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ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NO ESTADO DO AMAZONAS

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RECURSOS HÍDRICOS - PROFÁGUA

ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NO ESTADO DO AMAZONAS

JÉSSICA MUNIZ SANTOS

Manaus- AM 2020

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ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NO ESTADO DO AMAZONAS

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos – ProfÁgua, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Área de Concentração: Regulação e Governança de Recursos Hídricos Linha de Pesquisa: Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos

Orientadora: Profa. Dra. Maria da Glória Gonçalves de Melo Coorientadora: Profa. Dra. Maria Astrid Rocha Liberato

Manaus-AM 2020

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Elaborado por Jeane Macelino Galves - CRB-11/463

S 237 a Santos, Jéssica Muniz

Análise dos procedimentos administrativos para captação de água subterrânea no estado do Amazonas / Jéssica Muniz Santos. Manaus : [s.n], 2020.

104 f.: color.; 30 cm.

Dissertação - Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos – ProfÁgua, -Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2020. Inclui bibliografia

Orientador: Profa. Dra. Maria da Glória Gonçalves de Melo Coorientador: Profa. Dra. Maria Astrid Rocha Liberato

1. Autorização para perfuração de poço tubular. 2. Regularização de poços tubulares. 3. Outorga de direito de uso. I. Profa. Dra. Maria da Glória Gonçalves de Melo (Orient.). II. Profa. Dra. Maria Astrid Rocha Liberato (Coorient.). III. Universidade do Estado do Amazonas. IV. Análise dos procedimentos administrativos para captação de água subterrânea no estado do Amazonas

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Ao meu pai que sempre me apoiou nos meus estudos e que sempre é motivo de inspiração para mim,

e à minha mãe que sempre me incentiva e que merece meu esforço.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade do Estado do Amazonas - UEA, especialmente ao Programa de Pós-Graduação em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos, ProfÁgua, por contribuir para a formação de recursos humanos na região Amazônica.

À Orientadora, Profa. Dra. Maria da Glória de Melo e Coorientadora, Profa. Dra. Maria Astrid Liberato, por todo apoio e colaboração durante todo o período do desenvolvimento da Dissertação.

Ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas onde tive a oportunidade de apreender e iniciar minha vida profissional e onde espero ter contribuído de alguma forma, aos meus colegas de trabalho chefes e ex-chefes que me deram apoio para seguir nesta jornada dupla de estudo e trabalho: Sheron Vitorino, Rosa Mariette Geissler, Antônio Stroski, Izaias Nascimento, Ziomar Costa Junior, Sérgio Martins D’Oliveira, Raimunda Freitas, Liliane Martins Teixeira, Maria do Carmo Neves, Luiz Henrique Piva. À Mireide Queiroz e Adriane Andrade por tornarem os dias de trabalho sempre divertidos.

Ao professor Dr. Ingo Daniel Wahnfried a quem admiro por sua ética e profissionalismo. À Janaina Simone, Priscila Silva, Jussara e demais colegas da CPRM pelo apoio.

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RESUMO

A utilização dos recursos hídricos subterrâneos por meio de poços tubulares apresenta vantagens aos usuários, tais como, custo de produção inferior ao de fontes superficiais, áreas de captação e proteção menores, são livres de evaporação, pouco tempo para construção dos poços e baixo custo a ser investido com tratamento, considerando que as águas subterrâneas tendem a ter melhor qualidade. A captação feita por meio de poços tubulares deve seguir as normas vigentes e as legislações estaduais, uma vez que as águas subterrâneas são de domínio dos estados. O objetivo deste trabalho foi comparar os procedimentos administrativos para a regularização da captação de água subterrânea do Amazonas com outros estados brasileiros e propor alterações no que couber. Para isso foram realizadas revisões documentais consultando leis, resoluções, normas, decretos e publicações institucionais relacionados à gestão de recursos hídricos e revisões bibliográficas de trabalhos científicos. Nos dois primeiros anos de implementação da outorga (2017 e 2018) a indústria foi o setor que teve mais outorgas emitidas, não sendo considerado o setor que mais explora a água subterrânea, pois só foram regularizados 341 poços dos mais de 9.000 cadastrados no estado. Embora o Amazonas possua pouca experiência na regularização de recursos hídricos a maioria dos estudos necessários para regularização dos poços estão alinhados com o que é praticado nos outros estados. Com base na legislação vigente, foi criado um protocolo indicando os procedimentos necessários para regularização dos poços tubulares e foi proposto um formulário simplificado para solicitação de outorga de direito de uso para captação de água subterrânea. Na comparação com os outros estados, foi constatado que embora não sejam cobradas taxas para análise dos pedidos de outorga, os valores cobrados para obtenção da Licença Ambiental Única (LAU) para perfuração do poço tubular podem ultrapassar os valores médios para autorização de perfuração e outorga de direito de uso. Ao analisar a possibilidade de isenção do pagamento da LAU para perfuração de poços para consumo humano em comunidades rurais e para pesquisa científica, a conclusão é que precisa ser alterada a Lei 3.785/2012. O uso insignificante adotado pelo estado do Amazonas, 5 m³/dia, é muito restritivo, quando comparado a regiões onde há menor disponibilidade hídrica e conflitos pelo uso da água. É possível trazer soluções para sintetizar as informações solicitadas de acordo com a legislação e estudos científicos, mas é necessária constante revisão dos procedimentos que são adotados, bem como, deixá-los explícitos à sociedade.

Palavras-chave: Autorização para perfuração de poço tubular, Regularização de poços tubulares, Outorga de direito de uso.

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ABSTRACT

The use of underground water through tubular wells presents advantages, such as production cost lower than surface sources, smaller catchment and protection areas, no evaporation, short time for construction and low cost with treatment, considering that groundwater tends to have better quality. The capture made through tubular wells must follow the state laws considering that groundwater is the state's domain. The objective of this research is to compare the administrative procedures of Amazonas with other Brazilian states for the regularization of abstraction and groundwater, and to propose changes in what is appropriate. For this purpose, documentary reviews were carried out by consulting laws, resolutions, norms, decrees and institutional publications related to the management of water resources and bibliographic reviews of scientific articles. In the first two years of implementation of the allowance (2017 and 2018), industry was the sector that had the most allowance issued, not being considered the sector that most exploits groundwater while that only 341 wells of the more than 9,000 registered in the state weren’t regularized. Although Amazonas has no much experience in regulating water resources, most of the studies required to regulate wells are according with what is practiced in other states. Based on current legislation, a protocol was created indicating the necessary procedures for regularizing the wells in the state, and a simplified form was proposed for granting the allowance to use. In comparison with the other states, it was found that although fees are not charged for analysis of grant applications, the amounts charged for obtaining the Single Environmental License (LAU) for drilling the tubular well may exceed the values for drilling authorization and granting of allowance of use. When analyzing the possibility of exemption from LAU payment for drilling wells for human consumption in rural communities and for scientific research, the conclusion is that Law 3.785 / 2012 needs to be changed. The insignificant use adopted by the state of Amazonas, 5 m³ / day, is very restrictive, when compared to regions where there is less water availability and conflicts over the use of water. It is possible to bring solutions to synthesize the information requested in accordance with legislation and scientific studies, but it is necessary to constantly review the procedures that are adopted, as well as to make them explicit to society.

Key-words: Allowance for drilling a tubular well, Tubular wells' regularization, Water abstraction Permit.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Áreas de afloramento das formações Içá, Solimões e Alter do Chão, nas bacias sedimentares do Solimões e do Amazonas. ... 14 Figura 2 - Mapa do nível d'água subterrânea no município de Manaus na década de 2000: neste

período ocorre o rebaixamento acentuado, principalmente na zona leste. ... 18 Figura 3 - Mapa de interpolação da profundidade do nível estático para a área de Manaus. ... 19 Figura 4 - Outorgas de direito de uso de recursos hídricos no estado do Amazonas e tipo de

intervenção, superficial/subterrânea (fonte: base de dados do CNARH cedida pelo IPAAM). ... 44 Figura 5 – Distribuição das outorgas emitidas por município no Amazonas (captação superficial

e subterrânea). ... 45 Figura 6 - Fluxo para licenciamento de um novo empreendimento e a articulação dos

procedimentos para obtenção da outorga de direito de uso de recursos hídricos com os procedimentos de licenciamento ambiental com base na resolução do CNRH n. 65 de 2006... 48 Figura 7 - Ilustração dos documentos técnicos necessários para obtenção da licença para

perfuração de poço tubular no Estado do Amazonas... 48 Figura 8 - Dispositivos a serem instalados no poço e modelo de foto de comprovação. ... 49 Figura 9 - Procedimentos para análise do pedido de outorga de direito de uso de recurso hídrico

para captação de água subterrânea. ... 51 Figura 10 - Ilustração da proposta dos documentos técnicos necessários para obtenção da

licença para perfuração de poço tubular no Estado do Amazonas. ... 79 Figura 11 - Procedimentos para análise do pedido de outorga de direito de uso de recurso hídrico

para captação de água subterrânea. ... 81 Figura 12 - Proposta de formulário de requerimento para outorga de água subterrânea... 84

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados hidrodinâmicos comparados entre o Sistema de Aquífero Alter do Chão e o Sistema de Aquífero Içá/Solimões... 16 Tabela 2 - Enquadramento do porte da atividade de perfuração e manutenção de poços tubulares

profundos conforme lei estadual 3.785 de 2012. ... 36 Tabela 3 - Tipologias de gestão segundo o PROGESTÃO (ANA, 2018). ... 41 Tabela 4 - Tipologia de gestão dos estados analisados. ... 42 Tabela 5 - Finalidade de uso dos recursos hídricos e a relação com as vazões outorgadas para

captação de água subterrânea... 46 Tabela 6 - Valores atribuídos a Licença Ambiental Única para perfuração de poço tubular

conforme estabelecido na lei 3.785 de 2012. ... 54 Tabela 7 - Classificação dos poços conforme a profundidade. ... 55 Tabela 8 - Síntese das exigências e documentos técnicos a serem apresentados para o pedido de

autorização perfuração dos poços. ... 59 Tabela 9 - Síntese das documentações e estudos solicitados em cada estado para outorga de

água subterrânea. ... 69 Tabela 10 - Consumo de água de dessedentação por espécie em L dia-1 animal-1. Considerando

intervalos de temperatura de 21ºC a 32ºC. ... 70 Tabela 11 - Síntese das informações solicitadas para análise do pedido de outorga de direito de

uso de recurso hídrico para captação água subterrânea nos estados do Amazonas, Alagoas, Ceará, no Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Pernambuco e Rondônia. ... 71 Tabela 12 - Síntese das vazões consideradas insignificantes para captação de água subterrânea,

comparação entre os estados. ... 75 Tabela 13 - Emolumentos pagos para regularização dos poços tubulares. ... 78 Tabela 14 - Proposta para regularização de poços tubulares. ... 82

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 12

2.1 GEOLOGIA ... 12

2.2 HIDROGEOLOGIA ... 14

2.3 GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ... 16

2.3.1 Superexploração ... 16

2.3.2 Contaminação ... 19

2.4 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL ... 21

2.5 BASE LEGAL ... 23

2.5.1 Legislação Federal ... 24

2.5.2 Legislação Estadual ... 31

3 MATERIAL E MÉTODOS ... 39

3.1 PROCEDIMENTO DE ESTUDO ... 39

3.2 ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS ADOTADOS NO AMAZONAS ... 39

3.3 ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ADOTADOS PELOS ÓRGÃOS REGULADORES EM OUTROS ESTADOS BRASILEIROS ... 40

3.4 ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA... 42

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 43

4.1 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS ADOTADOS PELO AMAZONAS ... 43

4.2 PROTOCOLO DE PROCEDIMENTOS ADOTADOS PELO ESTADO DO AMAZONAS. ... 47

4.2.1 Autorização para perfuração de poço tubular ... 48

4.2.2 Outorga de direito de uso de recursos hídricos ... 50

4.2.3 Formulários ... 51

4.2.4 Usos Insignificantes ... 52

4.2.5 Emolumentos ... 53

4.3 ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS DOS ÓRGÃOS REGULADORES EM OUTROS ESTADOS BRASILEIROS. ... 54

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4.3.2 Outorga de direito de uso de recursos hídricos ... 62

4.3.3 Formulários ... 71

4.3.4 Usos insignificantes ... 74

4.3.5 Emolumentos ... 76

4.4 PROPOSTA DE ALTERAÇÕES PARA O PROTOCOLO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NO AMAZONAS. ... 78

4.4.1 Autorização para perfuração de poço tubular ... 78

4.4.2 Outorga de direito de uso dos recursos hídricos ... 79

4.4.3 Formulários ... 82 4.4.4 Usos Insignificantes ... 87 4.4.5 Emolumentos ... 87 5 CONCLUSÃO ... 89 GLOSSÁRIO ... 91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 94

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1 INTRODUÇÃO

O estado do Amazonas está localizado na Região Norte do Brasil e representa o maior estado do país com uma área de 1.559.146,876 km² distribuídos em 62 municípios (IBGE, 2010). Seus limites estaduais são com os estados do Pará ao leste, Mato Grosso ao sudeste, Rondônia e Acre ao sul e sudoeste e Roraima ao norte; e os limites transfronteiriços são com a Venezuela ao norte, Colômbia ao noroeste e Peru a oeste. O estado possui uma população de 3.483.985 habitantes onde 51,72% está concentrada na capital, Manaus (IBGE, 2010). O Abastecimento da população do estado é feito tanto por sistema público quanto por fontes alternativas individuais, no Brasil a média de consumo per capita de água é de 154,9 l/hab./dia o que representa uma demanda de 539.669 m³/dia de água para abastecimento da população do estado. Além do abastecimento da população há a necessidade de abastecer as atividades econômicas desenvolvidas.

O estado possui 80.959 estabelecimentos agropecuários distribuídos em 4.018.578 hectares (IBGE, 2017a) além de milhares de empresas nos setores de comércio (16.211), atividades administrativas e serviços complementares (2.263), indústrias de transformação (2.143), alojamento e alimentação (1.860), dentre outras atividades (IBGE, 2017b). As demandas variam de acordo com as finalidades do uso e que precisam ser supridas pelo abastecimento público ou por fontes alternativas.

Um sistema de abastecimento feito por água superficial, considerando a baixa densidade demográfica do estado 2,23 hab./km² (IBGE, 2010), pode se tornar inviável em algumas comunidades, devido aos altos custos de tratamento e distribuição em áreas remotas e com baixa concentração populacional. Já em áreas urbanas corpos hídricos superficiais estão contaminados como Igarapé do Mindu (SOUZA-FILHO et al., 2019), Igarapé do Quarenta e Igarapé do São Raimundo em Manaus (SILVA, RAMOS e PINTO, 1999) e Lago do Macurani em Parintins (ARANHA et al., 2012). Uma alternativa tem sido a captação de água subterrânea, é o que ocorre em 22 sedes municipais na calha do rio Solimões onde 68,2% dos mananciais são abastecidos por água subterrânea (AZEVEDO, 2016).

A utilização dos recursos hídricos subterrâneos por meio de poços tubulares apresenta vantagens aos usuários, tais como: a) custo de produção até dez vezes inferior ao de fontes superficiais; b) áreas de captação e proteção menores; c) são livres de evaporação (FREIRE et al., 1998); d) o pouco tempo para construção dos poços; e) o baixo custo a ser investido com tratamento, considerando que as águas subterrâneas tendem a ter melhor qualidade (DIAS et

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al., 2018); f) a economia direta e a regularidade do fornecimento em relação ao sistema público em algumas cidades devido ao crescimento sem o devido planejamento para o sistema de distribuição. De um modo geral, a urbanização causa a impermeabilização do solo, reduzindo a infiltração e a recarga natural, por outro lado, perdas de água no sistema de distribuição podem contribuir para a infiltração (TEIXEIRA et al., 2009).

A captação de água subterrânea é feita por meio de poço escavado/cacimba/cisterna, poços amazonas e por poços tubulares. A construção de poços tubulares deve seguir as normas para projeto e construção que devem ser realizados por profissionais legalmente habilitados, além de seguir as legislações estaduais considerando que, conforme a Constituição Federal de 1988, as águas subterrâneas são de domínio dos estados.

Nestes termos é necessário obter a outorga de direito de uso dos recursos hídricos, instrumento da Política de Recursos Hídricos que tem o objetivo de assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água. Para a concessão do direito de uso, são realizados estudos referentes à disponibilidade hídrica os quais avaliam a vazão outorgável naquela área. Para o caso das águas subterrâneas, a vazão de referência adotada tem sido a vazão nominal de teste de vazão do poço e/ou a capacidade de recarga do aquífero, ou seja, geralmente consideram apenas análise do poço e as consequências de sua perfuração em um determinado local (COSTA et al., 2011). Muitas cidades no mundo já são abastecidas prioritariamente por água subterrânea, a exemplo da Cidade do México, San José (Costa Rica), Lima (Peru) e San Tiago (Chile) (TEIXEIRA et al., 2009). No Ceará, por exemplo, o uso dos aquíferos se intensificou a partir da década de setenta e segue crescendo por diversos fatores: a) avanços das técnicas de perfuração de poços; b) redução dos custos de extração; c) menor suscetibilidade climática destes mananciais; d) a qualidade das águas subterrâneas; e) o aumento da demanda, e f) a degradação das águas superficiais (REBOUÇAS, 2006). Em consequência do período de estiagem que se alongou de 2009 a 2016, as reservas de águas superficiais encontram-se com capacidade de armazenamento comprometidas, as solicitações de outorgas de fontes subterrâneas predominaram. No entanto, as maiores vazões outorgadas ainda continuam relacionadas às águas superficiais (FRANÇA et al., 2018).

Embora mais protegidas, as águas subterrâneas podem ser afetadas pela superexploração ou pela contaminação causada por atividades antrópicas. A superexploração é a extração da água de forma a não respeitar as características do aquífero, pode exauri-lo, fazer com que a extração de água não seja mais economicamente viável. A contaminação ocorre quando a

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qualidade da água está alterada colocando em risco a saúde ou o bem-estar da população, para isso são considerados parâmetros microbiológicos, físicos e químicos (TEIXEIRA et al. 2009). Os poços devem ser regularizados e deve ser realizado monitoramento físico-químico e microbiológico da qualidade da água distribuída pelos poços na área de estudo (DUARTE, 2016). Embora 97,37% da área urbana de Manaus seja classificada como de vulnerabilidade baixa a moderada leve (MIRANDA, 2017) um estudo realizado por Costa et al. (2004), apontou contaminação da água subterrânea em 89,2 % dos poços analisados na área urbana de Manaus, e que a maior parte destes poços, não foram construídos conforme as normas da ABNT. A baixa qualidade da água subterrânea foi relacionada à falta de controle das perfurações na cidade e a baixa qualidade construtiva dos poços. Essa qualidade deve ser garantida sobretudo em regiões mais vulneráveis a contaminação como no município de Humaitá onde Duarte (2016), identificou vulnerabilidade à contaminação média a alta em 51% do município, na formação Iça-Solimões.

Uma forma de garantir a qualidade e quantidade de água para abastecer a população e as demais atividades desenvolvidas é por meio da regularização dos poços dentro das normas e legislações vigentes, deste modo é necessário conhecer a realidade do estado e verificar a necessidade de revisões nos critérios e procedimentos baseados em pesquisas científicas e em experiências existentes nos estados que já implementam a outorga de direito de uso de recursos hídricos há mais tempo.

O trabalho objetivou analisar os procedimentos administrativos para a regularização da captação e uso de água subterrânea no estado do Amazonas, e propor alterações nos procedimentos administrativos para emissão, ou dispensa, de outorga de direito de uso para captação de água subterrânea criando um protocolo para captação de água por poço tubular.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Geologia

A Bacia sedimentar é uma área de depressão topográfica que recebe ou recebeu o acúmulo de sedimentos de áreas mais elevadas formando rochas sedimentares, a área de estudo está inserida nas Bacias do Amazonas e do Solimões. A Bacia do Amazonas constitui uma unidade sedimentar intracratônica que limita duas principais áreas de embasamento arqueano – proterozóico (2.500 a 541 Ma ± 1): uma ao norte, o Escudo das Guianas, e outra a sul, o Escudo Brasil – Central. A leste o limite com a fossa Marajó é feito com o Arco de Gurupá e a oeste o limite com a Bacia do Solimões é feito com o Arco Purus (Figura 1) (CPRM, 2006; SOUZA et al., 2013). A Bacia do Amazonas envolve uma área aflorante de aproximadamente 615.600 km2 que atravessa os estados do Pará a leste e Amazonas a oeste (SOUZA et al., 2013).

A Bacia Sedimentar do Solimões constitui uma bacia intracratônica, com aproximadamente 948.600 km2 onde afloram sedimentos das Formações Içá e Formação

Solimões (BARATA e CAPUTO, 2007). O limite da Bacia é feito com Arco de Iquitos a oeste e Arco do Purus a leste. O ambiente deposicional caracterizado por um sistema fluvial de alta energia foi responsável pela deposição da Formação Alter do Chão nesta Bacia, já as Formações Solimões e Içá uma sequência Terciária-Quaternária discordante depositadas em ambientes fluvial meandrante e fluvial deltaico (CUNHA et al. 2007). Com o soerguimento da Cadeia Andina no paleógeno, os rios cretáceos transformaram-se em lagos doces e rasos, alimentados por rios de baixa energia, responsáveis pela deposição de pelitos, restos vegetais, conchas e moluscos da Formação Solimões, essa deposição ocorreu de forma discordante da Formação Alter do Chão (CUNHA et al., 2007). Nas formações Içá, Solimões e Alter do Chão estão as principais reservas de água subterrânea do Amazonas (SOUZA et al. 2013). A formação geológica é definida como um pacote de camadas litoestratigráficas caracterizado pela homogeneidade litológica, uma formação pode ser dividida em membros, por outro lado duas ou mais formações podem ser reunidas em um grupo (SUGUIO, 1998).

A Formação Alter do Chão encontra-se representada por uma grande variedade de

arenitos e argilitos (incluindo caulins), com subordinada fração conglomerática. Tem sido atribuído para a unidade um sistema deposicional continental que ocorre em discordância a algumas unidades paleozoicas das bacias Amazonas e Solimões. Na Bacia do Solimões, interpõe-se em discordância angular entre o Grupo Tefé e a Formações Solimões. A unidade apresenta uma morfologia de superfícies tabulares e colinosas. Em subsuperfície, a sucessão

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inferior é predominantemente arenosa e apresenta ciclos de ambientes fluviais anastomosados com retrabalhamento eólico. Na base, em discordância com a Formação Andirá, ocorrem depósitos fluviais meandrantes onde aparecem depósitos residuais de canais e pelitos de preenchimento de meandro abandonado (CPRM, 2006).

A Formação Solimões aflorante na Bacia do Solimões, consiste em uma sucessão de

pelitos de cor cinza claro e cinza esverdeado, maciços e laminados, com linhitos intercalados em camadas de 2 a 10 m de espessura, e arenitos finos a grossos, subangulares a subarredondados e argilitos avermelhados a acinzentados; é muito rica em fósseis vegetais e animais, como troncos, folhas, ostracodes, escamas, dentes, entre outros. Os sedimentos revelam estrutura maciça e secundariamente laminação planar, contudo, são comuns as estratificações plano-paralela e cruzadas planar e acanalada de pequeno a grande porte. A formação recobre em discordância a Formação Alter do Chão e forma uma cunha sedimentar desde o Arco Purus até as bacias subandinas, onde chega a atingir mais de 7.000 m de espessura. As associações esporopolínicas permitem o estabelecimento de três zonas palinológicas, correspondendo ao Mioceno, Mioceno/Plioceno e Plioceno, sugerindo uma deposição em ambiente fluvial meandrante fino e lagos formados por canais abandonados (CPRM, 2006; SOUZA, et al., 2013).

A Formação Içá foi definida por Maia et al. (1997 apud CPRM, 2006) possui uma

área-tipo que se estende do rio Içá, desde a localidade de Boa União, até a sua foz junto ao rio Solimões. No geral, reúne arenitos amarelo avermelhados, finos a conglomeráticos, friáveis, com siltitos subordinados e argilitos de características eminentemente continentais e depositados sob condições fluviais de elevada energia e clima árido. De acordo com Maia et al. (1997 apud CPRM, 2006), a seção inferior da formação Içá é constituída por siltitos e/ou argilitos maciços a finamente laminados, lenticulares, intercalados com arenitos estratificados. A seção superior está representada por arenitos conglomeráticos. Estratos cruzados acanalados de porte variado são comuns no seu interior. Uma rica fauna e flora pleistocênica encontra registro na formação que por sua vez, está em discordância erosiva sobre a Formação Solimões (CPRM, 2006). Nos estudos da Petrobras, a separação entre as Formações Içá e Solimões é feita principalmente com base em relações estruturais e possíveis discordâncias observadas em seções de detalhe, com apoio de poços (SOUZA, et al., 2013).

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Figura 1 - Áreas de afloramento das formações Içá, Solimões e Alter do Chão, nas bacias sedimentares do Solimões e do Amazonas.

Fonte: (SOUZA, et al., 2013).

2.2 Hidrogeologia

As águas subterrâneas são aquelas que ocorrem no subsolo, podendo ocorrer em rochas inconsolidadas (os regolitos) ou em rochas consolidadas (as formações rochosas). A infiltração da água no subsolo depende das características desse material, arenitos por exemplo são rochas porosas e permeáveis o que facilita tanto o fluxo quanto o armazenamento de águas subterrâneas. Já os argilitos, como os que ocorrem na Formação Solimões, embora possam armazenas muita água, possuem baixa permeabilidade o que dificulta a extração.

O Sistema de Aquífero Alter do Chão ocorre em uma área de 410.000 km² com uma espessura média de 400 m. Souza et al. (2013) caracterizaram o Aquífero Alter do Chão como sendo livre na Bacia do Amazonas e na Bacia do Solimões confinado pelas Formações Iça/Solimões. Na Bacia do Solimões a Formação Alter do Chão ocorre a partir de 300 m de profundidade enquanto que na Bacia do Amazonas a Formação Alter do Chão pode alcançar até 1.200 m de profundidade. Nas estimativas de reservas para o Sistema Aquífero Alter do

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Chão, considerando a área de ocorrência de cerca de 410.000 km2, a espessura média de 400 m e admitindo uma porosidade efetiva de 20%, chega-se a um volume de saturação em torno de 33.000 km3 (SOUZA et al. 2013)

Quanto aos parâmetros hidrodinâmicos os dados usados como referência foram os de Tancredi (1996) obtidos para a região de Santarém, onde o coeficiente de armazenamento (S) varia de 3,3 a 4,1 x10-4 e os valores de condutividade hidráulica (K) variando de 2,1 x 10 -4 a 5,0 x10 -5 m/s. Os valores de transmissividade (T) obtidos variam de 1,5x10-³ e 9,1x10-³m²/s, o que indica que o aquífero com potencial de abastecimento municipal, industrial ou para irrigação, tendo em vista que transmissividades superiores a 1,4 x 10-3 m2/s são indicadas para essas finalidades (DRISCOLL, 1987 apud SOUZA et al. 2013).

O Sistema de Aquífero Iça-Solimões ocorre em uma área 948.600 km² (BARATA e CAPUTO, 2007) é do tipo livre-confinado, com espessura variando de 20 a 70 m que correspondem a base da Formação Içá e topo da Formação Solimões e outro aquífero com topo em 50 m e base de 120 m, pertencente a Formação Solimões. A reserva permanente foi determinada considerando uma área confinada em Urucu de 40,5 km², a porosidade efetiva adotada foi de 10% que corresponde às areias argilosas. Extrapolando o cálculo para toda a área de afloramento na Bacia do Solimões a reserva total estimada para os aquíferos Içá-Solimões é de 7.200 km3 (SOUZA et al. 2013).

Quantos aos parâmetros hidrodinâmicos em Urucu, no projeto ECO-03 o coeficiente de armazenamento (S) obtido foi de 5 x 10-4 e a condutividade hidráulica (K) de 1 x 10 -4 m/s. Os valores de transmissividade (T) obtidos para o sistema de aquífero Içá-Solimões correspondem a 3 x 10 -3 m²/s (SOUZA et al. 2013).

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Tabela 1 - Dados hidrodinâmicos comparados entre o Sistema de Aquífero Alter do Chão e o Sistema de Aquífero Içá/Solimões. Sistema de Aquífero Alter do Chão Sistema de Aquífero Içá-Solimões Área 410.000 km2 948.600 km² Espessura média 400 m 45 a 50 m Porosidade efetiva ~20% ~10% Volume de saturação 33.000 km³ 7.200 km³ Trasmissividade (T) 1,5 a 9,1 x 10-3 m²/s 3 x 10-3 m²/s Coeficiente de Armazenamento (S) 3,3 a 4,1 x 10-4 5 x 10 -4 Condutividade Hidráulica (K) 2,1 x 10-4 a 5,0 x 10-5 m/s 1 x 10-4 m/s

Fonte: Souza et al. 2013, adaptado.

Comparando-a com aquela que foi admitida para o Sistema Aquífero Alter do Chão (tabela 1), em torno de 33.000 km3, a reserva do Sistema de Aquífero Içá-Solimões é consideravelmente menos expressiva, equivalente a cerca de 22% da estimada para o Sistema Aquífero Alter do Chão (SOUZA et al. 2013).

2.3 Gestão de Águas subterrâneas 2.3.1 Superexploração

A superexploração é a extração da água de forma a não respeitar as características do aquífero podendo exauri-lo ou fazer com que a extração de água não seja mais economicamente viável (TEIXEIRA et al., 2009), pode ser ocasionada pela exploração excessiva, ou seja, além da vazão sustentável do aquífero. A vazão sustentável é aquela em que os custos sejam menores que os benefícios da água extraída, devendo considerar a capacidade do aquífero em fornecer água sem causar prejuízos econômicos e ao ambiente (TEIXEIRA et al., 2009). No Brasil, alguns dos casos conhecidos de superexploração estão em Fortaleza, em Natal e no estado de São Paulo onde o governo chegou a proibir a perfuração de novos poços em Ribeirão Preto e em São José do Rio Preto.

Uma das consequências geradas pela exploração excessiva é a subsidência do terreno resultando em problemas de estabilidade geotécnicas. A subsidência é o abatimento dos níveis de terreno que ocorre quando quantidades excessivas de água subterrânea são retiradas de sedimentos e rochas mal consolidadas, a pressão entre os grãos é reduzida e o peso dos materiais

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sobrejacentes faz com que os grãos se comprimam (WICANDER e MONROE, 2009). Esse abatimento causa sérios problemas para obras civis a exemplo do que ocorre em: San Joaquin Valley, Califórnia, EUA; Cidade do México, México; Arizona, EUA; Veneza, Itália; Las Vegas, Nevada e outros. O efeito da subsidência é particularmente causado em aquíferos espessos, compostos por sedimentos pouco consolidados, formados pela intercalação de camadas aquíferas, mais arenosas e mais argilosas, a redução da água pode causar a compactação das camadas argilosas já que essas são mais suscetíveis a redução da pressão hidrostática (TEIXEIRA et al. 2009).

Outra consequência que pode ser interpretada como supexploração são os rebaixamentos pronunciados e constates dos níveis do aquífero. Em Araraquara, São Paulo, o acompanhamento dos níveis potenciométricos do Sistema de Aquífero Guarani (SAG) indicou um rebaixamento do lençol freático em uma zona central da cidade que foi atribuído à proximidade dos poços, não sendo consideradas como superexploração devido a capacidade do aquífero (HIRATA et al., 2012). O rebaixamento dos níveis de um aquífero é uma resposta natural a qualquer retirada de água por bombeamento de um poço, entretanto se o aquífero estiver recebendo recarga e o volume retirado for pequeno, o abatimento dos seus níveis não irá afetar sua capacidade futura pois o rebaixamento está sendo equilibrado pela recarga (TEIXEIRA et al., 2009).

Em um outro estudo realizado no SAG a partir da análise temporal do nível estático dos poços de abastecimento público na área urbana de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, foi identificado o rebaixamento de 34 metros do lençol freático que foi considerado um aprofundamento regional. No mesmo estudo também foram identificados rebaixamentos nos demais sistemas aquíferos analisados, o Sistema Aquífero Bauru e o Sistema Aquífero Serra Geral (TCACENCO-MANZANO et al., 2019).

Na área urbana de Manaus Aguiar (2002) analisou 400 poços durante 20 anos obtendo valores médios dos níveis de água subterrânea de 29,6 a 31 m variando em uma escala de 3 a 64,7 m. A evolução do rebaixamento dos níveis de água subterrânea na área urbana de Manaus foi acompanhada pelo aumento da população e da ocupação desordenada em consequência da implantação do Polo Industrial de Manaus, nos anos 2000 o rebaixamento dos níveis do lençol freático atingiu 80 metros nas zonas leste, cento-sul e norte da cidade (Figura 2), nestas áreas mesmo com o aumento da população no triênio de 2011 a 2013 houve a suavização dos cones

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de rebaixamento atribuídos atribuído a desativação dos poços da concessionária (SARAIVA, 2015).

Figura 2 - Mapa do nível d'água subterrânea no município de Manaus na década de 2000: neste período ocorre o rebaixamento acentuado, principalmente na zona leste.

Fonte: Saraiva (2015).

Em outro estudo Miranda (2017) elaborou um Mapa de interpolação da profundidade do nível estático para a área de Manaus, estes valores foram plotados considerando a variação sazonal do nível da água de 3,6 m, obtido através de dados de um poço de monitoramento, usado como fator de correção. Neste mapa foi observada a predominância de níveis da água subterrânea entre 15,2 e 22,9 m por toda a área urbana de Manaus (Figura 3), mais rasos do que aqueles observado por Aguiar (2002). As áreas de valores mais profundos do nível de água estavam concentradas na Zona Leste, foram interpretadas como locais onde ocorre maior extração de água subterrânea por utilização de poços tubulares (MIRANDA, 2017). Neste último estudo também foi citada a desativação dos poços da concessionária de abastecimento, o que pode ter contribuído ainda mais para níveis mais rasos de água subterrânea. Embora

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tenham sido observados rebaixamentos acentuados dos níveis do aquífero, estes não necessariamente indicam superexploração devendo ser considerada a capacidade do aquífero Alter do Chão.

Figura 3 - Mapa de interpolação da profundidade do nível estático para a área de Manaus.

Fonte: Miranda (2017).

Além do rebaixamento dos níveis dos lençóis freáticos, outros indicadores de superexploração devem ser considerados como a redução da capacidade produtiva dos poços aumentando o custo de bombeamento; problemas de equidade social entre usuários, causados pela competição desigual e a interferência entre grandes e pequenos proprietários de poços quando as distâncias entre as obras de captação não são consideradas.

A exploração excessiva também pode afetar a qualidade das águas quando ocorre a drenagem de corpos de águas superficiais pelo rebaixamento do nível hidráulico do aquífero e quando ocorre a infiltração de águas subterrâneas de baixa qualidade, advinda de unidades aquíferas mais superficiais.

2.3.2 Contaminação

A contaminação ocorre quando a qualidade da água está alterada colocando em risco a saúde ou o bem-estar da população, para isso são considerados parâmetros microbiológicos,

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físicos e químicos. A qualidade de água subterrânea depende de fatores próprios do aquífero que podem gerar a contaminação natural e de fatores externos a ele, geralmente associados a ações antrópicas. Dos contaminantes de origem antrópicas o mais comum é o nitrato, geralmente provindos de sistemas de saneamento in situ (fossas), de aplicação incorreta de fertilizantes nitrogenados, de vazamentos em redes de esgoto, de aterros sanitários e áreas de disposição de materiais tóxicos, exceto quando estes são devidamente projetados e revestidos por camadas impermeáveis (WICANDER & MONROE, 2009). Além desses ainda há os solventes, os combustíveis fósseis, os metais pesados e os coliformes fecais que são indicadores de contaminação recente proveniente de fezes de animais de sangue quente (TEIXEIRA et al., 2009). No Brasil, contaminações naturais mais comuns ocorrem por ferro, manganês e flúor e em menor concentração, arsênio, cromo, cádmio, níquel, zinco e cobre, devido a interação por um longo período de tempo entre a água e a rocha matriz que apresenta abundância nestas substâncias e em condições de solubilidade (TEIXEIRA et al., 2009).

Contaminação de água subterrânea ocorre em várias regiões do Brasil como no Ceará (COSTA, LIMA, PAIXÃO & PANTOJA, 2012), no Rio Grande do Sul (CARDOSO & FERMINO, 2018), no Acre (FRANCO, ARCOS & PEREIRA, 2018), e em Goiás por infiltração de necrochorume (ROSA & UCKER, 2019). Em Manaus um estudo realizado em 2006 na área do entorno de um lixão, a água encontrava-se comprometida para consumo humano em consequência dos elevados teores de Al, Fe, As, Cd, Pb, Sb e Se, de compostos nitrogenados e também por contaminações pontuais de Mn e Zn (ROCHA & HORBE, 2006). Em outro estudo, foi identificado contaminação por hidrocarbonetos em poços de água subterrânea dentro das dependências de postos de revenda de combustíveis (LIMA, 2010).

Em 2004 um estudo realizado na zona urbana de Manaus, inserida no Aquífero Alter do Chão, analisou os parâmetros físicos e químicos (Cor, Condutividade, dureza, ferro, fosfato, amônia, nitrato, nitrito, ortofosfato, pH, sólidos totais dissolvidos, e turbidez) e parâmetros microbiológicos (coliformes termotolerantes e coliformes totais), e constatou que todos os poços analisados tinham água impróprias para consumo conforme legislação da época, sendo a maioria dos poços entre 11 e 25 metros de profundidade para uso doméstico e construídos sem acompanhamento de profissionais habilitados (COSTA et al., 2004). Problemas de infraestrutura e operacionais também foram identificados no sistema público de abastecimento do município de Beruri, onde a água subterrânea foi classificada como inadequada para consumo devido à alta turbidez e presença de coliformes totais (PACHECO, 2018).

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Outros estudos apontam que as águas subterrâneas da região são classificadas como de boa qualidade e próprias para consumo humano segundo os padrões de potabilidade, é o que foi constatado na área Urbana de Manaus (SILVA & BONOTTO, 2006; SILVA & SILVA, 2007 b), na área urbana de Iranduba (SILA & SILVA, 2007 a), na Comunidade Fé em Deus - Presidente Figueiredo (CASTRO et al., 2014) e em aldeias indígenas em Itacoatiara (CLEBSCH, 2018), estes estudos indicam que os aquíferos dessa região possuem por natureza águas com distinta acidez, com pH abaixo de 6,0, não representando risco a saúde.

Neste contexto a baixa qualidade de água subterrânea pode estar restrita a áreas com fontes potenciais de contaminação (ROCHA & HORBE, 2006; LIMA, 2010) e a problemas construtivos dos poços e da infraestrutura (COSTA, 2004; PACHECO, 2018), o que aponta a necessidade de criação de zonas de restrição de uso de recursos hídricos e a necessidade de regularização dos poços tubulares e da outorga de direito de uso de recursos hídricos com o objetivo de garantir que os poços sejam construídos de acordo com a legislação vigente e que sejam realizados monitoramento de qualidade da água.

2.4 Outorga de direito de uso de recursos hídricos no Brasil

A Política Nacional de Recursos Hídricos só veio nove anos depois de promulgada a Constituição Federal. Diante desse atraso, diversos estados criaram suas políticas próprias, como é caso de São Paulo (Lei no 7.663/91), Ceará (Lei no 11.996/92), Minas Gerais (Lei no 11.504/94) e Rio Grande do Sul (Lei no 10.350/94). Embora o sistema paulista de gerenciamento de recursos hídricos tenha sido instituído antes da implantação do sistema nacional, não houve necessidade de se adaptar ao nacional, pois este se baseou na experiência paulista. O início do desenvolvimento do sistema estadual remonta a 1987, quando se implantou o Conselho Estadual de Recursos Hídricos e o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (GOMES & BARBIERI, 2004).

A regularização do uso de recurso hídrico é feita por meio da “outorga de direito de uso” que deve levar em conta as características climáticas e hidrográficas da região. Em muitos estados as prioridades de uso são as estabelecidas pelos Planos de Recursos Hídricos, como é o caso de Alagoas, Bahia, Ceará, Sergipe, Piauí e Maranhão. Além da outorga, há casos em que também são licenciadas as obras hídricas, e estes independem do licenciamento ambiental para a atividade fim, isso ocorre nos estados Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba, Ceará e Maranhão (ANA, 2011).

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Nas análises para a emissão de outorga são consideradas as disponibilidades hídricas considerando os usos já existentes e as prioridades estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos. A realidade do país é bem diversificada em temos de disponibilidade e demanda por recursos hídricos. Na Amazônia a disponibilidade hídrica é de aproximadamente 74.000 m²/s com demandas de 70 m²/s, no Nordeste Oriental a disponibilidade é de cerca de 90 m²/s com demandas de 230 m²/s (ANA, 2013).

O estado da Paraíba regulamentou a outorga do direito de uso das águas mediante os decretos de 31 de outubro de 1997 (n° 25.563 de 2004 que estabelece compensações procedimentais na concessão) e implantou em 1998. O Plano estadual de recursos hídricos do estado da Paraíba (PERH-PB) é complementado pelas resoluções do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e pelos Comitês de Bacia Hidrográfica em atividade. A instituição responsável pela emissão de outorga de uso de recursos hídricos Agência Executiva de Gestão das Águas do estado da Paraíba (AEASA) criada pela lei n° 7.779 de 07/07/2005, sob a forma de autarquia. Dados da AEASA acerca das outorgas de água subterrânea emitidas para o setor industrial entre novembro de 1998 a maio de 2008 indicam que tramitam 64 processos relativos às águas subterrâneas na região do baixo curso do rio Paraíba com a finalidade industrial, a cobrança estava em vias de institucionalização e não havia sido implementada para águas superficiais. (GUIMARÃES & RIBEIRO, 2009).

O estado de Minas Gerais implantou a outorga de uso de recursos hídricos no ano de 1987, naquele contexto (e até o ano de 2002) o estado não dispunha o Plano estadual de recursos hídricos e não emitia outorga para lançamento de efluentes. A outorga de direito de uso de recursos hídricos é, atualmente, indispensável para obtenção de licenciamento de diversas atividades junto aos órgãos ambientais e obtenção de financiamentos junto a instituições financeiras públicas e privadas. É ainda um documento necessário para obtenção de certificação de qualidade, quando se trata de empreendimento industrial. As outorgas podem ter validade de até 20 anos, no caso de uma concessão destinada a abastecimento público, e de 5 ou 3 anos para autorização e permissão, respectivamente, para utilização de recursos hídricos com fins privados. As 4.615 outorgas emitidas até 31/12/2000 se referem à captação de águas superficiais, explotação de águas subterrâneas e intervenções diversas nos cursos de água (construção de barramentos, açudes, diques, desvios, etc.). Noventa por cento desses sistemas têm o manancial superficial como fonte de captação de água. Os demais 10% possuem sistemas mistos superficial/subterrâneo ou captações de águas subterrâneas (SCHVARTZMAN, NASCIMENTO & SPERLING, 2002).

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O Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) de Minas Gerais é formado pela Secretaria de estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), pelos conselhos estaduais de Política Ambiental (Copam) e de Recursos Hídricos (CERH) e pelos órgãos vinculados: Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), responsável pela qualidade ambiental no estado, no que corresponde à Agenda Marrom, Instituto Estadual de Florestas (IEF) responsável pela Agenda Verde e Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) que responde pela Agenda Azul é o órgão gestor dos recursos hídricos do estado de Minas Gerais e o responsável pela emissão das outorgas, conforme estabelecido na Lei Estadual n° 13.199. (SCHVARTZMAN, NASCIMENTO & SPERLING, 2002). Já no estado do Rio de Janeiro visando reduzir etapas e tempo de análise de processo administrativo ocorreu a unificação de três órgãos ambientais: Instituto Estadual de Floresta – IEF, Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas - SERLA e Fundação Estadual de Engenharia do estado do Rio de Janeiro - FEEMA que por meio da Lei n° 5.101/2007, que originou o INEA, fez com que houvesse a integração da Outorga (que era gerenciada pela SERLA) com o Licenciamento Ambiental (que anteriormente era regulado pela FEEMA) (Silva & Costa, 2016).

2.5 Base Legal

A primeira lei voltada diretamente para os Recursos Hídricos no Brasil foi o Código das Águas, criado pelo decreto federal 24.643 de 1934, esse tinha como principal objetivo o controle público dos rios para o aproveitamento do potencial hidrelétrico (COUCEIRO & HAMADA, 2011). A Constituição de 1988 trouxe elementos significativos para a atual gestão dos recursos hídricos no País, nela consta que são pertencentes à União os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um estado, e que sirvam de limites com outros países ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham e são de propriedade dos estados e do Distrito Federal as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas as decorrentes de obras da União (ANA, 2011).

A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), lei nº 9.433/1997, tem o objetivo de assegurar a qualidade e quantidade de água adequada aos respectivos usos, utilização racional e integrada, prevenção e defesa de eventos hidrológicos críticos. Em seus instrumentos tem os Planos de Recursos Hídricos, enquadramentos de corpos de água em classes segundo os usos preponderantes, a outorga de direito de uso, a cobrança pelo uso, a compensação aos municípios

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e o Sistema de Informações de Recursos Hídricos. O principal fundamento da PNRH é a visão da água como um recurso natural (bem) comum e dotado de valor econômico. Com esses instrumentos, a PNRH tem como objetivos: assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; a utilização racional e integrada dos Recursos Hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável e a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos (COUCEIRO & HAMADA, 2011).

No estado do Amazonas a Política de Recursos Hídricos foi criada pela lei estadual 2.712 de 2001, alterada pela lei 2.940 de 2004 e reformulada pela lei 3.167 de 2007, esta última foi regulamentada por meio do decreto 28.678 de 2009. Porém, o estado não dispõe do Plano Estadual de Recursos Hídricos e nem do enquadramento dos corpos d´água, o que foi previsto na política estadual de recursos hídricos para que fosse emitida outorga em caráter precário (Art. 86) pelo prazo máximo de 5 anos. Deste modo a outorga foi implementada em 2017 com critérios estabelecidos por meio de resoluções do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) em 2016 e procedimentos definidos por portarias normativas do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) e Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA).

Embora no Amazonas, a Política Estadual de Recursos Hídricos exista desde 2001, a implementação no estado do Amazonas pouco progrediu ao longo destes 15 anos, ocorrendo progressos significativos ao longo dos anos de 2016 e 2017 com o estabelecimento de critérios técnicos para a outorga de direito de uso de recursos hídricos, implementada em 2017 (MUNIZ et al., 2018). Após a implementação e considerando que o estado não dispõe de estudos técnicos como Plano Estadual de Recursos Hídricos e Planos de Bacia Hidrográfica, é necessário que sejam feitas análises de qualidade das águas, disponibilidade hídrica e demanda por água para que sejam apresentados junto ao órgão regulador para gestão do recurso. Deve-se também considerar as experiências existentes nos outros estados, a disponibilidade de corpo técnico e recursos financeiros para implementação deste instrumento na realidade amazônica e buscar melhorar a eficiência nas análises dos processos.

2.5.1 Legislação Federal

DECRETO FEDERAL N° 24.643/1934 - CÓDIGO DAS ÁGUAS

O código de águas representa um marco na legislação brasileira que atendia as necessidades da época, mas hoje é considerado obsoleto (GRANZIERA, SILVA & PRUSKI,

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2000). Nesse decreto as águas eram consideradas como parte do terreno, desde que as mesmas não estivessem classificadas entre as águas comuns de todos, águas públicas ou águas comuns (Art. 8º).

No que tange as águas subterrâneas consta no código de águas que a abertura de poços em terrenos de domínio público depende de concessão administrativa (Art. 101), já em terrenos particulares o dono poderia apropriar-se das águas que existam debaixo da superfície de seu prédio contanto que não prejudique aproveitamentos existentes nem derive ou desvie de seu curso natural águas públicas dominicais, públicas de uso comum ou particulares (Art. 96), se esse aproveitamento das águas subterrâneas prejudicar ou diminuir as águas públicas dominicais ou públicas de uso comum ou particulares, a administração competente poderá suspender as ditas obras e aproveitamentos (Art. 96, parágrafo único). Era necessário também, guardar as distâncias necessárias ou tomar as precauções necessárias para que usuários de poços vizinhos não sofressem prejuízo (Art. 97).

CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 1988

A partir da Constituição Federal de1988 foi extinto o domínio particular da água, todas as águas se tornaram de domínio público com competência da União, estados e Distrito Federal para outorgar o direito de uso visto que os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais são bens da União (Art. 20, II); Incluem-se entre os bens dos estados - As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União (Art. 26, I). Logo, apenas os estados podem legislar e regularizar o uso das águas subterrâneas.

Aos municípios cabe a competência comum (União, estados, Distrito Federal e Municípios) de registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos em seu território (Art. 23, XI). À União compete instituir sistema nacional de gerenciamento de Recursos Hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso (Art. 21), cabendo aos estados a legislação suplementar.

LEI FEDERAL N° 9.433/1997 - POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS Esta lei federal institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e regulamenta o Art. 21, XIX da Constituição Federal que é instituir o sistema nacional de gerenciamento de recursos

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hídricos e definir critérios de outorga de direito de seu uso. Nesse contexto a outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos instrumentos desta política (Art. 5°, III) que tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água (Art.11). Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado, devendo preservar o uso múltiplo (Art. 13), e deverá ser efetivada por ato da autoridade competente (Art. 14), dependendo do domínio do corpo hídrico e por prazo não excedente a 35 anos (Art. 16).

Os planos de recursos hídricos são planos diretores e de longo prazo que visam fundamentar e orientar a implementação da Política e o gerenciamento de recursos hídricos (Art. 6°) a partir do diagnóstico, do balanço de disponibilidade e demanda, metas de racionalização do uso, das medidas a serem tomadas para o cumprimento dessas, das análises de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo, prioridades para outorga e propostas de áreas de restrição de uso (Art. 7°).

O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, visa a assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas a diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes (Art. 9°). As classes de corpos de água são estabelecidas em legislação ambiental (Art. 10), no caso das águas subterrâneas pela resolução CONAMA 396/2008.

Um dos fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos é que a água é um bem de domínio público, e ainda que é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico e a gestão deste recurso deve proporcionar o uso múltiplo das águas e ser descentralizada priorizando o consumo humano e a dessedentação de animais em situação de escassez (Art. 1°). Os objetivos são assegurar a disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, a utilização racional e integrada dos recursos hídricos com vistas ao desenvolvimento sustentável a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos (Art. 2°).

Estão sujeitos a outorga o uso de recursos hídricos quaisquer usos que causem interferência significativa no recurso como derivação ou captação, lançamento em corpos de água, aproveitamento de potenciais hidrelétricos e outros usos que alterem a qualidade ou quantidade de água (Art. 12). Já usos menos expressivos para a satisfação das necessidades de

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pequenos núcleos populacionais distribuídos no meio rural e para os usos considerados insignificantes independem de outorga pelo poder público (Art. 12, § 1°), esses usos insignificantes devem ser estabelecidos em normativas federais ou estaduais.

Além da outorga, a Política Nacional de Recursos Hídricos ainda definiu os instrumentos de cobrança, de enquadramento de corpos de água, do Sistema de Recursos Hídricos, dos Planos de Recursos Hídricos e da compensação aos municípios. Outra previsão legal refere-se as multas e infrações, o uso de recurso hídrico sem a devida autorização podem acarretar multas que variam de 100 reais a 10.000 reais (Art. 49).

Na Lei também foi estabelecido um arranjo do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos com o objetivo da gestão compartilhada e esse sistema é composto pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, os comitês de bacias hidrográficas, as agências de água, além de órgãos e entidades dos serviços públicos federal, estadual e municipal, que têm relevante atuação na gestão dos Recursos Hídricos, devendo atuar em estreita parceria com os demais agentes previstos.

CNRH RESOLUÇÃO n° 15/2001

Esta resolução, de 11 de janeiro de 2001 estabelece que na formulação de diretrizes para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos deverá ser considerada a interdependência das águas superficiais, subterrâneas e meteóricas (art. 2°) e na implementação dos instrumentos deverão ser incorporadas medidas que assegurem a promoção da gestão integrada dessas águas (Art. 3°).

CNRH RESOLUÇÃO N° 22/2002

De 24 de maio de 2002 esta resolução estabelece que os Planos de Recursos Hídricos devem considerar os usos múltiplos das águas subterrâneas, as peculiaridades de função do aquífero e os aspectos de qualidade e quantidade para a promoção do desenvolvimento social e ambientalmente sustentável (Art. 1°) e estabelece ainda o conteúdo mínimo para gestão das águas subterrâneas (Art. 3°):

I – A caracterização espacial;

II – O cômputo das águas subterrâneas no balanço hídrico;

III – A estimativa das recargas e descargas, tanto naturais quanto artificiais; IV – A estimativa das reservas permanentes explotáveis dos aquíferos; V – Caracterização físico, química e biológica das águas dos aquíferos; VI – As devidas medidas de uso e proteção dos aquíferos.

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CONAMA RESOLUÇÃO N° 396, 03/04/2008

Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais o enquadramento das águas subterrâneas, e dá outras providências (Art. 1°), considerando que o enquadramento expressa metas finais a serem alcançadas. A classe representa o conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos usos preponderantes, atuais e futuros variando da mais restritiva, que é a classe especial, até a menos restritiva, que é a classe 5, que é destinada a atividades que não tem requisitos de qualidade de uso (Art. 3°). A resolução define ainda o conteúdo mínimo dos laudos analíticos (Art. 18).

CNRH RESOLUÇÃO N° 65, DE 7/12/2006

Esta resolução estabelece diretrizes de articulação dos procedimentos para obtenção da outorga de direito de uso de recursos hídricos com os procedimentos de licenciamento ambiental de acordo com as competências dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Art. 1°), devendo esses articular-se de forma continuada com vistas a compartilhar informações e compatibilizar procedimentos de análise e decisão em suas esferas de competência.

Para a obtenção da Licença Prévia, deverá ser apresentada ao órgão ambiental licenciador a manifestação prévia (Art. 4°) que é o ato administrativo que corresponda à outorga preventiva ou à declaração de reserva de disponibilidade hídrica, destinado a reservar a vazão passível de outorga, possibilitando aos investidores o planejamento de empreendimentos que necessitem desses recursos (Art. 3°, I). A outorga de direito de uso de recursos hídricos deverá ser apresentada para obtenção da Licença de Instalação nos casos em que não houver manifestação prévia ou ato corresponde (Art. 4°, parágrafo único) ou ainda se para implementação da atividade for necessária a interferência ou o uso dos recursos hídricos (Art. 5°, parágrafo único). Nos demais casos a outorga de direito de uso deve ser apresentada para obtenção da Licença de Operação (Art. 5°).

NBR 12.212/1992

Esta norma fixa as condições exigíveis para a elaboração de projeto de poço para captação de água subterrânea para abastecimento público, é aplicável tanto para casos de existência quanto aos casos de inexistência de estudos hidrológicos.

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Dentre os elementos necessários descritos nesta norma contam: prescrição do método de perfuração; locação topográfica do poço; estimativa das profundidades mínima e máxima do poço; estimativa da vazão do poço; fixação dos diâmetros nominais úteis do poço; fixação do(s) diâmetro(s) nominal(is) de perfuração do poço; previsão da coluna estratigráfica a ser perfurada; previsão da zona de saturação a ser explotada, do potencial e das pressões existentes; previsão da extensão e do tipo de revestimento de acabamento em tubo liso ou filtro; caracterização da natureza e previsão da granulometria dos materiais do pré-filtro; indicação do trecho de cimentação de proteção sanitária superficial; especificação da laje de concreto de proteção do poço; definição do tipo de desinfecção do poço, após a conclusão de todos os trabalhos dentre outros. A norma ainda estabelece as condições gerais e específicas para os elementos descritos anteriormente.

Dentre as condições gerais aplicadas a aquíferos inconsolidados, como é o caso da Bacia do Amazonas, é determinado o espaço anular mínimo de 25 mm da bomba; uso de poços piezométricos para o ensaio de vazão; ensaios de produção mínimo de 24 h completado por ensaio de recuperação para a determinação da vazão de explotação; sistemas de poços devem considerar a interferência entre eles; o nível dinâmico deve ser menor que o nível de saturação; condições para o dimensionamento da abertura dos filtros; condições para uso do pré-filtro; os parâmetros físico-químicos a serem analisados que são indicadores usuais da ação corrosiva ou incrustante para a determinação dos filtros; espaço anular mínimo de 75 mm para colocação do pré-filtro; o uso da cimentação para prevenir riscos de contaminação ou mineralização; A escolha do sistema de bombeamento deve considerar a vazão de explotação, o ensaio de vazão e ainda instalar um tubo lateral de 19 mm de diâmetro para a medição do nível da água.

NBR 12.244/1992

Esta norma fixa as condições exigíveis na construção de poço para captação de água subterrânea, destinada ao abastecimento público. Todo poço deve ser construído por empresa habilitada, sob responsabilidade técnica de profissional de nível superior, devidamente credenciado junto ao CREA, com a ART da obra, e com base em projeto executivo (conforme NBR 12212). O construtor deve oferecer cronograma físico da obra e após concluída a obra do poço deve encaminhar ao contratante o relatório técnico construtivo, com conteúdo mínimo de acordo com o estabelecido na norma. Em caso de abandono da perfuração por problema técnico, o furo deve ser desinfetado, lacrado e o fato comunicado ao órgão público, estadual ou regional, encarregado do controle das águas.

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Concluída a construção, deve-se proceder à execução do teste de produção, a fim de determinar a vazão explotável do poço. O equipamento de teste deve ter capacidade para extrair vazão igual ou superior à prevista em projeto. Na instalação do equipamento de bombeamento no poço, deve-se colocar uma tubulação auxiliar, destinada a medir os níveis de água. Antes de iniciar o bombeamento, o operador deve certificar-se do retorno da água ao nível estático. As medições de nível de água no poço devem ser feitas com medidor que permita leituras com precisão centimétrica. O teste de produção deve ser iniciado com o bombeamento à vazão máxima definida no projeto, em período mínimo de 24h. Uma vez terminado o teste de produção com a vazão máxima, deve-se proceder ao teste de recuperação do nível, durante um período mínimo de 4h. O teste de produção escalonado deve ser efetuado em etapas de mesma duração, com vazões progressivas, em regime contínuo de bombeamento, mantida a vazão constante em cada etapa. A passagem de uma etapa à outra deve ser feita de forma instantânea, sem interrupção do bombeamento.

Todo poço deve ter cimentação para proteção sanitária, situada no espaço anular entre o tubo de revestimento e a parede de perfuração, com espessura mínima de 5,0 cm. O material utilizado na cimentação, em situações normais, deve ser constituído de calda de cimento. Nenhum serviço pode ser efetuado no poço durante as 48h seguintes à cimentação, a não ser que se utilize produto químico para aceleração da pega (cura).

Uma laje de proteção sanitária deve ser feita após concluídos todos os serviços no poço, consiste em uma laje de concreto, fundida no local, envolvendo o tubo de revestimento. A laje de proteção deve ter declividade do centro para a borda, espessura mínima de 15 cm e área não inferior a 1,0 m2. A coluna de tubos deve ficar saliente no mínimo 50 cm sobre a laje.

DECISÃO NORMATIVA CONFEA 059/1997

Dispõe sobre o registro de pessoas jurídicas que atuam nas atividades de planejamento, pesquisa, locação, perfuração, limpeza e manutenção de poços tubulares para captação de água subterrânea e dá outras providências.

A pessoa jurídica que se constitua para prestar ou executar serviços de planejamento, pesquisa, locação, perfuração, limpeza e manutenção de poços tubulares para captação de água subterrânea deverá proceder o devido registro nos CREAs, devendo indicar como responsável técnico um profissional Geólogo ou Engenheiro de Minas. Poderão, ainda, responsabilizar-se tecnicamente os profissionais com atribuições constantes no Decreto nº 23.569/33, que

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comprovem ter cursado disciplinas de caráter formativo pertinentes às mencionadas atividades, sendo seu currículo escolar submetido à análise da Câmara Especializada de Geologia e Minas.

2.5.2 Legislação Estadual

LEI ESTADUAL N° 3.167/2007 - POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Esta lei reformula as normas disciplinadoras da Política Estadual de Recursos Hídricos e do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, anteriormente estabelecidas pela lei estadual 2.712 de 2001 e alterada pela lei 2.940 de 2004. De acordo com esta lei o Sistema Estadual de Recursos Hídricos é composto pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, pelos Comitês de Bacia Hidrográfica, pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SDS (atual Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA), na qualidade de órgão gestor e coordenador; pelo Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas - IPAAM, na condição de órgão executor e pelas as Agências de Água, ou, enquanto estas não forem constituídos, as organizações civil de recursos hídricos legalmente constituídas. Atualmente não há instituições que atuem no estado na condição de agências de água.

Baseada nos mesmos fundamentos da Política Nacional, a Política Estadual de Recursos Hídricos, acrescenta outros 8 objetivos, dentre eles: assegurar o florestamento e o reflorestamento das nascentes e margens de cursos hídricos; difundir conhecimentos; viabilizar a articulação entre a União, o estado, os Municípios; compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a proteção ao meio ambiente; estimular a capacidade regional em ciência e tecnologia para o efetivo gerenciamento dos recursos hídricos (Art. 1°) dentre outros, que embora mais detalhados, já estão comtemplados anteriormente como “garantir a boa qualidade das águas, em acordo a seus usos múltiplos”. Quantos aos instrumentos foram acrescentados na política estadual o Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Amazonas e o Plano Ambiental do Estado do Amazonas (Art. 4°).

Na política estadual são previstas outras formas de uso sujeitas a outorga além das previstas na Política Nacional, uma dessas é a utilização da hidrovia para transporte (Art. 16, VII), que embora prevista ainda não foi regulamentada pelo estado, vale também considerar que este uso não altera a vazão e para esta atividade não é necessária boa qualidade da água conforme as resoluções que tratam dos enquadramentos dos corpos de água. Outros usos sujeitos a outorga são aqueles não destinados ao consumo que impliquem a exploração dos

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