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A Família Rosado durante o Período da Ditadura Militar no Brasil – 1964 1985

5. A ASCENSÃO DE ROSALBA CIARLINI ALÉM DOS LIMITES DA CIDADE

5.2. A Família Rosado durante o Período da Ditadura Militar no Brasil – 1964 1985

Até 1964 os Rosado já haviam passado por vários partidos, dentre eles, a UDN, o PR e o PTB. Quando os militares tomaram o poder os Rosado estavam filiados ao PTB. Nas primeiras horas de implantação da Ditadura Militar os Rosados declararam apoio aos militares e se filiaram a ARENA. Naquele momento tinham como principal Aluízio Alves, filiado ao MDB.

Aluízio Alves se elegeu governador do Rio Grande do Norte, na última eleição para governadores do estado antes da instauração da Ditadura Militar e, quando se deu os fatos que culminaram na Ditadura, encontrava-se como deputado federal e foi cassado. A sua cassação é atribuída à influência, junto ao governo central, de Tarcísio Maia e a partir daí se tornaram inimigos políticos.

Alves e Maia eram as principais famílias que disputavam o poder no Rio Grande do Norte durante a Ditadura Militar. A família Rosado, nesse período, não se alinhou diretamente a nenhuma das duas famílias. Os Rosados conseguiam se articular diretamente aos generais presidentes o que proporcionou a sua consolidação no comando político da cidade de Mossoró. A consolidação do poder política da família se deu através da viabilização de diversas obras realizadas na cidade, com o apoio dos militares, dentre elas merece destaque a

117 criação da Escola Superior de Agricultura – ESAM (atual UFERSA – Universidade Federal Rural do Semiárido), em 1967.

O prestígio dos Rosado122 com os militares era visível. No ano de 1967, Dix-

Huit Rosado é nomeado presidente do INDA (Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário) por indicação feita diretamente pelo General presidente Artur da Costa e Silva. O prestigio da família, na cidade de Mossoró, estava consolidado e conseguia se impor politicamente. Mesmo com prestigio com o Governo Federal e na cidade de Mossoró eles não conseguiam ampliar o seu domínio para a política estadual. Na política da cidade a família mantinha o domínio e tinha a hegemonia nas eleições a partir das indicações de seus apadrinhados para Prefeitura e Câmara dos Vereadores.

A forma de fazer política da família Rosado sempre se pautou na execução de obras ou no carreamento de recursos para a construção de obras e nas nomeações de seus apadrinhados para o exercício de cargos públicos importantes. Todas essas ações eram meticulosamente planejadas com o intuito de demonstrar que eram os únicos capazes de realizar obras para o “engrandecimento” da cidade. A simbologia dos batalhadores, dos que lutam por Mossoró, iniciado por Jerônimo Rosado se repete.

A família conseguiu construir e difundir uma imagem de si própria como benfeitora de Mossoró ao controlar e estar bem posicionadas nos principais cargos da república passaram a ter mecanismos mais amplos de reprodução política e conseguiram criar uma imagem, passada aos mossoroenses e para alguns norte-rio-grandenses, como movidos apenas pelo amor a sua terra. O mandonismo que exercem na cidade é justificado pela imagem mitificada de benfeitora de Mossoró e das terras potiguares. A realização de obras, a

122 No ano de 1963, um ano antes da implantação da ditadura militar, Vingt havia sido eleito deputado federal

pelo PTB. Esse foi o seu primeiro mandato numa sucessão de mais de 27 anos de vida pública na Câmara Federal e que perdurou até o ano de 1990. Consultando os arquivos da Câmara Federal, constatamos que durante toda a sua vida pública, nos 27 anos de mandato, com exceção de algumas emendas na Assembleia Constituinte de 1988, o deputado Vingt Rosado nunca apresentou nenhum projeto. Os pronunciamentos que constam em termos se referem a alguns necrológicos de políticos do Rio Grande do Norte. A partir do segundo mandato e até o início da década de 1980, Vingt se candidatou pela ARENA. De 1981 a 1985 foi reeleito pelo PDS e no processo de redemocratização do país, ocorrido em 1984, a família Rosado muda de partido e se filiam ao PMDB. Em seu último mandato, de 1986 a 1990, Vingt se reelegeu pelo PMDB. Nunca elaborou nenhum projeto político, sua atuação se baseava no apoio sistemático ao Governo Central e nas alianças com aliados ou opositores, de acordo com o que fosse melhor para os “negócios” políticos e pessoais da família. Consulta ao Departamento de Taquigrafia, Revisão e Redação – Seção Histórico de Debates – Súmulas de Pronunciamentos de Vingt Rosado – 1963-1990 – Fonte cedida por Cid Augusto Rosado, neto de Vingt Rosado, em entrevista a autora no ano de 1996, do seu arquivo particular. Sobre a atuação de Vingt e tentando justificar a falta de atividade parlamentar do avô, Cid Augusto na entrevista a autora já referenciada diz: Um repórter consultando as Súmulas da Câmara Federal estranhou o pouco número de pronunciamentos peitos, mas, verificou mais tarde que na agenda do deputado Vingt, audiências, quase que diárias com o Executivo.

118 inauguração de universidades, o trabalho em prol do progresso de Mossoró é apresentado como justificativa para a hegemonia política da família. Ela é merecedora disso, fez por onde, ama sua terra e merece ser recompensada.

A partir do final da década de 1960, a hegemonia que os Rosado exerciam no comando político da cidade de Mossoró vai se quebrando. As disputas pelo poder local vão adquirir maior relevância uma vez que não acontecia eleições para o Governo do Estado. Em Mossoró duas agremiações partidárias disputavam entre si o comando político da cidade. No Rio Grande do Norte o principal nome de oposição aos Governos dos militares era o nome de Aluízio Alves. Dessa forma, em Mossoró, durante as décadas de 1970 e 1980 os correligionários de Aluízio Alves e da família Rosado viviam em eterno confronto verbal e físico. Com frequência as manifestações públicas ocorridas na cidade, envolvendo os dois grupos, terminavam em ocorrência policial123.

O acirramento entre Rosado e Alves se dava em todos os aspectos da vida social na cidade. Isto incluía a escolha de clubes de futebol, blocos carnavalescos e tudo que envolvesse disputa. Camisas, lenços, bandeiras verdes tremulavam nas residências dos adeptos do aluizismo. O mesmo ocorria nas casas dos adeptos dos Rosados, apenas mudando a cor do verde para o vermelho.

Para se ter uma ideia de clima de disputa na cidade, em 1978, uma Revista de circulação estadual, com matérias voltadas para o setor econômica, traz uma matéria sobre a cidade em que diz:

O Mossoroense toma partido em tudo, principalmente em política.

Uma das características essenciais da gente de Mossoró é o partidarismo, que chega a ser radical. Ninguém é neutro; todos têm posição e não se furtam de demonstrá-la. Em termos político-eleitorais, isso toma ares de radicalismo. A cidade gira em torno da política. E nesse clima os seus líderes ficam cada dia mais fortes124.

É nesse clima que Aluízio Alves tenta quebrar a liderança política dos Rosado na cidade. Possuindo o Jornal Tribuna do Norte, com sede na capital do estado, uma cadeia de emissoras de rádio, lideradas pela Rádio Cabugi (AM) em Natal e Rádio Difusora (AM) em Mossoró, a oligarquia Alves era a única, naquele momento, que poderia enfrentar os Rosados dentro do seu próprio território – a cidade de Mossoró – e empregavam todos os meios para conseguir enfrenta-los. E conseguiu.

123 Consulta realizadas aos jornas da época pude verificar casos de assassinatos. O motivo era sempre o mesmo,

em manifestações públicas – comícios – discussões entre aluizistas e Rosadista, agressões físicas e mortes.

119 No ano de 1968, pela primeira vez na história das eleições municipais, desde que o patriarca Jerônimo Rosado – o velho Rosado – chegou a Mossoró, os Rosado perdem uma eleição. Os candidatos eram Antônio Rodrigues de Carvalho125 (agora apoiado por

Aluízio Alves) e Vingt-Un Rosado, irmão de Dix-Huit e Vingt, o candidato da família Rosado. O slogan da campanha era o “Touro contra o Capim”. O “Touro” era Vingt-Un numa referência ao número vinte um do jogo do bicho que é representado por um touro. O “Capim” era Antônio Rodrigues numa referência a cor verde que o aluizismo tinha como marca. Venceu o “capim” e a partir desta derrota os Rosado precisam mais uma vez se reorganizarem dentro e fora dos limites da cidade de Mossoró.

Receosos dos aluizistas consolidarem-se dentro da cidade, Dix-Huit exonera- se do cargo de presidente do INDA. Um dos principais motivos, além do receio de ampliação do aluizismo em Mossoró é a expectativa de sua nomeação para governador do estado do Rio Grande do Norte. Nomeação que não se efetiva e que inclusive será o principal motivo da cisão da família no final da década de 1980. A pretensão de Dix-Huit de governar o estado do Rio Grande foi por três vezes preterida. De 1970 a 1982, nas três vezes consecutivas de nomeação para governador, nome de Dix-Huit aparecia na lista mas nunca foi o nome escolhido126.

Sem conseguir êxito na escolha do seu nome para o governo do estado Dix- Huit Rosado retorna a política local. Ele viera para refazer a família da derrota sofrida por Vingt-Un e, dessa forma, se elege em 1972 prefeito da cidade derrotando o candidato aluizistas. De 1972 a 1988 se repetirá o cenário, os Rosado derrotam o candidato do aluizismo. Nesse interim, Dix-Huit se elege por duas vezes prefeito da cidade127. O mandonismo da

família Rosado, embora reduzido mais uma vez restrito a cidade de Mossoró, se consolida definitivamente na cidade.

125 Na campanha para prefeito, no ano de 1957, o candidato dos Rosado era Antônio Rodrigues de Carvalho e

seu opositor era Duarte Filho (apoiado por Aluízio). O slogan da campanha foi “O tostão contra o milhão”. O “tostão” era Antônio Rodrigues, apresentado como um humilde advogado e o “milhão” era Duarte Filho apresentado como o todo poderoso médico da cidade. Venceu o “tostão” apoiado pelo Rosado.

126 Para Machado (1991) a não escolha do nome de Dix-Huit para governar o Rio Grande do Norte se deveu a

intervenção direta de Tarcísio Maia e Aluízio Alves que temiam que a indicação de um Rosado pudesse fortalecer o grupo de Dinarte Mariz (aliado dos Rosado) e pudesse “estragar” os planos dos Alves e Maia de dominar politicamente o estado. De acordo com Machado, mesmo Aluízio Alves se apresentando oficialmente como oposição ao Regime Militar, ele sempre participou, nos bastidores, das escolhas das nomeações dos governadores do Rio Grande do Norte. Para a família Rosado, o principal responsável pela não indicação do nome de Dix-Huit para o governo do RN seria a intervenção direta de Tarcísio Maia, considerado inimigo político da família e só veio a se reaproximar da família na década de 1980, com a abertura democrática.

127 Em 1992 Dix-Huit se reelege, pela terceira vez, prefeito da cidade. Morre em 22 de outubro de 1996 antes de

120 A família Rosado faz parte de uma extensa rede de parentelas que domina o estado. E, para tal, se entrelaçam, brigam, faz as pazes, estabelecem alianças, rompe com as alianças, isso tudo apenas com o intuito de permanência no poder e manutenção das elites nas regiões do estado.

A noção de “redes de famílias” enunciada por Queiroz (1976) nos permite pensar a família para além da questão política. As famílias que participam da política no Brasil, estabelecem verdadeiras “teias” de relações sociais, afetivas e parentais e faz com quer, a política no Brasil, tenha acima de tudo uma base familiar, não somente de uma família, mas de várias famílias, ligadas por diversos aspectos, seja pelo elo econômico, matrimônios, ou outros interesses em comum, que se aliam para ter a possibilidade de comandar um determinado território, seja ele, uma cidade, uma região ou um estado.

Para a compreensão da forma de atuação dessas famílias, se faz necessário compreender as inserções que elas estabelecem e nos cargos eletivos que ocupam dentro da dinâmica da política estadual. O fato da família Rosado concentrar sua ação e atuação dentro da cidade de Mossoró, não significa que a sua influência se dê apenas na cidade ou na região, e sim que a dinâmica dessa família é participar ativamente do cotidiano da cidade como forma de se fazer presente e “alimentar” com pitadas de drama, tragédia e comédia o cenário político local.

A sensação de pertencimento dos mossoroenses no cotidiano da política, dessa família, se faz presente quando muitos se envolvem e assumem as dores de seus representantes em espaços privados.

5.3 A Reconfiguração dos Rosado com a Abertura Democrática e as “novas” Lideranças