AGRAVADO : OSMAR ANTÔNIO SERAFINI
RELATOR : DESEMBARGADOR
Francisco PintoRABELLO FILHO
Desembargador Rabello Filho
Decisão interlocutória – Ausência de fundamentação –
Inexis-tência desse defeito – Acolhimento de razões contidas em petição,
com base nas quais é proferida a decisão, embora sem as
transcre-ver – Razões que inexoravelmente passam a integrar a decisão –
Desnecessidade de o juiz transcrever na decisão a fundamentação
contida na petição, para que só assim se possa dizer motivada a
de-cisão – Rigorismo exagerado e desnecessário – Princípio da
moti-vação das decisões judiciais – CF, art. 93, inc. IX – CPC, art. 165.
Recurso parcialmente provido.
I – Contém motivação a decisão interlocutória em que o juiz,
embora sem transcrever, adota a fundamentação contida em
peti-ção, e com base nessa, profere o ato decisional.
Execução – Penhora de veículo – Substituição de penhora –
Inocorrência – Penhora que não foi desfeita. Depositário judicial –
Alienação do automóvel penhorado – Depositário infiel – Prisão
ci-vil – Impossibilidade – Evolução da jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal (STF), consagrada na sessão de 3/12/2008, que
afastou as hipóteses de prisão por dívida do depositário judicial
in-fiel – HC 87855-TO, RE 349703-RS e RE 466343-SP. Recurso
par-cialmente provido.
II – O entendimento firmado pela Suprema Corte é no sentido
de que a prisão civil por dívida é aplicável exclusivamente no caso
de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentí-cia, sendo inviável, por conseguinte, a decretação de prisão civil de
depositário infiel, seja qual for a modalidade do depósito.
Desembargador Rabello Filho
Vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento n.º
532843-2, de Cascavel, 1.ª Vara Cível, em que em que é agravante Elias Zordan
e agravado, Osmar Antonio Serafini.
Exposição
1.
Elias Zordan interpõe o presente agravo de instrumento contra
res-peitável decisão interlocutória (f. 21) proferida pelo digno juiz de direito
1da 1.ª
Vara Cível de Cascavel na ação de execução de título extrajudicial que em face
de si move Osmar Antonio Serafini, consistente, dita decisão, em determinar à
parte agravante a entrega do veículo penhorado, de que ficou como depositária,
ou o depósito do valor desse bem, no prazo de cinco dias, sob pena de prisão, em
virtude de requerimento da parte exequente-agravada, com informação de que o
executado vendeu dito veículo.
1.1.
Petição recursal (fs. 2-7):
i) houve uma penhora de dinheiro posterior a penhora do veículo, fato este que substituiu a penhora do automóvel;
ii) a decisão não está fundamentada;
iii) não houve avaliação do bem, sendo por isso impossível realizar o depósito do valor;
iii) há impossibilidade de ser decretada a prisão de depositário infiel.
1.2.
Sem atribuição de efeito suspensivo ao recurso (fs. 39-40), a parte
agravada apresentou resposta (fs. 47-50) e o digno juiz da causa prestou
informa-ções (f. 81), oportunidade em que comunicou a reforma parcial da decisão, para
determinar a avaliação indireta do veículo.
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Voto
2.
O recurso merece conhecimento, na medida em que estão presentes
os pressupostos de admissibilidade recursal, assim os intrínsecos (cabimento,
legitimação e interesse em recorrer), como os extrínsecos (tempestividade,
regu-laridade formal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer
e preparo).
3.
A nulidade da decisão
3.1.
Afirma o agravante (f. 4, penúltimo parágrafo) que a decisão “não
apresenta fundamentação para determinar o depósito do valor do bem, ou a
de-cretação de prisão”, o que implica em sua nulidade, por inobservância do
princí-pio da motivação das decisões judiciais (CF, art. 93, inc. IX; CPC, art. 165).
3.2.
É preciso não olvidar, contudo, que o exequente apresentou ao
ju-iz petição fundamentada (fs. 22-23), instruída com documentos (f. 25),
compro-vando a alienação do veículo, quando requereu intimação do executado-agravante
para apresentar o bem, ou seu equivalente em dinheiro, sob pena de prisão.
3.3.
O juiz da causa, então, com base nessa fundamentação e
compro-vação, proferiu a decisão agravada (f. 21), ordenando ao executado a entrega do
veículo, ou o depósito do valor, no prazo de cinco dias, sob pena de prisão.
3.4.
O que se tem, por conseguinte, é que a decisão acolheu, sem
1 Juiz Fabrício Priotto Mussi.
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transcrever, como seria ao gosto do agravante , a fundamentação posta na petição
do exequente.
3.5.
Então, é perguntar: ¿qual a fundamentação da decisão? Respondo:
a fundamentação contida naquela petição.
3.6.
No momento em que o juiz adotou, quando ele acolheu a
funda-mentação apresentada pelo exequente, essa motivação passou a ser a da decisão,
foi incorporada, ela passou a fazer parte da decisão, sem necessidade – vá lá
mais esta obviedade – de que a fundamentação da petição fosse transcrita (=
re-escrita) na decisão interlocutória, para que somente assim ela pudesse estar
fun-damentada.
3.7.
Por outro giro verbal: contém motivação a decisão interlocutória
em que o juiz, embora sem transcrever, adota a fundamentação contida em
peti-ção, e com base nessa, profere o ato decisional.
3.8.
Então, fundamentada está a decisão interlocutória.
4.
A falta de avaliação do bem
4.1.
Ao prestar informações (f. 81) o digno juiz da execução esclarece
que já tomou essa providência, ordenando a “avaliação indireta do veículo”, em
virtude do que fica prejudicada essa alegação, contida no agravo.
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5.1.
Alega a parte agravante que posteriormente à penhora do veículo,
houve penhora de “dinheiro”, fato este que caracteriza substituição de penhora.
5.2.
Contudo, não lhe assiste razão.
5.3.
É que houve penhora de crédito do executado-agravante no rosto
dos autos n.° 266/1990, da 3.ª Vara Cível de Cascavel, onde, no entanto, “o
cré-dito do executado foi depois tido por inexistente”, de modo que essa penhora foi
nenhuma, com o que continuou de pé a penhora do veículo.
5.4.
A penhora do veículo, aliás, sequer chegou a ser levantada.
6.
A prisão do depositário infiel
6.1.
Como o executado-agravante, que era depositário judicial do
veí-culo, alienou esse automóvel (f. 25), o digno juiz da execução, acolhendo
postu-lação do exequente-agravado, ordenou sua intimação (do executado) para que
apresente o veículo, ou seu equivalente em dinheiro, sob pena de prisão.
6.2.
Sucede, quanto a isso, que o Supremo Tribunal Federal, em
ses-são plenária de 3/12/2008, ao julgar o Habeas Corpus 87585-TO (Marco
Auré-lio) e os Recursos Extraordinários 349703-RS (Britto) e 466343-SP (Peluso),
decidiu que a prisão civil por dívida é aplicável somente ao responsável pelo
ina-dimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia.
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no sentido de que a proibição se estende aos casos de depositário infiel, inclusive
o depositário judicial, sendo, naquela ocasião, revogada a súmula 619, daquela
Corte, segundo a qual “a prisão do depositário judicial pode ser decretada no
próprio processo em que se constituiu o encargo, independentemente da
proposi-tura de ação de depósito”.
6.3.
A notícia
2desse julgamento conjunto, publicada no site do
Su-premo Tribunal, é bem explicativa desse novo entendimento:
STF restringe a prisão civil por dívida a inadimplente de pensão alimentícia
Por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou, nesta quarta-feira (03), o Recurso Extraordinário (RE) 349703 e, por unanimidade, negou provimento ao RE 466343, que discutiam a prisão civil de alienante fiduciário infiel. O Plenário es-tendeu a proibição de prisão civil por dívida, prevista no artigo 5º, inciso LXVII, da Cons-tituição Federal (CF), à hipótese de infidelidade no depósito de bens e, por analogia, tam-bém à alienação fiduciária, tratada nos dois recursos.
Assim, a jurisprudência da Corte evoluiu no sentido de que a prisão civil por dívida é aplicável apenas ao responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obriga-ção alimentícia. O Tribunal entendeu que a segunda parte do dispositivo constitucional que versa sobre o assunto é de aplicação facultativa quanto ao devedor – excetuado o ina-dimplente com alimentos – e, também, ainda carente de lei que defina rito processual e prazos.
Súmula revogada
Também por maioria, o STF decidiu no mesmo sentido um terceiro processo ver-sando sobre o mesmo assunto, o Habeas Corpus 87585. Para dar consequência a esta deci-são, revogou a Súmula 619, do STF, segundo a qual “a prisão do depositário judicial pode ser decretada no próprio processo em que se constituiu o encargo, independentemente da propositura de ação de depósito”.
Ao trazer o assunto de volta a julgamento, depois de pedir vista em março deste
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no, o ministro Carlos Alberto Menezes Direito defendeu a prisão do depositário judicial infiel. Entretanto, como foi voto vencido, advertiu que, neste caso, o Tribunal teria de re-vogar a Súmula 619, o que acabou ocorrendo.
As ações
Nos REs, em processos contra clientes, os bancos Itaú e Bradesco questionavam de-cisões que entenderam que o contrato de alienação fiduciária em garantia é insuscetível de ser equiparado ao contrato de depósito de bem alheio (depositário infiel) para efeito de pri-são civil.
O mesmo tema estava em discussão no HC 87585, em que Alberto de Ribamar Cos-ta questiona acórdão do STJ. Ele sustenCos-ta que, se for mantida a decisão que decretou sua prisão, “estará respondendo pela dívida através de sua liberdade, o que não pode ser aceito no moderno Estado Democrático de Direito, não havendo razoabilidade e utilidade da pe-na de prisão para os fins do processo”.
Ele fundamentou seu pleito na impossibilidade de decretação da prisão de depositá-rio infiel, à luz da redação trazida pela Emenda Constitucional 45, de 31 de dezembro de 2004, que tornou os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos equiva-lentes à norma constitucional, a qual tem aplicação imediata, referindo-se ao pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário.
Direitos humanos e gradação dos tratados internacionais
Em toda a discussão sobre o assunto prevaleceu o entendimento de que o direito à liberdade é um dos direitos humanos fundamentais priorizados pela Constituição Federal (CF) e que sua privação somente pode ocorrer em casos excepcionalíssimos. E, no enten-dimento de todos os ministros presentes à sessão, neste caso não se enquadra a prisão civil por dívida.
“A Constituição Federal não deve ter receio quanto aos direitos fundamentais”, dis-se o ministro Cezar Peluso, ao lembrar que os direitos humanos são direitos fundamentais com primazia na Constituição. “O corpo humano, em qualquer hipótese (de dívida) é o mesmo. O valor e a tutela jurídica que ele merece são os mesmos. A modalidade do depó-sito é irrelevante. A estratégia jurídica para cobrar dívida sobre o corpo humano é um re-trocesso ao tempo em que o corpo humano era o 'corpus vilis' (corpo vil), sujeito a qual-quer coisa”.
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humanos é virtuoso, no mundo globalizado”. “Só temos a lucrar com sua difusão e seu respeito por todas as nações”, acrescentou ela.
No mesmo sentido, o ministro Menezes Direito afirmou que “há uma força teórica para legitimar-se como fonte protetora dos direitos humanos, inspirada na ética, de convi-vência entre os Estados com respeito aos direitos humanos”.
Tratados e convenções proíbem a prisão por dívida
Menezes Direito filiou-se à tese hoje majoritária, no Plenário, que dá status supra-legal (acima da legislação ordinária) a esses tratados, situando-os, no entanto, em nível abaixo da Constituição. Essa corrente, no entanto, admite dar a eles status de constitucio-nalidade, se votados pela mesma sistemática das emendas constitucionais (ECs) pelo Con-gresso Nacional, ou seja: maioria de dois terços, em dois turnos de votação, conforme pre-visto no parágrafo 3º, acrescido pela pela Emenda Constitucional nº 45/2004 ao artigo 5º da Constituição Federal.
No voto que proferiu em 12 de março, quando o julgamento foi interrompido por pedido de vista de Menezes Direito, o ministro Celso de Mello lembrou que o Pacto de São José da Costa Rica sobre Direitos Humanos, ratificado pelo Brasil em 1992, proíbe, em seu artigo 7º, parágrafo 7º, a prisão civil por dívida, excetuado o devedor voluntário de pensão alimentícia.
O mesmo, segundo ele, ocorre com o artigo 11 do Pacto Internacional sobre Direi-tos Civis e Políticos, patrocinado em 1966 pela Organização das Nações Unidas (ONU), ao qual o Brasil aderiu em 1990.Até a Declaração Americana dos Direitos da Pessoa Huma-na, firmada em 1948, em Bogotá (Colômbia), com a participação do Brasil, já previa esta proibição, enquanto a Constituição brasileira de 1988 ainda recepcionou legislação antiga sobre o assunto.
Também a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, realizada em Viena (Áustria), em 1993, com participação ativa da delegação brasileira, então chefiada pelo ex-ministro da Justiça e ex-ministro aposentado do STF Maurício Corrêa, preconizou o fim da prisão civil por dívida. O ministro lembrou que, naquele evento, ficou bem marcada a in-terdependência entre democracia e o respeito dos direitos da pessoa humana, tendência que se vem consolidando em todo o mundo.
O ministro invocou o disposto no artigo 4º, inciso II, da Constituição, que preconiza a prevalência dos direitos humanos como princípio nas suas relações internacionais, para defender a tese de que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, mesmo os firmados antes do advento da Constituição de 1988, devem ter o mesmo status
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dos dispositivos inscritos na Constituição Federal (CF). Ele ponderou, no entanto, que tais tratados e convenções não podem contrariar o disposto na Constituição, somente comple-mentá-la.
A CF já dispõe, no parágrafo 2º do artigo 5º, que os direitos e garantias nela ex-pressos “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Duas teses
O ministro Menezes Direito filiou-se à tese defendida pelo presidente do STF, mi-nistro Gilmar Mendes, que concede aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos a que o Brasil aderiu um status supralegal, porém admitindo a hipótese do nível constitucional delas, quando ratificados pelo Congersso de acordo com a EC 45 (parágrafo 3º do artigo 5º da CF).
Neste contexto, o ministro Gilmar Mendes advertiu para o que considerou um "ris-co para a segurança jurídica" a equiparação dos textos dos tratados e "ris-convenções interna-cionais sobre direitos humanos de que o Brasil é signatário ao texto constitucional. Segun-do ele, o constituinte agiu com maturidade ao acrescentar o parágrafo 3º ao artigo 5º da CF.
No mesmo sentido se manifestaram os ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewan-dowski e Cármen Lúcia, além de Menezes Direito. Foram votos vencidos parcialmente - defendendo o status constitucional dos tratados sobre direitos humanos os ministros Celso de Mello, Cezar Peluso, Eros Grau e Ellen Gracie.
6.4.
Aliás, esse entendimento, agora consolidado, já vinha sendo
apli-cado pela Suprema Corte, do que ponho um ou outro exemplo agora ao alcance
da mão:
DIREITO PROCESSUAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL DO DEPOSITÁ-RIO INFIEL. PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA. ALTERAÇÃO DE ORIENTA-ÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. A matéria em julgamento neste habeas corpus envolve a temática da (in)admissibilidade da prisão civil do depositário infiel no ordenamento jurídico brasileiro no período posterior ao ingresso do Pacto de São José da Costa Rica no direito nacional.
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2. O julgamento impugnado via o presente habeas corpus encampou orientação ju-risprudencial pacificada, inclusive no STF, no sentido da existência de depósito irregular de bens fungíveis, seja por origem voluntária (contratual) ou por fonte judicial (decisão que nomeia depositário de bens penhorados). Esta Corte já considerou que “o depositário
de bens penhorados, ainda que fungíveis, responde pela guarda e se sujeita a ação de de-pósito” (HC n° 73.058/SP, rel. Min. Maurício Corrêa, 2ª Turma, DJ de 10.05.1996). Neste
mesmo sentido: HC 71.097/PR, rel. Min. Sydney Sanches, 1ª Turma, DJ 29.03.1996). 3. Há o caráter especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis Políticos (art. 11) e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7°, 7), ratificados, sem reserva, pelo Brasil, no ano de 1992. A esses diplomas inter-nacionais sobre direitos humanos é reservado o lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, torna i-naplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posteri-or ao ato de ratificação.
4. Na atualidade a única hipótese de prisão civil, no Direito brasileiro, é a do deve-dor de alimentos. O art. 5°, §2°, da Carta Magna, expressamente estabeleceu que os direi-tos e garantias expressos no caput do mesmo dispositivo não excluem outros decorrentes do regime dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repú-blica Federativa do Brasil seja parte. O Pacto de São José da Costa Rica, entendido como um tratado internacional em matéria de direitos humanos, expressamente, só admite, no seu bojo, a possibilidade de prisão civil do devedor de alimentos e, consequentemente, não admite mais a possibilidade de prisão civil do depositário infiel.
5. Habeas corpus concedido.3
PRISÃO CIVIL. Decretação em execução fiscal. Depósito judicial. Depositário infiel. Inadmissibilidade. Questão objeto do julgamento pendente do Plenário no RE nº 466.343. Inconstitucionalidade já reconhecida por nove (9) votos. Razoabilidade ju-rídica quanto à tese de constrangimento ilegal. HC não conhecido. Ordem concedida de ofício. O Supremo Tribunal Federal inclina-se a reconhecer a inconstitucionalidade das
normas que autorizem decretação da prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.4
3 STF, 2.ª Turma, HC 88240-SP, unânime, rel. min. Ellen Gracie, j. 7/10/2008, in DJe 24/10/2008.
origi-Desembargador Rabello Filho
6.5.
Em suma, o entendimento firmado pela Suprema Corte é no
sen-tido de que a prisão civil por dívida é aplicável exclusivamente no caso de
ina-dimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia, sendo inviável,
por conseguinte, a decretação de prisão civil de depositário infiel, seja qual for a
modalidade do depósito.
7.
Conclusão
7.1. Passando-se as coisas desta maneira, meu voto é no sentido de
que se dê parcial provimento ao recurso, apenas para afastar-se a possibilidade
de prisão do executado-agravante.
Decisão
8.
À face do exposto, ACORDAM os integrantes da Décima Terceira
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de
votos, em dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.
8.1.
O julgamento foi presidido pelo Senhor Desembargador Cláudio
Andrade, sem voto, e dele participaram, além do signatário (relator), os Senhores
Desembargador Gamaliel Seme Scaff e Juiz Luis Carlos Xavier.
Curitiba, 11 de fevereiro de 2009 (data do julgamento).
Desembargador Rabello Filho