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Ciclos sistêmicos e revoluções tecnológicas: uma exploração da sinergia teórica de Giovanni Arrighi e Carlota Perez

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Academic year: 2021

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CENTRO SOCIOECONÔMICO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

STELLA LORELAY CURTI KEMMER

CICLOS SISTÊMICOS E REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS: UMA EXPLORAÇÃO

DA SINERGIA TEÓRICA DE GIOVANNI ARRIGHI E CARLOTA PEREZ

Florianópolis 2019

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STELLA LORELAY CURTI KEMMER

CICLOS SISTÊMICOS E REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS: UMA EXPLORAÇÃO

DA SINERGIA TEÓRICA DE GIOVANNI ARRIGHI E CARLOTA PEREZ

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Ciências Econômicas Centro de Sócioeconômico da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em 2019.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Arend

Florianópolis 2019

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Kemmer, Stella

CICLOS SISTÊMICOS E REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS : UMA EXPLORAÇÃO DA SINERGIA TEÓRICA DE GIOVANNI ARRIGHI E CARLOTA PEREZ / Stella Kemmer ; orientador, Marcelo Arend, 2019.

68 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Sócio

Econômico, Graduação em Ciências Econômicas,

Florianópolis, 2019.

Inclui referências.

1. Ciências Econômicas. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Revoluções Tecnológicas. 4. Ciclos Sistêmicos de Acumulação. I. Arend, Marcelo. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Graduação em Ciências Econômicas. III. Título.

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STELLA LORELAY CURTI KEMMER

CICLOS SISTÊMICOS E REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS: UMA EXPLORAÇÃO

DA SINERGIA TEÓRICA DE GIOVANNI ARRIGHI E CARLOTA PEREZ

Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de Bacharel e aprovado em sua forma final pelo Curso de Ciências Econômicas.

Florianópolis, 02 de Dezembro de 2019.

Banca Examinadora:

________________________ Prof. Dr. Marcelo Arend

Orientador(a)

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Prof. Dr. Helton Ricardo Ouriques

Avaliador

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________ Andrey Hamilka Ipiranga

Avaliador

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Dedico este trabalho à minha mãe e minha irmã, que são meus pilares e minhas maiores inspirações.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha mãe e minha irmã por todos os anos cuidando de mim e me educando, e por terem me ensinado todos os valores que me guiam na vida.

Preciso agradecer os meus amigos, que nunca deixaram o meu lado. Eu não seria nada sem eles.

Agradeço o pessoal que trabalha comigo pela força e compreensão nessa etapa, porque me aguentar não deve ter sido nada fácil.

E um agradecimento especial ao meu orientador Dr. Marcelo Arend, por ter sido um dos melhores professores que tive na universidade e um orientador melhor do que eu merecia.

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Uma mudança sempre deixa o caminho aberto para uma nova mudança. Niccolò Machiavelli

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo geral analisar os principais conceitos dos economistas Giovanni Arrighi e Carlota Perez. Com isso, o referencial teórico do trabalho tem como base as obras O Longo Século XX, de Arrighi, e os artigos de Perez no tema de desenvolvimento econômico. São discutidos os conceitos de desenvolvimento econômico, revoluções tecnológicas e ciclos sistêmicos de acumulação, dando atenção especial à cada uma das fases de cada ciclo e revolução. Em seguida há a discussão e tentativa de uma agregação do arcabouço teórico disponibilizado pelos dois autores, buscando fazer uma contribuição ao tema, isto é, a perspectiva sistêmica da economia política do Sistema-Mundo e as revoluções tecnológicas de Perez. Dá-se também atenção para as “janelas de oportunidades” de desenvolvimento, dadas como possíveis no arcabouço teórico das revoluções tecnológicas. Vira-se o olhar para a realidade econômica do Brasil e constatando que, em sua situação de nação semiperiférica, o país não se mostra pronto para adentrar as próximas “janelas de oportunidades”. Conclui-se que a sinergia entre as obras de Perez e Arrighi é relevante e encontrada mesmo tratando-se de perspectivas diferentes.

Palavras-chave: Desenvolvimento econômico. Ciclos sistêmicos de acumulação. Revoluções

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ABSTRACT

This paper aims to analyze the most important theoretical concepts of the economists Giovanni Arrighi and Carlota Perez. The paper’s theoretical framework has their works, Arrighi’s The Long Twentieth Century and Perez’s papers on economic development. It discusses the concept of economic development, technological revolutions and systemic cycles of accumulation, giving special attention to each phase of every cycle and revolution. After that, this paper holds a discussion and it tries to aggregate Perez’s and Arrighi’s theories. The “windows of opportunities” to achieve economic development are also discussed. We turn to look at Brazil and see that, in the present situation as a semi-periphery nation, the country does not seem ready to use a window of opportunity to develop itself. The paper is finished by coming to the conclusion that the synergy between the theories is relevant and can be seen even if dealing with different perspectives.

Keywords: Economic development. Systemic cycles of accumulation. Technological

revolutions.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Cinco Ondas Sucessivas, Períodos Recorrentes Paralelos e Principais

Crises Financeiras ... 32

Quadro 2 – Cinco Revoluções Tecnológicas Sucessivas (1770-2000) ... 33

Quadro 3 – Quatro Ciclos Sistêmicos Sucessivos ... 42

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

1.1 TEMA E PROBLEMA DE PES QUISA ... 17

1.2 OBJETIVOS ... 18

1.2.1 Objetivo Geral ... 19

1.2.2 Objetivos Específicos ... 19

1.3 METODOLOGIA ... 19

2 O ENFOQUE TECNOLÓGICO DE CARLOTA PEREZ ... 23

2.1 CONCEITOS... 23

2.1.1 Desenvolvimento Econômico ... 24

2.1.2 Paradigmas Tecnoeconômicos ... 25

2.1.3 Revoluções Tecnológicas ... 26

2.1.3.1 A estrutura das Revoluções Tecnológicas ... 29

2.1.3.2 As fases de uma Revolução Tecnológica ... 30

2.2 AS CINCO REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS ... 33

2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 35

3 O ENFOQUE POLÍTICO E SISTÊMICO DE GIOVANNI ARRIGHI ... 37

3.1 A ECONOMIA POLÍTICA DO SISTEMA MUNDO ... 37

3.1.1 Semiperiferia ... 38

3.2 O FUNCIONAMENTO DOS CICLOS SISTÊMICOS ... 38

3.3 OS QUATRO CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO ... 42

3.3.1 O Ciclo Genovês ... 43

3.3.2 O Ciclo Holandês ... 44

3.3.3 O Ciclo Britânico ... 46

3.3.4 O Ciclo Norte-Americano ... 47

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4 A SINERGIA ENTRE AS OBRAS ... 51

4.1 O LONGO PRAZO COMO UNIDADE DE ANÁLISE ... 51

4.2 AS DIFERENTES CORRENTES DE PENSAMENTO ECONÔMICO ... 52

4.3 SOBRE O PAPEL DO ESTADO ... 53

4.4 PERÍODOS CONSIDERADOS ... 54

4.5 A DIVERGÊNCIA NA COLOCAÇÃO DAS FASES PRODUTIVISTA E FINANCEIRA ... 56

4.6 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E JANELAS DE OPORTUNIDADE .. 57

4.6.1 O Caso Brasileiro ... 59

4.7 DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O MESMO OBJETO DE ESTUDO . 62 4.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 64

5 CONCLUSÃO ... 66

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1 INTRODUÇÃO

Esta monografia procura fazer um estudo bibliográfico da obra de Giovanni Arrighi e Carlota Perez, e tenta unir suas premissas.

Foram desenvolvidas nas Ciências Econômicas inúmeras teorias que utilizam o longo prazo como unidade de análise da história econômica mundial. O material publicado no tema de desenvolvimento econômico é bem amplo, abrangendo todas as vertentes de pensamento que tanto segregam as Ciências Econômicas. Essa área de estudo, embora envolva incontáveis vertentes do pensamento econômico, não se torna apenas um campo de discussões teóricas e filosóficas atemporais, incapaz de construir e seguir um plano de ação para ser aplicável na atualidade. Conforme a sociedade e suas instituições evoluíram e foram substituídas, o estudo de como se deu o desenvolvimento econômico das nações foi incorporando novos elementos, sempre de acordo com a necessidade de dinamismo e evolução, para que não se tornasse obsoleto e inaplicável à realidade atual.

A presente monografia tenta contribuir nesse sentido, ao passo que tenta mostrar a sinergia entre o trabalho de um economista político e de uma especialista no próprio tema de desenvolvimento socioeconômico das nações, ambos contemporâneos.

Não são consideradas, neste trabalho, as premissas de desenvolvimento econômico de viés neoclássico, como os Passos para o Desenvolvimento de Rostow (1960), por exemplo. Os autores aqui estudados e sintetizados não compartilham das básicas premissas neoclássicas.

Por outro lado, procura-se utilizar da literatura dos autores do Sistema-Mundo possuem para fazer uma análise crítica do sistema capitalista ao passo que é tentado mostrar teorias reais e aplicáveis no estudo de desenvolvimento econômico.

Ambos autores tem publicações em diversos campos de estudo, entretanto, o foco desta monografia permanece buscando apresentar se e como se dá a sinergia presente entre os dois, focando no tema de desenvolvimento econômico através de uma perspectiva histórica - isto é, além dos modelos teóricos em si, serão estudados eventos políticos, sociais e econômicos com o objetivo de provar, usando o passado, a completude dos dois estudos quando conectados.

Os autores estudados fazem suas análises e desenvolvem suas teorias em cima de um extenso estudo da história mundial - enquanto Arrighi, dialogando com os outros autores do Sistema-Mundo, estuda a economia por um viés mais sistêmico, Perez analisa o surgimento e disseminação das revoluções tecnológicas, bem como o que chama de “janelas de

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oportunidade” (PEREZ, 2010) que se abrem nas revoluções tecnológicas a nível mundial, cujas economias bem sucedidas conseguiram aproveitar para se desenvolver.

A literatura de Perez complementa então os escritos de Arrighi de maneira interessante, adicionando aplicabilidade ao tema à medida que seus artigos entrelaçam, ao desenvolvimento econômico, um elemento chave no século XXI: a tecnologia.

Procura-se, na primeira seção da monografia, contribuir para a discussão através da apresentação da obra de Carlota Perez, focando em seus artigos publicados. Perez tem uma visão de desenvolvimento econômico mais prática e interligada com o elemento da tecnologia e suas consequências, tanto no âmbito econômico quanto social. Vamos adentrar os conceitos explorados pela autora, buscando conhecer os conceitos com os quais ela trabalha.

Será discutido sobre as revoluções tecnológicas para a autora, que identifica cinco delas ao total, sendo a primeira na época da Revolução Industrial, na Inglaterra. Serão abordados seu funcionamento, seus respectivos paradigmas tecnoeconômicos que as acompanham, suas fases e, ao final, como os países podem utilizar-se das suas diferentes fases para tentar alcançar o desenvolvimento econômico.

Na segunda seção da monografia são estudados os conceitos utilizados por Arrighi, em suas obras O Longo Século XX (2016), publicado originalmente em 1996, e de forma mais complementar, A Ilusão do Desenvolvimento (1997). São apresentadas as definições dos conceitos utilizados pelo autor e com os quais ele dialoga, além de esquematizações e explicações sobre seu funcionamento.

As obras de Arrighi dialogam frequentemente com os outros autores que, junto dele, compõe os principais pensadores da análise do Sistema-Mundo, e por esse motivo foi necessária uma breve discussão sobre os conceitos mais usados, para entendermos sua visão, mesmo que de um ponto de vista mais voltado para o desenvolvimento sócio econômico das nações.

Já no último capítulo, e definitivamente o mais desafiador, há uma tentativa de síntese entre os escritos de Arrighi e de Perez, buscando apresentar se é viável e como se desenvolve uma sinergia entre os dois. As muitas divergências dos trabalhos dos dois autores também serão levadas em consideração nesta análise, e comentadas.

Essa tentativa é feita, predominantemente, através do levantamento de pontos de semelhança e diferenças entre os pensamentos dos dois autores, que estudam, entre outros, o mesmo objeto: a história econômica mundial. Procura-se debater a respeito de como se deu, historicamente, o desenvolvimento econômico para os países que o alcançaram.

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O último momento dessa monografia procura sintetizar e unir as duas obras previamente apresentadas buscando, no final, respostas. Os ciclos sistêmicos de acumulação e as revoluções tecnológicas são instrumentos de análise coerente para o sistema capitalista? É possível que a sinergia discutida entre as obras contribua com o debate no tema de desenvolvimento econômico? Voltando o olhar para o Brasil, o país está pronto para aproveitar as “janelas de oportunidade” presentes na atual revolução tecnológica ( quinta)?

1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA

Os autores da análise do Sistema-Mundo revolucionaram as Ciências Econômicas com um novo olhar crítico sobre o sistema capitalista, seu funcionamento e a maneira como o sistema necessita se reproduzir. O repertório teórico desses autores inclui novas categorizações para os países que compõe o sistema – são divididos em países do centro, periferia e semiperiferia. Cada categoria varia de acordo com a posição do país no sistema de produção global, além de outras variáveis, e apresenta (limitada) possibilidade de mover-se de uma categoria para outra conforme já foi validado historicamente.

A partir da análise histórica dos ciclos sistêmicos de acumulação de Arrighi, nasceu a ideia de avaliar como ocorreram esses processos sob diferentes perspectivas de estudo nas Ciências Econômicas. É impossível desatrelar o conceito de desenvolvimento econômico de progresso tecnológico, e aqui a teoria desenvolvida por Carlota Perez torna-se insubstituível. Partindo para um campo mais prático, talvez, a avaliação das obras de Giovanni Arrighi e Carlota Perez permite um novo olhar sobre o debate, atual e aplicável.

Acredita-se que seja necessário não um novo olhar per se, mas uma nova forma de interpretar o desenvolvimento econômico e tecnológico dos países mediante a globalização, e de como essa fusão de economias resultou em um sistema dinâmico global. Neste sentido busca-se os escritos de Giovanni Arrighi e sua interpretação com o objetivo de nos situar na realidade atual: não é mais possível discutir assuntos como desenvolvimento e crescimento econômico, ou mesmo progresso tecnológico, de forma singular, ou seja, avaliando os acontecimentos de maneira restrita. As economias estão interligadas, e esta conexão tende a aumentar conforme a passagem do tempo, e com ela aumenta a complexidade teórica que busca compreendê-la.

Schumpeter (1982), indicou que o capitalismo fosse um sistema dinâmico e que seu crescimento não funcionasse de forma crescente e uniforme; mas sim mais como uma

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“escadaria” (AREND, 2012). A interpretação descrita em seu artigo é muito facilmente aplicada e para este trabalho, considerada válida. Através da análise que será feita a respeito das obras de Perez e Arrighi, veremos que o dinamismo é característica marcante do sistema capitalista globalizado atual.

Esta monografia se justifica, portanto, através do interesse acadêmico de buscar compreender melhor a dinâmica do sistema capitalista em relação ao desenvolvimento desigual entre as nações, em especial ao que diz respeito às economias atrasadas, sobretudo a situação social e econômica no Brasil. O subdesenvolvimento do país parece mais uma com uma “doença crônica” e menos algo que seja relacionado com políticas governamentais que nos permitam o desenvolvimento, como uma nação.

Nesse sentido, a contribuição da obra do economista político Giovanni Arrighi a respeito dos ciclos sistêmicos ajuda a entender, com um olhar globalizado, a questão política a respeito do sucesso na tentativa de alcançar o desenvolvimento econômico.

Além disso, o subdesenvolvimento brasileiro envolve mais do que somente a questão geopolítica; o país encontra-se tecnologicamente atrasado também. A teoria neo-schumpeteriana de Carlota Perez ajuda a compreender que o atraso econômico presente no Brasil não é facilmente explicado ou unidimensional. Através da autora, é estudado os padrões tecnológicos a nível global por uma análise histórica das revoluções tecnológicas para que o passado seja compreendido.

Atualmente, o Brasil tem uma economia que sofre uma reprimarização, isto é, que está regredindo para atividades econômicas menos intensivas em conhecimento. Embora este trabalho não tenha, em toda sua extensão, um olhar voltado para o Brasil, uma análise da obra de Perez nos dá o diagnóstico de que o país não terá condições de aproveitar a próxima “janela de oportunidade” (PEREZ, 2001) de desenvolver sua economia.

Por fim, a monografia procura, a partir da análise das obras e da teoria visitada, dar suas contribuições ao amplo tema de desenvolvimento econômico, que compõe algumas das mais importantes discussões das ciências econômicas.

1.2 OBJETIVOS

Nas seções abaixo estão descritos o objetivo geral e os objetivos específicos deste trabalho.

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1.2.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo geral fazer uma contribuição ao debate a respeito do tema de desenvolvimento econômico através da sinergia em potencial encontrada ao analisar as teorias desenvolvidas por Giovanni Arrighi e Carlota Perez.

1.2.2 Objetivos Específicos

a. Fazer uma apresentação da vasta obra de Giovanni Arrighi, procurando focar no tema de desenvolvimento econômico, bem como do autor e de suas influências. Apresentar as definições dos conceitos usados pelo autor, bem como apresentar as características, fases e funcionamento dos ciclos sistêmicos de acumulação, ao decorrer da história. Fazer uma apresentação semelhante dos artigos de Carlota Perez, que tratam do tema de tecnologia e desenvolvimento econômico, bem como definir e identificar as revoluções tecnológicas apresentadas pela autora.

b. Apresentar que há a possibilidade de síntese e junção da obra dos dois autores, e tentar mostrar diferentes modos de como as teorias se entrelaçam, trazendo uma contribuição efetiva para a discussão de desenvolvimento econômico.

c. Discutir o produto formado pela junção das duas teorias e sua aplicação a partir da análise histórica através dessa perspectiva, em especial à situação econômica do Brasil.

1.3 METODOLOGIA

As duas primeiras seções do trabalho terão a base e a fundação da terceira parte – e são essenciais para a sua compreensão. Primeiramente, será feita uma pesquisa explicativa dos objetos de estudo (A Magnum opus de Arrighi, O Longo Século XX) e os artigos de Perez no tema de desenvolvimento. Ou seja, uma tentativa de conectar as ideias dos dois autores para explicar, através de uma nova lente, como se dá o desenvolvimento econômico para diferentes países.

A terceira parte do trabalho é a mais desafiadora, pois é onde haverá pontos com a junção das obras previamente apresentadas e explicadas - no objetivo de unir e dialogar sobre

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duas teorias de campos teóricos diferentes. Daí o uso do método da pesquisa bibliográfica exploratória, tendo em vista que as discussões teóricas usadas serão coletadas em livros, dissertações, artigos científicos e teses, com o objetivo de que a conexão entre as duas obras forneça algo novo (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Na extensa obra de Arrighi, o que mais será pesquisado e explorado é a definição dele – juntamente com outros autores da análise do Sistema-Mundo, da dinâmica mundial dividida em centro-periferia, as caracterizações dos países em centro, periferia e semiperiferia; e, principalmente, sua definição de ciclos sistêmicos de acumulação. Em seu livro O Longo Século XX (1996), Arrighi usa o termo para explicar como se dá a expansão do capitalismo como sistema econômico mundial.

O que é tentado explorar neste trabalho é a forma como Arrighi classifica os quatro ciclos sistêmicos através da sua nação de origem - Gênova, Holanda, Grã-Bretanha e Estados Unidos - na verdade pode ser complementada com os escritos da autora neo-schumpeteriana Carlota Perez. Para isto a pesquisa tem mais cunho exploratório no sentido de, após feita a síntese das duas, procurar aplicação e validade no contexto mundial tratado pelos autores.

A hipótese a ser validada é a de se há ou não sinergia entre as duas obras, que, após a apresentação individual dos conceitos de cada autor, será apresentada no desenvolvimento e conclusão do trabalho. Como o trabalho tem um viés teórico denso, o método não varia muito - trata-se de estudo bibliográfico extenso.

Uma medida que será tomada ao decorrer do trabalho é apresentar a teoria acompanhada de evidências históricas, assim como fazem os autores estudados, criando uma teoria para auxiliar na explicação do mundo real, e não vice-versa.

Para a síntese das duas obras será procurado respeitar e não distorcer as informações apresentadas pelos autores - são autores de vieses econômicos distintos, sendo, de maneira mais geral, classificados em diferentes escolas de pensamento econômico. A partir disso, é importante não cometer um anacronismo teórico: o objetivo não é retirar as teorias que serão trabalhadas de seu contexto histórico e econômico.

A pesquisa bibliográfica foi feita inicialmente para a apresentação dos modelos de pensamento de modo sistemático - a definição dos termos criados e usados pelos autores sem a preocupação de exemplificá-los através do uso da história econômica global. Somente após realizada uma elucidação sobre os termos, foi procurado fazer o estudo dos quatro ciclos

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sistêmicos de acumulação de Giovanni Arrighi e as cinco revoluções tecnológicas de Carlota Perez utilizando a periodização real e as evidências empíricas apresentadas pelos autores

O embasamento teórico deste trabalho tem total vinculação com os autores nos quais Arrighi e Perez receberam inspiração e com os quais dialogaram. O viés heterodoxo da visão de Perez a respeito do desenvolvimento econômico coloca sua obra em sintonia com vários autores. Um desses autores, aqui utilizado, é Hajoon Chang (2004) e sua teoria de que os países ricos “chutam a escada” dos países menos desenvolvidos para que estes não tomem o caminho do sucesso em direção ao desenvolvimento econômico.

O debate acadêmico sobre desenvolvimento econômico é extenso e rico, podendo ser repensado de várias óticas da economia dependendo da visão da escola de pensamento que for adotada. Enquanto não é objetivo deste trabalho passar por todas as visões sobre o tema, é interessante o fato de que os autores aqui discutidos são pertencentes à dois caminhos distintos do pensamento econômico, derivados de grandes autores: Perez é neo-schumpeteriana enquanto Arrighi é um dos principais autores da análise do Sistema-Mundo. Enquanto as diferenças entre as correntes de pensamento sejam óbvias, ambas pertencem ao pensamento heterodoxo econômico.

Tanto se tratando da discussão apresentada sobre os conceitos de Perez quanto os de Arrighi, o termo “capital” será usado para englobar os motivos e critérios que levam agentes econômicos à executarem uma função relativa ao processo de criação de riqueza dentro do sistema capitalista. O "capital financeiro", neste trabalho, representa a ação dos agentes que possuem riqueza sob a forma líquida ou quase-líquida, que procurarão um meio de multiplicá-la. O termo "capital produtivo" engloba o comportamento de agentes que geram riqueza "nova", ao produzir bens e serviços.

Na tentativa de se manter fiel aos termos originais usados por Perez, serão usados neste trabalho os conceitos propostos por Abramovitz (1986). O autor introduz os conceitos de catching-up, forging ahead e falling behind, que sugerem que, em determinados períodos históricos, existiriam países que cresceriam mais e outros menos, uns avançariam (ingressando em um processo de catching-up ou tomando a liderança (forging ahead), e outros ficariam para trás, processo denominado de falling behind.

Tratando-se de uma monografia baseada inteiramente em pesquisa bibliográfica, o referencial teórico do trabalho é limitado, no sentido de não apresentar autores e conteúdo fora das discussões já conhecidas pelos autores principais. Além de Arrighi e Perez, para a formulação desta monografia serão considerados os escritos dos outros autores do Sistema

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Mundo: Fernand Braudel e Immanuel Wallerstein. Como neo-schumpeteriana, Perez têm como base os escritos de Joseph Schumpeter, fazendo diálogo com a contemporânea escritora e professora Marina Mazucatto. Para a análise do Brasil na condição de semiperiferia foram utilizados os artigos de Ouriques e Vieira (2017). Ao nos aprofundarmos no conceito de paradigmas tecnoeconômicos de Perez, foi utilizado o artigo de Giovanni Dosi (1982) para revisitar o termo original, paradigma técnico.

Para auxiliar na interpretação dos artigos de Perez foi utilizada a tese de doutorado de Arend (2009), cujas contribuições foram consideradas nessa monografia. Por fim, para uma interpretação da obra de Arrighi que não a do próprio autor, foi utilizado sobretudo o artigo de Arienti (2007), que faz uma síntese dos principais pensadores teóricos do Sistema-Mundo.

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2 O ENFOQUE TECNOLÓGICO DE CARLOTA PEREZ

Partimos do ponto de vista que a autora tem sobre temas amplamente conhecidos, como desenvolvimento econômico, até outros mais específicos, como a sua proposta histórico analítica utilizando os conceitos de revoluções tecnológicas e paradigmas tecnoeconômicos. As definições aqui apresentadas são explicadas e esquematizadas seguindo uma lógica de apresentação usada pela própria autora em seus trabalhos publicados.

Como neo-schumpeteriana, a abordagem de Carlota Perez combina teoria, história e evidências empíricas. Em um primeiro momento, será feita a discussão teórica dos conceitos utilizados pela autora para adentrarmos o período de cada revolução tecnológica estando cientes do seu modelo de funcionamento.

2.1 CONCEITOS

Para que os objetivos deste trabalho sejam cumpridos, é importante que nenhum dos termos aqui discutidos tenham seu significado enevoado. Com isso em mente, cada etapa do trabalho se iniciará com uma apresentação dos conceitos utilizados por cada autor. Nesse sentido, procuramos, nessa seção, dar significado aos conceitos usados por Carlota Perez em seus artigos, tendo a própria autora como fonte.

Visto que nas Ciências Econômicas diferentes perspectivas teóricas podem levar à interpretações divergentes dos mesmos conceitos, e que nesse campo de estudo, os próprios conceitos tem em si significados abstratos, é buscado delimitar os significados e a utilização feita por Perez. Partimos da interpretação da autora sobre como se dá o processo de desenvolvimento econômico. Em seguida, serão apresentados os paradigmas tecnoeconômicos, revoluções tecnológicas, suas estruturas e suas fases.

Já a discussão sobre as fases em que se dão as revoluções tecnológicas, desde seu surgimento até sua propagação e maturidade, existe para diminuir o nível de complexidade e elucidar um pouco mais sobre como Perez aplica o modelo na história econômica mundial. Este debate pede atenção especial, pois será discutido, em outra seção deste trabalho, as “janelas de oportunidades” de desenvolvimento econômico que podem ser alcançadas – e foram, segundo a tese da autora, – por países ao decorrer da história econômica.

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2.1.1 Desenvolvimento Econômico

Para Perez (2005), entender o desenvolvimento econômico como um processo linear e acumulativo é “tão inadequado quanto tentar enxergar as mudanças tecnológicas como contínuas e aleatórias”. Ambos os processos, diz Perez, se assemelham a retas linearmente crescentes no longuíssimo prazo, mas apenas quando vistas de longe. Quando se aproxima e se estuda mais detalhadamente, é possível ver que, embora a linha de tendência seja linear, a trajetória em si é cheia de curvas e desvios.

Quando se analisa dados sobre a economia de qualquer país é possível ver oscilações na economia, mesmo os que mostram crescimento e desenvolvimento de forma mais constante. Um exemplo disso são os países asiáticos, cujos índices de crescimento demonstraram melhoras praticamente de forma constante desde a década de 70 até atualmente. Observando com um pouco mais de cautela, no entanto, é possível notar que o desenvolvimento não se dá de maneira constante e linear – mesmo a economia em constante crescimento desses países passou por diversas crises, globais ou não.

A influência de Schumpeter no trabalho de Perez está sempre presente, como é evidenciado ao apresentar sua definição de desenvolvimento econômico:

O desenvolvimento é um processo escalonado de enormes ondas com cinco ou seis décadas, cada uma das quais envolvendo profundas mudanças estruturais dentro da economia e em quase toda a sociedade. (PEREZ, 2005, p. 8, tradução livre.)

Uma onda de desenvolvimento se define aqui como o processo mediante o qual uma revolução tecnológica e seu paradigma se propagam por toda a economia, levando consigo mudanças estruturais na produção, distribuição, comunicação e consumo, assim como mudanças qualitativas profundas em toda a sociedade.

Cada onda de desenvolvimento vai representar um novo estágio do aprofundamento do capitalismo: cada revolução incorpora novos aspectos da vida e das atividades produtivas aos mecanismos de mercado, cada onda amplia o grupo de países que configura o centro avançado do sistema e cada uma estende a penetração do capitalismo, dentro de cada país e de um país a outro.

As ondas longas de desenvolvimento não são ciclos econômicos, mas um fenômeno sistêmico muito mais amplo, em que os fatores sociais e institucionais jogam um papel-chave, primeiro restringindo e depois facilitando o desenvolvimento do potencial de cada revolução tecnológica. As mudanças de longo prazo são alcançadas mediante saltos descontínuos de

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destruição criadora, acompanhados por processos de propagação em torno de meio século (AREND, 2009, p. 45).

Segundo Perez (2009), apesar de categorizar a tecnologia como elemento exógeno ao sistema (e, portanto, fora do domínio de estudo da teoria econômica), Schumpeter está entre os poucos economistas modernos a colocar mudança tecnológica e empreendedorismo na raíz do crescimento econômico de cada nação. O autor, por mais pioneiro que tenha sido, tinha outros focos, como explicar a figura excepcional do empresário, e também o papel da inovação no crescimento econômico e na ciclicidade do sistema.

Foram os autores da vertente neo-schumpeteriana, diz Perez, que analisaram a inovação e mudança tecnológica como variáveis internas ao sistema, juntamente de suas regularizações e da turbulenta evolução pela qual passam perante a ciclicidade do sistema (PEREZ, 2009). Apesar de citarmos outros autores da corrente neo-schumpeteriana, a tese defendida por Perez segue sendo nosso foco.

A autora utiliza-se de alguns termos chaves que serão explicados visando a fluidez deste trabalho e uma maior compreensão dos processos históricos complexos dos quais Perez fala.

2.1.2 Paradigmas Tecnoeconômicos

Perez define o paradigma tecnoeconômico (TEP) que acompanha cada revolução como um modelo de "prática-ótima" constituído por um conjunto de princípios tecnológicos e organizacionais, genéricos e ubíquos, que indica a forma mais efetiva de empregar a revolução tecnológica em marcha, e de usá-la para modernizar e rejuvenescer o resto da economia. Quando a adoção dos novos princípios tecnológicos e organizacionais se generaliza, estes s convertem em "senso comum" para a organização de qualquer atividade e para a reestruturação de qualquer instituição (PEREZ, 2004, p. 41).

O termo origina do paradigma técnico de Dosi (1982), um economista de vertente neo-schumpeteriana assim como Perez. Para ele, um paradigma técnico representa “o acordo entre os agentes envolvidos sobre qual direção será tomada na pesquisa, e o que será considerado uma versão melhor ou superior de um determinado produto, serviço ou tecnologia. Um paradigma técnico é, então, uma lógica coletivamente compartilhada, que engloba potencial tecnológico, custo relativo, aceitação de mercado, coerência funcional e outros fatores num ponto de convergência” (DOSI, 1982, p. 147).

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Perez define que o paradigma tecnoeconômico nasce atrelado a cada revolução tecnológica, podendo servir de orientação à empreendedores, gerentes, inovadores, investidores e consumidores em suas decisões individuais e em suas interações, durante toda a fase de propagação da revolução tecnológica em questão.

O surgimento de um paradigma tecnoeconômico, no entanto, não pode ser entendido sem a presença do "fator-chave" (key factor) (AREND, 2009, p. 37). O "fator-chave" é responsável por proporcionar uma queda rápida nos custos relativos. Também deve apresentar claro potencial de uso em todas as dimensões do sistema produtivo, para minimizar a incerteza.

É impossível deslocar o "velho" paradigma sem que ocorra uma mudança radical no "senso comum", representada pelo key factor. Cada TEP novo traz, então, novas combinações de vantagens políticas, sociais, econômicas e técnicas, que se precisam da crença dos agentes econômicos. Assim, se tornam o estilo dominante durante para aquele período do desenvolvimento econômico nacional e global.

As novas indústrias que surgem da revolução se expandem para se tornarem os motores do crescimento econômico, o que serão por um longo período, enquanto o paradigma tecnoeconômico impulsiona uma vasta reorganização e um aumento generalizado da produtividade em toda a economia (PEREZ, 2009). Essa reorganização acontece porque cada transformação tecnológica dessas traz consigo uma mudança significativa na estrutura dos preços relativos, o que leva os agentes econômicos a fazerem uso intensivo de novos insumos, associados a tecnologias mais poderosas. Isso será melhor explicado adiante.

Sobre a relação dos paradigmas tecnoeconômicos com o conceito de revolução tecnológica, Arend (2009, p. 25) fala que

Cada revolução tecnológica traz consigo não somente a reorganização da estrutura produtiva, mas também uma transformação profunda das instituições governamentais, da sociedade e, inclusive, da ideologia, podendo-se falar da construção de paradigmas tecnoeconômicos sucessivos e distintos na história do capitalismo.

Abaixo, será explicadas as revoluções tecnológicas para a autora, seu período, o modo como operam, sua estrutura e suas fases.

2.1.3 Revoluções Tecnológicas

O conceito de revolução tecnológica é provavelmente o mais importante a ser apresentado nesta seção. A autora avalia a história econômica e estabelece períodos bem

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definidos em que ocorreram essas revoluções, bem como estuda características únicas de cada uma delas. A sua apresentação das fases e características que se comportam de modo a ocorrer repetidamente mostra que a ocorrência das revoluções e suas fases não acontecem de maneira aleatória e sim, sistemática.

Como definido pela autora (2009, p. 1, tradução livre),

Uma revolução tecnológica pode ser definida como um poderoso conjunto de tecnologias, produtos e indústrias novas e dinâmicas, capaz de sacudir as bases da economia e de impulsionar uma onda de desenvolvimento de longo prazo. Se trata de uma constelação de inovações técnicas estreitamente interrelacionadas, que geralmente inclui um insumo de baixo custo e uso generalizado - com frequência uma fonte de energia, em outros casos, um material crucial - além de novos e importantes produtos, processos, e uma nova infraestrutura. O que acontece geralmente é que a nova infraestrutura ultrapassa as fronteiras da economia nacional e se espalha a nível global, uma vez que há a redução drástica do custo de sua utilização.

Ou seja, uma revolução tecnológica é uma soma de tecnologias que impulsionam o surgimento de novas, uma onda que ganha força conforme atinge mais pessoas. Até atingir a fase de maturidade, essas tecnologias em conjunto já revolucionaram o modo de vida que era aceito como o “normal” até então.

É possível estender o olhar e incorporar os costumes e coerções subentendidas da sociedade para esses autores como as instituições, como conceito proposto por Douglass North (2018): um conjunto dinâmico de regras que rege a interação entre agentes econômicos.

A introdução de um novo sistema de tecnologias, na visão de Perez, muda não só o ambiente de negócios mas também o contexto institucional da sociedade - como a introdução da televisão, por exemplo, que revolucionou e criou vários mercados de entretenimento e marketing, mas trouxe mudanças que repercutiram na cultura, no modo como é absorvida, etc. Para distinguir as revoluções tecnológicas de simples mudanças, Perez apresenta duas características fundamentais. A primeira é a forte conexão e interdependência dos sistemas participantes em suas tecnologias e mercados. A segunda é a capacidade que possuem de transformar profundamente o resto da economia e eventualmente, a sociedade. Para que a classificação de Perez faça sentido, não importa o quão dinâmico um grupo de novas tecnologias sejam, só ganham o termo “revolução” se possuírem, juntas, o poder de trazer consigo uma transformação (PEREZ, 2009).

O surgimento das inovações tecnológicas não é um processo aleatório, e acontece em conjunto propositalmente. Grandes inovações são indutoras de novas, exigem demandas complementares e facilitam outras, fomentando a concorrência (PEREZ, 2009, p. 6).

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Fornecedores e consumidores são conectados numa rede complexa de relações sociais cujo crescimento é sempre visado.

Cada revolução tecnológica significa, portanto, um conjunto de novos produtos, indústrias e infraestrutura, que a cada cinquentenário levam ao surgimento de um novo paradigma tecnológico alinhado a ela. Deste modo, ela traz consigo grande potencial de criação de riqueza para a economia, abrindo espaço para oportunidades de inovação enquanto simultaneamente providencia um novo set de tecnologias consideradas genéricas, que estão interligadas; infraestruturas e princípios organizacionais que aumentam significantemente os níveis de eficiência e produtividade das atividades.

As grandes ondas de desenvolvimento englobam, então, esses processos de difusão de cada revolução tecnológica e seu paradigma tecnoeconômico - junto com a assimilação, pela economia e sociedade - além de um processo que traz, como resultado, aumentos de produtividade.

Quando uma sociedade estabelece inúmeras rotinas e hábitos, normas e regulações para se adequar às condições da revolução anterior, torna-se difícil assimilar a seguinte. Haverá então um processo de "destruição criadora institucional", o qual levará simultaneamente à decaída gradual da velha matriz e à instalação da nova" (PEREZ, 2004, p. 206).

A utilização do conceito de ondas temporais para explicar processos econômicos usado pela autora se distancia dos conceitos de Schumpeter e Kondratiev (PEREZ, 2009, p 10). Enquanto os autores focam em explicar as altas e baixas das ondas, Perez foca em explicar o processo de difusão das revoluções e nos aspectos transformadores que são agregados à economia local global.

As revoluções tecnológicas trazem consigo um novo modo de crescimento econômico mundial e dá oportunidades para os países se posicionarem de diferentes modos nesta “onda”. A dinâmica de incorporações de novas tecnologias leva a elevações absurdas de produtividade, que eventualmente se espalham globalmente, o know-how sendo distribuído em níveis desiguais pelos países. Esse conceito de oportunidades será melhor explorado adiante.

No início, o impacto da adoção de um novo paradigma tecnoeconômico é regional e limitado, mas se expande com o tempo. As mudanças acontecem na economia, no território, no comportamento e nas ideias. Após solidificar-se na sociedade, as ideias trazidas pelo paradigma tornam-se o novo “senso comum”, e age como indutor e como um filtro no processo de

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disseminação de novas inovações nas organizações, sejam elas nos processos técnicos, organizacionais ou estratégicos, nos mais demasiados setores.

A expansão de um paradigma tecnoeconômico (TEP) se dá de forma orgânica, pois as inovações reforçam o caminho para a adoção de novas, e em um ambiente econômico favorável, elas se multiplicam naturalmente. O papel do capital financeiro é decisivo para possibilitar as imensas mudanças de direção nos investimentos necessários em cada revolução.

Conforme o paradigma se espalha, a estrutura de preços relativos sofre mudanças. Além da diminuição dos níveis de preços, há o crescimento do mercado consumidor, que diminui custo nas escalas de produção e distribuição. Essa mudança é um importante fator impulsionador da expansão do próprio paradigma.

Além do já comentado, o paradigma configurado estabelece um nível superior de produtividade e qualidade da produção. A onda de desenvolvimento, por onde passa, propulsiona níveis mais altos de produtividade em todos os países.

A tecnologia no aspecto produtivo e econômico anda em conjunto com as mudanças culturais que ocorrem na sociedade, e são inseparáveis ao se falar de paradigma tecnoeconômico e revoluções tecnológicas. Quando feita a análise, é sempre possível enxergar mudanças substanciais no modo de pensar e agir, ao menos da população economicamente ativa, frente às ondas de inovação trazidas pelas novas tecnologias.

2.1.3.1 A estrutura das Revoluções Tecnológicas

A autora apresenta uma estrutura básica para as revoluções, mas não a considera rígida ou restrita, apresentando novas incorporações à medida que nascem novas revoluções. Nessa estrutura, Perez apresenta diferentes níveis nos quais se dá a conexão entre as tecnologias embutidas em uma revolução tecnológica (PEREZ, 2009, p 10). Eles são listados abaixo:

a. As tecnologias nascem da mesma área de conhecimento científico e tecnológico, e usam princípios de engenharia similares.

b. Requerem aptidões e habilidades similares para design e operação - às vezes, ambos conjuntos são completamente novos no sistema, forçando os agentes à se especializarem em ramos completamente novos.

c. O conjunto de tecnologias estimula o desenvolvimento de uma rede de contatos em comum entre fornecedores de produtos e serviços, criando uma cadeia.

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d. A difusão do paradigma tecnoeconômico que acompanha as revoluções em âmbito mundial gera padrões de consumo coerentes e similares, que podem se desenvolver em conjunto. As tecnologias apreendidas por um sistema facilitam a entrada e o aprofundamento de novas tecnologias, tornando-as essenciais umas para as outras.

2.1.3.2 As fases de uma Revolução Tecnológica

Nesta seção, serão discutidas as quatro fases das revoluções tecnológicas de Perez, desde o surgimento do conjunto de tecnologias que causam um “alvoroço” na economia, até sua propagação e maturidade.

É possível a divisão das revoluções tecnológicas em dois períodos distintos, para facilitar a compreensão. Segundo Arend (2009, p. 38),

O primeiro período, denominado de Instalação, corresponde aos primeiros 20 ou 30 anos iniciais do paradigma tecnoeconômico. As duas ou três décadas seguintes correspondem ao período denominado de Desprendimento (ou dispersão), caracterizado pela disseminação completa da revolução tecnológica. Entretanto, cada um desses períodos tem duas subdivisões. A primeira fase do período de instalação é denominada de "irrupção", e a segunda, de "frenesi". As fases do período de desprendimento são respectivamente denominadas de "sinergia" e "maturidade". Fundamental também é perceber que ao redor da metade de uma revolução tecnológica, depois do período de instalação e antes do período de desprendimento, há um momento denominado pela autora de "intervalo de reacomodação", cuja periodicidade varia em cada revolução, podendo ser de poucos anos até uma década ou mais.

No primeiro período, de instalação, há uma sobreposição entre as revoluções: a antiga, que se encontra na fase de maturidade, e a nova, que está surgindo. A explosão tecnológica inicial é, em grande medida, potencializada pelo capital financeiro. Assim, há o rompimento com a trajetória rotineira, que é substituída pela “euforia” de mercado que vai apostar nas inovações tecnológicas surgindo entrelaçadas. Isso ocorre pois o capital financeiro (até então "ocioso", pois a última revolução tecnológica já se encontrava em fase de maturidade) está ativamente procurando taxas de retornos mais atrativas e as vai encontrar nas "novas" inovações.

Essa "euforia" dos agentes econômicos presentes marca a segunda fase do período de instalação, ao criar uma bolha tecnológico-financeira, causando tensão estrutural (Arend, 2009, p. 41). Seguindo o modelo observado na Figura 1, o próximo período é dado pelo intervalo de reacomodação. A bolha tecnológica-produtiva da fase passada "estoura" e, com isso, as pressões para a intervenção do Estado na economia começa a surgir. O intervalo de

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reacomodação representa, então, um período de reajuste da economia frente à revolução tecnológica que está em vigor.

Neste ponto, a sociedade já passou pela euforia com as novas inovações, e o capital financeiro respondeu à esta euforia com igual entusiasmo. Esse frenesi se dá porque ele próprio está equivocado, ou seja, há um período em que tudo o que as novas inovações representam são falácias, porque o retorno financeiro, tecnológico e social que essas inovações podem trazer como consequências ainda não foi alcançado.

Figura 1 – Sequência Recorrente na Relação entre o Capital Financeiro e o Capital Produtivo em uma Onda Longa de Desenvolvimento

Fonte: AREND, 2009, p. 39

Para a revolução atual, como exemplo, é possível pensar que os meios de comunicação, agora instantâneos, fazem com que a fase de euforia cresça de maneira ainda mais rápida e equivocada que nas revoluções tecnológicas passadas.

A segunda metade de uma revolução tecnológica é caracterizado por expressões como "grande avanço inglês", "boom victoriano", a "belle époque" e "os anos dourados do pós-guerra". O intervalo de reacomodação é um tempo de indefinição, em que se definirá o modo de crescimento particular que moldará as economias avançadas nas seguintes duas ou três

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décadas. É por esta reestruturação do contexto social e institucional que é possível de alcançar a "época de bonança" (PEREZ, 2004, p. 50), e assim se dá a fase de sinergia.

Entretanto, é esta mesma adaptação que ocorre para ajustar-se ao paradigma tecnoeconômico novo que posará como obstáculo para a fixação da próxima revolução tecnológica. Segundo Perez (2004, p. 206), haverá, então, um processo de "destruição criadora institucional", o qual levará ao desmantelamento da velha matriz e à instauração da nova.

Quadro 1 – Cinco Ondas Sucessivas, Períodos Recorrentes Paralelos e Principais Crises Financeiras Revolução Tecnológica onda longa Instalação Intervalo de reacomodação Colapso financeiro, recessão e recomposição institucional Desdobramento (Dispersão) Irrompimento Big-bang Frenesi Bolha financeira Sinergia Boom Maturidade 1ª (1771) Revolução Industrial Anos 70 e início dos 80

Mania dos Canais (1793) 1797 (pânico financeiro) 1798-1812 Grande avanço inglês Crises financeiras (1819 e 1825) 2ª (1829)

Era do Vapor e das Ferrovias

Anos 30 Mania das Ferrovias (1836) 1847 (pânico financeiro) 1848-1850 (revoluções sociais) 1850-1857 Boom victoriano 1857-1873 Crises financeiras (1866 e 1873) 3ª (1875) Era do Aço, da Eletricidade e da Engenharia Pesada 1875-1884 Auge de países do hemisfério sul – Argentina (1890) EUA (1893) 1893-1895 1903 (“pânico dos ricos”)

1895-1907 belle époque 1908-1918 Crises financeiras (1920) 4ª (1908) Era do Petróleo, Automóvel e da Produção em Massa 1908-1920 Os “loucos anos 20” (automóveis, rádio, eletricidade, imóveis etc.) Pânico financeiro 1929-1933 (Europa) 1929-1943 (EUA) 1943-1959 Época de ouro do pós-guerra 1960-1974 Crise do petróleo (1974) 5ª (1971) Era da Informática e das Telecomunicações 1971-1987 Mania da Internet 1987-2001 Ásia (1997) 2001-?? (Nasdaq, Subprime) 20?? 20?? Fonte: AREND, 2009, p. 42.

Como observado no quadro acima, cada revolução tem um ciclo de vida – o potencial de lucro e produtividade proporcionado por elas não pode ser explorado ilimitadamente. À medida que começa a diminuir oportunidades de investimento de baixo risco e os mercados se saturam, uma massa, cada vez maior, de "capital ocioso" busca usos alternativos e taxas de

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lucros mais atraente que as atuais ou locais. (AREND, 2009, p. 39). É por esse motivo que se disseminam, ciclicamente como uma necessidade inerente ao sistema capitalista.

2.2 AS CINCO REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

Como já foi dito, a autora identifica cinco revoluções tecnológicas ao total, a quinta ainda em vigor. O Quadro 2 esquematiza as revoluções. Cada uma delas é acompanhada por um novo paradigma tecnoeconômico, que muda radicalmente conforme as revoluções se sucedem. Ao se tratar dos países-núcleo, no entanto, não são vistas mudanças radicais. Embora outras nações eventualmente apareçam, como a Alemanha, por exemplo, o eixo Inglaterra-EUA não sofre alterações significantes ao longo das revoluções.

Quadro 2 – Cinco Revoluções Tecnológicas Sucessivas (1770-2000) Revolução Tecnológica Nome popular para a época País-núcleo (difusão) Inovações iniciadoras da revolução (big-bang) Infraestruturas novas ou redefinidas Primeira (1771) Revolução Industrial

Inglaterra Abertura da fábrica de algodão de Arkwight em Cromford

Canais e vias fluviais; Energia Hidráulica.

Segunda (1829) Era do Vapor e das Ferrovias Inglaterra (Europa e EUA) Prova do motor a vapor Rocket para a ferrovia Liverpool-Manchester

Ferrovias; Telégrafo; Grandes portos, grandes depósitos e grandes barcos de navegação mundial; Gás urbano.

Terceira (1875) Era do Aço, da Eletricidade e da Engenharia Pesada EUA e Alemanha, ultrapassando Inglaterra Inauguração da fábrica de aço Bessemer de Carnegie, na Pensilvânia

Navegação mundial em velozes barcos de aço (uso do Canal de Suez); Redes transnacionais de ferrovias (uso do aço barato); grandes pontes e túneis; Telefone; Redes elétricas (para iluminação e uso industrial). Quarta (1908) Era do Petróleo, do Automóvel e da Produção em Massa EUA e Alemanha (Europa) Saída do primeiro modelo-T da planta de Ford em Detroit, Michigan

Autopistas, portos e aeroportos; Redes de oleodutos; Eletricidade de plena cobertura (inclusive doméstica); Telecomunicação analógica mundial. Quinta (1971) Era da Informática e das Telecomunicações EUA (Europa e Ásia) Anúncio do microprocessador

Comunicação digital mundial (cabos de fibra ótica, rádio e satélite); Internet e outros serviços eletrônicos; redes elétricas

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Intel, em Santa Clara, Califórnia

de fontes múltiplas e uso flexível; Transporte físico de alta velocidade.

Fonte: AREND, 2009, p. 36.

Perez identifica na história cinco revoluções tecnológicas. A autora fortalece seu argumento ao fornecer as informações, em seu artigo, de quais inovações considera as pioneiras em cada revolução, o país originário de cada revolução antes que essa tenha se espalhado para o mundo e por fim, quais infraestruturas foram redefinidas ou criadas na nova sociedade. Assim, protege e refina, a cada revolução, a importância de estudar os paradigmas tecnoeconômicos acompanhadores de cada revolução.

A estabilização de um paradigma tecnoeconômico novo na sociedade leva tempo, em torno de uma década ou mais, depois do big-bang (ver Quadro 2). O aprendizado representado e trazido pelo novo paradigma deve se sobrepor às forças da inércia produzidas pelo êxito do paradigma anterior, pois essa predominância é o principal obstáculo para a difusão da revolução seguinte (PEREZ, 2004, p. 45).

A sua linha do tempo começa com a Revolução Industrial, iniciada em solo inglês. Em 1771, o mundo começa a conhecer a energia hidráulica e os canais fluviais.

Na segunda revolução tecnológica, que para a autora inicia-se em 1829, marca a era das ferrovias e das grandes embarcações para navegações a nível mundial. A terceira revolução tecnológica para a autora dá-se em 1875, a Europa está passando por conflitos políticos e pressões sociais, enquanto os Estados Unidos marcam cem anos desde sua independência. Nessa revolução, Bélgica, França e EUA realizaram processos de catching-up.

Podemos identificar que para Perez, as revoluções perduram por um período relativamente pequeno, se comparado às análises dos outros autores que defendem a utilização do longo prazo. Segundo a linha do tempo proposta pela autora, vemos que há cerca de cada cinquenta anos temos a formação de uma nova revolução que irá substituir a anterior.

Graças ao dinamismo das revoluções uma das características fundamentais é que elas também se superpõe – como é comum também na obra de Arrighi, um novo ciclo econômico não se dá apenas com o encerramento do anterior; isso acontece de forma orgânica, mais natural, em que vemos a fase final de uma revolução convivendo, em termos mundiais, com a fase inicial da próxima.

Para a terceira revolução tecnológica identificada por Perez temos a inauguração da fábrica de aço na Pensilvânia, localizada nos Estados Unidos. No caso desta, não estava

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evidente na década de 1870, que a Inglaterra sofreria o processo de falling behind, e que seriam os EUA e a Alemanha que explorariam o potencial de geração de riqueza disponível, o que os permitiu períodos de grande desenvolvimento (forging ahead). A terceira revolução, neste ponto, se caracterizou por um "núcleo-triplo", formado por Inglaterra, EUA e Alemanha.

Ou seja, a terceira revolução é a primeira que não se inicia na Inglaterra, no berço da Revolução Industrial. Na época, a Inglaterra exercia sua hegemonia através do padrão-ouro, finanças mundiais (ao ter Londres como o centro financeiro mundial) e das rotas comerciais. No entanto, os investimentos na Inglaterra divergem do potencial desenvolvimentista da nova revolução, tendo como consequência a Alemanha e os EUA superando a produção inglesa de aço. (AREND, 2009, p. 47).

É notável também que, após obterem sucesso no processo de forging ahead provido pelo potencial dessa revolução, os Estados Unidos não perderam a posição de país-núcleo em nenhuma das revoluções que estavam por vir.

Na quarta revolução, em 1908, inicia-se o famoso modelo Ford, nos EUA, que vai ficar conhecido pelo seu modo de produção com custos reduzidos e produtividade aumentada. É a era do petróleo, dos automóveis e da produção em massa, evidentemente encabeçada pelo fordismo. O Japão foi um dos países que conseguiu aproveitar o potencial tecnológico dessa revolução, podendo equiparar-se às potências mundiais.

Por fim, a quinta revolução iniciada em 1971 marca a era da informática e telecomunicações. É possível vermos outros players-chave comandando esse conjunto de inovações junto aos EUA: os gigantes da Ásia estão se consolidando mundialmente como fortes economias concorrentes, em especial o Japão. Essa revolução, para a autora, só tem início com o anúncio do microprocessador Intel, também nos EUA. Ela é marcada pela comunicação digital mundial, a internet e o transporte de alta velocidade.

A quinta e atual revolução tecnológica inaugurou um sistema tecnológico em torno de microprocessadores, seus fornecedores especializados e seu uso inicial em calculadoras, jogos, e na área militar, com a miniaturização e digitalização de instrumentos e outros. Com o tempo, ocorreu uma sobreposição de minicomputadores para uso pessoal. A internet e os softwares abriram, cada um deles, novas trajetórias de possibilidades de inovações, enquanto ainda são altamente relacionados e codependentes.

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Nessa seção foram vistos os conceitos principais de Perez utilizando seus artigos no tema de desenvolvimento econômico. Foram definidos os conceitos de revoluções tecnológicas e seus paradigmas tecnoeconômicos partindo do modelo proposto pela autora.

Enquanto as revoluções tecnológicas foram definidas como um conjunto de tecnologias que podem sacudir as bases da economia e de impulsionar uma onda de desenvolvimento de longo prazo (2009, p. 1), os paradigmas tecnoeconômicos são constituídos por um conjunto de princípios tecnológicos e organizacionais que indica a forma mais efetiva de empregar a revolução tecnológica em marcha.

As estruturas e características fundamentais das revoluções foram revisitadas nos artigos da autora. Além disso, foi dado um enfoque especial para a esquematização das fases das revoluções tecnológicas para melhor compreender seu funcionamento.

Em seguida, foram apresentadas as cinco revoluções tecnológicas identificadas na história pela própria autora, discutindo cada período, país-núcleo, principais inovações e infraestruturas criadas e redefinidas na sociedade.

Com tudo isso, foi procurado mostrar que o enfoque tecnológico neo-schumpeteriano de Perez tem muito a agregar à teoria do desenvolvimento econômico. Mesmo a confecção das fases de instalação e desprendimento dos paradigmas tecnoeconômicos são facilmente aplicadas à realidade da história econômica, implicando que a autora não tem interesse em permanecer em campos teóricos abstratos e inaplicáveis.

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3 O ENFOQUE POLÍTICO E SISTÊMICO DE GIOVANNI ARRIGHI

Semelhante ao que foi feito na seção anterior, iremos estudar o funcionamento dos ciclos sistêmicos de acumulação e como se deram na história econômica, pela perspectiva de Giovanni Arrighi.

Para isso, a seção começa com uma apresentação dos conceitos utilizados pelo autor. A obra e os conceitos de Arrighi tem familiaridade e dialoga diretamente com os autores da análise do Sistema-Mundo. É feita uma breve apresentação da teoria, bem como do conceito de país semiperiférico, que será explorado adiante. Em seguida, o estudo do modelo dos ciclos sistêmicos de acumulação é apresentado, onde é discutido seu modo de operação, período, país hegemônico e as duas distintas fases que cada ciclo sistêmico tem. Por último, são analisados os quatro ciclos identificados por Arrighi na história econômica mundial.

3.1 A ECONOMIA POLÍTICA DO SISTEMA MUNDO

Giovanni Arrighi é um dos mais importantes autores da análise do Sistema-Mundo, juntamente com Immanuel Wallerstein e Fernand Braudel, e sua obra será o objeto de análise neste capítulo. Contudo, por partilharem uma escola de pensamento, as obras dos autores acima citados dialogam entre si, tornando essencial a apresentação, nesta monografia, de alguns elementos desenvolvidos por autores que não o foco principal.

Wallerstein escreve O Sistema Mundial Moderno, vol. I, II e III partindo do conceito da divisão internacional do trabalho na estrutura do sistema capitalista. O autor elabora a tese de que os países são divididos em três categorias: há os países do centro, periferia e semiperiferia. Apesar do nome, se trata de uma categorização política, não geográfica.

Cada país pertencente às categorias ocupa uma função no sistema capitalista. De modo breve, os países centrais têm a maioria da sua produção interna de alto valor agregado, enquanto os periféricos fabricam bens de baixo valor, ou fornecem commodities. A categoria dos países semiperiféricos é a mais interessante, por ser a dinâmica: os países nesta categoria comportam-se ora como central ora como periférico, mudando conforme o país de referência para análicomportam-se. O Sistema-Mundo como unidade de análise é complexo, com múltiplas estruturas, organizado por interesses capitalistas e que desde seu início no século XVI, passou por vários ciclos e mutações (ARIENTI; FILOMENO, 2007, p 104).

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3.1.1 Semiperiferia

Para esta monografia, um conceito dos teóricos do Sistemo-Mundo deve receber mais atenção que os demais. Trata-se do conceito da semiperiferia, usado pelos autores para classificar uma gama limitada de países subdesenvolvidos.

Os países que participam das cadeias produtivas globais são capazes de absorver valor das atividades dos demais participantes, ou agregar valor para a cadeia. O sistema utiliza-se de vários mecanismos para conseguir transferir excedente gerado na atividade para os capitais monopolistas do centro, que assim detém uma taxa de lucro muito superior. O mercado, nessa estratégia, é utilizado para que haja a absorção do excedente gerado pelo trabalho em outros elos da cadeia de produção. (ARIENTI; FILOMENO, 2007, p 108).

Alguns países podem e exercem atividades centrais e periféricas dependendo da sua posição nas cadeias, que são das mais variadas atividades. Nesse sentido, o país pode estar na condição de “explorado”, mas também como “explorador”. Pertencem a condição especial de semiperiferia.

São nos países semiperiféricos onde a maior parte das contradições do sistema capitalista se encontra. Concentra-se, nesses países, a maior força operária que convive com privação relativa.

Segundo Ouriques e Vieira (2017, p. 202),

Existem áreas semiperiféricas que se situam entre o centro e a periferia em uma série de dimensões, tais como a complexidade das atividades econômicas, a força do aparelho estatal, a integridade cultural, etc. Algumas dessas áreas eram áreas centrais em versões anteriores de uma certa economia-mundo. Outras eram áreas periféricas, promovidas mais tarde, por assim dizer, como resultado da mudança geopolítica de uma economia mundo em expansão.

É importante frisar que participar, em algumas cadeias produtivas, como país central, não faz do país em questão detentor de capital suficiente para desenvolver-se ou mesmo melhorar sua economia em níveis consideráveis. É uma posição temporária, fato que fixa a maioria dos países da semiperiferia em sua condição de nação subdesenvolvida.

3.2 O FUNCIONAMENTO DOS CICLOS SISTÊMICOS

Na obra de Arrighi, o autor propõe um novo conceito para explicar a expansão do capitalismo como sistema econômico mundial: em seu livro O Longo Século XX (1996),

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Arrighi apresenta os Ciclos Sistêmicos de Acumulação, através dos quais procura explicar as ascensões e quedas de hegemonias políticas ao redor do globo, bem como seus regimes de acumulação de capital e poder. Seu principal objetivo é descrever a formação, consolidação e ruptura dos regimes pelos quais o capitalismo expandiu e consolidou-se como sistema mundial, desde o século XVI até a atualidade. Como define o autor:

[...] os ciclos sistêmicos de acumulação [...] apontam para uma continuidade fundamental nos processos mundiais de acumulação de capital nos tempos modernos. Mas também constituem rupturas fundamentais nas estratégias e estruturas que moldaram esses processos ao longo dos séculos (Arrighi, 1996, p. 8).

Arrighi considera que as expansões do sistema-mundo até seu tamanho presente devem ser compreendidas através de uma série de reorganizações fundamentais (ARIENTI; FILOMENO, 2007). Comparando tais reorganizações, O autor (1996) percebeu que uma dada aliança capital-Estado era hegemônico no sistema-mundo.

Para este capítulo, o objetivo é compreender, além do CSA (ciclo sistêmico de acumulação), os principais conceitos de Arrighi para que possamos vinculá-los com o trabalho de Perez. Em seguida, após apresentados os conceitos, serão vistos os ciclos sistêmicos um a um, buscando entender a visão da relação de dinheiro e poder que o autor tinha.

Conforme as redes de acumulação de capital se expandiram para abranger todo o globo, o âmbito comercial tornou-se mais autônomo e expansivo em relação ao poder estatal. Com o passar dos anos foi ficando claro que, para manter-se numa condição de poder, os Estados não somente teriam que deter poder político e gerencial, mas também serem líderes nos processos de acumulação de capital (ARRIGHI, 1996, p. 88).

Analisando de maneira mais sistêmica, os ciclos se dividem em duas fases - uma expansão materialista seguida por uma expansão financeira. Essa divisão derivou da observação de Braudel de que a maturidade de todos os grandes desenvolvimentos feitos pelas grandes potências da economia capitalista mundial é anunciada por uma guinada do comércio de mercadorias para o comércio de moedas (ARRIGHI, 1996, p. 111).

Para o autor, a fase materialista representa uma série de mudanças contínuas - a economia se desenvolve seguindo uma única linha de desenvolvimento. Nessa fase, há o crescente comércio de mercadorias, um período onde os investimentos são mais focados em atividades produtivas. A introdução de inovações, sejam nos produtos ou processos, resulta em maior lucratividade em relação às demais atividades econômicas.

Enquanto aborda o primeiro ciclo de acumulação, Arrighi diz que a cooperação das fases finais de expansão comercial difere muito da cooperação das fases iniciais (ARRIGHI,

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1996, p. 95). No início do processo, alguns fatores, em especial a divisão do trabalho, fazem com que a lucratividade dos negócios de cada centro dependa da lucratividade dos negócios dos demais.

Entretanto, essa não é mais a base da cooperação nas fases finais, quando os agentes econômicos já visualizaram que o potencial de retorno de investimentos já se esgotou, a cooperação é enraizada nas pressões competitivas, e os centros comerciais são impulsionados a invadir as áreas de mercados de outros centros.

Com a passagem do tempo, há um excedente de capital no âmbito comercial e produtivo que fora guardado pelos agentes, ao conceberem que a fase de expansão comercial apresenta uma taxa de lucro decrescente para os investimentos nestas atividades. Segundo o autor (1996, p. 232),

Enquanto uma parte desse capital excedente não era empurrada para fora [do processo produtivo e comercial], a taxa global de lucro tendia a cair, e a concorrência entre os locais e os ramos de negócios — bem como dentro de cada um deles — se intensificava.

A tendência decrescente da taxa de retorno sobre investimentos leva os agentes capitalistas a reterem uma porção crescente de seus rendimentos, o que resulta em elevação dos níveis de liquidez monetária em nível mundial. Com maiores níveis de liquidez mundial, os agentes capitalistas convertem sua atenção à expansão financeira, cujo potencial de lucratividade mostra-se bem maior no período.

Esta é a segunda fase do ciclo sistêmico de acumulação: a expansão financeira. Esta fase vem à tona quando os agentes capitalistas percebem que a expansão produtiva está chegando perto de seu limite de geração de lucro. Ao contrário do que ocorre na fase de expansão comercial do ciclo, as mudanças sofridas nessa fase são descontínuas e normalmente acompanhadas por crises econômicas.

É nesta fase, segundo Arrighi, que a economia se desloca através de reestruturações e reorganizações radicais para outras vias de desenvolvimento. Isso ocorre por intermédio da liderança do grupo hegemônico - blocos de agentes governamentais e empresariais, posicionados estrategicamente para obter vantagens das consequências dessas mudanças proporcionadas. São esses agentes os responsáveis por regular, promover e reorganizar a economia.

O interesse crescente dos agentes estatais no âmbito financeiro ocorre, na segunda fase, através de uma transferência do capital excedente (que não fora reinvestido em atividades

Referências

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