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4. NECESSIDADE DO ADVOGADO NOS JUIZADOS ESPECIAIS

4.1 CONFLITOS DE NORMAS JURÍDICAS

Primeiramente, dissertaremos acerca da Lei 9099/95, que traz em seu art. 9º, §1º, a possibilidade das partes de serem assistidas ou não por advogados ao protocolarem ações nos juizados especiais, com a ressalva de que sejam causas de valor até vinte salários mínimos,

Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.

§ 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local.(BRASIL, 1995)

Dessa forma, é importante destacar que a dispensa do advogado é uma previsão excepcional da Lei dos Juizados Especiais, sendo a interpretação errônea e geral pela indispensabilidade do advogado, visto que na primeira parte do parágrafo primeiro do artigo, está expresso “podendo ser assistidas por advogado” (BRASIL, 1995), garantindo as partes a faculdade de se fazer representadas ou não por um advogado especializado na área jurídica em questão. Assim o JECrim dá a possibilidade também das causas de menor potencial ostensivo, como exemplo os crimes:

Lesão corporal simples; omissão de socorro; ameaça; violação de domicílio, violação, sonegação ou destruição de correspondência; ato obsceno; charlatanismo; desobediência; constrangimentos, delitos de trânsito, salvo o homicídio culposo e participação em “pega”, uso de entorpecentes, crimes contra a honra, entre outros. (2012, pag. 5)

Nesse caso o argumento da dispensa de advogado, a torna facultativa pelo art. 9º da lei 9099/95, ferindo o art. 1º, inciso I, e o art. 4º, ambos da Lei 8.906/94 que é o Estatuto da OAB, onde assegura ao advogado o direito de exercer sua profissão,

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Art. 1º São atividades privativas de advocacia:

I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais;

Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas. (BRASIL, 1994)

Amparados pelo artigo citado, somente os advogados regularmente inscritos na OAB e que não estão impedidos são os que têm a capacidade postulatória e podem, seja qual for a instância ou jurisdição, diante do território nacional postular em nome do seu cliente.

Segundo Renato Andrade e Lauro Pascoal, a única atividade que não é privativa de advogado elencada pelo Estatuto da OAB, seria o Habeas Corpus,

Pelo § 1º do art. 1º do Estatuto da Advocacia e da OAB, não é considerada, no entanto, privativa da advocacia a impetração de habeas corpus, independente da instância ou Tribunal ao qual se dirija.

A impetração de habeas corpus foi excluída das atividades privativas da advocacia, pois mais que um ato técnico, trata-se de exercício de cidadania em defesa da liberdade pessoal. (2015, pag. 15)

No art. 4º do Estatuto, ocasiona nulidade absoluta dos atos praticados pelo exercício da advocacia por pessoas não inscritas, pois “é incoerente a afronta a técnica a admissão de leigos nas esferas profissionais, sem o preparo necessário para desenvolverem a profissão” (2000, pag. 80), e ainda a exceção das sanções civis e administrativas, a ocorrência acarreta crime de exercício ilegal da profissão.

Temos o art. 10 da Lei 10.259/01, que relata sobre os JEF, que “As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não” (BRASIL, 2001), este artigo está sendo interpretado de forma equivocada, já que a intenção do legislador foi somente possibilitar a nomeação de um preposto, mas entenderam de forma que os autores poderiam pleitear seus direitos nos JEF sem a presença de um advogado, e assim estão cometendo um grande erro de legislações.

E ainda o art. 9º da Lei 9099/95 fere a CF, que rege o país e limita os poderes e funções das entidades Públicas, no seu art. 133 da CF “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei” (BRASIL, 1988) onde, conclui-se que o advogado é indispensável, pois a indispensabilidade do advogado por cumprir sua função primordial à efetivação da Justiça, dentro dos fundamentos constitucionais do direito de defesa, do contraditório e do devido processo legal.

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Assim o rol de garantias constitucionais asseguradas pela CF, é indispensável para o sistema jurídico brasileiro, e estes princípios são garantidos a todos, “via de regra, em virtude da indispensabilidade, sabemos que é por intermédio dele, do advogado, que se exercem o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, conforme preceitua o art. 5º, inciso LV” (2018), deste modo o art. 5º, incisos LIV e LV, asseguram o princípio do devido processo legal e ampla defesa,

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com meios e recursos a ela inerentes. (BRASIL, 1988)

Portando Eduardo Oliveira aborda, a formalização destas garantias,

Já́ quanto aos processos de natureza criminal, em homenagem ao princípio da ampla defesa, é imperativo que o réu compareça ao processo devidamente acompanhado de profissional habilitado a oferecer-lhe defesa técnica de qualidade, ou seja, de advogado devidamente inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil ou defensor público. (2013, pag. 1350)

O art. 133 da CF, reconhece que a advocacia é fundamental para o poder judiciário, já que é o advogado quem postula em favor do cliente, que desconhece a estrutura do judiciário, onde busca no advogado o defensor que manifesta suas pretensões em seu nome e que trabalhará para alcançar seus direitos nos juizados. Assim Eduardo Oliveira entende que o advogado não pode,

Comprometido com a defesa dos interesses do cliente, o advogado jamais pode descurar seu compromisso frente à administração da Justiça. Não é por acaso que a Constituição conceitua o exercício da advocacia como função essencial à Justiça, considerando o advogado essencial à sua administração. (2013, pag. 1348)

O advogado pela CF está provido da função pública, quando postula em juízo representando seu cliente, assim tirando o judiciário da inércia e aplicando o Direito, a partir disso tem-se debates, teses, argumentos jurídicos que apresentam a defesa do cliente, buscando sempre convencer o julgador a chegar a uma decisão justa para todos.

A busca por rapidez aos Juizados Especiais na solução das Lides, não pode prejudicar o direito de defesa, então em qualquer Lide, independentemente do valor

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da causa ou do crime, a presença do advogado é essencial para a justiça, ainda, Relata Alexandre Moraes (2018) “ressalva-se que no caso dos Juizados Especiais Criminais a atuação do advogado será obrigatória, tendo em vista estar em jogo o direito de liberdade do cidadão”.

Sendo assim o advogado é indispensável em qualquer momento do procedimento dos Juizados, pois a falta dele pode ocasionar a falta de defesa dos direitos inerentes em juízo.

Refutada pela OAB a constitucionalidade dessa assistência jurídica do advogado, surgiram as Ações Diretas de Constitucionalidade 1.127 e 1.539, que trataremos a seguir.

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