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(Des) necessidade do advogado, no polo ativo, para ingresso com a queixa crime nas ações de competência dos juizados especiais criminais

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JÚLIO PATRÍCIO FORTUNATO

(DES) NECESSIDADE DO ADVOGADO, NO POLO ATIVO, PARA INGRESSO COM A QUEIXA CRIME NAS AÇÕES DE COMPETÊNCIA DOS

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Tubarão 2020

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JÚLIO PATRÍCIO FORTUNATO

(DES) NECESSIDADE DO ADVOGADO, NO POLO ATIVO, PARA INGRESSO COM A QUEIXA CRIME NAS AÇÕES DE COMPETÊNCIA DOS

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade

Orientador: Prof. Esp. Josias Machado Severino.

Tubarão 2020

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, a Deus por ter chegado até aqui, por ter a oportunidade de lutar por todos os meus sonhos.

A minha família, em especial meus pais, por terem me dado todo o apoio necessário para alcançar todos os meus objetivos na minha vida, sempre me incentivando a dar o melhor de mim, me auxiliando nos estudos e sempre me dando todas as oportunidades possíveis.

A minha namorada, que me incentiva todos os dias a ser uma pessoa melhor, e que tenho como base de inspiração.

Ao meu orientador, Josias Machado Severino, por todo auxílio para o desenvolvimento deste trabalho e aos demais professores da UNISUL, que contribuíram para minha formação profissional.

Aos amigos que fiz nessa jornada, por todo apoio, em especial ao Eron, Luiz Felipe e Marcel, vou levar nossa amizade para sempre.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo geral analisar a necessidade de advogado no polo ativo, para ingresso com a queixa crime nas ações dos Juizados Especiais Criminais. Referente à metodologia empregada para a realização do presente trabalho, declara-se que foi uma pesquisa exploratória e qualitativa. Quanto aos procedimentos de coleta de dados foi utilizado o método bibliográfico e documental. Foram analisados no decorrer da pesquisa as caracteristicas dos Juizados Especiais Criminais, os principios norteadores dos juizados, a necessidade de advogado no polo ativo, as Ações Diretas de Inconstitucionalidade e as Leis que regem tanto a facultatividade do advogado quanto a necessidade. Os resultados do presente estudo demonstraram que faz-se necessário advogado no polo ativo para ingresso com queixa crime no Juizado Criminal, visto que sem ele as partes podem encontrar dificuldades no decorrer do processo, e arriscarem sua liberdade. Conclui-se que o advogado é de grande importância para a jurisdição brasileira, pois tem a faculdade da capacidade postulatória, sua falta pode ocasionar problemas para a parte, como as Ações Diretas de Inconstitucionalidade, somente analisaram a parte Civil, usando o princípio Ubi eadem ratio ibi idem jus, se outros Juizados utilizam a analogia da necessidade, o JECrim deveria também utilizar do mesmo entendimento. E o art. 9º da lei 9099/95 necessitaria de uma revisão, pois afronta três importantes principios e tambem a Constituição Federal, sofrendo assim grande oposição da doutrina, que defende a permanência do advogado como obrigatória.

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ABSTRACT

This work has as general objective to analyze the need for a lawyer in the active pole, to enter with the criminal complaint in the actions of the Special Criminal Courts. Regarding the methodology used to carry out the present work, it is declared that it was an exploratory and qualitative research. As for data collection procedures, the bibliographic and documentary method was used. During the research, the characteristics of the Special Criminal Courts, the guiding principles of the courts, the need for a lawyer in the active pole, the Direct Actions of Unconstitutionality and the Laws that govern both the option of the lawyer and the need were analyzed. The results of the present study demonstrated that it is necessary to have a lawyer in the active center to enter with a criminal complaint in the Criminal Court, since without it the parties may encounter difficulties during the process, and risk their freedom. It is concluded that the lawyer is of great importance for the Brazilian jurisdiction, as he has the faculty of postulatory capacity, his lack can cause problems for the party, such as Direct Actions of Incosntitutionality, only analyzed the Civil part, using the Ubi eadem principle ratio ibi idem jus, if other Courts use the analogy of necessity, JECrim should also use the same understanding. And art. 9 of Law 9099/95 would need a revision, as it defies three important principles and also the Federal Constitution, thus suffering great opposition from the doctrine, which defends the permanence of the lawyer as mandatory.

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LISTA DE SIGLAS

ADI - Ação Direta de Inconstitucionalidade Art. Artigo

CF – Constituição Federal

CPP – Código de Processo Penal CPC - Código de Processo Civil CP – Código Penal

JEC - Juizado Especial Civil

JECrim - Juizado Especial Criminal JEF - Juizados Especiais Federais OAB - Ordem dos Advogados do Brasil STF - Supremo Tribunal Federal

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 10

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 11

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 15

1.3 HIPÓTESE ... 15

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ... 16

1.5 JUSTIFICATIVA ... 17

1.6 OBJETIVOS ... 18

1.6.1 Objetivo Geral ... 18

1.6.2 Objetivos Específicos ... 18

1.7 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 18

1.8 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ... 20

2. NOÇÕES GERAIS E ESPECÍFICAS SOBRE JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS: ... 21

2.1 COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ... 23

2.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS JUIZADOS ... 23

2.2.1 Princípio da Oralidade ... 25

2.2.2 Princípio da Simplicidade ... 26

2.2.3 Princípio da Informalidade ... 26

2.2.4 Princípio da Economia Processual ... 27

2.2.5 Princípio da Celeridade ... 28

2.3 ESPÉCIES DE AÇÔES PENAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO ... 29

2.3.1 Ação Penal Privada ... 29

2.3.2 Ação Penal Pública ... 30

2.3.3 Ação Penal Pública Incondicionada ... 31

2.3.4 Ação Penal Pública Condicionada a Representação ... 31

2.4 QUEIXA CRIME NO PROCESSO PENAL ... 32

2.5 ACESSO À JUSTIÇA ... 34

3. A IMPORTÂNCIA DO ADVOGADO ... 36

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3.2 ACESSO À JUSTIÇA E A CAPACIDADE POSTULATORIA (JUS

POSTULANDI) ... 38

3.3 NOS JUIZADOS ESPECIAIS ... 41

4. NECESSIDADE DO ADVOGADO NOS JUIZADOS ESPECIAIS ... 44

4.1 CONFLITOS DE NORMAS JURÍDICAS ... 44

4.2 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ... 47

4.2.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.127 ... 47

4.2.2 Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.539 ... 50

5. CONCLUSÃO ... 53

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1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como tema central analisar a necessidade de advogado no polo ativo, para ingresso com a queixa crime nas ações de competência dos Juizados Especiais Criminais. Serão abordados os objetivos da criação dos Juizados Especiais no Brasil, seus aspectos principais, as especificações dos juizados e suas limitações. Serão consideradas ainda objeto de estudo as noções sobre os Juizados Especiais Criminais (JECrim), as espécies de ações penais existentes no ordenamento jurídico brasileiro, como funciona o acesso à justiça no Brasil e os princípios que norteiam o JECrim.

O problema a ser analisado diz respeito à exigência de capacidade postulatória para ingresso com a queixa-crime nas ações de competência do JECrim.

Diante dessa questão, serão expostos a importância da necessidade um advogado acompanhando os cidadãos nos Juizados Especiais, as consequências da dispensa de assistência do advogado. Além de tudo, serão apresentados opiniões e pontos de vista de diversos autores, sobre o tema em questão e a importância do acompanhamento.

O estudo da necessidade de advogado no polo passivo para ingressar com a queixa crime nas ações que tenham como competência o JECrim é de suma importância para o ordenamento jurídico brasileiro, visto que a capacidade postulatória é um pressuposto processual, sem a qual não é possível a postulação em juízo. Além disso, tem relação com o princípio do acesso à justiça, que é um dos princípios mais relevantes e essenciais garantidos pela Constituição Federal (CF).

O propósito de ter como estudo esse assunto é, além de fazer sua análise é entender seus aspectos, buscar dentro do ordenamento jurídico brasileiro a real importância da necessidade de advogado e assim logo conhecer seus proveitos e seus prejuízos provenientes dele.

Assim, a metodologia de pesquisa será qualitativa e bibliográfica onde se embasará na pesquisa em livros e legislações, contando também com informações obtidas através da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) de grande importância para o desenvolvimento deste trabalho.

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A referência teórica a ser utilizada para a pesquisa desta tese será o Princípio ao acesso à justiça, princípio este que motivou a criação de leis e declarou a constitucionalidade da dispensa de advogado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que será tratado também no presente estudo.

Ao decorrer da pesquisa, serão desenvolvidos 4 capítulos, o capítulo inicial abordará sobre a delimitação do tema, a formulação da situação problema, suas justificativas e seus objetivos. O segundo capítulo abrangerá especificamente sobre o JECrim, os princípios que norteiam este Juizado, as ações penais que referentes aos Juizados e a queixa crime, peça que tem iniciativa do ofendido que é encaminhada para o juízo criminal. O terceiro capítulo discutirá sobre a importância do advogado no ordenamento jurídico brasileiro, o princípio do acesso à justiça e a capacidade postulatória, e por último o papel do advogado no Juizado Especial. Já no último capítulo será discutida a questão dos conflitos de normas jurídicas pertinentes ao assunto, ADI que vão contra a dispensa do advogado. Por fim, a conclusão da tese tem por objetivo a análise da hipótese para encontrar a maneira mais adequada para a solução do problema do estudo.

Assim o presente capítulo terá uma contextualização do tema, com a descrição da situação problema e a formulação do problema de pesquisa, assim como as definições dos conceitos operacionais, a apresentação da justificativa, os objetivos, os procedimentos metodológicos utilizados, e por fim, mas não menos importante a estruturação dos capítulos.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

O JECrim é um órgão do Poder Judiciário do ordenamento brasileiro, objetivando a conciliação, julgamento e execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, assim buscando sempre a reparação dos danos sofridos pela parte lesada e a aplicação da pena não privativa de liberdade.

A atuação dos Juizados Especiais Criminais tem previsão constitucional no art. 98, no seu inciso I,

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau. (BRASIL. 1988)

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A CF evidência que a competência dos juizados especiais é para julgar as infrações de menor potencial ofensivo, tais ilícitos penais são todas as contravenções penais existentes, e os crimes com pena privativa de liberdade inferior a dois anos, cumulada ou não com multa, conforme inteligência do art. 61 da Lei 9.099 de 1995.

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (BRASIL, 1995)

Como relata Renato Lima em sua obra,

As infrações de menor potencial ofensivo, assim compreendidas as contravenções penais e crimes cuja pena máxima não seja superior a 02 (dois) anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a procedimento especial, devem ser processadas e julgadas pelos Juizados Especiais Criminais, pelo menos em regra, com procedimento regulamentado pela Lei nº 9.099/95; (2016, p. 86)

Em que pese a CF ter previsto a criação do Juizado Especial Cível (JEC) e JECrim eles foram inaugurados em nosso ordenamento jurídico com a Lei nº 9.099, a qual define sua competência e funcionamento. Apesar disso, essa titularidade do Ministério Público não retira a possibilidade de o particular fazer quando lhe for autorizado por lei.

O código penal, por sua vez, estabelece no art. 100 as espécies de ação penal:

Ação pública e de iniciativa privada

Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.

§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.

§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo.

§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.

§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (BRASIL, 1940)

Logo, o direito de ação pode ser realizado desde que o Ministério Público ou o particular, nos crimes cuja iniciativa é privada, porte elementos capazes de prova pertinentes a prática de uma conduta criminosa.

Assim tem a ação penal privada, em que o ofendido, se for menor ou incapaz, por seu representante legal, cônjuge (companheiro) ascendente, descendente e

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irmão no caso de seu falecimento ou da sua declaração judicial de ausência, onde a pessoa que foi vítima de uma infração de menor potencial ofensivo pode acionar o JECrim para resolução.

A ação penal privada se procede mediante queixa do ofendido ou de seu representante legal, nos termos do § 2º, art. 100, Código Penal, e art. 30, do Código de Processo Penal.

Capez traz o seguinte conceito:

É aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere a legitimidade para a propositura da ação penal à vítima ou a seu representante legal. A distinção básica que se faz entre ação penal privada e ação penal pública reside na legitimidade ativa. Nesta, o tem o órgão do Ministério Público, com exclusividade (CF, art. 129, I); naquela, o ofendido ou quem por ele de direito. Mesmo na ação privada, o Estado continua sendo o único titular do direito de punir e, portanto, da pretensão punitiva. Apenas por razões de política criminal é que ele outorga ao particular o direito de ação. Trata-se, portanto, de legitimação extraordinária, ou substituição processual, pois o ofendido, ao exercer a queixa, defende um interesse alheio (do Estado na repressão dos delitos) em nome próprio. (2012, p. 181)

Como o ofendido possui a faculdade de ingressar ou não com a ação se tem um princípio que o comanda, que é o princípio da Disponibilidade, rege a ação pública privada, em decorrência desse princípio compete ao autor da ação penal privada optar por se deseja ou não prosseguir com ela até o final. A disponibilidade da ação manifesta-se na possibilidade de renunciar o direito de queixa, na possibilidade de o querelante desejar a perempção da ação ou de perdoar o querelado.

Assim fala sobre esse princípio, Greco Filho (2013):

Não pode, porém, transigir, porque a transação envolveria o próprio jus puniendi, que não é seu, mas do Estado. Aliás o querelante é substituto processual do Estado, porque age em nome próprio sobre direito de terceiro. O querelante tem disponibilidade sobre a ação, não sobre o direito de punir.

Aliado a este princípio temos a previsão do art. 9º da lei. 9.099/95 que dispensa a capacidade postulatória da vítima para ingressar com as ações cíveis junto aos Juizados Especiais Cíveis (JEC),

Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.

§ 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local.

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§ 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa o recomendar. (BRASIL, 1995)

Tornando facultativa a assistência do advogado, mas que vai contra o art. 1º, inciso I, e o art. 4º, ambos da lei 8.906/94 que é o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),

Art. 1º São atividades privativas de advocacia:

I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais;

Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas. (BRASIL, 1994)

Em um possível conflito de leis, a LINDB daria preferência para a lei 9.09995, visto que, a Lei 9099/95, por ser mais nova e mais específica para o assunto abordado, prevaleceria sobre a Lei 8.906/94, pelo critério da especificidade e a lei mais nova. (BRASIL, 1942)

Entretanto, foi ainda levantada a contrariedade ao art. 133 da CF, visto que o advogado é indispensável, pois é um defensor da justiça, tendo como objetivo buscar a igualdade no âmbito processual, “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei” (BRASIL, 1988).

Tal discordância foi tema de uma ADI, número 1.127, que relata,

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - Lei 8.906/94. Suspensão da eficácia de dispositivos que especifica. LIMINAR. AÇÃO DIRETA. Distribuição por prevenção de competência e ilegitimidade ativa da autora. QUESTÕES DE ORDEM. Rejeição. MEDIDA LIMINAR. Interpretação conforme e suspensão da eficácia até final decisão dos dispositivos impugnados, nos termos seguintes: Art. 1º, inciso I -

postulações judiciais privativa de advogado perante os juizados especiais. Inaplicabilidade aos Juizados de Pequenas Causas, à Justiça do Trabalho e à Justiça de Paz. Art. 7º, §§ 2º e 3º - suspensão da

eficácia da expressão "ou desacato" e interpretação de conformidade a não abranger a hipótese de crime de desacato à autoridade judiciária. Art. 7º, § 4º - salas especiais para advogados perante os órgãos judiciários, delegacias de polícia e presídios. Suspensão da expressão "controle" assegurado à OAB. Art. 7º, inciso II - inviolabilidade do escritório ou local de trabalho do advogado. Suspensão da expressão "e acompanhada de representante da OAB" no que diz respeito à busca e apreensão determinada por magistrado. Art. 7º, inciso IV - suspensão da expressão "ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da advocacia, para a lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade". Art. 7º, inciso v - suspensão da expressão "assim reconhecida pela OAB", no que diz respeito às instalações e comodidades condignas da sala de Estado Maior, em que deve ser recolhido preso o advogado, antes de sentença transitada em julgado. Art. 20, inciso II - incompatibilidade da advocacia com membros de órgãos do Poder Judiciário. Interpretação de conformidade a afastar da sua abrangência os membros da Justiça Eleitoral e os juizes suplentes não

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remunerados. Art. 50 - requisição de cópias de peças e documentos pelo Presidente do Conselho da OAB e das Subseções. Suspensão da expressão "Tribunal, Magistrado, Cartório e". Art. 1º, § 2º - contratos constitutivos de pessoas jurídicas. Obrigatoriedade de serem visados por advogado. Falta de pertinência temática. Argüição, nessa parte, não conhecida. Art. 2º, § 3º - inviolabilidade do advogado por seus atos e manifestação, no exercício da profissão. Liminar indeferida. Art. 7º, inciso IX - sustentação oral, pelo advogado da parte, após o voto do relator. Pedido prejudicado tendo em vista a sua suspensão na ADIn 1.105. Razoabilidade na concessão da liminar. (BRASIL, 2006)

Analisando a ADI, nota-se que torna inconstitucional o art. 1º, inciso I, da lei 8.906/94, somente os Juizados de pequenas causas, a Justiça do Trabalho e a Justiça de Paz.

Não obstante tais postulados, boa parte da doutrina e da jurisprudência colocam como requisito para a queixa crime a capacidade postulatória. Desta forma, o presente trabalho visa analisar, com base na lei 9099/95 e 8.906/94 e nas ADI 1.127 e 1.539, se a dispensa de capacidade postulatória alcança o polo ativo das ações penais privadas de competência do JECrim.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Há exigência de capacidade postulatória para ingresso com a queixa-crime, nas ações de competência dos Juizados Especiais Criminais?

1.3 HIPÓTESE

O advogado pertence a categoria de juristas, e como condiz no art. 2º do Estatuto da Advocacia,

Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.

§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social.

§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.

§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta Lei.

Perante a nossa sociedade, o advogado tem a função de promover a observância da ordem jurídica e o acesso de seus clientes a justiça. O advogado segundo a CF em seu art. 133 “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei” (BRASIL, 1988), demonstrando assim que o advogado apresenta

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função essencial à justiça. Mas que isso, por vezes, conflita com a previsão Constitucional do acesso à Justiça.

E com a ADI 1.127, o STF, abriu uma brecha somente para a parte cível, em que os advogados são dispensáveis para a propositura da ação perante o Juizado Especial, sendo assim pela interpretação, não seria obrigatória a capacidade postulatória nos JEC, Justiça do Trabalho e Juizados de Paz, segundo Alexandre Freitas Câmara (2014) “a capacidade postulatória pode ser definida como a aptidão que, em linha de princípio, é privativa do advogado”, pois um ato que é privativo do advogado para uma parte do direito deve ser para todas.

Neste sentido, se buscará em uma análise doutrinária e jurisprudencial que se deve prevalecer a exigência de advogados para postular no polo ativo das ações penais privadas de competência do JECrim.

1.4 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

A pesquisa terá como norteamento o seguinte conceitos-chave:

A necessidade de advogado para ingressar com queixa crime nas ações do JECrim.

Trata-se da capacidade de uma garantia constitucional, onde a CF, diz que o advogado é indispensável a administração da justiça, sendo invioláveis os seus atos, e no caso quando o ofendido ingressa no Juizado Especial Criminal sem advogado não vai ter o apoio do operador da ciência jurídica, que vai zelar pelo bom cumprimento da lei para o ofendido.

Soares (2004, pag. 174) salienta que,

sem o advogado a construção da decisão judicial se constitui de ato ilegítimo pela falta de suporte constitucional, conforme estabelece o art. 133 e o art. 1º da CF/88, que determina a opção do Estado Brasileiro pelo paradigma democrático de direito. (2004, pag. 174)

Sendo assim para ser válida a garantia processual deve haver a concordância, como houve na Ação Direta De Inconstitucionalidade, número 1.127, onde se necessita de advogado para postular perante Juizados de Pequenas Causas, à Justiça do Trabalho e à Justiça de Paz.

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O Juizado Especial Criminal é um órgão da justiça que julga as infrações penais de menor potencial ofensivo que tem como objetivo agilizar a resolução dos processos, assim tendo a rapidez na reparação dos danos causados às vítimas.

As infrações penais de menor potencial ofensivo são, nos termos do art.61 da lei 9.099/95 os crimes com pena máxima não superior a dois anos e todas as contravenções penais, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a procedimento especial.

A ação penal privada são aquelas ações que, nos termos do art. 100 § 2º, da lei 9099, sendo que a queixa-crime é a peça acusatória nos crimes de ação penal privada, nos termos do mesmo dispositivo.

O polo ativo das ações é a pessoa que entra com o processo, ou seja, nesse caso a vítima ou seu representante. É quem acusa, no caso desse projeto o outro de uma infração penal de menor potencial ofensivo.

1.5 JUSTIFICATIVA

O despertar para o tema surgiu a partir de uma conversa com o orientador e professor de processo penal, acerca das garantias que os ofendidos dos crimes de menor potencial ostensivo, teriam quando ingressassem no JECrim. Em discussão a respeito de que o ofendido sem advogado para proteger seus interesses e alertar sobre os procedimentos adotados, poderia eventualmente sair perdendo com a ação proposta, pelo simples fato de não ter um advogado o acompanhando.

O projeto possui sua área de interesse, pois já foi tema de discussão das ADI 1.127 e 1.539 que se confrontam, confrontando também com a CF e o Estatuto da Advocacia.

Sobre o assunto não foram encontradas pesquisas relacionadas a Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), de acordo com o RIUNI.

O valor relevante do projeto é importante para o meio profissional, uma vez que abre um nicho de mercado para os advogados, pois na sua maioria não são procurados para ingressar com as ações, e uma garantia a mais para os ofendidos terem um apoio dos operadores de direito nas suas ações.

Além do que, é importante para a sociedade porque, poderia se transformar em um facilitador para o acesso à justiça, desde que, fique evidente que isso não

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trará prejuízos. Sobretudo no polo ativo da ação, por uma analogia às ações cíveis, orientadas pelo mesmo princípio da disponibilidade.

Para o acadêmico, desperta a curiosidade, visto que não foi um tema abordado em aula, mas que sempre tiveram divergências doutrinarias e constitucionais.

Por fim, após a conclusão do estudo, acredita-se que será possível compreender acerca da necessidade do advogado no polo ativo, para ingressar com a queixa crime nas ações de competência dos Juizados Especiais Criminais, visto que hoje ainda há divergências doutrinarias acerca do tema.

1.6 OBJETIVOS

1.6.1 Objetivo Geral

Analisar a necessidade de advogado no polo ativo, para ingresso com a queixa crime nas ações dos Juizados Especiais Criminais.

1.6.2 Objetivos Específicos

• Compreender, por meio de um breve estudo histórico os juizados especiais no ordenamento jurídico brasileiro;

• Descrever as espécies de ação penal existentes na ordem jurídica nacional;

• Discorrer sobre Queixa-Crime no processo penal;

• Traçar linhas gerais sobre o princípio constitucional do acesso à justiça; • Analisar a ADI 1.127, e verificar a possibilidade de sua repercussão junto ao JECrim.

• Demonstrar, através de doutrinas, a possibilidade de se ingressar com advogado nas ações no JECrim.

• Expor a importância do Advogado;

• Comparar a importância de se ter advogado no JEC e no JECrim.

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Esta pesquisa classifica-se quanto ao nível de profundidade como

exploratória, visto que será abordado para estudos o aprofundamento do tema nos

aspectos legais, jurisprudenciais e doutrinários.

Assim, admite-se a análise da atividade dos advogados no JECrim, observando a necessidade de que se tenha advogado para que o requerente não perca a ação.

Para Leonel, Marcomin (2015, p.12), a pesquisa exploratória visa trazer uma compreensão básica, objetivando-se conquistar um maior domínio sobre o tema, a fim de que se possa compreender melhor o problema e suas hipóteses de resposta.

Quanto ao procedimento de pesquisa utilizado para a coleta de dados será

bibliográfico e documental, o método bibliográfico se dará através de análise em

livros, doutrinas e artigos. E para a coleta de dados documentais, serão analisados os entendimentos das ADIs do STF acerca do tema, a fim de se chegar à solução do problema de pesquisa, bem como a lei nº 9099/95, que trata sobre os Juizados Especiais.

Para facilitar o processo de coleta de dados, será montado um esqueleto, que seguirá a ordem descrita a seguir para a parte da pesquisa bibliográfica:

[...] 3. Levantamento do material bibliográfico onde se identifica e localiza todos os materiais a serem estudados, ou do material de referência para o estudo; 4. Formulação da leitura do material selecionado; 5. Sistematização dos dados coletados, ou seja, dos apontamentos e das informações que serão tratadas no relatório, o que pode ser feito por meio de fichamentos; 6. Análise e interpretação dos dados e informações compilados (quando o pesquisador analisa as fichas que contêm as sínteses elaboradas); 7. elaboração de um plano de redação do relatório com sua estrutura e conteúdos centrais; 8. finalmente, a redação do relatório propriamente dito, onde os dados e informações coletadas são apresentados (RAUEN, 2002; MARCONI; LAKATO, 1983 apud LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 16)

Para a pesquisa documental, serão seguidos os seguintes passos:

[...] 3. Identificação das fontes documentais; 4. localização das fontes documentais; 5. Acesso ou obtenção de todo material documenta necessário para que se desenvolva a pesquisa; 6. Análise dos conteúdos levantados, ou tratamento dos dados, considerando com profundidade o que os dados obtidos representam e que tipo de informação fornece para responder ao problema de pesquisa; 7. Tratamento estatístico dos dados ou fichamento que responde ao processo de organização dos dados obtidos – dados qualitativos (subjetivos não numéricos), que exigem uma sistematização das informações encontradas, [...]; 8. Apresentação dos resultados através da redação do relatório final de pesquisa (RAUEN apud LEONEL; MARCOMIM, 2015, p. 18-19).

Quanto ao método de abordagem da pesquisa, este será o qualitativo, justificando-se pelo fato de que essa metodologia realizará uma análise subjetiva.

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Uma vez que serão analisados palavras, argumentos e posições doutrinarias acerca do tema. Que segundo Minayo (2007, p. 21 apud LEONEL; MARCOMIN, 2015, p. 28), a pesquisa qualitativa:

[...] se ocupa com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, [...] das atitudes. Esse conjunto de fenômenos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.

Finalizado assim este primeiro momento, passaremos a discorrer, no segundo capítulo, acerca dos Juizados Especiais, e a sua introdução no ordenamento jurídico pátrio.

1.8 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

Esta monografia está disposta em cinco capítulos. O primeiro capítulo tratará da introdução, onde será abordado o tema de estudo, a situação problema, a justificativa, os objetivos, a hipótese, os conceitos operacionais e a estruturação dos capítulos.

O segundo capítulo trata sobre o JECrim, abordando sobre sua competência, os princípios que o rege, também sobre as espécies de ação penal no ordenamento jurídico brasileiro, a queixa crime no processo penal e o acesso à justiça.

O terceiro capítulo irá debater sobre a importância do advogado, o acesso à justiça e a capacidade postulatória (Jus Postulandi), tudo nos Juizados Especiais.

O quarto capítulo apresenta a questão central desta monografia, destacando a necessidade do advogado nos Juizados Especiais, os conflitos de normas jurídicas e as ADIs que regem o assunto.

E por fim, a conclusão sobre o a tese estudada neste trabalho de conclusão de curso.

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2. NOÇÕES GERAIS E ESPECÍFICAS SOBRE JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS:

O Estado é quem detém o monopólio da jurisdição brasileira, assim as partes sempre devem recorrer ao Estado para que sejam solucionados suas LIDES. Neste sentido há uma demora excessiva para se obter qualquer resolução, visto que existe uma carga processual gigantesca e dispendiosos custos processuais, resultando em empecilhos para a defesa de um direito, e em muitos casos diversas pessoas desistem de pleitear seus direitos, pelo fato da demora.

Com o objetivo de proporcionar mais agilidade aos processos, o art. 98, inciso I da CF/1988 assim determinou:

Juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau. (BRASIL, 1998)

Em 1989, havia o projeto de lei de número 1.480/1989, que era conhecido como o projeto de lei “Michel Temer” para a criação dos Juizados Especiais, em meio de tantos outros projetos de lei que queriam instituir os Juizados Especiais, foi esse quem teve êxito na criação, sofrendo tramitações até que no ano 1995, assim no dia 26 de setembro, foi instituída no Brasil a Lei nº 9.099, que estabeleceu os chamados JEC e JECrim, que tem previsão no Art. 98 inciso I, da CF do Brasil. A lei nasceu perante a reclamação da Sociedade Brasileira que se queixava da demora dos processos na Justiça brasileira.

Tendo como propósito determinar as normas que tratem o julgamento e as exceções das causas cíveis e penais de menor complexidade, utilizando assim o procedimento sumaríssimo. Assim, a lei 9.099 de 1995 permitiu a criação dos Juizados Especiais Estadual Cíveis e Criminais nos Estados, no Distrito federal como mostra o art. 1º da lei 9.099 de 1995.

Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência. (BRASIL, 1995)

Neste sentido o JECrim, representou uma quebra de paradigmas, possibilitando que cidadãos carentes tenham acesso à Justiça.

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Como relata Renato Lima,

Atendendo ao preceito constitucional, entrou em vigor no dia 26 de novembro de 1995 a Lei n° 9.099, instaurando uma nova espécie de jurisdição no processo penal: a jurisdição consensual.

Até o advento da Lei dos Juizados Especiais Criminais, a única forma de aplicação do direito penal objetivo era através de uma jurisdição de conflito, que demanda a instauração de um processo contencioso, colocando de lado opostos acusação e defesa, cujo objetivo precípuo é, em regra, a imposição de uma pena privativa de liberdade.

Com o surgimento da Lei dos Juizados Especiais Criminais, essa tradicional jurisdição de conflito cede espaço para uma jurisdição de consenso, na qual se busca um acordo entre as partes, a reparação voluntária do dano sofrido pela vítima e aplicação de pena não privativa de liberdade, procurando-se evitar, o quanto possível, a instauração de um processo penal. (2016, pag. 1915-1916)

A jurisdição de conciliação fica à frente da habitual jurisdição de conflito, sendo estipulado um acordo entre as partes e a reparação do dano provocado pelo litígio, evitando, a instauração de um extenso e estressante processo. Assim discorre Fernando Capez,

Surge, assim, um novo tipo de jurisdição, que coloca a transação e o entendimento como metas e a vítima como prioridade. No lugar de princípios tradicionais do processo, como obrigatoriedade, indisponibilidade e inderrogabilidade (do processo e da pena), assume relevância uma nova visão, que coloca a oportunidade, a disponibilidade, a discricionariedade e o consenso acima da ultrapassada jurisdição conflitiva (2017, pag. 427)

O terceiro Capítulo da Lei 9.099/95 diz respeito ao JECrim, e merecem destaque o art. 60, que relatam que,

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (BRASIL, 1995)

Mas esta lei criou tão somente os JEC e JECrim na esfera da Justiça Comum Estadual. No que tange a Justiça Comum Federal, os juizados foram criados somente no ano de 2001, com a lei 10.259/2001, que sancionava os Juizados Especiais Criminais Federais (JEFs), que veio a modificar a visão que tem as pessoas mais pobres de que não resolverão suas pendências na justiça. Assim as pessoas mais carentes terão a oportunidade de solucionar seus problemas de modo sumaríssimo, assim agilizando suas demandas que poderiam levar anos.

Os Juizados Especiais têm como competência, processar e julgar assuntos da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo, assim considerados os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.

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2.1 COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Desde a edição da lei 9.099 de 1995, as infrações penais de menor potencial ofensivo são as contravenções penais e alguns crimes:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. (BRASIL, 1995)

Entretanto, com a Lei nº 11.313, de 2006, que deu nova redação ao Art. 61 da Lei 9.099/95, passando a ter a seguinte redação:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (BRASIL, 1995)

Com isso, ficou solucionada a questão relativa à competência dos Juizados que são, por força de lei, as infrações penais de menor potencial ofensivo todas as contravenções e os crimes com pena máxima não superior a 02 (dois) anos, previsto ou não no procedimento especial, como exemplo, aquelas infrações penais previstas no Código Eleitoral. Como regra, por exemplos se tem alguns crimes que são: Lesão corporal (leve), Lesão corporal culposa, Rixa, Ameaça, Violação de domicílio, Dano, Resistência, Desobediência, Desacato, Perturbação do trabalho ou do sossego alheios, Perturbação da tranquilidade, Direção perigosa (crime de trânsito), Dirigir inabilitado, Confiar direção a inabilitado, Posse de entorpecente para uso próprio.

Mas ainda há exceções como a Lei Maria da Penha, Estatuto do Idoso, entre outras legislações com regramentos próprios, mas que, não caberia aqui sendo necessário um estudo mais aprofundado.

Agora que definimos as questões sobre a competência, vamos traçar os objetivos e discorrer sobre os princípios que regem o JECrim.

2.2 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS JUIZADOS

Os princípios podem ser definidos como o alicerce, o motivo, a origem, a função essencial na qual se apresenta qualquer matéria. Se trata de argumentos mais abstratos que dão origem a razão ou servem de fundamento jurídico ao Direito.

Vale ressaltar o significado de princípios, onde nas palavras de Miguel Reale,

Princípios são enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, a aplicação e

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integração ou mesmo para a elaboração de novas normas. São verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis. (2003, pag. 37)

Tourinho, citando as palavras de Mello, define o significado de princípio como,

É por definição, mandamento nuclear de uma sistema, verdadeiro alicerce de, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. (2001, pag. 771 e 772)

Já no sentido Jurídico da Palavra Princípio, Plácido de Silva, entendem que,

No sentido jurídico, notadamente no plural, quer significar as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa. Desse modo, exprime sentido mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica. Mostram-se a própria razão fundamental de ser das coisas, convertendo-se em perfeitos axiomas. (1989, pag. 447)

Os princípios norteadores do JECrim têm como base o art. 62 da Lei 9.099/95, dos quais se orientam pelos critérios da Oralidade, Informalidade, Economia Processual e Celeridade, com o objetivo de reparar os danos sofridos pelas vítimas e a aplicação da pena não privativa de liberdade.

O art. 62 citado está da exata forma descrito:

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não restritiva de liberdade. (BRASIL, 1995)

Vale ressaltar que a palavra “critério” está no sentido de princípios, os quais foram mencionados no art. acima citado. No entanto, o art. utiliza dos princípios como a ideia da busca pela conciliação e transação, que assim veremos posteriormente, como Santos, afirma em sua obra,

O art. 2º da Lei. N. 9.099/95 utiliza a palavra critérios, que, contudo, são autênticos princípios que constituem a base do novo procedimento e as diretrizes que norteiam toda a interpretação das normas a ele aplicáveis. São eles a oralidade, a simplicidade processual, a informalidade, a economia processual e a celeridade, com base a busca da conciliação e da transação. (2006, pag. 45)

Assim, existem diferenças entre princípios e critérios, onde o legislador não se atentou nesse sentido. Critérios na Lei 9.099/95, fazem referência a procedimentos adotados no JECrim, a reparação da comparação de danos e a transação penal,

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tendo assim procedimentos e não processo, enquanto os princípios se referem ao processo, no qual se inicia com a denúncia ou a queixa.

2.2.1 Princípio da Oralidade

O princípio da Oralidade, busca a concentração dos atos, limitando a utilização de documentos que implicam na demora processual, fazendo assim a maioria dos atos processuais orais, onde se evita a utilização do meio documental, tornando o processo muito mais rápido e eficaz.

Ou seja, as afirmações ou declarações perante os juízes e tribunais possuem a mesma eficácia quando formuladas oralmente, sem a exclusão por completo de provas escritas, pois são imprescritíveis no processo.

O art. 14, da lei 9.099/95, reflete muito bem este princípio, pois dá a parte o direito de dar início no processo de forma oral “O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado” (BRASIL, 1995).

Assim, Damásio de Jesus entende,

Sua aplicação, na Lei n.° 9.099/95, limita a documentação ao mínimo possível (arts. 65, caput, 67, 77, caput e §§ 1° e 3°, e 81, §2°). As partes debatem e dialogam, procurando encontrar uma resposta penal que seja justa para o autor do fato e satisfaça, para o Estado, os fins de prevenção geral e especial. (1995, pag. 121)

Assim destaca o princípio da oralidade pelo André Melo,

Dentre os princípios introduzidos, o da oralidade é o que mais forneceu dinâmica ao procedimento do Juizado, sobretudo no concernente às audiências de instrução e julgamento. Nesta atuação moderna, a utilização da palavra falada tem supremacia, motivo que só impõe ao jurista uma preparação prévia de toda matéria argumentativa e probatória utilizada em juízo. (2000, pag. 189)

E os demais atos processuais podem ser também apresentados oralmente, como diz Antônio Bouchenek, “A contestação e o pedido contraposto também poderão ser apresentados oralmente” (2004, p. 198).

Analisando a Lei 9.099/95, se destacam os arts. 75, 77 e 81, que possuem grandes influências do princípio da oralidade.

Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.

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Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença. (BRASIL, 1995)

Assim como Tourinho Neto afirma,

Oralidade, predominância da palavra oral sobre a escrita, tem como objetivo dar maior agilidade à entrega da prestação jurisdicional, beneficiando, desse modo, o cidadão. Assina-le que, com a aplicação deste princípio, há uma desburocratização documental o processo. (2007, pag. 441)

Neste sentido, o princípio da oralidade busca alcançar a maior agilidade processual, na medida em que torna todo o processo menos burocrático, tanto para as partes quanto para o judiciário.

2.2.2 Princípio da Simplicidade

O procedimento realizado pelo Juizado Especial deve ser simples, a fim de deixar os interessados à vontade para exporem seus objetivos. Onde se devem excluir formalidades inúteis, buscando assim a rápida finalidade processual.

Simplificando o processo reduz os atos necessários para chegar a um julgamento justo e a sua execução, corresponde assim à realização do ato processual de maneira mais simples, natural e sem aparatos.

2.2.3 Princípio da Informalidade

O princípio da informalidade consiste em não seguir as formas exigidas no procedimento comum, como relata Nancy Andrighi “Informalidade não quer dizer ausência de forma, que é garantia legal, mas sim, redução do valor das formas ao mínimo essencial à garantia, vale dizer, banimento da burocracia estéril” (1996, pag. 112).

Este princípio mostra a desnecessidade da rigorosa forma em que o processo judicial tem, embora os atos processuais devam ser realizados conforme lei, com fundamento no devido processo legal, deve-se levar em conta que combater o excesso de formalismo que existe na prática, pois são atos solenes inúteis e infundados que apenas atrasam a resolução dos atos processuais.

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O princípio da informalidade desburocratiza o processo, com a dispensa do inquérito policial, do exame de corpo delito, podendo ser substituído por um laudo médico provisório.

Assim Marisa Santos em sua obra esclarece sobre o princípio da informalidade e seus atos que devem ser simples e objetivos,

Lei nº 9.099/95 demonstra que a maior preocupação do operador do sistema dos juizados Especiais, deve ser a matéria de fundo, a realização da justiça de forma simples e objetiva. Por isso, independentemente de forma adotada, os atos processuais são considerados válidos sempre que atingirem a sua finalidade (art. 13 da lei especial). (2018, pag. 54)

A manifestação deste princípio se apresenta em sete arts. da Lei 9.099/95, que são eles,

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.

Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação. Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.

Art. 77, § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.

Art. 81, § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz.

Art. 82, § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão. (BRASIL, 1995)

Fica evidente, que dentro da lei 9.099/95, o legislador se preocupou em dar uma grande agilidade processual aos juizados, se preocupando no sentido de que o processo deve ser conduzido com o mínimo de formalidade possível, sem a necessidade do rigor formal.

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Segundo o Princípio da Economia Processual, busca obter o máximo de aproveitamento da lei com poucos atos processuais, reduzindo os atos processuais, sendo assim tem-se uma diminuição de gastos, tanto para o Poder Executivo como para o Poder Judiciário.

Assim Marisa Santos conclui que,

Aliado à simplicidade e à informalidade, o princípio da economia processual impõe que o julgador seja extremamente pragmático na condução do processo. Deve-se buscar sempre a forma mais simples e adequada à prática do ato processual, de forma a evitar que resultem novos incidentes processuais. (2018, pag. 56)

Este princípio carrega grande importância, estando presente em todo JECrim, desde a fase preliminar até a conclusão da causa. Buscando a máxima atividade na atuação do estado, com um menor gasto processual, através da redução de fases e atos processuais.

2.2.5 Princípio da Celeridade

Este princípio está diretamente relacionado com o objetivo que se institui ao JECrim, buscando soluções rápidas para os conflitos gerados na sociedade. Quando não se observa o princípio da celeridade faz com que um dos principais objetivos dos Juizados se afaste, do qual seria a rapidez no seu processamento.

Segundo Felippe Rocha,

A celeridade, por seu turno, mira a esfera procedimental, estabelecendo que os atos processuais devam produzir os seus resultados rapidamente. A celeridade seria a presteza na resposta judicial a uma pretensão deduzida em juízo, por qualquer das partes, ao longo do procedimento. (2009, pag.34)

A celeridade não determina a resolução imediata do conflito, ela impõe a rapidez na decisão final do processo. Fazendo com que os prazos processuais sejam cumpridos integralmente, pois é uma peça importante para um julgamento rápido.

Deste modo Paulo Nogueira, reforça o princípio,

Portanto, a celeridade processual não está na pressa inconsequente, com soluções falhas, mas na rapidez necessária, dentro de prazos razoáveis, religiosamente cumpridos. Não se queira ir de um extremo ao outro: de uma justiça morosa, injusta e descumpridora de prazos a uma justiça plantonista, imediata e falha, pois, aqui, a pressa é inimiga da perfeição (1996, pag. 74)

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Para isso, o juiz deve evitar as protelações desnecessárias, deve também indeferir provas impertinentes, excessivas e protelatórias, sem que isso prejudique a regularidade formal do processo.

2.3 ESPÉCIES DE AÇÕES PENAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO

A ação penal tem como objetivo a aplicação das penas previstas em lei, ao infrator do fato delituoso, sendo subordinado a imposição de penas, que é o encontro da lei penal violada e o fato que constituiu a violação da lei.

Quando o indivíduo pratica um crime ou uma contravenção penal, dá ao Estado o poder e dever de punir o indivíduo pela prática da infração. Para que isso não ocorra de forma arbitraria, a pessoa tem o direito a defesa e o contraditório, onde há o respeito das garantias individuais de cada indivíduo.

Capez, apresenta o conceito de ação penal do seguinte modo:

E o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto. É também o direito público subjetivo do Estado administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado juiz a aplicação do direto penal objetivo, com a consequente satisfação da pretensão punitiva. (2006, pag. 111)

No nosso ordenamento jurídico, temos o art. 100 do CP que elenca as principais espécies de ação penal:

Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.

§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.

§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo.

§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.

§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (BRASIL, 1940)

O JECrim obedece a regra geral e as ações penais são classificadas em duas espécies, conforme a natureza do crime praticado pelo individuo, que são a ação penal privada e ação penal pública, em que está se subdivide em penal pública condicionada a representação ou requisição do ministro da justiça e ação penal pública incondicionada, conforme passaremos a tratar.

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A ação penal privada deve ser proposta pelo particular, de acordo com o art. 30 do CPP, “Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada”, onde segundo o art. 37 do CPP, são titulares do direito de queixa a vítima maior de 18 anos e capaz e o representante legal quando a vítima for menor de 18 ou incapaz, bem como também a pessoa jurídica.

Machado, esclarece que na ação penal privada:

Daí́ falar-se em ação penal de iniciativa privada, porque exercitada pelo particular e não pelo órgão público oficial. Nesses casos, a pretensão punitiva, ou jus puniendi, continua pertencendo à sociedade civil (ou ao Estado); apenas o direito de ação, ou jus accusationis, é que se transfere para o indivíduo. (2014, pag. 153)

A queixa crime é a inicial da ação penal privada, onde deve seguir os mesmos requisitos para o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público Federal na ação penal pública.

Machado ainda destaca em quais hipóteses se tem a iniciativa privada do ofendido.

O direito brasileiro prevê a ação penal de iniciativa privada em várias hipóteses, tais como nos casos de crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria previstos, respectivamente, nos artigos 138, 139 e 140 do CP); alteração de limites, usurpação de aguas e esbulho possessório sem violência em propriedade privada (art. 161, § 3o, do CP); crime de dano (art. 167 do CP); introdução ou abandono de animais em propriedade alheia (arts. 164 e 167 do CP); fraude à execução (art. 179, parágrafo único, do CP); violação de direito autoral (arts. 184 e 186, I do CP); induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento para fins matrimoniais, art. 236 do CP); exercício arbitrário das próprias razões praticado sem violência (art. 345, parágrafo único, do CP). (2014, pag. 153)

Quanto ao prazo para o exercício do direito a queixa, se considera o prazo do art. 38 do CPP, que é de 6 meses, contados a partir do dia do conhecimento da autoria do fato delitivo.

Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. (BRASIL, 1941)

2.3.2 Ação Penal Pública

A ação penal pública é promovida pelo Ministério Público, onde o Estado percebe a necessidade de trazer para si a legitimidade para promover a ação. Qualquer pessoa pode provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos que se

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encaixe a ação pública, assim fornecendo informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo, lugar e os elementos de convicção.

A regra do processo penal brasileiro dá preferência a modalidade incondicionada, sendo ressalvada somente quando a lei exigir. Nestes casos o Ministério Público analisa as infrações penais que interferem ou lesem diretamente o interesse da coletividade.

2.3.3 Ação Penal Pública Incondicionada

A ação será pública incondicionada quando, o fato em questão lesar o direito dos indivíduos e da sociedade, sendo assim cabe ao Estado tolher com o exercício do “jus puniendi”.

Sempre promovida pelo Ministério Público, que é parte legitima da ação, como o próprio nome faz sua menção, incondicionada, significa dizer que não está restrita às condições para ser promovida pelo órgão estatal.

Mossim, conceitua a ação penal pública incondicionada como,

Do ponto de vista conceitual, entende-se por ação penal pública incondicionada ou plena aquela que é proposta pelo Ministério Público independentemente da manifestação de vontade de quem quer que seja. (2010, pag. 130)

Sendo assim o Ministério Público provera privativamente a ação penal pública incondicionada com o oferecimento da peça de acusação, independentemente da vontade da vítima.

Conforme Xavier e Nalini, para a ação penal pública incondicionada,

[...] basta a simples notitia criminis para que a autoridade policial mande instaurar o investigatório. Chegando o inquérito ao Ministério Público, este oferecerá a denúncia, pedirá o arquivamento ou requisitará diligências. Em relação a esse tipo de ação penal, vige o princípio da obrigatoriedade e o da indisponibilidade (2009, p. 128)

Portanto, vale dizer que a ação penal pública incondicionada, é aquela que não precisa de representação do ofendido, onde o Ministério Público pode preencher os requisitos para oferecer a denúncia.

2.3.4 Ação Penal Pública Condicionada a Representação

A espécie de ação pública condicionada, embora a titularidade para ajuizar a ação penal, seja de exclusividade do Ministério Público, é necessário a

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representação da parte ofendida, ou seja, a manifestação da vontade da parte ofendida para dar o prosseguimento do feito.

Mossim também conceitua a ação pública condicionada como,

Pelo aspecto conceitual, a representação se constitui na manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal, objetivando a instauração da persecução criminal contra o sujeito ativo do crime que vitimou o ofendido. (2010, pag. 131)

A representação da vítima não é obrigatória para ser oferecida a denúncia pelo Ministério Público, podendo este decidir ou não pela abertura da ação, solicitando o arquivamento ou dando prosseguimento ao feito.

Sendo assim, Ricardo Andreucci, relata quem pode decidir pela abertura da ação, ou pelo próprio ofendido ou por representação,

O direito de representação podé ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do MP, ou à autoridade policial. Não há forma solene para o oferecimento da representação, bastando qualquer manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal no sentido de ver instaurada a ação penal pelo MP. (2015, pag. 68)

Desse modo, o representante do Ministério Público, só pode dar início a ação, se o ofendido ou seu representante permitirem, assim manifestando sua vontade. Pois deste modo, o crime é da esfera intima do ofendido, diz respeito a sua vontade, desta forma impedindo que ocorra um escândalo processual.

2.4 QUEIXA CRIME NO PROCESSO PENAL

Se dá o nome de queixa-crime a peça de iniciativa do ofendido, onde é encaminhada para o juízo criminal com os fatos típicos e os argumentos, que pede a condenação do denunciado. Assim logo após a impetração, se dá início a ação penal privada.

Em caso de morte do ofendido, quem tem o poder de oferecer a queixa será seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Como consta no art. 30 do CPP, “No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão” (BRASIL, 1941).

Renato Lima coloca os requisitos para a Denúncia e a Queixa-Crime:

De acordo com o art. 41 do CPP, “a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas”.

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Para além dos requisitos aí inseridos – exposição do fato criminoso, qualificação do acusado, classificação do crime e rol de testemunhas, quando necessário –, a doutrina acrescenta outros, tais como o endereçamento da peça acusatória, sua redação em vernáculo, a citação das razões de convicção ou presunção da delinquência, assim como a

subscrição da peça pelo Ministério Público ou pelo advogado do querelante, sem olvidar da procuração com poderes especiais, e do

recolhimento de custas, no caso de queixa-crime.(grifou-se) (2016, p. 363)

No mesmo sentido, Ricardo Andreucci, relata como desse ser uma queixa-crime, em sua doutrina como,

A queixa-crime deverá revestir-se sempre da forma escrita, devendo ser elaborada e subscrita por advogado. Deverá conter a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Se a parte for pobre, na acepção jurídica do termo (não puder prover as despesas processuais sem privar-se dos recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família), o juiz nomeará advogado para promover a ação penal. (2015, pag. 70)

O prazo para o ofendido oferecer a queixa é de 6 (seis) meses, contados do dia que o ofendido souber quem é o autor do crime, sob pena de decadência.

Segundo os arts. 49 e 50 do CPP, o direito a queixa pode ser renunciado antes mesmo do seu oferecimento,

Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.

Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro. (BRASIL, 1941)

Também após recebida a queixa, o ofendido ou seu representante conceder o perdão, onde o acusado deve aceitar ou não, como consta nos arts. 52 a 59 do CPP,

Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do outro, não produzirá efeito. Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador que o juiz Ihe nomear. Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52.

Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais. Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o disposto no art. 50.

Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios de prova.

Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade.

Referências

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