• Nenhum resultado encontrado

O Papel dos Rosados nas eleições para Prefeito da Cidade de Mossoró no ano de

5. A ASCENSÃO DE ROSALBA CIARLINI ALÉM DOS LIMITES DA CIDADE

5.1. A Reorganização da Família Rosado após a Morte de Dix-Sept Rosado

5.1.1. O Papel dos Rosados nas eleições para Prefeito da Cidade de Mossoró no ano de

Na eleição para a prefeitura da cidade, em 1952, o PR, partido que abrigava os “velhos” Rosado, juntamente com o PSD formam a chapa Aliança Democrática e lançam a candidatura de Vingt Rosado e Joaquim Felício (prefeito e vice -prefeito).

A chapa de oposição, denominada, Oposições Coligadas, que era formada pela UDN, PST e PSP, lança a candidatura de Raimundo Soares e Joel Leite.

A UDN que na campanha para governo estadual havia feito oposição direta ao nome de Dix-Sept, já estava realinhada aos Rosado. A ideia que permeava as eleições em Mossoró permanece – Uma eleição com candidato único – posição partilhada pela UDN e pelo PSP. A única ressalva era a de que o nome de Vingt não fosse o escolhido. As restrições ao nome de Vingt era devido as suas características pessoais, era tido como um radical e que não conseguia fechar bons acordos políticos, por isso a recusa ao seu nome. A preferência do PSP era ao nome de Lavoisier Maia (cunhado dos irmãos Rosado) e a UDN preferia os nomes de Dix-Neuf (irmão dos “velhos” Rosado), Dix-Huit, Lahyre (pai de Laíre Rosado e irmão de Dix-Sept) ou Abel Coelho (cunhado dos irmãos Rosado).

Contra todos os argumentos, Vingt se lança candidato. O orgulho falou mais alto, a família não aceitou a recusa ao seu nome. Em meio a inúmeros recursos que alegavam a inelegibilidade de Vingt. A chapa Oposições Coligadas tentou provar que Vingt não havia cumprido todos os prazos estabelecidos em lei para a sua candidatura. Nenhum recurso surtiu efeito e Vingt se elegeu e tomou posse como prefeito de Mossoró.

Em Mossoró, costuma-se dizer que Vingt era o homem do povo e Dix-Huit era o homem dos gabinetes113. Nesta eleição, a escolha da família Rosado recaiu sobre aquele que estava mais próximo do povo, Vingt Rosado. Ele era contador e farmacêutico, e achava-

113

Afirmação é de Raimundo Soares de Brito. A informação foi colhida em conversa informal, quando escrevia minha dissertação de mestrado - 1994 a 1998, em conversa informal. Dix-Huit era médico e engenheiro, tido como mais intelectualizado, cosmopolita. Raimundo Soares era uma fonte viva de informações sobre a história da cidade. Possuía um vasto acervo particular sobre fatos e acontecimentos da cidade e que me foram disponibilizados na época da dissertação.

112 se mais próximo do povo. Dix-Huit era um dos maiores incentivadores do irmão como chefe político, sobre o assunto, costumava afirmar: “Eu era muito menos que a metade de Dix-Sept, como sou muito menos que a metade de Vingt como líder.” (LYRA, 1986, p. 35)

Bruno Barreto em seu livro “Os Rosados Divididos: como os jornais não contaram essa história”, diz que:

Com a morte de Dix-Sept, abriu-se um novo vácuo na liderança política da família, a qual demorou quase duas décadas para encontrar o sucessor de Jeronimo. Coube a Vingt Rosado assumir esse papel em dupla com Dix-huit Rosado. O primeiro reunia a função de líder com a de articulador político; o segundo funcionou como político que inflamou as massas, chegando a ser prefeito três vezes e senador. A parceria entre Vingt e Dix-huit era vista como instransponível. Era como se fosse uma única entidade. Em 50 anos de vida pública, os dois só estiveram separados numa disputa nas eleições de 1988. Uniram-se em 1992 para vencer o pleito e em seguida romperam novamente, Morreram (Vingt, em 1995, e Dix-huit, em 1996) rompidos politicamente. (BARRETO, 2017, p. 27)

A campanha de Vingt teve como principal mote o seu parentesco com Jerônimo Rosado e com Dix-Sept114, como se pode observar na divulgação da campanha nas páginas de O Mossoroense:

Vingt – uma legenda - Aliança Democrática

[...] Vingt apresenta-se ao pleito como o comandante que melhores referencias traz consigo. É filho de uma família cujos membros teem [sic] sido de uma dedicação sem limites por esse pedaço do RN; irmão e amigo de todos os momentos, daquele inesquecível capitão morto tragicamente quando voava ao Rio para ir defender ali s interesses e necessidade da gleba comum. (O MOSSOROENSE, 26/10/1952)

Os aliados de Vingt, como prova da “fidelidade” da família Rosado à cidade de Mossoró, lançam um panfleto intitulado “Depois da Meditação115”. O panfleto era uma

resposta ao material de campanha da chapa Oposições Coligadas que tinha como título “Pausa para Meditação”. Os panfletos discutiam quem era “verdadeiramente” por Mossoró. Raimundo Soares, que era de Caraúbas116, era tido como “estrangeiro”. Este fato o

“descredenciava” ao cargo de prefeito. “Mossoró deveria ficar nas mãos dos seus filhos”. Uma demonstração bairrismo exacerbado dos Rosado que, a depender dos interesses da família, descartam os “estrangeiros117”, ao que não nasceram em Mossoró.

114 Ver as letras das canções desta campanha nos anexos.

115 O panfleto apresentava as razões para que os mossoroenses votassem em Vingt. Nele, Vingt era apontado

como fiel sucessor do falecido Dix-Sept Rosado, (Ver cópia do panfleto em Anexos)

116 Caraúbas fica localizada na região oeste e a uma distância de 84 km da cidade de Mossoró.

117 A organização da política da cidade de Mossoró sempre se pautou na manutenção do status quo de seus lidere.

Como quando os cearenses, Almeida Castro e os membros da família Fernandes, eram aliados da família Rosado e estavam no comando da política local, o fato deserem “estrangeiros” era uma característica a serexaltada. Eles, mesmo não sendo mossoroenses, eram tidos como filhos de Mossoró, pessoas que “desenvolveram um

amor pela terra e a construíram com seu próprio esforço e desempenho. Sempre que a historiografia apologética

fala de homens políticos não nascidos em Mossoró, trata-os como estrangeiros, seja na Coleção Mossoroense ou nas edições do jornal O Mossoroense. A conotação muda quando os estrangeiros são aliados dos Rosados.

113 Dois anos após a eleição, o empenho e a disposição para governar a cidade esvanecem, Vingt pede licença do cargo e se muda para o Rio de Janeiro onde vai tratar de assuntos pessoais e comerciais da empresa de sua família na capital federal. A licença era uma fuga para os inúmeros casos de irregularidades em sua administração. Várias denúncias de uso indevido dos bens públicos, o não cumprimento de expediente por parte do prefeito118

eram veiculadas pela imprensa local. Vingt permanece por mais de um ano afastado do comando administrativo da cidade. Em sua ausência Joaquim Felício de Moura, seu vice, assume a prefeitura.

Vingt era apontado pela imprensa como o desequilibrador das finanças do município. Mesmo em licença, ele tentava articular seu nome para candidato a governador. A chapa que tentava articular teria o seu nome (governador) e José Arnaud (vice). As articulações eram veiculadas pela imprensa carioca e reproduzida pelos jornais locais;

Poucos meses antes do final do mandato, Vingt retorna a Mossoró e reassume o cargo de prefeito. Pelas notícias veiculadas, à época, sua volta era para iniciar o processo de articulação e viabilização do nome de seu sucessor. O “líder” voltava para apaziguar e comandar o processo sucessório na cidade. Nesta mesma época o jornal O Mossoroense passa a fazer oposição aos irmãos Dix-Huit e Vingt. Essa oposição se justifica pela chegada do aluizismo a cidade e pela compra de ações, por Aluízio Alves, do jornal O Mossoroense119.

Com a volta de Vingt, nomes como Duarte Filho e Antônio Rodrigues de Carvalho são apresentados como candidatos a prefeito da cidade. Antônio Rodrigues, caraubense, nesta campanha, não era tido como estrangeiro e sim como um mossoroense de coração. O interesse em apoiar Antônio Rodrigues era simples. Visava, de acordo com a Coluna Opinião120, o seguinte: Dinarte Mariz tinha receio que Duarte Filho pudesse dinamizar a sua gestão à frente da prefeitura da cidade e com isso receber o apoio de vários outros prefeitos da região Oeste. Isto o tornaria um forte candidato à sucessão do governo estadual. O apoio dado a Antônio Rodrigues implicava no seguinte: Enquanto Dinarte Mariz estivesse à frente do governo estadual Dix-Huit seria o candidato a Senador, depois os papeis seriam invertidos, Dix-Huit seria candidato a Governador e Dinarte seria candidato ao Senado. O único

Neste caso, são amigos, construtores da cidade. Se fazem oposição aos Rosados, logo os estrangeiros são apresentados como inimigos da cidade e que em nada contribuem para seu desenvolvimento.

118 O Mossoroense, edição de 07 de agosto de 1956.

119 Na verdade O Mossoroense não era mais o instrumento midiático imprescindível à família Rosado, pois já

estava em pleno funcionamento, desde 1955, a Radio Tapuyo, que tinha como diretor presidente Vingt Rosado. A Rádio Tapuyo tinha como objetivo fazer concorrência a Rádio Difusora, que pertencia a Aluízio Alves, inaugurada em 1947.

114 empecilho era a possibilidade de aumento do prestigio político de Duarte Filho na região Oeste, por isso ele teria que ser derrotado.

Pode-se notar que o retorno ao poder local não estava satisfazendo aos interesses da família Rosado e, por isso mesmo, eles queriam a todo custo ampliar o seu espaço político para fora de Mossoró e expandir o seu raio de ação para todo o Rio Grande do Norte. Por isso os acordos e até mesmo as rupturas com antigos aliados (Duarte Filho), que pudessem representar uma barreira aos seus interesses eram algo natural. Os cargos que interessavam aos Rosado eram os do Poder Legislativo, deixando aos seus apadrinhados a tarefa de governar a cidade, claro com seu aval e seguindo a sua cartilha.

Os irmãos Rosado sabiam bem que interesses estavam em jogo, por isso o nome de Antônio Rodrigues recebia apoio irrestrito e sua vitória fora credenciada ao apoio dado pelos irmãos Rosado, principalmente de Dix-Huit.

Com essa estratégia política, no ano de 1958, Dix-Huit Rosado, que era deputado federal, se lança candidato a senador. Vingt que, até então havia assumido os cargos de vereador e prefeito, lança-se a deputado estadual. Outros membros da família, tais como, cunhado e sobrinhos dos irmãos Rosados se lançam candidatos à Assembleia Legislativa Estadual, Federal e à Câmara Federal formando um verdadeiro clã político dentro do estado. O nome de Dix-Huit para o Senado sofre algumas restrições, mesmo assim ele consegue apoio irrestrito do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) municipal, comandado pelo prefeito Antônio Rodrigues de Carvalho, que segue orientação diversa do partido em nível estadual que apoiava José Varela. Mesmo estando nas fileiras do PR, Dix-Huit ainda consegue o apoio de parte da UDN, que já havia rompido com os Rosado no cenário estadual quando da eleição de Dix- Sept, volta a se coligar com a família Rosado ignorando os protestos de Aluízio Alves e Djalma Marinho121.

Na convenção do PR, Vingt Rosado foi o único candidato do partido a deputado estadual e seu cunhado, Tarcísio Maia, indicado para deputado federal. Assim, em 1958, a eleição teve, na cidade de Mossoró, o seguinte quadro de candidatos:

121 Na convenção da UDN para consolidação do apoio ao nome de Dix-Huit para Senador, Aluízio Alves e

Djalma Marinho se retiram em protesto. Após um acordo com Dix-Huit, os dois retornam. O acordo garantia em torno de 6 mil votos à Djalma Marinho, na região Oeste, em troca Djalma Marinho apoiaria o nome de Dix-Huit na convenção, o que realmente aconteceu. Djalma queria a aprovação do seu nome para o Senado, uma vez que temia não conseguir se reeleger para a Câmara Federal, com a oferta de 6 mil votos no acordo com Dix-Huit, aceitou a escolha do nome dele. Informações em: O Mossoroense, edição de 16 de julho de 1958.

115 TABELA 12 - ELEIÇÃO DE 1958 – “CANDIDATOS DE MOSSORÓ”

PARTIDO OU COLIGAÇÃO NOMES DOS CANDIDATOS CARGOS

PTB

(Dissidente da orientação estadual – comandado por Antônio Rodrigues em Mossoró, a época prefeito da cidade)

Dix-Huit Clovis Mota Vingt Joel Paulista Senador Deputado Federal Deputado Estadual Deputado Estadual PR

(Comandando pelo Rosado)

Dix-Huit Tarcísio Vingt Rosado Senador Deputado Federal Deputado Estadual PSD

(Liderado por Mota Neto em Mossoró) José Varela Teodorico Bezerra Xavier Fernandes Mota Neto Senador Deputado Federal Deputado Federal Deputado Estadual PTN

(Liderado por Djalma Marinho)

Dix-Huit Djalma Maranhão Maltez Fernandes Joel Paulista Senador Deputado Federal Deputado Estadual Deputado Estadual PSP

(Liderado por Xavier Fernandes em Mossoró) José Varela Xavier Fernandes Raimundo Soares Mota Neto Carlos Borges Senador Deputado Federal Deputado Federal Deputado Estadual Deputado Estadual Fonte: Pesquisa da autora nas edições de O Mossoroense.

A composição partidária ficou da seguinte forma: PTB, PR, PTN e dissidências da UDN apoiaram Dix-Huit Rosado e o PSD, PSP e outra ala da UDN apoiaram o nome de José Varela para o Senado. Mesmo sendo filiado ao PR o nome de Dix-Huit foi registrado candidato ao Senado pelo PR o que demonstra o vínculo com o poder político estadual e o apoio do governo a eleição de Dix-Huit.

Esta organização dos partidos configura a política do Rio Grande do Norte, uma política com ausência de fortes posições ideológicas firmes, com a presença do mimetismo político em todos os momentos da história política do estado. Os partidos servem apenas como meros “veículos” eleitorais. Isto claramente demonstrado no registro do nome de Dix-Huit pela UDN que, mesmo não sendo unanimidade na convenção, consegue com o apoio de Dinarte Mariz seu registro e apoio, o que confirma o governismo característico das oligarquias estaduais e, em especifico, da Família Rosado.

Dinarte Mariz cumpriu o acordo, apoiou o nome de Dix-Huit ao Senado. O propósito era enfraquece o “prestígio” de lideranças locais, como Duarte Filho e Mota Neto (ligados a Aluízio Alves) e o fortalecimento de oligarquia estadual com o fortalecimento de um nome da família Rosado para o Governo do Rio Grande do Norte.

A candidatura de Dix-Huit será o principal tema tratado nos discursos dos comícios realizados no ano de 1958. Os opositores não falam mal de Dix-Huit, mas da aliança

116 que ele fizera com Dinarte Mariz. Isto pode ser verificado no trecho do discurso de Silvio Pedrosa (vice-governador na Chapa de Dix-Sept Rosado na eleição de governador) em discurso no comício de José Varela, onde ele diz:

[...] É só por isso que eu venho a Mossoró pedir a vocês para darem um voto contra Dix-Huit Rosado, porque realmente nós não vamos votar contra os Rosado, e nem ninguém pode negar os benefícios que a família trouxe a esta terra. Mas nós vamos eleger José Varela como uma resposta ao governo de Dinarte Mariz. Nesta oportunidade eu digo tranquilamente, sem que isso afete as minhas relações com eles. Vocês estão errados. Em relação ao Senado, Dix-Huit não poderia ter aceito essa candidatura de pouco lastro. Essa candidatura carregada nos carros azuis do governo [sic] quando eles se acostumarem a ser carregados nos braços do povo. Desta vez não podem ganhar. Não ganharão no RN [...] Esses votos não são dados contra Dix-Huit Rosado, Dix-Huit não está em causa. Esses votos são dados contra o governo, pela capital, pelo povo que assiste a passagem do “Danúbio Azul” como são chamados os 38 carros azuis porque quando eles passam realmente parecem um rio. (O MOSSOROENSE, 10/09/1958)

Dix-Huit venceu a eleição, junto com ele se elegeu Tarcísio Maia e Vingt Rosado, os Rosado conseguem ampliar seu poder político familiar ao mesmo tempo que se consolidam enquanto lideranças da região oeste do Rio Grande do Norte.