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A produção do espaço urbano da cidade de Patos/PB: do BNH ao programa minha casa minha vida

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – MESTRADO

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE PATOS/PB: DO BNH AO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

Wilma Guedes de Lucena Orientadora: Doralice Sátyro Maia Coorientadora: Eliana Freitas Calado

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Wilma Guedes de Lucena

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE PATOS/PB: DO BNH AO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

João Pessoa – PB Agosto de 2014

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A produção do espaço urbano da cidade de Patos/PB: do BNH ao Programa Minha Casa, Minha Vida

Wilma Guedes de Lucena

Dissertação apresentada ao Corpo Docente do Programa de

Pós-graduação em Geografia do CCEN-UFPB, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Arguidores:

_________________________________________________ Profª. Dr.ª Doralice Sátyro Maia

(Orientadora)

_________________________________________________ Profª. Dr.ª Eliana A. de Freitas Calado

(Coorientadora)

_________________________________________________ Profª. Dr.ª Marcele Trigueiro de A. Morais

(Examinadora interna)

_________________________________________________ Prof. Dr. Jan Bitoun

(Examinador externo)

Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Programa de Pós-graduação em Geografia

Curso de Mestrado em Geografia

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AGRADECIMENTOS

Esse momento tão particular da escrita da dissertação é repleto de uma imensa satisfação e de sentimentos que tenho a sensação de que as palavras são insuficientes para descrever. Mas, se as palavras são a forma pela qual tenho que agradecer toda a ajuda e o apoio que recebi na construção deste projeto, não as pouparei. Afinal, agradecer é o mínimo que posso fazer por todos os que estiveram presentes, de uma forma ou de outra, nos momentos das conquistas e das dificuldades.

Em primeiro lugar, agradeço e sempre o farei incansavelmente à minha mãe (Maria de Fátima), que enfrentou muitas dificuldades para que eu pudesse chegar até aqui, pois, além de ter sido o pai (que deixou muito cedo a vida terrena) e a mãe capaz de tudo por suas filhas, tem sido uma grande amiga. Sou grata também à minha irmã Wilmara, pela confiança que sempre depositou nos meus poucos projetos profissionais e pessoais, além de sempre ser companheira nas minhas jornadas, como esta que concluo;

Agradeço à orientadora da graduação, a mestra e amiga Nirvana (Nir), que não só abriu, mas também escancarou portas e janelas no percurso da minha vida acadêmica, compartilhou e compreendeu lágrimas e sorrisos;

À Professora Doralice Maia (Dora), quero agradecer imensamente, por ter aceitado orientar este trabalho e, conseguintemente, pela confiança depositada, por sempre ter sido tão prestativa, mesmo quando distante fisicamente. Pelas sugestões sempre tão preciosas, pelo apoio sempre ofertado e pelos novos caminhos que esse apoio me proporcionou;

À Professora Eliana Calado, também agradeço pela coorientação, pelas palavras de incentivo, pelos encontros sempre tão agradáveis e pela amizade que pudemos construir nesse período:

A Ana Bernadete, que, como professora e amiga, me incentivou a fazer a seleção para o Mestrado e contribuiu lendo e corrigindo o projeto;

Ao Professor Edilson, que sempre confiou em seus alunos-amigos, além de me ajudar recentemente, devido a minha dificuldade de lidar com alguns programas de computador;

A Erickson, cuja ajuda e amizade foram imensuráveis e pelos quais serei imensamente grata;

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A Danielle, que me ajudou a sentir com menos intensidade o peso das primeiras adversidades no percurso trilhado;

A Jarissa, Regiane e Thaynara, por terem tornado o nosso quarto na RUFET um verdadeiro lar, por me fazerem sentir uma geógrafa com um dedinho na antropologia (responsabilidade de Anny também) e por terem sido tão presentes nos momentos de alegria e de tristeza. Delas eu nunca esquecerei;

Aos colegas do Grupo de Pesquisa (GEURB) e do Laboratório de Estudos Urbanos (LEU), tanto os que se afastaram quanto os que permaneceram, Chrislayne, Rebeca, Camila, Rafaela, Luciana, Rachel, Eliana e, especialmente, à Sonale e Leornado, que são sempre atenciosos e socorrem todo mundo que precisa de ajuda (principalmente na produção dos mapas) e à Marina, cuja amizade nasceu e cresceu entre cafés, conversas, encontros (acadêmicos ou não) e viagens. Faço gosto nessa amizade, pela qual tenho um carinho especial, pois, nesses diversos momentos em que estivemos juntas, compartilhamos angústias, esperanças e diversão. Essas pessoas, definitivamente, contribuíram para meu amadurecimento acadêmico e pessoal;

Aos professores do PPGG, que ministraram as disciplinas que cursei nesse período, porque contribuíram para que minha bagagem teórica chegasse até aqui bem mais recheada; a alguns professores de outros programas de pós-graduação, em que tive a oportunidade de participar de algumas aulas e atividades e que acrescentaram bastante à minha formação. Entre eles, destaco as contribuições dos Professores Anieres e Josias, no seminário de dissertação; ao Professor Renato Pequeno da Universidade Federal do Ceará, que participou da qualificação, dando valiosas sugestões para a pesquisa, além de ceder um banco de dados da CEF que dispunha sobre o PMCMV na Paraíba;

À Professora Marcele Trigueiro do PPGAU/UFPB, por participar da construção deste trabalho, desde a qualificação e cuja avaliação muito contribuiu para a conclusão da pesquisa e da escrita. Ao Professor Jan Bitoun da UFPE, por ter aceitado o convite para participar dessa etapa final do trabalho, e ao Professor Pedro Vianna, pela preocupação e pelas palavras de incentivo;

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Ao pessoal da graduação, que conheci quando começamos a nos mobilizar para participar do ENG de 2012, em especial, Raíssa, Rodrigo e Francisco (o qual conheci posteriormente), que compartilhavam comigo seus conhecimentos geográficos e seus momentos de descontração nos corredores do DGEO;

Aos amigos que fui agregando, ao longo da vida, e que, de uma forma ou de outra, me acompanharam na estrada, serei eternamente grata;

A Amanda, por sempre acreditar em mim, mesmo quando eu estava no auge do pessimismo. Aqui as palavras são insuficientes para descrever a importância da nossa relação fraterna;

A Allison, pelas constantes palavras de apoio;

A Veruza, por me fazer enxergar novos caminhos, por me estimular sempre, pela amizade tão preciosa e pela revisão de texto com tanto empenho;

A Ângelo, pelos “puxões de orelha”, desde a graduação, e pela amizade que nasceu em algum momento longínquo da infância;

A Mariana, Sara (Sarinha), Ana Caroline (Carol), José Everton (Sauron), Aurino, Erick, Rafaela, Tayse (Tay), Arthur, George e Roland, por mostrarem a leveza da vida e me fazerem esquecer a ansiedade e as preocupações, e a todos do Coletivo Espinho Branco, com os quais compartilho planos, ideais e o desejo de mudar para melhor (nem que seja um pouquinho) o lugar em que vivemos;

A Juan, pela força, pelo carinho, pela leitura e pelas sugestões tão importantes no momento da qualificação;

A Eripetson sou grata, por ter me ajudado com a escrita do abstract. Espero que logo possa retribuir o seu esforço e a sua atenção;

Ao setor de geoprocessamento e à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Habitação do município de Patos, que cederam alguns dados durante a pesquisa;

A Vânia, que trabalha no arquivo da Câmara dos Vereadores e que foi extremamente prestativa e atenciosa quando tive que fazer a pesquisa documental dos projetos de Lei;

Aos moradores do Conjunto Residencial Vista da Serra I, que me receberam em suas casas e contribuíram de todas as formas possíveis (respondendo ao questionário, oferecendo lanches, água, café e uma enorme atenção). Graças a essas pessoas, pude concluir esta pesquisa e conhecer um pouco mais sobre a cidade onde nasci e cresci;

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Concluo dizendo que ainda há muitas outras pessoas que foram fundamentais para que eu conseguisse concluir este trabalho, às quais reservarei meus muitos abraços e algumas palavras a serem ditas pessoalmente.

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“E a cidade se apresenta Centro das ambições Para mendigos ou ricos E outras armações Coletivos, automóveis, Motos e metrôs Trabalhadores, patrões, Policiais, camelôs A cidade não para A cidade só cresce [...]”

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RESUMO

O presente trabalho objetivou analisar as implicações do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), na cidade de Patos - PB, sobretudo em seus espaços de moradia. A discussão centrou-se na compreensão de como a política habitacional influiu (e ainda influi) na produção do espaço urbano, especialmente nas cidades médias. Para tanto, buscou-se entender a produção do espaço urbano da cidade de Patos/PB, através das políticas passadas (período de vigência do Banco Nacional de Habitação) e no momento atual de implantação do PMCMV. Nessa perspectiva, analisou-se a política habitacional considerando a relação Estado-capital imobiliário, as formas de promoção dos projetos habitacionais do referido programa, bem como as características urbanísticas desses projetos. Assim, foi possível discutir sobre os efeitos dos projetos de habitação financiados pelo Estado em suas diversas escalas de atuação, sobretudo na escala da cidade. Ao longo da pesquisa, as leituras realizadas sobre as noções de (re) produção do espaço urbano, sobre os agentes produtores desse espaço e de questões mais específicas referentes aos processos de periferização e produção/valorização desigual da cidade foram de suma importância para o debate teórico desenvolvido neste trabalho. Além do referencial bibliográfico, fez-se um levantamento de dados, informações e bases cartográficas nos setores de administração pública da cidade de Patos (setor de geoprocessamento, secretarias de infraestrutura e de habitação) e em órgãos e instituições das demais esferas da ação estatal, como a CEHAP, o IBGE, entre outros, com o intuito de apreender com mais profundidade a realidade pesquisada. Apesar de o PMCMV ter modalidades de financiamento para famílias de diferentes faixas de renda, o foco da pesquisa foram os projetos habitacionais para a população que tem rendimento mensal de zero a três salários mínimos. A pesquisa de campo foi realizada no Conjunto Residencial Vista da Serra I, porque, entre os projetos propostos e em avaliação pela CEF, esse tinha sido, até a conclusão desta pesquisa, o único conjunto habitacional que havia sido entregue às famílias sorteadas para serem atendidas pelo PMCMV em Patos. Durante a pesquisa de campo, procedeu-se à observação/descrição da paisagem e aplicaram-se os questionários aos moradores do local. Com o levantamento dos dados e das informações obtidos no decorrer da pesquisa, o arquivamento deles e sua posterior análise, foram alcançados os objetivos específicos traçados e, conseguintemente, o objetivo geral. Com a conclusão da pesquisa, levantaram-se questões concernentes aos impasses para a implantação de uma política habitacional que, efetivamente, atenda às demandas habitacionais locais, tanto quantitativas como qualitativas, bem como questões relacionadas à reprodução e à intensificação das desigualdades socioespaciais nas cidades médias, especificamente na cidade de Patos-PB - onde identificamos a atuação de agentes que têm produzido duas periferias bem distintas: uma em que se observa a provisão de habitação de interesse social voltada para a população de baixa renda em locais onde há pouca infraestrutra e serviços, e outra em que há um grande número de loteamentos e empreendimentos imobiliários destinados aos grupos de renda mais elevada e que se localizam onde há grande pressão dos agentes imobiliários em relação ao poder público local para a implantação da infraestrutura e dos serviços necessários para a valorização desses espaços.

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ABSTRACT

The present work aimed to analyse the implications of the “Minha Casa Minha Vida” social housing Program (PMCMV) in Patos – PB, above all, regarding their spaces for housing. The discussion was based on the perception of how housing policy influenced (and still influences) the construction of the urban space, mainly in medium-sized cities. For this purpose, it was pursued to understand the construction of the urban space in Patos-PB through previous housing policies (under the policy of the National Bank of Housing) as well as the current moment of implementation of the PMCMV. From this perspective, the housing policy was analysed, the ways of promoting the housing projects of the Program, as well as its urbanistic characteristics. Thereby, it was possible to discuss the effects of the housing projects funded by the government on its various areas of activities, especially in the city. Hence, throughout the study, the bibliographical research on (re) construction of urban spaces, the agents which promote these spaces and more specific issues on the periphery formation and unequal production/valorization of the city, was essential for the theoretical debate of this work. Besides the bibliographical reference, a data research was carried out including a collection of information and cartographic scales in the public sector in Patos – PB (geoprocessing, infrastructure and housing departments) and in organs and institutions from other areas of the government such as CEHAP, IBGE, among others, in order to profoundly comprehend the studied reality. Although PMCMV offers funding for families from different income levels, the research focused on those aiming at families whose income varies from 0 to 3 minimum wages. Field research was carried out at Vista da Serra I residential area, as among the projects which were proposed and were being evaluated by CEF, this one was actually, the only one which had been delivered to the families enrolled at the programme in Patos, when this research was concluded. During field research, landscape observation/description and application of questionnaires to locals were carried out. The specific purposes and, consequently the general purpose were achieved through data collection, information gathered during the research and its filing, as well as its posterior analysis. With the conclusion of the research, it were taken into account some issues concerning obstacles to the implementation of a housing policy which actually meets the population needs, qualitative and also quantitative, as well as issues related to reproduction and intensification of the socio spatial inequalities in medium-sized cities, specifically in the municipality of Patos – PB. It was identified in this city the performance of agents which has been forming two different sorts of periphery, one of them in which social housing aiming at low income population in places with poor infrastructure and service is provided; and the other one in which division into lots and state ventures aiming at higher income population are present, this kind of periphery is located in places where there is great pressure from state agents regarding its local public power due to have infrastructure and essential services properly implemented to increase the value of these spaces.

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LISTA DE SIGLAS

AESA – Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado BNDS – Banco Nacional do Desenvolvimento

BNH – Banco Nacional de Habitação

CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba CEF – Caixa Econômica Federal

CEHAP – Companhia Estadual de Habitação Popular

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe CGFHIS – Conselho Gestor do Fundo de Habitação de Interesse Social

CGMHIS – Conselho Gestor Municipal do Fundo de Habitação de Interesse Social COHABS – Companhias de Habitação Popular

CSU – Centro Social Urbano

CURA – Projeto de Comunidades Urbanas de Recuperação Acelerada DFI – Danos Físicos do Imóvel

EC – Estatuto das Cidades

EPEA – Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada FAC/PB – Fundação de Ação Comunitária da Paraíba FAR – Fundo de Arrendamento Residencial

FCP – Fundação da Casa Popular

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FICAM – Financiamento para Construção Ampliação e Melhoria Fimaco – Financiamento de Material de Construção

Finansa – Financiamento para o Saneamento FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos FIP – Faculdades Integradas de Patos FJP – Fundação João Pinheiro

FMI – Fundo Monetário Internacional

FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social FPM – Fundo de Participação dos Municípios

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IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBMEC – Banco Nacional do Desenvolvimento ICM – Imposto de Circulação de Mercadoria IES – Instituições de Ensino Superior

INOCOOP – Institutos de Orientação às Cooperativas Habitacionais IPASE – Aposentadoria dos Servidores do Estado

IPEP – Instituto de Previdência do Estado da Paraíba ISO - Organização Internacional para Padronização MEC – Ministério de Educação e Cultura

MHU – Ministério de Habitação e Desenvolvimento Urbano OGU – Orçamento Geral da União

ORTN – Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PBQP-H – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat PDI – Plano de Desenvolvimento Integrado

Planasa – Plano Nacional de Saneamento PlanHab - Plano Nacional de Habitação

PLHIS – Plano Local de Habitação de Interesse Social PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida

PMP – Prefeitura Municipal de Patos

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento PNH – Política Nacional de Habitação

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRODEEM – Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios ReCiMe – Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias

RVS I – Residencial Vista da Serra I

SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo

SEDEHAB – Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Habitação SEINFRA – Secretaria de Infraestrutura

SERFHAU – Serviço Federal da Habitação e Urbanismo SFH – Sistema Financeiro de Habitação

SNHIS – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social SNHM – Sistema Nacional de Habitação de Mercado

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UFPB – Universidade Federal da Paraíba UH‟s – Unidades Habitacionais

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Localização e distinção das Unidades Habitacionais (UHs) onde foram aplicados os questionários na pesquisa de campo

Figura 02: Estabelecimentos comerciais na Rua Grande (Atual Solon de Lucena)

Figura 03: Localização do Conjunto Bivar Olinto (1), construído em 1982, e do Conjunto Noé Trajano (2), concluído no início dos anos de 1970

Figura 04: Circuito de Promoção Pública dos projetos habitacionais na estrutura da Política Nacional de Habitação (PNH)

Figura 05: Circuito de Promoção Privada de projetos habitacionais nos moldes do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) Política Habitacional

Figura 06: Propaganda dos Condomínios Jardim Floresta – empreendimento com casas financiadas pelo PMCMV

Figura 07: Propaganda de venda de casas localizadas no Distrito Industrial e financiadas pelo PMCMV

Figura 08: Painel exposto na entrada do escritório da JGA Engenharia Ltda, localizado ao lado das obras do Residencial Vista da Serra II em Patos

Figura 09: Limites da área de expansão urbana da cidade de Patos estabelecidos pela PMP Figura 10: Condomínio Villas do Lago

Figura 11: Loteamento no Bairro Novo Horizonte Figura 12: Casa à venda no Jardim Magnólia Figura 13: Casas dos Condomínios Jardim Floresta

Figura 14: Outdoor do projeto do EcoShopping que vai ser construído

Figura 15: Localização dos conjuntos habitacionais do PMCM na cidade de Patos – PB Figura 16: Estrutura do Sistema Nacional de Habitação (SNHIS)

Figura 17: Localização da área do RSV I e dos demais conjuntos habitacionais localizados em seu entorno

Figura 18: Unidades Habitacionais (UHs) do Residencial Vista da Serra I

Figura 19: Unidades Habitacionais (UHs) do Conjunto dos Sapateiros (Projeto PAC)

Figura 20: Venda de terrenos, no ano de 2013, do loteamento Hardman Cavalcanti, onde se localizam os Conjuntos Habitacionais Residencial Vista da Serra I e II (PMCMV)

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Figura 22: Via do Bairro Monte Castelo que dá acesso ao RSV I e aos demais conjuntos habitacionais de seu entorno

Figura 23: Unidades Habitacionais dos Conjuntos Novo Monte Castelo II e Residencial Vista da Serra II e da infraestrutura de pavimentação inacabada que dá acesso ao RSV I

Figura 24: Fossa que transbordou em uma das casas do RSV I e localização do Rio Farinha próximo a essa área

Figura 25: Bocas de lobo para as quais alguns moradores canalizaram as fossas para o Rio Farinha

Figura 26: Localização dos serviços e do comércio em relação ao Bairro Monte Castelo e ao RSV I Figura 27: Pequeno comércio estabelecido em Unidade Habitacional do RSV I

Figura 28: Pequeno comércio estabelecido em Unidade Habitacional do Conjunto Novo Monte Castelo II, localizado nas imediações do RSV I

Figura 29: Placa de venda de terreno entre o RSVI e o RSV II

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01 – Situação geográfica do Município de Patos em relação à ferrovia e às rodovias na Paraíba

Mapa 02: Expansão da malha urbana da cidade de Patos/PB desde 1960 até 2010

Mapa 03: Estado da Paraíba – Quantidade de unidades habitacionais (UHs) aprovadas nos municípios através do PMCMV

Mapa 04: Áreas loteadas e em oferta no mercado imobiliário da cidade de Patos/PB

Mapa 05: Localização dos novos empreendimentos imobiliários na cidade de Patos/PB e que têm provocado o aumento do preço/m² nas áreas em que se localizam

Mapa 06: Áreas de ocorrência de problemas habitacionais como adensamento excessivo, caracterização de assentamento precário e risco de inundações

Mapa 07: Áreas de intervenções habitacionais através da construção de novas unidades e regularização fundiária

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Crescimento populacional do município de Patos entre as décadas de 1960 e 2000 Tabela 02: Quantidade de empreendimentos, por faixa de renda, contratados até o ano de 2012 nos municípios de João Pessoa, Campina Grande, Patos e Sousa

Tabela 03: Déficit habitacional total e relativo, por componente, no estado da Paraíba e no município de Patos - 2010

Tabela 04: Déficit habitacional urbano por classe de rendimento domiciliar no estado da Paraíba e em Patos - 2010

Tabela05: Déficit habitacional, por inadequação de domicílios urbanos, total e nas classes até três salários mínimos em Patos - 2010

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Perfil etário dos moradores de RVS I

Gráfico 02: Renda familiar mensal dos moradores entrevistados no RSV I

Gráfico 03: Quantidade de famílias por valor pago nas parcelas do financiamento das casas do RSV I

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Aumento do teto para financiamento de imóveis pelo PMCMV em 2012

Quadro02: Matriz dos eixos estratégicos e diretrizes específicas do PLHIS do Município de Patos – PB

Quadro03: Matriz das Linhas Programáticas e Programas de ação do PLHIS de Patos/PB Quadro 04: Procedência dos moradores do RSV I (onde moravam antes)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 21

CAPÍTULO 1 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA CIDADE PATOS/PB: A QUESTÃO URBANA E HABITACIONAL DURANTE O SFH/BNH... 34

1.1 O problema habitacional: abordagens teóricas e históricas... 35

1.2 A questão da habitação no Brasil: as estratégias e o papel do Estado... 41

1.2.1 A Política de Desenvolvimento Urbano no âmbito das Políticas de Desenvolvimento Regional... 45

1.2.2 Política e Planejamento Urbano na cidade de Patos – PB... 49

1.3 A estruturação da cidade de Patos-PB... 53

1.4 O Sistema Financeiro de Habitação: a gestão do BNH e seus efeitos socioespaciais.. 62

1.4.1 O Projeto de Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada (CURA) e os Programas Específicos para as cidades de porte médio na cidade de Patos/PB... 68

1.5 A política habitacional Pós-BNH... 75

CAPÍTULO 2 DETERMINAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS DO PMCMV: UMA ANÁLISE ENTRE ESCALAS... 81

2.1 Da articulação de escalas espaciais à produção do espaço intraurbano: a criação e a implantação do PMCMV... 82

2.1.1 Os fatores econômicos e políticos para a criação do PMCMV... 84

2.1.2 Do BNH ao PMCMV: o que mudou para as cidades médias?... 90

2.2 A produção da habitação e do espaço urbano na cidade de Patos/PB... 99

2.2.1 O PMCMV e o processo de periferização em Patos/PB... 107

2.2.2 O papel dos governos municipais e estaduais na implantação do PMCMV... 121

(21)

2.4 Da elaboração do PLHIS à implantação do PMCMV em Patos – ações

convergentes e divergentes... 129

CAPÍTULO 3 ESPAÇO INTRAURBANO E O PMCMV EM PATOS-PB: O RESIDENCIAL VISTA DA SERRA I... 137

3.1 Caracterização do conjunto habitacional Residencial Vista da Serra I – RVS I e de seus moradores... 138

3.2 Das diferenças às desigualdades socioespaciais: algumas considerações... 145

3.3 Incorporação, construção e ocupação do Residencial Vista da Serra I: o uso do solo como reprodução do capital e como reprodução da vida... 154

3.4 Características urbanísticas do Residencial Vista da Serra I: o onde e o como morar... 163

3.4.1 Inserção urbana do RVS I... 164

3.4.2 Implantação do RVS I... 177

3.4.3 Unidades habitacionais no RVS I... 181

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 188

REFERÊNCIAS... 194

SUPORTE ELETRÔNICO

APÊNDICE

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INTRODUÇÃO

O processo de urbanização brasileira foi marcado, principalmente a partir da década de 1970, pela desconcentração industrial, pela difusão cada vez maior de comércios e serviços especializados e pela reconfiguração das relações cidade/campo com a expansão das atividades ligadas ao agronegócio. Agora esse processo passa por um novo momento, em que se observa um padrão de acumulação de capital baseada nas finanças especulativas, como aponta Paiva (2007), em que se impõe o comando do capital financeiro internacional.

Sobre a capacidade do capitalismo de criar novas oportunidades de reprodução e acumulação do capital, David Harvey (2005) destaca um elemento fundamental: a expansão geográfica. Diante disso, corroboramos a assertiva de Carlos (2011), ao afirmar que, tendo o espaço como seu elemento determinante, a acumulação realiza-se em outras escalas, além do plano global, portanto, também na escala da cidade.

Nesse contexto, entendemos a complexidade que configura o atual momento do processo de urbanização no Brasil, em que, no movimento de reprodução e expansão capitalista, têm se destacado não só as metrópoles e as grandes cidades, como também as cidades médias, porque também têm se constituído como espaços promissores nesse movimento. Assim, é sobremaneira importante que os estudos urbanos se voltem também para os espaços não metropolitanos, pois, como questiona Sobarzo (2008, p.270), será que o que acontece nas chamadas cidades médias ou pequenas não nos auxilia a compreender o urbano hoje? Há um número crescente de pesquisas direcionadas para as cidades médias, seja no campo dos estudos regionais, seja com foco na produção do espaço intraurbano, além de outras abordagens.

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quantidade de novos loteamentos, de conjuntos habitacionais e do surgimento de condomínios fechados, bem como uma elevada valorização de terrenos em determinados bairros da cidade. Ressalte-se, contudo, que, apesar de a presença de Instituições de Ensino Superior (IES) ser um fator relevante para a vinda de consumidores desses novos espaços, supúnhamos haver outros determinantes para esses processos, como a criação e a implantação de programas federais de urbanização e habitação e suas implicações socioespaciais no espaço urbano de Patos-PB. Nesse caso, destacam-se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), que compõem a atual Política Nacional de Habitação (PNH).

O PAC foi instituído em 2007, com o objetivo principal de promover o crescimento econômico, através de medidas que estimulassem o investimento privado, a ampliação de investimentos públicos em infraestrutura, voltadas para a melhoria da qualidade do gasto público e para o controle da expansão dos gastos correntes no âmbito da Administração Pública Federal1. O PMCMV surgiu, por sua vez, no escopo desse projeto mais abrangente, instituído no ano de 2009 e criado como medida anticíclica em um momento de crise econômica internacional. O objetivo desse Programa é de estimular e promover a produção habitacional, com ampla repercussão entre famílias de diferentes faixas de renda, para atender desde as que recebem de zero a três salários mínimos (famílias da Faixa 01 do PMCMV), até as famílias que recebem de três a seis s/m (Faixa 02) e de seis a dez s/m (Faixa 03).

Nesse contexto, presencia-se uma acelerada expansão de investimentos imobiliários por todo o país, marcada por uma gradual associação entre capital imobiliário e capital financeiro, favorecida pelas garantias de crédito, segurança no mercado e pelo aumento de investimentos de grupos internacionais. Observa-se que, além das metrópoles, as cidades de menor porte também passam a atrair esses investimentos cada vez mais. O município de Patos começou a participar do PMCMV já no ano de 2009, dando início ao cadastramento das famílias que se enquadravam na Faixa 01 de renda, ao mesmo tempo em que a Caixa Econômica Federal (CEF) passava a ser procurada por construtoras e, de maneira individual, por famílias de renda média para realizar os financiamentos que atendiam a esses grupos. Nesse mesmo período, foram assinados contratos de projetos de grandes obras de urbanização e de habitação para a cidade com recursos do PAC, dos quais se destacaram a obra do contorno viário – a Alça Sudeste, a obra de macrodrenagem de águas pluviais – o Canal do Frango e a construção do Conjunto Habitacional Novo Monte Castelo II.

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Além disso, um pouco antes desse período, no ano de 2008, davam-se os primeiros passos para a contratação da empresa que seria responsável pela elaboração do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS), que consiste em um instrumento de planejamento urbano que incorpora as diretrizes traçadas na PNH e no Plano Nacional de Habitação (PlanHab). Concomitante ao cenário descrito, observa-se um crescimento de empresas e de investimentos no mercado imobiliário de Patos, inclusive com a vinda de incorporadoras e construtoras da capital estadual, João Pessoa e da capital pernambucana, Recife.

Portanto, é nessa conjuntura que se configuram as transformações pelas quais tem passado o espaço urbano patoense, em que se percebe a produção desigual desse espaço através da articulação entre vários agentes, principalmente o Estado e o mercado imobiliário, e que se dá através das diversas escalas espaciais. Nesse movimento, produz-se um espaço intraurbano, marcado por intensas desigualdades socioespaciais, acentuando a distância social entre a periferia pobre e a periferia rica, como discutem Rodrigues (2001) e Maia (2010). O debate sobre produção do espaço urbano (e aqui nos referimos à produção capitalista do espaço) tão bem desenvolvido por autores como Lefebvre (1974; 1999; 2008), Gottdiener (1993), Harvey (2005), Carlos (2008; 2011), entre outros, em que nos aprofundamos através das discussões2 realizadas nos encontros do Grupo de Estudos Urbanos (GEURB) da UFPB, trouxe-nos uma valiosa contribuição teórica para entendermos os processos ora apresentados.

Essa contribuição está nas análises dos conflitos delineados na relação dialética entre sociedade e espaço inerente ao modo de produção capitalista, o que possibilita compreender as estratégias e as ações dos agentes produtores do espaço e de que maneira esse espaço produzido reproduz as relações sociais vigentes. Nessa perspectiva, a escolha por se fazer a análise a partir da implantação do PMCMV se justifica pelo fato de que o programa foi criado e vem servindo para expandir investimentos imobiliários no país, onde se têm observado rápidas transformações nos espaços não metropolitanos, sobretudo nas cidades médias. Além disso, o processo de implantação do referido programa conduz e reproduz os conflitos que se configuram com as diferentes formas de apropriação da habitação e de sua localização na cidade por parte agentes produtores do espaço.

Diante do exposto, chegamos ao objetivo geral deste estudo - o de analisar os efeitos da implantação do PMCMV na cidade de Patos, principalmente as que se referem aos espaços

2Destacamos aqui as discussões realizadas com base na obra “A produção do espaço”, de Lefebvre (1974). A

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de moradia. Dessa propositura, traçamos alguns objetivos específicos, a saber: a) entender como as políticas habitacionais anteriores ao PMCMV, principalmente na época do BNH, repercutiram nos espaços não metropolitanos, como as cidades médias, particularmente, na produção do espaço intraurbano de Patos; b) identificar as mudanças que ocorreram na atual política habitacional, através da criação do PMCMV, e suas implicações territoriais nas diversas escalas espaciais; c) averiguar o PMCMV como política habitacional na cidade de Patos; d) observar e apontar os efeitos desse programa sobre a produção das desigualdades socioespaciais na referida cidade; e) caracterizar e desvelar o primeiro projeto habitacional para a população de baixa renda implantado em Patos, com o intuito de verificar os resultados obtidos frente às demandas habitacionais dessa cidade.

A discussão do texto foi dividida em dois momentos. O primeira, composto pelo capítulo 1, aborda questões relacionadas ao papel do Estado na produção do espaço, através das políticas habitacionais e de desenvolvimento urbano; ao papel que as cidades médias exerciam no contexto em que se elaborou, pela primeira vez no Brasil, uma estrutura institucional para a implantação de uma política habitacional com ampla repercussão, ocasião em que foram criados o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH), e questões relacionadas à produção do espaço intraurbano da cidade de Patos nesse período. O segundo momento, capítulos 2 e 3, trata das recentes transformações observadas nas cidades médias, especialmente em Patos-PB, e traz à tona questões referentes à maneira como tem sido a relação Estado-capital imobiliário na atual política habitacional; às convergências e divergências da implantação do PMCMV com o planejamento urbano local; e aos processos de expansão da malha urbana, aumento de investimentos imobiliários, periferização e intensificação das desigualdades socioespaciais a partir da criação desse programa.

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execução da proposta do PMCMV e dos seus projetos habitacionais em nível local; conflitos inerentes a esses processos; e os elementos urbanísticos da área delimitada para o estudo, tendo em vista que nos mostram as condições de moradia das áreas em que foram/serão implantados os conjuntos habitacionais.

Embora façamos menção a alguns dados sobre os projetos de habitação popular na cidade de Patos, tanto os que já foram aprovados quanto os que ainda estão sendo avaliados, elegemos um conjunto habitacional, o Residencial Vista da Serra I, para ser analisado com mais profundidade, utilizando instrumentos da pesquisa qualitativa, como as entrevistas. A escolha dessa área, em específico, justifica-se em razão de ter sido o primeiro e único conjunto habitacional proposto no PMCMV entregue até o momento. Tal fato nos possibilitou observar a paisagem e os aspectos morfológicos e entender os seus conteúdos por meio da dinâmica local e das avaliações dos próprios moradores sobre ela.

Os caminhos metodológicos desenvolvidos no decorrer desta pesquisa foram se delineando de acordo com os questionamentos e as demandas oriundos dos objetivos específicos e do objetivo geral. Assim, realizamos os procedimentos da documentação indireta, que é a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental, e documentação direta, nesse caso, a pesquisa de campo que, ora desenvolvemos em momentos diferentes, ora concomitantemente.

A pesquisa bibliográfica foi fundamental, pois nos possibilitou eleger o método de análise e nos capacitou a escolher as noções mais adequadas para a leitura da realidade estudada, fornecendo dados atuais e passados sobre a problemática abordada. Também nos ajudou a enxergar as diversas facetas do objeto de estudo e as inúmeras maneiras como foi estudado, além de contribuir para a construção da metodologia da pesquisa. Assim, como afirmam Villaça (2004), Marconi e Lakatos (2003), foi necessária uma exaustiva investigação bibliográfica, o que nos levou a buscar leituras de livros, monografias, dissertações, teses, revistas acadêmicas, jornais, além de um material cartográfico sobre a realidade estudada, referencial que foi acessado tanto através de materiais impressos quanto virtuais (sites de IES, de revistas e links de anais de eventos).

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periferização da cidade e suas implicações e as determinações e a configuração das desigualdades socioespaciais. Vale salientar que as contribuições não vieram apenas da produção geográfica, mas também de estudos no âmbito da Sociologia, da História, da Arquitetura e do Urbanismo e da Economia Política. Com as leituras de autores como Henri Lefebvre (1974; 1999; 2008), Carlos (2008; 2011), Rodrigues (2001; 2007), David Harvey (2005; 2011), Villaça (1986; 2001), Engels (1983; 1985), Bonduki (2004; 2008) entre outros, foi possível discutir sobre a cidade com uma visão crítica da produção do espaço no capitalismo, pautada nas questões levantadas pelo método materialista histórico-dialético.

É fundamental ressaltar, ainda, que tivemos a preocupação de associar o levantamento bibliográfico à realidade empírica estudada, contextualizando-a ao todo em que se insere, posto que, assim como Santos (1994), entendemos que os processos globais se dão seletivamente, de maneira ímpar, ainda que comandado pela totalidade.

A pesquisa documental, por sua vez, possibilitou-nos obter dados estatísticos e informações e de um material cartográfico que nos aproximou ainda mais da área de estudo, subsidiando sua caracterização e contextualização mais completa. Contudo, foram muitas as dificuldades de acesso a esse acervo, das quais as principais foram a burocracia dos órgãos públicos e a desarticulação entre eles, o que tornou essa etapa da pesquisa bastante fragmentada e dispendiosa no que diz respeito ao tempo de sua realização.

Para realizá-la, foi necessária a consulta em sites de instituições, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Fundação João Pinheiro (FJP), com o intuito de acessar dados econômicos, demográficos, habitacionais, entre outros, sobre a cidade de Patos, em sites locais que divulgam informações acerca dos projetos habitacionais desenvolvidos na cidade e a visita a órgãos públicos, como a Fundação de Ação Comunitária da Paraíba (FAC), a Companhia Estadual de Habitação Popular (CEHAP), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Habitação de Patos (SEDEHAB), a Secretaria de Infraestrutura (SEINFRA) do referido município, o Setor de Geoprocessamento da Prefeitura Municipal de Patos (PMP) e o Arquivo da Câmara Municipal, onde obtivemos dados sobre projetos de habitação popular e de urbanização na cidade, tanto do período de vigência do BNH quanto do atual momento de implantação dos projetos do PMCMV. A visita a esses órgãos também nos possibilitou o acesso a uma base cartográfica que continha informações sobre a expansão urbana e os espaços de moradia da cidade em estudo.

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sua produção habitacional, e devido à necessidade de verificar, de maneira mais objetiva, os dados sobre os atuais projetos.

Devido à escassez de referencial sobre a conformação do espaço urbano da cidade de Patos e sobre sua participação na política habitacional e de desenvolvimento urbano no período do BNH, tivemos que conseguir documentos que dispusessem dessas informações, o que nos levou ao Arquivo da Câmara Municipal de Patos, mais especificamente, aos Projetos de Lei do Poder Executivo do período de 1964 a 1999. Para ler e analisar mais detalhadamente esses projetos, tivemos que fotografá-los, visto que não se encontravam digitalizados, o que nos custou pouco mais de um mês, tendo em vista o grande número de projetos entre os anos analisados e considerando que, no período em que realizamos essa etapa da pesquisa, o arquivo municipal ficava aberto apenas durante o turno matutino.

Com esse procedimento, obtivemos informações sobre as estratégias dos governos locais para inserir a cidade nas políticas de âmbito nacional, no período de vigência do BNH, bem como sobre os recursos que foram disponibilizados para os projetos que propunham obras de habitação e urbanização nesse mesmo período. A leitura das justificativas de muitos dos Projetos de Lei também foi importante, porque, através disso, verificamos como se encontravam a economia e as condições sociais da população local diante do contexto nacional e regional daquela época.

Vale destacar que sabemos das limitações desse procedimento de leitura dos Projetos de Lei, visto que, mesmo não havendo dúvidas quanto aos dados fornecidos nos documentos oficiais, como apontam Marconi e Lakatos (2003), eles dizem mais sobre os anseios e as iniciativas do governo local e não nos permitem afirmar se, realmente, houve a efetivação das obras propostas. Apesar disso, ressaltamos sua importância, porque nos revelaram informações sobre política urbana e habitacional da cidade, na época da elaboração dos projetos e, ao mesmo tempo, permitiu-nos identificar o papel que a cidade exercia no âmbito dessas políticas.

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secretarias do governo municipal relacionadas às questões de urbanização e habitação, bem como os problemas relacionados ao descaso no arquivamento dos referidos documentos legislativos, cujas consequências discutiremos no decorrer do texto.

Vale salientar que, embora os diversos momentos da pesquisa se confundam, optamos por dividir as etapas em documentação indireta (pesquisa bibliográfica e documental) e documentação direta (pesquisa de campo), como sugerem Marconi e Lakatos (2003), para apresentar cada passo com mais detalhamento. Assim, tendo apresentado a etapa da documentação indireta, faremos a descrição da documentação direta. Sobre a pesquisa de campo, Minayo (2007, p. 26) afirma que “consiste em levar para a prática empírica a construção teórica elaborada”. De acordo com a autora, essa fase combina instrumentos como observação, entrevistas e outras maneiras de comunicação e interlocução com os pesquisados. Nesse sentido, realizamos a pesquisa de campo através de diversos instrumentos, a saber:

a) Observação

Desde as primeiras leituras desenvolvidas já no início da pesquisa bibliográfica e documental, iniciamos também o exercício de observação direta nas áreas delimitadas para a pesquisa que, inicialmente, tratava-se de um conjunto habitacional popular (o Residencial Vista da Serra I – RVS I) e de pequenos condomínios fechados (os Condomínios Jardim Floresta), ambos financiados pelo PMCMV. Posteriormente, optamos por estudar apenas o conjunto habitacional, tendo em vista as dificuldades de obter dados acerca dos condomínios fechados, por serem de imóveis financiados pelo PMCMV de maneira individual, ou seja, de acordo com o interesse da família, o que também exigiria uma reavaliação da metodologia elaborada, principalmente no que diz respeito à elaboração e à aplicação de questionários.

A observação direta ou observação simples, como define Gil (2008, p. 101), é “espontânea, informal, não planificada, coloca-se no plano científico, pois vai além da simples constatação dos fatos. Em qualquer circunstância, exige o mínimo de controle na obtenção dos dados”. Durante o andamento da pesquisa, foram necessários procedimentos como as visitas in loco, com o intuito de reconhecer a área de estudo, de registrar (através de fotografias e notas de campo) as mudanças que ocorriam na paisagem e na dinâmica do espaço analisado, o que nos permitiu verificar informações divulgadas oficialmente e por meio da mídia local, bem como trazer novos elementos para a discussão inicialmente proposta. Também é importante enfatizar que, em alguns momentos, a observação ocorreu combinada com outros instrumentos, como a aplicação de entrevistas e de questionários.

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De acordo com Marconi e Lakatos (2003, p. 196), a entrevista tem como objetivo principal “a obtenção de informações do entrevistado sobre determinado assunto ou problema”. Dentre os tipos de entrevistas frequentemente aplicadas nas pesquisas sociais, optamos pela não estruturada. Segundo os autores supracitados, é através dela que o entrevistador tem mais liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada e que permite explorar mais amplamente uma questão. Gil (2008, p. 112) denomina esse mesmo tipo de instrumento de entrevista por pautas. Esse tipo de entrevista apresenta certo grau de estruturação, faz poucas perguntas diretas e “deixa o entrevistado falar livremente à medida que se refere à pauta assinalada”.

Assim, realizamos entrevistas com o Secretário da SEDEHAB (Gestão com início em 2013), com um funcionário da CEHAP, com um construtor e um corretor, atuantes na cidade de Patos, e com o engenheiro residente responsável pela obra do Conjunto Habitacional RVS I onde realizamos a pesquisa de campo. Dessas, exceto as entrevistas com o construtor e com o representante da CEHAP não puderam ser gravadas, pois eles não permitiram a gravação, inclusive esse último solicitou as anotações realizadas durante a entrevista e enviou as correções que achou que fossem pertinentes.

É importante ressaltar que, assim como as primeiras observações de reconhecimento da área de estudo, logo no início da pesquisa, também realizamos conversas informais de cunho exploratório, com o intuito de confirmar informações que não haviam sido divulgadas oficialmente e de encontrar pistas sobre a que fontes recorrer, na busca por informações da produção habitacional por parte do Estado no período do BNH e do atual PMCMV. Nesse sentido, os dados e as informações obtidos nas conversas com a secretária da SEDEHAB em gestão no ano de 2012 e com outro funcionário da CEHAP foram muito valiosos.

c) Questionários

Segundo Gil (2008, p. 121), “construir um questionário consiste basicamente em traduzir objetivos da pesquisa em questões específicas. As respostas dessas questões é que irão proporcionar os dados requeridos para descrever as características da população pesquisada”. A aplicação de questionários foi a nossa última etapa da presente pesquisa e foi importante exatamente por trazer dados que subsidiaram a discussão acerca da produção das desigualdades socioespaciais, com a implantação de projetos de habitação popular nos moldes do PMCMV e referente ao atendimento das demandas habitacionais na cidade de Patos, tendo como ponto de partida o estudo na área do conjunto RSV I.

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verificadas sob a perspectiva das escalas espaciais propostas por Ferreira (2012) para apreender as implicações de empreendimentos imobiliários no espaço intraurbano. Essas escalas são: inserção urbana, implantação e a unidade habitacional, a partir das quais levantamos questões referentes à acessibilidade da área pesquisada, à presença de infraestrutura, aos serviços e aos equipamentos urbanos, à sua repercussão na demanda local, relação do tamanho da casa com o tamanho da família, ao perfil socioeconômico dessas famílias e à sua satisfação em relação aos elementos listados.

Assim como foi feito na pesquisa de Leite (2011), o conjunto de perguntas que compõem o questionário pode ser divido em três tipos: fechadas ou dicotômicas, com apenas duas alternativas (sim ou não); de múltipla escolha, que também são fechadas, mas têm um número maior de alternativas, em que o entrevistado pode optar por mais de uma resposta. Há, inclusive, a alternativa de acrescentar outra resposta que não tenha sido prevista no questionário e perguntas “de avaliação”, que possibilitam uma apreciação por parte do entrevistado sobre o conteúdo da questão. Dentre as perguntas “de avaliação”, tanto há questões estruturadas da mesma maneira que as perguntas fechadas e as de múltipla escolha quanto aquelas em que o entrevistado avalia atribuindo valores com diversos graus de intensidade (ótimo, bom regular, ruim ou péssimo).

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Legenda

Unidades habitacionais onde foram aplicados questionários

Unidades habitacionais onde não foram aplicados questionários

Figura 01: Localização e distinção das Unidades habitacionais (UHs) onde foram aplicados os questionários na pesquisa de campo - Fonte: Pesquisa de campo em fevereiro de 2014 - Imagem: Google Earth, 2014. Elaboração própria

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É mister relatar que o espaço reservado no questionário para anotações de comentários e observações dos moradores entrevistados foi sobremaneira importante para registrarmos características, informações e problemas, bem como outros elementos que não foram previstos na elaboração do questionário e que contribuíram muito para complementar a análise dos dados oficiais e dos próprios dados levantados nessa etapa da pesquisa.

Todo o material adquirido e produzido no decorrer da pesquisa, como documentos, matérias de jornais, folders de propaganda de empreendimentos imobiliários, fotos, caderno de campo e questionários, foi arquivado e organizado em pastas, virtuais e materiais, o que facilitou o acesso às informações sempre que necessário. Para a análise e a interpretação dos dados, foi preciso produzir tabelas e gráficos e reorganizar a base cartográfica cedida pela Prefeitura Municipal de Patos, através do setor de geoprocessamento.

O conjunto de informações e de dados, reunidos a partir da metodologia acima descrita, forneceu-nos subsídios para alcançar os objetivos específicos e, consequentemente, o propósito maior desta pesquisa. Entendemos que, em se tratando de analisar o processo de produção do espaço urbano, nesse caso, da cidade de Patos, a diversidade e a complexidade desse processo exigiam o uso de procedimentos metodológicos também diversos, daí a necessidade de realizar, além da pesquisa bibliográfica e documental, a pesquisa de campo com vários instrumentos, como a observação, as entrevistas e os questionários.

No momento da escrita, tentamos contextualizar a realidade empírica estudada e relacioná-la à base teórica construída na pesquisa bibliográfica. Assim, não foi escrito um capítulo unicamente teórico, ora se sobressaem as noções e a discussão teórica, ora se destaca a contextualização, no tempo e no espaço, dos processos analisados e, ainda, ora se enfatizam os dados empíricos e o local de estudo, mas sempre de maneira correlacionada.

Assim, o texto completo ficou dividido em três capítulos: no primeiro, intitulado “A produção do espaço urbano de Patos – PB: a questão urbana e habitacional durante o SFH/BNH”, discutimos, conceitualmente, sobre o problema habitacional, para entender qual tem sido o papel do Estado e da política habitacional no Brasil. Também analisamos como as cidades médias, especificamente a cidade de Patos, inseriram-se nos Programas Habitacionais e na Política de Desenvolvimento Urbano, a partir do período de criação do SFH/BNH, e como, a partir desses programas, projetos e políticas urbanas, aconteciam a configuração territorial e a produção desses espaços urbanos.

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destaca o PMCMV, visando entender como esses papéis se configuram através da relação do Estado com os demais agentes produtores do espaço que se dá, por sua vez, entre as diversas escalas espaciais. Essa discussão também nos levou a compreender os rebatimentos do PMCMV frente à implantação do PlanHab e, conseguintemente, aos PLHIS. Ainda nessa parte do texto, fazemos o debate tomando como base a inserção da cidade de Patos nessa conjuntura mais ampla.

O terceiro e último capítulo, que denominamos de “Espaço intraurbano e o PMCMV em Patos-PB: o caso do Residencial Vista da Serra I”, discutimos sobre questões relacionadas à reprodução das desigualdades socioespaciais no espaço intraurbano, através da maneira como vêm sendo atendidas as demandas habitacionais e dos conflitos de interesse que permeiam a atual política habitacional. Nessa parte do texto, a caracterização detalhada de um espaço de moradia, o conjunto Residencial Vista da Serra I, buscou subsidiar a compreensão de como têm se reproduzido as diferenças entre esses espaços na cidade.

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CAPÍTULO 1 – A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE PATOS – PB: A QUESTÃO URBANA E HABITACIONAL DURANTE O SFH/BNH

Neste trabalho, partimos da noção de produção do espaço discutida por Lefebvre (1974; 2008), a partir da qual se compreende o espaço como produto e produtor das relações sociais de produção que se configuram no decorrer do tempo histórico. Essa noção, por sua vez, importa conteúdos e determinações que nos obrigam a considerar os diversos níveis da realidade como momentos diferenciados da reprodução geral da sociedade em sua complexidade, como discute Carlos (2011).

Essas considerações nos trazem a necessidade de entender a sociedade e seu espaço em sua relação entre as diversas escalas geográficas (espaciais e conceituais) e, ao mesmo tempo, de considerar os agentes produtores do espaço. Mas quem são esses agentes? Segundo Corrêa (1989), são os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos. Ressaltamos, segundo esse autor, que essa tipologia é mais de natureza analítica do que efetivamente absoluta, visto que um agente pode assumir a condição de outro, como o Estado, por exemplo, que também pode ser proprietário de meios de produção, proprietário fundiário etc.

Na produção do espaço urbano capitalista, a ação dos agentes mencionados deriva “da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção e dos conflitos de classe que dela emergem” (CORRÊA, 1989, p. 11). Nesse movimento, a ação do Estado é crucial, posto que, segundo Corrêa (2011), esse agente desempenha múltiplos papéis, e isso é uma arena onde diferentes interesses e conflitos se enfrentam.

Neste capítulo, procuramos entender como foi feita a produção do espaço urbano de Patos – PB, considerando a ação do Estado em suas três esferas político-administrativas-federal, estadual e municipal - frente à problemática urbana e habitacional. O recorte temporal consiste no momento em que a ação estatal foi mais enfática diante dessas problemáticas no Brasil, ou seja, o período de vigência do Banco Nacional de Habitação - BNH - e do Sistema Financeiro de Habitação – SFH - criados em 1964, não obstante também seja necessário avançarmos um pouco mais à frente desse período, para discutirmos sobre as implicações socioespaciais observadas no atual momento de reconfiguração da Política Nacional de Habitação, com destaque para o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV.

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pesquisa tendo como primeiro objeto de análise uma política pública não é uma tarefa fácil, pois, como afirmam Azevedo e Andrade (1982), ela busca, muitas vezes, realizar não apenas um, mas vários objetivos, serve a numerosos propósitos e, frequentemente, conduz a efeitos e a resultados não antecipados. Para se compreenderem os seus efeitos na produção do espaço urbano, é preciso considerar o conjunto social e econômico em que a política pública foi elaborada e se insere, porque ela não é atemporal, mas carregada de interesses de relações de poder entre os agentes sociais e reflete os conflitos inerentes a esses interesses. Contudo, antes de nos remetermos diretamente à política pública, nesse caso, à habitacional, especificamente, bem como aos seus efeitos socioespaciais, precisamos compreender o problema a que ela se detém, em suas diversas dimensões, sejam elas conceituais e/ou práticas.

Esse exercício de pensar, histórica e conceitualmente o problema habitacional no Brasil, ajuda-nos a identificar quais características da política habitacional ainda permanecem e quais se modificaram, considerando o novo contexto político, social e econômico em que se encontra o atual desenho dessas políticas, e a entender a (re) configuração dos processos, como o da urbanização brasileira, inerentes a esses momentos. Inicialmente, discutiremos sobre algumas questões teóricas, no que concerne ao problema habitacional e, em seguida, faremos um retrospecto histórico, buscando entender como a cidade de Patos/PB foi se inserindo na política habitacional do país e como foi feita a produção de seu espaço urbano nos dois momentos de mais articulação dessa política, ou seja, no período do regime ditatorial, com o Sistema Financeiro de Habitação – SFH - e o Banco Nacional de Habitação – BNH - e no atual contexto em que foram criados o Ministério das Cidades, o Estatuto da Cidade e programas de ampla repercussão nacional, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, mais especificamente, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV).

1.1O problema habitacional: abordagens teóricas e históricas

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complexidade da temática, elegemos para esse momento as discussões teóricas que abordam o “problema” da habitação, pois, a partir dessa questão, podemos focar nossa análise na ação do Estado e em como ela se esboçou e se espacializou nas cidades brasileiras.

As abordagens acerca do problema habitacional, tanto no que diz respeito às de cunho socioeconômico e político, em seus diversos momentos históricos, quanto às discussões teóricas propriamente ditas, não são recentes. No Século XIX, vários trabalhos se dedicavam a discutir, direta ou indiretamente, sobre essa questão, como os escritos de Engels (1983; 1985), os textos a que ele se refere em seu trabalho intitulado “Para a questão da habitação”, os inúmeros relatórios oficiais e matérias de jornais aos quais ele também faz menção no livro “Situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, como até mesmo as inúmeras obras literárias mencionadas por Bresciani (1982), que se detinham ao cenário de cidades como Londres e Paris.

Em estudos mais recentes, como os de Peruzzo (1984), Villaça (1986), Rodrigues (2001), Victor Martins (2007), entre outros, também é marcante o debate acerca do que é o problema habitacional e quais as formas de solucioná-lo, o que demonstra que essa questão ainda está bem presente na sociedade. Ao se referir à falta de habitação, Engels (1983 [1873]), já em fins do Século XIX, afirmava que esse não era um sofrimento próprio do moderno proletariado, mas de todas as classes oprimidas de todos os tempos, visto que, em muitos casos, a habitação, além de ser precária, servia para reforçar a condição de opressão e subordinação, como era, por exemplo, a senzala em relação ao escravo.

Nessa perspectiva, é fundamental entendermos o que é o problema habitacional. Para Engels (1983), a falta de habitação, como se refere ao que hoje entendemos como problema da habitação, consistia no

agravamento particular que as más condições de habitações dos operários sofreram devida a repentina afluência da população às grandes cidades; [no]

aumento colossal dos alugueres, [de] uma concentração ainda maior dos

inquilinos em cada casa e, para alguns, [na] impossibilidade de em geral

encontrar um alojamento. (ENGELS, 1983, p. 10. Grifo nosso)

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terra urbana e favorecia a ação especulativa dos proprietários fundiários e do capital incorporador.

Entendemos que o espaço urbano de Patos se conforma num momento em que passa a exercer um poder de concentração de capital, de serviços e de pessoas, consequentemente. É importante ressaltar que, como Patos (Mapa 01, p. 38) foi elevada à categoria de cidade somente no Século XX, precisamente no ano de 1903, só entrou, efetivamente, no circuito de produção industrial de grandes empresas com os investimentos no cultivo do algodão para exportação e, de acordo com Cavalcante (2008), pelas condições especiais oferecidas pelo governo estadual de Argemiro Figueiredo (1935-1940), as quais atraíram empresas como Anderson Clayton & Cia Ltda. (estadunidense) e a SANBRA (argentina)3. A chegada da linha férrea da Rede Viação, que fez da cidade de Patos uma “ponta de trilho”, como afirma Botelho (1965), também foi de suma importância nesse momento.

Apesar disso, a atividade industrial não foi o principal vetor no processo de expansão urbana de Patos. Sua população urbana só teve um crescimento expressivo na década de 1970, tendo como principais fatores: o êxodo da população do campo para a cidade, provocado, principalmente, pelas secas que comprometeram as condições de vida no campo e as pragas que atingiram as lavouras, sobretudo a algodoeira; a ampliação da oferta de serviços educacionais, com a instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Patos, a Escola de Agronomia e Medicina Veterinária, mantida pela Fundação Francisco Mascarenhas e acompanhada, na época, pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB; e o crescimento das atividades comerciais, favorecido pela realização de obras de infraestrutura, entre elas, a construção da faixa da rodovia BR -230 (fazendo o contorno pela cidade), que liga o litoral ao interior do estado da Paraíba e intensifica a relação comercial com os estados do Rio Grande do Norte e de Pernambuco.

Nessa época, já havia uma preocupação do governo local em suprir a demanda por habitação, como constatamos em justificativas de Projetos de Lei e em projetos que firmavam a participação da cidade na Companhia Estadual de Habitação Popular – CEHAP. Contudo, a compreensão que se tinha do que seria o problema habitacional restringiu a ação do governo local a apenas possibilitar à população mais pobre o acesso a terrenos para que pudesse construir sua casa por conta própria, ou seja, promover a autoconstrução, sem nenhuma ajuda técnica e disponibilidade de materiais adequados.

3Cavalcante (

op. cit.) mostra que, embora a colheita de algodão tenha decrescido na década de 1940, devido à

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Mapa 01 – Situação geográfica do Município de Patos em relação à ferrovia e às rodovias na Paraíba

A atuação do governo do estado, por sua vez, não foi muito mais além, limitando-se a proporcionar o acesso à casa própria, restringindo a compreensão do que seria o problema habitacional. Vale ressaltar, ainda, que tanto a doação de terrenos pelo governo local (como foi proposta através do Projeto de Lei 64/89) quanto a construção de casas unifamiliares,

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como fez a CEHAP, na cidade de Patos, localizavam-se em áreas totalmente carentes de infraestrutura e muito distantes do centro da cidade, assim como foi nas demais cidades brasileiras nesse período.

Entendemos, então, que o Estado, engendrado pelas relações do modo de produção capitalista, agia distorcendo a compreensão do problema habitacional em sua essência, colocando-o como algo a-histórico, desfazendo a necessidade de questionarmos o porquê de ser um problema ou para quem seria o problema e qual seria sua origem. E, sendo compreendido como a-histórico, seria como algo que sempre existiu e que, portanto, seria um problema insolúvel. Por esses motivos, Villaça (1986, p. 04) destaca a importância de se avançar na definição, afirmando que a “formulação da questão da habitação não pode ser desvinculada das determinações fundamentais que historicamente as engendram”. A partir dessa concepção, entendemos que “o problema habitacional não pode ser visto de maneira uniforme e genérica, pois ele decorre da história onde marcam presença os três elementos básicos: o capital, a força de trabalho e o Estado”. Essa combinação varia historicamente e emana do processo constitutivo de nossa sociedade (PERUZZO, 1984, p. 22).

Nesse sentido, concordamos com Maricato (2003) e Peruzzo (1984), ao afirmarem que, no Brasil, o problema habitacional nasce com a emergência do trabalho livre. Sobre essa questão, Soares (2007) afirma que o problema da moradia para as camadas pobres brasileiras data das últimas décadas do Século XIX, período em que ocorreu uma série de mudanças sociais: abolição da escravatura, em 1888; uma incipiente industrialização; uma renovação do contexto político com a República e uma inversão populacional (que sai do campo para a cidade e que se reforça com a vinda dos imigrantes na primeira metade do Século XX).

Referências

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