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ANÁLISE DAS MIGRAÇÕES INTER-REGIONAIS E INTRARREGIONAIS NORDESTINAS: NOVOS PARADIGMAS

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ANÁLISE DAS MIGRAÇÕES INTER-REGIONAIS E INTRARREGIONAIS NORDESTINAS: NOVOS PARADIGMAS

Leonardo Azevedo Pampanelli Lucas José Irineu Rangel Rigotti RESUMO

Os migrantes nordestinos, ao longo do século XX, se espalharam por todo o país. Todavia, o Nordeste atualmente já não assiste mais ao deslocamento de grandes contingentes de flagelados da seca, embora ainda haja ineficiência em anular as consequências nefastas desse fenômeno climático. Em períodos mais recentes, tem havido notável tendência de redução do volume de saídas do Nordeste em direção ao restante do país, uma vez que embora continue sendo uma macrorregião perdedora líquida de população, os valores de seus saldos migratórios têm se tornado maiores, com algumas poucas exceções, tendo inclusive, se tornado positivos em estados como Sergipe e Rio Grande do Norte. Da mesma maneira, os fluxos populacionais no interior da macrorregião têm se tornado mais relevantes, uma vez que as trocas migratórias envolvendo áreas não metropolitanas têm se intensificado, provavelmente como resultado do aumento na geração de empregos principalmente no setor de comércio e serviços. O presente trabalho pretende descrever uma análise dos padrões etários dos migrantes de data fixa que envolvem a macrorregião nordeste (migrações inter-regionais e intrarregionais). As análises podem contribuir para formular hipóteses e parâmetros para futuras pesquisas sobre o tema das migrações nordestinas, a fim de enriquecer a literatura sobre o tema.

PALAVRAS-CHAVE: migrações internas; macrorregião Nordeste; fluxos populacionais.

INTRODUÇÃO

As migrações internas no Brasil foram alimentadas historicamente por peculiaridades do país como os grandes contrastes regionais em termos socioeconômicos e climáticos. Historicamente, esses movimentos obedeciam a um padrão “gravitacional” e a uma explicação histórico-estrutural do processo de redistribuição populacional. Os principais deslocamentos foram motivados pela industrialização, pela expansão do setor terciário e pela mecanização da agricultura e tinham como principal origem áreas rurais de pequenas densidades demográficas que se transferiam para pequenos centros urbanos, e em seguida, para grandes centros urbanos e regiões metropolitanas como São Paulo e Rio de Janeiro.

Um importante destaque das migrações internas no Brasil são os deslocamentos que envolvem a macrorregião Nordeste, uma vez que tais fluxos historicamente foram

Doutorando em Demografia (CEDEPLAR/UFMG) – llucas@cedeplar.ufmg.br

Professor do Departamento de Demografia e pesquisador (CEDEPLAR/UFMG) – rigotti@cedeplar.ufmg.br

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de fundamental contribuição para a redistribuição espacial da população brasileira. Isso faz com que os constantes movimentos populacionais de entrada e saída dessa região façam com que esta porção do território brasileiro seja sempre um objeto interessante de análises sobre a dinâmica deste fenômeno e um desafio para pesquisadores.

Embora essa macrorregião brasileira já tenha sido a mais rica do país durante a época colonial, sua economia declinou em períodos posteriores, tendo se transformado na mais pobre macrorregião brasileira e num foco de repulsão populacional. Os migrantes nordestinos, ao longo do século XX, se espalharam por todo o país. Todavia, o Nordeste atualmente já não assiste mais ao deslocamento de grandes contingentes de flagelados da seca, embora ainda haja ineficiência em anular as consequências nefastas desse fenômeno climático.

Em períodos mais recentes, tem havido notável tendência de redução do volume de saídas do Nordeste em direção ao restante do país, uma vez que embora continue sendo uma macrorregião perdedora líquida de população, os valores de seus saldos migratórios têm se tornado maiores, com algumas poucas exceções, tendo inclusive, se tornado positivo em estados como Sergipe e Rio Grande do Norte.

O rápido crescimento econômico de algumas áreas, aliado a atuação de políticas públicas, o avanço da urbanização e o efeito proporcionado por amenidades locais têm proporcionado uma maior tendência à retenção populacional. Da mesma maneira, os fluxos populacionais no interior da macrorregião têm se tornado mais relevantes e devem ser foco de futuras pesquisas.

Diante das novas perspectivas verificadas quanto às migrações inter-regionais e intra-regionais no Nordeste, diversos estudos procuraram descrever os novos padrões e os contextos que motivam novas configurações nesses fluxos. Estas pesquisas já identificaram que recentemente passou a haver na macrorregião, maior heterogeneidade de contextos migratórios, com arrefecimento da migração de longa distância e maior peso de outros tipos de mobilidade e da migração de retorno.

A fim de enriquecer a pesquisa sobre o tema torna-se desejável, contudo, conhecer empiricamente os verdadeiros impactos do efeito do recente crescimento econômico e da conseqüente geração de empregos em diversas microrregiões nordestinas, bem como da atuação do estado por meio de políticas direcionadas (como transferência de rendas) e de outras características locais no novo padrão migratório nordestino.

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Além disso, um foco que privilegie também as análises intra-regionais que considere mudanças relevantes no contexto local pode fazer com que tal fenômeno seja mais bem entendido, o que é de fundamental importância para a análise do desenvolvimento regional.

OBJETIVOS

O presente trabalho pretende, por meio da análise do perfil etário dos emigrantes inter-regionais e migrantes intrarregionais nordestinos, corroborar a comum argumentação de pesquisadores do tema de que atualmente ocorre uma redução do volume de saídas da macrorregião acompanhada de uma intensificação dos fluxos migratórios no interior da mesma.

MATERIAIS E MÉTODOS

São explorados o perfil etário, de gênero, local de destino, educação e ocupação daqueles que residiam, cinco anos antes das datas de referência (migração de data fixa) dos Censos Demográficos 1991, 2000 e 2010 (IBGE); em alguma Unidade da Federação pertencente à macrorregião Nordeste e que nas referidas datas foram recenseados como moradores de alguma UF localizada em outra macrorregião brasileira. Ressalta-se que foram considerados somente indivíduos nascidos no Nordeste.

Em seguida, procurou-se analisar as mesmas variáveis quanto aos que, nos mesmos períodos de data fixa, realizaram migração intra-regional, tendo deslocado de um município localizado na região Nordeste para outro também localizado na mesma macrorregião, não necessariamente na mesma Unidade da Federação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Migrantes Inter-regionais

Por meio da análise dos dados dos três últimos Censos Demográficos, verifica-se que as proporções de pessoas que residem fora de sua macrorregião de nascimento seguiu tendência de aumento no período, tendo atingido um pico em 2000 (17,2%), antes de uma leve inflexão observada no censo de 2010 (15,6%). Quanto aos nascidos

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no Nordeste, tais percentuais seguem tendência de elevação até a década de 1990 e declinam a partir dos anos 2000. Da mesma maneira, pode-se observar uma diminuição dos saldos migratórios negativos do Nordeste nas últimas décadas, juntamente com o aumento da intensidade da migração de retorno, ainda que com notáveis diferenciais entre suas Unidades da Federação.

Mesmo assim, tais tendências levam diversos autores a indagar se as mesmas indicam melhoria das condições de retenção populacional na macrorregião Nordeste ou maior dificuldade de inserção dos migrantes nos centros econômicos mais dinâmicos do país, como pela menor geração de empregos ou maior seletividade, que induzem no máximo deslocamentos mais curtos e que não são captados pelos censos (OJIMA e FUSCO, 2015). Para Oliveira et al. (2015), é possível entender esses resultados como uma melhora na condição da macrorregião Nordeste em reter sua população, pois comparando com os saldos migratórios por UF da década anterior, somente três estados (Piauí, Ceará e Alagoas) dentre os nove existentes, apresentaram aumento no saldo negativo.

Da mesma maneira que em relação às migrações inter-regionais, os últimos Censos Demográficos revelaram tendências importantes no que tange as migrações internas dentro das Unidades da Federação nordestinas ou entre as mesmas. Entretanto existe um volume muito pequeno de estudos focados nas migrações no interior da própria macrorregião Nordeste.

Um dos mais importantes padrões verificados por meio dos dados do Censo Demográfico 2010 é o da diminuição dos fluxos migratórios originados no interior em direção a capitais e regiões metropolitanas. Oliveira et al. (2015) credita este fenômeno ao aumento do emprego no setor de comércio e serviços no interior, bem como ao aumento da renda do trabalho naquelas regiões. Esse quadro favoreceu a redução do diferencial de renda entre todas as áreas das Unidades da Federação nordestinas, o que pode ser um dos fatores que desencorajam a migração.

O aumento da participação dos programas sociais de transferência de renda nos orçamentos familiares, que pode ter também atuado no sentido de produzir impactos nas tendências à migração intra-regional e inter-regional que devem ser descritos empiricamente. Diversos autores como Lima e Braga (2013), Gama (2012), Oliveira et al. (2015) e Ojima et al. (2014) constataram que a concessão de programas de

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transferências de renda como o Programa Bolsa Família atuam no sentido de reduzir a propensão migratória de indivíduos e famílias.

Percebe-se, por meio da Tabela 1 que, de uma maneira geral a tendência à emigração inter-regional de nordestinos tem seguido uma trajetória de queda. Em relação à população residente total nordestina, a proporção de emigrantes era de 2,95% em 1991, caindo para 2,67% em 2000 e finalmente para 2,08% em 2010. Em termos absolutos, houve um pequeno aumento entre 1991 e 2000, e diminuindo substancialmente em 2010.

Tabela 1 - Quantitativos e proporções de emigrantes inter-regionais, macrorregião Nordeste, 1991, 2000 e 2010

1991 2000 2010

População residente 42.497.540 47.782.487 53.081.951

Emigrantes inter-regionais 1.252.187 1.276.068 1.102.438 Percentual de emigrantes inter-regionais 2,95% 2,67% 2,08% Fonte: Dados brutos do IBGE, Censos Demográficos, 1991, 2000 e 2010.

Em seguida, buscou-se analisar as taxas específicas de emigração para cada idade simples das populações masculina e feminina. Esta taxa é definida pela razão entre a população por idades simples que realizou emigração inter-regional nos períodos de data fixa nos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010; e a população residente na macrorregião Nordeste por idades simples em cada um dos mencionados levantamentos.

Esse tipo de análise costuma revelar regularidades persistentes no padrão etário, assim como nas componentes de fecundidade e mortalidade. Necessariamente se nota uma alta concentração de migração entre jovens adultos, havendo também taxas altas entre crianças, uma vez que estas migram levadas por seus pais. A curva declina nas idades adolescentes, até subir abruptamente e formar um “pico” nas idades entre 21 e 23 anos. Nas idades seguintes, as taxas específicas declinam regularmente, sendo que em alguns casos, ocorre uma subida suave nas idades de aposentadoria. É possível formular a hipótese de que tem havido recentemente, no Nordeste, uma menor perda de população devido ao fator mercado de trabalho, pois no decorrer dos períodos o “pico” de migração da população em idade ativa tem se tornado menos alto para ambos os sexos.

Para ambos os sexos, pode-se confirmar a tendência de redução da evasão populacional no Nordeste, uma vez que para a grande maioria das idades as taxas específicas de emigração diminuem gradualmente entre os Censos. No entanto, ocorrem algumas distinções de sexo nessas tendências, já que entre 2000 e 2010 a diminuição das emigrações inter-regionais é mais pronunciada entre as mulheres do que entre os homens.

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Historicamente, entre os emigrantes inter-regionais originários do Nordeste, houve tendência de predomínio de homens. Contudo, no ano 2000, as taxas específicas de migração femininas passaram a ser superiores às dos homens, principalmente das idades adolescentes até os 21 anos, embora ambos os sexos tenham registrado menores níveis que em 1991. Nas idades seguintes, as taxas foram bastante similares.

Em 2010, porém, os níveis migratórios masculinos voltaram a ser superiores aos femininos, sendo que houve significativa tendência de predomínio de homens, sobretudo em idades de maior atividade no mercado de trabalho (18 a 50 anos). Tal diferencial emigratório por sexo nas idades ativas verificada no recenseamento mais recente fez com que os homens se tornassem novamente majoritários no contingente de emigrantes nordestinos, conforme já mostrado anteriormente.

Figura 1 - Taxas específicas de emigração inter regionais por idades simples – População masculina – Macrorregião Nordeste, 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Dados brutos do IBGE, Censos Demográficos, 1991, 2000 e 2010.

Já a Figura 3, que exibe as participações percentuais de cada uma das principais Unidades da Federação de destino dos emigrantes inter-regionais originários do Nordeste, demonstra de forma clara que o estado de São Paulo concentra a enorme maioria desse contingente. No entanto, ao longo dos últimos censos, a atratividade de São Paulo parece estar declinando de maneira clara e significativa, sendo que em 1991 era destino de 54,7% dos migrantes que saiam do Nordeste. Em 2000, esta proporção caiu para 51,8% e em 2010 para 45,2%.

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Figura 2 - Taxas específicas de emigração inter regionais por idades simples – População feminina – Macrorregião Nordeste, 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Dados brutos do IBGE, Censos Demográficos, 1991, 2000 e 2010.

Diversos pesquisadores já ressaltaram, em estudos recentes, a perda de importância do estado de São Paulo na absorção dos migrantes internos do país. A diminuição do influxo de migrantes nordestinos é a principal componente dessa perda de centralidade daquela Unidade da Federação no contexto migratório brasileiro. Como indicado pelas presentes análises, além da queda no nível da emigração inter-regional de nordestinos, aqueles que deixam a macrorregião têm diversificado suas escolhas de lugares de destino.

Em escala bem menor, outros destinos tradicionais importantes dos emigrantes inter-regionais nordestinos também têm perdido atratividade, como os estados do Pará e do Rio de Janeiro e o Distrito Federal. Paralelamente, chama a atenção o aumento entre os levantamentos da proporção de nordestinos que se destinam ao estado de Minas Gerais, e, principalmente, de Goiás.

Essas mudanças podem ser reflexos dos diversos fatores que afetam o contexto dos fluxos migratórios que envolvem a macrorregião Nordeste. É provável que a saturação do mercado de trabalho e da infra-estrutura, aliada à deterioração da qualidade de vida em destinos tradicionais como as capitais dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, sejam determinantes não só para a menor propensão a emigrar atual dos nordestinos, mas também pela gradual perda de importância daquelas UF’s na atração de migrantes.

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Figura 3 - Taxas específicas de emigração inter regionais por idades simples – População masculina e feminina – Macrorregião Nordeste, 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Dados brutos do IBGE, Censos Demográficos, 1991, 2000 e 2010.

Migrantes Intrarregionais

As mesmas análises empreendidas no tópico anterior são aplicadas para os migrantes intra-regionais nordestinos, isto é, aqueles que no período de data fixa, mudam de município de residência, se deslocando de um município de alguma Unidade da Federação pertencente à macrorregião Nordeste para outro município, nem sempre também localizado na mesma UF, mas necessariamente naquela macrorregião.

Na Tabela 2, observa-se que embora tenha havido uma sensível diminuição no número e no percentual de migrantes internos no Nordeste entre 1991 e 2000, houve significativo aumento entre os dois últimos levantamentos tanto em termos absolutos quanto proporcionais. Essa tendência é contrária a verificada ao nível nacional, cujas taxas de migração interna têm diminuído ao longo dos últimos anos censitários, o que demonstra uma relevante peculiaridade no padrão migratório nordestino e um fenômeno carente de investigações empíricas mais aprofundadas.

Tabela 3 - Quantitativos e proporções de migrantes intra-regionais, Macrorregião Nordeste, 1991, 2000 e 2010.

1991 2000 2010

População residente 42.497.540 47.782.487 53.081.951

Migrantes inter-municipais internos 2.846.067 2.813.344 3.470.175 Percentual de migrantes intra-regionais 6,70% 5,89% 6,54%

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Nos três anos censitários considerados, as mulheres são maioria entre estes migrantes, embora tenha havido um crescimento na participação masculina. Trata-se de uma distinção em relação a emigração inter-regional, na qual ocorre tradicionalmente predomínio de homens.

As estruturas etárias dos migrantes internos no Nordeste são demonstradas na Figura 4 e na Figura 5 a seguir. As análises são bastante esclarecedoras e parecem apoiar a hipótese de que o crescimento econômico e a conseqüente geração de empregos têm contribuído de maneira significativa para a maior retenção populacional na macrorregião.

Percebe-se que os “picos” de migração de indivíduos de ambos os sexos em idade produtiva chegam a superar também os níveis registrados em 1991. Em relação a 2000, as taxas específicas de migração interna em 2010 são notadamente mais altas em idades economicamente ativas e também entre crianças, o que certamente é reflexo do incremento migratório dos adultos que compõem a força de trabalho. Nas demais idades, os níveis de migração interna se tornam menores, inferiores aos de 1991 entre os adolescentes e chegando a ser menores que os de 1991 e 2000 em idades superiores a 50 anos. Isso evidencia que o crescimento da migração intra-regional no Nordeste foi alavancado pelo deslocamento de pessoas que compõem a força de trabalho.

Figura 4 - Taxas específicas de migração intra-regional por idades simples – População masculina – Macrorregião Nordeste, 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Dados brutos do IBGE, Censos Demográficos, 1991, 2000 e 2010.

A diminuição da emigração inter-regional em paralelo ao aumento da migração intra-regional no Nordeste reforça a possibilidade de que os migrantes estejam

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substituindo os deslocamentos de longa distância em direção às outras macrorregiões do país por movimentos internos de distância mais curta. A atuação de fatores econômicos, estruturais, sociais ou relacionados a políticas públicas podem estar desempenhando um papel decisivo em tal processo.

Figura 5 - Taxas específicas de migração intra-regional por idades simples – População feminina – Macrorregião Nordeste, 1991, 2000 e 2010.

Fonte: Dados brutos do IBGE, Censos Demográficos, 1991, 2000 e 2010.

CONCLUSÃO

As análises empreendidas no presente trabalho apresentam, de maneira simplificada, um indício que demonstra o argumento de diversos autores de que atualmente os movimentos migratórios com origem na macrorregião nordeste encontram-se em declínio, da mesma forma que as migrações intrarregionais apresentaram significativo incremento entre 2000 e 2010. Embora não permitam precisar os motivadores dessas novas tendências, tais análises levam a especulações preliminares sobre os mesmos, além nortear pesquisas empíricas que sejam capazes de identificar com maior acurácia os fatores que explicam o fenômeno da maior absorção populacional do Nordeste, bem como o maior grau de movimentos migratórios entre as áreas não-metropolitanas da referida macrorregião.

Foi verificado, entre as hipóteses, que destinos tradicionais de emigrantes nordestinos, como os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal têm perdido atratividade, o que pode ser uma das explicações para a atual tendência de arrefecimento dos fluxos migratórios de nordestinos em direção a outras macrorregiões. Além disso, pode-se presumir que amenidades locais aliadas à atuação de políticas públicas como programas de transferência de renda e geração de empregos atuam no sentido de impactar de maneira talvez diferenciada os fluxos populacionais inter-regionais e intrarregionais. Outro ponto importante a ser pesquisado é

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de que forma os mencionados fatores influenciam a proporção a migrar por gênero, dados os diferenciais de comportamento entre homens e mulheres quanto aos dois tipos de migração abordados.

Como as presentes análises constituem uma primeira parte de um trabalho de pesquisa abrangente que pretende descrever de forma empírica as influências no comportamento migratório dos nordestinos aos níveis intra e inter-regional, servem para introduzir uma breve avaliação das tendências desse fenômeno. Ainda que outras questões fundamentais permaneçam sem resposta, podem ser respondidas em momento posterior a partir de tais conhecimentos preliminares.

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