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O INDÍCIO NO PROCESSO PENAL: PROVA INDIRETA E PROVA SEMIPLENA

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O INDÍCIO NO PROCESSO PENAL: PROVA INDIRETA E PROVA

SEMIPLENA

Leonardo Costella1

Fabiano Oldoni2

Sumário

Introdução; 1. Prova no processo penal; 2. Indício enquanto prova indireta; 3. Indício enquanto prova semiplena; 4. Sentença penal condenatória com fundamento em indício; Considerações finais; Referências das fontes citadas.

Resumo

O presente estudo tem por objetivo diferenciar o indício enquanto prova indireta do indício enquanto prova semiplena, bem como analisar se o indício pode, e de que maneira, ser usado como fundamento para a sentença penal condenatória. Para tanto, eu procuro trazer os conceitos das categorias jurídicas estudadas e expor demais aspectos jurídicos relacionados à prova no processo penal. Nesse contexto, eu vou discorrer sobre o instituto do indício, apresentando suas características enquanto prova indireta. Na sequência, o artigo trata do indício enquanto prova semiplena. Por fim, o estudo aborda os aspectos relacionados à sentença penal condenatória fundamentada exclusivamente em indício. Para a elaboração do artigo foi utilizado método indutivo, com as técnicas do referente, das categorias, do fichamento e da revisão bibliográfica.

Palavras-chave: Indício; Prova indireta; Prova semiplena; Sentença Penal.

Introdução

O presente artigo terá como tema principal estudar a utilização do indício como fundamento da sentença penal condenatória. Assim, fez-se necessário diferenciar o indício enquanto prova indireta e enquanto prova semiplena.

1

Acadêmico do 8º período do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

2

Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (2001), Especialização em Direito Penal Empresarial pela Universidade do Vale do Itajaí (2004) e Mestrado em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (2010). Professor titular das disciplinas de Direito Processual Penal e Prática Jurídica Processual Penal pela Univali. Coordenador do Projeto de Execução Penal junto ao Sistema Penitenciário de Itajaí. Autor dos livros “Arrendamento Mercantil Financeiro: uma abordagem acerca do pagamento antecipado do valor residual e do valor residual garantido” e “A aquisição da propriedade ilícita pela usucapião”, além de vários artigos publicados em revistas jurídicas e periódicos. Advogado.

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Para tanto, se iniciará falando acerca da prova no processo penal, seu conceito e características para, na sequência, apresentar as características da prova semiplena e da prova indireta.

Será verificada a importância do tema no âmbito processual penal, pois sendo estabelecida a devida diferenciação entre os indícios enquanto prova indireta e semiplena, facilitará o entendimento a respeito dos atos possíveis de serem praticados a partir de cada espécie.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação3 foi utilizado o Método Indutivo4, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano5, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente6, da Categoria7, do Conceito Operacional8 e da Pesquisa Bibliográfica9.

1. Prova no processo penal

Inicialmente, é necessário mencionar que a prova no processo penal é o meio em que se concretizam os fatos existentes no processo, possibilitando o surgimento de acusações, defesas e a consequente busca da verdade processual.

3

“[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.

4 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou

conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.

5 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de

Oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

6 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance

temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.

7

“[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.

8

“[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.

9 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz.

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416

Segundo Edilson Mougenot Bonfim10, prova é o instrumento usado pelos

sujeitos processuais (autor, juiz e réu) para comprovar os fatos da causa, ou ainda para a verificação das alegações das partes como fundamento para o exercício da tutela jurisdicional.

Guilherme de Souza Nucci11 esclarece que o termo prova origina-se do latim

probatio e significa verificação, inspeção, exame, razão, confirmação, etc.

Fernando da Costa Tourinho Filho12 vem consubstanciar:

Provar é, antes de mais nada, estabelecer a existência da verdade; e as provas são os meios pelos quais se procura estabelecê-la. Provar é, enfim, demonstrar a certeza do que se diz ou alega. Entendem-se, também por prova, de ordinário, os elementos produzidos pelas partes ou pelo próprio Juiz visando a estabelecer, dentro do processo, a existência de certos fatos.

Assim, verifica-se, a importância das provas para os sujeitos processuais, que as utilizam durante o processo penal, conduzindo suas ações, para ao fim chegar-se a condenação ou absolvição do acusado.

Esclarece Edilson Mougenot Bonfim13 que “a prova tem como finalidade permitir que o julgador conheça os fatos sobre os quais fará incidir o direito”. Tourinho Filho14 ainda complementa que a sua finalidade é formar a convicção do Juiz sobre os elementos necessários para decisão.

Porquanto, Paulo Rangel15 explica que a prova:

É a coisa, o fato, o acontecimento que deve ser conhecido pelo juiz, a fim de que possa emitir um juízo de valor. São os fatos sobre os quais versa o caso penal. Ou seja, é o thema probandum que serve

10 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. rev. e atual. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 303. 11

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 503.

12

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 31 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 213.

13 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. p. 304. 14

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. p. 213.

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417

de base à imputação penal feita pelo Ministério Público. É a verdade dos fatos imputados ao réu com todas as suas circunstâncias.

Em complemento à doutrina, pode-se extrair do Código de Processo Penal o conceito de prova:

Art.155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Para prosseguir o estudo, é de suma importância trazer a classificação da prova, presente na obra de Edilson Mougenot Bonfim16, de acordo com os diversos

critérios:

I – Quanto ao objeto, pode ser direta ou indireta. A primeira demonstra o fato de forma imediata (ex.: o flagrante, a confissão, o corpo de delito); a segunda, ao contrário, afirma um fato do qual se infira, por dedução ou indução, a existência do fato que se busque provar (ex.: os indícios, presunções e suspeitas).

II – Quanto ao sujeito ou causa, poderá ser real, se surgir de coisa ou objeto (ex.: aquela extraída dos vestígios deixados pelo crime); ou pessoal, quando emanar da manifestação consciente do ser humano (ex.: a testemunha que narra os fatos a que assistiu; o laudo assinado por dois peritos).

III – Quanto à forma, são divididas em: testemunhal, documental e material (é a que consiste em qualquer materialidade que sirva de elemento para o convencimento do juiz sobre o fato probando). IV – Quanto ao valor ou efeito: plena (perfeita ou completa) é aquela apta a conduzir um estado de certeza no espírito do juiz; não plena (imperfeita ou incompleta), caso não seja suficiente por si para comprovar a existência do fato, trazendo apenas uma probabilidade acerca de sua ocorrência.

Diante disso, Edilson Mougenot Bonfim17 complementa que a prova direta

demonstra o fato de forma imediata (ex.: o flagrante, a confissão, o corpo de delito), enquanto a prova indireta, ao contrário, afirma um fato do qual se entende por dedução ou indução, a existência de um fato que se busque provar (ex.: indícios, presunções e suspeitas).

16

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. p. 309-310.

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Nesse sentido Rangel18 conceitua a prova direta:

Será quando se referir ao próprio fato probando. Pois o fato é provado sem a necessidade de qualquer processo lógico de construção. É aquela que demonstra a existência do próprio fato narrado nos autos. No crime de homicídio, a testemunha presta depoimento sobre o que viu, ou seja, a morte da vítima em face da ação do agente. Neste caso, o depoimento da testemunha é meio de prova sobre o fato (objeto da prova) diretamente. O laudo de exame de corpo de delito também é prova direta do fato descrito na denúncia. A confissão do acusado é prova direta sobre o fato que lhe foi imputado.

Quanto à indireta, o mesmo autor19 explica: “é a prova que não se dirige ao próprio fato probando, mas por raciocínio que se desenvolve, se chega a ele. Há na prova indireta, uma construção lógica através da qual se chega ao fato ou à circunstância que se quer provar”.

Assim, Mirabete20 esclarece que na prova direta, o fato é revelado sem a necessidade de qualquer processo lógico construtivo. A prova em si, é a demonstração do fato ou circunstância. Enquanto que na prova indireta, a representação do fato a provar se faz através da construção lógica e através dela será revelado o fato ou circunstância.

Ademais, Renato Brasileiro de Lima21 entende que: a prova direta permite conhecer o fato por meio de uma única operação inferencial, já a indireta o magistrado se vê obrigado a realizar pelo menos duas operações inferenciais para se chegar uma conclusão acerca do fato a provar.

Pode-se verificar, portanto, que as provas são fundamentais para o processo penal, eis que podem fornecer ferramentas aos sujeitos processuais. Além disso, podem comprovar ou não os fatos presentes nos autos.

18

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. p. 456.

19 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. p. 456. 20

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18 ed. São Paulo: Atlas. 2006. p. 317.

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2. Indício enquanto prova indireta

Para prosseguir o estudo, primeiramente, faz-se necessário trazer o esclarecimento de Mirabete22, quanto à palavra indício, que vem do latim indicare,

que significa indicar, apontar, demonstrar.

Nesse sentido Paulo Rangel23 leciona: “vem do latim indiciu, que significa

indicar, apontar, sinal, indicação. É todo e qualquer fato, ou circunstância, certo e provado, que tenha conexão com o fato, mais ou menos incerto, que se procura provar”.

O termo indício, segundo Renato Brasileiro de Lima24, é usado no Código de Processo Penal em dois sentidos, ora como prova indireta, ora como prova semiplena. Neste momento cabe citar a explicação do autor enquanto prova indireta:

(...) a palavra indício deve ser compreendida como uma das espécies do gênero prova, ao lado da prova direta, funcionando como um dado objetivo que serve para confirmar ou negar uma asserção a respeito de um fato que interessa à decisão judicial.

Nestes termos, o autor25 cita como um exemplo o dispositivo legal presente no Código de Processo Penal em seu artigo 239: “Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.”

Assim, é necessário frisar, que o conceito contido no dispositivo legal supracitado, segundo Mougenot26, trata-se da prova dita indireta.

Portanto, pode-se verificar que o indício não trata de fatos meramente mencionados ou infundados, este instituto, demonstra a existência concreta de algo, que, estando no processo, pode gerar conclusões.

22 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. p. 317. 23

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. p. 491.

24 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal, vol. I. p. 830. 25

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal, vol. I. p. 830.

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Porém, Guilherme de Souza Nucci27 lembra que “o indício é um fato provado e secundário (circunstância) que somente se torna útil para a construção do conjunto probatório ao ser usado o processo lógico da indução”. Ainda, define que a indução é um raciocínio utilizado pelo magistrado, ao utilizar-se dos indícios, chega a uma conclusão qualquer no processo.

Ademais, o autor Paulo Rangel28 também verifica a importância de diferenciar indício de presunção, onde o primeiro é o fato provado e conhecido, enquanto a presunção é suposição ou suspeita. Assim finaliza: “o indício é o fato indicativo. A presunção, o fato indicado”.

Com base nesta definição, o mesmo autor29 complementa: “o fato certo e provado é o indício. O raciocínio que se faz para se chegar ao fato incerto que se quer provar é a presunção, razão pela qual se diz que a presunção é a operação mental que liga um fato conhecido a outro que se quer conhecer”.

Diante dos fatos a serem provados, Madeira30 dispõe:

O que se torna necessário é que essa relação entre a circunstância conhecida, provada e o fato, se processe, na consciência do juiz, através de uma dedução lógica, num raciocínio conclusivo, onde o magistrado não tenha que concentrar muito esforço. Que a conclusão da relação entre a circunstância e o fato chegue por uma lógica natural.

Aury Lopes Júnior31 esclarece que o fato de relacionar o indício a alguém, se estabelece como um ato posterior ao estado de suspeito e está baseado em um juízo de probabilidade, e não de mera possibilidade. Desta maneira, relaciona o princípio constitucional da presunção de inocência com o indiciamento.

27

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. p. 503.

28 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. p. 492. 29

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. p. 492.

30 MADEIRA, Ronaldo Tanus. Da prova e do processo penal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003. p. 136. 31

LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional, volume I. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 287.

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Ainda assim, o autor32 explica a estreita relação entre prova e indício:

Não há que se confundir indícios com provas (ainda que toda prova seja um indício do que ocorreu) [...].Ou seja, ninguém pode ser condenado a partir de meros indícios, senão que a presunção de inocência exige prova robusta para um decreto condenatório.

Através do raciocínio de Aury Lopes Júnior33, é possível identificar que os

indícios (prova indireta) não possuem o mesmo grau de confiabilidade das provas diretas. Nesse sentido, as informações contidas nos indícios não são suficientes para demonstrar os fatos ao juiz, consequentemente não será possível a utilização da prova indiciária como fundamento para a condenação.

Nesta linha de pensamento, Guilherme de Souza Nucci34 explica que o indício é prova indireta, e que se estiver solitário nos autos, não tem força suficiente para condenar. Ainda complementa:

Assim, valemo-nos, no contexto dos indícios, de um raciocínio indutivo, que é o conhecimento amplificado pela utilização da lógica para justificar a procedência da ação penal. A indução nos permite aumentar o campo do conhecimento, razão pela qual a existência de vários indícios torna possível formar um quadro de segurança compatível com o almejado pela verdade real, fundamentando uma condenação ou mesmo uma absolvição.

Hélio Tornaghi35 esclarece que o indício é sempre um fato, e este, indica, aponta, assinala alguma coisa respeito do crime por estar ligado a ele, seja pela maneira que foi praticado ou quanto à sua autoria. Em suma, o autor explica que o indício é o fato provado que por sua ligação com o fato probando, autoriza a concluir algo sobre esse.

32 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional, volume I. p. 623-624. 33

O autor entende que não se pode confundir prova com indícios. Mesmo existindo a previsão legal dos indícios no contida no Título VII – Da Prova, do Código de Processo Penal, o doutrinador critica tal posicionamento e menciona que ninguém pode ser condenado a partir de meros indícios. Também argumenta que os indícios não se equivalem à prova direta, não sendo possível, portanto, a condenação com base em prova indiciária.

34

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. p. 503.

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Neste instante, torna-se fundamental relembrar que o ordenamento jurídico brasileiro estabeleceu que não há hierarquia entre as provas. Assim, Jorge Henrique Schaefer Martins36 traz o seguinte pensamento:

Sabendo-se que, na busca da melhor história do fato, utilizam-se inúmeros tipos de prova, e que inexiste no ordenamento jurídico-processual brasileiro uma graduação entre elas, afigura-se serem os indícios elementos probatórios de igual valor aos demais, desde que deles se possa retirar conclusões seguras a permitir a convicção do julgador.

Entretanto, Ronaldo Tanus Madeira37 esclarece que “ se de um indício não se pode concluir a existência de um fato, a si intimamente interligado, não deve ser considerado como prova, capaz de sustentar uma sentença condenatória”.

Por sua vez, Julio Fabbrini Mirabete38 explica que “tanto mais forte o indício quanto mais íntima sua relação com o fato, não havendo princípios inflexíveis sobre o valor da prova indiciária no processo”.

Nesta linha de pensamento, apesar das divergências doutrinárias, predomina o entendimento que o indício enquanto prova indireta, pode servir como fundamento de uma sentença penal condenatória, desde que seja possível relacionar o fato concreto presente no indício com o crime praticado.

3. Indício enquanto prova semiplena

Diante deste tema, Rui Barbosa39 apresenta o conceito de prova semiplena:

Prova que não é bastante ou suficiente para produzir uma certeza irrefutável ou inequívoca, sendo que nesta condição, pode ser tida como elemento subsidiário ou como reforço de prova, e deve, por

36

MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Prova criminal: retrospectiva história, modalidades, valoração, incluindo comentários sobre a Lei 9.296/96. Curitiba: Juruá, 1996. p. 72.

37

MADEIRA, Ronaldo Tanus. Da prova e do processo penal. p. 136. 38 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. p. 318.

39

BARBOSA, Rui. Primeiros trabalhos. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1951. (Obras Completas de Rui Barbosa, v.1, t. 1, 1865-1871) p. 193-200. – Retirado do endereço eletrônico: http://basesdedados.casaruibarbosa.gov.br/scripts/odwp032k.dll?t=nav&pr=crb_ass_pr&db=crb_ass_db&use=sh &rn=2&disp=card&sort=on&ss=5020394&arg=prova%20semiplena

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isso, servir de fundamento à convicção em harmonia ou confronto com outros elementos indiciários a respeito do fato, a que se refere. (...)

diz-se prova semiplena aquela que produz alguma fé, mas não tanta que seja suficiente para demonstração da verdade sem algum adminículo.

Neste aspecto, Renato Brasileiro de Lima40 explica:

Apesar de grande parte da doutrina referir-se aos indícios apenas com o significado de prova indireta, nos termos do art. 239 do CPP, a palavra indício também é usada no ordenamento processual penal pátrio com o significado de uma prova semiplena, ou seja, no sentido de um elemento de prova mais tênue, com menor valor persuasivo. É com esse significado que a palavra indício é utilizada nos arts. 126, 312 e 413 caput, todos do CPP.

Visando esclarecer a utilização dos indícios, Aury Lopes Júnior41, traz a

importante classificação que define e distingue os atos de prova, daqueles meros atos de investigação:

Assim, são atos de prova, aqueles que:

a) estão dirigidos a convencer o juiz da verdade de uma afirmação; b) estão a serviço do processo e integram o processo penal; c) dirigem-se a formar um juízo de certeza – tutela de segurança; d) servem à sentença;

e) exigem estrita observância da publicidade, contradição e imediação;

f) são praticados ante o juiz que julgará o processo.

Substancialmente distintos, os atos de investigação (instrução preliminar):

a) não se referem a uma afirmação, mas a uma hipótese;

b) estão a serviço da investigação preliminar, isto é, da fase pré-processual e para o cumprimento de seus objetivos;

c) servem para formar um juízo de probabilidade, e não de certeza; d) não exigem estrita observância da publicidade, contradição e imediação, pois podem ser restringidas;

e) servem para a formação da opinio delicti do acusador;

f) não estão destinados à sentença, mas a demonstrar a probabilidade do fumus commissi delicti para justificar o processo (recebimento da ação penal) ou o não-processo (arquivamento);

40

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal, vol. I. p. 831.

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424

g) também servem de fundamento para decisões interlocutórias de imputação (indiciamento) e adoção de medidas cautelares pessoais, reais ou outras restrições de caráter provisional;

h) podem ser praticados pelo Ministério Público ou pela Polícia Judiciária.

Partindo dessa distinção, o autor define os atos de prova que somente são possíveis quando presente o indício enquanto prova indireta. Já os atos de investigação que podem ser realizados a partir de um indício enquanto prova semiplena, Aury Lopes Júnior42 conclui “se os indícios de autoria justificam uma prisão cautelar ou mesmo sequestro de bens, pois a cognição é sumária e limitada ao fumus commissi delicti, jamais legitimam uma sentença penal condenatória”.

Através deste entendimento do doutrinário, verifica-se que os artigos 126, 312 e 413, caput, todos do Código de Processo Penal, exemplificam tal situação:

Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a existência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens.

Artigo 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.

Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.

É necessário frisar que esta espécie de indício possui um menor valor de convicção, de convencimento, diferentemente da prova indiciária, e por isso não torna-se suficiente para servir de fundamento para uma condenação penal, apenas para realizar atos e decisões processuais.

4. Sentença penal condenatória com fundamento em indício

Sobre o tema, Paulo Rangel43 observa três aspectos referente ao indício, que torna indubitavelmente fundamental para o presente estudo:

42

LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional, volume I. p. 624.

(12)

425

Primeiro quanto à natureza jurídica: trata-se de um verdadeiro meio de prova. Ou seja, é o caminho utilizado pelo magistrado para formar a sua convicção acerca dos fatos ou coisas que as partes alegam. Segundo, se o indício está sendo corroborado com as informações contidas no inquérito policial, ou seja, não obstante não haver outros elementos de prova nos autos do processo, há, no procedimento administrativo que serviu de base à denúncia, informações que se coadunam com os indícios.

Terceiro, que diante do sistema do livre convencimento e do princípio da verdade processual, o juiz está livre para decidir de acordo com a sua própria consciência, fundamentando sua decisão nos meios de provas constantes dos autos, podendo ter submetida sua decisão ao crivo do tribunal, face o duplo grau de jurisdição.

Ademais, o ensinamento doutrinário de Julio Fabbrini Mirabete44 vem consubstanciar que a prova indiciária (indireta) possui o mesmo valor das provas diretas, eis que não há hierarquia entre as provas. Neste sentido, ainda complementa: “assim, os indícios múltiplos, impregnados de elementos positivos de credibilidade são, segundo a doutrina e a jurisprudência, suficientes para dar base a uma decisão condenatória”.

Porém, o mesmo autor45 esclarece que em alguns casos os indícios não

serão suficientes para a condenação:

A prova indiciária46 pode ser invalidada não só por contra-indícios

como por qualquer outra e que nem sempre é ela suficiente para a condenação. Não são suficientes para fundamentar uma decisão condenatória indícios isolados, que permitam uma explicação diferente, ou seja, de que o acusado poderia não ter praticado o ilícito.

Assim, Aury Lopes Júnior47 alerta que diante do Estado Democrático de

Direito o juiz deve tutelar o indivíduo e reparar as injustiças cometidas e absolver quando não existirem provas plenas e legais.

44

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. p. 318.

45 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. p. 318.

46 Neste ponto, onde Mirabete cita a prova indiciária, entende-se como prova indireta.

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426

Observadas as cautelas supracitadas pela doutrina, Paulo Rangel48, cita em

sua obra Sérgio Demoro Hamilton que admite condenação com base na prova indiciária:

O fato de, no processo, existir, somente, prova indiciária, amparando a acusação, por si só, não impede o juiz de condenar o imputado. Quando em jogo o indício, como, de resto, quando em exame qualquer outra prova, cabe ao julgador, após acurada análise da instrução probatória, indagar, apenas, se a prova recolhida é suficiente para a condenação, pois, muitas vezes, prova pode haver, mas frágil, pouco convincente, contraditória e, pois, impeditiva de uma condenação.

Desta forma, Renato Brasileiro de Lima49 esclarece:

Muito se discute acerca da possibilidade de se condenar alguém com base única e exclusivamente em indícios. A nosso juízo, com a incorporação ao processo penal do princípio do livre-convencimento motivado ou da persuasão racional do juiz, e a consequente exclusão de qualquer regra de prova tarifada, permite-se que tanto a prova direta como a prova indireta seja em igual medida válidas e eficazes para a formação da convicção do magistrado.

Ainda o mesmo doutrinador50 vem consubstanciar:

Obviamente, não se pode admitir que um indício isolado e frágil possa fundamentar um decreto condenatório. De modo algum. Para tanto, a prova indiciária está sujeita às seguintes condições:

a) os indícios devem ser plurais (somente excepcionalmente um único indício será suficiente, desde que esteja revestido de um potencial incriminador singular);

b) devem estar estreitamente relacionados entre si;

c) devem ser concomitantes, ou seja, univocamente incriminadores – não valem as meras conjecturas ou suspeitas, pois não é possível construir certezas sobre simples probabilidades.

d) existência de razões dedutivas – entre os indícios provados e os fatos que se inferem destes deve existir um enlace preciso, direto, coerente, lógico e racional segundo as regras do critério humano.

48 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. p. 496. 49

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal, vol. I. 2. ed. Niterói: Impetus 2012. p. 830.

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Sendo assim, observa-se que há dúvidas da possibilidade de condenação com base em prova indiciária. Entretanto, predomina o entendimento que o indício enquanto prova indireta, pode ser utilizado como fundamento de uma sentença penal condenatória, desde que seja confiável, a ponto do julgador não possuir qualquer dúvida envolvendo o mesmo.

Porém, por não ser pacífico o entendimento doutrinário, a corrente minoritária entende que os indícios, mesmo enquanto prova indireta não são suficientes para fundamentar a sentença penal condenatória.

Considerações finais

De acordo com o estudo elaborado na presente pesquisa, considera-se que a prova é o elemento fundamental na aplicação da pena, onde o Estado, através do Poder Judiciário, estabelece uma relação entre ele e o suspeito da prática de um delito.

Nesse sentido, a importância de se ter uma prova confiável e passível de ser utilizada para condenação é fundamental para que não seja cometido qualquer tipo de injustiça ou ato abusivo.

Enquanto prova indireta, o indício possui elementos suficientes ao magistrado, para indicar, apontar e concluir determinada situação, pois demonstra a existência concreta de algo.

A respeito do indicio enquanto prova semiplena, pode-se verificar a possibilidade de sua utilização para realizar ações de investigação ou até mesmo de atos processuais, porém não são suficientes para fundamentar a condenação do acusado.

Por fim, conclui-se que na doutrina, predomina o entendimento que o indício enquanto prova indireta, pode ser utilizado como fundamento da condenação, desde que seja confiável, a ponto do julgador não possuir qualquer dúvida envolvendo o mesmo. Caso contrário ocasionará automaticamente a violação de princípios constitucionais, processuais, bem como outros dispositivos legais vigentes.

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Entretanto, por outro lado, a corrente minoritária entende que os indícios, mesmo enquanto prova indireta não são suficientes para fundamentar a sentença penal condenatória.

Referências das fontes citadas:

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. rev. e atual. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

MADEIRA, Ronaldo Tanus. Da prova e do processo penal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003.

LEITE, Eduardo de Oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade

constitucional, volume I. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Prova criminal: retrospectiva história,

modalidades, valoração, incluindo comentários sobre a Lei 9.296/96. Curitiba:

Juruá, 1996.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18 ed. São Paulo: Atlas. 2006. NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

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Referências

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