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Como já foi dito, a autora identifica cinco revoluções tecnológicas ao total, a quinta ainda em vigor. O Quadro 2 esquematiza as revoluções. Cada uma delas é acompanhada por um novo paradigma tecnoeconômico, que muda radicalmente conforme as revoluções se sucedem. Ao se tratar dos países-núcleo, no entanto, não são vistas mudanças radicais. Embora outras nações eventualmente apareçam, como a Alemanha, por exemplo, o eixo Inglaterra-EUA não sofre alterações significantes ao longo das revoluções.

Quadro 2 – Cinco Revoluções Tecnológicas Sucessivas (1770-2000) Revolução Tecnológica Nome popular para a época País-núcleo (difusão) Inovações iniciadoras da revolução (big- bang) Infraestruturas novas ou redefinidas Primeira (1771) Revolução Industrial

Inglaterra Abertura da fábrica de algodão de Arkwight em Cromford

Canais e vias fluviais; Energia Hidráulica.

Segunda (1829) Era do Vapor e das Ferrovias Inglaterra (Europa e EUA) Prova do motor a vapor Rocket para a ferrovia Liverpool- Manchester

Ferrovias; Telégrafo; Grandes portos, grandes depósitos e grandes barcos de navegação mundial; Gás urbano.

Terceira (1875) Era do Aço, da Eletricidade e da Engenharia Pesada EUA e Alemanha, ultrapassando Inglaterra Inauguração da fábrica de aço Bessemer de Carnegie, na Pensilvânia

Navegação mundial em velozes barcos de aço (uso do Canal de Suez); Redes transnacionais de ferrovias (uso do aço barato); grandes pontes e túneis; Telefone; Redes elétricas (para iluminação e uso industrial). Quarta (1908) Era do Petróleo, do Automóvel e da Produção em Massa EUA e Alemanha (Europa) Saída do primeiro modelo-T da planta de Ford em Detroit, Michigan

Autopistas, portos e aeroportos; Redes de oleodutos; Eletricidade de plena cobertura (inclusive doméstica); Telecomunicação analógica mundial. Quinta (1971) Era da Informática e das Telecomunicações EUA (Europa e Ásia) Anúncio do microprocessador

Comunicação digital mundial (cabos de fibra ótica, rádio e satélite); Internet e outros serviços eletrônicos; redes elétricas

Intel, em Santa Clara, Califórnia

de fontes múltiplas e uso flexível; Transporte físico de alta velocidade.

Fonte: AREND, 2009, p. 36.

Perez identifica na história cinco revoluções tecnológicas. A autora fortalece seu argumento ao fornecer as informações, em seu artigo, de quais inovações considera as pioneiras em cada revolução, o país originário de cada revolução antes que essa tenha se espalhado para o mundo e por fim, quais infraestruturas foram redefinidas ou criadas na nova sociedade. Assim, protege e refina, a cada revolução, a importância de estudar os paradigmas tecnoeconômicos acompanhadores de cada revolução.

A estabilização de um paradigma tecnoeconômico novo na sociedade leva tempo, em torno de uma década ou mais, depois do big-bang (ver Quadro 2). O aprendizado representado e trazido pelo novo paradigma deve se sobrepor às forças da inércia produzidas pelo êxito do paradigma anterior, pois essa predominância é o principal obstáculo para a difusão da revolução seguinte (PEREZ, 2004, p. 45).

A sua linha do tempo começa com a Revolução Industrial, iniciada em solo inglês. Em 1771, o mundo começa a conhecer a energia hidráulica e os canais fluviais.

Na segunda revolução tecnológica, que para a autora inicia-se em 1829, marca a era das ferrovias e das grandes embarcações para navegações a nível mundial. A terceira revolução tecnológica para a autora dá-se em 1875, a Europa está passando por conflitos políticos e pressões sociais, enquanto os Estados Unidos marcam cem anos desde sua independência. Nessa revolução, Bélgica, França e EUA realizaram processos de catching-up.

Podemos identificar que para Perez, as revoluções perduram por um período relativamente pequeno, se comparado às análises dos outros autores que defendem a utilização do longo prazo. Segundo a linha do tempo proposta pela autora, vemos que há cerca de cada cinquenta anos temos a formação de uma nova revolução que irá substituir a anterior.

Graças ao dinamismo das revoluções uma das características fundamentais é que elas também se superpõe – como é comum também na obra de Arrighi, um novo ciclo econômico não se dá apenas com o encerramento do anterior; isso acontece de forma orgânica, mais natural, em que vemos a fase final de uma revolução convivendo, em termos mundiais, com a fase inicial da próxima.

Para a terceira revolução tecnológica identificada por Perez temos a inauguração da fábrica de aço na Pensilvânia, localizada nos Estados Unidos. No caso desta, não estava

evidente na década de 1870, que a Inglaterra sofreria o processo de falling behind, e que seriam os EUA e a Alemanha que explorariam o potencial de geração de riqueza disponível, o que os permitiu períodos de grande desenvolvimento (forging ahead). A terceira revolução, neste ponto, se caracterizou por um "núcleo-triplo", formado por Inglaterra, EUA e Alemanha.

Ou seja, a terceira revolução é a primeira que não se inicia na Inglaterra, no berço da Revolução Industrial. Na época, a Inglaterra exercia sua hegemonia através do padrão-ouro, finanças mundiais (ao ter Londres como o centro financeiro mundial) e das rotas comerciais. No entanto, os investimentos na Inglaterra divergem do potencial desenvolvimentista da nova revolução, tendo como consequência a Alemanha e os EUA superando a produção inglesa de aço. (AREND, 2009, p. 47).

É notável também que, após obterem sucesso no processo de forging ahead provido pelo potencial dessa revolução, os Estados Unidos não perderam a posição de país-núcleo em nenhuma das revoluções que estavam por vir.

Na quarta revolução, em 1908, inicia-se o famoso modelo Ford, nos EUA, que vai ficar conhecido pelo seu modo de produção com custos reduzidos e produtividade aumentada. É a era do petróleo, dos automóveis e da produção em massa, evidentemente encabeçada pelo fordismo. O Japão foi um dos países que conseguiu aproveitar o potencial tecnológico dessa revolução, podendo equiparar-se às potências mundiais.

Por fim, a quinta revolução iniciada em 1971 marca a era da informática e telecomunicações. É possível vermos outros players-chave comandando esse conjunto de inovações junto aos EUA: os gigantes da Ásia estão se consolidando mundialmente como fortes economias concorrentes, em especial o Japão. Essa revolução, para a autora, só tem início com o anúncio do microprocessador Intel, também nos EUA. Ela é marcada pela comunicação digital mundial, a internet e o transporte de alta velocidade.

A quinta e atual revolução tecnológica inaugurou um sistema tecnológico em torno de microprocessadores, seus fornecedores especializados e seu uso inicial em calculadoras, jogos, e na área militar, com a miniaturização e digitalização de instrumentos e outros. Com o tempo, ocorreu uma sobreposição de minicomputadores para uso pessoal. A internet e os softwares abriram, cada um deles, novas trajetórias de possibilidades de inovações, enquanto ainda são altamente relacionados e codependentes.