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Do rosadismo ao rosalbismo: a trajetória política da família Rosado - 1988 - 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

ANA MARIA BEZERRA LUCAS

DO “ROSADISMO” AO “ROSALBISMO” A TRAJETÓRIA

POLÍTICA DA FAMÍLIA ROSADO - 1988 - 2014

NATAL/RN

2019

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ANA MARIA BEZERRA LUCAS

DO ROSADISMO AO ROSALBISMO: A TRAJETÓRIA POLÍTICA DA FAMÍLIA ROSADO - 1988 - 2014

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, nível Doutorado, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como exigência para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais. Linha de pesquisa: Política, Democracia e Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Homero de Oliveira Costa

NATAL/RN 2019

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Lucas, Ana Maria Bezerra.

Do rosadismo ao rosalbismo: a trajetória política da família Rosado - 1988 - 2014 / Ana Maria Bezerra Lucas. - Natal, 2019.

213f.: il. color.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais. Natal, RN, 2019. Orientador: Prof. Dr. Homero de Oliveira Costa.

1. Poder familiar - Tese. 2. Rosadismo - Tese. 3. Rosalbismo - Tese. I. Costa, Homero de Oliveira. II. Título.

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DO ROSADISMO AO ROSALBISMO: A TRAJETÓRIA POLÍTICA DA FAMÍLIA ROSADO - 1988 - 2014

ANA MARIA BEZERRA LUCAS

Data da Defesa: 22/02/2019

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Homero de Oliveira Costa - UFRN Orientador

Prof. Dr. Fagner Torres de França - UFRN Examinador

Prof. Dr. João Bosco de Araújo Costa - UFRN Examinador

Prof. Dr. Francisco Vanderlei de Lima – UERN Examinador

Prof. Dr. José Marciano Monteiro – UFCG Examinador

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A única luta que se perde é aquela que se abandona. (Carlos Marighela)

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Ao meu pai, Manoel Lucas Sobrinho, como forma de agradecer o amor que me dedica e por ser o incentivador de todos os meus sonhos e projetos. A minha mãe, Benedita Bezerra Lucas, pela proteção e carinho. A Natan e Ian Lucas, meus sobrinhos, como estímulo para que se dediquem aos estudos.

(7)

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Manoel Lucas e Benedita Bezerra, como reconhecimento à dedicação, ao amor, ao cuidado e pela luta incansável que travaram, desde o dia que nasci, para que nada me faltasse.

Ao meu irmão Evandro Lucas, pelas vezes que abdicou dos seus projetos para que os meus pudessem ser concretizados.

Aos meus sobrinhos, Natan e Ian Lucas, que me ensinam todos os dias o valor do amor.

A Carlos, meu marido, meu companheiro, meu melhor amigo, um incentivador e um entusiasta de todas as minhas empreitadas. Muito obrigada pela amizade, pelo companheirismo e, especialmente, pela paciência e atenção nos quatros anos do doutorado.

As minhas tias (in memoriam), Ana Bezerra e Rita Bezerra, pelo carinho que me dedicaram e por terem recheado minha infância de aventuras e alegrias.

Aos meus avós maternos, João Bezerra e Antônia Bezerra, por adoçarem minha infância.

A minha avó paterna, Luzia Lucas, analfabeta que soube despertar em meu pai o amor pelo conhecimento.

Ao meu orientador, Homero Costa, por ter acreditado na temática.

Aos componentes da banca: Francisco Vanderlei, meu amigo e colega de faculdade, João Bosco Araújo, Fagner torres e, especialmente, José Marciano pelas contribuições, observações e sugestões dadas para o enriquecimento do trabalho.

E, por fim, meu muito obrigada a todos que, de alguma forma, contribuíram para que esse dia chegasse.

(8)

RESUMO

A pesquisa trata da trajetória política da família Rosado no período de 1988 a 2014. Descreve o surgimento das oligarquias estaduais – Bezerra de Medeiros, Maranhão, Alves, Maia e, por fim, Rosado. O propósito é demonstrar a predominância da política familiar no estado do Rio Grande do Norte. Discute os estudos que tratam das oligarquias ou da participação de famílias tradicionais em cargos eletivos na vida pública da política brasileira que teve como marco a obra de Maria Isaura Pereira de Queiroz, “O Mandonismo na Vida Política Brasileira e outros ensaios”. A temática foi escolhida pelo rareamento do tema, nos estudos que tratam da vida política brasileira, a partir das estruturas familiares, embora as famílias e as estruturas de parentesco tenham sido marcas dominantes na formação das classes dominantes, constitutivas de uma ampla rede de nepotismo que dominam o Estado e ocupam cargos de destaque e decisivos na condução da política nacional, seja no poder Executivo, Legislativo ou no Judiciário. A família Rosado foi escolhida por ser uma das mais antigas e por dominar politicamente, a cidade de Mossoró e região, há mais de 80 anos. A escolha do recorte temporal se baseou nos seguintes aspectos: o ano de 1988 foi o ano em que ocorreu a cisão da família e o ano de 2014 por marcar o final do governo de Rosalba Ciarlini a frente do poder executivo estadual. A hipótese é a de que a família se dividiu em dois principais grupos políticos – Lairismo/Sandrismo e Carlos Augusto/Rosalba, mas sempre se mantendo fiéis aos interesses políticos eleitorais da família. A pesquisa se divide em duas partes - I - O Coronelismo no Brasil e o surgimento das oligarquias do Rio Grande do Norte, onde consta as referências teóricas que norteiam a pesquisa, dados e aspectos político-econômicos do Rio Grande do Norte e as principais oligarquias do estado e a II As várias nuances dos Rosado ou os “Rosadismos” e o surgimento do Rosalbismo: a cisão da família e a sua (re)organização, onde apresento a reconfiguração da família Rosado, a partir de 1988 e o surgimento de Rosalba Ciarlini. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo com o uso de entrevista e a aplicação de questionários.

(9)

ABSTRACT

The research deals with the political trajectory of the Rosado family from 1988 to 2014. It describes the emergence of the state oligarchies - Bezerra de Medeiros, Maranhão, Alves, Maia and, finally, Rosado. The purpose is to demonstrate the predominance of family policy in the state of Rio Grande do Norte. It discusses the studies that deal with the oligarchies or the participation of traditional families in elective positions in the public life of the Brazilian politics that had like mark the work of Maria Isaura Pereira de Queiroz, "The Mandonismo in the Brazilian Political Life and other essays". The theme was selected by the rarification of the theme, in the studies that deal with Brazilian political life, from family structures, although families and kinship structures were dominant in the formation of the dominant classes, constituting a broad network of nepotism that dominate the State and occupy prominent and decisive positions in the conduct of national politics, whether in the Executive, Legislative or Judiciary. The Rosado family was chosen because it is one of the oldest and politically dominant, the city of Mossoró and region, more than 80 years ago. The selection of the time cut was based on the following aspects: 1988 was the year in which the family split and the year 2014 marked the end of Rosalba Ciarlini's term as head of the state executive branch. The hypothesis is that the family divided into two main political groups - Lairismo / Sandrismo and Carlos Augusto / Rosalba, but always remaining faithful to the family's electoral political interests. The research is divided into two parts - I - Colonelism in Brazil and the emergence of the oligarchies of Rio Grande do Norte, where the theoretical references that guide the research, data and political-economic aspects of Rio Grande do Norte and the main oligarchies (Rosalba), and Rosalba's emergence: the split of the family and its (re) organization, where I present the reconfiguration of the Rosado family, starting in 1988 and the emergence of Rosalba Ciarlini. The methodology used was the bibliographical research and the field research with the use of interview and the application of questionnaires.

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RESUMEN

La investigación trata de la trayectoria política de la familia Rosado en el período de 1988 a 2014. Describe el surgimiento de las oligarquías estatales - Bezerra de Medeiros, Maranhão, Alves, Maia y, por fin, Rosado. El propósito es demostrar el predominio de la política familiar en el estado de Rio Grande do Norte. Discute los estudios que tratan de las oligarquías o de la participación de familias tradicionales en cargos electivos en la vida pública de la política brasileña que tuvo como marco la obra de María Isaura Pereira de Queiroz, "El Mandonismo en la Vida Política Brasileña y otros ensayos". La temática fue escogida por la rareza del tema, en los estudios que tratan de la vida política brasileña, a partir de las estructuras familiares, aunque las familias y las estructuras de parentesco han sido marcas dominantes en la formación de las clases dominantes, constitutivas de una amplia red de nepotismo que dominan el Estado y ocupan cargos de destaque y decisivos en la conducción de la política nacional, sea en el poder Ejecutivo, Legislativo o en el Poder Judicial. La familia Rosado fue elegida por ser una de las más antiguas y dominar políticamente, la ciudad de Mossoró y región, hace más de 80 años. La elección del recorte temporal se basó en los siguientes aspectos: el año 1988 fue el año en que ocurrió la escisión de la familia y el año 2014 por marcar el final del gobierno de Rosalba Ciarlini al frente del poder ejecutivo estadual. La hipótesis es la de que la familia se dividió en dos principales grupos políticos - Lairismo / Sandrismo y Carlos Augusto / Rosalba, pero siempre manteniendo fieles a los intereses políticos electorales de la familia. La investigación se divide en dos partes - I - El Coronelismo en Brasil y el surgimiento de las oligarquías de Rio Grande do Norte, con las referencias teóricas que orientan la investigación, datos y aspectos político-económicos de Rio Grande do Norte y las principales oligarquías del río, Estado y II Los diversos matices de los Rosado o los Rosadismos y el surgimiento del Rosalbismo: la escisión de la familia y su organización.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa das Regiões de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte... 44

Figura 2: Oligarquia Maranhão...48

Figura 3: Oligarquia Maia...210

Figura 4: Oligarquia Alves...211

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Interventores do Rio Grande do Norte - 1930-1933...52

Tabela 2: Governadores e Interventores do Rio Grande Do Norte – 1935-1947...62

Tabela 3: Governadores e Vice-Governadores Eleitos nas Eleições de 1986...80

Tabela 4: Governo Estadual – Senado - Câmara Federal – Ano 1986...86

Tabela 5: Governo Estadual - Senado - Câmara Federal - Ano 1990...88

Tabela 6: Governo Estadual - Senado - Câmara Federal - Ano 1994...89

Tabela 7: Governo Estadual – Senado - Câmara Federal - Ano 1998...89

Tabela 8: Governo Estadual - Senado - Câmara Federal - Ano 2002...90

Tabela 09: Governo Estadual – Senado - Câmara Federal - Ano 2006...91

Tabela 10: Governo Estadual – Senado - Câmara Federal - Ano 2010...91

Tabela 11: Governo do Estado – Senado - Câmara Federal - Ano 2014...92

Tabela 12: Eleição de 1958 – “Candidatos de Mossoró”...114

Tabela 13: Divisão da Família Rosado – 1990 a 2000...130

Tabela 14: Resultado da Eleição para a Prefeitura de Mossoró – 1996...133

Tabela 15: Resultado da Eleição para a Prefeitura de Mossoró – 2000...134

Tabela 16: Resultado da Eleição para a Prefeitura de Mossoró – 2004...135

Tabela 17: Resultado da Eleição para a Prefeitura de Mossoró – 2008...135

Tabela 18: Resultado da Eleição para a Prefeitura de Mossoró – 2012...136

Tabela 19: Resultado da Eleição Suplementar para a Prefeitura de Mossoró...139

Tabela 20: Resultado da Eleição para Senador na Cidade de Mossoró – 2006...142

Tabela 21: Resultado Da Eleição Para Governador No Rio Grande Do Norte – 2010....142

Tabela 22 - Quadro do Número de Docentes, Técnicos e Discentes - Campus Mossoró...165

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ABREVIATURAS

Ação Integralista Brasileira – AIB Ato Institucional - AI

Aliança Liberal - AL

Academia Mossoroense de Letras - AMOL Assembleia Nacional Constituinte – ANC Aliança Nacional Libertadora – ANL

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE

Associação de Proteção e Assistência à Maternidade e à Infância – APAMIN Aliança Renovadora Nacional – ARENA

Centro de Pesquisa e Documentação – CPDOC Cinemas Reunidos - CIREDA

Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte – CAERN Companhia Potiguar de Gás – Potigás

Confederação Nacional da Indústria - CNI Conselho Municipal da Saúde - CMS Constituição Federal - CF

Democratas – DEM

Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP Departamento Nacional do Trabalho – DNT Empresa Industrial Técnica – EIT

Escola Superior de Agricultura - ESAM Fernando Henrique Cardoso - FHC

Fiação e Tecelagem Mossoró Sociedade Anônima - FITEMA Frente Única Gaúcha - FUG

Fundação Getúlio Vargas- FGV

Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte - FURRN Instituto Airton Senna – IAS

Instituto Cultural do Oeste Potiguar – ICOP

Instituto do Desenvolvimento do Meio Ambiente - IDEMA Legião Brasileira de Assistência – LBA

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Ministério Público Federal - MPF

Ministério do Trabalho da Indústria e do Comércio – MTIC Movimento Brasil Livre – MBL

Movimento Democrático Brasileiro - MDB

Movimento de Integração e Orientação Social – MEIOS Partido Comunista Brasileiro – PCB

Partido Comunista do Brasil - PC do B Partido da Frente Liberal – PFL

Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB Partido da Reconstrução Nacional - PRN

Partido da Mobilização Nacional – PMN Partido Democrático Social – PDS Partido Democrático Trabalhista – PDT

Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB Partido dos Trabalhadores - PT

Partido Ecológico Nacional - PEN

Partido Humanista da Solidariedade - PHS Partido Liberal – PL

Partido Libertador - PL Partido Popular – PP

Partido Popular Socialista – PPS Partido Renovador Trabalhista - PRTB Partido Republicano – PR

Partido Republicano Brasileiro – PRB Partido Republicado Rio-grandense - PRR Partido Republicano Federal - PRF

Partido Republicano Progressista - PRP. Partido Progressista Reformador - PPR

Partido Republicano da Ordem Social - PROS Partido Republicano Brasileiro - PRB

Partido Republicano Rio-Grandense – PRR Partido Socialista Brasileiro - PSB

Partido Social Democrático – PSD Partido Social Cristã – PSC

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Partido Social Democrata Cristã – PSDC Partido Socialismo e Liberdade – PSOL Partido Social Liberal - PSL

Partido Social Progressista - PSP Partido Social Trabalhista - PST

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados - PSTU Partido Trabalhista do Brasil - PT do B

Partido Trabalhista Cristã – PTC Partido Trabalhista Nacional - PTN Partido Verde – PV

Plano Diretor de Reforma do Aparelho de Estado – PDRAE Prefeitura Municipal de Mossoró – PMM

Previdência dos Funcionários da Prefeitura Municipal de Mossoró - PREVI Programa de Agente de Saúde Comunitário – PACS

Programa da Saúde da Família - PSF

Programa Nacional do Voluntariado – PRONAV Proposta de Emenda Constitucional - PEC

Pró-Reitoria de Recursos Humanos e Assuntos Estudantis - PRORHAE Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - PROGEPE

Sistema Único de Saúde - SUS

Sindicato dos Trabalhadores na Saúde - SINDSAUDE Solidariedade – SD

Supremo Tribunal Federal - STF Tribunal Regional Eleitoral - TRE Tribunal Superior Eleitoral - TSE União Democrática Nacional – UDN Unidade de Pronto Atendimento - UPA

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA Universidade Regional do Rio Grande do Norte – URRN

(16)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...18

1. QUADRO DE REFERÊNCIAS TEÓRICAS: O CORONELISMO E CORONELISMO DE CADA UM...24

1.1. As Principais Características do “Coronelismo”...28

1.1.1. O período histórico do nascimento do “Coronelismo...29

1.1.2. As bases de sustentação do “Coronelismo”...29

1.1.3. O papel do “coronel”...29

2. O RIO GRANDE DO NORTE E SUA TRADIÇÃO OLIGÁRQUICA...33

2. 1. As Oligarquias do Rio Grande do Norte...46

2. 2. O Rio Grande do Norte na “Era Vargas” – 1930-1945...50

2. 3. O Rio Grande do Norte e o Governo Provisório da Era Vargas – 1930 a 1934...51

2.4. O Rio Grande do Norte e o Governo Constitucional da Era Vargas – 1934-1937....53

2.5. O Rio Grande do Norte durante o Estado Novo de Getúlio Vargas – 1937 -1945...58

2.6. A Redemocratização do Brasil – Pós Era Vargas - e o Surgimento das “novas” Oligarquias no Rio Grande do Norte...66

2.7. O surgimento da Oligarquia Alves...70

2. 8. O surgimento da Oligarquia Maia no Rio Grande do Norte...73

3. A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA E A POLÍTICA FAMILIAR NO RIO GRANDE DO NORTE - 1986 A 2014...79

3.1. O “Brasil Novo” e a política local no Estado do Rio Grande do Norte: O caso de Mossoró...79

3.2. Os “Representantes” do Rio Grande do Norte no Congresso Nacional e no Poder Executivo Estadual- 1986 – 2014...87

4. A CHEGADA DO PATRIARCA DOS ROSADO EM MOSSORÓ...94

4.1. Breve Histórico da Fases Econômicas da Cidade de Mossoró...94

4.2. O Surgimento e a Consolidação do Mandonismo dos Rosados na cidade de Mossoró – 1917-1988...97

5. A ASCENSÃO DE ROSALBA CIARLINI ALÉM DOS LIMITES DA CIDADE DE MOSSORÓ E SUA CHEGADA AO COMANDO GOVERNO DO RIO GRANDE DO NORTE...110

5.1. A Reorganização da Família Rosado após a Morte de Dix-Sept Rosado...110

5.1.1. O Papel dos Rosados nas eleições para Prefeito da Cidade de Mossoró no ano de 1952...111

5.2. A Família Rosado durante o Período da Ditadura Militar no Brasil – 1964 -1985...116

5.3. A Reconfiguração dos Rosado com a Abertura Democrática e as “novas” Lideranças Políticas da Família...120

5.4. As Eleições para a Prefeitura de Mossoró – 1988 a 2014...126

5.5. A “Rosa” no poder fora de Mossoró: A chegada de Rosalba no Senado Federal e na Chefia do Poder Executivo do Rio Grande do Norte...142

(17)

6. AS PERSPECTIVAS DA OLIGARQUIA ROSADO FRENTE A POLÍTICA LOCAL - A VOLTA PARA “CASA” (MOSSORÓ) DOS ROSADOS: O FIM DO

ROSADISMO OU A CONSOLIDAÇÃO DO ROSALBISMO?...149

7. PESQUISA DE CAMPO – ENTREVISTAS, QUESTIONÁRIOS...153

7.1. Principais pontos e Análise da Entrevista com Laíre Rosado...154

7.2. Principais pontos e Análise da Entrevista com Sandra Rosado...162

7.3. Principais pontos e Análise da Entrevista com Rosalba Ciarlini...162

7.4 Considerações/análise sobre as entrevistas...164

7.5. Descrição dos Resultados dos Questionários...165

7.5.1. Apresentação dos Resultados Coletados – UERN e UFERSA...167

7.5.2 Considerações/Análise dos Questionários...168

CONCLUSÃO...170

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...174

(18)

18

INTRODUÇÃO

O objeto da tese é a trajetória da família Rosado na cidade de Mossoró a partir do ano de 1988, quando novas configurações políticas e simbólicas se instauram no Brasil, tendo como marco a Constituição Federal (CF)1 de 1988 e se estende até o ano de 2014.

O recorte temporal foi escolhido, baseando-se nos seguintes aspectos:

a) O ano de 1988 tem um significado intrínseco para a oligarquia familiar dos Rosados, pois trata-se do ano em que se deu a cisão da família, que se enfrentam publicamente numa eleição municipal, surgindo uma “nova” liderança da família – Rosalba Ciarlini - e também, porque, a partir daí, são criadas “alas” dentro da família que disputaram o poder local na cidade de Mossoró até o ano de 2016;

b) O ano de 2014 marca o final do governo de Rosalba Ciarlini diante do comando do poder executivo estadual (2011 a 2014), fato marcante para a família, pois apenas um Rosado, Dix-Sept Rosado, sogro de Rosalba, havia conseguido assumir, no ano de 1951, o cargo de governador do Rio Grande do Norte;

c) De 1988 a 2014, aconteceram seis disputas eleitorais em que houve o confronto direto pela Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) entre os membros da família Rosado.

A hipótese é a de que a família se dividiu em dois principais grupos políticos – Lairismo/Sandrismo e Carlos Augusto/Rosalba e, em algumas ocasiões, um terceiro grupo, mas sempre se mantendo fiéis aos interesses políticos eleitorais da família.

É fato que Rosalba fortaleceu sua liderança política local, a partir das sucessivas vitórias nas eleições municipais, e conseguiu impulsionar sua eleição para

1 A CF-1988 estabelece novas formas de relação entre o poder central, os estados-federados e os municípios,

além da ascensão de novos sujeitos sociais como as crianças e adolescentes, as mulheres e os idosos Quando nos referimos aos novos sujeitos sociais estamos falando das legislações que surgiram após a CF/88 a partir do princípio da dignidade da pessoa humana, resultado de várias frentes de movimentos sociais que pautavam os direitos dos meninos de rua, das mulheres, dos idosos e que resultaram, mais tarde, em documentos legislativos, tais como: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990), onde crianças e adolescentes são reconhecidos como sujeitos de direitos; a apresentação da Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes (1988), que

indicava as demandas do movimento feminista e de mulheres. A Carta Magna de 1988 incorporou no Artigo 5°, I: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”. E no Artigo 226, Parágrafo 5°: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos pelo homem e pela mulher”. Esses dois artigos garantiram a condição de equidade de gênero, bem como a proteção dos direitos humanos das mulheres pela primeira vez na República Brasileira; o artigo 229 que estabelece que os filhos maiores têm o dever de cuidar dos pais e ampará-los na velhice, carência ou enfermidade, bem como o artigo 230 que enuncia que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas. Assegurando sua

participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida, surpreende o enorme avanço na área de proteção aos direitos dos idosos, dado pelo constituinte de 1988 ao contemplar os idosos, garantindo assim a sua cidadania, resultando enfim no Estatuto do Idoso (2003)

(19)

19 governadora do Rio Grande do Norte e, esse fato, fez com que ela ascendesse como liderança política dos Rosado fora da cidade de Mossoró.

Sua gestão, à frente do executivo estadual, foi marcada por inúmeras denúncias de improbidade administrativa, gerando uma insatisfação do eleitorado potiguar e um alto índice de rejeição popular2. Nada disso não atrapalhou sua eleição para a Prefeitura de

Mossoró no ano de 2016. Rosalba foi eleita, pela quarta vez, como prefeita da cidade, conseguindo 51,12 % dos votos válidos (seu principal oponente obteve 39,39%).

A trajetória do poder familiar da família Rosado é uma tarefa que venho buscando entender desde a minha dissertação de mestrado, na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, quando pesquisei sobre “O Mandonismo da Família Rosado – 1917 a 1988”, apresentando a trajetória política do patriarca da família – Jerônimo Rosado e de três dos seus filhos: Dix-Sept, Dix-Huit e Vingt como lideranças políticas na cidade de Mossoró.

De 1988 a 2014, muitas coisas mudaram na cidade de Mossoró. Só uma coisa permanece a mesma: a hegemonia política dos Rosado a frente da política local. Por isso, escolhi como problema saber: Quais têm sido as estratégias da família Rosado, a partir de 1988, para se manter no poder e se apresentar como “novidade” e como tem se configurado o seu poder político familiar, a partir do entendimento da atuação das alas existentes dentro da família?

Não é nosso intuito retratar as campanhas feitas, os patrocínios delas ou feitos dos Rosados a frente de seus mandatos eletivos. A pesquisa se concentrará em entender as mudanças hierárquicas dentro da família, tomando como base as alas formadas, quais delas têm conseguido manter a herança política familiar deixada pelo que denomino “velhos Rosado” – Jerônimo, Dix-Sept, Dix-Huit e Vingt.

Os objetivos da pesquisa são: Investigar como se configura a política eleitoral na cidade de Mossoró a partir das eleições dos membros da família Rosado para os cargos públicos eletivos; Verificar como se organiza a família Rosado, com vistas a permanecer no poder político da cidade e região oeste potiguar, dificultando o surgimento de oponentes políticos que possam romper com o ciclo de poder familiar; Demonstrar como é praticada a política na cidade com ênfase nas relações personalísticas e de clientelismo dos políticos da família Rosado com os eleitores.

(20)

20 Com um marco teórico tão extenso e escassez de literatura acadêmica que trate da família3, procurei em fontes, tais como, blogs, sites, jornais e materiais em revistas e jornais de circulação nacional, regional ou local, material para descrever a trajetória da família. Foram realizadas entrevistas com – Laíre, Sandra e Rosalba - para compreender como eles se veem dentro da estrutura política familiar e o papel de cada um na manutenção do espólio político herdado dos “velhos” Rosado.

A pesquisa qualitativa é uma metodologia de caráter exploratório, seu foco reside na subjetividade do objeto analisado. Em outras palavras, busca-se conhecer o comportamento dos sujeitos estudando as suas particularidades e experiências individuais, dentre outros aspectos. Em pesquisa qualitativa não buscamos respostas objetivas, e nem podemos contabilizar seus resultados em números exatos. Por isso a amostra, muitas vezes é pequena, e os entrevistados são estimulados a se sentirem a vontade para opinar sobre o que lhe for perguntado dentro do objeto de estudo investigado. É importante dizer que a pesquisa qualitativa possibilita que a produção do conhecimento se volte para a realidade vivenciada pelos sujeitos que fazem parte do objeto investigado.

Dessa maneira, na fase do inicial, ainda no projeto de pesquisa, a ideia era trabalhar, especificamente com Rosalba o método de história oral, todavia, mesmo tendo conseguido entrar em contato, ainda no ano de 2017 com sua assessoria e expor os objetivos do trabalho, somente no final de 2018 foi que se fez possível entrevista-la, o que tornou inviável a dinâmica da história oral.

Dessa forma, as entrevistas foram feitas a partir de um roteiro, previamente elaborado, onde se tentava entender como os membros da família Rosado se percebiam na hierarquia política familiar e local e como se dera o seu ingresso na política. Essa abordagem se fazia necessária haja vista a tese que a família, após a morte de Dix-Sept e dos velhos Rosados – Dix-Huit e Vingt, sempre esteve a procura de lideranças que pudessem desempenhar o duplo papel de liderança familiar e política na cidade de Mossoró e região.

As entrevistas visavam uma recomposição histórica do momento de cada um como liderança política local, e, se fosse o caso, familiar. Por este motivo a primeira das entrevistas foi feita com Laíre Rosado. A segunda com Sandra e a última com Rosalba.

Tinha-se ainda como objetivo entrevistar aliados que, ao longo dos anos, estiveram compondo as frentes ou as alas da família – Lairismo/Sandrismo ou Rosalbismo –

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21 tais como: Edite Souto4, Antônio Capistrano5, Manoel Mário6, Canindé Queiroz7, Elviro Rebouças. Para a escolha dos nomes foi levado em consideração a história de alianças, acordos e composição de chapa em eleições e por até hoje, alguns deles, terem intima relação com a família ou suas lideranças.

Infelizmente a entrevista só foi possível com Elviro Rebouças8, atual presidente

da PREVI – Previdência dos Funcionários da Prefeitura Municipal de Mossoró – e, por muitos anos, aliado do Grupo de Rosalba. Os demais nomes citados, acima, foram todos contatados, e com exceção de Canindé Queiroz, (que por motivos de saúde e perda de memória, era impossível entrevista-lo) se negaram a conceder entrevistas.

No que diz respeito aos aliados, o primeiro contato foi feito com Edite Souto, em seguida Manoel Mário, depois Elviro Rebouças, e por fim, Antônio Capistrano. Todas os contatos foram realizados no primeiro semestre de 2018 e as entrevistas concedidas no mesmo período, com exceção da entrevista com Rosalba Ciarlini que só foi concretizada em dezembro de 2018.

Na tentativa de compreensão da população da cidade e região sobre a liderança política dos Rosado, foi aplicado questionário dentro das duas instituições de ensino superior na cidade – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA).

Como toda e qualquer pesquisa não se tem como chegar à exatidão daquilo que se pretendia dizer, muitos são os empecilhos para se traçar a trajetória política de uma família com mais de oitenta anos de história no cenário político local, mas, acredito, que avancei nos

4 Edite Souto durante toda as décadas de 1960 e 1970, era ferrenha aliada de Aluízio Alves. Empresária da

indústria do sal em Mossoró, casada com Francisco Souto, presidente das empresas F. Souto em Mossoró, após o rompimento da família Rosado e na eleição de 1988 entre Rosalba e Laíre, era uma das principais entusiastas da candidatura de Rosalba, chegando a ser uma das lideranças da campanha. Atualmente é inimiga pública de Rosalba, nem ao menos se cumprimentam socialmente.

5 Antônio Capistrano, ex-reitor da UERN, primeiro reitor após a estadualização, foi vice prefeito no segundo e

terceiro mandato de Rosalba, respectivamente, 1997-2000 e 2001-2005. A época, Capistrano, era filiado ao PSDB. Ele foi deputado estadual - 1991-1995 - pelo PMDB, ainda passou pelas fileiras do PCB (1962-1988), e, atualmente, é filiado ao PC do B. É irmão de Franklin Capistrano, vereador de Natal pelo PSB.

6 Manoel Mário sempre foi ligado ao Aluizismo, mas na cisão da família Rosado passou a ser um dos principais

apoiadores do Grupo de Rosalba.

7 Canindé Queiroz, na década de 1970 era empresário do ramo têxtil, dono da FITEMA – Fiação e Tecelagem

Mossoró S/A, empresário do ramo de comunicação social, dono da Gazeta do Oeste e principal aliado dos Maia em Mossoró e do Grupo de Rosalba.

8 Elviro Rebouças, economista, empresário do ramo de factoring, aliado do Grupo de Rosalba, sua esposa Niná

Rebouças foi secretária nas gestões de Rosalba e Fafá Rosado - gestora da educação municipal em Mossoró, de 1997 a 2000, como Secretária Municipal de Educação e de 2001 a março de 2008, na titularidade da Gerência Executiva da Educação e do Desporto. Ainda foi eleita vereadora pelo DEM, 2009 a 2012. Niná Rebouças faleceu em 15/09/2010.

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22 estudos já existentes sobre a família e espero ter contribuído com o melhor do poder político familiar dos Rosado.

A tese está dividida em duas partes, a parte I - O Coronelismo no Brasil e o surgimento das oligarquias do Rio Grande do Norte, com as referências teóricas que norteiam a pesquisa, dados e aspectos político-econômicos do Rio Grande do Norte; os principais nomes das oligarquias do estado - da Velha República a Ditadura Militar. Concluo com a redemocratização do Brasil e o surgimento das “novas” oligarquias do Rio Grande do Norte. A parte II - As várias nuances dos Rosado ou os “Rosadismos” e o surgimento do Rosalbismo: a cisão da família e a sua (re)organização, com a configuração da família Rosado na política potiguar reconstruindo sua trajetória a partir de 1988 e dou ênfase ao surgimento de Rosalba Ciarlini, seu surgimento, ascensão e sua chegada ao comando político do governo do estado do Rio Grande do Norte.

Por fim, apresento os resultados das entrevistas e dos questionários aplicados em que faço uma análise desses resultados. Nos anexos e apêndices, consta uma bibliografia comentada das obras sobre Mossoró e sobre a família Rosado, fotos, jingles de campanhas e poemas e canções de exaltação à família.

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PARTE I

O “CORONELISMO” NO BRASIL E O SURGIMENTO DAS OLIGARQUIAS DO RIO GRANDE DO NORTE

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1 QUADRO DE REFERÊNCIAS TEÓRICAS: O CORONELISMO E

CORONELISMO DE CADA UM9

Desde a década de 1990, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, que a região Nordeste tem sido alvo de sucessivas políticas de integração do governo central o que deu a região uma nova feição nos aspectos econômicos, sem que tenha havido grandes mudanças quando se trata de mudanças sociais e políticas.

Mesmo com os treze anos de governos petistas e de suas inúmeras ações, tais como projetos e políticas sociais voltados para o nordeste brasileiro, dentre os quais criação de universidades, instalação de várias unidades de Institutos Federais, interiorização das universidades federais, programa de cisternas, Luz para todos, transposição do Rio São Francisco, etc., não foram capazes de modificar profundamente a estrutura política e social da região.

Em Coronelismo, enxada e voto, Victor Nunes Leal (1986) publicou uma obra, hoje clássica, na qual analisa a política nordestina através do fenômeno do “coronelismo” caracterizando-o como resultado da estrutura agrária do país, em que no reduzido espaço rural o coronel exerce o seu domínio político sobre seus colonos, através de alianças com o poder estadual e central, base de conservação e sustentação de sua hegemonia política.

O “coronelismo”, na opinião de Victor Nunes Leal, seria a superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica social inadequada ou ainda uma forma peculiar de manifestação do poder privado que consegue coexistir com um regime político de extensa base representativa. Seria ainda um sistema político tipicamente da Primeira República o qual estava intrinsecamente ligado aos grandes senhores de terras.

O vocábulo “Coronel” teria surgido para designar os chefes políticos locais e das alianças feitas por estes com o poder público. Na visão de Leal (1986), o “Coronelismo” é, em sua opinião, um sistema em que o coronel, por ausência ou rarefação do poder público, assume as funções do Estado e, com isso, consegue prestígio e apoio dos trabalhadores do campo. O paternalismo, o filhotismo, o mandonismo seriam subcategorias surgidas a partir do “Coronelismo” e que teria seu fim a partir do momento em que o poder público pudesse assumir as suas funções, fato esse que se daria a partir do crescimento urbano e a superação da estrutura agrária na economia brasileira.

Em outra obra clássica, que aborda o fenômeno da estrutura social e econômica e suas implicações na política brasileira, escrita na década de 1950, O Mandonismo na vida

9 Título do artigo de Victor Nunes Leal, escrito em 1980, na Revista Dados, volume 23, 1, em que ele rebate as

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25 política brasileira e outros ensaios, Maria Isaura Pereira de Queiroz (1976) propõe a análise da figura do coronel incorporando, além do aspecto político, a evolução histórico-social da organização coronelística, os seus fundamentos socioeconômicos, a saber: 1) a estrutura coronelística como uma estrutura de clientela política; 2) a origem da estrutura coronelística a partir dos grupos de parentela; 3) o fundamento da estrutura coronelística a partir da posse de bens de fortuna e, por fim, 4) os fatores de decadência da sociedade coronelística como advindos do crescimento demográfico, da urbanização e da industrialização.

Para explicar a estrutura coronelística como estrutura de clientela política, a autora afirma que ela se baseia em três níveis: Os coronéis, os cabos eleitorais e os eleitores. Os primeiros seriam os chefes políticos; o segundo grupo seria formado por subcomandados que tratariam de organizar os eleitores no dia do pleito; e o terceiro grupo, os eleitores já identificados e contados. Dentro dessa estrutura, ainda existiriam três tipos de mando: 1) a Dominação direta ou de mando pessoal – em que o coronel domina através de seus cabos eleitorais encarregados de transmitir as ordens aos eleitores e enquadrá-los no dia da eleição; 2) a Dominação indireta – que se caracteriza pelo domínio de um chefe político que domina certo número de indivíduos e estes dominam o eleitorado através dos cabos eleitorais e, por fim, 3) a Dominação colegial – aquela em que alguns membros de uma família dominam uma zona. A família permanece unida e isso faz com que a dominação não seja de apenas um membro da família, mas de pessoas que pertencem ao mesmo grupo familiar (QUEIROZ, 1976; BLONDEL, 1994)

Com as novas relações de trabalho estabelecidas com a urbanização e a industrialização, em que o eleitor não é mais dependente economicamente de um coronel, as relações pessoais assumem importância e o voto passa a ser um sistema de dom e contra dom implicando o raciocínio dos pesos e das vantagens que recaem sobre a escolha do candidato. O voto assume o aspecto de um bem de troca. Votar na pessoa indicada pelo “coronel” significa que o eleitor recebeu ou receberá algum benefício. Dessa forma, existe uma multiplicidade de níveis de “coronéis”. Os níveis irão variar a partir da estrutura econômica do país e se fundamentarão, ao mesmo tempo, em grupos de parentesco, de sangue e de suas alianças com os grupos associados econômica e politicamente. Seria o “coronelismo” um aspecto especifico dentro da forma de mandonismo assumido no Brasil após a Proclamação da República se apresentando como um conceito mais amplo com relação aos tipos de poder político e econômico que marcaram o Brasil. (QUEIROZ, 1976)

Nesse sentido, a explanação das ideias de Queiroz (1976) é importante para demonstrar que, como existem vários tipos de “Dominação”, é preciso ter em conta qual dos

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26 tipos de chefia é exercido pelo “coronel” e qual o grau de defesa que o eleitorado possui em relação a esse tipo de chefia. Para a autora, os grupos de parentela seriam a principal origem da estrutura coronelística. Para isso, o “coronel”, além de chefe político, seria chefe de uma extensa parentela que podia ser formada por um conjunto de indivíduos unidos por parentesco de sangue, laços de fidelidade, ou solidariedade, formado por várias famílias nucleares, economicamente independentes, vivendo em moradias diferentes e podendo se dispersar a grandes distancias, pois a sua característica principal é a complexidade da estrutura interna que apresenta variadas configurações igualitárias até estratificação em vários níveis.

A solidariedade se dá com base na interdependência entre as diversas partes que a compunham, pois a estratificação se dava em função das atividades econômicas exercidas e das posições sociais ocupadas na sociedade:

Se a parentela for exercida por um colegiado é quase inevitável sua fragmentação. [...] Os chefes políticos, tendo em vista as ambições pessoais, econômicas e políticas, deixam de lado, ou em segundo plano, a lealdade familiar e a amizade. A fragmentação e a fragilidade formam o reverso necessário aos grupos de parentela coronelistas, servindo, muitas vezes, para reforço e solidez à sua existência, sendo o conflito de parentelas o fator importante para sua continuidade. (QUEIROZ, 1976, p. 187-189

As brigas entre parentela se constituem como fator de conservação e manutenção daquele tipo de estrutura e as lutas que se travam, entre as parentelas rivais, servem para desviar os grupos de lutas inferiores contra os superiores dentro daquela estrutura, resultando esses conflitos numa nova formação de parentelas, e nunca na ruptura ou desaparecimento daquela estrutura. Ainda pensando na formação dos cabos eleitorais pelo interior do nordeste brasileiro, Queiroz (1976) aponta o comércio como fator decisivo para a ascensão sócio-política e econômica do país. Os bens de fortuna, na aquisição de posição socioeconômica e, consequentemente, na influência política são apontados como fator importante para a integração a uma parentela. Abrindo um pequeno comércio, numa pequena localidade, o indivíduo teria a sua disposição uma clientela a quem poderia prestar favores e poderia alçar uma posição chave de cabo eleitoral e, em pouco tempo, ampliar sua fortuna e alcançar o nível dos coronéis locais.10

Outro aspecto, também apontado por Queiroz (1976), que contava para a ascensão socioeconômica, dos que se tornavam chefe político dentro ou fora de uma parentela, eram as suas qualidades pessoais. A posição de mando do chefe político era resultado de alguns fatores, quais sejam:

10 Fato ocorrido com Jerônimo Rosado, patriarca da Família Rosado que será retomado em capítulo próprio

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[...] de sua posição econômica que possibilitava o exercício do poder através dos favores que podia prestar; de uma parentela que lhe desse apoio e pudesse conservar este poder, e, por fim, o chefe por excelência entre os parentes seria aquele que melhor apresentasse as qualidades indispensáveis, como poder político, poder econômico e carisma. [...] (QUEIROZ, 1976, p. 200)

Assim como em Leal (1986), Queiroz (1976) também aponta a decadência da sociedade coronelista com o advento do crescimento demográfico, a urbanização e a industrialização. Dessa maneira, para que o poder dos chefes não sucumbisse, eles sempre estiveram atentos a essas características e qualidades do processo de desenvolvimento de uma cidade e “[...] por isso procuravam desenvolver na região onde dominavam, um centro urbano que ficasse sob sua dependência e se constituísse o centro de suas atividades. Agiam então como fundadores ou protetores da cidade” (p. 201). Eram nesses núcleos o palco de suas querelas entre as parentelas. Essa definição aponta para o que acontece em Mossoró com a família Rosado.

Em outro estudo sobre a política na região nordeste, Marcel Burztyn (1990), O país das alianças: Elite e continuísmo no Brasil, analisa a hegemonia da política no Nordeste através da ação do Estado na região, onde as oligarquias vinculadas aos modos de produção atrasados conseguem perpetuar sua hegemonia em nível regional. O que tem acontecido, na perspectiva do autor, é uma acomodação das elites dentro dos espaços já delimitados. A tônica é continuísmo, ocorrendo sempre uma (re) acomodação, tendo em vista a legitimidade do poder central conservador ou não. A ação do Estado, antes omissa e obscura, vai aparecendo dentro de políticas públicas que tentam incorporar ou integrar a região ao resto do país, mas sem perder a relação com as oligarquias já existentes e resistentes às mudanças. Agora os grupos oligárquicos aparecem como benfeitores, ele é o próprio Estado personalizado. Os grupos, que antes se resumiam na figura do “coronel”, que exerciam a função de patrão e senhor de terras, magistrado e cacique político local, agora se apresentam através do Estado. A omissão estatal aprova essa organização local e vai caber a ele (Estado) intervir, apenas, quando essa estrutura se encontrar ameaçada, o que Bursztyn denomina de “pacto social de não agressão entre as elites”.

Para este autor, o desenvolvimento econômico pelo qual passa o contexto econômico brasileiro não se justifica mais pela não integração de algumas áreas. Assim, não poderia haver regiões atrasadas, pois, nesse momento, o Estado assume a estratégia de incorporar de forma mais direta as regiões periféricas. Ocorre uma transformação superficial, a qual se reflete nos aspectos econômicos, políticos e sociais, como por exemplo, a transferência dos trabalhadores do campo para as cidades o que tornaria mais difícil a ação

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28 dos “coronéis” sobre esse grupo social. Para a preservação da hegemonia política dos grupos existentes na região, a manipulação de fundos públicos e os acordos com as vantagens políticas que cada município oferece será dará a tônica de suas ações em nível local. (Não é à toa as verbas parlamentares aprovadas e distribuídas todos os anos aos seus aliados em seus estados e municípios).

O aumento da população, a urbanização das cidades que seriam apontados, pelos autores citados, como o início ou o marco das mudanças no jogo político brasileiro, não têm acontecido da maneira como se imaginava. O que se tem visto é a crescente onda de conservadorismo das elites brasileiras. As oligarquias regionais se valem da necessidade de legitimação do poder central e têm conseguido sobreviver persistindo no velho modelo de simbiose entre o poder público e o poder privado. O apoio ao governo central resiste, e com ele, resistem as velhas fórmulas políticas como o clientelismo, o apadrinhamento, o mandonismo, etc.

As oligarquias no Brasil e a sua luta pela recuperação do seu poder político possuem duas características principais:

[...] o mimetismo político das elites, que trocam frequentemente de partido de acordo com os interesses eleitorais, conseguindo assumir nos seus discursos, uma postura moderna e atual; a outra seria a mídia, com a concessão de rádios e TVs feitas pelo poder central aos grupos dominantes [...] (BURSZTYN, 1990, p. 123)

A escolha por Leal (1986) Queiroz (1976) e Burzstyn (1990) foi feita propositadamente. Embora existam trabalhos mais recentes sobre a temática, considero-os clássicos insuperáveis na análise da política no nordeste brasileiro. Fazem uma análise acertada, objetiva de como se faz política na região e, por isso mesmo, foram escolhidos como principal enfoque teórico o qual permeará o estudo sobre a política familiar na cidade de Mossoró/RN.

1.1 As Principais Características do “Coronelismo”

Realizando um exame comparativo entre os autores escolhidos para caracterizar e, de certa forma, definir o que entendemos como “coronelismo” e “mandonismo”, podemos perceber que as diferenças entre eles se dão em apenas dois aspectos: 1) o período histórico de nascimento e desenvolvimento do fenômeno, e 2) as bases de sustentação em sua formação.

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29 1.1.1 O período histórico do nascimento do “Coronelismo:

Leal (1986) considera o “Coronelismo” um sistema político restrito à Primeira República. Para Queiroz (1976), o “Coronelismo” seria apenas mais uma forma de poder político e, por isso, poderia se adaptar de acordo com as transformações ocorridas na sociedade e seguir sobrevivendo, acompanhando as novas regras do jogo político.

1.1.2 As bases de sustentação do “Coronelismo”:

Em Leal (1986), o “coronel” é sempre relacionado ao grande proprietário de terras. O “coronel” troca favores e benesses para seu município por apoio político aos candidatos governistas, possui prestígio junto ao seu eleitorado pelas funções públicas que exerce. Para ele, o domínio do “coronel” se faz no pequeno espaço rural e sua influência raramente ultrapassa o nível estadual.

Para Queiroz (1976), o “coronelismo” é um sistema particular de chefias políticas. Além da posse de terras, existem outros fundamentos da estrutura coronelística, tais como, os bens de fortuna, o exercício de certas profissões e o prestígio pessoal. O chefe político seria o sucessor do grande proprietário de terras e teria conseguido prestígio graças às funções que exercem (são geralmente médicos, advogados, tabeliães, comerciantes, etc.) Não percebe o “coronel” como grande proprietário rural e creditam a herança ao casamento e aos bens de fortuna, além das qualidades pessoais, as bases de sustentação da estrutura coronelística.

Em Bursztyn (1990), o mimetismo e a concessão de emissoras de rádio e TVs seriam os fatores básicos de sustentação das elites. O prestígio dos chefes políticos advém da manipulação dos fundos públicos do governo central distribuídos aos seus aliados. Tanto em Queiroz como em Bursztyn, o raio de ação do “coronel” pode ser urbano ou rural e pode atingir o nível federal.

Nos três autores, o Estado é visto como incentivador ou favorecedor do surgimento do “coronelismo”, a ausência ou ineficiência dele (Estado) favoreceu o desenvolvimento do “coronelismo” que surgiu como necessidade do Estado compor com os “coronéis” e chefes políticos para que se consolidasse seu poder.

1.1.3 O papel do “coronel”:

Ainda incorporamos na análise as explicações de Raymundo Faoro (1995, vol. 2), em sua obra Os Donos do Poder. Faoro toma como base as várias fases histórico-políticas

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30 e apresenta o “coronelismo” no Brasil-Colônia como um poder descentralizado. O poder do “coronel” é pessoal, delegado a ele diretamente pela metrópole. O “coronel” é, nesse primeiro momento, o próprio poder na Colônia. No Brasil-Império, o poder será centralizado na figura do Imperador. O poder ainda é pessoal, mas agora a delegação lhe é concedida pelo poder central.

Na República Velha, o poder será descentralizado. Os governantes serão delegados do poder central e os “coronéis” delegados na esfera do município. Há, na opinião de Faoro (1995), um enfraquecimento do poder dos “coronéis” junto ao poder central que possui um novo elo com os municípios: os governadores.

No pós-1930, o poder era centralizado na União. Nesse momento, desaparece a figura do delegado e surge a do intermediador. A sobrevivência dos antigos “coronéis” se dará enquanto chefes políticos das comunas, que intermediam as relações do município, ora com o poder estadual, ora com o poder central. Essa intermediação se concretiza através dos benefícios que esses chefes conseguem trazer aos seus municípios. As relações políticas não são renovadas e o clientelismo permanece até hoje como prática nessa função de intermediação, o “coronel” desaparece progressivamente e de forma diferenciada segundo as regiões, dando lugar ao surgimento de outros tipos de chefia política.

Nos autores estudados, o “coronel” ou chefe político exerce o papel de intermediador entre seus dependentes (trabalhadores, agregados, parentes, afilhados, pessoas a quem exercem influência) e a classe política. A diferença entre um e outro é a forma como essa intermediação vai tomando a partir do desenvolvimento ou do declínio daquela estrutura. Admitir que o “coronelismo” é um fenômeno restrito a uma determinada época, depende do que o autor considera como fundamental e idiossincrático ao “coronelismo”. Quando considerado restrito, ele é definido como o poder dos grandes proprietários de terras numa parceria com o Estado. O fim da República Velha e as novas relações sociais e econômicas, criadas no seu término, teriam encerrado naquele sistema. O que teria sobrevivido seriam resíduos, mas sem a força e a presença na vida política do país. (LEAL, 1986)

Para os que não fundamentam o “coronelismo” sobre a posse de terras e considera-o como um fenômeno de aspecto mais amplo, ele teria sobrevivido ao fim da República Velha, embora seu auge tenha se dado naquele período. Trata-se, no caso, não de um sistema a ser desmontado, mas de uma forma de poder que se metamorfoseia de acordo com a nova ordem social e consegue, dessa forma, sobreviver nos diferentes períodos históricos brasileiros. O “coronelismo” no Brasil, sob estas perspectivas, passou por diferentes fases, nas quais o poder do “coronel” foi, a cada período histórico, sofrendo modificações,

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31 embora permanecendo como figura chave no processo hegemônico de afirmação do poder constituído (QUEIROZ, 1976; BURSZTYN, 1990).

Estudar oligarquias ou a participação de famílias tradicionais em cargos eletivos na vida pública da política brasileira, teve como marco a obra de Maria Isaura Pereira de Queiroz, “O Mandonismo na Vida Política Brasileira e outros ensaios”. No entanto, com poucas e raras exceções, essa discussão tem sido negligenciada no âmbito dos estudos sociológicos e da ciência política por ser o estudo da vida política brasileira a partir das estruturas familiares, difícil de ser investigada diante das várias formas de se agrupar a uma família, seja pelo casamento, por apoio econômico ou por apadrinhamentos. O estudo da política por esse prisma envolve imbricada estrutura de parentesco que, muitas vezes, é desconsiderada nas pesquisas sobre poder local.

Atualmente, alguns trabalhos têm retomado a questão, dentre eles merecem destaque, Canêdo11, Oliveira12, Monteiro13. Em tempos de pós-golpe midiático e jurídico é importante compreender as famílias políticas que dominam o país, uma vez que em todos os estados da federação existem famílias tradicionais que dominam a política local e, por conseguinte, influenciam na condução da política nacional.

As famílias e as estruturas de parentesco têm sido marcas dominantes na formação das classes dominantes, constitutivas de uma ampla rede de nepotismo que dominam o Estado e ocupam cargos de destaque e decisivos na condução da política nacional, seja no poder Executivo, Legislativo ou no Judiciário.

As análises que construíram o “estigma do localismo” ou a relação entre parentesco na política e poder local têm em Oliveira Vianna (1990 [1920]), referindo-se aos clãs parentais e nos trabalhos de Leal (1986), Carvalho (1966) e Queiroz (1985), em seus estudos sobre Império e as primeiras décadas da Primeira República, as primeiras referências. De encontro à percepção estigmatizada de que o parentesco é algo típico do poder local, constata-se que tem aumentado o percentual das bancadas no congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas Estaduais, bem como na

11 São obras que tratam da temática abordando o estado de Minas Gerais e o método de estudo da transmissão

do poder entre famílias: As metáforas da família na transmissão do poder político: Questões de método (2018),

Caminhos da memória: Parentesco e poder (1994), Herança na política ou como adquirir disposições e competências necessárias as funções de representação política – 1945-1964 (2002).

12 Trata de investigações sobre classe política dominante e a rede de nepotismo, bem como a genealogia das

relações existentes entre parentesco e estado existentes no Paraná desde o século passado: O Silencio dos

vencedores: genealogia, classe dominante e Estado no Paraná (2001) Na teia do nepotismo: Sociologia política das relações de parentesco e poder político no estado do Paraná (2012), Famílias políticas, desigualdade e estratificação social no Brasil contemporâneo (2015)

13 Trata de apresentar a estruturação das famílias e as genealogias familiares, como uma família surge na política,

como se estrutura, suas posições e cargos no Estado, como enriquecem no poder e se reproduzem socialmente e, como organizam estratégias familiares de poder ao longo de várias gerações, a partir do estudo das famílias de tradição familiar na política no estado da Paraíba: Família, poder local e dominação: um estudo sobre os

processos de disputas políticas entre a(s) famílias (s) Ernesto-Rêgo em Queimadas/ Paraíba (2009) A política como negócio de família: Para uma sociologia das elites e do poder político familiar (2017)

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esfera do executivo estadual e local, que a base de sustentação se dá por meio da força política grupo familiar [sic]. [...] Autores [...] que sustentavam o argumento de que a reprodução de famílias políticas tradicionais no espaço da representação política e, consequentemente, no poder público era um fenômeno da Primeira República. Pesquisa realizada junto ao site congresso em foco nos mostrou que, cada vez mais, esse fenômeno tem se ampliado na sociedade brasileira, no contexto da redemocratização. A “bancada dos parentes” triplicou na Câmara dos Deputados nos últimos anos. Esse fenômeno ocorre de forma indistinta em todos os partidos políticos quer sejam de “direita”, de “centro” ou de “esquerda”, com uma tendência maior aos partidos políticos cuja formação ideológica é de direita. Também tem se tornado corriqueira, a presença na linguagem do universo políticos de concepções que dizem respeitos à ordem do universo familiar e do universo do parentesco. Naturalizam-se no âmbito das disputas políticas, alusões a fulano é “afilhado político de...”, “os pais do partido são...”, “fulano de tal herdou a habilidade política de ...” [...]. O grupo familiar existe enquanto criação social que é capaz de reproduzir estruturas existentes. Os interesses dos grupos familiares são múltiplos numa ordem societária capitalista, a ampliação do capital econômico de torna um dos interesses centrais. E o capital político-familiar é um desses capitais que se converte em capital econômico. É a esfera da política um dos espaços nos quais a família torna-se estratégica no sentido da ampliação dos capitais: político, econômico e familiar. [...]. (MONTEIRO, 2017, p.20, grifos do autor)14

Dessa forma, o estudo sobre oligarquias e relações de parentesco na política é, ainda nos dias de hoje, um tema relevante. Em uma matéria da Folha de São Paulo15, no ano de 2006, a partir de um levantamento feito pelo DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) mostrava que 46 dos deputados federais e senadores eleitos possuíam algum grau de parentesco com figuras tradicionais da política. Como “políticos tradicionais” foram considerados aqueles que detêm, ou detiveram, cargo eletivo em todos os níveis ou que exerceram algum cargo de gestão, como ministros ou secretários estaduais. A reportagem demonstrou que esse tipo de vínculo familiar era mais comum nas bancadas do Norte e Nordeste, sem, no entanto, deixarem de estar presentes nas demais regiões do país. Nas regiões Norte e Nordeste, haviam sido eleitos 26 parentes de políticos.

No ano de 2006, o Rio Grande do Norte tinha, na Câmara Federal, oriundos das famílias tradicionais na política do estado, os seguintes representantes: Fábio Faria (PMN), João Maia (PL), Henrique Eduardo Alves (PMDB), Rogério Marinho (PSB), Felipe Maia (PFL), Sandra Rosado (PSB). Para o governo do estado foi eleita Wilma de Faria e para o Senado Rosalba Ciarlini.

14 Para maiores informações sobre a formação das bancadas, a partir das relações de parentescos, consultar: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/a-incrivel-bancada-dos-parentes-no-senado/ https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/congresso-um-negocio-de-familia-seis-em-cada-dez-parlamentares-tem-parentes-na-politica/ https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/de-pai-para-filho-familia-que-esta-ha-196-anos-no-congresso-prepara-dois-sucessores/ 15 Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u84878.shtml

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33 As sucessivas eleições dos membros da mesma família para cargos políticos no estado e na cidade de Mossoró foi uma das principais razões para a escolha da temática.

2 O RIO GRANDE DO NORTE E SUA TRADIÇÃO OLIGÁRQUICA:

Este capítulo trata do processo de ocupação e povoamento da Capitania do Rio Grande do Norte e de e sua inter-relação com o processo de urbanização e desenvolvimento do estado com o intuito de demonstrar o surgimento das oligarquias estaduais e locais.

Será apresentado um quadro geral do desenvolvimento do estado e suas vocações econômicas nas diferentes regiões, em seguida apresenta-se um breve histórico da ocupação e povoamento das terras do Rio Grande do Norte, a divisão do estado pelo domínio das oligarquias locais.

Com este fim foram utilizados documentos oficiais elaborados pelo Governo do estado e seus órgãos, obras que tratam da História do Rio Grande do Norte, trabalhos que abordam o desenvolvimento e a política partidária no estado na perspectiva das formações das oligarquias em suas diferentes regiões, foram realizadas consultas ao acervo online do CPDOC/FGV, todos devidamente referenciados ao final desta pesquisa.

O Rio Grande do Norte é conhecido pela longa história de dominação com feição política tradicional. Aos analistas e estudiosos, tais como, Spinelli (1992), Felipe (2001) que acompanham a política no estado não escapam a associação da estrutura de poder que aqui impera. Termos como “oligarquia”, “coronelismo”, “dominação de parentelas”, “mandões”, “donos do lugar”, etc., estão presentes nos diferentes estudos que tratam da política estadual.

Na literatura que trata do domínio oligárquico no Brasil, nomes como Faoro (1984), Leal (1986), Queiroz (1976), predominam para a explicação desse tipo de poder, das relações de parentesco, do clientelismo e da estrutura fundiária e rural dos municípios brasileiros. Os estudiosos que se debruçam sobre o domínio oligárquico-tradicional no Rio Grande do Norte somam a esses fatores a união de forças entre os grandes proprietários rurais e a burguesia comercial que garante o domínio sobre o poder administrativo do aparelho burocrático do Estado criando soluções que consolidam a permanência do domínio tradicional oligárquico, seja através do uso do espaço urbano como mecanismo de criação de símbolos que geram identidade com a história política e social local (FELIPE, 2001), ou mesmo pelo controle que exercem sobre o poder administrativo garantindo em suas gestões a criação de benesses econômicas (concessão de empréstimo a juros baixos à oligarquia comercial,

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34 nomeação de servidores, criação de repartições, etc.) que fortalecem a dominação oligárquica (SPINELLI, 1992).

Estudando a formação territorial do Rio Grande do Norte, ainda no período colonial, percebe-se que na formação do território potiguar ocorreram dois processos: um que diz respeito ao uso desigual do território durante o período colonial e o outro que, complementando o primeiro, situa-se no período republicano “coincidindo” com o surgimento das oligarquias estaduais. (BARBOSA, 2016)

A ocupação do Rio Grande do Norte foi iniciada no final do século XVI. Até 1561 nenhum donatário havia tomado posse da Capitania. As tentativas de ocupação haviam sido todas frustradas pela ação dos franceses, que aqui buscavam pau-brasil, e se aliavam aos índios potiguares conseguindo retardar a colonização da capitania. Além desse fato, havia ainda o desinteresse da Coroa Portuguesa pelas terras potiguares. As terras da Capitania eram consideradas “fracas16”, serviam mais para gados e criações do que para canaviais e roças não

representando grande vantagem econômica ocupá-las. Mas, as constantes invasões realizadas por estrangeiros ao litoral nordestino em busca de pau-brasil vinham preocupando os portugueses que resolveram buscar soluções para conter as invasões, uma delas era o povoamento dessas áreas (CLEMENTINO, 1995).

Diferente das demais possessões portuguesas no Brasil, não houve quase nenhuma política de povoamento inicial, no entanto algumas iniciativas podem ser destacadas. Em 1601, o Capitão-Mor João Rodrigues Colaço deu início a uma política de concessão de sesmarias visando o povoamento e o desenvolvimento econômico da capitania do Rio Grande, uma vez que nela, havia apenas a prática de agricultura de subsistência (roças, pescas, cultura de legumes, frutas, hortaliças), coexistindo com uma incipiente atividade canavieira. (BARBOSA, 2016, p. 36)

Embora a Pecuária tenha sido uma atividade secundaria no cenário econômico do Período Colonial, foi ela a responsável pela colonização do Rio Grande do Norte e uma das suas principais atividades. Trindade (2010) ressalta o espirito mercantilista e colonialista da coroa portuguesa, presentes nas ações dos principais agentes econômicos que aqui atuavam: “[...] no sentido de aproveitarem a Colônia como oportunidade de operações comerciais (e não para uma verdadeira colonização, com raízes profundas) e de transportarem as rendas para a Metrópole.” (BUESCU apud TRINDADE, 2010, p. 29)

Apesar de o sistema de Capitanias Hereditárias trazer alguns benefícios para a colonização do Brasil, somente duas capitanias tiveram sucesso: a de São Vicente, que pertencia a Martim Afonso de Sousa, e a de Pernambuco, cujo donatário era

16 Durante o período colonial, a atividade econômica mais rentável era a produção açucareira. O Rio Grande do

Norte não possui faixa extensa de Zona da Mata, o que por si só explicaria a falta de interesse da Coroa Portuguesa por suas terras (HOLANDA apud CLEMENTINO, 1995)

(35)

35 Duarte Coelho. As duas foram as únicas que tiveram um relativo crescimento populacional e econômico. Os constantes ataques dos índios, as adversidades geográficas que dificultavam a comunicação entre as capitanias, os desinteresses dos donatários, entre outros, levaram essa tentativa de experiência colonizadora ao fracasso. A coroa portuguesa não contribuía com praticamente nada. (BUESCU apud TRINDADE, 2010, p. 30)

A Capitania do Rio Grande do Norte se localizava em um ponto militarmente estratégico que podia fazer as vezes de fortaleza, ao mesmo tempo que serviria como base para a conquista de novas terras no interior da Colônia. Para isso os portugueses construíram uma fortaleza – a Fortaleza dos Reis Magos – e pouco mais acima do forte, com a distância de meia légua, fundaram um povoado que mais tarde seria a cidade de Natal. Exercendo a função militar, a Capitania passou a servir de passagem para a conquista do Ceará e do Maranhão, bem como, exercer as vezes de uma fortaleza para a defesa do território e a conquista de novos espaços.

A cidade de Natal foi fundada a 25 de dezembro de 1599. O Brasil estava sob domínio Espanhol. Porém, antes da fundação de Natal, os colonos agruparam-se próximos à “Fortaleza dos Santos Reis” para melhor se defenderem dos índios, originando uma pequena povoação, posteriormente chamada de “Cidade dos Reis”. Os nativos resistiram ao invasor português, ainda mais por verem tomadas suas terras. Os portugueses levavam vantagem nesse conflito, devido ao seu maior poderio militar (armas de fogo, cavalaria, etc.) e por receberem constantes reforços das capitanias da Paraíba e de Pernambuco. Somente após a pacificação dos índios é que seria possível aventurar-se fora das muralhas do forte e completar a segunda parte da missão – a fundação de uma cidade. [...] Após a pacificação dos índios, as autoridades da capitania construíram uma igreja (antiga catedral de Natal), inaugurada no dia 25 de dezembro de 1599, e demarcaram o espaço para a nova cidade. A população, sentindo-se segura pelo recém assinado tratado de paz, começou a ocupar lentamente as imediações do templo religioso. Assim, a inauguração da igreja representa o marco cronológico inicial de Natal, quarta cidade fundada no Brasil. (TRINDADE, 2010, p. 42; 43)

O Movimento Expansionista do criatório atingiu a Capitania do Rio Grande do Norte na segunda metade do século XVII após a expulsão dos holandeses. O movimento toma duas direções gerais: a primeira direção segue ocupando o litoral, alcança o agreste até a ribeira do rio Açu17; a segunda direção originou-se no vale do rio Jaguaribe e estendia-se até a várzea do Apodi.

As estradas de bois, utilizadas pelos tropeiros para o deslocamento do gado, de uma área para outra, contribuiu para que surgissem pequenas povoações e servissem como ponto de parada para o descanso do gado e dos tropeiros que conduziam os rebanhos18.

17 Era o Movimento Expansionista dos criadores baianos e paulistas originários do vale do São Francisco e que

provocou o estabelecimento das primeiras fazendas de gado na região do Seridó. (CLEMENTINO, 1995)

Referências

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