C O M U N IC A Ç Ã O
DOIS CASOS D E ASPERGILOMA PARANASAL POR
A SP E R G IL L U S N IG E R
M a ria Y an d a C atão A rn au d, M ário A .P . M oraes e P a u lo N ó b reg a R e v is ta d a S o c ie d a d e B ra sile ira d e M ed ic in a T ro p ica l
2 7 (1 ):4 3 , ja n -tn a r , 1 9 9 4
A s p e rg ilo m a in tra c a v itá rio , a sp e rg ilo se intracavitária, aspergilose colonizante e colonização aspergilar intracavitária são expressões usadas para designar um a condição em que fungos do gênero A s p e r g i l l u s se desenvolvem no interior de cavidades do organism o, preexistentes ou não, formando m assas m ic e lia n a s - as b o la s fú n g ic a s ou aspergilomas. Constituem essas bolas verdadeiras c o lô n ia s do fu n g o , com h ifas densam ente
entrelaçadas - crescendo em saprofitismo sem
in v a d ir os tecidos; co n id ió fo ro s e conídios, característicos da espécie, são muitas vezes também produzidos, desde que exista um espaço com ar ao redor da massa fúngica.
O aspergilom a é mais freqüente nos pulmões, onde os fungos se desenvolvem em escavações devido a várias doenças cavitárias. Bolas fúngicas são assim encontradas em cavernas tuberculosas antigas, abscessos pulm onares crônicos, lesões c ic a tr iz a d a s e e s c a v a d a s d a s a r c o id o s e , bronquiectasias etc. Podem elas se formar ainda, em bora raram ente, em outras partes do corpo, sendo comum então o envolvimento dos seios paranasais. N os dois casos de aspergiloma paranasal, a seguir descritos, ambos diagnosticados no Estado do Pará, a espécie causadora era A s p e r g i l l u s n ig e r , identificada pelo aspecto das cabeças do fungo existente nos cortes histológicos.
D escriçã o d o s casos
Caso 1: I.B .R ., sexo feminino, 67 anos,
branca, procedente de Cametá, PA. Em abril de 1990, foi ela submetida à polipectomia nasal e sinusectomia m axilar esquerda, devido à sinusite crônica. D urante o ato operatório, notou-se que o seio m axilar estava cheio de material consistente e fétido, de aspecto não neoplásico, facilm ente destacável. Reduzido a fragmentos, para facilitar sua retirada, serviu esse material para estudo histológico.
Caso 2: O .M .S ., sexo feminino, 24 anos, branca, procedente de Icoaraci, Belém, PA. Referiu que, em novembro de 1991, após tratamento dentário
H ospital Adventista de Belém, Belém -Pará, Universidade de Brasília, Brasília, D F.
E n d ereç o p a r a c o rre sp o n d ê n cia: Prof. M ário A .P. M oraes. Instituto E vandro C hagas, Caixa Postal 1128, 66017-970 Belém , PA.
R ecebido para publicação em 08/11/93.
(endodontia), feito cinco meses antes, passou a ter dor na face e secreção nasal espessa. U m a radiografia dos seios paranasais m ostrou velamento do seio m axilar esquerdo, com im agem de densidade metálica projetando-se p ara dentro da cavidade. Ao ser realizada a sinusectomia, observou-se, no interior do antro, secreção espessa, que foi rem ovida, junto com a mucosa do seio e o fragmento metálico.
Nos cortes histológicos do material obtido dos d o is c a s o s v ia m - s e , m ic r o s c o p ic a m e n te , aglomerados de hifas, seccionadas transversal e longitudinalmente, bem como secções de vários conidióforos, que foram identificados como de A s p e r g i l l u s n i g e r , por sua arquitetura e cor dos conídios. Exibiam eles um a vesícula globosa, com a superfície recoberta, em toda sua extensão, por duas séries de fiálides, sendo as prim árias mais longas do que as secundárias; as fiálides secundárias davam origem aos conídios, de cor preta.
Com referência ao caso 2, assinala-se não ser esta a prim eira vez que um aspergilom a paranasal é encontrado, no Brasil, com a introdução de corpo estranho metálico no antro m axilar1.
F igura 1 - A d isp o s iç ã o b iss e ria d a d a s fiá lid e s , a diferença de tam anho en trefiá lid e s p rim á ria s e secu n d á ria s, e a co r p r e ta d o s co n íd io s p erm itira m identificar o fu n g o n o s co rtes
com o Aspergillus niger.
REFERÊN CIA BIBLIOGRÁFICA
1. S afferM , Severo L C , N unes M N. A spergilosenasal com imagem radiológica de corpo estranho m etálico. Revista Brasileira de O torrinolaringologia 52:32- 34, 1986.