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Ansiedade: sintoma social contemporâneo

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Academic year: 2021

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DHE – Departamento de Humanidade e Educação Curso de Psicologia

CRISTIANE THEISEN

ANSIEDADE: SINTOMA SOCIAL CONTEMPORÂNEO

Santa Rosa – RS 2015

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CRISTIANE THEISEN

ANSIEDADE: SINTOMA SOCIAL CONTEMPORÂNEO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Graduação em Psicologia do Departamento de Humanidades e Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUI, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profª Sílvia Cristina Segatti Colombo

Santa Rosa – RS 2015

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho às pessoas que mais acreditaram em mim e me apoiaram durante o transcorrer do curso, meus queridos pais Mário e Maria Elenir, e meu querido namorado Alexandre.

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente aos meus pais Mário e Maria Elenir, que me apoiaram e incentivaram a sempre acreditar que estudar traz inúmeras recompensas. Pelas palavras de incentivo e pelos inúmeros conselhos que foram determinantes para a realização deste sonho.

Ao Alexandre, meu querido namorado, por dividir comigo os momentos difíceis, importantes e os mais felizes durante esta caminhada. Pelo apoio, carinho e incentivo que foram essenciais para alcançar essa vitória.

A minha querida orientadora Sílvia, pela dedicação, paciência e pelas palavras de ânimo, bem como pela disponibilidade em sempre me atender muito bem.

Ao meu chefe e colegas de serviço, pelo apoio e coleguismo durante o curso. A todos os professores e colegas que ajudaram na construção e formação pessoal e acadêmica, que serão sempre lembrados com muito carinho. Em especial às queridas Cristiane e Fernanda.

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“Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu”.

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RESUMO

Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica que visa entender o aumento da ansiedade na vida das pessoas na atualidade, além de tentar esclarecer o que está provocando o aumento de sua incidência, bem como as consequências na vida de quem é portador da mesma. Para investigar essa temática, inicialmente o trabalho discute as manifestações atuais do sintoma, bem como sua incidência no meio social. Após, apresentamos brevemente os diferentes tipos de transtornos de ansiedade e esclarecemos o que é a ansiedade patológica, ou seja, a angústia. Veremos o que torna a ansiedade uma patologia da modernidade e sua elevada incidência no meio social, portanto, daí ser considerada um sintoma social. Visto que nos últimos tempos a grande maioria das pessoas queixa-se em relação à compromissos, cobrança e resultados, deixando transparecer alguns sintomas da ansiedade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...7

1. A GÊNESE DOS SINTOMAS...10

1.1- O QUE É UM SINTOMA?...10

1.2- SINTOMA SOCIAL...18

2. MANIFESTAÇÕES ATUAIS DO SINTOMA...22

CONSIDERAÇÕES FINAIS...39

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INTRODUÇÃO

Atualmente vivemos em uma sociedade que exige respostas rápidas e urgentes, em que o ser humano precisar adaptar-se a essas condições de existência, pois caso contrário, corre um sério risco de cair em adoecimento. Esse modo de viver exige muito do sujeito, implicando muitas vezes em sofrimento e consequências, tais como a ansiedade e seus sintomas.

A escolha deste tema se deu devido a essa percepção do cenário atual. São as cobranças de datas, horários, resultados, entre outros, que estão dominando a vida dos sujeitos. O que na ordem natural das coisas é ao contrário, seriam os sujeitos que dariam conta destes infortúnios, que deveriam ser passageiros. Pois é, deveriam ser passageiros, porém percebe-se cada vez mais o aumento de queixas em relação a falta de tempo e o estresse gerado em consequência do mesmo.

Ao longo da história a ansiedade já encontrava-se presente na sociedade, não de forma tão explícita como no momento atual, mas causando também inúmeras consequências para os portadores da mesma. Atualmente a maioria das pessoas vive sob alguma forma de pressão, e não conseguindo mais dar conta da mesma acaba entrando em sofrimento em consequência do conflito psíquico que surge em função de tal situação, e é aí que surge a ansiedade.

A ansiedade traz consigo inúmeros sintomas, sendo eles físicos e psíquicos. Dessa forma, considera-se relevante esclarecer o que é um sintoma, bem como o que é um sintoma social. Diversas são as explicações que giram em torno de tais conceitos. A fim de mais esclarecimentos é feita uma retomada às obras de psicanálise, bem como a algumas obras da área da psiquiatria. Inicialmente com base na teoria psicanalítica, o trabalho desenvolve o conceito de sintoma, bem como sua estruturação e manifestação na vida dos sujeitos.

Como veremos no primeiro capítulo o sintoma pode ser definido pela psicanálise como sendo umas das manifestações do inconsciente, ou seja, através da expressão de um sintoma pode-se ter acesso à conteúdos inconscientes. Também é um facilitador no processo da formulação do diagnóstico de determinada patologia, pelo fato de ser único e subjetivo de cada um, pois encontra-se presente na estrutura do sujeito, ou seja, encontra-se estruturado no inconsciente.

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No primeiro capítulo, também será abordado e analisado o conceito de sintoma social. Diversos autores com base na psicanálise atestam para a relação do mesmo com a cultura, afirmando que o sintoma social está presente no discurso dominante da mesma. Dessa forma, buscamos entender a relação entre o sintoma e a ansiedade, bem como a forma que a mesma se torna um sintoma social.

A etiologia e o conceito de ansiedade, serão abordados no segundo capítulo, onde irão ser revisados os diversos estados e transtornos presentes na estrutura da mesma, bem como as consequências na vida dos sujeitos ansiosos. Veremos que a ansiedade pode ocorrer em função de uma discórdia interna, ou seja, quando há um conflito psíquico que surge em função a uma determinada situação que o sujeito não consegue elaborar satisfatoriamente. O presente trabalho, também irá propor uma investigação a respeito da angústia, sendo esta um estado posterior à ansiedade, que de forma avassaladora afeta a vida do sujeito acometido pela mesma.

Este trabalho de cunho cientifico tem o propósito, de trazer inúmeros elementos a respeito de um determinado tema de pesquisa. Dessa forma, com este, pretende-se pesquisar, organizar e tornar público um material referente ao tema proposto: Ansiedade, o Sintoma Social Contemporâneo.

No transcorrer do trabalho serão analisados diversas fontes conceituais, assim como, diversos autores de distintos campos teóricos, sendo eles a psicanálise e a psiquiatria. Considerando essas diferenças teóricas, buscará se fazer um apanhado geral de cada uma, não menosprezando, muito menos aniquilando uma a outra, mas procurando possíveis articulações a serem elaboradas a partir das mesmas.

Através destas diferentes conceituações nota-se a importância de estudar sobre os estados de ansiedade, pelo fato de estarem se tornando cada vez mais comuns em nossa sociedade. Sendo que é preciso haver um conhecimento acerca para a melhor compreensão dos sujeitos que estão em sofrimento, já que seus sintomas são avassaladores e assustadores, comparados em algumas vezes a experiência de morte.

Torna-se relevante esta pesquisa pelo fato da ansiedade poder ser considerada um sintoma social, aumentado a demanda de trabalho ao profissional da Psicologia. Mas para atender esta demanda o profissional precisa estar preparado e

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ser possuidor de muitos conhecimentos que dizem respeito aos sintomas da ansiedade. Sendo assim, através desta pesquisa surgirá a oportunidade de conhecer mais a fundo os sintomas, a etiologia e as características desta patologia, agregando assim um vasto campo de contextualizações a respeito do assunto e também a procura por um aperfeiçoamento do mesmo para valer-se deste após a conclusão do curso.

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1. A GÊNESE DOS SINTOMAS

Cada sujeito, assim como cada época tem seu modo de viver. Cada discurso produz um laço. Os laços são com o Outro1. Quando estes laços encontram fragilidades, produz-se sintomas.

O sujeito com o transtorno de ansiedade, ou quando sofre com o estado da mesma, pode ser reconhecido com os sintomas quando estes passam a se tornar exagerados, de forma desproporcional em relação aquilo que é incitado. Os sintomas passam a interferir na qualidade de vida dos sujeitos, a forma de lidar com suas questões emocionais e psíquicas, além de interferir no desempenho das atividades e afazeres diários.

Um sintoma diz de uma verdade. Um sintoma social pode ser caracterizado em poucas palavras como aquele sintoma que está se tornando recorrente e frequente na sociedade. Também pode ser percebido quando há um aumento do número de queixas dos sujeitos portadores de determinada patologia. Sujeitos que sofrem, individualmente ou em grupos, efeitos do desconhecimento da causa de seu sofrimento.

No primeiro momento deste estudo será abordado este tema que possui grande relevância, tema de muitas discussões no seleto grupo dos seguidores da psicanálise. Neste capítulo serão abordados os conceitos de sintoma e sintoma social. Conceitos que possuem uma vasta trajetória no campo analítico, na busca de contextualizar suas manifestações, partindo do pressuposto de que o sintoma é uma manifestação do inconsciente. Lembrando que o sintoma não se estrutura sozinho, portanto, torna-se necessário esclarecer suas relações com outros conceitos do inconsciente.

1.1 . O QUE É UM SINTOMA

O sintoma é expresso quando há vivência de uma angústia ou de um sofrimento, aparecendo em diversas manifestações do dia a dia. Pode ser tomado a

1 Lacan diferencia “o outro com A, que é o Outro de que se trata na função da fala, e o outro com a, que é o eu, ou mais exatamente a imagem do eu”. BRAUER, 1994.

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partir das manifestações que ele mesmo apresentar. O sintoma trata ser uma defesa do ego, uma força inconsciente que busca defender o ego das ideias que possam causar algum sofrimento ou conflito psíquico.

Como afirma Freud (1915-1916, p.41) “Os conflitos psíquicos são excessivamente frequentes; observa-se com muita regularidade o esforço do eu para se defender de recordações penosas, sem que isso produza a divisão psíquica”. Portanto, o sintoma pode criar sua própria “teoria” sobre determinado fato para neutralizar conflitos.

Há uma estrita ligação entre o ego e o sintoma, como já afirmado anteriormente, o sintoma é uma defesa do mesmo. Freud (1926[1925]) afirma que o ego se trata de uma organização e que para tanto, pretende incorporar a si os sintomas, através de seus vínculos, tentando impedir o isolamento dos mesmos. E mais, este processo não é estranho à formação dos sintomas, já que faz parte de sua própria formação.

Tais sintomas participam do ego desde o início, visto que atendem a uma exigência do superego, enquanto por outro lado representam posições ocupadas pelo reprimido e pontos nos quais uma irrupção foi feita por ele até a organização do ego. Constituem uma espécie de posto de fronteira com uma guarnição mista. (...) O ego passa agora a comportar-se como se reconhecesse que o sintoma chegara para ficar e que a única coisa a fazer era aceitar a situação de bom grado, e tirar dela o máximo proveito possível. Ele faz uma adaptação ao sintoma(...) (FREUD, 1926[1925], p. 102).

Dessa forma,

(...) O sintoma gradativamente vem a ser representante de interesses importantes; verifica-se útil na afirmação da posição do eu (self) e se funde cada vez mais estreitamente com o ego, tornando-se cada vez mais indispensável a ele (FREUD, 1926[1925], p. 103).

Da mesma forma o autor também afirma que o ego não apenas criou um sintoma para fruir-se de suas vantagens, trazendo o exemplo de combatente que perde a perna durante uma batalha. Este homem não colocaria sua perna em risco para apenas viver eternamente da pensão, sem precisar executar nenhuma tarefa a mais sequer.

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Pode-se entender que um sintoma é criado quando há uma situação de enfrentamento frente a algo, e que possivelmente causará angústia e sofrimento, tendo o mesmo a função de defensor frente a uma ameaça.

Freud (1925-1926) afirma que há duas linhas de comportamento do ego em relação ao sintoma, sendo as mesmas, opostas uma a outra. Uma segue a linha da repressão e assim se torna menos amistosa que a outra. A linha de comportamento que é considerada pelo autor como pacífica possui a pretensão de absorver o sintoma e “torná-lo parte dele mesmo”, já em relação a outra linha de comportamento do ego que diz respeito ao sintoma Freud afirma:

É do próprio sintoma que provém o mal, pois o sintoma, sendo o verdadeiro substituto e derivativo do impulso reprimido, executa o papel do segundo; ele continuamente renova suas exigências de satisfação e assim obriga o ego, por sua vez, a dar o sinal de desprazer e a colocar-se em uma posição de defesa (FREUD, vol. XX, 1926[1925], p. 104).

O sintoma em Freud, está ligado a uma direta relação com a experiência do paciente, “quanto mais individual for a forma dos sintomas, mais motivos teremos para esperar que seremos capazes de estabelecer esta conexão.” (Freud, 1915-1916, p. 277). Afirma que nem todos os sintomas são parecidos, e que portanto, há diferenças nas experiências dos pacientes, ou seja, conforme há uma vivência distinta, há também um sintoma distinto, chamado por Freud de sintoma ‘típico’.

Existem, contudo – e são muito frequentes – sintomas de tipo bem diferente. Devem ser descritos como sintomas ‘típicos’ de uma doença; são quase os mesmos em todos os casos, as distinções individuais neles desaparecem, ou pelo menos diminuem, de tal forma, que é difícil pô-los em conexão com a experiência individual dos pacientes e relacioná-los a situações particulares que vivenciaram (FREUD, 1915-1916, p. 277).

Essas diferentes formas de sintoma afirma Freud, é que possibilitam um esclarecimento acerca da patologia no momento do diagnóstico.

Um paciente evita apenas ruas estreitas, e um outro, somente ruas largas; um consegue sair somente se houver poucas pessoas na rua, ao passo que um outro apenas sai se existem muitas. (...) e não devemos esquecer que são estes sintomas típicos, na verdade, que nos dão a orientação com que fazemos nosso diagnóstico (FREUD, 1915-1916, p. 278).

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Para Freud também há uma relação entre os sintomas e as experiências patogênicas ou os traumas psíquicos, observação essa, feita por Breuer, afirmando que esta relação é também observável na teoria da repressão. Assim como o desvendamento desses sintomas é que pode levar à cura através da psicanálise.

Esta substituição da ideia reprimida – o sintoma – é protegida contra as forças defensivas do ego e em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento interminável. No sintoma, a par dos sinais do disfarce, podem reconhecer-se traços de semelhança com a ideia primitivamente reprimida. Pelo tratamento psicanalítico desvenda-se o trajeto ao longo do qual se realizou a substituição, e para a recuperação é necessário que o sintoma seja conduzido pelo mesmo caminho até a ideia reprimida (FREUD, 1910 [1909]. p. 42).

Reforçando a ideia da relação entre os sintomas e os conteúdos reprimidos, Freud (1926[1925], p. 95) traz que “Um sintoma é um sinal e um substituto de uma satisfação instintual que permaneceu em estado jacente; é uma consequência do processo de repressão”.

Assim como foi tratado a relação do sintoma com a repressão, também, o estudo tratará a relação com a inibição. Pois como se sabe, tanto a repressão, como a inibição também é estruturada no inconsciente e que ambas possuem estreita ligação com a fenomenologia do sintoma.

Freud (1925-1926) faz uma distinção entre os termos linguísticos das palavras inibição e sintoma para fazer a atribuição de seus significados, já que há uma relação entre ambos. Afirma que:

Na realidade, dificilmente poderíamos pensar que valeria a pena diferenciar exatamente entre os dois, não fosse o fato de encontrarmos moléstias nas quais observamos a presença de inibições mas não de sintomas, e ficamos curiosos para saber a razão disso (FREUD, 1926[1925], p. 91).

Também assevera que a diferença entre os dois termos não estão presentes no mesmo plano, em decorrência da função ser ou não ser patológica.

A inibição tem uma relação especial com a função, não tendo necessariamente uma implicação patológica. Podemos muito bem denominar

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de inibição a uma restrição normal de uma função. Um sintoma, por outro lado, realmente denota a presença de algum processo patológico. Assim, uma inibição pode ser também um sintoma. O uso linguístico, portanto, emprega a palavra inibição quando há uma simples redução de função, e

sintoma quando uma função passou por alguma modificação inusitada ou

quando uma nova manifestação surgiu desta. Muito amiúde parece ser assunto bem arbitrário, quer ressaltemos o lado positivo de um processo patológico e chamemos o seu resultado de sintoma, quer ressaltemos seu lado negativo e intitulemos seu resultado de inibição (FREUD, 1926[1925] p. 91).

Lacan retoma abordagem freudiana do sintoma, orientando-o em termos de estrutura, um traço constitutivo do sujeito. Traço esse, que se torna presente para o indivíduo na dimensão simbólica.

No Seminário 23, (1975-1976. p.15), afirma que o sintoma é referenciado à frase “mas isso não”, direcionado ao sexo feminino, afirmando que “a mulher só é toda sob a forma pela qual o equívoco toma de nossa lalíngua o que ela tem de picante, sob a forma do mas isso não”. Podemos entender que sintoma é algo que não está ao alcance de nossos olhos, mas sim é algo que encontra-se estruturado no inconsciente.

Afirma que o sintoma é algo a ser deslocado, ou ainda que pode ser multiplicado através da linguagem, por se tornar possível o conhecimento acerca do mesmo pela linguagem, assim como o inconsciente se torna perceptível aos ouvidos quando expresso em palavras. Afirma que não exige a interpretação, pois esse não tem a finalidade de um pedido, ou seja, não é utilizado para ganhos em relação ao Outro.

Em se tratando do sintoma, é claro que a interpretação é possível, mas com uma certa condição que vem somar-se a ela, isto é, que a transferência se estabeleça. Por natureza, o sintoma não é como o acting out, que pede a interpretação, pois (...) o que a análise descobre no sintoma é que ele não é um apelo ao Outro, não é aquilo que mostra ao Outro. O sintoma, por natureza, é gozo, não se esqueçam disso, gozo encoberto, sem dúvida (...) não precisa de vocês como o acting out, ele se basta. (...) é por isso que tal gozo pode traduzir-se num Unlust (...) desprazer (LACAN, 1962-1963, p. 140).

O sintoma em Lacan é denominado como o quarto círculo que é responsável pela ligação/amarramento do real, do simbólico e do imaginário. Assim afirma Lacan(1975-1976, p.21): “A configuração seguinte, à esquerda, esquematiza o

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imaginário, o simbólico e o real como separados uns dos outros. Vocês têm a possibilidade de liga-los. Com o quê? Com o sinthoma, o quarto”.

Com a união desses quatro termos/círculos, Lacan chega à conclusão de que o sintoma também faz laço com o Complexo de Édipo e com o Nome do Pai. “O complexo de Édipo é, como tal, um sintoma. É na medida em que o Nome-do-Pai é também o Pai do Nome, que tudo se sustenta, o que não torna o sintoma menos necessário” (1975-1976. p. 23). Portanto, um traço da constituição do sujeito.

Maria das Graças Villela Dias faz uma análise sobre o que afirmava Lacan sobre a conexão entre a linguagem e o sintoma e a concepção de Freud sobre o assunto.

Em Freud, o sintoma nunca é simples; ele é sempre sobredeterminado, e esse fenômeno, para Lacan, só é concebível na estrutura da linguagem. A sobredeterminação nada mais é do que a articulação das cadeias significantes ao se decifrar o sintoma, isto é, ao fazer deslizar e desdobrar os significantes recalcados que a ele estão ligados. (...) Lacan, porém, na primeira época de seu ensino, prioriza a noção do inconsciente e do sintoma estruturados como linguagem, deixando de lado a referência à insatisfação contida no sintoma e localizando a pulsão, o que não pode se dizer, fora do campo interpretação analítica. O sintoma mesmo é linguagem e, pela interpretação, é possível alcançá-lo evocando suas ressonâncias semânticas. O tratamento, é então, orientado para libertar, pela via significante, a insistência repetitiva que há no sintoma e a verdade que aí se oculta (DIAS, 2006, p. 402).

Larousse (1993) afirma que Lacan elaborou esse termo “sinthome” para nomear o nó de borromeu2, também para “significar que o sintoma deve “cair”, o que é subentendido por sua etimologia, e que o “sinthoma” (...) é aquilo que não cai, mas modifica-se, transforma-se, para que continue sendo possível o gozo, o desejo.”

Desta forma afirma também Dias (2006, p. 403):

Lacan avançará no sentido de conceber que o sintoma não é regido somente pela rede simbólica, pois algo resta após o desvendamento do encadeamento significante. A esse resto Lacan dará o nome de gozo, passando a entender o sintoma não somente como uma forma de o sujeito organizar seu gozo. Por

2 Nó de Borromeu é um conceito de Lacan que significa um elo, uma ligação entre o real, o simbólico, o imaginário e o sintoma.

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essa razão, mesmo depois de ter seu sintoma decodificado pela interpretação, o sujeito não renuncia a ele.

Dias afirma que o sintoma pode se equiparar com o inconsciente, pois está elaborado como uma linguagem, está integrado a mesma e também à suas ordens. Podendo ser uma fala direcionada ao Outro, na condição em que o sujeito ganha “o sentido a significação de seu sintoma”.

Larousse (1993) escreve que para Lacan o sintoma é fruto do real, e que portanto, retornaria ao mesmo, sendo descrito pelo psicanalista como um “sinal de uma disfunção orgânica”, afirmando que o sintoma é o que de mais real o sujeito possui. Portanto, Lacan afirma que o sintoma não poderia ser aniquilado durante o tratamento, já que o mesmo é um “efeito estrutural” do paciente.

Um sintoma pode ser referido a uma característica duradoura, em que persiste por algum tempo. Alain Vanier (2002) afirma que “Em geral, o sintoma é uma marca individual e se manifesta como algo que se afasta em relação a uma norma de funcionamento fisiológico ou comportamental”.

Para Garcia (1994, p.115):

O sintoma é na definição de Freud um derivado do inconsciente, um produto da repressão e característico da estrutura neurótica. Para Lacan o sintoma é a própria repressão. Na vida do neurótico o sintoma configura-se como um enigma e como tal requer algum tipo de deciframento. O neurótico sabe que o sintoma quer dizer algo, mas esse algo se lhe apresenta como uma linguagem cifrada. O sintoma amarrado ao inconsciente demanda interpretação.

Estes acontecimentos tais como equívocos, chistes, lapsos, sintomas, apresentam-se ao eu como instantes de surpresa, espanto, provocados pela emergência súbita do inesperado que corresponde ao aparecimento do inconsciente. (GARCIA, 1994).

Decididamente, com o descobrimento do inconsciente, o sintoma deixa de ser algo para ver, para converter-se em algo que fala, pelo simples fato de que ele próprio é estruturado como uma linguagem, mas uma linguagem cuja palavra deve ser liberada. E na articulação do inconsciente com o simbólico, que o sintoma aparece a nível do corpo que faz sua representação imaginária (GARCIA, 1994. p. 118).

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Jaqueline Künzel (1997) seguindo as ideias de Lacan, afirma que um sintoma é algo que se repete, que procura ocultar a falta. Para a autora sintoma trata ser um gozo fálico, que é regido pela menção ao pai, portanto, trata ser uma forma de procurar um limite, a lei conjugada pela função paterna.

Após feita uma análise da etiologia do sintoma em bases psicanalíticas e outras áreas afins, ligadas a mesma, será apresentado em seguida o significado do presente tema em diferentes fontes, ligadas principalmente a áreas afins da medicina. Lembrando que a base psicanalítica nos possibilita ver a raiz da questão, ou seja, é através da psicanálise que podemos entender a forma que o sintoma se estrutura. Mas cabe ressaltar que há outros estudos referente ao sintoma, que merecem destaque no presente trabalho.

Essas duas visões da etiologia não servem para uma aniquilar a outra, mas sim para acrescentar ao conceito de sintoma, significados de diferentes ordens, que possibilitem uma visão geral de um tema que há ainda muito a ser investigado. São conceitos diferentes ligados a uma mesmo contexto, portanto, sendo um complementar ao outro, com visões distintas.

O sintoma, na medicina, é compreendido como sendo um sinal, signo de alguma patologia, de algum problema em algum órgão do corpo, podendo ser definido no momento em que o paciente apresenta suas queixas. Nelson Pires (1962) afirma que o sintoma a partir da concepção da área médica indica um “sinal ou indício de doença”.

Afirma que há dois tipos de sintoma, o objetivo e o subjetivo. O primeiro indica um sintoma no qual não há queixa, já o segundo, afirma o autor, pode ser comparado a uma dor leve, ou seja, uma queixa.

O autor afirma também que esta relação entre o sintoma e a doença pode se dar de forma direta ou indireta, segundo ele,

A relação entre sintoma e doença pode ser direta: tumor comprime a medula e causa paraplegla crural. Mas essa relação entre sintoma e doença pode aparecer, por vezes, complicada e indireta: síndromes da menopausa vistas em Ginecologia e em Psiquiatria, irregular curso evolutivo dos sintomas de eczemas, inesperada ocorrência ou curso evolutivo dos sintomas da asma, das dores da úlcera gástrica, enigmático surgimento ou curso dos sinais de distonia vegetativa, autóctone ou não, e muitas outras. A relação entre o sintoma e a doença tida como causal pode tornar-se tão indeterminada que desaparece. (PIRES, 1962)

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O autor espanhol Manuel Desviat em 2010 afirmou que o sintoma é uma manifestação da doença. Fazendo uma comparação entre sintoma e signo, que segundo ele, um se define como aquilo do qual o paciente queixa-se e o outro como algo que pode ser observado, testado, ou seja, um fato.

La cuestión es que hoy, en medicina, el síntoma es la expresión de la enfermedad (del mal estado de la salud de un sujeto). La medicina, y con ella la psiquiatría, no distingue generalmente entre síntoma (un fenómeno: lo que el paciente dice de su malestar) y signo (un hecho: anomalías observaciones, pruebas). Entre un acto de conducta y un coma. No distingue, pues, para la medicina todo síntoma es un hecho, un dato, expresión directa de una lesión, señal de un órgano o del mal funcionamiento fisiológico (DESVIAT, 2010)

A definição de sintoma no dicionário de língua portuguesa se concentra em ser um “Indício, sinal. Fenômeno acidental que revela a existência, natureza ou sede da moléstia.” (LUFT, 1921) Percebe-se que essa definição foi elaborada há muito tempo, sendo que, ainda condiz com a área médica enquanto sendo uma “sede da moléstia”, representando ser lado negativo, o que nos remete a afirmação de Freud (1925-1926), de que o sintoma possui um lado malevolente.

Sintoma é algo que pode ser encontrado em qualquer sujeito que sofre de alguma patologia, é através dele que o profissional da saúde pode formular um diagnóstico. Possui várias definições em diferentes ramos da área da saúde, mas apenas a psicanálise aborda a forma pela qual o mesmo é estruturado. Não desmerecendo outras teorias que falam do sintoma enquanto algo presente numa queixa, ou seja, já está estruturado e apresenta-se de determinada forma.

1.2 – SINTOMA SOCIAL

Após uma breve apresentação sobre a estrutura e o significado do sintoma, o presente trabalho abordará a respeito de sintoma social e suas implicações na vida do sujeito, e obviamente na sociedade em geral. Pensando também na relação do mesmo com a ansiedade e suas incitações.

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Não tem como falar de sintoma social sem abordar seu comprometimento com a cultura, já que o sintoma está inserido neste contexto. Afirmou Contardo Calligaris em 1993 que a cultura possui relação com o discurso.

Uma cultura é fundamentalmente um fluxo discursivo, quer dizer, tudo o que se foi articulando discursivamente, oralmente ou por escrito, no quadro desta cultura. Imaginem que seja uma espécie de rio de palavras que vai andando e, no meio desse rio, pede-se carona. De repente, o que se diz só encontra significação no que vai ser dito ou no que foi dito antes. Uma cultura é isso, um enorme fluxo de produção discursiva (CALLIGARIS, 1993. p. 194).

Em se tratando de sintoma e sintoma social, Künzel (1997) indica o que é um e outro. Para ela o sintoma, sendo ele individual, trata ser algo particular do sujeito, aquilo que o mesmo leva para análise, como não sendo isolado de sua história de vida. Conceitua sintoma social como aquele que surge da cultura, estando presente em relação ao discurso dominante, marcando a estrutura presente.

Da mesma forma, a autora defende que todo o sintoma social possui função com o discurso dominante. Discurso esse, que é facilmente encontrado em nossa cultura, pois se trata daquele que possui uma maior influência na vida das pessoas.

Segundo Betts (1993 apud KÜNZEL, 1997, p. 115) o sintoma se torna social quando o seu vínculo de discurso subjetivo encontra um registro especifico no discurso social dominante. Künzel (1997, p. 115) coloca que “(...) se o inconsciente está estruturado como uma linguagem, segundo Lacan, o sujeito do qual falamos está, desde que nasce, inscrito numa rede de fala própria da linguagem”.

Dessa forma, todo discurso que aparecer na clínica de psicanálise possui a perspectiva de um sintoma social, e que está inscrito de modo imponente na cultura e na vida dos sujeitos. Imponente é pelo modo que esse sintoma se aloja na vida do sujeito, pois está estruturado em seu inconsciente desde seu nascimento, sendo assim, todos os sujeitos passam pela experiência de vivenciar um sintoma social.

Arnaldo Chagas (2001, p. 108) nos afirma que a partir do discurso ocorre uma relação do sujeito com o social, e que essa relação estabelece o sintoma do sujeito no social, portanto se trata do fato de que “todo sintoma é social”.

O fato de estarmos inseridos em uma cultura faz com que estejamos envolvidos num discurso civilizador, é o que nos afirma Mára M. M. Bellini (1998, p. 249):

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O sintoma é, pois, uma afirmação substitutiva que tenta dar conta da incompletude, do buraco ao redor do qual estamos constituídos simbolicamente. Mas, para que o sintoma seja social, há necessidade de um laço de identificação entre os sujeitos. Na medida em que conseguimos conceber a influência de formas socialmente dominantes de representar o inconscientizado, se torna impossível escutar apenas como individuais, singulares, os sintomas que nos são referidos singularmente, porque este sujeito também está enlaçado no discurso civilizador.

É na cultura que o sujeito defende-se “de suas deficiências e de seus excessos” é o que afirma Luís Claudio Figueiredo (1999, p. 26), quando faz uma citação às obras de Freud: O Futuro de Uma Ilusão(1927) e Mal-Estar na Cultura. O autor escreve que é na cultura, segundo Freud, que são integrados instrumentos e técnicas necessários ao controle das “forças naturais, os regulamentos – interdições e prescrições – ordenadores das relações entre os homens, os modelos e os ideais capazes de organizar e estabilizar a vida coletiva e ainda as ilusões necessárias à conservação da própria cultura”.

Bellini (1998, p. 248) faz uma breve análise sobre a afirmação de Lacan, de que todo sintoma é social e de sua relação com a cultura:

Lacan já dizia que todo sintoma é social. E isso pode ser apreendido na medida em que percebemos o quanto uma rede discursiva nos enlaça e organiza formas de expressão singulares em cada cultura. Quando alguém nasce, é perpassado por uma rede de representações pré-existente que, através da linguagem, o inserirá e o produzirá como um efeito daquela cultura. Entendo o caráter de transubjetividade do qual Lacan fala quando se refere ao inconsciente como exatamente isso: nossa subjetividade nos transcende, é Outra, é extrínseca a nós. O sintoma social dominante em uma dada cultura será, pois, a formação substitutiva predominantemente articulada dos elementos constitutivos e significantes que, após o recalque, não têm mais acesso à consciência, só fazendo por meio de representantes.

O autor faz uma analogia do mito do assassinato do pai da horda primitiva, onde este pai foi morto e devorado por seus filhos com a intuição destes de introjetar simbolicamente o saber do pai, para assegurar-lhes um “gozar da liberdade das pulsões”. Desta forma, afirma que o sintoma social continua esboçando por meio de maneiras complexas o fracionamento de um gozo possível, sendo que, esse gozo também pode implicar em sofrimento.

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Alejandro Raggio (1998) escreve que o sintoma social é uma questão a ser pensada, considerando que o ser humano possui também sintomas individuais.

A própria denominação sintoma social já nos coloca numa questão que requer ser analisada: se considerarmos a existência de um sintoma social e outros que não se revestem desta característica – sintomas individuais -, imediatamente temos que pensar que o social é um elemento alheio a isso que se costuma chamar “psiquismo individual”, que se limita a influenciar ou produzir efeitos sobre uma matéria previamente gerada (RAGGIO, 1998. p.318).

Também afirma que

O que poderíamos chamar a “fenomenologia”, do chamado sintoma social, em referência às áreas nas quais se manifesta ou pelo menos nas quais se torna perceptível ao nosso olhar, coloca outro problema: o problema de definição do sintoma em relação ao seu âmbito empírico de emergência. Não é menos social um sintoma qualquer abordado na clínica particular que a chamada “toxicomania” como problema comunitário. (p.324)

Podemos também pensar a ansiedade como sintoma social, por esse se caracterizar por uma organização sobre uma forma discursiva, sendo na contemporaneidade o que produz um laço social. Esse laço social muitas vezes pode ser comparado aos grupos de adolescentes, pois nestas há uma identificação entre os sujeitos que ali estão envolvidos, assim como ocorre uma identificação nos casos de um sintoma social.

A respeito dessa identificação Alfredo Jerusalinsky (1998, p. 405) afirma:

Como é dito atualmente entre os adolescentes, a tribo não tem outra finalidade do que a identificação mesma no campo do objeto, quer dizer, uma inscrição de ordem imaginária que não tem uma inscrição simbólica maior, a não ser a identificação com o grupo mesmo.

A ansiedade apresenta-se atualmente como um sintoma social dominante, tanto pela pressão que emerge sobre os indivíduos, quanto pela sua ocorrência constante na vida desses sujeitos. O próximo capítulo abordará sua etiologia e sua incidência na sociedade capitalista atualmente.

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2. MANIFESTAÇÕES ATUAIS DO SINTOMA

No presente capítulo será feita uma breve análise sobre a etiologia da ansiedade, sua relação com outros transtornos neuróticos, e consequências da mesma na vida das pessoas.

A palavra ansiedade no senso comum, muitas vezes está associada ao termo medo/fobia, dessa forma, pode inibir as pessoas de realizarem suas tarefas rotineiras por se julgarem incapazes de fazer, de realizar o trabalho, temendo fazer de maneira incorreta, sem nem mesmo tentar. Já por outro lado a ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, a fazer movimentos, mas corre-se o risco de tornar patológico quando está presente em excesso, ou seja, pode tornar-se uma angústia.

A ansiedade segundo Sigmund Freud (1915-1916) está entrelaçada à existência de um sofrimento psíquico na vida do sujeito, em decorrência da presença de uma discórdia interna. Em sua obra afirma que a ansiedade surge quando a libido está em decadência, sendo assim, a ansiedade surgiria quando a libido do sujeito não está sendo satisfeita. “Não é possível, a princípio, discernir como a ansiedade surge da libido; apenas podemos reconhecer que a libido está ausente e que a ansiedade está em seu lugar” (FREUD,1915-1946, p.404).

A ansiedade pode estar ligada a diferentes objetos e também pode não estar ligada a nenhum deles, como aponta Freud. Uma é a realidade realística e a outra é realidade neurótica, sendo a última uma realidade do desconhecido, do sem objeto. Freud (1925-1926 p. 165) atesta que “Um perigo real é aquele que ameaça uma pessoa a partir de um objeto externo, e um perigo neurótico é aquele que a ameaça a partir de uma exigência instintual”.

Continua a afirmar Freud (1926[1925], p.163):

Em alguns casos as características da ansiedade realística e da ansiedade neurótica se acham mescladas. O perigo é conhecido e real, mas a ansiedade referente a ele é supergrande, maior do que nos parece apropriado. É esse excedente de ansiedade que trai a presença de um elemento neurótico. Tais casos, contudo, não introduzem qualquer princípio novo, pois a análise revela que ao perigo real conhecido se acha ligado um perigo instintual desconhecido.

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Assim como no capítulo anterior foi exposta a relação entre o sintoma e o ego, sendo o primeiro uma defasa do segundo, além da relação do sintoma com a repressão, também será feita uma analogia entre a ansiedade e os dois termos acima citados. Freud (1925-1926) afirma que o surgimento da ansiedade em relação com a repressão não se dá de maneira fácil, afirmando que o ego seria o lugar em que se fixa a ansiedade. Então, sobre o surgimento da ansiedade Freud (1925[1926], p.96) escreve que:

O problema de como surge a ansiedade em relação com a repressão pode não ser simples, mas podemos legitimamente apegar-nos com firmeza à idéia de que o ego é a sede real da ansiedade, e abandonar nosso ponto de vista anterior de que a energia catexial do impulso reprimido automaticamente transformada em ansiedade.

Entendendo um pouco mais sobre a etiologia da ansiedade, na obra de Freud encontram-se muitos fragmentos que discorrem sobre vários elementos referentes ao assunto. Dessa forma, julga-se relevante a citação em que aparecem mais fragmentos sobre a relação da ansiedade e o ego.

O determinante fundamental da ansiedade automática é a ocorrência de uma situação traumática; e a essência disto é uma experiência de desamparo por parte do ego face de um acúmulo de excitação, quer de origem externa quer interna, com que não se pode lidar(...). A ansiedade ‘como um sinal’ é a resposta do ego à ameaça da ocorrência de uma situação traumática. Tal ameaça constitui uma situação de perigo. Os perigos internos modificam-se com o período de vida (...), mas possuem uma característica comum, a saber, envolver a separação ou perda de uma objeto amado, ou uma perda de seu amor(...) uma perda ou separação que poderá de várias maneiras conduzir a um acúmulo de desejos insatisfatórios e dessa maneira a uma situação de desamparo (FREUD, 1925[1926]. p. 85).

Várias são as situações que podem ocasionar, ou então desencadear os transtornos de ansiedade. Mas como aponta Freud (1925-1926), é uma forma de resposta frente a um perigo eminente, que surge devido a um trauma que não foi elaborado satisfatoriamente pelo sujeito ansioso.

O mesmo aponta como uma guisa de conclusão que

A ansiedade é uma reação a uma situação de perigo. Ela é remediada pelo ego que faz algo a fim de evitar essa situação ou para afastar-se dela. Pode-se dizer que Pode-se criam sintomas de modo a evitar a geração da ansiedade.

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Mas isto não atinge uma profundidade suficiente. Seria mais verdadeiro dizer que se criam sintomas a fim de evitar uma situação de perigo cuja presença foi assinalada pela geração de ansiedade. (...), o perigo em causa foi o de castração ou de algo remontável à castração (FREUD, 1925-1926. p. 129).

O estado de ansiedade, portanto, pode ser considerado um estado preliminar da angústia, sendo a última considerada uma patologia mais grave e que implica-se de maneira mais avassaladora na vida do sujeito. A respeito da angústia Nilson Sibemberg (2007, p.22) fez uma narrativa sobre a etiologia do conceito em Freud:

A primeira teoria de Freud sobre a neurose de angústia situa sua etiologia, então, no acúmulo de tensão sexual não eliminada e na ausência ou insuficiência de elaboração psíquica da excitação sexual somática, pelo qual ela não pode transformar-se em libido psíquica. (...) o que nos importa nessa primeira elaboração não passa por uma etiologia situada na falta de descarga da excitação sexual como no coitus interrupstus, mas na insuficiência psíquica para elaborar as manifestações físicas da sexualidade. Na segunda tópica, a angústia virá sinalizar um perigo não distintamente identificado. Essa reação diante do perigo, invalidante na crise de pânico, estaria assimilada, para Freud, à reativação de uma situação traumática passada, atualizada em sua carga afetiva. As situações passadas encontram seus paradigmas na trauma do nascimento como primeira situação de perigo vivenciada pela criança; a condição de dependência absoluta do bebê e a primeira separação da mãe, situação destinada a se repetir em cada ocasião em que a ausência de objeto tiver que ter uma resolução psíquica. A problemática da angústia coloca em cena o temor da perda do objeto, seja ele materno ou de amor, deixando o sujeito exposto por vezes ao tormento da castração e da ideia de morte.

Freud elaborou dois conceitos a respeito da etiologia da angústia, mas esta elaboração da segunda tese não substitui a primeira, muito menos provoca uma ruptura entre os dois conceitos. Os mesmos marcam uma distinção dos momentos de elaboração psicanalítica com o conceito de angústia.

Essas duas formas de pensar a etiologia da angústia possibilita ter uma visão geral sobre o conceito na visão de Freud. Lembrando que possuímos como exemplo sobre angústia, o caso do paciente de Freud, o “Pequeno Hans”. Pedro Teixeira Castilho (2007) afirma a respeito do exemplo acima citado que a “A angústia do pequeno Hans é o que ficou recalcado pela castração. O medo do cavalo é um substituto da idéia inicial de ser castrado pelo pai.” Portanto Hans deslocou a angústia para o medo, dessa forma afirma Freud (vol. XX, 1925-1926, p. 127) em relação a

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fobia de seu paciente “(...) o que acontece numa fobia, em último recurso, é substituído por outro”.

Outro psicanalista que fez um extenso estudo sobre o conceito de angústia é Jacques Lacan. Em seu texto “A angústia”, 1962-1963, Lacan aponta que a angústia não se trata de uma emoção e sim de um afeto. Pois o afeto possui uma ligação direta com a estrutura do sujeito, porque em momento algum ele é recalcado. Dentre os vários conceitos que Lacan atribui à angústia, difere muitas vezes com os conceitos de Freud, onde o objeto é o que marca essa diferença.

Freud traz a ideia de que a angústia se dá frente à alguma coisa, ou seja, um objeto, já para Lacan deve-se elaborar melhor essa estrutura, ir além disso, não contentar-se com essa formulação. Segundo o psicanalista a angústia é um sinal que está ligado a um afeto.

Assim, tentemos seguir passo a passo a estrutura e apontar onde tencionamos situar a característica de sinal em que Freud se deteve como a mais apropriada para nos indicar, a nós, analistas, o uso que podemos fazer da função da angústia. Somente a idéia de real, na função opaca de que falo para lhe opor a do significante, permite que nos orientemos. Já podemos dizer que esse etwas diante do qual a angústia funciona como sinal é da ordem de irredutibilidade do real. Foi nesse sentido que ousei formular diante de vocês que a angústia, dentre todos os sinais, é aquele que não engana (LACAN, 1962-1963, p. 178).

Castilho (2007) fez uma análise sobre o conceito da angústia em Freud e em Lacan, destacando a relação da mesma com o objeto. Freud afirma haver uma ligação entre os dois conceitos. Lacan aponta que não há angústia sem objeto, ou seja, o mesmo já se encontra presente em sua estrutura.

Lacan nos convida a fazer uma orografia da angústia, a descrição de um relevo e grafos, colocando a angústia em uma topologia, momento que o eu é lançado (jeté) da sua unidade e, o que surgir é o deslizamento de sua onipotência. Se, para Freud, a angústia estaria ligada a um objeto, como a agressividade ao pai, para Lacan, a angústia não é sem objeto. Cabe apontar o que levou Lacan a construir sua concepção de angústia enquanto "um afeto que não é sem objeto". (CASTILHO, 2007)

Para Lacan portanto, ocorre um resvalamento da onipotência do eu quando a angústia emerge, desta forma, há uma ligação entre o objeto causa de angústia e os significantes que o sujeito já possui.

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A angústia é tema de muito estudo, porém como o foco do presente trabalho é a ansiedade, cabe ressaltar que em muitos autores os dois termos possuem o mesmo significado, mas conceitualmente se diferem, já que a ansiedade trata ser um estado preliminar da angústia. Alfredo Simonetti (2011, p. 97) nos traz uma reflexão acerca do assunto. Aborda os dois conceitos na ordem da psicopatologia fundamental.

Angústia e ansiedade, embora entrelaçadas, ambíguas, sobrepostas e complexas, e usadas como sinônimos, tanto por psiquiatras como por psicanalistas, ainda guardam suas diferenças quando o discurso se torna mais rigoroso, tanto na psicanálise quanto na psiquiatria. Ao lado da ambiguidade coexistem tentativas históricas para separar angústia de ansiedade.

Em sua tese de doutorado Milena de Barros Viana (2010, p. 78) fez uma analogia do conceito de ansiedade em Freud e no DSM – IV. A autora chega a conclusão a respeito do conceito de ansiedade com a seguinte afirmação:

A ansiedade é definida, portanto, como um estado afetivo, que possui um caráter acentuado de desprezar, e que produz a repressão, não sendo, portanto, consequência dela. O desprazer que a caracteriza parece ter um aspecto próprio, não óbvio, cuja presença é difícil de provar. Além disso, este desprazer se faz acompanhar de sensações físicas, mais ou menos definidas, que podem ser referidas a órgãos específicos do corpo, como os órgãos respiratórios e o coração, o que sugere, alega Freud à semelhança de outros autores de sua época, que as inervações ou descargas motoras desempenham um papel importante no fenômeno da ansiedade.

Esse desprazer que define a ansiedade segundo a autora, é comumente encontrado na sociedade contemporânea. Esse sentimento pode levar a pessoa ao suicídio, acreditando ser o único refúgio frente a esse sofrimento. As autoras Lívia Calastri e Sabline Rodrigues (2014) escreveram um artigo questionando a respeito do risco de suicídio em sujeitos portadores de transtorno da ansiedade. Usaram em seu estudo dados de uma artigo realizado por Moisés Rodrigues e seus auxiliares, da Universidade Católica de Pelotas – RS, onde constam dados de uma pesquisa realizada pelos mesmos com a população jovem, de 18 a 24 anos da cidade de Pelotas, no período de novembro de 2007 a junho de 2009, em que buscam observar a relação entre o suicídio e o estado de ansiedade. Dessa forma, julga-se necessário citar a escrita das autoras:

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A ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. Está entre os transtornos mais comuns nas síndromes psiquiátricas e é percebida como um fator iminente de risco de suicídio. (...) Nos jovens com algum transtorno de ansiedade, o risco de suicídio foi identificado em 27%. Por outro lado, os jovens que não apresentavam um transtorno de ansiedade o risco de suicídio foi significativamente menor (3,7%; p<0,001). (...)Nos indivíduos com algum transtorno de ansiedade, o risco de suicídio foi mais de seis vezes maior do que nos indivíduos sem tal ocorrência (CALASTRI e RODRIGUES, 2014).

Com os resultados da pesquisa torna-se perceptível a relação do suicídio com a ansiedade, demonstrando o quanto este transtorno pode interferir na vida dos portadores do transtorno, e também dos familiares, que precisam acompanhar e apoiar o sujeito que está em sofrimento. São dados que requerem atenção e que precisam ser avaliados e acompanhados, pois assim como o transtorno de ansiedade, o suicídio é um problema da saúde pública atual.

Antônio L. Teixeira e Patrícia Figueiredo (2006), abordaram essa relação do transtorno de ansiedade – suicídio, enfocando o transtorno do pânico, um tipo de transtorno presente na ansiedade:

Existe uma relação entre as características da doença apresentada e o risco suicida do paciente. Pacientes com maior frequência de ataques de pânico, longo período de doença, maior sensação de gravidade e de perda de controle nos ataques, maior temor a novos ataques, maior nível de ansiedade antecipatória, presença de hipervigilância e evitação em relação às sensações corporais e agorafobia têm maior risco de ideação ou tentativa de suicídio. Estes pacientes vivenciam o ataque de pânico como uma experiência intolerável, ou seja, com altos níveis de sentimentos negativos como angústia, humilhação, irritabilidade e hostilidade, e vêem no suicídio uma saída para não vivenciarem mais esta experiência.

Desta forma, podemos citar Holmes (2001) que aponta que a ansiedade interfere na vida do sujeito de forma avassaladora e assustadora, pelos sintomas que provoca no mesmo. Quando há o desencadeamento de uma crise o sujeito pode ter vários sintomas somáticos, tais como: palpitação, suor excessivo, dor no peito, tontura, tremedeira, etc., como também pode apresentar sintomas psíquicos: como irritabilidade, inquietação, perturbação do sono, entre outros.

Encontramos nos estudos de Holmes que a ansiedade pode ser primária ou secundária, ou seja, surge por diversos fatores e em diversas ocasiões, pode desencadear-se na infância, assim como também pode aparecer apenas na vida

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adulta. Pode decorrer de situações traumáticas, como também pode ser advinda de outras patologias, sendo portanto de ordem secundária, em que é apenas um sintoma de determinada doença. Segundo Holmes (2001, p. 84) “(...) nos transtornos de ansiedade, a ansiedade é o sintoma primário ou a causa primária de outros sintomas, enquanto nos demais transtornos a ansiedade é o resultado de outros problemas”.

A ansiedade possui uma estreita ligação com as fobias, segundo Holmes (2001, p. 85) “fobias são medos irracionais e persistentes de um objeto, atividade ou situação específicos. As fobias envolvem medos que não têm justificativa na realidade (...) ou medos que são maiores do que seria justificado”.

Portanto, a ansiedade está associada a um determinado objeto, ou seja podem aparecer sintomas de ansiedade em sujeitos que possuem fobia em relação a uma determinada situação. Como por exemplo o sujeito pode tornar-se ansioso quando está em lugar fechado - claustrofobia.

Dentre as fobias, as mais sentidas frequentemente por crianças são as fobias de animais, que perpassam a vida infantil e vão para a vida adulta. Freud (1925-1926, p. 127) com relação a essa fobia de animais, coloca que:

A ansiedade sentida nas fobias de animais é, portanto, uma reação afetiva por parte do ego ao perigo; e o perigo que está sendo assinalado dessa forma é o perigo de castração. Essa ansiedade não difere em aspecto algum da ansiedade realística que o ego normalmente sente em situações de perigo, salvo que seu conteúdo permanece inconsciente e apenas se forma consciente sob a forma de uma distorção.

O medo é uma característica muito ligada ao estado de ansiedade, o que nos leva a considerar importante descrever o mesmo, bem como, mostrar que seu conceito é diferente do conceito de ansiedade. O medo geralmente está associado a um perigo real, quando o sujeito encontra-se frente a situação de risco. Já a ansiedade está ligada a um comportamento frente a uma situação de ameaça, onde o perigo não está comprovado.

(...) a ansiedade é a emoção relacionada ao comportamento de avaliação de risco que é evocado em situações em que o perigo é incerto (ameaça potencial), seja porque o contexto é novo ou porque o estímulo do perigo (e.g., um predador) esteve presente no passado, mas não está mais no meio ambiente. Ao contrário, o medo está relacionado a estratégias defensivas que ocorrem em resposta ao perigo real que está a certa distância da vítima

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(ameaça presente). Neste caso, o animal ou evita a situação sempre que exista uma rota de fuga disponível ou se torna imobilizado de forma tensa (congelamento) quando não há nenhuma saída. (GRAEFF, 2007)

Os seres humanos estão em uma constante busca pela realização, uma realização que compreende tapar um vazio, através do objeto ideal. Sobre o assunto, Künzel(1997), nos afirma que nesta busca o indivíduo se entrelaça numa investida de “realização do gozo fálico”. Sendo a mesma algo comum na vida dos sujeitos que estão procurando defender-se daquilo que se apresenta como sendo impossível, ou seja, “de ser castrado”.

Sobre o mesmo afirma Freud (1925-1926, p. 137):

(...) a ansiedade aparece como uma reação à perda sentida do objeto e lembramo-nos de imediato do fato de que também a ansiedade de castração constitui o medo de sermos separados de um objeto altamente valioso, e de que a mais antiga ansiedade – a ‘ansiedade primeva’ do nascimento – ocorre por ocasião de uma separação da mãe.

Portanto, para Freud essa castração simboliza para a criança a perda do lugar do falo materno, do objeto de desejo, pois a criança é separada da mãe já a partir de seu nascimento. Porém, teme a castração por ter que renunciar ao lugar que o grande Outro lhe oferece.

O estudo até o presente momento deteve-se em apresentar a etiologia do conceito de ansiedade com base em autores e estudos ligados à área psicanalítica. Como afirmado no capítulo anterior, a psicanálise elucida uma abordagem que diz respeito a estrutura e constituição das teorias atuais existentes, não sendo diferente em relação aos transtornos mentais. O trabalho seguirá com uma abordagem mais dinâmica, buscando fundamentar os conceitos aqui expostos em diversas abordagens, entre elas, abordagens da psiquiatria.

A ansiedade possui uma classificação de subtipos, que são os transtornos de ansiedade. Entre eles, há os transtornos fóbicos, a agorafobia, fobia, social e fobia específica. A seguir será feita uma descrição de cada item com base no obra de Holmes (2001), Psicologia dos Transtornos Mentais, que possui uma ligação mais direcionada a área da psiquiatria do que da psicologia propriamente dita.

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Os transtornos fóbicos podem ser descritos como como medos irracionais e perseverantes de algum determinado objeto, ação, ou de alguma situação em especial. São geralmente medos que na realidade não possuem nenhuma explicação lógica, ou seja, que não possuem justificativa (HOLMES, 2001).

Já a agorafobia se caracteriza por ser tratar de medos em relação a lugares onde haja uma maior concentração de pessoas, em que o sujeito sente-se inseguro, pois caso lhe ocorra uma crise de ansiedade se tornaria difícil sair do local. Segundo Dessimoni (2012), esse tipo de situação geralmente diz respeito a lugares ou situações que envolva um grande número de pessoas, viagens para lugares distantes de casa.

A fobia social diz respeito a um medo de julgamento e críticas de outras pessoas caso se comportar de modo constrangedor, motivo pelo qual teme e evita lugares públicos. Já a fobia específica está relacionada a um medo irracional frente a uma situação diferente de multidões, como por exemplo agorafobia, bem como, frente a uma possível crítica pessoal, ou seja, fobia social. Nesta estão incluídas os demais tipos de fobias (HOLMES, 2001).

Já os estados de ansiedade estão divididos em quatro formas diversas, tais como o transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno de estresse agudo (HOLMES, 2001). No presente trabalho será aprofundado o conceito de ansiedade generalizada, não abstendo-nos profundamente aos outros, mas se fazendo necessário abordar os mesmos para haver um conhecimento acerca de seus conceitos.

O transtorno do pânico é caracterizado por “breves períodos de ansiedade espontânea excepcionalmente intensa. Tais períodos vêm e vão subitamente, via de regra durante apenas alguns minutos, e sua ocorrência é imprevisível” (HOLMES, 2001. p. 88). Este pode apresentar sintomas físicos, como também psicológicos, os ataques do transtorno se caracterizam por serem apavorantes tanto que muitos sujeitos acometidos por tais sintomas afirmam enfrentar momentos parecidos com a morte.

O transtorno de ansiedade generalizada é aquela em que a mesma persiste por um longo período de tempo, no mínimo um mês. Aparentemente sua causa é

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desconhecida por não apresentar nenhum objeto ou situação especifica que possa tê-la desencadeado.

De acordo com o CID 10, a ansiedade generalizada pode ser descrita da seguinte forma:

O aspecto essencial é ansiedade, a qual é generalizada e persistente, mas não restrita ou mesmo fortemente predominante em quaisquer circunstâncias ambientais em particular (isto é, ela é “livremente flutuante”). Como em outros transtornos ansiosos, os sintomas dominantes são altamente variáveis, mas queixas de sentimentos contínuos de nervosismo, tremores, tensão muscular, sudorese, sensação de cabeça de leve, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico são comuns. Medos de que o paciente ou um parente irá brevemente adoecer ou sofrer um acidente são freqüentemente expressados, junto com uma variedade de outras preocupações e pressentimentos. (OMS, 1992. p. 138)

Um transtorno de estresse pós-traumático apresenta como aspectos singulares a reedição de uma situação traumática. Estes podem ocorrer devido a um acidente, uma frustração que não foi elaborada, catástrofes naturais, torturas, assaltos, estupros, entre outros. Segundo Holmes (2001), o sujeito possui uma vida barrada e emocionalmente não aprofundada, e principalmente marcada por experiências emocionais intensas circundadas pelo trauma vivido.

O sujeito portador do transtorno obsessivo-compulsivo se abstém em ideias obsessivas e de ordem compulsivas, ou seja, são ideias recorrentes e persistentes que inibem o indivíduo frente a elas, pois o mesmo possui dificuldades em tirá-las de sua mente.

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e compulsões. Obsessões são idéias, pensamentos, imagens ou impulsos repetitivos e persistentes que são vivenciados como intrusivos e provocam ansiedade. Não são apenas preocupações excessivas em relação a problemas cotidianos. (...) Compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que visam reduzir a ansiedade e afastar as obsessões. Esses rituais freqüentemente são percebidos como algo sem sentido e o indivíduo reconhece que seu comportamento é irracional. Geralmente a pessoa realiza uma compulsão para reduzir o sofrimento causado por uma obsessão(GONZALES, 1999).

O transtorno de estresse-agudo é considerado uma patologia recentemente listada no DSM-IV, e trata ser um quadro de ansiedade intensa que pode persistir

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aproximadamente por um mês ou mais. Holmes (2001) afirma que sua origem pode ser ligado a um fator situacional transitório, como por exemplo um desastre natural, ou então pode prover de uma experiência pessoal, um assalto, por exemplo. Sua base pode estar ligada ao transtorno de estresse pós-traumático.

Outro importante ponto a ser destacado é a diferença que marca a ansiedade como traço da ansiedade como estado. A primeira, segundo Holmes (2001), se caracteriza por ser relativamente duradoura, ou seja, sentem-se ansiosos frente onde estão e/ou o que estão fazendo, já os sujeitos que sofrem da ansiedade-estado apenas são acometidos frente a situações particulares, como por exemplo, uma prova que avalie conhecimentos, aos quais não domina totalmente.

Após essa breve apresentação dos diferentes transtornos e características de ansiedade, cabe ressaltar que a mesma ocorreu a fim de proporcionar um conhecimento geral sobre o conceito, para que assim possa ser delimitado o tema de pesquisa. O presente estudo continuará sendo desenvolvido a partir da descrição e análise de apenas um destes transtornos, ou seja, o conceito de transtorno de ansiedade generalizada, com o propósito de apresentar suas características e também suas incidências na vida dos sujeitos portadores da mesma.

A ansiedade está presente e encontra-se perceptível desde a infância, demonstrando o quanto a mesma causa impactos na vida do sujeito durante a fase de constituição. Os autores afirmam que a criança sofre de uma ansiedade de separação, que se dá quando uma figura que lhe indica segurança e confiança, geralmente a figura materna, se afasta dela. Mas este sintoma muitas vezes se dá por antecipação ao ato, causando sofrimento antecipatório em função de uma ansiedade que se manifesta antes mesmo da separação.

Marcelli & Cohen (2010) em seu texto Os transtornos de ansiedade, os sintomas e a organização de aparência neurótica afirmam que a separação já ocorre na infância, no período em que a criança precisa aprender a lidar com esse sentimento de impotência, frente a ansiedade de separação.

A ansiedade de separação consiste em um medo excessivo e intenso após um separação ou afastamento da figura de apego, em geral a mãe ou o pai da criança, bem além do período habitual (2-4 anos) ou de maneira muito exagerada e rígida. No plano clínico, a ansiedade, a cólera, as lágrimas também podem estar presentes de maneira antecipatória a fim de evitar situações de separação (MARCELLI & COHEN, 2010. p. 305).

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Como citado anteriormente a ansiedade pode ser encontrada também na infância, principalmente em relação a separação das figuras parentais. Mas a mesma pode persistir além da fase de separação, Leahy (2012) aponta que torna-se mais perceptível os sintomas de ansiedade em crianças que estão na fase escolar, demonstrando impedimentos no que diz respeito à aprendizagem e também ao convívio social. Aponta que “(...)16% dos casos começam na infância e causam impactos sobre o desenvolvimento. Meninos e meninas com o transtorno têm mais dificuldades na escola (...) e muito mais risco de se tornarem adultos com problemas psicológicos.”

Da infância para a vida adulta o sujeito passa por muitas pressões e cobranças, principalmente em relação a resultados positivos. As crianças que estão em fase escolar geralmente devem destacar-se da média para não serem considerados alunos com déficit cognitivo. Dessa forma, surge a ansiedade frente aos medos que essas crianças sentem em relação a essas cobranças como um modo de tampona-lo.

Na sociedade atual o sujeito precisa se fazer reconhecer frente aos outros, precisa responder de algum lugar, e além de tudo, precisa mostrar o quão é capaz de superar dificuldades e obstáculos. Tudo isso, porque atualmente há uma competição diária, imposta pela cultura e muitas vezes pelos próprios sujeitos que não aceitam fracassos. Porém, essa pressão causa malefícios aos sujeitos, que não respondem mais de um lugar de liberdade, aos quais é dada como ordem natural das coisas, mas já encontram-se alienados a uma supressão dessa liberdade.

Ana Beatriz B. Silva em seu texto Estado de Alerta (2012) introduz à obra se reportando aos transtornos de ansiedade em decorrência das reações exacerbadas em função das competitividades e inovações frequentes.

Acompanhamos a virada de milênio ouvindo projeções para o século 21 repletas de facilidades tecnológicas que poupariam o excesso de trabalho e nos dariam mais conforto, felicidade e tranquilidade. Hoje constatamos, com certa perplexidade, que tocamos a vida sem compreender muito bem o porquê de tanta correria. Dispomos de equipamentos cada vez mais rápidos, muito mais velozes que a capacidade de nosso cérebro de processar tanta informação. Dentro desse rodamoinho de competitividade e inovações constantes, muitos de nós somos tomados pelo medo que cruza as fronteiras entre o saudável e o patológico. Ao reagirmos de forma exacerbada aos contratempos e dificuldades do dia a dia, o medo deixa de ter função protetora e se converte numa ameaça para a mente, dando origem aos transtornos de ansiedade (SILVA, 2012. p. 36).

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Essa suposta felicidade introduzida pela ascensão da tecnologia desencadeou nos sujeitos uma sensação de incapacidade e inferioridade frente a nova promessa de perfeição das máquinas. Em que teriam que se mostrar melhor e mais capacitados do que o sistema para garantir seu status e também sua sobrevivência no mercado de trabalho, causando assim sofrimento e preocupações em função de um futuro incerto, ou seja, ocasionando uma ansiedade por antecipação.

Os sujeitos não encontram tempo para dedicar-se a atividades nas quais possam sentir prazer, muitos também não o procuram, estão tão preocupados com o futuro, com o amanhã que estão deixando de aproveitar o presente. Mas isso se dá em função de uma preocupação causada pela ansiedade antecipatória, que insiste no fato do sujeito sofrer por algo que ainda está por vir, porém sua intencionalidade é de inibir qualquer sofrimento posterior.

Podemos reconhecer que é comum na atualidade encontrar sujeitos que sofrem com uma ansiedade por antecipação, em que possuem dificuldades em lidar com perspectivas ou tempos de espera. Dessa forma, pode ficar ansioso antes de uma apresentação de trabalho, um jogo importante ou frente a chegada de alguém importante.

Esta ansiedade antecipatória pode estimular o indivíduo a pôr-se em movimento, buscar resultados, mas como também pode gerar sofrimentos em função de não conseguir lidar com estado preliminar que a ansiedade condiciona, podendo ocasionar a angústia. Porém, a sociedade capitalista não aceita a manifestação de qualquer tipo de insatisfação, e muito menos de frustrações e fracassos.

A condição do ser humano exige uma suposta aparência de felicidade frente a sociedade, em que não deve deixar transparecer seus problemas, porém a mesma pode causar sofrimento constante frente a esse status. Essa cobrança alude muitas formas de preocupações, podendo ser um sofrimento em decorrência da relação do sujeito com os demais indivíduos, que causa uma certa insatisfação e um mal-estar frente a sociedade.

Mal-estar este, que surge em função do fluxo discursivo que circula na cultura, o que nos remete ao conceito de sintoma social e sua relação com a ansiedade. O sujeito pode sofrer frente à determinadas situações reais vividas no dia a dia que estão

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