Um administrador graduado
pela escola da vida
Ent revist a com Francisco Lourengo Qu er in o - Chico do Car an gu ej o, em 1 9 / 1 0 / 2 0 0 4 Produ ção, redação e ed ição fin al: Fernando Ram os, Ju lian a Colores e Tarciana Cam pos Texto de abert ura: Fernando Ram os Par t icip ação: Cam ila Vieir a, Ciro Câm ara, Crist ina Carneiro, Dan iel Sam paio, Fernando Ram os, Hum bert o Leite, Ju lian a Colares, Karine Wanessa, Marcos Edson Cav alcant e, M a r ia Rifa Feireira, Paulo Jú n ior Pin h eiro e Tarciona Cam pos Foto: I gor Grazianno
Sim p liad o d e, obst in ação e v on t ade de t rob alh or sao as m ercas da person alid ade de Chico, um hom em dest inado a encaror a v id a de frente, diu t u rnam ent e.
I \ l um m und ° de exageros a sim plicidade não
I
Y inspira, não incita, não m erece destaque. * Num m undo onde coisas pequenas são con sideradas banais, o que cham a a atenção é o diferen te, é aquilo que faz questão de ser visto e apreciado. N um m undo onde a m egalom ania e a extravagância im peram , a m aioria prefere o barulho, m as alguns ainda insistem em ver beleza no silêncio. Para esses poucos, Francisco Lourenço Q uerino, o C hico do C aranguejo, serviria de grande inspiração.Para entender as m inúcias que perm eiam a per sonalidade de C hico do C aranguejo é preciso falar m ais baixo do que ele: o grande em presário se tom a pequeno quando precisa falar de si m esm o. Falando pouco e pra pouca gente, C hico talvez passasse des percebido, não falassem por si próprias as suas rea lizações: o hom em que não gosta de aparecer é líder no m ercado de venda de caranguejos no Ceará, prin cipal fornecedor de cerca de 159 restaurantes e ba res, proprietário de um a das barracas de praia mais populares de Fortaleza, dono de um superm ercado e de uma m adeireira.
Sim ples no m odo ser, sim ples no m odo de enten der a vida. Para Chico, a transform ação do garoto pobre em grande em presário foi um processo natu ral. De fato. os acontecim entos na vida de Chico pa recem m esm o se encaixar num ritm o perfeito. Da vinda de Aracati para Fortaleza, quando com eçou a vender caranguejos com o pai, ate a hegem onia que hoje detém no ramo, nunca houve planejam ento. Se tivesse havido, Chico talvez não estivesse nas entre linhas que o diferenciam dos dem ais. Não seria, como ele m esm o faz questão de definir, um “em presário de chinela”.
Sair das entrelinhas é algo que C hico não quer nem quando o assunto é trabalho, nem quando é o seu lado hum anitário. Há quinze anos, ele reúne cri anças carentes em seu sítio para com em orar o dia das crianças e faz questão de não fazer alarde em cim a disso. Nas cam inhadas que faz todos os anos à cidade de C anindé, quando distribui cestas básicas para com unidades que encontra no cam inho, pre serva-se de tal m aneira, que nem os próprios com panheiros de cam inhada sabem que o Chico de São Francisco é tam bém o C hico do C aranguejo.
A discrição não o perm ite ser visto pela m aio ria, m as o faz querido entre a m inoria que o cerca. O princípio de incêndio ocorrido na barraca em ju lho de 2004, quando várias pessoas apareceram para ajudar a apagar o fogo, prova isso. A “fam a” não faz C hico distribuir autógrafos. O retorno vem sob uma form a m uito m ais relevante: o reconhecim ento daqueles com quem ele realm ente se im porta. Fun cionários, am igos e filhos fazem questão de colocá- lo um degrau acim a dos dem ais.
O degrau que o eleva se torna ainda m ais alto quando se atenta para o fato de que C hico instituiu até um hábito cultural na cidade. Com o tudo que fez até hoje, ele com eçou de m ansinho, sem m uitas pretensões, e o resultado está aí, estam pado para quem quiser ver: toda quinta-feira à noite, ele leva um a m édia de 1.500 pessoas à sua barraca para co m er caranguejo. M il e quinhentas só na sua barra ca. Nos outros bares e restaurantes da cidade, um núm ero igual ou m aior de pessoas ajuda a perpetu ar o costum e que ele criou.
T a rc ia n a -
Quando a gen
te conversou com você, antes
da entrevistada gente soube
que você veio de A racati
(ci
dade litorânea do C eará, d is
tante 155 km da capital,)
para
Fortaleza. Então, a prim eira
pergunta é, exatamente, nes
sa vinda de A racati para cá,
assim que você e a sua fa m í
lia chegaram ... Como era a
vida de vocês, assim que vocês
chegaram em Fortaleza?
C hico - Olha, era um a vida
sim ples, né? Q uando a gente
v eio de A racati p a ra cá em
busca de algum a coisa... N a
época, eu tin h a o qu ê? Seis
anos de idade... De cinco
para fazer seis anos. E tive- -
m os v á ria s d ific u ld a d e s.
N aquela época, m eu pai já
trabalhava com caranguejo,
m as não tinha valor. N aque
la época, era com ida de po
b re , n é ? G e n te s im p le s .
H oje não, que caranguejo
só com e quem tem condi
ções, né? M as antigam ente
a g e n te v e n d ia c a ra n g u e jo
d e n tro de ô n ib u s, n a q u e la s
paradas de ônibus, porque re
a lm e n te só c o m ia m e sm o
aquele pessoal m ais sim ples.
E ra tanto que a gente vendia
todo dia, todo dia, nessas fei
ras. A gora não, só sábado, d o
m ingo e feriado, né? Aí, foi
nossa vida com o com eçou.
M a ria R ita -
Chico, ago
ra, se era difícil trazer o ca
ranguejo p ra cá e, como você
disse, era com ida de pobre.
Então, p o rq u e o caranguejo?
P orque vocês não resolveram
vender outro tipo de coisa?
C h ic o - O lh a , n a q u e la
época, m eu pai
{João
Louren-ço Filho)
com eçou a trabalhar
com caranguejo e a única coi
sa que ele sabia fazer era aqui
lo , n é ? E m b o ra tiv e s s e m
outras coisas aqui em Fortale
za, m as nós nunca... P rocura
m os sem pre se d edicar àquilo
ali, achando que um dia ia m e
lhorar, ia m elhorar e... A úni
ca c o isa q u e a g e n te sab ia
fazer era vender o caranguejo.
F e rn a n d o -
M as como é
que fo i o início do trabalho
com o caranguejo? Foi logo
depois que você chegou de
Aracati com a sua fam ília...O
seu p a i começou trabalhando
e você com eçou a trabalhar
com ele?
C h ico - Foi, porque a gen
te já veio para cá com aquelas
intenções do caranguejo, que
era do A racati, que era o ú n i
co lugar, praticam ente, que a
g en te c o n h e c ia cara n g u e jo .
"Às vezes, eu digo para o pessoal
que eu fui casado com doze anos
de idade. Eu tô, desde os doze
anos, que eu tô ali cuidando da
minha mãe, dos meus irmãos...".
N ós não sabíam os que tinha
caranguejo em outra parte, só
A racati. E ntão, ele
{o pai)
já
veio com aquelas intenções de
trazer o caranguejo para cá.
T a rc ia n a -
Chico, e outra
coisa é que vocês moraram no
Pirambu...
(bairro localizado
na Zona Oeste de Fortaleza, co
nhecido, historicam ente, pela
alta taxa de crim inalidade).
C h ic o - É , m orei m uito
tem po no Piram bu...
T a rc ia n a -
Você lembra de
alguma coisa dessa época ?
C h ic o - N ão, lem bro... O
sofrim ento m esm o que a gen
te passava. A gente... T rocava
m uito de casa, porque, naque
la época, a gente pagava casa
de aluguel. Praticam ente, não
tinha condições de estar sem
pre m antendo o aluguel e a
gente se m udava m uito, né?
C ris tin a -
O senhor fa la
muito de trabalho. O senhor
com eçou a trabalhar m uito
cedo, com oito anos...
C h ic o - M uito cedo. Eu,
com seis anos, já ia de pés para
o C entro com o m eu pai. E le
já m e levava com seis anos de
idade.
C r is ti n a -
O se n h o r se
lembra... A sua infância, as
b rin c a d e ira s com seu s ir
mãos... O senhor se lembra de
alguma coisa no Pirambu, das
brincadeiras... O senhor brin
cava de quê?
Chico - Eu não tive infância,
nunca, nunca. Sem pre foi o tra
balho. Eu tenho saudade da in
fância, porque eu nunca tive.
J u lia n a -
Você tinha que
- su sten ta r toda a fa m ília ,
com o pai. Eram quantos
irmãos?
C hico - Seis. Eram sete,
faleceu um , né?
J u lia n a -
E era só você
que trabalhava?
C h ico - Era, só eu que
trabalhava. Eu era o m ais
velho. A í, eu com
{tenta se
lem brar)...
D oze anos, m eu
pai faleceu e deixou eu com o
responsável pela casa... À s ve
zes, eu digo para o pessoal que
eu fui casado com doze anos
de idade. Eu tô, desde os doze
anos, que eu tô ali cuidando
da m inha m ãe
{dona Clotilde
Q uerino da Silva, 6 7 anos),
dos m e u s irm ã o s ... E stu d o
para eles. Eu não... Eu não es
tu d e i
{C hico cu rso u a té a
quarta série do Ensino F un
damental),
mas sem pre procu
rava dar o que eu podia a eles.
H u m b e rto -
E como era
essa responsabilidade, Chico?
C h ico - O lha, era um a res
ponsabilidade de casado m es
m o... Tem que pagar aluguel,
luz... Tem que buscar a fari
nha, o açúcar. Só tinha eu para
isso, né? Só tinha eu. Eu era o
m ais velho.
D an iel -
E com doze anos,
o senhor já manjava dessa
his-N o p r im e ir o co n t a t o , os a lu n o s m o st r ar a m a lg u n s e x e m p la r e s d a R e v is t a En t r ev ist a p a r a co n v e n cer Ch ico a ser u m d o s e n t r e v is t a d o s . " Q u a n t o v o i m e cu st a r sa ir n essa r e v i s t a ? " , p e r g u n t o u , d e sco n f ia d o .
A e q u ip e d e p r o d u ção t e n t ou m a r car a p r é- en t r ev is- t a n u m a s e g u n d a - f e ir a , c c h a n d o q u e Ch ico est a r ia d isp o n ív e l. " N ã o . Se g u n d a eu d e s a p a r e ç o " , d is s e C h ic o , d e ix a n d o , m a is u m a v ez, a e q u ip e sem g r aça.
N o s e g u n d o c o n t a t o d a p r o d u ç ã o co m Ch ico , j á p a r a f a ze r a p r é- en t r ev is- t a, u m g a r ço m d a b ar r oca a t en d eu à e q u ip e , d iz e n d o q u e Ch ico lo g o v ir ia.
tória de caranguejo
,
de ir bus
car o caranguejo?
C h ic o - Já, já... Já com e
çava, porque eu com ecei com
seis anos de idade... M eu pai
m e m ostrou as coisas e eu com
doze anos já tinha pelo m enos
um a noção...
F e rn a n d o
- A questão dos
estudos. Atrapalhou m uito o
fa to de você com eçar a traba
lhar muito cedo?
C h ic o - A h, atra p a lh o u
p o rq u e eu n ã o tin h a com o
estudar,né? Eu trabalhava na
parte da m anhã no caranguejo
e, à tarde, eu ia atrás de qual
q u er coisa, qualquer arranjo,
fa z e r fa v o r, e ra ... F a z ia
m a n d ad o p a ra os o u tro s. -
T in h a q u e fa z e r q u alq u er
coisa para arrum ar o feijão
pra dentro de casa.
F e rn a n d o -
Você se ar
repende de não ter tentado
co n cilia r ?Você fa lo u que
não dava, m as você se ar-
-
repende de não ter insisti
do m ais? H oje em dia, sente
falta ?
C h ico - N ão, não... Sinto
não
(sorrindo).
T a r c ia n a -
C hico, essa
questão que você fa lo u de ter
sustentado a fa m ília quando
seu p a i m orreu. Q uando a
g e n te e sta v a a q u i fa z e n d o
aquele trabalho antes da en
trevista , a gente conversou
com o seu irmão
(José W ilson
Q uerino L ourenço, o “Irlim ” ,
26 anos,perdeu “as contas” de
há quanto tem po trabalha na
barraca. N o m om ento em que
a equipe de produção conver
sava sobre C hico, Irlim não
parou de trabalhar: m atava e
esco v av a caranguejos)
e ele
realmente falou: “O Chico é
o p a i que a gente não te ve”.
C h ico - A i, ele falou foi?
(sorrindo).
T a rc ia n a -
Foi
(risos).
O
que é que você acha de uma
afirm ação como essa?
C h ic o - Não, tá certo. E le
falou a verdade.
H u m b e rto -
E o seu p a iy
Chico?
C h ic o - O lha, ele era um
hom em m uito trabalhador, né?
M as, n a q u e la ép o ca, ele se
desgastou m uito com a bebi
da. M as era um hom em bom
para dentro de casa.
K a rin e -
Voltando aqui à
questão dos estudos. Tudo que
você construiu, você fe z p o r
causa da sua experiência de
vida
,
da sua visão comercial.
N o entanto, você sempre se
preocupou, pelo que eu li com
a educação dos seus filhos.
"(...) quando você vive t rabalhan
do, você tem que dar valor. Você tá
vendo os exemplos que negócio de
droga não vale a pena a nada".
Por que você considera tão
importante os estudos?
C hico - Porque a gente vai
vendo, a cada dia que passa, o
estudo é mais importante. Anti
gam ente não, era mais simples,
você não... Q uase os estudos
não tinham valor, mas hoje você
vai vendo que... H oje até um
em pregozinho... Hoje m esm o,
eu cham o um a pessoa aqui para
trabalhar num escritoriozinho
qualquer e já com eça a exigir...
Computador, né? Então, antiga-
m ente, não tinha isso... Por isso
m inha preocupação... Dei
(es
tudos)
para os m eus irm ãos e
estou dando para os meus filhos.
C a m ila -
E você fa lo u que
seu pai também era muito tra
balhador. E a sua inãe também
ajudava ?
C h ic o - A judava, m as só
em casa.
C a m ila -
M as ela era en
fá tica assim no trabalho tam
bém como o seu pai?
C hico - Era, ajudava muito.
H u m b e rto -
Chico, o seu
p a i acabou se tornando alco
ólatra e quando ele faleceu
você teve de ter essa condição
de sustentara casa. Quando
você era adolescente, j á tra
balhava... Você teve alguma
coisa assim... Evitou alcoolis
mo, droga
,
roubo? C om o é
que você manteve isso longe
de si?
C hico - Ah, droga, é... N a
q u e la é p o c a , m o ra v a no
Piram bu, um lu gar perigoso,
ex istia m uita tentação, m as,
graças a D eus, nunca chegou
para esse lado. M as tentação
existia m uita, m uita facilida-
■ de naquela época.
H u m b e r to -
E com o é
que você se m anteve distan
te
(das drogas)?
C hico - O lha, acho que é
o destino m esm o. A gente,
quando não é para d ar com
- aquela coisa, evita os m aus
exem plos. N a época, eu era
um cara trabalhador. Eu não
era, nunca fui, um cara assim...
C om o se usa a palavra... Va
g a b u n d o , e sse p e s s o a l q u e
v iv e sem fa z e r n ad a. N ão,
quando você vive trabalhando,
você tem que dar valor. Você
tá vendo os exem plos que n e
gócio de droga não vale a pena
a n a d a
J u lia n a -
Chico, quando
seu p a i faleceu... A gente viu,
pelas informações, que vocês
tra b a lh a v a m b a s ic a m e n te
para se auto-susten tar. Depois
que ele morreu, você teve o
pensam ento de redirecionar
os negócios ey no caso, p e n
sar em m ontar uma empresa?
Ou f o i um a coisa na tu ra l?
M ontar uma barraca?
que a gente fazia, que era a
vendazinha simples. N a época,
a gente vendia caranguejo nas
feiras livres e continuam os...
D an iel -
E nessa época o
caranguejo vinha de onde?
C hico - A racati (
o mangue
da cidade fo i o prim eiro local
de onde Chico trazia caran
guejo para vender na capital).
F e rn a n d o -
E eram ven
didos
(os caranguejos)
nas fe i
ras e quais outros locais?
C h ic o - V endido nas fei
ras, na P raça do C arm o, na
Praça do Ferreira, (
Praças lo
calizadas no Centro de For
taleza
), ali nos nossos pontos
no M ercado São Sebastião
(<o m aior mercado público
*
da capital cearense).
D a n ie l -
Q uem era o
seu m aior cliente naquela
época? O senhor lembra?
C h ic o - N ão, n aq u ela
época, nós não tínham os,
não, que era o pessoal do
d ia -a -d ia m esm o, p esso al
de feira. N aquela época, nós
não tín h a m o s c lie n te ce rto
não, a gente ia pras feiras e lá
vendia pros prim eiros que apa
reciam .
M a r i a R it a -
C h ic o , e
alg u m a vez você im aginou
q u e esse tra b a lh o to d o ia
d a r n isso ?
C h ic o - N ão , eu n u n c a
im aginei não.
C ris tin a -
Chico, só vol
ta n d o a q u i um p o u q u in h o
para a questão do estudo que
v o cê ta v a fa la n d o co m a
Karine. O senhor acha que se
tivesse, ao invés de gastar a
m aior parte do seu tempo tra
balhando, tivesse estudado, o
se n h o r teria ch eg a d o onde
chegou?
C h ic o - N ão, eu acho que
não.
D an iel -
Ainda em relação
ao estudo, se, hoje em dia, o
senhor tivesse a oportunidade
de ter continuado, qual a pro
fissão que o senhor escolheria?
Médico, advogado, jo rn a lis
ta... O senhor tinha esse sonho
quando era criança?
C hico - O lha, sem pre cu
tive um sonho, quando eu era
criança, de ser policial civil.
K a rin e -
Você disse que
não tinha pensado ainda em
ser vendedor na barraca, né,
inclusive quando você com
prou, aqui, a barraca, ela de
início serviu como depósito
(o
p rim e iro in v e s tim e n to de
C hico na Praia do Futuro foi a
com pra da barraca M eu G aro
to, que serviu inicialm ente para
o depósito de caranguejos)...
"(...) eu era, praticamente, o dono
do caranguej o, né? Então, graças
a Deus, não tivemos muita dificul
dade. Já tava com o ouro na mão
que era o caranguej o."
C h ico - Foi, exato.
K a rin e -
Então, como fo i
que essa atividade veio? M on
tar a barraca, passar a ven
der caranguejo, ter um ponto
comercial ?
C hico - N ão, as coisas fo
ram m o d ific a n d o . A q u e la s
vendas do C entro, do caran
guejo foram se acabando e foi
c ria n d o , aq u i (
na P raia do
Futuro),
aquelas barracas de
p ra ia . C o m e ço u um a, d u as
barracazinhas, e foi quando a
gente foi tendo idéia que ia dar
algum a coisa, já tinha algum a
coisa de futuro, certo? A gen
te com eçou a ganhar m esm o
com caranguejo, quando co
m eçam os a vender pro pessoal
de praia. A í, foi quando
(veio)
a idéia de m ontar um depósito
aqui, qu e ta v a vendo que o
negócio tava m elhorando.
H u m b e rto -
Chico, você
fa zia todo esse trabalho a pé?
Q uando é que você com eçou
a ter veículo para poder f a
zer esse...
C hico - Ah, isso... Fiz esse
trabalho po r m uito tem po. A
gente alu g av a táx i, n aq u ela
ép o ca, jip e , a g en te an d av a
m uito de ônibus. N aquela épo
ca, nós levávam os surrões e
surrões dentro do ônibus... A
gente levava um as sacas, tipo
saca de farinha, botava dentro
do ônibus e levava pra q u al
quer lugar.
P a u lo J ú n i o r -
C hico,
com o era sua rotina? Você
acordava que horas?
C hico - Todo dia eu m e le
vanto quatro, cinco horas da
- manhã. Hoje, ainda, a m inha
esposa, nós discutim os todo
dia, que ela quer que eu fi
que em casa até sete, oito
horas, e eu não consigo. C in
co horas da m anhã, no m á
xim o, eu tô levantando, em
qualquer lugar que você pos
sa im aginar.
F e rn a n d o -
Chico, no
início da barraca, quais foram
as m aiores dificuldades e n
frentadas?
C h ic o - N ão, no in íc io ,
g raça s a D eu s, eu não tiv e
m u ita d if ic u ld a d e , p o rq u e
sem pre, aqui, nessa barraca, a
m atéria-prim a principal era o
caranguejo e eu era, p ratica
m ente, o dono do caranguejo,
né? E ntão, graças a D eus, não
tivem os m uita dificuldade. Já
tava com o ouro na m ão que
era o caranguejo, né?
J u lia n a -
Quais eram os
outros concorrentes na época ?
C hico - O lha, na ép o ca,
praticam ente, a concorrência
era pouca. N ão tin h a q u ase
concorrência, não. Eu m e lem
bro que eu passei doze, dez ou
foi onze anos sendo exclusivo
aqui, no C eará, em carangue
jo . Q ualquer um de vocês que
pudesse im aginar com prar ca
ranguejo tinha que ser com
i-Te n t a n d o p u x ar assu n t o , e le p e r g u n t o u se o e q u i pe já t in h a id o cu r t ir u m a ca r a n g u e j a d a n a q u in t a - f e ir a . " N ã o " r e sp o n d e r am os a lu n o s. Su r p r eso, e le p er g u n t a: " V o c ê s são d a q u i?" .
" Pu t z g r ila , o D iá r io v a i f a ze r u m a e n t r ev ist a com o Ch ico a n t es d a g e n t e ! " , a p e r r e o u - s e Fe r n a n d o . Par a a so r t e d a e q u ip e , as m o ça s n ã o er am j o r n a lis t a s e o r á d io era d e Ch ico.
N o d ia 2 d e o u t u b r o , o o ch e g a r á b ar r aca " 0 M e n d e s" , p a r a e n t r e v ist a r o co n co r r e n t e d e Ch ico d o Car an g u ej o , a sa n d á lia d e Ta r cian a q u eb r o u .
go. Inclusive, teve um a épo
ca, um delegado da polícia fe
d e ra l m a n d o u m e in tim a r
porque eu tava form ando não
sei o quê
(Chico fo i acusado
de fo rm a r monopólio).
Eu não
tenho culpa de eu ter sido, na
quela época, eu passei de dez
a onze anos sendo o núm ero
um em caranguejo, aqui.
J u lia n a -
Você se lembra
q u a n ta s b a rra ca s existia m
naquela época?
C h ic o - N ão... E ra coisa
pouca. Q uinze barracas.
K a r in e -
O João A irton
(João A irton H olanda Sousa,
engenheiro de pesca e propri
e tá rio da S ó M a risc o s, é
m e lh o r am ig o d e C hicoJ
disse que, no começo, você
queria se desfazer da sua
b a r ra c a p o r c o n ta d a s
dificuldades que você en
frentou. Você já tinha expe
riência nesse negócio ou
você com eçou sem q u a l-
-quer experiência anterior?
Aprendeu tudo na “m arra”?
C h ico -
É ,naquela época,
o m eu forte sem pre foi o ca
ranguejo. E ntão eu senti um
pouco de d ificu ld ad e com o,
agora, tô sentindo dificuldade
no superm ercado
(Super E x
presso)
que eu abri aqui na
{avenida)
Santos D um ont. Só
tá o quê? C om cinco m eses.
E u tô tendo essa m esm a difi
culdade quando eu tive, aqui,
na barraca. N a época, eu sa
b ia v en d er cara n g u ejo , m as
não sabia m exer com bebida...
M as aí, com o tem po, graças
a D eus, foi dando certo.
T a rc ian a -
Chico, como fo i
que se deu essa transformação
do depósito em barraca?
C h ico - Já que com prei
(a
barraca M eu Garoto)
pra bo
tar um depósito de caranguejo
e, com o já , era um a barraca-
zinha, tinha um as dez m esas.
E n tão , o c lie n te co m eço u a
q u e re r co m p ra r um a cerv
e-jin h a . U m p ró p rio v iz in h o
m eu disse: “R apaz, p o rq u e tu
não aproveita e vende algum a
coisa e fatura os dois lados ao
m esm o tem po ?” E eu, pra não
perder tem po, eu m orava lon
ge, do Piram bu pra cá
(para a
Praia do Futuro)...
N aquela
época, era um a viagem , hoje,
não, é pertinho. E ntão com e
cei a vender algum a coisa, né?
F e r n a n d o -
A fa m a da
barraca
,
hoje em dia, deve-se
m uito às quintas-feiras, né?
Como é que começou essa his
tória da quinta-feira?
C hico - Olha, a quinta-fei
ra, nós sem pre, com o era um
"Durant e a semana, de segunda a
sexta, é turista, noventa por cento.
Já no sábado e domingo, o contrá
rio, quase cem por cento é
cearense".
depósito de caranguejo, deixá
vam os a barraca aberta. Q uan
do dava certo vendia algum a
coisa,
{quando não)
não ven
dia. N ós passávam os a noite
a b erto , n o ites e n o ites sem
vender nada. N aquela época,
nós só m atávam os o carangue
jo quando chegava o cliente.
D em orava até m ais um pou
co, n é? H o je , n ão , q u a n d o
você chega na barraca o caran-
g u e jo j á tá m o rto . M a s ,
naquela época, não, nós dem o
rávam os. A gente m atava na
hora, porque não sabia se ia
aparecer cliente. E foi quando
surgiu um pessoal de São Pau
lo , e x a ta m e n te n a q u in ta ,
com o poderia ter sido em ou
tro dia,e m andaram m atar uns
caranguejos e encom endaram
p ra n a o u tr a q u in ta - f e ir a ,
{quando)
tava chegando um
grupo de am igos...
{Pergunta
ram)
Se podia trazer um vio
lã o ... F o i u m a c o is a q u e
aconteceu natural, com o pode
ria ter acontecido noutro dia.
A conteceu na quinta, m as...
M a rc o s -
Você já tentou
transferir para outro dia?
C hico - N ão, tentei fazer
outro dia, m as não deu certo.
C iro -
Chico, você ainda
mantém contato com esse p e s
soal (os
paulistas, prim eiros
clientes de C hico nas quintas
à noite,)?
C hico - N ão, não m e lem
bro m ais não.
C iro -
Não? M as você tá
agradecido a eles p ela fr e
quência no início da barraca ?
C hico - Ah, teria dem ais.
P rim eiro a D eus, segundo a
■ eles.
K a rin e -
Você procurou
estabelecer esse dia como o
dia que... você viu que isso
seria uma estratégia ou fo i
uma coisa natural?
C h ico - N ão, foi natural,
- porque eles chegaram e per
guntaram se podia na pró x i
m a q u in ta -fe ira ... T raz er os
am igos. Aí, tinha no m áxim o
dez pessoas, algum carro que
ia passando por ali viu, né. A í
depois de três ou quatro qu in
tas-feiras que eu resolvi botar
um cara no violão pra ver se
dava certo, foi pegando aos
poucos...
C r is ti n a -
O se n h o r se
le m b ra em q u e a n o e sse s
paulistas vieram aqui e com e
çou tudo isso?
C h ic o - E m torno de 20
anos atrás.
F e rn a n d o -
Da trajetória
da barraca até agora, eu que
ria que o senhor me dissesse
qual fo i o p io r m omento pelo
q u a l v o c ê s p a s s a r a m e o
melhor.
an o s...O resto só v itó ria m es
m o, graças a D eus...
F e rn a n d o -
M as a quin
ta -fe ir a te v e um a g ra n d e
mudança de público e empre
endeu também todo um costu
me na cidade de Fortaleza, né.
A pa rtir daí, o lucro da bar
raco fo i m uito m aior? Teve
uma grande diferença do
pré-quinta-feira e o
pós-quinta-fe ira ?
C hico - É, nós... G raças a
D eus, depois foi só crescendo,
os pontos foram crescendo...
J u lia n a -
Chico, hoje, numa
quinta-feira à noite, quantas
p esso a s vão p ara a
caran-guejada? Uma média?
C h ic o - O lh a , e s s a
quinta-feira
(14 de outubro
d e 2 0 0 4 ),
p o r e x e m p lo ,
essa agora que passou, nós
tiv e m o s m il e c in q u e n ta
p e sso a s, m as, n a q u in ta -
fe ira da a lta e staç ão , nós
c h e g a m o s a c o lo c a r a té
d u as m il e q u in h en tas pes
soas aqui na casa.
M a ria R ita -
Chico, sobre
a popularização da época do
com eço d a s q u in ta s-fe ira s,
você fo i adquirindo todo um
trato com a clientela, né? E n
tão, eu queria saber, como fo i
a sua convivência na época
que começaram a vir prosti
tutas p ra cá. Como você con
viveu com elas?
C h ico - O lha, na época, a
gente tinha até um pagode no
dom ingo, acabei agora. N ão
sei se vocês viram um em pre
e n d im e n to q u e fiz a g o ra ...
U m a piscina nova. Vocês vi
ram , não?
(faz uma pausa, es
perando a turma responder).
U m n e g ó c io m eu . N a q u e la
época, com o dono da casa, eu
tinha que receber, tratar bem ...
C o m e rc ia n te , ja m a is v o c ê
pode expulsar ninguém ... E,
com o tem po, eu fui vendo que
não era o público que eu q u e
ria e resolvi acabar com o pa
gode, m odificar o sistem a de
som da casa. N aquela época,
n inguém co b rav a p ra en trar
nas q u in ta s-fe ira s. C o b rav a
um sim b o lico zin h o sim ples,
cover (
couvert, taxa cobrada
em alguns estabelecim entos
pela música ao vivo).
Hoje nós
cobram os doze reais por cabe
ça. Então, aí, m odificou que
elas se afastaram , né. H oje,
graças a D eus, nós tem os um a
casa cem p o r cento fam iliar.
D an iel -
A gora
,
o público,
a m aior parte é turista...
C h ic o - N ós tem os dois
públicos aqui na casa. D uran
te a sem ana, de segunda a
sex-" (...) o turista vem, às vezes, pede
até o garçom pra ensinar (a comer
caranguej o). Ele compra o caran
guej o, ali, est raga(risos)".
ta, é turista, noventa por cen
to. Já no sábado e dom ingo, o
contrário, quase cem po r cen
to é cearense.
K a rin e -
Mas, nas
quintas-feiras, a maior frequência de
público são os turistas ou são...
C h ico - Turistas, turistas.
K a rin e -
Porque os turis
tas, pelo que você já disse, em
entrevistas anteriores, não cos
tumam comer caranguejo...
C hico - É. Inclusive a nos
sa v en d a d e c a ra n g u e jo na
quinta-feira, tem restaurante
aqui, com o o Itapariká
(bar-raca concorrente do Chico do
C a ranguejo)
e o u tro s, q u e
vendem m ais caranguejos do
que eu na quinta-feira. E quem
com e caranguejo m esm o é o
pessoal da terra.
H u m b e r t o -
O tu r is ta
com e o que, aqui?
C hico - Não, o turista vem ,
às vezes, pede até o garçom
pra ensinar
(a com er caran
guejo).
E le co m p ra o caran
guejo, ali, estraga
(risos).
O
forte m esm o é a casquinha, a
patinha, o cam arão.
F e rn a n d o -
Chico, fa la n
do agora um pouquinho sobre
o seu trabalho de distribuidor
de caranguejo. Você falou, em
e n trev ista s a nteriores, que
várias p esso a s j á tentaram
ingressar nesse negócio de
fo rn ece d o r de caranguejo e
nunca dá certo. P or que dá
certo para você e não dá cer
to para eles ? Seria p o r causa
da experiência...
C h ico - É, o caranguejo...
A experiência. O ntem m esm o
chegou um rapaz aqui
que-- rendo entrar no ram o. Eu fa
lei p ra e le q u e e ra m u ito
com plicado. É um negócio
qu e d e p e n d e de m a ré , de
você ter coragem de trab a
lhar, não tem hora para tra
balhar... Você tem que viajar
- no m eio do m undo, entrar lá
nos m angues, tá certo? H oje
eu tenho m u ita in v e ja... O s
m eus inim igos
(atrapalha-se.
Na verdade, Chico se refere à
inveja que os inim igos têm
dele)...
N ão é por causa que
tenho algum a coisa, m as é por
que eu tenho m esm o é vonta
de de trabalhar, tem que ter
coragem , tá em cim a.
M a r ia R ita -
Chico, como
um grande distribuidor, o se
nhor acompanha os trabalhos
de preservação do carangue
jo nos mangues, as leis?
C h ic o - A h, nós ac o m p a
nham os direto... M eu pessoal
lá ...N ó s não po d em o s p eg ar
o cara n g u ejo ab aix o de seis
c e n tím e tro s, nem c a ra n g u e
jo fêm ea, de je ito nenhum .
E stam os sem pre em cim a ou
fiscaliza n d o .
H u m b e rto -
Chico, o p e
ríodo do defeso, o último, ele
começou no dia I o de dezem
bro e terminou dia 31 de maio.
C h ic o - Certo.
Ta r cio n a, q u e n ã o est av a co m r o u p a s a d e q u a d a s p a r a p r a ia , t r a j av a calça, b lu sa e u sa v a o ca b e lo preso, t ev e d e a n d a r m a n ca n d o . " S e a o m e n o s eu t i v e s s e c o m r o u p a d e p r aia, d a r ia pra d isfar çar " , b r in cou .
D u r an t e a ent rev ist a q u e a eq u ip e d e produção fez com o f u n cio n á r io d a barroca, Socor r in h o, e la d isse q u e Ch ico cost u m a con t r at ar as p essoas com a s q u ais " e le v a i com a ca r a " .
D ia n t e d a a f ir m a ç ã o d a f u n c io n a r ia , Ju lia n a lo g o p e n sou : " Pe lo m e n o s se t e r m in a r m o s a f a cu ld a d e sem e m p r e g o , p e d ir em o s u m a o Ch ico " .
H u m b e rto -
É justam ente
numa época de alta estação.
C hico - C erto.
H u m b e rto -
Como é que
pode, d u ra n te essa época,
conseguir preservar o caran
guejo e ainda assim m anter a
venda aqui na barraca e pros
outros restaurantes?
C h ic o - N ão, esse p e río
do de d efeso a í foi um c á l
c u lo e rra d o q u e o p ró p rio
Ib a m a (
In stitu to B rasileiro
do M eio-am biente e dos R e
cursos N aturais R enováveis
)
fe z , tá ce rto ? E não tin h a ca
b im e n to aq u ilo ali. E ho je,
nós tem o s m uitos m an g u es,
n ão tem p e rig o de fa lta r
c a ra n g u ejo , não.
J u lia n a -
Chico, você já
te ve algum problem a com o
Ibam a?
C h ico - N ão, graças a
D eus, não. Teve um a época
a í qu e eles in ventaram de
f is c a liz a r e c h e g a ra m a
p re n d e r n o sso b a rc o po r
um a hora ou duas horas, no
m áxim o. M as não tem com o
você fiscalizar um a “carrada”
de caranguejo, porque é m ui
to caranguejo, principalm en
te, de m a d ru g a d a , q u e é o
período que a gente anda, né?
D an iel -
O senhor fa lo u
que caranguejo é uma coisa
que não acaba, né? M as o se
n h o r já veio de A ra ca ti, lá
acabou o caranguejo?
C hico - Isso.
D a n ie l
-
C a m o c im ,
Chaval
(cidades litorâneas do
C earáj...
O utras estatísticas
mostram que noventa p o r cen
to dos mangues do Equador já
a ca b a ra m . M as, o senhor,
m esmo assim, insiste em dizer
que o caranguejo não vai aca
bar. O que é que o senhor pen
sa dessas estatísticas?
C hico - N aquela época, o
pessoal m esm o que quisesse
ser bem educado, m as não po
dia, tava todo dia naquele m an
gue. Hoje, lá em Pam aíba (
Vale
do P a m a íb a , na divisa dos
E stados P ia u í e M aranhão.
Hoje, a maior área de extra
ção do caranguejo no Nordes
te
), nós tem os um a área de
m angue m uito grande. Vamos
supor que se divida em vinte
setores. Então, nós tem os um a
turm a que passa aqui... Eles
passam dois ou três m eses tra
b alh an d o (
revezando-se em
cada setor).
N a época, Aracati
e C am ocim são uns m angues
pequenos que era obrigado pes
soal ficar ali até acabar.
C iro -
O senhor já tem um
p la nejam ento, caso não dê
"Naquela época, eu tava desde a
hora em que eles iam pro man
gue, eu que mandava eles pro
mangue, que eles recebiam. Hoj e
não, o negócio já modificou
certo mais essa questão de ca
tar caranguejo na Parnaíba...
Já tem algum outro local em
vista? Na P arnaíba tá bem
ainda?
C h ic o - T á bem . N ós já
estam os já perto do Pará. Já
e s ta m o s tra z e n d o a lg u m a s
m ercadorias de lá.
H u m b erto -
Ô ,Chico, em
março deste ano você deu entre
vista e o senhor falou que há três
anos eram cerca de dez mil ca
ranguejos por mês, na Pamaíba.
Sendo que agora só está cerca
de quatro mil por mês. Essa que
da de coleta de caranguejo
lá...Tá realmente acontecendo
isso? Tá acabando?
C h ico - Olha, exatam ente,
nós já estam os buscando no
Pará para econom izar um pou
co, para d ar m ais tem po lá,
entendeu?
F e rn a n d o -
Voltando um
pouquinho pro trabalho aqui
na barraca. O trabalho aqui
é bem familiar, né? Você em
prega seus irmãos, seus filhos.
Eu queria saber as vantagens
disso, de se ter a fa m ília aqui
dentro, e as desvantagens.
C h ico - A vantagem é que
a gente se sente m ais seguro,
q u e r dizer, u m a c a sa d essa
aqui, que trabalha os filhos...
H o je , d a fa m ília , a q u i, só
acho... M inha própria secretá-
ria é a m inha afilhada, m inha
so b rin h a . E u m a n d e i b o ta r
aqui, acho que um as quinze
p esso as, p o r aí, d a fam ília.
Então, fica m ais difícil algum
funcionário fazer algum a co i
sa errada, porque tá saben
do q u e tá sen d o v ig ia d o
toda hora, né? E ssa é a van
tagem que eu vejo com todo
m undo aqui dentro.
H u m b e rto -
Ô ,Chico,
o pessoal que coleta o ca
ranguejo são fam ílias que
fa zem essa... Procuram ca
ranguejo no mangue ou são
funcionários mesmo?
C h ico - N ão, são funcio
nários m esm o.
H u m b e rto -
H á também
um período em que tem que
catar m enos caranguejo, es
sas pessoas têm algum tipo de
com pensação,já que é a úni
ca fo n te de renda delas?
C h ic o - T em não. É só
isso m esm o. E les trabalham
com roça de arroz, essas c o i
sas lá. Q uando dá u m a para-
dazinha, eles, às vezes, fazem
as atividades.
J u l i a n a -
E xiste algum
contrato com essas pessoas,
os catadores?
C h ic o - N ão. E x iste não.
São pescadores norm ais, vão
pro m a n g u e e g a n h a m p o r
produção.
C iro -
P orque eles são tão
fié is a você?
ganou, dentre os vários, né. Os
vários co n co rren tes chegam
lá, com a cara de santo, pas
sam seis, sete m eses, enganam
os coitados, e aí... Eu tenho o
quê? Eu tenho um a história, tô
na frente lá, vivo lá direto, ju n
to com eles e eles já sabem
m ais ou m enos porque... Por
isso... A dificuldade do co n
corrente entrar. P elo próprio
pessoal da região lá, sabe com
quem deve trabalhar. M esm o
que você chegue e coloque um
tro cad o a m ais em cim a do
m eu valor, ainda têm alguns
que se vendem , m as depois
eles vão ver que não recom
pensa...
T a r c i a n a -
P o r q u e ,
-Chico?
C h ico - Eu pago bem ,
relativam ente bem , negocio
direito. À s vezes, a gente
paga em dia, às vezes, a gen
te paga com oito, dez dias,
m as sem pre direitinho, man- -
tendo aquele trabalho sério.
M arcos -
E são quantos fu n
cionários agora na barraca?
C hico - Hoje nós temos 79.
H u m b e r to
- E de ca ta
do res?
C h ico - Não, o carangue-
jeiro (
refere-se aos catado res),
aqui, não.
H u m b e r t o -
N ã o , de
catadores
(em P arnaíba)?
C hico - Olhe, lá entre m u
lher e hom em nós tem os em
tom o de mil, entre m ulher c ho
m em. As m ulheres fazem o tra
balho da carne, casquinha, e...
H u m b e rto -
O senhor tem
id e ia
,
m a is ou m e n o s , d e
quanto é a renda de cada um
dos catadores
,
de quanto eles
conseguem tirar?
C hico - Não, hoje eu deixo,
lá, na Parnaíba, em tom o de cen
to e trinta mil reais mensais.
K a rin e -
Chico, você dis
se que uma das principais di
ficuldades dos concorrentes é
justam ente a distância. Você
ter que se deslocar até lá e tra
zer o caranguejo é um traba
lh o m u ito p e n o s o . E com
relação a isso, muitos caran
guejos também acabam m or
rendo durante o transporte.
C hico - É. Exato.
K a rin e -
Então, você já
pensou em alguma fo rm a de
conseguir m elhorar as condi
ções, de form a que eles m or
ram menos?
C hico - Não. N ós já pro
curam os vários tipos de tran s
porte... N enhum a conseguiu
de jeito nenhum . Inclusive, tão
levando caranguejo congelado
pra R ecife, m as eu ouvi dizer
"Esses barzinhos foram surgindo
mesmo, dia a dia, de um por um e
eles foram criando, aproveit ando
a carona da quint a-feira".
que não é o m esm o sabor. N e
nhum d aq u eles caran g u ejo s
tem o sabor. C a ra n g u e jo é
aquele que você m ata na hora,
ali. E ntendeu?
C a m ila -
Você falou, in
clusive, que apareciam ja p o
neses a q u i
C hico - Exato. Vieram pra
ajudar a m ando do Ibam a, en
tendeu? L evaram até em car
ro fe c h a d o , e s f r ia d o , com
gelo, com as coisas, m as não
teve m aneira de nada...
T a rc ia n a -
Chico, quando
v o c ê s p a s sa r a m a ir p ra
Parnaíba, você sempre tava
acom panhando
,
né? Fazendo
viagens...
C hico
- É ,sem pre...
T a rc ia n a -
Como eram es
sas viagens?
C hico - Olha, naquela épo
ca, o c a ra n g u e jo se m p re é
obrigado você tá em cim a do
pessoal. Os caranguejeiras são
um pessoal, uns cabeça boa,
o u tro s c a b e ç a m e io d u ra ,
aquele pessoal sim ples. Então,
você tem que tá em cim a. N a
q u ela ép o ca,ch eg u ei d ar até
q u atro v iagens po r sem ana.
E ntão, é um trab alh o que...
D ifícil, você tem qu e tá em
cim a. Você tem que tá desde
quando eles recebem... N aque
la época, eu tava desde a hora
em que eles iam pro m angue,
eu que m andava eles pro m an
gue, que eles recebiam . H oje
não, o negócio já m odificou,
a gente já...
T a rc ia n a -
E hoje já tá no
Pará, né?
C h ico - Já tá no Pará.
T a rc ia n a -
Como é essa
viagem hoje? Como é que se
fa z?
C h ico - É norm al, igual...
É de cam inhão, né? São dois
dias de lá pra cá.
T a rc ia n a -
M as é você
que vai?
C hico - Não. Hoje não é
m ais eu, porque eu já botei
aquelas pessoas de m inha con
fiança, né? H oje eu tô viajan
do o quê? U m a vez por mês.
Hoje eu vou mais pra fiscali
zar. Por exem plo, essa sem a
na... Vou m andando dinheiro
pra um gerente m eu que eu te
nho em cada lugar, e eu viajo
m ais pra fiscalizar,
(para ver)
se ele pagou o m eu pessoal.
Porque lá, onde os m eus ho
m ens tão trabalhando, é interi
or, não tem banco, tá longe da
cidade, não tem telefone. Teve
um a época de eu passar três
m eses ou quatro sem viajar.
Q uando eu cheguei lá, o pes
soal já tava era querendo m e
prender, m e esculh am b an d o
por que eu tava devendo um
absurdo. M as não era eu quem
tava devendo, eu m andava o
dinheiro e o m eu gerente não
pagava, né? Agora, hoje,eu sou
obrigado a viajar pelo m enos
um a vez por m ês só pra fisca
lizar. Eu chego em cada turno
Em 1 2 a n o s d e p r o d u ção d e Re v ist a En t r e v ist a , o g r a v a d o r d o p r o f e s s o r Ro n a ld o S a lg a d o p ar ou de fu n cio n a r pela p r im eir a v ez d u r a n t e a e n t r e v is t a d e Ch ico. A so lu çã o f o i p e d ir e m p r e st ad a s a s f it a s p a r a a e q u ip e de p r o d u ção .
Além d os pr ém ios, u m a l t a r com cin co son t o s n o seu escrit ório dem on st r am a re lig iosid a d e d o ent revist ado. D os son t o s, q u a t r o er am im a g e n s d e Sã o Fran cisco d e Assis, seu pad roeiro. 0 ou t ro era im a g e m d e N o s sa Sen h ora.
N a est á t u a d e N o ssa Se n h o r a , e la seg u r a c u id a d o s a m e n t e a ca b e ça d e S ã o Fr a n c isc o , co m o se f o sse u m f ilh o . A p a r e n t e m en t e, a cab eça fo i t ir a d a d e u m d o s s a n t in h o s e p o st a , p r o p o s it a lm e n t e , n o s b r a ços d a Sa n t a.
e pergunto se tá tudo direitinho,
(se)
tá tudo pago, né. O lha eu
só viajo um a vez por m ês, m as
um funcionário meu, de confia
nça, vai duas vezes por semana.
J u lia n a -
Chico, quando
você viajava, quem era que
cuidava da barraca?
C h ic o - M in h a e s p o s a .
M in h a esp o sa era... O forte
aqui era ela. Tinha de tom ar
de conta.
D an iel -
Chico
,
você dis
se que paga bem , né? Segun
do um material levantado pela
equipe de produção, o senhor
comprava os caranguejos dos
catadores p o r cinquenta cen
tavos e aqui, na Praia do
Futuro, a m édia chega a
-
dois reais e cinquenta
(R $
2,50),
dois reais e oitenta
(R $ 2,80).
Esse preço éa lto
porque tem público pra p a
gar? Por que esse preço é
tão alto em relação ao pre
ço lá dos catadores?
C hico - Hoje, eu mesmo
tô vendendo aqui na barra
ca... Para os m eus fornecedores,
de noventa centavos a um real,
é... U m e dez
(R$ 1,10
) é o pre
ço máxi mo. Agora essa margem
de lucro vocês sabem , tem o
im posto, tem funcionários, tem
os próprios com erciantes, né?
T em a p e rd a ta m b é m . P o r
exem plo, o m eu vizinho, sei lá,
o Itapariká. O Itapariká
(uma
das maisfrequentadas barracas
na Praia do Futuro)
com pra mil
c a ra n g u e jo s , p o r e x e m p lo ,
pensando em vender os m il ca
ranguejos, mas se a clientela
não for, só for pra com er oito
centos, os outros duzentos, pra-
ticam ente, ele jo g a no m ato.
Aproveita pra tirar a carne paga,
m as é mal aproveitado. Então,
por isso essa margem de lucro
que é jogada em cim a, né?
H u m b e r to -
Ô, C hico,
você obtém mais dinheiro aqui
na barraca ou com a distribui
ção de caranguejo?
C h ic o - N ão, hoje a dis
tribuição de caranguejo sem
pre é m eu núm ero um , graças
a D eus...
H u m b e rto -
E você vende
caranguejo pra quem?
C hico - Olha, hoje eu ven
do p ra c en to e c in q u e n ta e
nove clientes.
C iro -
N o Ceará, no N or
deste?
C hico - E, só aqui
(Ceará).
H u m b e rto -
O senhor já
pensou em expandir pra ou
tros estados?
C h ico - N ão, não, porque
é um a m ercadoria m uito com
plicada. D evido até a essa
per-"Eu t enho dois filhos gêmeos. Um
deles, o destino dele, é aquilo na
cabeça, quer porque quer abando
nar os estudos para ser um cara
forte do caranguej o, como eu
da, que é m uito grande, varia
de trinta a cinquenta por cen
to, e é obrigado...V ai ter dia
que v ocês vão
(m e)
ver em
cim a de cam inhão aí,quando
o cam inhão chega... E, hoje, o
m aterial hum ano é m uito difí
cil e o caranguejo é um a m er
cadoria que, quando apodrece,
na hora, você tem que jo g ar no
m a to , n ã o d á p ra m a n d a r
guardar,entendeu? Às vezes,
eu resolvo viajar pra tirar um
dia ou dois de descanso. N o
dia de caranguejo, eu tô saben
do que ali eu tô correndo um
risco m uito grande.
T a rc ia n a -
Chico, com o
fo i que começou essa saída da
venda do caranguejo da praia,
novam ente, né? Porque vocês
começaram a vender no Cen
tro, vieram pra praia e com e
çaram a vendem os barzinhos.
Como fo i que começou essa
venda, fo ra da praia?
C h ico - E sses barzinhos
foram surgindo m esm o, dia a
dia, de um p o r um e eles fo
ram criando, aproveitando a
c a ro n a da q u in ta -fe ira . P o r
exem plo, antigam ente eu m e
p re o c u p a v a com a p ra ia , o
sol, que era sábado e d o m in
go. H oje eu tô m e preo cu p an
do m ais com a q u in ta -fe ira
nesses barzinhos. A venda dos
barzinhos hoje tá dando pela
venda de sábado e dom ingo
da praia. A lguns barraqueiros
reclam am m uito de m im po r
que que eu vendo. O m eu p a
p e l é v e n d e r c a r a n g u e jo ,
então se você tem um barzi-
nho, eu tô aqui pra vender,
- né? M as hoje eu m e p reo
c u p o m u ito m a is c o m a
q u in ta-feira à noite, no nú
m ero de... vam os supor, se
eu vender m il caranguejos,
sábado e dom ingo, d u ran
te a q u in ta-feira talv ez eu
venda m ais de m il.
M a rc o s -
E existem fo r
necedores p a ra os quais
você passa que cobram um ca
ranguejo específico, p o r exem
plo, o B each P ark
(P arq u e
aquático, localizado no Porto
das Dunas, no Ceará),
ou al
guma outra barraca, que co
bra um caranguejo de m elhor
qualidade ou isso inexiste?
tão, a única diferença é essa.
Se eu for num a barraca des
sas, vam os supor: a m inha ou
o do H avaí (
barraca da Praia
do Futuro
), a gente cobra o
preço lá em cim a pra ter um a
m ercadoria m elhor, se já vai
pra outra barraca, com o U la-
U la, o preço lá do caranguejo
já é m etade do nosso, deve ser
um e quarenta
(R$1,40),
m as,
ta m b ém , vo cê c o m e to d a a
“p o rqueira” , o grande, o pe
queno, vai tudo. E ssa é a úni
ca diferença.
J u lia n a -
Quanto é que sai
o amarrado ?
C hico - Hoje eu tô venden
do o am arrado a vinte e três
reais
(R$ 23,00).
H u m b e rto -
Ô, Chico, a
venda de caranguejo aqui na
barraca dim inuiu com um
maior número de comprado
res, restaurantes, bares?
C hico - Caiu na quinta-
feira. A m inha venda caiu
m uito, porque na época que
com eçou era todo m undo
aqui. N ão tinha esses barzinhos,
não tinha nada. Era o pessoal tu
rista, era o pessoal da terra, né?
E hoje, com essa “rum a” de res
taurante, o pessoal da terra tão
tudo com endo os seus caran-
guejinhos por lá mesmo.
F e rn a n d o -
M as há uma
preocupação da barraca em
trazer esse pessoal de volta
pra cá? O pessoal da terra?
C h ico - É, em trazer, por
que eu gostaria de ter o pessoal
da terra. M as quanto a m inha
venda de caranguejo, graças a
D eus, eu tô satisfeito com os
barzinhos, né? O pessoal co
m endo lá, é com o se tivesse
com endo aqui. É a m esm a coi
sa, não tem diferença.
J u lia n a -
Chico, você acha
que no ramo de vendas, no
caso a í de caranguejo, o estu
do hoje em dia é fundamental?
C h ic o - É. H oje já penso
diferente, porque, é com o aca
bei de dizer, m uda m uito, né?
N aquela época, ninguém pen
sava, não tinha essa dificulda
de. H oje, cada dia que tá se
passando... H oje m esm o não
aconselho. Eu tenho dois fi
lhos gêm eos. U m deles, o des
tino dele, é aquilo na cabeça,
qu er porque quer abandonar
os estudos para ser um cara
forte do caranguejo, com o eu,
e eu tô em cim a dele, não acei
to de je ito nenhum . A loucura
dele é v ender caran g u ejo , é
largar tudo e eu não aconse
lho de je ito nenhum .
J u lia n a - A
que você atri
bui esse sucesso do
empreen-"Sábado e domingo, sou obrigado a
me levantar quatro horas da manhã.
No dia em que não me levanto qua
tro horas da manhã, minha renda
cai um pouco, porque descontrola,
certo?"
dimento, já que você não teve
estudo?
C h ico - O lhe, prim eiro de
tudo a Deus, né? Pela boa von
tade de trabalhar, com o sem
pre eu tive, sem pre fui um cara
trabalhador. E sem pre traba
lhei de m anhã cedo, até cinco
horas da noite. E ssa barraca
passou q u ato rzc anos sendo
aberta vinte e quatro horas por
dia. Foi a ú n ica b arra c a da
p raia que era ab erta vinte e
quatro horas. E ra eu, m inha
esposa, m eus filhos aqui den
tro... N ão tinha porta.
J u lia n a -
Você teve que f e
char algum a vez a barraca,
teve algum problem a ?
C hico - U m a vez, nós ti
vem os um problem a. Um a vez
m e senti cansado, eu achava
que tava cansado, e tinha um
a m ig o , d a q u e le s d e n tro de
casa, do peito m esm o, com o
se fosse um irm ão, e achava
que tava fazendo um bom ne
gócio e arrendei essa casa pelo
ano, pra ele, pra m im d escan
sar, eu e m inha esposa. Só que
era um m au elem ento. Na épo
ca, não m e pagou e fui “q u es
tã o e m q u e s tã o ” (
C h ic o
refere-se aos recursos que p o
dem ser requeridos na Justi
ça),
e a Justiça m e botou pra
dentro e pra fora. Foi fechado
um a época...
Juliana -
Por quanto tempo?
C hico - Não, foi questão
de duas noites, no m áxim o.
D an iel -
Chico, você fa lo u
a í no m a u -c a r á te r e tu d o
m a is.D u ra n te a en trev ista ,
você fa lo u também de
ini-*
m igos que seriam invejo
sos. Hoje, quem são os seus
inim igos? O senhor pode
citar algum nome?
C hico - N ão, posso não.
O lhe, não, não, vam o ev i
tar porque...
J u lia n a -
Não, mas, os
maiores concorrentes atu
almente na venda de caran
guejo. Quem seriam eles?
C h ico - Olhe, tem um ra
paz cham ado Paulo, que ele tá
com essa venda de trinta por
cento, no m áxim o. O outro é
o m eu próprio filho, que tam
bém deve tá com uns quinze
por cento. H oje são os m eus
dois concorrentes que nós te
m os em Fortaleza.
F e r n a n d o -
Você fa lo u
que o seu filh o quer largar
tudo pra se lançar no ramo do
caranguejo...
C h ic o -
Exato.
F e rn a n d o - ...
que nem o
senhor fez, né? Se fo sse o se
nhor hoje, com as dificulda
des que tem, você acha que,
sem estudo
,
conseguiria cons
truir tudo que construiu?
C h ic o - D e je ito nenhum ,
nem pensar.
F e rn a n d o -
Por quê?
C h ic o - P o rq u e d ev id o ,
exatam ente, às dificuldades.
Ain d a n o escrit ório, h av ia u m q u a d r o com o desen h o d a p r im e ir a m u lh e r d e Chico, com a fr ase ''Et er n as s a u d a d e s , Z e z a ! " , f e it o p ela ar t ist a Geísa M a t o s, e u m p e r f il j o r n a lís t ic o da Gazet a Mer can t il, q u e a re pórt er Ad r ian a Th o m a si fez sob r e ele.