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A INTERFACE ACESSÍVEL COMO MEDIADORA DA COMUNICAÇÃO ENTRE O UNIVERSO DIGITAL E O USUÁRIO COM DEFICIÊNCIA VISUAL

3. USUÁRIOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL E O ACESSO À COMUNICAÇÃO DA REDE DESCRIÇÃO DO ACESSO ÀS INTERFACES DA WEB

3.4 A INTERFACE ACESSÍVEL COMO MEDIADORA DA COMUNICAÇÃO ENTRE O UNIVERSO DIGITAL E O USUÁRIO COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Desde que as plataformas de acesso à internet se propagaram pelas diversas classes sociais, as pessoas com deficiência visual buscam meios para interagir com autonomia nos recursos de tecnologia da informação apresentadas pelas interfaces.

Segundo Lemos (2004), a interação homem-técnica (analógica ou digital) tem evoluído, a cada ano, no sentido de uma relação mais ágil e confortável. Vivemos hoje a época da comunicação planetária, fortemente marcada por uma interação com as informações (“bits”), cujo ápice é a realidade virtual. A interatividade digital caminha para a superação das barreiras físicas entre os agentes (homens e máquinas) e para uma interação cada vez maior do usuário com as informações, e não com objetos no sentido físico. Essa nova qualidade da interatividade (“eletrônico-digital”), como os computadores e o ciberespaço, vai afetar de forma radical a relação entre o sujeito e o objeto na contemporaneidade.

Sendo assim, considerando o momento de grandes movimentações sócio culturais em prol da inclusão, tema no qual o país se mobiliza para realizar ações de incentivo à inserção das pessoas com deficiência na sociedade, pode-se dizer que os avanços relativos aos aparatos digitais favorecem o desenvolvimento dos processos que envolvem a inclusão, na medida em que são derrubadas as barreiras comunicacionais, promovendo a interação cada vez maior entre o usuário com algum tipo de deficiência e as informações.

Para atender aos critérios que permitem essa interação, entende-se que é importante a análise de construção da interface gráfica dos sites, porque é ela que cumpre a função de mediadora entre o ambiente da informação digital e o acesso a todos os usuários, inclusive aos que possuem limitações sensoriais.

"Interface se refere a softwares que dão forma à interação entre usuários e computador, como uma espécie de tradutor das sequências de “zeros e uns” do computador. Essa mediação se torna necessária porque a lógica do pensamento humano se dá através de palavras, conceitos, imagens, sons e associações, sendo difícil compreender a linguagem de sinais e símbolos numéricos usada pelo computador". (JOHNSON apud LEMOS, 2004, p.120)

Assim, a interface gráfica desempenha o papel de traduzir, em uma linguagem amigável ao usuário, o conteúdo disponibilizado de maneira ágil e confortável, uma vez que é a plataforma de convergência e acesso às informações e serviços virtuais.

No caso das pessoas com deficiência visual, essa conversão de linguagem, deve oferecer meios de disponibilizar o mesmo conteúdo de informação para a tradução sonora, permitindo, assim, a execução dos softwares de voz.

Segundo Lemos (2004), a interface gráfica seria, então, o meio (“hardware”, “software”, ou os dois) no qual se dá o processo de interatividade. É no “espaço-interface” que se dá a interatividade. Ainda para o autor, a interface digital atua, consequentemente, como um mediador cognitivo.

Dessa forma, o entendimento das etapas obrigatórias para a execução de uma tarefa online está diretamente vinculado à clareza dos direcionamentos apresentados pelos mapas cognitivos dos sites, ou seja, pela eficácia na engenharia de construção das interfaces.

Para isso, existem documentos oficiais que orientam os profissionais em design de páginas web a desenhar as interfaces de modo a não produzir telas seletivas, que impeçam o acesso de uma parcela de usuários.

Segundo explicações dadas pela empresa MicroPower, é necessário que as interfaces sejam construídas com acessibilidade, pois, para o leitor capturar essas informações, os programadores tem que deixá-las disponíveis. Para isso, existem normas internacionais que regem esse processo. Normas fáceis de se conseguir, como por exemplo, no W3C, acessível a

qualquer programador, independentemente da linguagem que ele escolha para programar. Entretanto, para ser acessível, ele deve ser programado obedecendo as regras.

Além disso, é preciso deixar algumas dicas para que seja possível que o leitor de telas reconheça a informação. Diz-nos um dos técnicos: "Nas páginas web por exemplo, se você desenhar a página com flash ou com imagem e não colocar a descrição da imagem ou do flash, o leitor de telas não vai conseguir fazer a leitura dessas informações." (informação verbal em 27/07/2011)

Uma das linguagens mais utilizadas em websites é o Flash. Sendo uma linguagem de programação por imagem e animação, e relativamente nova, as questões de acessibilidade não são respeitadas por alguns programadores. O Flash pode ser acessível desde que o programador se disponha desenvolvê-lo dentro dos padrões de acessibilidade.

Os padrões de acessibilidade referidos pelos técnicos da empresa MicroPower, são estabelecidos com base nas recomendações do (WCAG) Web Content Accessibility Guidelines, publicado pela WAI – Web Accessibility Initiative, mantida pelo W3C – World Wide Web Consortium. Conforme declaração de Tim Berners-Lee, diretor do W3C (apud autor,ano,p. ), “the power of the Web is in its universality. Access by everyone regardless of disability is an essential aspect”.

Segundo tradução do documento em referência, que rege a acessibilidade digital (WCAG), feita pela designer Cláudia Dias, auditora da tecnologia da informação do Tribunal de Contas da União (TCU), publicado em 5 de Maio de 1999:

"O documento visa assegurar que a interface do usuário obedeça a princípios de design para a acessibilidade: acesso independente de dispositivos, operacionalidade pelo teclado, emissão automática de voz (verbalização). Sempre que um objeto integrado tiver uma "interface própria", essa interface -- tal como a interface do próprio navegador deve ser acessível. Se a interface do objeto integrado não for acessível, deve ser fornecida uma solução alternativa." (TCU, 1999, s/p)

As especificações dadas pelo documento do (WCAG) buscam criar um desenho universal de interface, dando prioridade a todas as condições de navegação, atendendo usuários com comprometimento motores, sensoriais, cognitivos e as demais limitações funcionais, conforme prescrito na recomendação nove do documento em referência. Essa recomendação orienta a "projetar páginas considerando a independência de dispositivos" e, nesse sentido, "utilizar funções que permitam a ativação de elementos de página por meio de uma grande variedade de dispositivos de entrada de comandos".

"Acesso [independente de dispositivos] significa que o usuário pode interagir com o agente do usuário ou com o documento por meio do dispositivo de entrada (ou de saída) de comandos de sua preferência: mouse, teclado, voz, ponteiro de cabeça, ou outro. Se, por exemplo, um controle de formulário puder apenas ser acessado com o mouse, quem estiver usando a página sem vê-la, com comandos por voz ou com um teclado, ou quem estiver usando outro dispositivo apontador, não poderá utilizar o formulário." (TCU, 1999, s/p)

Como informado em nota referente à recomendação nove, "o fornecimento de equivalentes textuais de mapas de imagem ou de imagens utilizadas como links permite que os usuários interajam com eles sem necessidade de um dispositivo”. Além disso, "geralmente, as páginas que permitem interação pelo teclado, são também acessíveis por meio das interfaces de comando por voz ou de linha de comandos".

Assim, uma vez trabalhada a acessibilidade dos elementos que compõe as interfaces, de modo a navegar com o apoio dos dispositivos sonoros, estão contempladas as adequações necessárias não só para a deficiência visual, mas também as necessidades de outros comprometimentos sensoriais.

Construir uma interface com acessibilidade plena das informações exige a prática de um trabalho em conjunto, em que profissionais de design e usabilidade façam o mesmo trajeto, compactuando opiniões sobre o funcionamento das páginas.

"Chegamos a um ponto em que os vários meios de comunicação evoluem tão rapidamente que os inventores e os profissionais se amalgamaram numa unidade holística, como um laboratório de ciência que abrigasse um seminário sobre escrita criativa. Não há artistas que

trabalhem no meio de comunicação da interface que não sejam, de uma maneira ou de outra, também engenheiros." (JOHNSON, 2001, p.17)

O técnico A, que possui deficiência visual e desempenha também a função de elaborar testes de acessibilidade das páginas antes de serem colocadas na rede, afirma que:

“ Seguir os padrões de acessibilidade não diminui em nada a qualidade do site, inclusive tem os mesmos recursos pra quem enxerga. Esses termos de acessibilidade, não são apenas para o leitor de tela. Hoje mundialmente se usa o termo usabilidade para as pessoas com baixa visão, os idosos, as crianças, que também precisam de um padrão e o W3C oferece esse padrão, dando usabilidade e acessibilidade para todas as pessoas, sem diminuir nenhum dos recursos que ele se dispõe a fazer. É só o programador realmente seguir as normas”. (informação verbal em 27/07/2011)

O mesmo técnico refere, ainda, que existem alguns programas que fazem uma varredura básica, mas a melhor forma de se certificar sobre a acessibilidade do site é realmente contatar uma consultoria e fazer testes de navegação para homologação dessas páginas, porque nem sempre os resultados que esses programas se dispõem a fazer mostram o que acontece de real para as pessoas com deficiência visual.

Ainda A cita o site www.domvirtua.com.br do desenvolvedor Luiz Eduardo. O usuário fez um teste desse site com um avaliador conhecido, que acusou vários erros de acessibilidade. Na opinião de A "não existe nenhum ponto da tela desse site que eu, como usuário cego, não consiga navegar. Então, os erros apresentados muitas vezes estão nas codificações, que não fazem diferença nenhuma para o usuário." Por isso, insiste que "a melhor forma de avaliar páginas de websites quanto à acessibilidade é por meio de uma pessoa especializada" (informação verbal em 27/07/2011)

Assim, conforme declaração feita pelo técnico da MicroPower, os avaliadores de websites são treinados para fazer uma inspeção referente à acessibilidade interna da página.

Esses avaliadores apresentam, como resultado dessa varredura, um panorama das decodificações da tela, ou seja, uma verificação relativa aos sinais e códigos utilizados pelos

desenvolvedores durante a construção da interface. Ao passo que os testes feitos pelo usuário, conferem a funcionalidade do conjunto de componentes da interface.

Além disso, para assegurar a usabilidade da interface gráfica para a interação das pessoas com deficiência visual, segundo a empresa, a forma mais segura de verificação é submeter o funcionamento das interfaces digitais a métodos de análise com participação do usuário final no processo de inspeção.

A declaração do técnico da MicroPower, referente aos processos de certificação das páginas, pode ser entendida como uma breve introdução para o assunto que será abordado no próximo capítulo dessa pesquisa, qual seja, os estudos de casos que apontam para as a arquiteturas de interfaces digitais, sob o ponto de vista da acessibilidade.

4. RELATOS DE CASOS: DIFERENTES MODELOS DE PROMOÇÃO DA

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