• Nenhum resultado encontrado

Espectrodrama : expressão corpóreo-vocal nas artes visuais para além do movimento

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Espectrodrama : expressão corpóreo-vocal nas artes visuais para além do movimento"

Copied!
74
0
0

Texto

(1)

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAIS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

DEPARTAMENTO DE ARTES

ELISIANA GOMES DA SILVA

Espectrodrama:

expressão corpóreo-vocal nas artes visuais para além do

movimento

Natal/RN 2017

(2)

2

Elisiana Gomes da Silva

Espectrodrama:

expressão corpóreo-vocal nas artes visuais para além do movimento

Trabalho apresentado como requisito parcial para a conclusão do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientador: Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho

Coorientadora: Prof. Mayra Montenegro de Souza

Natal/RN 2017

(3)

3 Agradecimentos

A minha mãe que sempre foi para mim o maior exemplo de força, coragem e determinação. A o meu orientador Vicente Vitoriano e minha co-orientadora Mayra Montenegro, pela paciência e grande auxílio no decorrer de todo o processo de elaboração desta pesquisa.

Aos meus amigos de curso que de alguma forme fizeram parte desta jornada comigo, em especial aos amigos do curso de Teatro, professores e alunos que deixaram sua marca nesta pesquisa.

(4)

4

“Este espaço corporificado, espaço de passagem, transitório e provisório, diz respeito também à questão da efemeridade da dança que se apaga e renasce num constante movimento de corporificação e devir. Como se ausência e presença fossem os dois lados de uma moeda a girar sobre a mesa criando em nossa percepção uma esfera perfeita em seu movimento de mostrar-se e ocultar-se.”

(5)

5 Resumo

Este Trabalho de Conclusão de Curso é uma pesquisa em Arte sobre minha produção artistica. Diz respeito a pinturas que retratam os rastros deixados pela a expressividade-corpóreo-vocal após o movimento relizado, ligados as minhas sensações sinestésicas e apresentadas na pintura. Abordo todo o processo de criação e todo um apanhado teórico acerca desta temática, falando das relações entre Teatro e Artes Visuais.

Palavras-Chave: Pesquisa em Arte, movimento expressivo, sensações sinestésicas, processo de criação.

(6)

6

Lista de Imagens Fig.1. Perfume 1910, Luigi Russolo. Foto: Rodrigo Sampaio...19

Fig.2. A rua entra na casa 1911,Umberto Boccioni. Foto: Rodrigo Sampaio...20

Fig.3. O cavaleiro vermelho 1913, Carlo Carra. Foto: Rodrigo Sampaio...20

Fig.4. Cão na coleira 1912, Giacomo Balla. Foto: Rodrigo Sampaio...20

Fig.5.Storyboard de uma cena do filme Valente. Disponível em;<http://www.fanpop.com/clubs/brave/images/33573796/title/art-brave-storyboards-photo > ...21

Fig. 6 Um exemplo de flip book. Disponível em:< https://www.cookingideas.es/flipbook-20130130.html>...21

Fig. 7 Discos espirais de rolamentos - Marcel Duchamp, 1923. Disponível em:<http://pt.wahooart.com/Art.nsf/O/8EWLEN/$File/Marcel-Duchamp-Disks-Bearing-Spirals.JPG > ...22

Fig. 8 Red Nose - Alexander Calder, 1969.Disponível em:<.http://uzinga.com.br/blog/2012/10/op-art-arte-com-ilusoes-de- oticas/ > ...22

Fig. 9 Objeto Cinetico - Abraham Palatnik, 1966.Disponível em:<https://catracalivre.com.br/rio/agenda/gratis/mostra-celebra-70-anos-da-arte-cinetica-de-abraham-palatnik/ > ...23

Fig. 10 Mayra Montenegro. Foto: Rafael Passos ...25

Fig. 11 Dentro de Mim. Foto: Mayra Montenegro ...25

Fig. 12 Mapa dos Chakras no corpo. Disponivel em: https://www.equilibrioeprosperidade.com.br/chakras-significado-cor-elocalizacao...27

Fig. 13 Nome, cor e simbolo referente a cada chakra disponivel em:<https://thumbs.dreamstime.com/z/grupo-de-%C3%ADcones-da-cor-comnomes-dos-chakras-em-s%C3%A2nscrito-89575286.jpg> ...28

(7)

7

Fig. 15 Salésia Paulino. Foto: Mayra Montenegro...37

Fig. 16 Roberta Alves. Foto: Mayra Montenegro ...37

Fig. 17 Ritual das Letras: Elas. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes...38

Fig. 18 Esboço 1. Foto: Lila Gomes ...39

Fig. 19 Esboço 2. Foto: Lila Gomes …...39

Fig. 20 Esboço 3. Foto: Lila Gomes...40

Fig. 21 Elisiana Gomes (Lila Gomes) e Michel. Foto: Mayra Montenegro...41

Fig. 22 Ritual das Letras: Tamanho ser. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes ...42

Fig. 23 Esboço 4. Foto: Lila Gomes ...43

Fig. 24 Ritual das Palavras: Um ser que fita. Pastel Oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes ...45

Fig. 25 Esboço 5. Foto: Lila Gomes...46

Fig. 26 Ritual das Palavras: Estranho olhar. Foto: Lila Gomes ...47

Fig. 27 Esboço 6. Foto: Lila Gomes ...48

Fig. 28 Grifo 1. Aquarela sobre papel. Foto: Lila Gomes ...49

Fig. 29 Grifo 2. Aquarela sobre papel. Foto: Lila Gomes ...50

Fig. 30 Dança das Ninfas. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes...52

Fig. 31 Abraço. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes ...54

Fig. 32 Seu rosto em meu Olhar. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes ...55

Fig. 33 ImPulso. Pastel sobre papel. Foto: Lila Gomes...57

Fig. 34 Fins de Corpo. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes...59

Fig. 35 Origem. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes...61

(8)

8

Sumário

Agradecimentos Epígrafe Lista de ilustrações

1.

Introdução.…...10

2.

Experiências e relações...14

2.1 Expressão corpóreo-vocal e o desenho / pintura...14

2.2 Cor, sensação e percepção...24

3.

Criação e experiências...29

3.1 Pintando sensações...29

3.2 Como sinto...31

4.

Para além do movimento...34

5.

Considerações finais...65

6.

Referências...66

(9)

9 ELISIANA GOMES DA SILVA

Espectrodrama: expressão corpóreo-vocal nas artes visuais para além do movimento

Trabalho apresentado como requisito parcial para a conclusão do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho Coorientadora: Prof. Mayra Montenegro

de Souza BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Orientador: Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques de Carvalho. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

_________________________________________

Co-orientadora: Prof. Me. Mayra Montenegro Souza. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

_________________________________________

Membro convidado: Prof. Dr. Nayra Neide Ciotti. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

________________________________________

Membro convidado: Prof. Me. Artur Luiz de Souza Maciel. Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Natal/RN 2017

(10)

10

1. Introdução

Este Trabalho de Conclusão de Curso é resultado de uma pesquisa em artes constituída por minha produção artística referente às sensações experimentadas a partir de movimentos corpóreo-vocais expressivos. Diz respeito à pinturas que retratam minhas sensações após vivências em aulas de Expressão Corporal e Expressão Vocal, disciplinas ofertadas pelo Departamento de Artes (DEART) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para o curso de Licenciatura em Teatro da mesma Universidade.

Neste estudo tive como objetivo apresentar o processo de criação de pinturas a partir de fotografias de vivências das aulas de Expressão Vocal II (período 2016.2) em que a professora Mayra Montenegro, que participou como co-orientadora desta pesquisa, fotografou o movimento expressivo feito pelos alunos.

Meu interesse pelo tema se deu após ter cursado aulas de Expressão Corporal I e III no período, 2016.1, com o professor mestre Mauricio Motta, do Departamento de Artes.

O além do movimento de que trato nesta pesquisa é o que chamo de Espectrodrama. Ao meu ver o movimento, e tudo que está por trás e dentro dele, são sentimentos, sensações, emoções, forças presentes em um corpo expressivo. Me agarrando ao termo e propriamente às sensações, trago o Espectrodrama como estas mesmas sensações que tomam o meu imaginário e lá fazem morada. Tenho como Espectrodrama aquilo que não vemos enquanto figura que o corpo faz e expressa, é o que envolve as sensações que emanam do nosso íntimo, quando a música se entrelaça com o movimento e pode ser sentido por quem o observa, é cantar com a voz e o corpo.

Já havia pensado em como fazer um paralelo entre Artes Visuais e Teatro com essas experiências, porém sem a fotografia, somente com as sensações, mas não havia produzido nada até então. No período de 2016.2, estava cursando as disciplinas Expressão Corporal II e Expressão Vocal II e passei a avaliar um pouco mais os estudos feitos em sala de aula com relação ao movimento, onde ele começa, por onde passa, o que sinto e como ele é finalizado. Estas são questões que envolvem as sensações que tenho no momento em que estou realizando os movimentos. Após uma das aulas, pensei em pintar algo que expressasse essas sensações e fiz um trabalho com referência a uma fotografia do fotógrafo Rafael Passos em que ele captou a professora Mayra Montenegro em uma de suas apresentações. Na leitura pictórica da imagem que fiz, eu expresso o que senti e o que vi na fotografia.

(11)

11

O início desta pesquisa foi baseado nas fotografias, no entanto houve várias mudanças e, por questões expressivas, se assim posso chamar, deixei de tê-las como base.

O estudo proposto tem como função essencial fazer uma relação entre Teatro e Artes Visuais, utilizando duas formas diferentes de expressão, a corporal e a visual, sendo a expressão corporal trabalhada neste caso com o corpo e a voz e a expressão visual com o desenho e a pintura.

Esta pesquisa é importante para mostrar que o movimento expressivo vai além do que se pode tocar e ver, que está envolto por sensações que emanam de quem o expressa.

Posso ressaltar também que o movimento é um instrumento pedagógico, pois me possibilita educar com relação à Dança e ao Teatro, no sentido de como eu percebo o outro e como me percebo em meio às sensações que ambos provocamos com o uso do corpo e da voz. O movimento e a atenção dos corpos em cena e nas Artes Visuais nos possibilitam educar a visão para o que se está vendo e expressá-lo imageticamente, considerando este movimento expresso enquanto linha, cor, forma, etc.

Optei por falar deste assunto porque atuo com as duas formas de expressão e vi que posso trabalhá-las juntas para chegar a um mesmo fim, que vem a ser o de expressar e transmitir sensações para além do movimento. Quero enfatizar aqui que não fui a única no campo das Artes Visuais e da Dança ou Teatro a trabalhar uma abordagem semelhante a esta. O próprio Laban (1978) já trabalhou com o movimento nas artes plásticas. Outro trabalho encontrado foi o da pesquisadora Kátia Alvares (2005), que aborda Laban e as Artes Visuais em sua pesquisa sobre os fatores de movimento e o ensino de desenho. Ressalto também que a importância que dei a esta pesquisa foi para que fosse possível ver que os diferentes campos da arte devem e podem dialogar, que as relações entre eles são várias, que seguem diferentes caminhos para chegar a um mesmo fim, acreditando que esta união aqui dentro da academia possa acontecer. Esta pesquisa também está voltada para o ensino de arte. Refletindo e pesquisando formas de abordagem de ensino que melhor possam ser compreendidas e realizadas no âmbito escolar, o que nos faz pensar na Abordagem Triangular sistematizada por Ana Mae Barbosa (1980) quando penso em modos de se aprender uma nova forma de se trabalhar a arte nas escolas ou em outro meio que esta deva ser inserida, trabalhando assim não somente as artes visuais, mas em diálogo com as demais expressões artísticas. É um ampliar de conhecimentos.

Tenho como referências para o estudo sobre o movimento expressivo o dançarino, coreógrafo, teatrólogo e musicólogo Rudolf Laban (1978), e seus estudos sobre o corpo em movimento, Laban estudou e explicou a arte do movimento. Sobre expressão vocal tenho como referência o livro da fonoaudióloga e atriz Lúcia Helena Gayotto (2002). No seu livro, "Voz

(12)

12

Partitura da Ação", a autora vem tratar sobre a voz na preparação do ator e de como a ação vocal afeta quem escuta a voz e quem fala. Como referencial sobre o processo de criação, tenho Cecilia Almeida Salles (2013) que nos apresenta em seu livro Gesto Inacabado como se dá o processo de criação artística. Neste livro são abordados estudos sobre o processo de criação artística em literatura, cinema e pintura. Para referencial metodológico tenho como referências Sandra Rey (2002) e Zamboni (2006) que tratam da distinção entre o fazer artístico de origem puramente intuitiva e um fazer artístico com base na pesquisa, propondo uma metodologia que orienta o processo de trabalho no fazer artístico.

Considerando que meu processo de criação envolve sensações sinestésicas apresentadas como cores, apresento um breve estudo sobre a psicologia das cores da pesquisadora, socióloga e psicóloga especialista em teoria das cores Eva Heller (2013) que realizou estudos sobre as cores e suas ações no homem em uma pesquisa na Alemanha.

Por último, mas não menos importante tenho como referencial sobre ensino de arte Ana Mae Barbosa (2005, 2012) e o que ela nos apresenta como abordagem triangular, tendo o fazer aliado à reflexão/leitura.

Não tenho referencial artístico/estético pois não busquei referência em outros artistas. Minhas obras foram produzidas a partir de mim mesma, não que esteja dizendo que criei um estilo novo, porém produzi de forma livre e independente.

O presente memorial está dividido em três capítulos. No primeiro, trato das minhas experiências e relações, com a expressividade corpóreo-vocal e com o desenho/pintura, estudando a expressividade corporal e relacionando-as aos meus estudos feitos nas Artes Visuais. Apresento este capítulo em dois pontos: o primeiro com a expressividade corpóreo-vocal e o desenho/pintura, apresentando meu referencial teórico e parte das minhas vivências e no segundo ponto falo sobre a cor, sensação e percepção, explanando um pouco sobre estes e explicando melhor como se dão em minha pesquisa.

O segundo capítulo, intitulado Criações e experiências, também é dividido em dois pontos os quais tratam do lado mais artístico visual da minha pesquisa, pois falo das minhas pinturas enquanto sensações sinestésicas expressas de forma pictórica e de como se dão essas mesmas sensações em meu corpo.

No terceiro capítulo, que muitos poderiam tomar como o primeiro, falo do tema desta pesquisa o Espectrodrama. Optei por falar deste por último por que foi assim que ele se deu em minha mente no decorrer do processo e por que considerei bem mais produtivo construir todo o corpo do trabalho para só depois encaixar a cabeça. Neste capítulo são apresentadas todas as

(13)

13

(14)

14

2. Experiências e relações

2.1 Expressão corpóreo-vocal e o desenho/pintura

Expressão é a demonstração de ideias com palavras ou gestos. Tais palavras ou gestos podem aparecer na ênfase de uma frase, ao expressar um sentimento, no modo como o rosto se encontra, na entonação da voz, no comportamento, etc. De acordo com Arnheim (2014), definimos expressão como maneira de comportamento orgânico ou inorgânico reveladas na aparência dinâmica de objetos ou acontecimentos perceptivos.

Estudando e trabalhando com três tipos de expressão - corporal, vocal e pictórica - estabeleci relações entre eles no que se diz respeito à intenção e a certos parâmetros de movimento do corpo, da voz e da própria pintura para a realização desta pesquisa. Tais relações me permitiram criar obras como as que estão sendo apresentadas aqui.

O movimento é a mais estreita relação que encontro para falar destas três expressões. Segundo Arnheim (2014), a experiência visual de movimento se deve a três fatores: movimento físico, movimento óptico e movimento perceptivo. A estes podemos acrescentar os fatores cinestésicos, que por si só podem produzir, sob certas condições, a sensação de movimento, por exemplo por vertigem. A cinestesia com C é o sentido de percepção do movimento do próprio corpo. Já a sinestesia com S é a junção de dois ou mais sentidos como, por exemplo, tato e paladar ou audição e olfato. Como por exemplo: observar alguém comendo um alimento azedo (visão) e sentir o gosto azedo deste alimento (paladar, neste caso, imaginário).

Meus estudos sobre expressão corporal são baseados principalmente nas pesquisas de Laban (1978) em torno do movimento. Para Laban, segundo Maria Cláudia Alves Guimarães (1998, p.44),

o importante era desenvolver a capacidade de compreender e usar o corpo expressivamente, visto que para ele estava clara a relação entre o corpo, os sentimentos e a razão. Assim, o treinamento corporal de Laban voltava-se muito mais às questões estruturais do movimento, procurando fazer que o aluno se tornasse consciente das relações entre o seu corpo e o espaço, das diferenças rítmicas, da fluência, experimentando essas descobertas não apenas no âmbito das ideias, mas também segundo a própria experiência prática.

(15)

15

De acordo com Laban (1978), a arte do movimento no palco incorpora a totalidade das expressões corporais, incluindo o falar, a representação, a mímica, a dança e mesmo um acompanhamento musical.

“Desde seu surgimento, a dança/teatro alemã- Tanztheater propõe uma ruptura do binário dança/teatro, corpo/mente, movimento/texto” (FERNANDES, 2002, p. 29). A Análise Laban de Movimento promove uma síntese entre movimento e palavra, corpo e mente. Este foi o trabalho realizado nas aulas de Expressão Vocal II: a proposta da professora Mayra Montenegro trabalhou com os alunos a intenção no que se fala ou canta em conjunto com o corpo, ou seja, partituras corpóreo-vocais. A professora Mayra Montenegro, em sua dissertação de mestrado, ao citar Eugênio Barba, fala que não existe divisão entre voz e corpo, que a voz é um prolongamento do corpo, que o “corpo é a parte visível da voz” (BARBA, 1991, apud SOUZA, 2012, p. 16).

O corpo não trabalha sozinho, “o corpo deve 'cantar', ou dançar junto com a voz” (SOUZA, 2012, p. 56). Com base no livro “Voz: partitura da ação”, de Lucia Helena Gayotto (2002, p. 20), ouvir a voz, a ação da voz é algo que arrebata como uma espécie de “esquecimento”, “como se fosse envolvida por uma trama invisível”, como um “eco” que ressoa por dentro “vibrações produzidas também por um contato físico invisível, que ocorre quando há ação na fala do ator”. Esta ação é o que chamamos de ação vocal, “a voz não descreve, ela age” (ZUMTHOR, 2010, apud SOUZA, 2012, p. 10), “importando mais o como dizer, do que o que é dito” (SOUZA, 2012 p.10) é a intenção que é dada ao que se fala. A voz interferindo decisivamente na situação cênica e, consequentemente, afetando os rumos do espetáculo e atando o espectador.

As relações entre voz e corpo não param por aí. Laban (1978) nos apresenta quatro fatores de movimento: peso, espaço, tempo e fluência, fatores estes, que possuem uma relação muito estreita com as propriedades da pintura referentes as Artes Visuais. Vejamos agora estas relações na tabela a seguir.

Propriedades Artes Visuais Dança/Teatro Equilíbrio De acordo com Arnheim (2014), tanto

o equilíbrio visual como físico são o estado de distribuição na qual toda a ação chegou a uma pausa, neste caso os

Laban (1978) também nos apresenta uma outra forma de equilíbrio, o equilíbrio instável presente no livro Domínio do Movimento (1978), este

(16)

16

fatores devem ser compensados mutuamente.

acontece quando o ponto de equilíbrio vertical normal é alterado.

Forma É como se apresenta a superfície externa do objeto. “É a

configuração visível do conteúdo” (Ben Shahn apud Arnheim, 2014, p.89).

Espaço Tem a ver com as dimensões, níveis de profundidade, perspectiva.

O Espaço na dança/teatro, como nos diz Fernandes (2002), refere-se à atenção do indivíduo a seu

ambiente ao mover-se, podendo ser direto ou indireto.

Luz É o que nos permite observar forma, cor, espaço ou movimento. Com a luz podemos ter a noção de profundidade em um objeto ou o seu volume.

Textura Vem a ser o aspecto de uma superfície que nos permite, ao olharmos ou tocarmos a mesma, sabermos se ela é lisa, rugosa, macia, áspera, ondulada.

A textura e uma sensação visual, tátil e auditiva (se apresenta em sonoridades com suave/forte, agudo/grave, curto /longo e rápido/lento).

Dinâmica Vem tratar do movimento dos corpos sob a influências de forças. A dinâmica também pode ser entendida como a concepção de um objeto ou partes dele como um acontecimento, algo que se

relacione entre si e não como algo estático.

As qualidades dinâmicas indicam uma mudança entre os quatro fatores, se o movimento é contido, direto, indireto, livre, em que estes apresentam a atitude interna de cada indivíduo

Cor Segundo Pedrosa (2009), vem a ser apenas sensação produzida por certas organizações nervosas sob a ação da luz – mais precisamente, é a sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão. Esta sensação está relacionada aos fatores de movimento e às propriedades do som surge no corpo em grande intensidade, produzindo tanto em quem realiza

(17)

17

como em quem observa imagens mentais e se a voz é um

prolongamento do corpo, posso dizer, concordando com as palavras da professora Regina Jonas, professora do Departamento de Artes e que participou de minha banca de TCC I, que a pintura é um prolongamento do corpo e, digo mais, pintar é dançar com as mãos sobre o papel, ou qualquer outro material. É movimento e cor. Expressão * De acordo com Arnheim

(2014), definimos expressão como maneiras de

comportamento orgânico ou inorgânico revelados na aparência dinâmica de objetos

ou acontecimentos perceptivos.

*

Configuração “é o resultado de uma interação entre um objeto físico e um meio de luz agindo como transmissor de uma informação e as condições que prevalecem no sistema nervoso do observador” (Arnheim, 2014, p. 40).

Movimento * O impulso para se mover é um acontecimento cerebral, a informação que o centro sensorial do cérebro recebe de que a cabeça está se movendo induz o sentido da visão a atribuir o movimento a cabeça visualmente, e a perceber o ambiente como se fosse instável.

*

Peso O fator peso refere-se às mudanças na força

usada pelo corpo ao mover-se.

Tempo O fator tempo indica uma variação

na velocidade do movimento, que se torna gradualmente mais rápido ou

(18)

18

mais lento.

Fluência ou fluxo Este fator refere-se à tensão

muscular usada para deixar fluir o movimento (fluxo livre) ou para restringi-lo (fluxo controlado).

Nas aulas, realizamos estas variações, não somente com o corpo, mas também com a voz, nos utilizamos dos recursos vocais (entendido como tudo que se dispõe para falar) e dos parâmetros do som que são: altura, intensidade, duração e timbre. Dinamizando o movimento em pequeno/grande, forte/fraco, rápido/lento e a voz em agudo/grave, lento/rápido, curto/longo, tínhamos partituras corpóreo-vocais, belíssimas imagens que o corpo e a voz realizavam pelo espaço, o que me levou a entender o quão importante é a ação vocal e a intenção que nós damos a cada movimento.

Ao falarmos de movimento nas Artes Visuais podemos voltar acitar Arnheim (2014), que nos diz que o olho e a mão são pai e mãe da atividade artística, sendo um comportamento motor humano que pode ter se desenvolvido de dois tipos mais antigos e gerais no movimento expressivo e descritivo. Arnheim nos traz exemplos de crianças cujo objetivo em seus primeiros rabiscos não é a representação, vêm a ser agradáveis para as crianças os traços visíveis da ação vigorosa dos braços de um lado para o outro. "É um simples prazer sensorial, que permanece vivo mesmo no artista adulto" (ARNHEIM, 2014, p.162).

As crianças têm necessidade de muito movimento. Deste modo, seu temperamento e estado de espírito determinam a orientação de seus traços e é neste ponto que se encontra o início do movimento expressivo, " isto é, as manifestações do estado de mente momentâneo do desenhista assim como seus mais permanentes traços de personalidade" (ARNHEIM, 2014, p.162). O movimento expressivo vem a ser, então, a forma livre e espontânea de desenhar, a busca por retratar o movimento do corpo artístico ou cotidiano. Já no movimento descritivo, a espontaneidade de ação é controlada pela intenção de imitar propriedades de ações ou objetos. A parte difícil, no caso das Artes Visuais, é transpor para o suporte todos os movimentos quando estes estão ligados às sensações sinestésicas. Dentro de uma experiência corpóreo-vocal, o corpo em movimento a ser representado, apresenta muito mais que os gestos e expressões. “Kandinsky afirmava que a linha é 'a impressão da energia – o traço visível do invisível'.” (KATZ apud MOMMENSOHN e PETRELLA, 2006, p.57). Todo o estado de

(19)

19

espírito e temperamento presentes neste corpo explodem, em grandes ou não, feixes de luz e cor e, na medida em que o ator ou o bailarino se entregam a esta experiência, seu próprio corpo toma formas diferentes, sendo e se apresentando para o outro como uma criatura do mundo das fantasias ou um animal feroz ou dócil. Cada imagem mental reverberou nas pinturas que produzi, embora que, em cada experiência, a minha busca tenha sido pelas sensações sinestésicas, todo trabalho do corpo e da voz me levaram a elas.

No campo das Artes Visuais trago o Futurismo como manifestação artística que trabalha com o movimento e que recebeu influências do Cubismo e do Abstracionismo.

O futurismo começou em 20 de fevereiro de 1909, em Paris, com a publicação do primeiro manifesto futurista num jornal de grande circulação, Le Figaro, pelo seu autor italiano Filippo Tommaso Marinetti.

Marinetti juntou pintores de Milão e arredores à causa do futurismo. Um mês depois, os pintores Luigi Russolo, Carlo Carrá, Gino Severini, Giacomo Balla e Umberto Boccioni, publicaram o Manifesto técnico da pintura futurista. Estes artistas pensavam que “o gesto já não será um momento fixo de dinamismo universal: será definitivamente a sensação dinâmica eternizada" (GOLDBERG, 2015, p.4).

Nas obras futuristas, os pintores expressavam a ideia de velocidade. Os artistas recorreram à repetição dos traços das figuras, buscando refletir o mesmo ritmo e espirito da sociedade industrial. Alguns pintores, preocupados com a interação entre as artes, buscam uma aproximação com a música e o teatro. Um exemplo é o pintor italiano Luigi Russolo (1885-1947) que criava instrumentos musicais e os utilizava em apresentações públicas.

(20)

20

Figura 2 - A rua entra na casa - Umberto Boccioni, 1911. Foto: Rodrigo Sampaio

Figura 3 - O cavaleiro vermelho - Carlo Carra, 1913. Foto: Rodrigo Sampaio

Figura 4 - Cão na coleira - Giacomo Balla, 1912. Foto: Rodrigo Sampaio

Ainda nas Artes Visuais podemos mencionar o cinema como um grande exemplo, ao falarmos do movimento, já que através deste temos a ilusão do movimento que chega até nós. De acordo com Arnheim (1960), o cinema possui duas propriedades básicas que o caracterizam:

(21)

21

reproduzir uma superfície bidimensional, com maior facilidade e reproduzir os movimentos e os acontecimentos com a mesma facilidade com que da forma aos objetos. A própria animação é um dos claros exemplos que temos, do estudo do movimento no cinema, desde os primeiros rabiscos em storyboard, até a produção digital. Busca-se uma sequência perfeita dos movimentos, sem quebras, o mais perto possível da realidade que conhecemos. Este mesmo princípio do storyboard, pode ser encontrado nos conhecidos flip books, sendo o princípio o mesmo: obter ilusão do movimento através de uma sequência de imagens, porém com um diferencial, pois este é feito em forma de livro.

Figura 5 – Storyboard de uma cena do filme Valente

(22)

22

Podemos falar do movimento também na arte cinética, que explora efeitos visuais por meio de movimentos físicos ou ilusão de óptica ou truques de posicionamento de peças. Artistas como, Marcel Duchamp (1887- 1968), Alexander Calder (1898 – 1976) e o natalense Abraham Palatnik (1928) são alguns dos exemplos deste movimento.

Figura 7- Discos espirais de rolamentos - Marcel Duchamp, 1923.

(23)

23

(24)

24

2.2 Cor, sensação e percepção

A luz é um elemento determinante para o aparecimento da cor. A cor tem sua existência condicionada pela matéria. Mas o fenômeno de percepção da cor, de acordo com Pedrosa (2009), é mais complexo que o da sensação. Se neste entram apenas os elementos físicos (luz) e fisiológico (olho), naquele entram, além dos elementos citados, os dados psicológicos que alteram substancialmente a qualidade do que se vê.

Antes de prosseguirmos, entendamos melhor o que é percepção e sensação:

• Percepção, de acordo com Arnheim (2014), é o ver e compreender. Ela realiza ao nível sensório o que no domínio do raciocínio se conhece como conhecimento.

• Sensações são sentimentos ou ativações de uma determinada função sensorial. Essa é uma experiência simples que pode ser vivida e produzida graças a um estímulo e que pode variar de intensidade e duração. A sensação é a capacidade de codificar certos aspectos da energia física e química que nos circundam, representando-os como impulsos nervosos capazes de serem compreendidos pelos neurônios, ou seja, é a recepção de estímulos do meio externo captado por algum dos nossos cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar.

Cada obra produzida apresenta estes três pontos, importantíssimos para uma compreensão do que vem a ser uma sensação sinestésica. São eles a cor, a sensação e a percepção.

Considero a cor como uma reação do que sinto após ter experienciado uma vivência corpóreo-vocal. Esta sinestesia que trato aqui vem a ser, em linguagem corrente, o cruzamento de sensações, neste caso, o cruzamento de dois dos nossos cinco sentidos. Abrindo um pequeno parêntese, vamos considerar aqui que a pessoa inserida nesta experiência seja portador de uma deficiência visual. E um das perguntas mais frequentes é de como essa pessoa consegue ver essas cores. Eu retiro minha resposta a partir de minha experiência como bolsista no projeto de extensão “O que os olhos não veem” coordenado pelo professor Jefferson Fernandes Alves, vice coordenador do Centro de Educação da UFRN.

O projeto tem por objetivo trabalhar a inclusão e acessibilidade no meio teatral, para isso foi montado um espetáculo em que todo o público vidente ou não vidente assiste a esse espetáculo vendado e por meio dos estímulos, sonoros, táteis e olfativos o público pode construir suas próprias imagens do espetáculo. O que nos garante que muitos deles iram sentir o cheiro ou o gosto de uma cor, seja ela qual for, em dados momentos, também podendo sentir a textura da cor e do movimento, tudo por meio dos estímulos. Claro que nesta pesquisa fiz tudo com o recurso da visão, porém estas são experiências importantes, que contribuem para a realização desta pesquisa.

(25)

25

Um exemplo que posso dar encontra-se no relato que faço das minhas produções como da

pintura que chamo Dentro de Mim, (figura 11).

Eu chamo essa leitura de “Dentro de Mim". Ao olhar aquela foto fui tomada por um sentimento tão maravilhoso, pela leveza e beleza que saltam à vista. A fotografia pegou o momento exato da cena. Dos seres que eu poderia imaginar naquele momento, o anjo foi o que me veio primeiro, sendo ele puro, nobre e belo que, com sua presença, nos faz amá-lo. Em sua face, a mais suave expressão. De sua boca, com uma leve sensualidade saía uma doce canção azul. Digo azul porque com essa cor sinto pureza e leveza que vem do coração, e fiquei azul pois fui tomada. Em seus lábios havia paixão, desejosa paixão vermelha que canta azul. Da raiz de seus cabelos um roxo/violeta me passava a sensação de que estava olhando o céu e mais além, o universo. Então, o roxo/violeta se esmaecia e tornava-se azul, lindas raízes azuis. Me tornava-senti presa a ela que me prendeu dentro de si e estava em uma fotografia. São sensações que um corpo emana e outro sente. (SILVA, 2016. Relato não publicado)

Fig. 10 - Mayra Montenegro. Foto: Rafael Passos Fig. 11- Dentro de Mim. Foto: Mayra Montenegro

No relato acima trato a sonoridade cantada como uma canção azul, em que o azul é raiz, energia e música. As cores dos lábios eram vermelhos, sedutores, desejosos, porém, Mayra cantava azul, mas o meu corpo, a minha mente, o meu ser só chegaram a este fim quando olhei

(26)

26

atentamente para a imagem que a representava; a expressão facial e a intenção que foi dada ao que se estava cantando me trouxeram as sensações azuis que vi e ouvi. A forma como percebo e retrato cada movimento depende também de quem o está realizando. A minha percepção predomina quando vejo de fato a intenção no que está sendo realizado, que não é só um corpo em movimento; é um corpo que informa para que veio através dos movimentos; porém, o que está fora deste corpo também influencia tais movimentos, os diversos sons produzidos, os outros corpos, o ambiente e como reajo a cada um deles.

A cor neste caso assume papel importantíssimo, pois estou falando de produções pictóricas e da experiência da minha relação com as cores e com o que vejo e sinto.

Kandinsky descreve a sua teoria da harmonia das cores como seis vibrações relacionadas entre azul, verde, amarelo, laranja, vermelho e violeta,

divididas em dois grupos: cores quentes e cores frias. Por sua vez, as qualidades dinâmicas do movimento do dançarino, para Laban, são seis: leveza e peso (esforço), cortado ou sustentado (tempo), focado ou difuso (espaço) – temporalidade, espacialidade e esforço. A estes, Laban adicionou outro fator: fluência, assim como Kandinsky acrescentou o branco (grávido de todas as possibilidades) e o preto (morte) às suas cores ( KATZ apud MOMMENSOHN e PETRELLA, 2006, p.57).

Neste ponto podemos encontrar na teoria da harmonia das cores de Kandinsky e as qualidades dinâmicas do movimento de Laban (1978) uma explicação a relação que faço com as cores que vejo como corpo/movimento e sensação/cor.

Seguindo pelo campo psicológico, busquei na psicologia das cores explicações para o uso e preferência por certas cores. A psicologia das cores apresenta e explica a relação das cores mais agradáveis ao homem, aquelas menos agradáveis, o que essas cores representam para cada cultura e de uma forma geral para o homem. Explicando melhor, as cores podem nos provocar várias reações desde alegria até mesmo um profundo mal-estar.

Estas são algumas das cores que, conforme Heller (2013), nos servem como exemplo:  Azul: cor da simpatia, da harmonia e da fidelidade, apesar de ser fria e distante. A cor

feminina e das virtudes intelectuais

 Vermelho: a cor de todas as paixões – do amor ao ódio.

(27)

27

 Verde: a cor da fertilidade, da esperança e da burguesia.

Vale lembrar que tais referências podem variar de uma cultura para outra, considerando também que esta pesquisa foi feita com base no livro A psicologia das Cores de Eva Heller (2013) sobre uma pesquisa que ela realizou na Alemanha. Por outro lado, busquei uma visão espiritual voltada para as cores dos chakras. Estas cores agem como um meio de terapia. Praticada por chineses, gregos, hindus e egípcios séculos antes de cristo, a pratica é conhecida como cromoterapia e trabalha a conecção das cores, o espirito, o divino e a terra. A cromoterapia trabalha com a aplicação das vibraçõe,s suprindo a ausência ou corrigindo o excesso de energia no organismo. As vibrações não podem ser vistas, porém estão presentes no nosso cotidiano, como por exemplo em certos alimentos naturais, fontes benéficas e poderosas no balanço dos chakras, pois estes alimentos alimentam a cor (energia) dos chakras.

● Chakras

Figura 12 - Mapa dos chakras no corpo.

Os chakras são centros de fluxo energético no corpo humano e para cada um há uma cor correspondente (FORNARI, 2016). Cores essas que agem como pontos de energia que se expressão no corpo. São sete os chakras presentes no corpo humano e são eles:

• Chakra Coronário: localizado no topo da cabeça, tem correlação física ligada à glândula pineal (epífise) com cor violeta, branco-fluorescente ou dourado é o chakra por onde penetra a energia cósmica.

• Chakra Frontal: localizado na fronte, tem correlação física ligado à glândula hipófise

(pituitária) com cor índigo, branco-azulado, amarelo ou esverdeado é o chakra responsável pela energização dos olhos e do nariz.

• Chakra Laríngeo: localizado na garganta, tem correlação física ligado à glândula tireoide (e paratireoides), com cor azul-celeste, lilás, branco prateado ou rosa é o chakra responsável pela expressão criativa (comunicação) do ser humano no mundo.

(28)

28

• Chakra Cardíaco: localizado no centro do peito, tem correlação física ligado à glândula timo, com cor verde e amarelo-ouro é o chakra mais afetado pelo desequilíbrio emocional.

• Chakra Umbilical: localizado cerca de 1 cm acima do umbigo, tem correlação física ligado ao pâncreas, com cor amarelo, verde-forte e vermelho é considerado o chakra das emoções

inferiores.

• Chakra Sacro: localizado no baixo ventre, tem correlação física ligado aos testículos (homem ou ovários (mulher), com cor laranja, roxo ou vermelho (dependendo das circunstâncias) é o chakra da troca sexual e da alegria.

• Chakra Básico: localizado na base da coluna, tem correlação física ligado às glândulas suprarrenais, com cor vermelhão é responsável pela absorção da kundalini (energia telúrica) e pelo estímulo direto da energia no corpo e na circulação do sangue.

Figura 13 - Nomes, cores e símbolos referentes a cada chakra.

Esses são pontos de vista apresentados tanto pela ciência, como pela religião. Nesta pesquisa não os tomarei como padrão absoluto, pois, considerando a particularidade de cada ser humano, em perceber e sentir as coisas a sua volta, apresento nesta pesquisa como sinto as cores, e que em determinados momentos iram divergir dos estudos apresentados sobre as cores na psicologia e nos chakras.

(29)

29

3. Criação e experiências 3.1 Pintando Sensações

"Escuto o perfume dos rios. Sei que a voz das águas tem sotaque azul" (BARROS, 1998).

Em meus relatos em diário de bordo das aulas de Expressão Vocal II, lembro-me das canções que cantávamos para entrarmos no portal. O portal é uma prática didática que a professora Mayra Montenegro usa em suas aulas, mais especificamente nas aulas que tratam do ritual das letras, ritual das palavras. Por ele, chegávamos a um outro lugar em que tudo era novo, diferente, belo. Dançávamos e cantávamos para criar uma conexão com outro espaço e os movimentos fluíam. Quando passei para a produção pictórica, percebi que meu corpo ainda dançava, cantava, falava, que eu abria o mesmo portal para chegar a um outro lugar, também tomado de sensações.

Saindo da expressão corporal, viajo na expressão visual. Quando chamo este tópico de pintadas sensações, quero dizer que o papel agora é meu palco, vazio, sem limites, no qual minhas mãos irão bailar sobre ele. Veja que para este processo acontecer eu irei acessar as memorias do meu corpo pois este passou por experiências e as tem guardadas, porém devo dizer que o ponto mais complicado de passar para o papel, foi quando somente as minhas mãos tinham a função de expressar todo o trabalho do meu corpo. A solução encontrada neste caso foi algo que sabia. Se eu sei que o movimento do meu corpo seguiu caminhos ondulados e que em certos pontos deste mesmo corpo eu sentia sensações diferentes, eu reproduzia com as mãos estes movimentos e as sensações eram cores ou pontos de cores mais intensos. Parando para pensar, o processo é quase o mesmo quando estou como expectadora, com exceção, é claro, dos pontos de sensação que neste caso terão que ser os meus enquanto aquele que observa os corpos em movimento.

As sensações são as cores, aquelas que percorriam todo meu corpo ou o corpo do outro. Optei por utilizar em primeiro momento, como material de pintura a tinta aquarela, por considerar que alcançaria meus objetivos de algo mais fluido, suave, leve. No entanto, me deparei em dados momentos em que o instrumento de pintura mais próximo era bastões de pastel oleoso e com formato de papel A4, a metade do formato já usado inicialmente em outras

(30)

30

pinturas que foi o A3. A questão era, às vezes, o porquê não esperar até ter acesso aos mesmos materiais. Esta questão era logo respondida: havia dados momentos em que a imagem se dava tão rápido, forte e expressiva, que minha primeira reação era deixá-la gravada no papel, como um congelamento no momento exato da fotografia. Daí que o material que estivesse ao meu alcance seria o utilizado.

Cada obra foi produzida ao som de Enya, cantora, instrumentista e compositora irlandesa da qual sou apreciadora. Suas músicas me ajudavam a entrar em um estado de concentração que me permitia voltar, sensorialmente falando, ao momento da vivência. Porém, somente a parte pictórica era produzida sob o som de Enya, pois o trabalho inicial com o corpo/voz era feito ao som das músicas que a professora Mayra nos trazia.

As primeiras fotografias de que fiz uma leitura foram as das figuras 10 e 11 em que foram fotografadas as alunas do Curso de Licenciatura em Teatro da UFRN, Salésia Paulino e Roberta Alves. Nesta aula, trabalhamos o ritual das letras que se dava da seguinte forma: após cantarmos e dançarmos como parte inicial do ritual, nos deparamos com diversas letras espalhadas pelo chão e, como parte do processo, aquelas letras eram novas para cada pessoa. No círculo que fizemos para a realização inicial do ritual, podíamos escolher uma das letras para experimentá-la e neste experimento o som produzido era referente a algo que não conhecíamos, como alguém que estava aprendendo a pronunciar. Os movimentos neste caso correspondiam à sonoridade que o corpo emitia.

Houve também momentos em que não utilizei fotografias. Embora a proposta inicial tenha sido esta, comecei a ver que, com o uso da fotografia, mesmo sendo ela o congelamento dos movimentos, eu ficava muito presa àquela imagem e, por vezes, deixava de expressar coisas que senti, mas que na fotografia não apareciam, algo bem mais profundo. Passei então a pintar somente a partir das sensações sinestésicas, do que vi, senti e experiênciei. Porém, antes de entrar nesta nova experiência, ainda produzi quatro diferentes pinturas com base na fotografia que são as figuras 17, 22, 24 e 26.

(31)

31

3.2. Como sinto

Não quero a boa razão das coisas. Quero o feitiço das palavras (BARROS, 1998).

Este tópico é uma viagem pelo meu corpo e como entendo como tudo começou. Estarei esmiuçando a seguir como aconteceu parte do processo de criação.

A magia se dá quando imagino o meu corpo em cena, sensações incomparáveis. São como microrraios de energia que tomam conta de meu corpo e este é apenas o imaginar.

Saindo do campo da imaginação estes microrraios se tornam movimento corpóreo-vocais expressivos. Horas sou pássaro, horas fada, ninfa, horas sou eu neste corpo dançando na água, na chuva, no mar. Perco a forma e a desforma, sou uma cor e às vezes milhares de cores.

Não saberia usar outras palavras para falar de algo tão profundo, mas contarei a seguir uma das últimas experiências vivenciadas no período de 2017.1 no Palavrar, evento criado para a apresentação de leituras dramáticas no Departamento de Artes da UFRN, do Curso de Licenciatura em Teatro.

Bruxa contra o Inquisidor: a minha sensação sempre que entrava em cena, eu que fiz a bruxa Lília, era a de que sempre havia vento no local e uma névoa (que a sensação da cor me fazia sentir, sensação de cor vermelhar de tonalidade escura) assustadora; claro que a sonoplastia e a iluminação ajudaram muito (considero como meios externos que nos ajudam também com a imaginação). Uma cena em especial jamais esquecerei: a cena da bruxa contra o inquisidor que era um bate-volta de palavras e gestos carregados de imagens e sensações. Na cena, uma energia violeta (em meu corpo essa cor tem grande força e aparece sempre que externalizo muita energia) saia do meu corpo passando por todos os meus membros, minhas mãos e pés tinham o maior fluxo. A última parte da cena foi a melhor: estava à bruxa em pé com o corpo curvado, o braço direito reto e apontando em direção ao inquisidor que se encontrava no chão a gemer de dor e medo, as pernas da bruxa estavam flexionadas e firmes no chão; tanto dos pés como das mãos saiam fluxos de energia. Esses fluxos nasciam a partir da posição corporal e bem mais, além de seu coração, ventava forte e ela (a bruxa) era forte e rígida e parecia grande. A maldição não eram só palavras. Eu que assumi o corpo da bruxa em cena senti que este corpo perdia a forma, minhas palavras tomavam formas e cores em meu próprio

(32)

32

corpo e que eram lançadas em direção àquela criatura de cor avermelhada e nauseante atirada ao chão e, quando pronunciei as últimas palavras, o vento cessou, o inquisidor caiu e a bruxa ficou

escura e sumiu.

Fig. 14 - Bruxa Lilia. Foto: Tudo amostra.

Foi desta forma que vivi essa cena e cada vez que lembro meu corpo e minha mente acessam e ativam pontos sinestésicos que por um momento posso senti-los agir novamente neste corpo, porém de forma bem mais reduzida, pois agora são lembranças e memórias.

Como diria Manoel de Barros (1998), acho que a gente deveria dar mais espaço para esse tipo de saber. O saber que tem força de fontes.

Todo este processo é sinestésico, cada imagem surgiu pela sensação sinestésica de um cheiro, de uma textura, um gosto, uma visão.

Ao escutar e produzir o som, meu corpo era levado para um outro estado. Esse estado do qual estou falando é a forma, a cor que este corpo assumia, por um momento ondulado, por outro azul e aí eu senti água e via água, não só em mim, mais em outros corpos também. Era tão belo ouvir a cor da voz, sentir o cheiro dos movimentos! Era maravilhoso ver as imagens

(33)

33

surgirem cantando e dançando pelo espaço. Por vezes, não assumiam forma, mas dava para ver as cores.

As cores em si assumiram um papel de estrema importância nesta pesquisa. No tópico 2.2 busco falar das cores na psicologia das cores e nos chakras, porém o que mais importa nesta pesquisa é de como essas cores são para mim, pois a minha relação com cada cor é o que influência em minhas pinturas. Não desconsidero o que já foi dito com relação a estes estudos porém, como a própria psicologia das cores aponta, cada ser tem uma relação com cada cor, são reações que o nosso cor tem em contato com cada uma delas. Nos chakras cores específicas representam os pontos energéticos no corpo em mim as cores aparecem nas energias liberadas através dos movimentos, em diferentes escalas de intensidade. Por exemplo: a minha relação coma cor vermelha influenciará somente quando a tonalidade vista ou percebida no outro for muito vibrante (pois certas tonalidades de vermelho me deixam com estrema dor de cabeça e me causam mal estar) claro que não é sempre que isto acontece, porém posso dizer que esta cor não me é agradável e por está razão sempre que pinto usando esta cor e neste sentido as tonalidades que para mim são menos agradáveis, as figuras representadas são em sua grande maioria expressas de forma mais forte (com um certo desagrado, dor incomodo).

(34)

34

4. Para além do movimento

O início da voz tem formato de sol (BARROS, 1998).

Falo a todo momento no decorrer deste texto sobre o movimento. O movimento na dança, no teatro, nas artes visuais, um movimento enquanto matéria, que se manifesta em um objeto. Este movimento é retratado aqui, porém um outro da mesma origem tem maior importância nesta pesquisa. É o movimento que percebo, vejo, sinto além da forma da qual ele se manifesta. Vejo um corpo bailar pelo espaço, ele dá piruetas, os braços se abrem, as mãos seguem o movimento do mar. Este corpo baila pelo ar, suas piruetas são o bailar de pássaros que batem as asas suavemente por sobre o mar. A voz vibra e perfura o ar, faz uma curva ali e depois volta. O além do movimento que trato nesta pesquisa é o que chamo de Espectrodrama meu ver o movimento e tudo que está por trás e dentro dele. São sentimentos, sensações, emoções, forças presentes em um corpo expressivo. Me agarrando ao termo e propriamente às sensações, trago o Espectrodrama como estas mesmas sensações que tomam o meu imaginário e lá fazem morada. O lado mais colorido e cheio de formas das imagens, o lado que para muitos é o da imaginação e que posso dizer que imaginar somente não basta. Este além do movimento está para além do imaginar. Quando falo de pássaros voando, ninfas dançando, o movimento azul da voz, não estou dizendo que somente minha imaginação viu isso, estou dizendo que de fato meus olhos viram a energia daquele que eu observava e mesmo falando da minha própria energia. Não é algo superficial; é algo que tem cheiro, textura, algo que comumente não teria forma. Claro que devo considerar que não busquei o movimento pelo movimento, busquei a intenção deste no corpo expressivo, tanto voz como corpo. Afinal, os dois andam juntos.

Tudo começou pelo rastro que foi deixado. Opa! O pássaro passou, mas o que é aquilo que ele deixou solto no ar? Que espectro belo é aquele que consigo ver? O espectro foi o que ficou para além do movimento, a cor, a sensação, foi ele, o rastro que segui para produzir toda esta pesquisa. E começou assim. E o drama? O drama está no corpo destes seres que deixaram estes rastros. Em um todo, são Espectrodramas todas as obras aqui apresentadas.

Uma fotografia era o que eu tinha diante de mim, o congelamento de um importante momento, mas espere tem algo mais. E belas ramificações azuis saíram de sua boca, era uma canção e era azul. No topo de sua cabeça este azul se tornava um roxo/violeta tão suave e forte que a deixavam leve. Está foi a obra Dentro de Mim (figura 11) já apresentada e descrita no

(35)

35

início deste documento, e foi o espectro ainda presente naquela fotografia que me apareceu naquele momento que me impulsionou a realizar a pesquisa.

Primeira aula de expressão vocal II: entramos em um portal, mas para chegarmos ao nosso destino fizemos uma dança de abertura que serve como chave do portal. No início era difícil fazer, o meu corpo não estava se conectando, eu não estava sentindo e, aí, começamos a cantar e o som daquela canção reverberou dentro de mim como quando jogamos uma pedra na água e, aí, já não éramos nós e nem o nosso ou o mesmo lugar. Entramos em um lindo bosque encantado, seres que vi e ouvi eram ninfas, faunos, elfos e fadas que cantavam e expressavam com a voz e o corpo a sensação daquele momento e havia uma ninfa que conduzia o encantamento com sua voz e outros com seus movimentos. Senti como se tivesse encantada e tivesse sido encantada por estes corpos e, como um adeus final, a ninfa condutora cantou sua última canção e todos os seres em um grande círculo no meio do bosque voltaram a cantar e a dançar a chave do portal. Neste momento, meu corpo sentiu e reverberou uma doce sensação. Cores saíam de mim. Era como água fresca, era alegre e encantador. Eles todos estavam banhados por essa água e emanavam cores alegres e me faziam feliz. E voltamos. Nesta aula fizemos sons a partir de palavras que a professora nos deu e depois interagíamos com o outro, isso tudo com a voz e o corpo. Foi lindo!

Estes foram os primeiros Espectrodramas que apareceram em aula. Não produzi nenhuma obra com relação a eles, embora seja um dos momentos que se encontrem mais vivos.

Três das nossas primeiras aulas foram como rituais. Os próximos dois relatos a seguir correspondem ao ritual das letras e ao ritual das palavras. As obras apresentadas foram as primeiras a serem produzidas ainda com o auxílio da fotografia. Neste caso, elas foram produzidas tanto com o movimento corporal como também com o que vinha além do movimento, ou seja, o que chamo de Espectrodrama.

Ritual das Letras:

Dançamos para entrar no portal e cantamos " Memória viva guarani: Oreru nhamandú tupã oreru". Ao entramos no portal nos deparamos com letras que para nós eram novas e tínhamos que as falar como se nunca o tivéssemos feito. Eu vi a letra V e assim a pronunciei: ''Viiie''. Como um chiado e quando notei era um vulcão, um pequeno vulcão que aos poucos ia

(36)

36

crescendo dentro de mim, senti que tomou conta do meu ser e, quando em interação com outras letras, encontrei o A senti que ele me completou o que me faltava, tirou de mim o ser bruto ou acalmou este ser e com uma bela dor, leve e suave, o ser bruto tomou dimensões maiores e comecei a achar outra forma de pronunciá-la, como se saísse de mim paixões, seduções, algo a que minha voz e meu corpo reagiram em igual proporção. Encontrei o O e o L. O ser O me fazia rir e era safado e o L me seduziu ao ponto de que eu mesma o queria seduzir pois tomei um pouco dele para mim e senti o meu olhar que parecia fora de mim. Eu era o que cantava, eu era o eco de mim mesma, eu era um rio. Para um belo final, cantamos e dançamos para sair do portal e voltamos. Foi um belo momento. Ligando teoria à prática nestas aulas fica claro a relação entre o movimento do corpo com o movimento da voz, afinal voz e corpo são a mesma coisa, quando falamos das qualidades dinâmicas estamos utilizando estas para indicar uma mudança entre os quatro fatores de movimento, peso, espaço, tempo e fluência, associando estas qualidades dinâmicas a os parâmetros do som sendo estes à altura, intensidade, duração e timbre. O que busquei em cada Espectrodrama, foi justamente as dinâmicas do movimento que foram apresentadas no corpo expressivo de cada aluno. A experiência em sala de aula nos permitia brincar com isso, entre rápido/lento, forte/fraco, pequeno/grande, agudo/grave, lento/rápido, curto/longo a voz e o corpo deixava rastros coloridos e formas maravilhosas pelo espaço.

(37)

37

Figura 15 - Salesia Paulino. Foto: Mayra Montenegro

(38)

38

Figura 17 - Ritual das Letras: Elas. Aquarela. Foto: Lila Gomes

O corpo dela irradiava faíscas, de sua mão um

encantamento verde/azul e o seu corpo contagiava. Ela era pura faísca, o sopro que saia de sua boca em direção da mão era rosa como sonho e ouvindo o som que saia de sua boca suas mãos irradiavam verde/azul.

Terra feminilidade, leve sedutora a força vinda da terra, a energia nasce dos pés e subia como fogo saindo pelas costas e cabelos. A terra a deixava feroz, mas de seu corpo

emanava tanto a força feroz como uma bela e leve sensualidade. Suas belas cores de magenta e verde a tornavam assim.

(39)

39

Figura 18 - Esboço 1. Foto: Lila Gomes

(40)

40

Figura 20 - Esboço 2. Foto: Lila Gomes

Fiz um pequeno esboço do que vi e senti nas imagens 18, 19 e 20, usando como referência a fotografia. Por ter vivido e também visto o processo no corpo do outro, os espectros me eram muito vivos e claros; eu só respondia a cada um deles com as pinceladas sobre o papel. Utilizei materiais como papel no formato A3 para aquarela, tinta aquarela, pincel (usei somente um, pois era o que tinha na ocasião), lápis grafite. Para os estudos e esboços, um caderno comum com folhas sem pauta brancas.

A figura da esquerda (figura 12), tinha uma conexão com a terra, energia conseguida da terra passava pelas pernas e subia até os braços e mãos por onde saíam faíscas com cores azuis, violetas e magenta. Ela era verde e marrom e somente suas energias internas que estavam sendo postas para fora em direção a outro corpo eram azuis, violeta e magenta. Era forte e penetrante. A figura da direita também tinha sua força e energia conseguidas pela terra, embora esta fosse suave, mas forte e toda esta força era transmitida para a coluna e braços, de onde subiam um magenta esfumado. Criatura forte que com sutileza atrai outros para si.

No fundo branco serão encontrados, não só nesta obra como em todas as outras feitas em aquarela, gotejamentos em azul e magenta que particularmente são, para mim, a expansão final do espectro neste meu além do movimento. Porém só me foi conseguido perceber todos os sentidos que busquei expressão nas pinturas, porque estava claro, para mim, as qualidades

(41)

41

dinâmicas no corpo do ator, em cada expressão que ficava clara no corpo em sentido completo (voz, face, membros).

Ainda sobre o ritual das letras, outra obra que produzi foi também referente a uma fotografia e os movimentos expressivos foram também realizados na mesma aula descrita acima.

(42)

42

Figura 22 - Ritual das Letras: Tamanho ser. Aquarela. Foto: Lila Gomes.

Eu era um vulcão, havia fogo em meus braços e nos meus dedos e eles expeliam fogo. No meu corpo o fogo que estava nos ombros e braços descia, escorria para atingir todo corpo e queimá-lo e o cabelo, o cabelo era fumaça quente, ardente, eu era um vulcão.

Ele... ele era uma energia triste sugadora. Toda a energia que saia dele o puxava para baixo, era como se ele derretesse sem perder a forma. Era estranho que tamanha criatura triste me fizesse sentir feliz, forte.

(43)

43

Figura 23 - Esboço 4. Foto: Lila Gomes

Ele tinha uma cor verde bem difícil por ser de várias tonalidades. Aí, tive que esmaecer várias vezes até alcançar a tonalidade que queria para os braços, que era diferente da tonalidade dos ombros e da cabeça, até que cheguei ao que queria. Um verde escorrido, um corpo escorrido, porém sem perder a forma. Ela não foi muito complicada jogar as cores, porém colocar no papel este ser que era vulcão não foi tão simples por que não era algo somente rígido, nem tão somente algo fluido; era os dois,. Então, mantive a forma bem clara e espirrei a tinta em pontos de liberação de energia como os dedos e, nos braços, deixei que a lava escorresse. No cabelo, a intenção era mesmo fazer com que parecesse fumaça densa, amarelo acinzelado, que ia sumindo com pequenos gotejamentos.

Para o processo de criação desta obra também utilizei papel para aquarela no formato A3, pincel, tinta aquarela, lápis grafite, e um caderno para fazer os esboços e o estudo de cor.

Ritual das Palavras:

"En una palangana vieja, sembré violtas para ti. En una palangana vieja, sembré violtas para ti.

(44)

44

I estando cerca del rio, en un caracol vacio, en un caracol vacio, cogí un lucero para ti.

A las cosas que son feas, ponles un poco de amor. A las cosas que son feas, panles un poco de amor. Y veras que la tristeza, y veras que la tristeza. Y veras que la tristeza va cambiando de color."

Essa é a letra da canção que, para abrir o portal na aula deste dia, cantamos e dançamos. Quando entramos no portal, havia uma palavra fora do círculo, uma palavra para cada um e eram várias. Virei e olhei, voar era a palavra, então voei. Dentro de mim uma leveza maravilhosa e eu podia voar sem asas. Vvvvaarrr! Era assim que eu dizia e isso era o impulso que meu corpo precisava. Aí encontrei outra palavra e ela sugou uma energia de mim era como se cortasse minhas asas, todo meu suspiro foi sugado, sugado em um momento. Ele era assim, sua presença era assim, sugadora; era como se derretesse mas sem perder a forma e eu fugi dele e encontrei um ser que não consegui identificar e dançamos no ar juntos, ele compartilhava energias, encontrei outra palavra deitar e ai senti como se a minha voz fosse o mecanismo de impulso para o meu corpo e me arrastei buscando onde deitar e minha voz era assim, d...taaarrr, como um sussurro e era como se eu pedisse ajuda para isso, sem minhas energias, fraca e diretamente indo para o chão.

Em um momento, tínhamos que falar frases e, nesse ponto, perssegui e encontrei a vou uma jovem. Eu queria pegá-la, mas quando estava quase lá, ela parou de fugir e acalmou o meu voar e cantou para mim e eu dormi, dormi e ela dormiu junto. Isso só foi possível porque não havia deixado sumir de mim a primeira palavra que assumi e então, em conjunto com está nova, pude voar e deitar. No final, tínhamos que voltar e cantamos e dançamos para sair do portal. E voltamos. Apesar de aparecer nesta sequência, esta obra só foi produzida um tempo depois quando eu já estava na fase do pastel oleoso, em que voltei e produzir essa e outra obra em aquarela.

(45)

45

Figura 24 - Ritual das Palavras: Um ser que fita. Aquarela. Foto: Lila Gomes

Um ser que fita. A energia dela era liberada pelas mãos e rosto (boca e olhos), uma energia azul/violeta do rosto laça o olha dele e as mãos liberaram energias que penetraram suavemente na pele dele.

Um ser que fita. A energia dele estava nos braços e mãos e ela penetrava ao tocar em algo. O olhar liberava uma energia perdida que circulava o próprio rosto. Um ser que se fita.

(46)

46

Figura 25 - Esboço 5. Foto: Lila Gomes

O processo desta obra foi um dos mais gostosos de experienciar, pois era muito suave, muito leve. O espectro passeava entre eles e a conexão era perfeita, as cores fluíam por si sós, apesar de serem opostos se considerarmos que ela era bem mais um ser da água e ele um ser da terra, a meu ver foi o que deixou para mim no congelamento da fotografia a melhor parte pois brinquei com esses fios de energia saída dela e o enlaçar dela nele.

Outra obra produzida no ritual das palavras foi e a da figura 21. Esta também foi a última obra que fiz em aquarela e do mesmo formato e com os mesmos materiais que as três primeiras acima já apresentadas. Infelizmente não consegui encontrar as fotografias referentes a esta obra.

(47)

47

Fig. 26 - Ritual das Palavras: Estranho olhar. Aquarela. Foto: Lila Gomes.

Estranho olhar. A energia saia das mãos dela e era algo forte, como se toda a força e energia dela saísse das outras áreas do corpo e se concentrasse nas mãos, passando pelos braços. Sua coluna vertebral era fogo, uma linha de fogo e ela olhava estranho olhar.

Verde, azul, amarelo, uma saída de azul para verde. A energia dele era como uma aura, era gostosa e alegre e ele era ou aparentava ser bom ser. O corpo dele era um amarelo tão fraco ou suave com rosa suave ou fraco! ele olhava estranho olhar.

(48)

48

Fig. 27 - Esboço 6. Foto: Lila Gomes

Tão gostoso quanto escrever sobre ela foi produzi-la. Tão leve, não só pelas posições corporais vistas nas fotografias, mas também pelo espectro presente e deixado nela. Um fato interessante nesta obra é que as fotografias não correspondem a esta imagem no geral. Ao avaliar cada fotografia e pensando em qual iria utilizar, desta vez me deparei com essas duas figuras que são cenas diferentes em um mesmo espaço e tempo, mas que não tiveram relação entre personagens. Diferente por exemplo das imagens 10 e 11 em que ambas, embora estejam sendo apresentadas em fotografias diferentes, estavam em cena interagindo uma com a outra. Aqui eu resolvi não fazer desta forma por que, apesar da não interação ao observar bem as imagens, tanto a posição como até mesmo as energias eram semelhantes e isso foi para mim o suficiente e o ponto chave para esta obra. Precisei apenas ajustar posições e tudo ficou estranho olhar.

Essas foram as quatro primeiras obras em aquarela (figuras 12, 17, 19, 21) a serem produzidas e somente estas foram com auxílio da fotografia. Produzi ainda outras duas obras em aquarela que me servem como relato de uma das vivencias no grupo A Luz é como a água, coordenado pela mestranda em Artes Cênicas Hianna Camilla e pela professora Mayra Montenegro, vinculado ao projeto de extensão O que os Olhos não veem. Estas obras, que

(49)

49

Figura 28 - Grifo 1. Aquarela sobre papel. Foto: Lila Gomes

Estávamos parados em um espaço. Meus olhos vendados agora viam outras cores. Suas pernas são fortes, diziam. Delas, vi sair raízes tão fortes e profundas que iam além Deart. As raízes subiam até quase meus seios, me vestiam. Nas minhas mãos, cachoeiras escorriam dos meus dedos e meus braços eram asas com aspecto de água forte e leve. No centro de minha testa, como um terceiro olho, raios saiam de mim. Raios violeta fortes. Eu estava dentro do mar, mergulhando bem fundo, andando bem lento e o meu corpo era água. Era um grifo da água, criatura estranha, coisa igual nunca havia sentido. E voltei.

(50)

50

Figura 29 - Grifo 2. Aquarela sobre papel. Foto: Lila Gomes

Estava eu mergulhando bem fundo, estava eu tão entregue que meu corpo tinha aspecto de água. Raízes que dos pés subiam até os quadris me mantinham firme e presa ao chão no fundo do mar. Fui tão tomada pela água que logo meus cabelos já eram algas, porém azuis e subiam, subiam e bolhas saiam de mim. Como saio daqui? Pensei: não sei... e respirando fundo voltei.

(51)

51

Estas duas obras marcam uma pequena pausa que dei nas produções em aquarela, que só retornam algum tempo depois em uma outra obra de que falarei um pouco mais adiante.

Entro agora na fase das obras que foram produzidas não só sem o recurso da fotografia, mas também que foram produzidas com pastel oleoso. Neste caso, precisei acessar várias vezes exercícios, vivências e experiências para poder produzi-las, embora o Espectrodrama que fica além do movimento é muito vivo e foi de verdade o que mais me ajudou. A base para as novas pinturas deixa de ser a fotografia e passa a ser o meu sentido sinestésico.

Quando a professora Mayra Montenegro passo o exercício que deu origem a estas imagens, figuras 28 e 29, o exercício em si era muito semelhante a os das aulas de expressão vocal. A voz era o impulso interno que movia o corpo. Devo dizer que foi a partir daí que passei a ver melhor essas imagens de que tanto falo, esses rastros que chamo de Espectrodrama, depois que passei a registra-los de imediato, Salles, 2014, p.27 nos falar da função dos documentos de processos, nos diz que a função destes é a de registro de experimentação, deixando transparecer a natureza indutiva da criação. Todo este processo para acontecer precisou antes de um registro, o que em si já é o processo de criação e, os levantamentos enquanto reflexão feitos a partir destas imagens, foram mais que primordiais para que outras imagens fossem produzidas.

(52)

52

Figura 30 - Dança das Ninfas. Pastel oleoso sobre papel. Foto: Lila Gomes

Vejo sem ver, sinto, danço com você. Sobre água duas ninfas. O que as une são conexões, são cores, aquelas deixadas pelos seus espectros, momentos ou segundos atrás.

Referências

Documentos relacionados

Para isso, a aprendizagem de uma língua, segundo a abor- dagem sociointeracional, envolve a construção de três tipos de conhecimento: conhecimento do sistema linguístico

1- O tempo do combate será de 1 minuto e meio para a categoria infantil e juvenil, e 2 minutos para as categorias acima, será descontado o tempo somente nos casos em que o árbitro

Diante disso, essa dissertação teve a finalidade de apresentar o estado-da-arte dos processos de detoxificação do éster de forbol da torta da semente de pinhão manso, pois a

Aqui está presente o entendimento de Guattari (1987) ao conceituar a interpretação como algo ao nível da ruptura, operando diretamente no coeficiente de transversalidade,

O estudo da polifarmácia em idosos evidencia a preocupação com o uso desnecessário de medicamentos, como também induz a pensar em atitudes a serem tomadas

Fatores de movimento são componentes que foram identificados por Laban como FLUÊNCIA, ESPAÇO, PESO e TEMPO, ao observar as atitudes corporais na experiência do movimento.. Como

Em segundo lugar, porque os riscos para a democracia - gerados por um uso indiscriminado dos recursos de inteligência em áreas de políticas públicas não diretamente relacionadas com