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Viviane Ferreira Silva Processos de comunicação online na experiência de usuários com deficiência visual: desafios na criação de interfaces digitais acessíveis

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Academic year: 2018

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Viviane Ferreira Silva

Processos de comunicação online na experiência de usuários com deficiência visual: desafios na criação de interfaces digitais acessíveis

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

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Viviane Ferreira Silva

Processos de comunicação online na experiência de usuários com deficiência visual: desafios na criação de interfaces digitais acessíveis

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Comunicação e Semiótica, sob orientação da Profª Drª Lucia Clemente Isaltina Leão

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Tenho tantas pessoas a agradecer, que não saberia por onde começar. Seria injusta se as citasse por ordem de importância, pois todos aqueles a quem dedico os meus agradecimentos foram fundamentais nos meus dias de mestrado.

Inicialmente, agradeço a Deus por ter concluído esta pesquisa de mestrado, tarefa que mesmo entre as pessoas que não têm nenhum tipo de limitação física é de alcance de poucos. Sou grata a Ele, também, por colocar sempre pessoas maravilhosas no meu caminho, sem as quais certamente não teria conseguido chegar até aqui.

Agradeço às equipes de profissionais da PUC que estiveram presentes sempre que eu precisei de apoio em relação ao acesso de documentos e materiais para o desenvolvimento da minha pesquisa.

Agradeço a minha orientadora profª Drª Lucia Leão, por ter aceitado o desafio de fazer a orientação de uma aluna com deficiência visual, confiando no sucesso do meu trabalho. O meu muito obrigada a Arlete Petry pela revisão, por toda dedicação que teve com os meus capítulos e por ter sido os meus olhos durante todos esses meses que trabalhamos juntas.

Aos profºs Drºs Ane Shirley de Araújo e Eduardo Cardoso Braga que participaram da minha Banca, e muito colaboraram para o avanço e conclusão da minha pesquisa.

Ao Banco Bradesco, por ter acreditado em mim e ter me dado a oportunidade de buscar mais conhecimento e me tornar Mestre em uma das vertentes da acessibilidade, tema de grande importância para minha vida e para o meu trabalho. Os meus agradecimentos aos meus gerentes e superiores, pela compreensão nos momentos em que deles precisei.

A minha família, que muito me ajudou durante esse período de isolamento exigido pelo desenvolvimento da pesquisa.

Ao apoio das minhas grandes amigas, Érica Vilhena e Raquel Pedesquel que estiveram sempre próximas e se colocaram à disposição para me socorrer nos meus momentos de urgência.

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SILVA, Viviane Ferreira.Processos de comunicação online na experiencia de usuários com deficiência visual: desafios na criação de interfaces digitais acessíveis

Os serviços e sistemas oferecidos pela Internet fazem parte do cotidiano da cibercultura, mas apresentam diversas barreiras de acesso para o grupo de pessoas com deficiência visual. O problema da presente pesquisa envolve os processos de acessibilidade de usuários cegos na WWW. A pesquisa inicia com a apresentação de regulamentações jurídicas que buscam garantir os direitos ao acesso à informação e comunicação a todos os cidadãos e propõe análises de elementos presentes nas interfaces de sites diversos como prestadores de serviços, compras e governança. Quais são os elementos comunicacionais que podem melhorar a funcionalidade da navegação e a interatividade das pessoas cegas com os ciberespaços? Como a acessibilidade pode ser trabalhada nas interfaces dos sites? Questões eminentes como essas impulsionam a pesquisar projetos de interface que possibilitam uma navegação eficiente e satisfatória, que considere os elementos fundamentais para a acessibilidade das interfaces apresentadas na web, proporcionando uma interação efetiva de usuários com deficiência visual. Metodologicamente, a pesquisa se organiza em três etapas. Para o desenvolvimento da fundamentação teórica foi realizada pesquisa bibliográfica. Os estudos de casos foram realizados a partir de análises semióticas. A pesquisa empírica foi de natureza qualitativa e envolveu coleta de dados, narrativas pessoais e questionários. Os autores e teorias fundamentais para a discussão sobre a linguagem da hipermídia e das mídias digitais são Leão e Johnson; para a discussão sobre os processos comunicacionais e cognitivos adotamos Flusser e Sacks. Os estudos de casos analisam construções de interfaces acessíveis, com o objetivo de examinar pontos fortes e fracos de seu caráter comunicacional. A pesquisa de campo foi composta por três momentos. O primeiro envolveu a aplicação de um formulário a usuários deficientes visuais, a fim de mapear os elementos fundamentais para a navegação com acessibilidade. O planejamento das questões considerou três níveis diferentes de interação: acessibilidade, usabilidade e experiência do usuário. No segundo momento, foi aplicada uma pesquisa qualitativa, com o reconhecimento das recomendações retiradas do documento dowcag 1.0. O procedimento empírico se fundamenta no conceito de “escala microssocial” que propõe uma investigação de atores em suas interações analisadas no contexto de um sistema concreto (Alami). A terceira fase envolveu um processo de interpretação dos dados colhidos com objetivo de desenvolver um modelo de diretrizes que vise a melhoria da comunicação e a ampliação da acessibilidade da web. A pesquisa concluiu que, mesmo existindo documentos de recomendações para acessibilidade das interfaces, são poucos os sites acessíveis.

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SILVA, Viviane Ferreira. Online communication process on the experience of users with visual disability: challenges on the creation of accessible digital interfaces.

The services and systems offered by Internet are part of cyberculture’s quotidian, but they present several access barriers for the group of people with visual disability. The present research problem involves the accessibility processes of blind users at WWW. The research starts with the presentation of legal regulations that aim at assuring the rights to the access of information and communication for all the citizens and proposes the analysis of elements present on several websites interfaces such as services providers, shopping and governability. What are the communicational elements that can improve navigability’s functionality and the interactivity of blind people with cyberspaces? How can accessibility be employed on websites interfaces? Eminent issues such as these ones stimulate the research of interface projects that enable an efficient and satisfactory navigation – that considers the fundamental elements for the accessibility of interfaces presented on the web, providing an effective interaction of users with visual disability. Methodologically the research is organized in three steps. For the development of the theoretical basis the bibliographic research was accomplished. The study cases were performed based on semiotic analysis. The empiric research has a qualitative nature and involved data collection, personal narratives and questionnaires. The authors and fundamental theories for the discussion about hypermedia languages and digital medias are Leão and Johnson: for the discussion of communication and cognitive processes we adopted Flusser and Sacks. The study cases analyze constructions of accessible interfaces, with the objective of exploring strenghts and weaknesses in their communicational characters. The fieldwork was composed by three moments. The first one involved a form submission to visually disabled users with the objective of mapping fundamental elements for the navigation with accessibility. The questions’ planning considered three different levels of interaction: accessibility, usability and the user’s experience. In a second moment, it was applied a qualitative research with the recognition of the recommendations extracted from the document dowcag 1.0. The empirical procedure is based on the concept of “microssocial scale” that proposes an investigation of actors in their interfaces analyzed in the context of a concrete system (Alami). The third phase involved a process of interpretation of the collected data with the objective of developing a model of guidelines that regard the improvement of communication and enhancement of web accessibility. The research concluded that in spite there are documents of recommendation for the accessibility of interfaces, the accessible websites are few.

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Ilustração 1: Exemplo de tradução de imagem visual em texto verbal 42 Ilustração 2: Gráfico indicativo do percentual de entrevistados com

deficiência visual 97

Ilustração 3: Gráfico indicativo do percentual de leitor de tela utilizado

para as análises 97

Ilustração 4: Gráfico indicativo do sistema operacional utilizado nas análises

98

Ilustração 5: Gráfico indicativo do navegador utilizado durante as análises

98

Ilustração 6: Gráfico indicativo da satisfação decorrente da navegação 99 Ilustração 7: Exemplo de imagem da interface não especificada 107 Ilustração 8: Tabela com as especificações funcionais de leitura do

software de voz 108

Ilustração 9: Gráfico demonstrativo do crescimento das transações

bancárias do Internet Banking do Bradesco por clientes DV 109 Ilustração 10: Gráfico que indica residência dos usuários web

analisados 111

Ilustração 11: Gráfico indicativo do tempo de experiência na web 112 Ilustração 12: Gráfico indicativo da qualidade de interação com as

interfaces web 112

Ilustração 13: Gráfico indicativo da utilização de leitor de tela durante

navegação 113

Ilustração 14: Gráfico que aponta as preferências de sites visitados 113 Ilustração 15: Tabela com os dez elementos para uma interface

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INTRODUÇÃO 10 1. ACESSIBILIDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO - OS DIREITOS DE ACESSO À

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PELAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 18

2. O ACESSO À COMUNICAÇÃO-INFORMAÇÃO PELA PERCEPÇÃO 39

3. USUÁRIOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E O ACESSO À COMUNICAÇÃO DA REDE -

DESCRIÇÃO DO ACESSO ÀS INTERFACES DA WEB 55

3.1 PROPRIEDADES DA ACESSIBILIDADE NA WEB 62

3.2 DISPOSITIVOS DE INTERAÇÃO ENTRE USUÁRIO COM DEFICIÊNCIA VISUAL E

INTERFACES DIGITAIS 63

3.2.1 DOSVOX 64

3.2.2 VIRTUAL-VISION 68

3.2.3 NVDA (NON VISUAL DESKTOP ACCESS) 70

3.2.4 JAWS 74

3.2.5 SINTETIZADORES E COMUNICAÇÃO 76

3.3 USUÁRIO COM DEFICIÊNCIA VISUAL 79

3.4 A INTERFACE ACESSÍVEL COMO MEDIADORA DA COMUNICAÇÃO ENTRE O

UNIVERSO DIGITAL E O USUÁRIO COM DEFICIÊNCIA VISUAL 81

4. RELATOS DE CASOS: DIFERENTES MODELOS DE PROMOÇÃO DA ACESSIBILIDADE WEB. 87 4.1. PESQUISA EMPÍRICA: PROPOSIÇÕES FUNDAMENTADAS NA PARTICIPAÇÃO DE

USUÁRIOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 110

4.1.1 DESCRIÇÃO TEXTUAL 115

4.1.2 ACESSIBILIDADE NA LEITURA DOS RESULTADOS 116

4.1.3 ACESSIBILIDADE DOS CAMPOS DE SELEÇÃO 116

4.1.4 USABILIDADE 117

CONSIDERAÇÕES FINAIS 119

REFERÊNCIAS 127

APÊNDICES 130

APÊNDICE A - FORMULÁRIO PARA PESQUISA EMPÍRICA 130

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO 132

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Há mais de duas décadas, a informática segue um processo evolutivo, de modo a proporcionar diversos benefícios às pessoas que aderiram aos recursos tecnológicos desse sistema.

Tais recursos colaboraram imensamente para o avanço cultural dos usuários, devido às facilidades e oportunidades de acesso rápido a conteúdos, compartilhamentos de informações, recursos comunicacionais, armazenamento de dados históricos e atuais, entre outras facilidades. Portanto, pode-se classificar a internet como um dos principais elementos responsáveis pelo avanço das relações nas mais diversas áreas pessoais e profissionais dos últimos anos.

Nesse trajeto de evolução, um universo que permanecia à margem do quadro de oportunidades oferecidas pela sociedade encontrou espaço para caminhar em linhas paralelas com os demais.

Tal universo refere-se a uma parcela de pessoas que, segundo o censo de 20101, do total de 100% da população brasileira, 23,9%, ou seja, 45.623.910 se reconhecem como pessoas com algum tipo de deficiência. Desse total de pessoas que possuem algum tipo de limitação, 35.791.488, a maior parte, são pessoas com comprometimentos visuais, classificados como deficiência leve, moderada ou severa. A deficiência severa refere-se especificamente às pessoas cegas, que, segundo a definição do último censo, “são cidadãos que não conseguem de modo algum enxergar, pessoas que declararam ser permanentemente incapazes de enxergar”. Embora esse percentual seja o mais reduzido, é significativo, quando se trata de quantidade de pessoas.

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Dessa forma, considerando os dados atualizados do Censo de 2010, teremos uma ideia de quantas pessoas poderão ser beneficiadas com as informações levantadas nesta pesquisa, cujo objeto está diretamente ligado à promoção de oportunidades geradas pelo acesso à internet, de modo a tornar possíveis as chances de desenvolvimentos dessas pessoas. Sendo assim, serão abordados os elementos hospedados nas páginas dos sites, os quais limitam a navegação dos software de voz, assim como os elementos necessários para a total compreensão e interação do usuário cego com as interfaces da web. Portanto, a proposta do presente mestrado é identificar as razões pelas quais ocorrem dificuldades de acesso, ou seja, erros de acessibilidade digital que impedem usuários cegos concluir uma operação online, sem nenhum tipo de ajuda de terceiros.

Para as pessoas com deficiência visual, o acesso à internet surgiu como uma oportunidade de ruptura de limites, ao passo que, anteriormente, tratava-se de cidadãos que, involuntariamente, conviviam com um volume de informações significativamente reduzidas às demais pessoas que não possuíam essa deficiência.

De acordo com Santaella:

“[...] a orientação do ser humano no espaço, grandemente responsável por seu poder de defesa e sobrevivência no ambiente em que vive, depende majoritariamente da visão. Os outros 20% são relativos à percepção sonora e os 5% restantes a todos os outros sentidos, ou seja, tato, olfato e paladar.” (1993, p. 11)2

Portanto, aqueles que não podem contar com os 75% dos benefícios proporcionados pela visão trabalham para que os outros sentidos sejam capazes de compensar a ausência deste tipo de janela de informações.

Por todos os motivos evidentes, justifica-se nossa preocupação com a funcionalidade da internet para as pessoas cegas, pois a oportunidade de educação e crescimento

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profissional para essas pessoas está diretamente vinculada ao processo evolutivo da acessibilidade digital.

A opção por pesquisar a inclusão digital para pessoas com deficiência visual ocorreu devido a uma junção de fatores, dentre os quais: envolvimento pessoal no tema, comprometimento profissional na questão e a noção de responsabilidade social como cidadã brasileira.

Tal noção faz com que eu, para além da pesquisa, busque colaborar de alguma forma com os processos de evolução das interfaces digitais, demonstrando descontentamento perante as barreiras que encontro em meu trajeto.

Digo isso, pois o envolvimento com processos de acessibilidade sempre esteve presente em todas as minhas atividades, já que deficiente visual desde os dez anos de idade, vivenciei o período em que a inclusão social era um assunto muito discutido, mas pouco praticado.

Atualmente, observa-se a execução de grandes ações em relação à inclusão social, em diversas áreas, com o objetivo de tornar acessíveis ambientes nos quais os acessos devem ser comuns a todos os cidadãos.

As inovações geradas pela tecnologia é uma das facetas da inclusão social. Portanto, entre as diversas áreas que aos poucos estão sendo trabalhadas em prol da inclusão de pessoas com deficiência, a acessibilidade no ambiente digital foi o objeto elegido para esta pesquisa.

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Bradesco.com.br . As oito horas diárias de trabalho com o universo visual da web, trouxe o conhecimento necessário para identificar problemas de acesso e buscar soluções para a interação com a "invisibilidade" de um ambiente repleto de informações, como o que parece ser o ambiente virtual para o usuário cego.

As experiências adquiridas com a realização de trabalhos em conjunto com a equipe da área no Internet Banking fizeram com que, nos meus momentos de folga, eu tivesse a curiosidade de buscar falhas de acessibilidade durante a navegação de outros sites em funcionamento na web. Naquele período de busca exploratória, o volume de sites que apresentaram falhas de acessibilidade para a navegação com o programa de voz foi surpreendente.

O desejo da correção dessas falhas fez com que eu pensasse na possibilidade de realizar uma pesquisa sobre acessibilidade digital que servisse como um norte, com informações essenciais para o desenvolvedor, pois a aplicação da acessibilidade digital está sensivelmente vinculada aos conhecimentos técnicos de desenvolvimento.

Com o objetivo de atingir tal proposta, este trabalho de mestrado inicia o primeiro capítulo com uma revisão às questões jurídicas que estão diretamente ligadas ao processo de desenvolvimento da inclusão social no Brasil. No capítulo em questão, um panorama geral sobre os processos de inclusão nos dará uma noção do quadro atual dos avanços em relação aos direitos da pessoa com deficiência, assunto que conquistou espaço em fóruns nacionais e internacionais de discussões, graças ao respeito e a seriedade com que vem sendo trabalhado pelos países.

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No segundo capítulo, uma explicação sobre como ocorre a comunicação de informações visuais por meio de diferentes canais de percepção tem por meta mostrar a capacidade dos diferentes órgãos sensoriais em receber informações e promover a comunicação das pessoas cegas entre o interno e o externo. Nesse sentido, navegar por teóricos como Vilem Flusser, que defende o fenômeno da comunicação como um processo não natural, que depende de ferramentas de incentivo para sua efetivação, ou seja, estímulos que provoquem tal reação, foi fundamental na pesquisa.

Ainda no capítulo dois, procuramos explicar de maneira sistematizada, como ocorre a comunicação com as pessoas com deficiência visual e de que forma elas captam as informações vindas do mundo externo, de modo a construir uma ponte que permite a troca de informações com o outro, proporcionando meios de comunicação, mesmo sem explorar o principal sentido utilizado pelo homem, que é a visão.

O capítulo se encerra com uma breve introdução do contato das pessoas com deficiência visual com o universo online, abordando a problemática da comunicação e interação com as interfaces digitais, uma espécie de preparo para os assuntos que serão abordados no capítulo seguinte.

No capítulo três, apresentamos de forma sistematizada os mecanismos utilizados pelos usuários com deficiência visual, para acessar as informações da rede por meio das interfaces digitais.

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Dessa forma, trazemos a descrição dos processos envolvidos na navegação de uma pessoa cega pelas interfaces digitais contando com o apoio de um sintetizador de voz. Esse processo permite a compreensão de como ocorre a Navegação na web sem a informação visual. Nossa ênfase são os processos de leitura das informações para a inclusão da pessoa com essa deficiência no universo digital.

Finalmente, no quarto capítulo, buscamos compreender as informações adquiridas nas fases anteriores, e nosso leitor poderá acompanhar a análise de estudos de casos que permitam conhecer ações, cujo objetivo é promover a efetivação da acessibilidade. Fazemos isso discutindo casos de sites que trabalham a interface das páginas, de forma a construir telas com acessibilidade em sua interação com o usuário e proporcionar uma comunicação digital satisfatória para os usuários com deficiência visual.

Para isso, apresentamos a análise completa de um site pensado com acessibilidade, desde o início de sua construção, passando por todas as fases até a implantação das atividades online, bem como análise de sites cuja metodologia de produção seja mais complexa, dada a necessidade de aplicar a acessibilidade em paralelo com o funcionamento na rede. O estudo desses dois exemplos apresenta detalhes sobre os desenvolvimentos de diferentes vertentes de trabalhos, que têm por objetivo alcançar a mesma finalidade, ou seja, promover a acessibilidade das páginas de um site.

As análises trazem informações fundamentais para dar corpo à última fase da pesquisa, que traz como material a ser considerado depoimentos de pessoas com deficiência visual.

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Todos os dados colhidos durante a pesquisa foram tabulados e apresentados por meio de representação gráfica, aplicada em usuários com deficiência visual que possuem experiência em navegação de sites e concordaram em opinar sobre as especificações de elementos fundamentais para o funcionamento das interfaces digitais, que atenda usuários cuja navegação depende do auxílio de um software de voz.

Ao final, são apresentadas as análises e conclusões baseadas nos estudos da pesquisa e propostas diretrizes que colaborem com o processo de acessibilidade no desenvolvimento do ambiente virtual, especialmente dos sites brasileiros.

Dentre todos os autores consultados para embasar a aplicação da acessibilidade na navegação das interfaces digitais, o autor John Maeda ocupou um lugar de destaque na formação dos resultados obtidos. O objetivo de facilitar os processos de acesso às pessoas com comprometimento visual e, por consequência, gerar uma interação mais fácil com a linguagem comunicacional de todos os perfis de pessoas que utilizam a web, está em grande parte conectado com as proposições de simplicidade apresentadas por Jonh Maeda, em seu livro “As leis da Simplicidade” (2007).

Da mesma forma como Maeda produziu uma lista de dez itens a serem aplicados na promoção da simplicidade, tivemos recentemente a oportunidade de buscar, em diversas fontes, informações que nos permitiram construir uma lista de elementos fundamentais para viabilização de uma interface digital acessível para usuários cegos. Na lista de Maeda, a aplicação da simplicidade nos processos se destaca, pois o autor critica uma complexidade muitas vezes dispensável.

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1. ACESSIBILIDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO - OS DIREITOS DE ACESSO À INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PELAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

O primeiro capítulo dessa pesquisa de mestrado descreve um panorama constitucional que aborda os aspectos legais da acessibilidade, cuja função é garantir a cidadania das pessoas com algum tipo de limitação sensorial, física ou cognitiva. Trata-se de uma investigação sobre aparatos jurídicos que referenciam o reconhecimento e a legitimidade dos direitos reservados às pessoas com algum tipo de deficiência, sustentados por políticas de inclusão, e aplicados na legislação brasileira.

Para isso, são abordados os fios que tecem os protocolos de regulamentações jurídicas, os quais se referem aos direitos humanos, cidadania e responsabilidade social, bem como aos direitos das pessoas com deficiência.

O objetivo de iniciar esse trabalho com a abordagem dos direitos é trazer para a superfície reflexões sobre o respeito e a seriedade com que devem ser conduzidas as políticas de Inclusão social.

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Canziani (2006), relata em seu artigo, que a partir do movimento dos anos oitenta, assuntos pertinentes às deficiências sofreram grandes e rápidas transformações conceituais. Essas mudanças aconteceram graças à atuação de diversos países, por meio das próprias pessoas com deficiência, em organismos internacionais, entre os quais destacam-se as Nações Unidas e suas Agências Especializadas, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde (OMS).

No Brasil, a partir da década de oitenta, a abordagem da questão ligada ao tema deficiência passou a incorporar uma nova dimensão, sustentada nos direitos humanos, procurando expressar a importância da promoção e do reconhecimento da pessoa com deficiência enquanto cidadã em seu pleno direito. “Esse novo enfoque conduziu à formulação de normas e regulamentos baseados na valorização da pessoa, no fortalecimento do indivíduo e de sua família e sua plena integração à sociedade”, nos diz Canziani (2006, p. 253)

Entre os fatores determinantes ao processo de inclusão e conquistas de direitos das pessoas com deficiência nos últimos anos, destaca-se o incentivo à prática de ações afirmativas, como a implementação de políticas públicas impostas pelo governo em função das recorrências dos manifestos da população.

Geralmente essas exigências são organizadas pelos movimentos de grupos de interesses, os quais exercem a função de representantes das vontades e necessidades dos grupos vulneráveis, promovendo meios de trabalhar a imagem das pessoas com deficiência a fim de incluí-las no mesmo patamar dos demais cidadãos que possuem direitos e deveres junto à sociedade. Decorrente disso, criaram-se ações afirmativas para a promoção da quebra de paradigmas em relação a conceitos históricos e culturais arrastados pela sociedade.

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seus direitos, viabilizando a reciprocidade nas trocas do convívio social, permitindo o pleno exercício da cidadania.”

A dependência de terceiros, devido à suposta incapacidade de realizar tarefas ou tomar decisões, impunha-se em função da limitação social e cultural com a qual conviviam essas pessoas.

Desde o início da movimentação pela busca dos direitos, a sociedade conta com o empenho das próprias pessoas com deficiência em parceria com pessoas defensoras da causa, com o objetivo de reverter esse quadro. O objetivo em questão é criar meios para que a prática e execução de tarefas cotidianas sejam realizadas pelas pessoas com deficiência como um ato igualitário ao das demais pessoas que não possuem nenhum tipo de comprometimento, seja ele físico ou cognitivo, ou seja, de forma normal e independente.

Para que isso ocorra de forma bem sucedida, é preciso que se entenda qual o real significado de normalidade.

“Ocorre, muitas vezes, que o princípio da normalização tem sido mal entendido. Normalizar não significa fazer "normal" as pessoas que têm algum tipo de deficiência, impondo-lhes a "norma" ou forçando-os a praticar "coisas normais". A normalização, pelo contrário trata de contribuir para que as pessoas que têm sido “desvalorizadas" obtenham um papel valorizado dentro da família e da comunidade” (CANZIANI, 2006, p. 257-258).

Em outras palavras, significa, também, que os serviços ofertados devem trazer dignidade e respeito a essas pessoas e contribuir para que adquiram habilidades e experiências pessoais que sejam valorizadas pela sociedade.

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Dentro desse contexto, identifica-se a necessidade de pesquisas que colaborem com o desenvolvimento de ferramentas digitais, pois se trata de uma importante tecnologia que conta com o dinamismo e as constantes atualizações a favor das pessoas com deficiência. Proporcionando, assim, autonomia a seus usuários na realização de diversas tarefas, tornando normais ações cotidianas, as quais anteriormente eram submetidas à dependência de terceiros.

Com o propósito de colaborar com os processos de inclusão social das pessoas com deficiência nos países, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou um princípio de regulamentação para os processos, com o objetivo de nortear as ações, estabelecendo regras e finalidades, afim de impulsionar trabalhos destinados às pessoas com algum tipo de deficiência.

Desde 1948, a ONU atua em prol do reconhecimento dos direitos humanos. Ao longo desse período, foram ratificados tratados internacionais, com o propósito de garantir a proteção e os direitos a grupos colocados à margem da sociedade. Grupos apontados como vulneráveis, que, por sua vez, apresentam-se em condições fragilizadas frente às exigências estabelecidas pela sociedade.

Entre as categorias beneficiadas com o compromisso de proteção dos tratados internacionais da ONU, encontram-se minorias raciais, mulheres, pessoas submetidas à tortura, crianças e migrantes. Desde agosto de 2008, no Brasil, pessoas com deficiência também têm o respaldo de um tratado internacional que visa a garantir e fiscalizar os direitos de inclusão, reservados a essas pessoas.

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“A dedicação conferida aos grupos vulneráveis faz-se necessária para que aqueles direitos universais de natureza individual e social encontrem instrumentos jurídicos hábeis a torná-los eficazes. Logo, cada convenção internacional, assim como a presente, implica uma retomada de todas aquelas liberdades individuais e daqueles direitos sociais por intermédio de princípios jurídicos especificamente aplicáveis, a cada grupo vulnerável. Defender as minorias, significa, portanto, preservar os Direitos Humanos de todos, para que a maioria democrática não se faça opressiva e possa legitimar-se pela incorporação das demandas de cada grupo humano, preservando-se a ideia de igualdade real a ser assegurada pelo Direito”. (FONSECA, s/a, s/p)3

Em 01 de agosto de 2008, a convenção da ONU que garante os direitos das pessoas com deficiência foi aprovada com força de norma constitucional pelo Brasil. Esse documento implica respaldos jurídicos, que têm por missão assegurar direitos humanos ao cidadão com deficiência, como o de ir e vir, de acessibilidade a informação e comunicação, de participação política, assim como os direitos básicos de saúde, ao emprego, à educação, à cultura, ao lazer, aos esportes, à moradia etc.

O documento da Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência está dividido em cinquenta artigos, nos quais os trinta primeiros descrevem a garantia dos direitos humanos básicos, sendo que os três primeiros artigos definem novos conceitos sobre os aspectos que influenciam diretamente a prática da inclusão.

A segunda parte do instrumento jurídico em referência, ou seja, os artigos trinta e um ao cinquenta descrevem as questões fiscalizadoras dos direitos garantidos na primeira parte do documento. Portanto, a segunda parte estabelece mecanismos de fiscalização quanto a sua prática, acompanhamento e monitoramento dos Estados Membros envolvidos.

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Segundo Fonseca (s/a, s/p), “a ONU trouxe conceitos revolucionários para a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.” Desses novos conceitos, daremos destaque a alguns deles, os quais podemos apontar como primordiais no escopo dessa pesquisa de mestrado. Faremos citações de alguns dos artigos que justificam a preocupação do aprimoramento dos aspectos que envolvem os processos de Comunicação com e das pessoas que possuem algum tipo de deficiência.

O documento da convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência abre em seu primeiro capítulo, já intitulado como “Propósito”, a descrição da proposta dos cinquenta artigos referenciados no documento. “O propósito da presente Convenção é o de promover, proteger e assegurar o desfrute pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades

fundamentais por parte de todas as pessoas com deficiência, e promover o respeito pela sua

inerente dignidade.”(apud FONSECA, s/a, s/p).

Ainda neste mesmo capítulo, a convenção apresenta uma definição inovadora sobre as pessoas com deficiência. Para o entendimento da Convenção da ONU, “pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os

quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva

na sociedade com as demais pessoas”. O Dr Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, em seu

artigo de comentários sobre a Convenção, define as deficiências como o que resulta "da interação entre aqueles e as barreiras atitudinais e ambientais que impedem a plena e efetiva participação das pessoas com deficiência na sociedade, em igualdade de oportunidades com as demais” (s/p). Portanto, vivemos um período em que o olhar mais correto sobre as deficiências é compreender que as limitações decorrentes a ela não são apresentadas pela pessoa, mas sim pelo despreparo social em oferecer condições adequadas para recebê-las e inseri-las na sociedade.

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paradigmas culturais, visando a modificação do atual cenário social que se apresenta contrário à interpretação da convenção em questão.

No capítulo dois desse documento, encontramos a definição de vários termos

essenciais para a aplicação da acessibilidade na sociedade. Dentre eles, encontra-se a

definição mais significativa para essa pesquisa, ou seja, o que se entende como Comunicação

efetiva. Este é o primeiro conceito a ser definido e encontra-se no artigo dois, intitulado

como "Definições. Segundo definição da ONU:

"´Comunicação´ abrange as línguas, a visualização de textos, o braile, a comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos de multimídia acessível, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizada e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, inclusive a tecnologia da informação e comunicação." (apud FONSECA, s/a, s/p)

Já no artigo três, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência incorpora os seguintes princípios:

"O respeito pela dignidade inerente, independência da pessoa, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e autonomia individual; A não-discriminação; A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; A igualdade de oportunidades; A acessibilidade; A igualdade entre o homem e a mulher; e O respeito pelas capacidades em desenvolvimento de crianças com deficiência e respeito pelo seu direito a preservar sua identidade.” (apud FONSECA, s/a, s/p)

De acordo com os comentários de Fonseca, entre os princípios enumerados pelo artigo três,

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Assim, entende-se que, a partir da regulamentação da Convenção, a deficiência deve ser entendida pela sociedade como uma característica inerente ao homem. Característica tal que deve ser respeitada por todos, não sendo entendida como fator impeditivo para a realização de nenhuma ação individual.

Entre os direitos reservados, inclui-se o rompimento de barreiras que impedem o acesso aos recursos digitais. Nesta pesquisa de mestrado, visamos a colaborar com o desenvolvimento dos aparatos digitais, os quais podem ser apresentados às pessoas com comprometimentos visuais, como uma das principais ferramentas a oferecer meios de realizar determinadas tarefas em condições de igualdade com as demais pessoas.

Entre os trinta primeiros artigos prescritos, a Convenção aborda, em seus três artigos primeiros, conceitos e princípios trazidos pela ONU, portanto, observa-se que a intenção do novo tratado é trazer novas bases de referência para a efetivação da inclusão. Os efeitos práticos a que se referem os primeiros artigos desse documento estão ligados aos diversos direitos, inclusive os reservados às pessoas com deficiência. Ainda nessa primeira parte de descrição de direitos, encontram-se os artigos nove e vinte e um, artigos que se referem diretamente aos direitos comunicacionais. A comunicação digital se encontra em posição de destaque na descrição dos seguintes artigos 9 e 21, sobre os quais passamos a discorrer.

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Informações, comunicações e outros serviços, inclusive serviços eletrônicos e serviços de emergência.

Os Estados Partes deverão também tomar medidas apropriadas para: Desenvolver, promulgar e monitorar a implementação de padrões e diretrizes mínimos para a acessibilidade dos serviços e instalações abertos ou propiciados ao público; Assegurar que as entidades privadas que oferecem instalações e serviços abertos ou propiciados ao público levem em consideração todos os aspectos relativos à acessibilidade para pessoas com deficiência; Propiciar, a todas as pessoas envolvidas, uma capacitação sobre as questões de acessibilidade enfrentadas por pessoas com deficiência; Dotar os edifícios e outras instalações abertas ao público de sinalização em braile e em formatos de fácil leitura e compreensão; Oferecer formas de atendimento pessoal ou assistido por animal e formas intermediárias, incluindo guias, leitores e intérpretes profissionais da língua de sinais, para facilitar o acesso aos edifícios e a outras instalações abertas ao público; Promover outras formas apropriadas de atendimento e apoio a pessoas com deficiência, a fim de assegurar-lhes seu acesso a informações; Promover o acesso de pessoas com deficiência a novos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, inclusive à internet; e Promover o desenho, o desenvolvimento, a produção e a disseminação de sistemas e tecnologias de informação e comunicação em fase inicial, a fim de que esses sistemas e tecnologias se tornem acessíveis a um custo mínimo.

O artigo 21, que trata da liberdade de expressão e de opinião, e do acesso à informação, diz que os Estados Partes deverão tomar todas as medidas apropriadas para assegurar que as pessoas com deficiência possam exercer seu direito à liberdade de expressão e opinião, inclusive à liberdade de buscar, receber e fornecer informações e ideias, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas e por intermédio de todas as formas de comunicação de sua escolha, conforme o disposto no Artigo 2 da Convenção.

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tecnologias apropriadas a diferentes tipos de deficiência, em tempo oportuno e sem custo adicional; Aceitação e facilitação, em trâmites oficiais, do uso de línguas de sinais, braile, comunicação aumentativa e alternativa, e de todos os demais meios, modos e formatos acessíveis de comunicação, escolhidos pelas pessoas com deficiência; Instância junto a entidades privadas que oferecem serviços ao público em geral, inclusive por meio da internet, para que forneçam informações e serviços em formatos acessíveis, que possam ser usados por pessoas com deficiência; Incentivo à mídia, inclusive aos provedores de informação pela internet, para tornarem seus serviços acessíveis a pessoas com deficiência; e Reconhecimento e promoção do uso de línguas de sinais. (Convenção s/a, s/p)”

De acordo com a opinião de Fonseca,

“A liberdade de expressão, de opinião e de acesso à informação se viabilizará pela adoção de tecnologias que possibilitem a difusão de linguagens especiais, como aquelas utilizadas por cegos e surdos; a instrumentalização desses objetivos está hoje assegurada pela aplicação da informática e de procedimentos para a inclusão de intérpretes de línguas e sinais...” (s/a, s/p)

Portanto, os sistemas de comunicação mediados pela tecnologia se tornam

responsáveis por um dos principais meios que visa solucionar o acesso à informação,

liberdade de expressão e outros atributos vinculados ao crescimento de uma população.

Decorrente dessa movimentação, organismos de defesa criados para desempenhar a função de mediador das manifestações, entre as pessoas com deficiência e o governo do estado, assumem também o papel de fiscalizadores das ações desenvolvidas sob o cumprimento dos artigos prescritos pela Convenção da ONU.

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Pessoa com Deficiência (antiga Corde), Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE).

Segundo informações disponíveis no site da Secretaria Nacional das Pessoas com Deficiência (http://portal.mj.gov.br/corde/), em 2009, a então Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde) foi elevada a Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD). Isso aconteceu em 26 de junho de 2009 pela Lei 11.958 e Decreto 6.980, de 13 de outubro de 2009, sendo a Subsecretaria o órgão da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) responsável pela articulação e coordenação das políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência.

Nesse mesmo site encontramos que a nova Subsecretaria ganhou mais importância no momento em que o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados na sede da ONU, em Nova York, em 30 de março de 2007. A referida convenção ganhou status de Emenda Constitucional, quando foi aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008 e pelo Decreto do Poder Executivo nº 6.949 de 25 de agosto de 2009 conforme o procedimento do § 3º do art. 5º da Constituição. Hoje a Convenção, juntamente com leis específicas, dá suporte à política nacional para a inclusão da pessoa com deficiência.

A Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) também tem como sua atribuição coordenar e supervisionar o Programa Nacional de Acessibilidade e o Programa de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Esses programas pretendem estimular os setores, públicos e privados, para que as políticas e programas contemplem a promoção, a proteção e a defesa dos direitos da pessoa com deficiência.

(29)

de audiências, consultas públicas e câmaras técnicas, envolvendo as pessoas com deficiência nos assuntos que as afetem diretamente e indiretamente.

Também cabe à Subsecretaria coordenar tanto as ações de prevenção e eliminação de todas as formas de discriminação contra a pessoa com deficiência, buscando a prevenção e o enfrentamento das mais variadas formas de exploração, violência e abuso de pessoas com deficiência quanto às ações de promoção, garantia e defesa de tudo o que é previsto pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, mediante o desenvolvimento de políticas públicas de inclusão.

É tarefa da SNPD apoiar e estimular a formação, articulação e atuação da rede de Conselhos de Direitos das Pessoas com Deficiência nos estados e municípios, através de convênios, termos de parceria, acordos e congêneres. Esses mesmos convênios e termos de parceria financiam a realização de estudos e pesquisas sobre temas relativos à pessoa com deficiência para a formulação e implementação de políticas a ela destinadas, monitorando seus resultados.

Também são atribuições da nova Subsecretaria a realização de campanhas de conscientização pública, buscando promover o respeito pela autonomia, a equiparação de oportunidades, a inclusão social da pessoa com deficiência e a coordenação da produção, sistematização e difusão das informações relativas à pessoa com deficiência.

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No âmbito internacional, cabe à Subsecretaria colaborar com as iniciativas de projetos de cooperação sul-sul e de acordos de cooperação com organismos internacionais no que tange à área da deficiência.

Já o CONADE - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência - é um órgão superior de deliberação colegiado criado para acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer e política urbana dirigidos a esse grupo social. O CONADE faz parte da estrutura básica da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República ( Lei 10.683/03, art. 24, parágrafo único).

Segundo o IBGE, Censo 2000, no Brasil existem 24,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência ou incapacidade, o que representa 14,5% da população brasileira.

De acordo com o site do CONADE (http://portal.mj.gov.br/conade), este órgão foi criado pelo governo brasileiro "para que essa população possa tomar parte do processo de definição, planejamento e avaliação das políticas destinadas à pessoa com deficiência, por meio da articulação e diálogo com as demais instâncias de controle social e os gestores de administração pública direta e indireta.”

A nível estadual, a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo define como sua missão "garantir o acesso das pessoas com deficiência no Estado de São Paulo a todos os bens, produtos e serviços existentes na sociedade." Para isso, deverá

promover ações com o propósito de gerar a melhoria na Qualidade de Vida da pessoa com

deficiência, envolvendo a participação das mesmas em todos os processos vinculados a esse

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Conforme observado, os organismos criados para proteção e desenvolvimento dos assuntos que se referem à inclusão das pessoas com deficiência obedecem a modelos similares de políticas integradas, voltados aos aspectos da promoção dos direitos das pessoas com deficiência. Os referidos órgãos utilizam os canais digitais como principal fonte de comunicação com o público assistido. O veículo que disponibiliza as informações na rede, especialmente no caso dessas secretarias, deve obrigatoriamente contemplar os recursos de acessibilidade, já que as informações dos serviços prestados à população dependem em grande parte da funcionalidade dos acessos dos seus sítios. Além disso, cem por cento do público que utiliza o site como canal de comunicação para conversar com as secretarias são pessoas que necessitam de acessibilidade em diversas áreas, inclusive na digital.

No passado, o atendimento oferecido às pessoas com deficiência era feito por meio de mecanismos improvisados para promover a realização de tarefas. Para essa prática, utilizava-se dos mesmos recursos das pessoas que não tinham necessidades de adaptações, portanto, pessoas com deficiência eram obrigadas a participar de um processo de adaptação à sociedade, já que não existia a ideia de um movimento contrário.

Segundo Canziani (2006, p. 250), “durante muito tempo a deficiência foi abordada e tratada como sendo um problema do indivíduo, e não como resultado da relação deste com o seu meio.”

A ausência de acessibilidade era fator comum para cem por cento das pessoas com deficiência, independentemente da idade, condição financeira ou região. Pessoas que frequentavam escolas ou universidades e até mesmo aquelas que já estavam inseridas no mercado de trabalho conviviam com ações emergenciais em relação à acessibilidade, em função do despreparo social predominante da época.

(32)

De acordo com afirmação feita por Fonseca (s/a, s/p), as deficiências com que convivem as pessoas com algum tipo de comprometimento sensorial, está inserida na sociedade e não nas pessoas.

Felizmente, vivemos um momento em que o movimento de política de inclusão, conforme já observado, conta com o envolvimento das pessoas e a proteção da ONU por meio da Convenção referenciada.

A inclusão social, apesar de ser assunto de discussão há várias décadas, criou força judicial a partir dos anos 90 do século passado, com o surgimento de leis de defesa e garantia de direito à cidadania. Decretos como o 5296 trouxeram mais força ao processo de reflexão jurídica, tornando evidente a necessidade do reconhecimento das deficiências sociais. Esse decreto, entre outros temas, prescreve também ações a serem tomadas em prol da inclusão digital no país.

Em 2 de dezembro de 2004, três anos antes do Brasil ratificar a Convenção da ONU

pelos direitos das pessoas com deficiência, as autoridades que trabalhavam a favor da

inclusão tinham como respaldo jurídico o Decreto 5296, o qual conforme disposto em seu

capítulo primeiro, artigo um: “regulamenta as Leis n°s 10.048, de 8 de novembro de 2000,

que dá prioridade de atendimento às pessoas com deficiência, e 10.098, de 19 de dezembro

de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da

acessibilidade”.

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Esse decreto contempla em alguns dos seus artigos, assuntos relacionados ao tema de pesquisa desse mestrado, ou seja, acesso pleno à informação e comunicação digital às pessoas que possuem deficiência visual.

Entre os nove capítulos e setenta e dois artigos que subscrevem o decreto 5296, o capítulo VI prescreve o artigo 47, o qual faz referência aos aspectos que abrangem a acessibilidade da comunicação e informação para pessoas com deficiência. Intitulado como: “Do Acesso à Informação e Comunicação”, o capítulo VI, entre outros temas relacionados à comunicação, aborda, em seu primeiro artigo, a acessibilidade de portais eletrônicos, conforme disposto no que segue.

”Art. 47. No prazo de até doze meses a contar da data de publicação deste Decreto, será obrigatória a acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede mundial de computadores (internet), para o uso das pessoas portadoras de deficiência visual, garantindo-lhes o pleno acesso às informações disponíveis. “(2004, s/p)

Portanto, de acordo com a subscrição do decreto, a partir daquela data, torna-se norma a acessibilidade nos portais governamentais, não contemplando em sua obrigatoriedade os sites de empresas privadas e e-commerce.

Conforme determinação do § 2 desse mesmo artigo, os portais eletrônicos acessíveis às pessoas portadoras de deficiência devem apresentar um selo de acessibilidade, que representa a acessibilidade na rede mundial de computadores (internet), a ser identificado nas respectivas páginas de entrada.

Cientes dessas informações, e, amparadas na lei, perguntamo-nos: os atuais sites governamentais oferecem plenas condições de acesso aos usuários com deficiência visual, conforme ordem imposta pelo decreto?

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subscrito em 2004, dentro do período estendido até 2011, apenas cinco por cento dos portais governamentais estão aptos para exibir o selo de acessibilidade, conforme regulamentação do decreto 5296. Assim, para enfatizar a informação, o grupo de pesquisa de sites Renapi afirma que de acordo com estudos realizados nos sites governamentais, cerca de noventa e cinco por cento dos sites de ordem pública ainda trabalham fora dos parâmetros da acessibilidade digital, conforme o solicitado pelo decreto.

O acesso das pessoas com deficiência ao conjunto de direitos prescritos pela Convenção exige que os profissionais envolvidos no desenvolvimento da ação sejam conhecedores das exigências legais de inclusão impostas pela União. Visto que o conhecimento das regulamentações que garante os acessos às pessoas com deficiência é um dos principais agentes responsáveis pelo sucesso da ação. Portanto, pode-se afirmar que os profissionais que detêm o conhecimento prévio sobre as regras da ABNT, seguido dos padrões do desenho universal, já terão como bagagem profissional os procedimentos de promoção à acessibilidade. Serão incorporadas em seu planejamento formas que não exigirão demasiadas adequações futuras. Segundo Adriana Prado, em seu artigo "Acessibilidade na gestão da cidade",

“Arquitetos, urbanistas, engenheiros e designers devem rever os seus projetos, deixando de criar para uma sociedade supostamente composta por pessoas perfeitas em sua forma física. Ao se planejar uma cidade ou uma edificação, ao se desenhar um veículo ou qualquer objeto, é necessário considerar a enorme diferenciação entre as pessoas, entendendo que nossa sociedade é plural, constitui-se por homens e mulheres, com tamanhos e pesos variados; por crianças e idosos; por pessoas que caminham sobre seus próprios pés ou necessitam de muletas, bengalas e cadeiras de rodas; por indivíduos que têm baixa visão ou são cegos, ou que são surdos e até mesmo aqueles que apresentam grande dificuldade de compreensão. O papel do arquiteto, entre outros, deve ser o de incluir o homem na edificação ou nos ambientes em que vive. Daí a importância de assumir o compromisso de garantir que as condições ambientais de diversos espaços permitam a qualquer indivíduo adaptar-se a elas. Para isso, torna -se imprescindível, ao desenvolver qualquer objeto ou espaço, que os mesmos contenham o conceito de desenho universal.” (2006, p. 15).

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edificação, assim como os arquitetos da informação, devem se preocupar em obedecer às regras do desenho universal, quando da construção de ambientes direcionados à participação de todos. Ambientes físicos ou virtuais devem contemplar o livre acesso de todas as pessoas, independentemente das condições físicas em que elas se apresentam.

De acordo com as definições da convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, refere Fonseca, no artigo já mencionado:

"´Desenho universal´ significa o projeto de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados, na maior medida possível, por todas as pessoas, sem que seja necessário um projeto especializado ou ajustamento. O ´desenho universal´ não deverá excluir as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando necessárias.” (s/a, s/p)

Especificamente para a criação de ambientes virtuais, ou seja, para a construção de ciberespaços que têm por meta atender a população, prestando serviços comunicacionais ou comerciais através do sistema online, via computador ou outros aparatos digitais, é importante que o conceito de desenho universal fique bem transparente. Para colaborar no desenvolvimento que se refere as questões de acessibilidade e usabilidade dos sites, existem documentos que normatizam a funcionalidade do programa.

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Segundo tradução do documento em referência, que rege a acessibilidade digital (WCAG), e publicado em 5 de Maio de 1999

"O documento visa assegurar que a interface do usuário obedeça a princípios de design para a acessibilidade: acesso independente de dispositivos, operacionalidade pelo teclado, emissão automática de voz (verbalização). Sempre que um objeto integrado tiver uma "interface própria", essa interface - tal como a interface do próprio navegador - deve ser acessível. Se a interface do objeto integrado não for acessível, deve ser fornecida uma solução alternativa." (TCU, 1999, s/p)

As especificações dadas pelo documento do (WCAG) buscam criar um desenho universal de interface, dando prioridade a todas as condições de navegação, atendendo usuários com comprometimento motores, sensoriais, cognitivos e as demais limitações funcionais, conforme prescrito na recomendação nove do documento em referência. Essa recomendação orienta a "projetar páginas considerando a independência de dispositivos" e, nesse sentido, "utilizar funções que permitam a ativação de elementos de página por meio de uma grande variedade de dispositivos de entrada de comandos." (TCU, 1999, s/p)

"Acesso [independente de dispositivos] significa que o usuário pode interagir com o agente do usuário ou com o documento por meio do dispositivo de entrada (ou de saída) de comandos de sua preferência: mouse, teclado, voz, ponteiro de cabeça, ou outro. Se, por exemplo, um controle de formulário puder apenas ser acessado com o mouse, quem estiver usando a página sem vê-la, com comandos por voz ou com um teclado, ou quem estiver usando outro dispositivo apontador, não poderá utilizar o formulário." (TCU, 1999, s/p)

Como informado em nota referente à recomendação nove, "o fornecimento de equivalentes textuais de mapas de imagem ou de imagens utilizadas como links permite que os usuários interajam com eles sem necessidade de um dispositivo”. Além disso, "geralmente, as páginas que permitem interação pelo teclado, são também acessíveis por meio das interfaces de comando por voz ou de linha de comandos". (TCU, 1999, s/p)

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interfaces - conforme regulamentações do WCAG -, estarão contempladas as adequações necessárias não só para a deficiência visual, mas também de outros comprometimentos sensoriais.

De acordo com as observações feitas por Prado,

“É importante ressaltar que em um projeto que nasce acessível, ou seja, aquele que é concebido considerando os princípios do desenho universal, seu custo não passará de 1 % sobre o custo total da obra, mas quando se tratar de adequação dos projetos já construídos, esses valores podem atingir cifras bem altas, por isso a necessidade de um plano de acessibilidade, que contemplará diferentes níveis.” (2006, p. 25)

A resistência na adaptação dos ambientes já existentes ou no planejamento pensado com acessibilidade, a fim de torná-los adequados ao uso das pessoas com deficiência, pode ser entendida como um ato de discriminação, pois conforme interpretação da ONU sobre o tema,

"Discriminação por motivo de deficiência" significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nas esferas política, econômica, social, cultural, civil ou qualquer outra. Abrange todas as formas de discriminação, inclusive a recusa de adaptação razoável" (Convenção apud FONSECA, s/a, s/p)

"Ajustamento razoável", nesse mesmo documento, é entendido como

"a modificação necessária e adequada e os ajustes que não acarretem um ônus desproporcional ou indevido, [...] a fim de assegurar que as pessoas com deficiência possam desfrutar ou exercitar, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos humanos e liberdades fundamentais”. (apud FONSECA, s/a, s/p)

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2. O ACESSO À COMUNICAÇÃO-INFORMAÇÃO PELA PERCEPÇÃO

"A comunicação é essencial ao ser humano, e, sendo essencial, deve ser assegurada como direito básico, anterior e muitas vezes fundamental a outros direitos”. Iniciamos com essa frase de Bozi (2006), pois sua posição é a que norteia este capítulo desta investigação, cujo objetivo é trazer informações que ajudem o leitor a compreender como as pessoas cegas realizam suas leituras do mundo. Ou seja, como os indivíduos que não têm acesso à informação visual conseguem realizar tarefas, decodificar mensagens e se comunicar em seu cotidiano?

Considerando a comunicação um direito fundamental, dado o fato de ser essencial, quando pensamos o potencial perceptivo humano, evidencia-se que a comunicação humana é um fenômeno sem fronteiras. Além dos sentidos priorizados pela sociedade moderna e Ocidental, há outras formas de trocas de informação.

Segundo Vilem Flusser:

“A comunicação humana é um processo artificial. Baseia-se em artifícios, descobertas, ferramentas e instrumentos, a saber, em símbolos organizados em códigos. Os homens comunicam-se uns com os outros de uma maneira não "natural": na fala não são produzidos sons naturais, como, por exemplo, no canto dos pássaros, e a escrita não é um gesto natural como a dança das abelhas. Por isso a teoria da comunicação não é uma ciência natural [...]“. (2007, p. 89)

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Em 1962, o filme "The Miracle Worker"4 contava a relação de ensino-aprendizagem entre Anne Sullivan e Helen Keller, duas mulheres nascidas nos Estados Unidos, em pleno século XIX – uma, nos conturbados anos pré-independência, e a outra, quatro anos após ela ter se concluído. O que as ligava era a experiência com a deficiência sensorial.

Anne Sullivan era filha do imigrante irlandês Thomas Sullivan e, na primeira infância, foi abusada sexualmente por seu pai, que era alcoólatra. Acometida de tracoma, Sullivan perdeu boa parte da visão, ficando quase cega. Com a morte da mãe, o pai a abandonou e ela foi recolhida por um orfanato. Frequentou o Instituto Perkins para cegos e, após algumas operações, diminuiu sua perda visual e se graduou professora em 1866.

Filha do influente capitão Arthur Keller, Helen Keller, aos 18 meses de vida, perdeu a visão e a audição por conta de uma enfermidade chamada, na época, de “febre cerebral”, provavelmente, escarlatina. Seu pai procurou o cientista Alexander Graham Bell, que indicou Anne Sullivan como professora particular para a família. Sullivan chegou à casa dos Keller em 1867, um ano após sua formatura no Perkins.

Essa aparente digressão em nosso texto não é casual, dado que nossa pesquisa investiga a relação de comunicação das pessoas com deficiência visual com um mundo supostamente invisível. Para isso, não deixaremos de aproveitar a experiência pessoal como deficiente visual nas reflexões subsequentes.

Essa implicação pessoal numa investigação de mestrado, evidentemente, exigirá cuidado com as questões de objetividade e subjetividade que presidem a construção do conhecimento acadêmico. Entretanto, estamos de acordo com um paradigma crítico de pesquisa que, especialmente, nos campos em que a ciência estabelece fronteiras entre o

(41)

mesmo e o outro, o visível e o invisível, uma pesquisa dessa natureza exige que novas epistemologias ganhem terreno.

As mulheres citadas, Helen Keller e Anne Sullivan, viveram uma realidade que as obrigou a praticar o exercício do autoconhecimento. O desafio era reconhecer seus próprios limites e derrubar barreiras impostas pela restrição da falta de um sentido: a visão. Para isso, era necessário aprimorar os sentidos que pudessem colaborar com o desenvolvimento de forma a permitir a interação com o universo ao seu redor.

A falta da visão implica potencializar os outros sentidos para que sirvam de meios de comunicação com o mundo externo, ou seja, desenvolver outros canais de percepção de forma a captar informações com o toque, o cheiro, o som etc, sempre desconsiderando a possibilidade de adquirir essas mesmas informações com o olhar, apesar de vivermos em um mundo visual, onde o moderno e o pós-moderno exploram, exageradamente, os recursos da comunicação visual.

Nesse sentido, a própria ideia de imagem para o neurocientista português, António Damásio, auxilia-nos nessa compreensão.

"Imagem designa um padrão mental em qualquer modalidade sensorial, como, por exemplo, uma imagem sonora, uma imagem tátil, a imagem de um bem-estar. Essas imagens comunicam aspectos das características físicas do objeto e podem comunicar também a reação de gostar ou não gostar que podemos ter em relação a um objeto, os planos referentes a ele que podemos ter ou a rede de relações desse objeto em meio a outros objetos. "(DAMÁSIO, 2000, p. 24-25)

Para exemplificar como as imagens podem ser construídas na mente de uma pessoa com deficiência visual, propomos uma tradução de uma imagem visual em uma imagem verbal5.

5 A imagem como sua descrição foi retirada do site

(42)

Ilustração 1: Exemplo de tradução de imagem visual em texto verbal

[Descrição de imagem: A ilustração mostra dois quadros: no da esquerda apresenta a imagem gráfica e no da direita sua descrição]6

Um valioso levantamento dessa temática foi desenvolvido por Oliver Sacks em seu livro "O olhar da mente". Nele, o autor aborda um aspecto físico sobre a falta da visão, que pode servir de explicação a percepções e vivências, tidas apenas pelas pessoas que não possuem de fato a visão. Segundo pesquisa apresentada por Sacks:

“Se o papel central das imagens mentais é permitir a percepção e o reconhecimento visual, para que elas servem se a pessoa ficar cega? E o que acontece a seus substratos neurais, as áreas visuais que ocupam quase metade de todo o córtex cerebral? Sabemos que em adultos que perdem a visão pode ocorrer alguma atrofia ao córtex cerebral - mas há pouca degeneração do córtex visual em si. Exames de ressonância magnética funcional do córtex visual não mostram diminuição de atividade em tal situação; na verdade, vemos o inverso: eles revelam atividade e sensibilidade intensificadas. O córtex visual, privado da entrada de informações provenientes da visão, continua a ser um bom terreno neural, vago e clamando por uma nova função.” (2010, p. 203)

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Portanto, o cérebro mantém a atividade geradora de imagens. Segundo Sacks, em alguns, isso pode liberar mais espaço cortical para a produção de imagens mentais; em outros, esse espaço pode ser ocupado por outras sensações.

Em 1932, Helen Keller já desenvolvera um sensível relato de sua vida por meio de um livro, no qual se evidencia a comunicação que estabelecia com o mundo que a cercava:

"Distraía-me seguindo as cercas de bucho com as mãos para colher os primeiros lírios e violetas desabrochadas que eu descobria apenas com o olfato [...]. De repente, meus dedos encontravam uma planta que eu reconhecia pelas folhas e flores [...] percebia quando mamãe e titia iam sair, pegando seus vestidos [...] Pela vibração da pancada da porta fechando, e por outras vibrações determinadas, percebia que chegara visita." (KELLER, 1939, p. 14).

Oliver Sacks, no livro já citado, apresenta um universo variado de possibilidades de receber informações, desde o contato direto com os fenômenos naturais até a valorização da linguagem, por meio da descrição em palavras. Sakcs constrói um panorama de diversas formas de comunicação entre as pessoas cegas e o mundo externo. As várias possibilidades consideradas por Sacks foram colhidas de relatos vindos de pessoas que perderam a visão em diversas situações ou idade. E em cada relato, Sacks identifica diferentes possibilidades de comunicação geradas pela mente, ou seja, capacidades individuais de visualizar imagens ou de raciocinar sobre algo, especificamente sem usar do sentido da visão.

Em sua narrativa sobre o exercício de visualização da mente, Sacks destaca entre outros exemplos de visualização, os escritos de Helen Keller. Sacks relata que:

”muitas crianças que nasceram cegas possuem memória superior e são verbalmente precoces. Podem desenvolver uma fluência tão extraordinária na descrição de rostos e lugares que os outros (e elas próprias) acabam em dúvida de que sejam realmente cegas. Os escritos de Helen Keller são um famoso exemplo que nos surpreende com sua brilhante qualidade visual”. (2010, p. 209)

Imagem

Ilustração 1: Exemplo de tradução de imagem visual em texto verbal
Ilustração 3: Gráfico indicativo do percentual de leitor   de tela utilizado para as análises
Ilustração 4: Gráfico indicativo do sistema operacional  utilizado nas análises
Ilustração 6: Gráfico indicativo da satisfação  decorrente da navegação
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Referências

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