ... 28 Figura 4 Publicação de Trump em seu Twitter: Falsários do aquecimento global, 2014. ... 30 Figura 5 Publicação de Trump no seu Twitter: Consultores do aquecimento global, 2014 ... 31 Figura 6 Publicação de Trump em seu Twitter: outros do tipo de Jonathan Gruber acreditam que os estadunidenses são estúpidos, 2014. ... 32 Figura 7 Publicação de Trump em seu Twitter: faça dos EUA competitivos, 2013. 33 Figura 8 Publicação de Trump em seu Twitter: Onde está o aquecimento global, 2015. ... 34 Figura 9 Publicação de Trump em seu Twitter: imprensa inimiga da população, 2017 ... 37 Figura 10 Capa do The New York Times: Trump Abandona o Acordo Climático Global, 2017. ... 40 Figura 11 Capa do The New York Times: Estudo dos EUA sobre clima tem um aviso sombrio de riscos econômicos, 2018. ... 42 Figura 12 Capa do The New York Times: Casa branca silencia o alarme climático, 2018. ... 43

(10)

LISTA DE TABELAS

(11)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 CONTEXTO DA CRISE NO TEMPO PRESENTE ... 14

2.1 A DEMOCRACIA OCIDENTAL NA LONGA DURAÇÃO ... 14

2.2 DEMOCRACIA E CRISE DAS DEMOCRACIAS NO TEMPO PRESENTE ... 16

2.3 O REFLEXO DA CRISE NOS ESTADOS UNIDOS ... 19

3 ANALISANDO O COMPORTAMENTO DE TRUMP: ... 22

3.1 IDENTIFICANDO A POSTURA DE TRUMP ... 24

3.2 ANALISE DAS BASES DE SEUS ARGUMENTOS NEGACIONISTAS ... 27

3.3 O APELO ÀS FIGURAS DE LINGUAGEM EM SEU TWITTER... 29

4 COMO O THE NEW YORK TIMES RECEBE OS ATAQUES CLIMÁTICOS ... 35

4.1 ANALISE DA POSTURA DO JORNAL ... 38

5 CONCLUSÃO ... 45

(12)

1 INTRODUÇÃO

No século 18, os Estados Unidos foram o país mais rico do mundo. A qualidade de vida, a saúde e a longevidade eram superiores a qualquer outro país, com enormes vantagens e, no final do século XIX, possuíam de longe a maior economia mundial. No entanto, sua participação no cenário mundial não era um grande. Isso mudou mais dramaticamente durante a Segunda Guerra Mundial e, após a Segunda Guerra Mundial, os EUA mais ou menos dominaram o mundo e, isso mudou muita coisa (CHOMKSY, 1997).

Por sua vez, os EUA figuraram como espelho para outras democracias de outras nações. No entanto, a presença de um líder que simpatiza com meios autocráticos de poder, faz com que esta democracia fiquasse defasada. A justificativa da pesquisa se dá, por tamanha influência que os Estados Unidos têm sobre suas nações vizinhas, bem como as localizadas em demais continentes, gerando a preocupação de que essa crise na democracia se espalhe pelo Globo de forma predatória e inconsequente.

Neste momento, para que haja uma crise na democracia, a demonstração da existência de um crime de responsabilidade se faz desnecessária, pois basta o desejo daqueles que detêm o poder político e econômico para que as regras do jogo democrático sejam desconsideradas. Casara pontua:

O Estado Pós-Democrático implica um governo no qual o poder político e o poder econômico se identificam. Assim, muda-se também a relação entre a esfera pública e privada. Com isso desaparece a própria noção de conflito de interesses entre os projetos do poder político e os interesses privados dos detentores do poder econômico. O poder político torna-se subordinado, sem mediações, ao poder econômico: o poder econômico torna-se o poder político. (CASARA, 2017, p. 183)

Nesta nova perspectiva, que vem sendo delineada no continente ao longo do século XXI com ênfase, a partir dos anos 2010, o fim da democracia é menos dramático, no entanto, de efeitos similares (LEVISTKY; ZIBLATT, 2018). Então, para entender o fenômeno, buscou-se analisar os acontecimentos relacionados ao negacionismo sobre as mudanças climáticas de Donald Trump, a partir da investigação de seu Twitter pessoal e do jornal The New York Times.

De acordo com Chomsky (1997) a pesquisa na mídia é tão impactante quanto a pesquisa de um cientista que

(13)

uma vez que sai todos os dias e, é possível fazer uma investigação sistemática a partir da comparação da versão de ontem com a versão de hoje. Desta forma, há muitas evidências na maneira como as coisas são estruturadas, portanto, no que é dito e também no que deixa de ser dito. Chomsky segue a argumentação:

Você olha para a mídia ou para qualquer instituição que deseja entender. Você faz perguntas sobre sua estrutura institucional interna. Você quer saber algo sobre o cenário deles na sociedade em geral. Como eles se relacionam com outros sistemas de poder e autoridade? Você analisa a estrutura e, em seguida, faz algumas hipóteses com base na estrutura sobre a aparência do produto de mídia. Em seguida, você investiga o produto de mídia e vê como ele está em conformidade com as hipóteses. Praticamente todo o trabalho em análise de mídia é essa última parte - tentar estudar cuidadosamente exatamente o que é o produto de mídia e se está em conformidade com suposições óbvias sobre a natureza e a estrutura da mídia. (CHOMSKY, 1997).

Nesse contexto, observamos a rede social de Trump, como espaço de livre argumentação para o presidente, que possibilitava a eles e seus seguidores interagirem, sendo essa uma das causas pelas quais a população facilmente, sempre volta a consultá-la. O mesmo acontece com outro vetor influenciador da opinião pública: a imprensa. Ela interfere diretamente na imagem que o político terá perante a sociedade, e, dessa forma, para que um perfil seja estabelecido, é necessária uma construção, ou seja, que as publicações sejam divulgadas com o mesmo tom ideológico diversas vezes, para que sua posição fique clara para a população.

Desta maneira, o presente trabalho trata sobre a crise na democracia, nos Estados Unidos de Trump, no tempo presente, com foco no negacionismo sobre as mudanças climáticas, analisando o ataque por parte de Trump em seu Twitter e a resposta por parte da mídia no jornal The New York Times. Finalmente, este debate será levantado no decorrer do presente trabalho de conclusão de curso, buscando entender o seguinte problema: De que maneira o negacionismo em especial sobre as mudanças climáticas, protagonizada por Donald Trump, afeta a democracia dos Estados unidos?

Para responder o problema de pesquisa, foram traçados como objetivo geral: debater a postura negacionista de Trump sobre mudanças climáticas e a abordagem do The New York Times. Para contemplar o objetivo geral são objetivos específicos desta pesquisa: 1) debater democracia e crise das democracias com olhares para as

(14)

relações interamericanas; 2) analisar a postura negacionista de Donald Trump sobre as mudanças climáticas a partir de seu Twitter, de 2012 a 2019; 3) perceber, sob a perspectiva dos debates contemporâneos sobre democracia, como o jornal The New York Times aborda a postura de Trump enquanto presidente de 2017 a 2019.

Sua relevância encontra-se na necessidade de compreender, de que forma o negacionismo sobre as mudanças climáticas de Donald Trump, interfere na plenitude da democracia e, configura-se como um ato autoritário e, além disso, pela manutenção da democracia a partir da mídia livre e argumentativa.

Por conseguinte, no segundo capítulo desta pesquisa, discuto a crise na democracia no tempo presente, demonstrando a forma como ela tem se manifestado. No terceiro capítulo, faço uma pesquisa focada na personalidade de Trump e como ele expressa o negacionismo nas mudanças climáticas, a partir de publicações em seu Twitter de 2012 até 2019. No quarto capítulo, a partir da pesquisa no jornal The New York Times, busco compreender, de que forma a mídia responde a esse negacionismo e, para isso, foram selecionadas as datas: a) Saída do Acordo de Paris; b) COP23 (2017) e COP24 (2018); c) Assembleia Geral da ONU dos anos de 2017, 2018 e 2019; d) Contestação relatório sobre clima elaborado por cientistas do governo. Sendo que as publicações do período de uma semana antes, e uma semana após estas datas, foram analisadas.

Desta forma, a metodologia da pesquisa configura-se como básica, qualitativa, explicativa, bibliográfica e qualitativa tendo em vista que, houve coleta de dados, diretamente no Twitter de Trump e no jornal The New York Times. Portanto, quanto à aplicabilidade, a pesquisa será tratada como básica, uma vez que há geração de novos conhecimentos, sem que eles tenham necessariamente uma aplicação prática imediata.

Quanto à abordagem do problema, será qualitativa, considerando a relação dinâmica entre o mundo real (objeto) e o sujeito (pesquisador). De acordo com Araújo (2011) no caso da pesquisa qualitativa, o aporte teórico do pesquisador é a ferramenta constitutiva da base que lhe possibilita fazer a construção da realidade na pesquisa.

Quanto aos objetivos, esta pesquisa será explicativa. Para Lakatos & Marconi (2001), este tipo de pesquisa visa estabelecer relações de causa-efeito por meio da manipulação direta das variáveis relativas ao objeto de estudo, buscando identificar as causas do fenômeno.

(15)

Por conseguinte, quanto aos procedimentos é tanto bibliográfica quanto documental já que é realizada a partir de material já publicado e disponibilizado, além de se tratar de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto real.

Quanto à coleta de dados por sua vez, será feita por meio da análise documental, pois utiliza os documentos disponíveis como fontes de dados secundários para a pesquisa. Para Gil (1999) este tipo de pesquisa torna-se particularmente importante quando o problema requer muitos dados dispersos pelo espaço.

Finalmente, os principais resultados mostram que há uma crise na democracia e ela se relaciona diretamente com a figura do autocrata e da crise de representatividade. Nos Estados Unidos, Trump foi eleito em 2016 mesmo sendo um outsider na política por ser um populista e, por dar-se bem com a figura do eleitor não representado pela agenda Democrata vigente. Dentre as preferencias do governo de Obama, estava a preocupação pelo desenvolvimento sustentável e sem emissão de carbono.

Por sua vez, Trump tem duras críticas a essa política e, ao basear-se no tempo (temperatura do dia) e em mídia especializada no negacionismo, firma as bases de seu discurso de opressão ao consenso científico na afirmativa de que tudo não passaria de um e, os cientistas estariam lucrando para defenderem o aquecimento global e as mudanças climáticas, bem como, estariam enganando a população estadunidense.

Desta forma, o jornal The New York Times, demonstrou uma preocupação com a veracidade dos fatos apresentados pelo presidente, além de, ter entre seu time de colunistas, diversos especialistas, os quais se faziam presentes sempre que o jornal julgava necessária uma denuncia, bem como, uma discussão ou debate sobre o assunto.

(16)

2 CONTEXTO DA CRISE NO TEMPO PRESENTE

A democracia está em crise não somente nos Estados Unidos, mas também em outras nações. Sabemos que a democracia estabelecida no ocidente sempre foi elitista e, atualmente, encontra-se imersa em uma crise de representatividade, uma vez que o sistema político tradicional não tem cumprido seu papel de garantir as demandas da população, tanto em questões de segurança quanto em questões econômicas.

A população sente-se insatisfeita, com a forma que seus governantes têm norteado suas políticas, e já não se sente mais representada por estes. É nesse momento que demagogos populistas, a partir de discursos com cunho anti-globalista e conservador, destacam-se em meio a seus concorrentes vinculados a política tradicional que, segundo o olhar de um determinado grupo, não tem tomado medidas em prol daquela população.

Por ora, é de se despertar o interesse por entender o crescimento do negacionismo e do discurso anti-globalista no continente americano e, de que forma este ganha força a ponto de ser encobertado pelo próprio sistema democrático de votação. O que foi evidenciado, pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, país que possuí histórico de democracia bem consolidado. Portanto, conforme os autores Levitsky e Ziblatt (2018) pontuam como o sistema de freios e contrapesos dos Estados Unidos, que já durou mais de dois séculos e, inclusive sobreviveu a Guerra Civil, a Grande Depressão e a Guerra Fria será articulado a fim da manutenção da democracia. Levando em conta a influencia do país perante o continente, fica clara a necessidade de tal manutenção.

2.1 A DEMOCRACIA OCIDENTAL NA LONGA DURAÇÃO

Desta forma, para compreendermos a atual crise na democracia, se faz necessário, em primeiro lugar, compreender o conceito de democracia, desde sua criação até suas abordagens mais atuais, com destaque para: seus pilares teóricos, seus instrumentos de ação, o que a faz legitima, o que corrompe seus fundamentos e o que a ameaça.

(17)

No livro de Norberto Bobbio encontramos o conceito contemporâneo de Democracia embasado por três teorias confluentes, são elas: a teoria clássica, a medieval e a moderna.

Ao falarmos da teoria clássica, remetemo-nos a Aristóteles e Platão. Este irá trazer cinco formas de Governo na obra República, aristocracia, timocracia, oligarquia, Democracia e tirania, desta, somente a aristocracia é boa. Da democracia se diz que segundo Bobbio (1976, p. 320):

[...] nasce quando os pobres, após haverem conquistado a vitória, matam alguns adversários, mandam outros pra o exílio e dividem com os remanescentes, em condições paritárias, o Governo e os cargos públicos, sendo estes determinados, na maioria das vezes pelo sorteio. (BOBBIO, 1976 apud PLÃTÃO, p. 320):

Neste livro, a democracia é posicionada das formas boas e a menos má das formas más de governo.

Aristóteles, aqui exposto de forma breve, apresenta três formas de governo . Ele versa sobre a isonomia de leis e a imperfeição da monarquia, por possuir total controle sobre todas as suas atitudes, sem a necessidade de prestar conta

, (distinto do Governo de um só ou de poucos)

é atribuído à forma corrupta de tal governo, sendo a mesma

g governo

governo (oligarquia) logo, conforme Bobbio (1976, p. 320):

Ricos e pobres participam do governo em condições partidárias. A maioria é popular unicamente porque a classe popular é mais numerosa. 2)os cargos públicos são distribuídos com base num censo muito baixo. 3) são admitidos aos cargos públicos todos os cidadãos entre os quais os que foram privados de direitos civis após processo judicial. 4) São admitidos aos cargos públicos todos os cidadãos sem exceção. 5) quaisquer que sejam os direitos políticos, soberana é a massa e não a lei. Este último caso é o da dominação dos demagogos, ou seja, a verdadeira forma corrupta do Governo popular. (BOBBIO, 1976, p.320).

Bobbio (1976) traz o conceito de democracia liberal enquanto a forma de liberdade entendida como, a participação direta na formação das leis, através do corpo politico cuja expressão máxima está na assembleia dos cidadãos. Notando

(18)

que, não a todo povo, mas a um corpo restrito de representantes eleitos por aqueles cidadãos a quem são reconhecidos direitos políticos.

Por sua vez, Castells (2018, p. 9) sob uma perspectiva mais contemporânea, conceitua a democracia liberal como:

[...] respeito aos direitos básicos das pessoas e aos direitos políticos dos cidadãos, incluídas as liberdades de associação, reunião e expressão, mediante o império da lei protegida pelos tribunais; separação de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário; eleição livre, periódica e contrastada dos que ocupam os cargos decisórios em cada um dos poderes; submissão do Estado, e de todos os seus aparelhos, àqueles que receberam a delegação do poder dos cidadãos; possibilidade de rever e atualizar a Constituição na qual se plasmam os princípios das instituições democráticas. E, claro, exclusão dos poderes econômicos ou ideológicos na condução dos assuntos públicos mediante sua influência oculta sobre o sistema político. (CASTELLS, 2018, p.9)

Ainda neste contexto, Bobbio (1976) ressalta que o problema da Democracia, das suas características, de sua importância ou da falta de - é tão antigo quanto a reflexão sobre as coisas da política, tendo sido reproposto e reformulado em todas as épocas.

2.2 DEMOCRACIA E CRISE DAS DEMOCRACIAS NO TEMPO PRESENTE

A filósofa Agnes Heller (2019) explica que, o fenômeno de eleição e reeleição

de líderes au progressiva dos Estados.

Segundo ela, os emergentes novos tiranos se escondem atrás do argumento poderoso do voto majoritário que, neste caso, apresenta-se como uma garantia da natureza democrática de seus regimes. No entanto, tais regimes não se parecem em nada com que entendemos por democracia, já que, desde a primeira emenda à Constituição dos Estados Unidos, a democracia moderna é sinônima de democracia liberal.

Por tanto, Castells (2018, p. 6) nos aponta aquela que, para ele, é a razão das crises na democracia:

A desconfiança nas instituições, em quase todo o mundo, deslegitima a representação política e, portanto, nos deixa órfãos de um abrigo que nos proteja em nome do interesse comum. Não é uma questão de opções políticas, de direita ou esquerda. A ruptura é mais profunda, tanto em nível emocional quanto cognitivo. (CASTELLS, 2018, p.6).

(19)

Fica claro, a partir daí que a população já não se vê mais representada por aqueles que estão no poder e, busca por algo ou alguém que fale a mesma linguagem. Nesses momentos, populistas emergem com uma agenda muito mais atrativa do que outros políticos tradicionais, com tendências predominantes, a ponto de a abdicação ser desejável ou pelo menos preferível às alternativas (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018).

Desta forma, vemos acontece ,

ou seja, suas agendas limitam-se a promessas de defender a população, sua identidade, sua cristandade, a soberania do país contra inimigos inventados, contra os imigrantes, contra as ONGs que os ajudam, e outras instituições vinculadas aos diretos humanos e de proteção ao meio ambiente.

Neste contexto, notamos de tempos em tempos, fracassos nos sistemas democráticos em todo o mundo. Especialmente, nos últimos 10 anos (2009 a 2019) a ruptura com o sistema anterior é notória. Conforme pontuam Levitsky e Ziblatt (2018), agora, as democracias morrem de outro modo, a ditadura extensiva sob a forma de fascismo, comunismo ou domínio militar desapareceu em grande parte do mundo. Por conseguinte, Castells (2018, p. 8) explica:

Na raiz desse novo panorama político europeu e mundial, está a distância crescente entre a classe política e o conjunto dos cidadãos. Dessa rejeição, em outros países, surgem lideranças políticas que, na prática, negam as formas partidárias existentes e alteram de forma profunda a ordem política nacional e mundial. Trump, Brexit, Le Pen, Macron (coveiro dos partidos) são expressões significativas de uma ordem (ou de um caos) pósliberal. (CASTELLS, 2018, p.8)

Por conseguinte, os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (2018, p. 33), elaboram um quadro, trazendo os principais indicadores de comportamento autoritário que podem ser observados na postura de determinado político, mesmo que este ainda não tenha revelado toda a plenitude de seus comportamentos autoritários, frequentemente em seu comportamento no período pré-eleição.

(20)

Tabela 1 - Os quatro principais indicadores de comportamento autoritário 1. Rejeição das Regras Democráticas do Jogo (ou Compromisso Débil Com Elas)

Os candidatos rejeitam a Constituição ou expressam disposição de violá-la?

Sugerem a necessidade de medidas antidemocráticas, como cancelar eleições, violar ou suspender a Constituição, proibir certas organizações ou restringir direitos civis ou políticos básicos?

Buscam lançar mão (ou endossar o uso) de meios

extraconstitucionais para mudar o governo, tais como golpes militares, insurreições violentas ou protestos de massa destinados a forçar mudanças no governo?

Tentam minar a legitimidade das eleições, recusando-se, por exemplo, a aceitar resultados eleitorais dignos de crédito? 2. Negação da Legitimidade dos Oponentes Políticos

Descrevem seus rivais como subversivos ou opostos à ordem constitucional existente?

Afirmam que seus rivais constituem uma ameaça, seja à segurança nacional ou ao modo de vida predominante?

Sem fundamentação, descrevem seus rivais partidários como criminosos cuja suposta violação da lei (ou potencial de fazê-lo) desqualificaria sua participação plena na arena política?

Sem fundamentação, sugerem que seus rivais sejam agentes estrangeiros, pois estariam trabalhando secretamente em aliança com (ou usando) um governo estrangeiro com frequência um governo inimigo? 3. Tolerância ou Encorajamento à Violência

Têm quaisquer laços com gangues armadas, forças paramilitares, milícias, guerrilhas ou outras organizações envolvidas em violência ilícita?

Patrocinaram ou estimularam, eles próprios ou seus partidários ataques de multidões contra oponentes?

Endossaram tacitamente a violência de seus apoiadores, recusando-se a condená-los e puni-los de maneira categórica?

Elogiaram (ou se recusaram a condenar) outros atos significativos de violência política no passado ou em outros lugares do mundo?

4. Propensão a restringir Liberdades Civis de Oponentes, Inclusive a Mídia

Apoiaram leis ou políticas que restrinjam liberdades civis, como expansões de leis de calúnia e difamação ou leis que restrinjam protestos e críticas ao governo ou certas organizações cívicas ou políticas?

Ameaçaram tomar medidas legais ou outras ações punitivas contra seus críticos em partidos rivais, na sociedade civil ou na mídia?

Elogiaram medidas repressivas tomadas por outros governos, tanto no passado quanto em outros lugares do mundo?

Fonte: LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p.33.

Ao observarmos diferentes países ocidentais, notamos que, vários (se não todos) os pontos se mostram verdadeiros na postura de seus governantes, ou daqueles que o querem ser. Logo são, entre outras, essa regras não escritas (convenções sociais) que, quando corrompidas, constituem uma ameaça existencial ao sistema democrático.

Dito isto, nos direcionemos a fevereiro de 2016, antes das eleições daquele ano nos Estados Unidos, um dos integrantes da Suprema Corte, o magistrado Antonin Scalia, faleceu enquanto dormia. Minutos depois, sua morte já repercutia pela mídia e, neste momento, um antigo quadro republicano e fundador da publicação jurídica conservadora The Federalist, publicou a seguinte declaração em

(21)

que se recusar a confirmar quaisquer magistrados em 2016 e deixar a nomeação Logo em seguida, o líder da maioria no Senado, Mitch vaga não deve (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018). Consequentemente, a indicação de Obama por um novo magistrado não foi aceita, e pela primeira vez na história, a indicação de um presidente à Suprema Corte foi recusada pelo Senado dos Estados Unidos. Tal fato caracterizou um abandono radical do precedente histórico. Indubitavelmente, com a vitória de Trump nas eleições, um ano após o ocorrido, havia emergido ao cargo um magistrado republicano à Suprema Corte. Logo, ao passo que o partido republicano menospreza uma norma básica da democracia, transparece o quanto as tradições que sustentam as instituições democráticas estadunidenses, encontram-se desgastadas.

Por fim, disso extraímos também, a característica negacionista de um autocrata, ao abordarmos a negação da legitimidade dos oponentes políticos. Nesse contexto, seu oponente pode caracterizar-se como qualquer um que se posicione contrário aos seus argumentos, ou que de alguma forma, impeça-o de seguir com sua política de interesse. Ao atacarem seus rivais, os autocratas lançam mão de mentiras, afirmando que eles constituem uma ameaça, seja à segurança nacional ou ao modo de vida predominante, e, mesmo que sem fundamentação, descrevem seus oponentes como criminosos sendo que, não raro afirmam que teriam ligações com um governo inimigo. Visando garantir desta forma, que terão apoio popular.

2.3 O REFLEXO DA CRISE NOS ESTADOS UNIDOS

Durante gerações os Estados Unidos se viram como um farol de esperança e possibilidade para o mundo, como os escolhidos por Deus, apoiando-se sempre, em sua constituição. E, embora a fé de maneira geral tenha diminuído, a fé na constituição permaneceu consideravelmente inabalada no decorrer dos anos. Neste contexto, notamos que, em 1919 na Alemanha, nem a constituição criada foi suficiente para conter um autocrata. Ou seja, ainda que a constituição de Weimar tenha sido projetada por algumas das inteligências legais de maior destaque do país na época, tanto esta, quanto o Rechtsstaat (Estado de Direito) entraram rapidamente

(22)

em colapso com a usurpação de poder por Adolf Hitler em 1933 (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018).

Também se destaca a reflexão sobre como muitos países que emergiam na América-latina, após o período colonial, inspiraram suas recém-independentes democracias, no formato estadunidense de presidencialismo, legislativos bicamerais, as supremas cortes e, em alguns casos, colégios eleitorais e sistemas federais, sendo algumas constituições praticamente réplicas da constituição dos Estados Unidos. Fica claro, em momentos como o golpe militar na argentina em 1930 e 1943, e no Brasil em 1964, conforme Levitsky e Ziblatt (2018 p. 100):

Se regras constitucionais bastassem, figuras como Perón, Marcos e Getúlio Vargas todos os quais assumiram o cargo sob constituições ao estilo norte-americano, que continham, no papel, um arranjo ordenado de freios e contrapesos teriam sido presidentes de um ou dois mandatos em vez de autocratas notórios. (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p.100)

Para os autores Levitsky e Ziblatt (2018), são três as razões para que tais falhas aconteçam: a) é praticamente impossível antecipar todas as contingências possíveis, ou prescrever como agir sob todas as circunstâncias; b) mesmo que sejam regras constitucionais, elas ainda estão sujeitas a interpretações conflitantes. O que possibilita que elas sejam usadas de maneira que seus criadores não antecipam; c) o contrário do visto anteriormente, levar as palavras escritas de uma Constituição ao pé da letra, também as tornam ineficazes, num cenário onde não se faz nada além do que fora descrito.

São portanto, as regras não escritas, fundamentais para a manutenção da democracia estadunidense, ou seja, fatores como a imensa riqueza nacional, ampla classe média e uma sociedade civil vibrante, são os pontos vitais para a democracia do país. E, é neste contexto que, a eleição de Donald Trump em 2016, é sem dúvidas um momento emblemático para a democracia do país. Porém, é valido ressaltar que, embora Trump seja um violador em série de normas, além de não raro investir contra as regras democráticas do país, o processo de erosão de tais normas começou décadas atrás. Portanto, devemos ter em mente que as instituições democráticas dos Estados Unidos foram desafiadas diversas vezes durante o século XX, porém, para cada um destes desafios, houve uma contenção efetiva (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018).

(23)

A destruição da democracia acontece lentamente e por isso, inicialmente, pode ser até imperceptível, diante disso, reconhecer os indicadores de comportamento autoritário em suas condutas é fundamental. Detectar quando um candidato está disposto a violar ou rejeitar a constituição, por exemplo, quando tentam deslegitimar o resultado de uma eleição, quando dizem que se não saírem vitoriosos das votações, não irão ratifica-las; outro exemplo, quando negam a legitimidade de seus oponentes políticos, afirmando que estes constituem ameaças tanto a segurança nacional quanto ao modo de vida predominante.

Não obstante, insinuações mais notáveis pela população destes indicadores são a frequente tolerância e, até mesmo encorajamento à violência, que vão desde laços com organizações envolvidas em violência ilícita, até recusarem-se a punir aqueles que são seus apoiadores, elogiando outros atos significativos de violência política no passado ou em outros lugares do mundo. Outro indicador e, provavelmente o mais notável, é a propensão a restringir liberdade civil de oponentes, inclusive a mídia, nesses casos, apoiam leis ou políticas que restrinjam liberdades civis e ameaçam tomar medidas legais ou outras ações punitivas contra seus críticos (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018).

Sendo assim, a imprensa é o caminho por aonde as informações chegam às massas e, no caso de Trump, esse caminho é seu Twitter. Visto que, nas democracias que ainda não se romperam, a mídia continua tendo um papel importante enquanto sinalizadora de atos antidemocráticos, mesmo que nesses casos as informações, não raro, polarizam-se entre os que se colocam a favor e os que posicionam contra, o que acaba refletindo diretamente na forma como a população irá compreender os fatos.

Por sua vez, os autocratas visam minar a credibilidade do que é divulgado pela imprensa (quando esta é crítica) utilizando-se de adjetivos provocativos que a coloque em posição de inimiga, as acusam de ser mentirosa e dizem ser tendenciosa, visando facilitar a justificativa quando empregarem ações de cunho anti-liberdade de expressão sobre ela.

Dito isso, após o debate sobre democracia e crise das democracias com olhares para as relações interamericanas, neste trabalho, busquei perceber a postura de Donald Trump, enquanto negacionista em seu Twitter, desde 2012 até 2019 a fim de, analisar, sob a perspectiva dos debates contemporâneos sobre democracia, como a negação sobre as mudanças climáticas é demonstrada.

(24)

3 ANALISANDO O COMPORTAMENTO DE TRUMP:

No presente capítulo visualizaremos os aspectos negacionistas do comportamento de Trump. O capítulo divide-se em: caracterizar o negacionismo de Trump, a partir de seu Twitter identificar suas fontes e identificar as figuras de linguagem na sua retórica. Visando constatar ataques a seus adversários, bem como seu embasamento para tanto. Os cientistas têm identificado mudanças climáticas anormais no planeta Terra, derivadas da ação do homem. A maioria dos países já ratificam que medidas precisam ser tomadas para reverter essa situação. Assim, nos Estados Unidos durante o governo do Democrata Obama, diversas iniciativas foram tomadas, especialmente baseadas numa política externa voltada ao multilateralismo e cooperação com aliança. No entanto, seu sucessor Trump, não compartilha desta agenda política, bem como, alguns eleitores que não viam suas demandas contempladas na agenda da política de Obama.

Por sua vez, Obama validava o julgamento esmagador dos cientistas, e se propunha a agir para remediar os danos já causados e cooperar para que houvesse

(Obama White House, 2015), onde estabelece padrões viáveis para reduzir as emissões de dióxido de carbono, em 32% em relação aos níveis de 2005 até 2030. O Plano ainda se comprometia em garantir que os Estados Unidos assumissem um papel de liderança no engajamento das principais economias do mundo, para promover prioridades climáticas e, na galvanização de ações globais por meio de negociações internacionais sobre o clima (HOUSE, 2015).

A partir dessa premissa, em 2015, durante a COP21 em Paris, Obama e outros líderes mundiais, firmaram um acordo global para combater as mudanças climáticas. O Acordo de Paris objetivava principalmente reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa e assim, de forma a fortalecer a resposta global à ameaça da mudança do clima e, reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos decorrentes dessas mudanças (AMBIENTE, 2017).

Nesse contexto, Trump estabeleceu um cenário onde eleito, ele iria redefinir as prioridades do governo para que se distanciasse das políticas de Obama, as quais ele tinha várias críticas. Durante sua campanha presidencial em 2016, Trump jurou retirar os EUA do Acordo de Paris firmado em 2015, afirmando que a retirada seria benéfica para os trabalhadores e empresas dos Estados Unidos. Ele também

(25)

prometeu reviver a indústria do carvão que, segundo ele, foi prejudicada pelas políticas ambientais (The New York Times, 2017), além disso, se compromete a desfazer a maior parte das salvaguardas ambientais e climáticas que foram implementadas por seu antecessor, presidente Barack Obama (HOUSE, 2017).

Assim, em oito de novembro de 2016 o republicano Donald Trump foi eleito o 45º presidente dos Estados Unidos. Tendo em vista que muitos eleitores compactuavam com a ideia de que os Estados Unidos deveriam se retirar de qualquer acordo que, aos seus de olhos (e aos de Trump), fossem danosos aos interesses estadunidenses, Trump defendeu a saída do Acordo de Paris como benéfica aos interesses internos estadunidenses, e parte de sua política "América, Primeiro".

Por conseguinte, ainda antes de sua candidatura, na vida pré-política, já afirmava em seu Twitter, não acreditar em aquecimento global uma vez que, os invernos seguiam sendo rigorosos em alguns estados do Estados Unidos, como Texas, Arizona, Oklahoma.

Figura 1 Publicação de Trump em seu Twitter: Frio no Texas, Arizona e Oklahoma, 2013.

Fonte: Trump, 2013

Legenda: Neve e gelo, clima congelante, no Texas, Arizona e Oklahoma o que diabos está acontecendo com o aquecimento global?

Neste capítulo, visualizaremos, a partir de declarações em seu Twitter, num período ainda anterior a sua campanha presidencial e, também, após a eleição,

(26)

a exposição de suas perspectivas com relação ao aquecimento global e mudanças climáticas. Também será exposta a forma como seus interesses pessoais confundem-se com seus interesses enquanto estadista, que segue com a postura de ataques a ciência.

Para tanto, foram analisados um conjunto de 92 tweets sobre mudanças climáticas e aque

encontradas. Eles compreendem o período de 2012 até 2019.

Explorando o conteúdo do material coletado para compreender parte da personalidade de Donald Trump, foi possível identificar aspectos narcisistas, fortes apelos nacionalistas e discursos negacionistas. Sua compreensão sobre mudanças climáticas parece não ter uma estrutura lógica e clara, confundindo variações de curto prazo (como o período de inverno) no clima, com mudanças climáticas globais que tem se processado por um longuíssimo tempo.

3.1 IDENTIFICANDO A POSTURA DE TRUMP

Donald J. Trump é um empresário que define a história de sucesso estadunidense. Descendente de imigrantes suecos, seu pai Fred Trump veio de uma família humilde, tendo começado a trabalhar ainda aos 11 anos. Ao se formar no ensino médio, sem condições de frequentar uma faculdade, começou a trabalhar com carpintaria e, por ser um homem ambicioso logo notou que aquele era um bom negócio para a época então, abre sua primeira empresa no ramo que mais tarde, fez dele milionário (TRUMP; SCHWARTS, 1987).

Donald herdou os negócios do pai e, estabeleceu uma carreira sucesso, especialmente no setor imobiliário, esportivo e de entretenimento, este último responsável por fazer dele uma figura popular nos Estados Unidos. Antes mesmo de ser eleito presidente, já havia sido citado, representado ou ainda participado de diversos programas para televisão e cinema, tendo inclusive sido apresentador de um reatily show,

americano NBC (IMDB, 2019). Trump aproveitou seu sucesso na vida privada quando entrou na política e no setor público chegando à Presidência, pelo partido republicano, sendo um outsider, ou seja, em sua primeira candidatura para qualquer cargo político.

(27)

A respeito de Trump, em seu partido, membros seniores do Congresso costumam se dedicar a teorias da conspiração, alegando que todas as evidências para a mudança climática são o produto de uma farsa gigante, perpetrada por milhares de cientistas em todo o mundo. E, eles fazem tudo o que podem para assediar e intimidar cientistas, afirma Krugman no The New York Times (2015). Sendo assim, frequentemente, em debates políticos nos Estados Unidos sobre o meio ambiente, políticos republicanos se opõem esmagadoramente a qualquer ação para limitar as emissões de gases de efeito estufa, pois a grande maioria rejeita o consenso científico sobre as mudanças climáticas. Tal característica faz com que Trump possa ser identificado solidamente no campo dos anti-ciência .

Nesse contexto, Trump emprega o negacionismo em seu discurso, como uma saída para redirecionar os investimentos feitos em nome da proteção do meio ambiente, pois isso seria um interesse da agenda Democrata que é desmerecida por ele. Por conseguinte, é oportuno retomar o fato que vários dos estados que apoiaram Trump são produtores de minério de carvão e, o escolhido para ministro da Agência de Proteção Ambiental, responsável por supervisionar o ar e a água do país, foi um ex-lobista do carvão Scott Pruitt. Na ocasião, o então ministro Scott Pruitt, anunciou que a guerra contra o carvão teria chegado ao fim, referindo-se aos subsídios do governo para usinas de carvão, enquanto responsabilizava Obama pelo fechamento de minas e usinas. (TIMES, 2017)

Em função disso, o jornal The New York Times, em dezembro de 2018, baseado em pesquisas das universidades de Direito de Harvard e de Columbia, apontou quase 80 políticas ambientais que Trump estaria revertendo, sendo algumas já efetivas e outras ainda em andamento. O jornal pontua que o presidente visa reverter regras que, segundo ele, seriam onerosas à indústria de combustíveis fósseis, mesmo sendo o carvão o principal responsável pelas emissões de carbono na atmosfera.

(28)

Figura 2 Publicação de Trump em seu Twitter: Organizações Internacionais, 2012.

Fonte: Trump, 2012

Legenda: O Banco Central

perguntamos por que organizações internacionais são ineficazes.

Outro ponto de destaque na postura de Trump enquanto estadista é que ele desconhece ou não se preocupa com os problemas que o negacionismo pode trazer, especialmente nos países pobres. Por outro lado, seu antecessor reconhecia que os Estados Unidos são historicamente, o maior emissor de dióxido de carbono do mundo e, portanto teriam a obrigação especial de ajudar o restante do mundo a resolver problemas relacionados a isso. Desta forma, mesmo que pesquisas comprovem que os mais prejudicados com as mudanças climáticas sejam os mais pobres, crianças e velhos (HOUSE, 2015), Trump não crê nisso e afirma que isso é um sinônimo para organizações internacionais serem ineficazes. Assim, tenta de todas as formas ajustar o discurso defasado de preocupação com o ambiente, aos seus ideais nacionalistas e anti-globalistas.

(29)

3.2 ANALISE DAS BASES DE SEUS ARGUMENTOS NEGACIONISTAS

Em sua página no Twitter, Trump manifesta seu ponto de vista. Diversas vezes se mostra confuso, tomando como verdade seu próprio conhecimento empírico e é indiferente às pesquisas científicas. Então, em uma busca por embasamento, recorre a matérias em jornais e blogs que contemplem seu ponto de vista, geralmente mídias que são comumente conhecidas pela postura negacionista sobre mudanças climáticas.

Por diversas vezes, (maioria de suas publicações) se mostra confuso com as . Sua primeira publicação sobre o assunto foi feita em 2013, prosseguindo pelos anos seguintes até 2019. Ao abordar o assunto, Trump acusa os cientistas de terem trocado o nome do fenômeno, o qual segundo ele teria começado sendo chamado aquecimento global e mais tarde substituído por mudanças climáticas, a fim de manterem sua agenda de lucros, a partir das medidas tomadas pelo governo e, da população estadunidense, as quais estariam sendo enganadas.

Nesse contexto, desde 2014 cita a necessidade de os Estados Unidos terem Mesmo assim, para ele os gastos com as mudanças climáticas são motivados por falácias e estariam fora de questão. Ele chama as

separar as duas coisas (ar limpo de mudanças climáticas) e preocupa-se apenas com a qualidade do ar no país, ou seja, ilustrando sua postura nacionalista.

Abordar apenas a qualidade do ar é uma premissa que conversa com seus interesses, pois essa se limita apenas aos limites do país, sendo bom o suficiente para ele, bem como para os republicanos que entendem que o consenso científico sobre um assunto, é um sinal para preocupar-se menos e não mais, principalmente pela predisposição de minar qualquer coisa associada ao presidente Barack Obama, sendo, portanto, a preocupação com as mudanças climáticas, relacionada apenas os democratas vigaristas.

O que se destaca em seu discurso é a efemeridade de suas fontes e também que, não raro, confunde a temperatura de uma determinada data, com a definição de clima. Isso se comprova pelo fato de que, das 92 publicações analisadas, 55 publicações foram feitas nos meses que compreendem o inverno ou outono no

(30)

hemisfério norte. Portanto, seu negacionismo baseia-se ora em uma mídia especializada, ora em suas percepções empíricas.

Uma das fontes usadas por Trump em sua manifestação negacionista, é um

blog que promove Watts Up With That? . O blog

discute predominantemente questões climáticas com foco na mudança climática antropogênica, geralmente acomodando crenças que estão em oposição ao consenso científico sobre tal mudança. A figura 3 da publicação de Donald Trump ilustra:

Figura 3 - Publicação de Trump em seu Twitter: cita o site Watts Up With That, 2013.

Fonte: Trump, 2013

Legenda: Surpreso? Os alarmistas do resfriamento global da década de 1970 estavam empurrando a mesma agenda liberal sem crescimento dos alarmistas do aquecimento global de hoje.

Nesse contexto, outra fonte da qual Trump retira seus argumentos é o site

pertencente ao r , que é destinado a

publicações que negam as mudanças climáticas e se auto intitula a maior fonte de conteúdo sobre o negacionismo climático.

Dentre seus apoiados na pauta, está Charles Krauthammer. O jornalista que frequentemente escrevia posicionando-se contra as políticas de Obama, e também negando as mudanças climáticas, é parabenizado por Trump por seu parecer. Na ocasião Trump se referia ao artigo publicado no jornal The Washington Post, onde

Krauthammer questiona e inicia seu debate

afirmando que não crê no aquecimento global.

O site estadunidense PoliticsFact (2019) traçou o perfil de Donald Trump, enquanto suas afirmações, a partir de seus pronunciamentos oficiais desde eleito,

(31)

principalmen mentira deslavada , totalizando 70% de informações improcedentes. Posto isso, Levitsky e Ziblatt (2018, p. 189) caracterizaram as mentiras de Trump como, talvez, a maior violação de normas, uma vez que a ideia de que os presidentes devem dizer a verdade é consensual. Dado isso, via de regra os candidatos costumam usar sua retórica para evitar mentira e, no entanto, o presidente demonstrou uma postura sem precedentes.

A partir desse cenário na próxima seção, as estratégias de fala, empregadas nas publicações de Trump serão analisadas. Conforme nos lembra Castells (2018), Trump sempre se situou acima do establishment político, tanto republicano quanto democrata, e se voltou diretamente para o povo, a partir da escolha de palavras e do ataque aos cientistas que estariam enganando a população ele se posiciona como aquele que denuncia, e o responsável por alertar seus seguidores, mesmo que, como visto acima, baseado em crenças pessoais e mídia negacionista.

3.3 O APELO ÀS FIGURAS DE LINGUAGEM EM SEU TWITTER

Trump promoveu uma relação bastante direta entre ele e seu eleitorado, proporcionado especialmente por sua estratégia midiática. Muito se dava por sua popularidade, derivada de anos de aparições televisiva e por ser considerado um de negócios de sucesso, o que o proporcionou um alcance tão grande de suas redes sociais quanto de grandes jornais estadunidenses. No entanto, desde sua campanha, ao passo que a mídia passou a expor diversas contestações às suas atitudes, Trump passou a responder com desprezo, mentiras e ataques pessoais o que, conforme Castells (2018) inaugurou um novo modo de comunicação presidencial: o governo via Twitter.

Para Castells, ele descobriu uma forma de estar sempre nas mídias sem a necessidade de pagar para isso, a troco de declarações escandalosas e polêmicas. Suas publicações ecoavam pelas redes sociais e se amplificavam para um público ainda mais direcionado nos jornais, na maioria das vezes a fim de criticá-las. Ou seja, a forma como Trump garantiu que sempre estaria em pauta nas mídias, foi fazendo com que houvesse uma repercussão, mesmo que de forma negativa.

Desta forma, Trump criou um elo, especialmente, com aqueles que se

(32)

prejudicados pelo deslocamento industrial, ligado à globalização e a transformação do emprego em função da automação, entre os setores abatidos, o da mineração de carvão, o que era ligado às medidas de preservação ambiental e geração de energia limpa (CASTELLS, 2018).

Assim, com uma postura compatível com a da maioria dos integrantes do partido republicano durante a última década, Trump demonstra desde 2012 abertamente seu negacionismo, apoiado por todos aqueles que se sentiam prejudicados pelas políticas do governo e muito repercutido por aqueles que discordavam. Nesse contexto, sua postura narcisista se faz presente ao debochar e minimizar a afirmação científica da alteração climática na Terra ser derivada da ação humana.

Figura 4 Publicação de Trump em seu Twitter: Falsários do aquecimento global, 2014.

Fonte: Trump, 2014

Legenda: todos e quaisquer eventos são usados pelos falsários do aquecimento global para justificar maiores impostos para salvar nosso planeta! Eles não acreditam nisso $$$$!

Nesse contexto, além de sempre ter sido um constante crítico às iniciativas de Obama, em sentido a tornar os Estados Unidos mais sustentavelmente desenvolvidos, também alegava que, aqueles que afirmavam a existência de um desequilíbrio no clima eram mentirosos. Ainda em seu discurso negacionista, usava

diversos termos pejorativos, tais como: b coisa

(33)

que os cientistas eram considerados: vigá gênios , espertalhões e falsários.

Mais tarde, em 2014, ao criticar o plano de saúde pública desenvolvido pelo então presidente Obama, o Obamacare, Trump escreve que o diretor e também pesquisador associado do Programa de Assistência à Saúde do Departamento Nacional de Pesquisa Econômica, Jonathan Holmes Gruber, estaria chamando os estadunidenses de estúpidos, com seu trabalho, da mesma forma como outros estariam fazendo com as pesquisas sobre aquecimento global. Na ocasião Trump

negativa à profissão.

Figura 5 Publicação de Trump no seu Twitter: Consultores do aquecimento global, 2014

Fonte: Trump, 2014

Legenda: Assim como Jonathan Gruber traiçoeiramente mentiu e chamou os estadunidenses de ObamaCare, muitos consultores estão fazendo o mesmo com o aquecimento global.

No mesmo dia em outra publicação, segue o argumento, ao passo que insiste em classificar pesquisadores como vigaristas, e afirma que estes buscam fazer a população de idiota e vender algo falso para lucrar. Ainda motivado a desmerecer o trabalho dos pesquisadores, ele acusa cientistas de terem maliciosamente trocado o nome do fenômeno, o qual, segundo ele, teria começado sendo chamado aquecimento global e mais tarde, substituído por mudanças climáticas (por ser mais genérico), a fim de manterem suas agendas de lucros, a partir das medidas tomadas

(34)

pelo governo e da população estadunidense, uma vez que estariam todos sendo enganados.

Figura 6 Publicação de Trump em seu Twitter: outros do tipo de Jonathan Gruber acreditam que os estadunidenses são estúpidos, 2014.

Fonte: Trump, 2014

Legenda: Existem muitos do tipo de Jonathan Gruber e

eles realmente acreditam que os estadunidenses são estúpidos.

Diversas vezes ele usa da apelação (assim como o que foi visto em sua campanha) ao movimento nacionalista, posicionando-se como aquele que está defendendo a população de ser prejudicada, com rep faça dos EUA competitivo de novo , empregando a importância que a política de identidade ganhou nos Estados Unidos, em virtude do sentimento de humilhação indenitária e da marginalização social, sentida por amplos setores populares, especialmente por aqueles alijados dos benefícios da globalização. Uma marginalização que se iniciou com o deslocamento do trabalho em função da reestruturação da economia, fato que causava profundo descontentamento com o governo atual (CASTELLS, 2018)

(35)

Figura 7 Publicação de Trump em seu Twitter: faça dos EUA competitivos, 2013.

Fonte: Trump, 2013

Legenda: Wow, está nevando em Israel e nas pirâmides do Egito. Nós ainda estamos gastando biliões na vigarice do aquecimento global? Faça dos EUA competitivos!

Tendo isso em mente, Trump não se preocupa com um uma narrativa com padrão lógico e sistemático. Conforme aponta Krugman no The New York Times (2018), os passos do negacionismo caminham de acordo com o que é coerente para sustentarem seu ponto de vista. Não reúne evidências ou faz análises para formular ou mesmo para justificar, suas posições políticas. Portanto, fatos e pensamento complexos não são desejados, sendo que aqueles que tentam trazer tom científico para a discussão são taxados de inimigos.

(36)

Figura 8 Publicação de Trump em seu Twitter: Onde está o aquecimento global, 2015.

Fonte: Trump, 2015

Legenda: Onde diabos está o aquecimento global quando você precisa?

Desta forma, a total confusão de Trump e o completo desconhecimento do significado de aquecimento global alinhado com seus interesses econômicos, foram responsáveis por retirar os EUA do Acordo de Paris, bem como, por ter negado o relatório científico apresentado por pesquisadores do governo, eventos que serão investigados a partir do The New York Times, no capítulo a seguir.

(37)

4 COMO O THE NEW YORK TIMES RECEBE OS ATAQUES CLIMÁTICOS

Nesse segundo momento da pesquisa, a fim de verificar como a imprensa denuncia os ataques à ciência, foi selecionado o jornal estadunidense The New York Times (NYT), por ser um dos periódicos mais tradicionais e influentes dos Estados Unidos. Primeiramente selecionei datas entre janeiro de 2017 até setembro de 2019, tempo que compreende o mandato de Trump até o momento presente. Desse período, com base na incidência de conteúdo e na relevância para as discussões das Relações Internacionais, ficaram evidentes os seguintes eventos: a) Saída do Acordo de Paris; b) Assembleia Geral da ONU dos anos de 2017, 2018 e 2019; c)COP23 (2017) e COP24 (2018); d) Contestação relatório sobre clima elaborado por cientistas do governo.

Em seguida, verifiquei a partir dos filtros disponibilizados pelo site do NYT, a edição de cada dia, uma semana antes e uma semana após o evento selecionado. No caso das COPs, utilizei o próprio tempo de duração das mesmas, sendo de 06 a 17 de novembro de 2017 para a COP23 na Alemanha e, de 03 a 14 de dezembro de 2018 para a COP24 na Polônia. Por conseguinte, quanto às datas para a Assembleia Geral, utilizei o dia do discurso de Trump como base, sendo revisadas as publicações de uma semana antes até uma semana após o discurso. Busquei por artigos de Opinião e Editoriais (Op-Ed), selecionando aqueles que abordavam o assunto em questão, sendo que, via de regra o artigo aparecia na versão física do jornal um dia depois de ser publicado na versão online do jornal.

Ainda nesse contexto, no Twitter de Trump, para verificar ataques direcionados especificamente ao The New York Times, procurei pelas expressões dos para esse e, 109 para aquele, sendo os resultados de 2009 até 2019.

Dito isso a escolha se justifica, pela sua grande influência tanto dentro dos Estados Unidos, quanto pelo seu destaque internacional também. O jornal foi fundado em 1835, com uma premissa de comprometimento com a imparcialidade. Sua história é de engajamento com a política estadunidense, bem como, pela política internacional, relatando eventos como a Guerra do Vietnam, cujas publicações foram interrompidas por Nixon, em 1971; Genocídio Cambojano pelo Khmer Vermelho em 1975, e, o Bombardeio de Nagasaki em 1945, a partir de seus jornalistas e informantes espalhados pelo mundo (TIMES, 2018).

(38)

A partir de 1980 por um sistema de satélite, passa a ser publicado no país inteiro, sendo que, em 1996 criam a versão on-line do jornal, o que o torna disponível em todo o mundo. Em sua versão para website, o jornal traz outras sessões além das tradicionalmente vistas no jornal impresso, que sendo: a)nacional; b)internacional; c)obituários; d)esportes; e) editoriais, artigos de opinião e cartas; sendo adicionadas a) E.U.A; b) política; c) negócios; d) opinião; e) tecnologia; f) ciência - sendo que esta compreende os tópico

--; g) saúde; h) livros; i) estilo; j) comida; k) viagem; l) revista; m) T Magazine e, n) Imobiliária. Até o final do ano de 2018, havia 4,6 milhões de assinaturas, do mesmo modo, atualmente, possui um acervo de seu histórico, que compreende todas as edições físicas do jornal, desde 1851 até 31 de dezembro de 2002, disponibilizado on-line.

O New York Times afirma dedicar-se a auxiliar o mundo por meio do jornalismo independente, especializado e altamente informado. O jornal há muito tempo envia jornalistas para todos os cantos do mundo para testemunhar o desenrolar dos fatos, que são relatados no periódico e fornece aos repórteres os recursos de que precisam para acompanhar uma única história, por meses a fio, o que possibilita utilizar o poder da mídia como estimuladora de mudanças e de

jornalismo independente e profundamente relatado é o combustível que alimenta uma sociedade saudável e engajada. Cobrindo os tópicos mais importantes do nosso tempo e contando histórias que, de outra forma, não seriam contadas

Destacam-se os Artigos de Opinião, aos quais o

as pessoas a imaginar o mundo como poderia ser, por meio de uma rica discussão e

oferecem pontos de vista sobre questões significativas o que, diversas vezes, vai de encontro às ideias apresentadas pelos governantes. No caso de Trump, o presidente tende a replicar este e outros jornais com ameaças e insultos sejam em seu Twitter - o qual possui um alcance tão grande quanto o próprio NYT - ou em discursos enquanto estadista.

De acordo com o Levitsky e Ziblatt (2018), a diferença entre autocratas e líderes democráticos contemporâneos encontra-se na intolerância à crítica, conforme o trecho de um comício de Trump em 2016, no Texas, ao abordar sua proposta de

(39)

governo com relação aos jornais, em especial The New York Times (Trump apud Levitsky, 69):

quando eles escreverem artigos propositalmente negativos, horríveis e falsos, nós possamos processá-los e ganhar muito dinheiro para que quando o New York Times escrever matérias tendenciosas tentando mudar a opinião das pessoas, o que é uma desgraça total...nós possamos processá- (Trump apud Levitsky, 69):

Figura 9 Publicação de Trump em seu Twitter: imprensa inimiga da população, 2017

Fonte: Trump, 2017

Legenda: A imprensa de noticias falsas (enfraquecida @nytimes, @NBCNews, @ABC, @CBS, @CNN) não são minhas inimigas, são inimigas da população americana.

Do período analisado, os colunistas mais assíduos sobre a denúncia ao negacionismo e as medidas contratais ao desenvolvimento sustentável do governo, destacam-se Paul Krugman e Gail Collins, sendo que, ambos já receberam críticas diretas pelo presidente por suas publicações no NYT.

Paul Krugman ingressou no The New York Times em 1999 como colunista do Op-Ed. O intelectual público é autor ou editor de 27 livros, e mais de 200 artigos em periódicos profissionais e volumes editados. No entanto, Krugman também escreve extensivamente para uma audiência pública mais ampla não apenas a partir do jornal, sendo que alguns de seus artigos sobre questões econômicas, originalmente publicados em Foreign Affairs, Harvard Business Review, Scientific American e

(40)

outras revistas, são reimpressos no Pop Internationalism e The Accidental Theorist. (NYT 2019).

Nesse contexto, atualmente, Krugman é professor de economia e relações internacionais na Universidade de Princeton, bem como, na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, tendo também dado aulas em Yale, MIT e Stanford. Sua reputação profissional baseia-se, principalmente no trabalho em comércio e finanças internacionais. Ele é um dos fundadores da "nova teoria do comércio". Foi reconhecido por seus trabalhos, em 1991, pela Associação Econômica Americana, que concedeu a ele a medalha John Bates Clark e mais tarde em 2008, recebeu o Prêmio Nobel de economia. Atualmente, sua pesquisa acadêmica é focada em crises econômicas e cambiais.

Outra jornalista que recebe ataques pessoais do presidente, e constantemente expressa sua opinião a partir de sua coluna no NYT é Gail Collins que ingressou no jornal em 1995 como membro do conselho editorial e mais tarde como colunista do Op-Ed. Ainda no NYT, em 2001, foi nomeada Editora da página de editoriais, sendo assim, a primeira mulher a ocupar esse cargo no jornal. Também, destaca-se por, desde 2013, ser membro do Conselho do Prêmio Pulitzer. Collins é autora de diversas obras voltadas a jornada das mulheres na América e, na história das mulheres mais velhas na América.

Além destes dois, outra jornalista que se destaca no ramo das mudanças climáticas no período estudado é Coral Davenport. Ela cobre os assuntos relacionados à política energética e ambiental, com foco nas mudanças climáticas, tendo inclusive entrevistado, em 2016, o então presidente Obama, sobre seus esforços para construir uma economia mais verde para os Estados Unidos e mundo.

4.1 ANALISE DA POSTURA DO JORNAL

Por conseguinte, o primeiro aspecto da postura vista na narrativa do jornal, é apresentar opiniões de estudiosos e analistas sobre o negacionismo de Trump. O jornal que, por vezes divide a população em polos de opiniões contrárias, repassa a ideia de que é possível um crescimento econômico sustentável e não reconhecer os impactos das mudanças climáticas deriva-se apenas de seu achismo e, de uma teoria da conspiração criada por ele e seu partido. O jornal ainda se preocupa em

(41)

divulgar cartas escritas como réplicas aos artigos de opinião, escritas por seus leitores.

Desta forma, o segundo aspecto, encontra-se no empenho em desmentir e não raro, verificam afirmação por afirmação feita pelo presidente, para trazer transparência aos seus leitores intensificando suas compreensões no assunto. No entanto, tal verificação acontece de forma selecionada abordando principalmente o que há de errôneo, apenas com moderadas abordagens sobre qualquer possível fortúnio apresentado por Trump e isso se dá com o objetivo de traçar um perfil não apenas de Trump como do partido republicano também.

O terceiro aspecto, é que o NYT costuma destacar questões econômicas a fim de justificar seu posicionamento. Isso funciona bem e faz com que o leitor se interesse, tendo em vista o caráter da população estadunidense, especialmente, da fração consumidora do jornal que, via de regra é mais elitista e politizada.

Portanto, quanto ao primeiro evento investigado, a Saída do acordo de Paris, esse é o momento em que mais há artigos de opinião sobre o negacionismo do presidente, dentre o período analisado. Na semana anterior a declaração de saída, ocorrida no dia 01 de junho de 2017, já é possível identificar que há a especulação, baseada na própria campanha presidencial onde o assunto já era abordado, especialmente quanto ao impacto econômico.

No dia em que o presidente anuncia a saída do acordo, com um discurso de pouco mais de 30 minutos no Rose Garden, o Conselho Editorial publica um artigo intitulado,

aparece na versão física do jornal do dia 02 de junho. Desde o início da narrativa, há tom de crítica, guiada pela premissa de que negacionista teriam encontrado em Trump um presidente crédulo o suficiente para engolir o argumento falso de que um acordo para combater as mudanças climáticas destruirá, ou pelo menos inibirá a economia. Também apontam alguns membros do partido republicano como os únicos beneficiados com a decisão. Há um foco em ponderar detalhes econômicos, levantando que a comunidade empresarial teria seus desejos desafiados, ao passo que a competitividade estadunidense diminuiria.

Por sua vez, Trump justificou sua decisão dizendo que o acordo de Paris foi um péssimo negócio para os Estados Unidos, o que NYT afirmou ser embasado em dados despóticos, desonestos e desacreditados, com base em números de fontes

(42)

tendenciosas

legalmente Trump a fazer as -se às

reversões em todas as políticas nas quais Obama baseou seu Plano de Energia Limpa.

Ainda no dia 01 de junho, Paul Krugman certifica que a luta contra a ação climática é motivada em grande parte, por puro despeito, portanto, que não teria a ver com o desejo nacionalista de proteger a economia do país em detrimento do desenvolvimento sustentável. Ele finaliza caracterizando Trump como mesquinho e vingativo demais para ser o responsável por decisões políticas importantes. Nos dias subsequentes, há artigos de verificação de fatos levantados em seu discurso além de perguntas e respostas e charges.

Figura 10 Capa do The New York Times: Trump Abandona o Acordo Climático Global, 2017.

Fonte: The New York Times, 2017.

Legenda: Trump Abandona o Acordo Climático Global.

O jornal não traz artigos de opinião que abordem o negacionismo de Trump durante as Assembleias Gerais da ONU em 2017 e 2018, 2019. Em cada um desses anos havia algum destaque diferente, ao qual a mídia destinava sua atenção, consequentemente refletindo nos temas expostos nos artigos de opinião. Em 2017

Referências

Documentos relacionados

Então, em geral, quando elas vão para o quarto, elas estão a fim de ter uma boa experiência, mas isso não significa que elas estejam cheias de disposição e energia para o sexo..

Em caso de dúvidas, a Receita Federal disponibiliza um link para simulação da alíquota efe va do imposto de renda, permi ndo que o contribuinte re suas dúvidas através do

Já os títulos pós-fixados como o Tesouro IPCA+ são pode ser mais interessantes para investidores com objetivos de longo prazo.. Os prefixados, por sua vez, são indicados para

Com o outsourcing de TI, a empresa não precisa se preocupar com esse aspecto, pois sua parceira cuida de tudo para oferecer tecnologia de ponta para os seus clientes... VANTAGENS

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” 17. —Ernesto Strubhar Lista

Para oferecer às pessoas uma solução muito útil a essa situação, além do contato que temos em cursos presenciais no Instituto Visão Futuro e em projetos de serviço por todo o

Capacitar os alunos a entender como os fundos de investimento funcionam, a legislação vigente, os instrumentos de governança, as regras para formação de carteira, as

Encarregado de Dados (DPO – Data Protection Officer): pessoa indicada pelo Controlador e Operador para atuar como canal de comunicação entre o Controlador, os Titulares