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3. USUÁRIOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E O ACESSO À COMUNICAÇÃO DA REDE DESCRIÇÃO DO ACESSO ÀS INTERFACES DA WEB

3.2 DISPOSITIVOS DE INTERAÇÃO ENTRE USUÁRIO COM DEFICIÊNCIA VISUAL E INTERFACES DIGITAIS

3.2.2 VIRTUAL-VISION

O Virtual Vision é uma ferramenta para auxiliar pessoas com deficiência visual a utilizar com autonomia o Windows, o Office, o Internet Explorer e outros aplicativos, com menus e telas lidos por meio da voz de um sintetizador sonoro. Ele “varre” os programas em busca de informações que podem ser lidas para o usuário, possibilitando a navegação por menus, telas e textos presentes em praticamente qualquer aplicativo.

A navegação é feita por um teclado comum, através das setas, tecla tab, combinações de teclas etc., e o som é emitido por meio da placa de som presente no computador. Nenhuma adaptação especial é necessária para que o programa funcione e possibilite a utilização do computador pelo usuário com deficiência, o que dispensa o uso de sintetizadores externos.

O Virtual Vision também acessa o conteúdo presente na Internet através da leitura de páginas inteiras, leitura sincronizada, navegação elemento a elemento e listagem de hyperlinks presentes nas páginas.

Esse sintetizador de voz foi desenvolvido em 1997, a partir de pesquisas da MicroPower, com modelos de processamento de linguagem natural. É hoje o único software de leitura de telas desenvolvido nacionalmente capaz de funcionar sobre os aplicativos mais comuns utilizados na maior parte dos computadores. O programa utiliza sistema operacional do Windows e reconhece Word, Excel, Internet Explorer, Outlook, MSN, Skype, entre outros. Suas características de navegação favorecem a interação dos usuários com o computador, pois sua navegação nos textos utiliza das setas do teclado em vez de comandos especiais. Além disso, oferece resposta rápida à navegação, sendo capaz de informar a seleção de textos, conforme o usuário a realiza.

A navegação da Web no Internet Explorer pode ser feita por meio de todos os elementos da página de maneira simples e inteligível. O sistema é capaz, ainda, de informar o título de colunas de tabelas, conforme o usuário navega por suas células, eliminando, assim, uma séria dificuldade de localização para os usuários com deficiência visual. Possui capacidade de mapeamento e adaptação a aplicativos que não oferecem acessibilidade a leitores de tela, por meio de sistemas de mapas de posicionamento e até mesmo reconhecimento de gráficos que podem ser configurados pelo próprio usuário; executa a leitura de recursos do pacote office como Slides do PowerPoint, planilhas do Excel, recursos de calendário, tarefas, contatos e anotações no Outlook.

A navegação na internet com o software de voz Virtual Vision é feita por meio da tecla tab para leitura dos objetos, setas para identificação de textos e enter para acessar links ou botões. A leitura da tela com o tab percorre os elementos focalizáveis de uma página Web um a um. Os elementos focalizáveis são links, elementos de formulário como caixas de texto, caixas combinadas, caixas de opção, entre outros.

Em 1995, o Banco Bradesco recebeu uma carta de um de seus clientes com deficiência visual, que solicitava acessar sua conta através da Internet, da mesma forma que os demais clientes do banco. A ideia empolgou a Diretoria da Organização Bradesco e, por

sua determinação, a sugestão do cliente começou a tornar-se realidade através de uma parceria entre Bradesco, e MicroPower, empresa especializada em softwares.

O produto Internet Banking para Deficientes Visuais corresponde à distribuição do software Virtual Vision aos clientes com deficiência visual, com o objetivo de proporcionar o acesso do Internet Banking do Bradesco aos clientes com essa deficiência. O serviço inédito no Brasil, foi lançado pelo Bradesco em 1998.

Nesse mesmo período, o produto ganhou a atenção de Bill Gates, por ocasião de uma visita que fazia ao Brasil. A aplicação do serviço de Internet Banking para deficientes visuais foi premiada em 1999, no Computerworld Smithsonian Awards, uma importante premiação internacional na área de inovação em TI. Em 2003, o Banco Real, através da sua área de sustentabilidade, também passou a distribuir o software leitor de telas de computador aos seus clientes e funcionários com deficiência visual.

3.2.3 NVDA (NON VISUAL DESKTOP ACCESS)

O NVDA foi iniciado em meados de 2006, pelo jovem australiano Michael Curran, de apelido Mick, que, na ocasião, cursava o segundo ano de bacharelado em Ciência da Computação, mas muito tempo antes já percebera as distorções e mazelas que cerceiam o acesso das pessoas cegas ao campo tecnológico. Sendo ele cego, foi obrigado a comprar um leitor de tela comercial para uso pessoal, profissional e estudantil.

Apesar de esse leitor proporcionar acesso adequado aos computadores que Mick precisaria usar, com o passar do tempo e convívio com pessoas em situação semelhante, pelo menos três problemas ficaram claros para ele: o alto custo financeiro desses produtos, impondo restrições às pessoas e nações menos afortunadas do planeta; uma questão de

ordem técnica, que diz respeito ao condicionamento dos usuários cegos às políticas restritivas das empresas específicas que desenvolvem o software assistivo e, finalmente, o principal problema envolve aspectos morais e éticos, pois não é justo que as pessoas cegas tenham de providenciar sozinhas os meios necessários e arcar por si só com os custos das soluções assistivas para dispor de acesso às mesmas informações, proporcionadas pela tecnologia, de que as demais pessoas já dispõem.

Em razão de tudo isso, Mick resolveu abandonar por completo a faculdade de Ciência da Computação e dedicar-se a um projeto capaz de solucionar esses e outros problemas de quem necessita trabalhar em sistemas Windows, que são dominantes entre os sistemas proprietários atuais.

Para atingir esse objetivo, Mick decidiu iniciar o desenvolvimento de um leitor de telas para Windows, estabelecendo alguns princípios básicos a serem seguidos: o leitor deve ser gratuito, com o fim de facilitar a disponibilidade do mesmo e o acesso de qualquer pessoa aos mesmos sistemas dos demais leitores de tela sem custos adicionais e exorbitantes; o leitor deve ser licenciado de modo que qualquer pessoa capaz, de qualquer parte do mundo, possa contribuir para a melhoria e aperfeiçoamento deste, como adaptá-lo a necessidades específicas e redistribuí-lo; o leitor deve sempre permanecer aberto a novas ideias, sugestões e experimentos provindos de todas as partes do mundo, a fim de não limitar-se ao que já foi tentado nos produtos comerciais similares; o leitor deve, na medida do possível, seguir um "design" de fácil entendimento para programadores iniciantes, sem deixar de oferecer uma arquitetura poderosa e flexível ao máximo, que permita melhorar e implementar mais recursos e portar o programa para outros dispositivos e sistemas proprietários, quando for o caso.

Mick chamou, então, esse leitor de "Non Visual Desktop Access" ou NVDA, e escolheu como licença a, largamente reconhecida e consagrada, GPL (sigla em Inglês para "Licença Pública Geral GNU"), de autoria da Fundação para o Software Livre e adotada pelos sistemas GNU/Linux e outros. Como linguagem de programação, ele escolheu a Python, uma

linguagem de fácil aprendizado e ao mesmo tempo riquíssima em recursos, usada inclusive internacionalmente por muitos professores universitários para introduzir estudantes de Ciência da Computação ao universo da programação de computadores.

Por fim, Mick e alguns conhecidos fundaram recentemente a NV Access (acesso não visual), organização não-governamental sem fins lucrativos, destinada a desenvolver projetos e tecnologias livres que facilitem a acessibilidade para pessoas cegas e de baixa visão.

Como resultado dessa postura comunitária e cooperativa do autor e dos amigos mais próximos que o ajudaram no começo, após seis meses desde o início do projeto e divulgação do mesmo, o NVDA já contava com um pequeno time compromissado de desenvolvedores e as primeiras traduções para outros idiomas começavam a surgir. Poucos anos depois da iniciativa de Mick, a popularidade do projeto surpreende crescendo como que em progressão geométrica.

O programa já existe com tradução para português do Brasil. As qualidades técnicas de performance, estabilidade e o grau proporcionado de acessibilidade melhoram notoriamente a cada nova revisão lançada. Os usuários que querem instalar e fazer uso do NVDA encontram o link para download disponível na página da WEB: www.nvda- project.org/snapshots, onde se encontra a versão mais recente do programa.

Dentre suas características encontramos que, através de voz sintética, o NVDA permite que usuários cegos ou com deficiência visual possam acessar e interagir com o sistema operacional Windows e vários outros aplicativos. Suas principais características incluem: habilidade para rodar a partir de um cabo USB ou qualquer mídia portátil sem a necessidade de instalação; navegar na Internet com o Mozilla Firefox; instalador falado, fácil de usar; suporte para Microsoft Internet Explorer, básico para Microsoft Outlook Express / Windows mail Suporte básico para Microsoft Word e Excel; suporte para aplicativos Java acessíveis; suporte para Adobe Reader, para IBM Lotus Symphony, para o Prompt de comandos do Windows.

Até o presente momento, o NVDA foi traduzido para mais de 20 idiomas, podendo ser utilizado por usuários cegos em línguas diversas como: português brasileiro, croata, tcheco, finlandês, francês, alemão, italiano, japonês, português, russo, espanhol, chinês tradicional, polonês, tailandês, ucraniano e vietnamita.

Sendo coberto pela GNU (Licença Pública Geral - Versão 2), seu usuário é livre para compartilhar ou modificar o software da maneira que desejar, contanto que distribua a licença juntamente com o software e torne todo o código fonte disponível a todos que o queiram. Isso se aplica tanto ao software original quanto às cópias modificadas, e também a qualquer outro que utilize código retirado deste software.

A maneira mais comum de navegar pelo Windows com o NVDA, é utilizando de comandos normais do teclado, como o Tab e o Shift tab para mover-se entre os controles, pressionando Alt para ir para a barra de menu e então usando as setas para navegar entre os menus, usando Alt+tab para mover-se através de aplicativos para frente e para trás. Conforme a navegação com esses comandos, o NVDA anunciará o que estiver em foco, ou seja, o objeto identificado pelo programa. Nessa ordem, geralmente será falado o nome do objeto, seu tipo, estado, valor, descrição, teclas de atalho e informação de posição. Isso é bem similar a outros leitores de tela, no entanto, os tipos de objetos podem ser um pouco diferentes. Existem alguns comandos úteis quando estiver movendo-se com foco: INSERT+tab - reporta o foco atual, INSERT+b - lê toda a janela de primeiro plano (útil para leitura de caixas de diálogo) INSERT+t - anuncia o título da janela atual de primeiro plano.

3.2.4 JAWS

O JAWS, (Acesso Ao Trabalho Por Voz - Job Access With Speech) é um leitor de telas, ou seja, um software para usuários com deficiência visual, desenvolvido pela empresa americana Freedon Scientific. O principal objetivo da criação desse software é tornar os computadores pessoais acessíveis com o Microsoft Windows para as pessoas com deficiência visual, promovendo uma interface através da conversão de textos informativos disponíveis na tela, para voz sintetizada do computador.

O programa possibilita aos usuários a criação de scripts, os quais podem alterar a quantidade e o tipo de informações que são apresentadas nas diversas aplicações, além de oferecer um suporte de acessibilidade aos programas que não utilizam os controles predefinidos do Windows.

O JAWS foi lançado em 1989 por Ted Henter, um ex-corredor de motos que perdeu a visão num acidente de automóvel em 1978. Foi criado originalmente para o sistema operativo MS-DOS. Inicialmente, era um dos diversos leitores de telas que davam o acesso aos usuários cegos às aplicações em modo de texto no MS-DOS, o qual já não se encontra mais disponível no mercado. Essa versão anterior foi substituída pela criação do JAWS For Windows, versão criada para acompanhar os avanços tecnológicos da informática.

Em 1992, quando o Microsoft Windows se tornou mais popular, a Fridon dedicou trabalhos para uma nova versão do JAWS. O objetivo inicial do projeto não era interferir na relação entre o computador e o Windows, mas sim viabilizar a relação entre sistema e usuários cegos. Os testes iniciais e as versões beta do JAWS For Windows (JFW) foram mostradas em conferências durante os anos de 1993 e 1994. Pouco tempo depois, em janeiro de 1995, o JAWS For Windows 1.0 foi lançado pela Freedom Scientific, sendo essa primeira versão destinada aos grupos de trabalho. Inicialmente, o software de voz foi pensado para operar nos Windows 3.1 ou para o Windows 3.11.

Já em 30 de Agosto de 2002, foi lançado o JAWS 4.5 , versão que deu abertura à leitura dos elementos HTML encontrados nos sites. Mas apenas no lançamento de 2003, com a versão Jaws 5.0, o programa trouxe grandes diferenciais para o acesso à internet.

Entre os anos de 1995, ano de lançamento da primeira versão, e 2003, quando surgiram as atualizações significativas que beneficiaram a navegação na internet, houve diversos outros lançamentos de versões do Jaws, as quais sofreram gradativamente evoluções para navegação no sistema Windows.

A empresa desenvolvedora do programa, anualmente lança novas versões de atualizações com mais cobertura em relação à leitura dos elementos das telas. Em 2012, foi lançado pela Freedon, o Jaws 13, última versão do programa disponível no mercado.

O sistema de leitura durante a navegação na internet ocorre por meio do tab e shift tab para movimentação do cursor; a navegação pode contar também com o auxílio das setas para cima e para baixo, além da tecla enter para acionar os clicks dos botões.

De acordo com informações trazidas pelos usuários cegos, o Jaws é um dos programas mais utilizados entre os deficientes visuais que operam a internet, em função da sua amplitude funcional de leitura e abrangência durante a navegação dos elementos disponíveis nas telas.

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