Repositório Institucional UFC: Humor e humanidade escrevem linhas e entrelinhas por um mundo melhor

Humor e humanidade escrevem linhas

e entrelinhas por um mundo melhor

Entrevista com

Neno Cavalcante,

dia 27/01/99.

Produção, redação,

edição

e texto

_final:

André Nogueira e Fernanda

Moreira.

Texto de abertura:

Alessandro Sales.

Part icipação:

Alan Diniz, Alessandro

Sales, Ana Javes Luz.

André Nogueira, Benedito

Teixeira, Fernanda Moreira,

Juliana Matos Brito, Pablo

Assumpção, Paulo Marcelo

Freitas, Renata Soares e

Salomão Filho.

Foto:

_Arquivo.

P o r trá s d e u m N e no C a v a lc a n te c o ra jo so, q u e sa b e c o m o n in g u ém utiliza r o h u m o r p a ra c ritic a r o s p ro b le m a s d a so c ied a d e. e sc o n d e-se u m h o m em tím id o e a p a ixo n a d o .

lu g a r, u m a c o b e r t u r a n o F o r t a le z a P r a ia H o te l, m ira n te p riv ile g ia d o , d e o n d e p e n d i a m n o ss o s

íj J

o lh a r e s d e s l u m b r a d o s c o m o s in f in i to s d o 1 ^ / o c e a n o e d o c é u , c o n f l u ê n c ia c o s t u r a d a p o r u m m á g i c o h o r i z o n te . À d ir e ita , o r i o C o c ó b a n h a o m a r c o m s u a s á g u a s , s in u o s o b r a ç o d e u m a n a tu r e z a q u e d e f i n e a s p r a i a s d o C a ç a - e - P e s c a e d a

S a b i a g u a b a E n tr e n ó s , o j o r n a l i s t a N e n o C a v a lc a n t e , f íg u r a d e u m a s im p lic id a d e q u a s e in d iz ív e l, c u ja p r e o c u p a ç ã o c o m o o u tr o p a r e c e s e r s u a in e r ê n c ia m a io r . C o m o s e v ê ,

t u d o e r a h u m a n id a d e .

M a s “ e r a ” é p r e t é r i t o m u i t o im p e r f e ito . M e l h o r . r e c e b e r m o s o p r e s e n te c o m q u e n o s b r i n d a a d iá r ia h u m a n i d a d e d e N e n o :£ ... re p re se n ta c o lu n is m o v iv o . in te n so , c rí tic o , a c o m p o r e n tr e r a r o s e s p é c im e s q u e , f ê liz m e n te , a in d a c o n ste la m u m p e d a ç o d a im p re n sa b ra sileira , a n o ite c id a p e l a o p a c id a d e d e “ v e ja s ” e “j o r n a i s n a c io n a is ” .

E s te lu z ir d a c o l u n a £ . . . e s p e l h a , c la r o , a s lin h a s e e n t r e l i n h a s d e s e u a u to r . N e la s , p o r e la s , o d i t o d e a lg u é m q u e , d e s te m id a m e n te , p u b l i c a s u a b u s c a p o r u m a s o c ie d a d e m a i s j u s t a e ig u a litá r ia , n a q u a l r e p a r ti r e d is t r i b u i r s ã o

v e r b o s d e p e r e n e c o n ju g a ç ã o . E e le o fa z , m u ita s d a s v e z e s, p e la r e q u i n t a d a v i a d o h u m o r e d a ir o n ia , g a r a n tin d o , ao e x te n s o “ l e i to r a d o ” , o g o z o d a le itu r a . E p e la e x tr o v e r s ã o d a p a l a v r a q u e o t í m i d o N e n o p r o c l a m a o p r a z e r e a d o r d o m u n d o .

A liá s , c o n s e q u ê n c i a m e d i d a d e s u a tim id e z , N e n o e s t e v e a l g o n e r v o s o d u r a n t e a e n tr e v is ta . M a s , a s s im c o m o n a te l e v is ã o , o n d e d o b r o u o a c a n h a m e n to p a r a , d ia n t e d a s c â m e r a s , d e s t il a r h o m e o p a t ic a m e n te o se u T evenen o. o s g r a v a d o r e s a c a b a r a m p o r re n d e r - s e a o é t e r d a c o n v e r s a e m p a r t ic u l a r q u a n d o a c e r v e j a c h e g o u , a fim d e e s p u m a r m e n t e s e c o r a ç õ e s n a tr i l h a d o d iá lo g o .

E c o m o o p i n i ã o n u n c a lh e f a lto u , e le fe z u m a p a n h a d o d e s e u s 2 0 a n o s d e J o r n a lis m o , d o c o m e ç o e m B ib a a o s u c e s s o d e £ . . . , p a s s a n d o p o r u m a a s s e s s o r i a p o l í t i c a e m B r a s ília , p e lo d e s b u n d e d o P ixote e p e l a e x p e r i ê n c ia te le v is iv a . S u a s r e f e r ê n c i a s p r o f is s io n a is , o p r o c e s s o d e c o n f e c ç ã o d a c o l u n a , a q u e s t ã o d a c e n s u r a , o e m b a te e n tr e o b a te n t e e o d i p l o m a , a lé m d e o u tr o s te m a s , f o r m a m o p ic tó ri c o p r o f is s io n a l d e s t a e n tr e v is ta q u e , e m b r e v e , h a v e rá o le i to r d e d e s v e l a r . Ô p a , d e s v e l a r é o n o v o , h e in ! ?

M a s h á m a is . P e l o s im b ó lic o d e s u a s p a la v r a s , p a ss e ia m im a g e n s d e b o é m i a , d e u m v io lã o q u e s e r e n a lir is m o , d e u m a F o r t a l e z a q u e s e f u g i u e n ã o s a b e o n d e s e r e f u g ia r , d a b u c ó li c a a d m i r a ç ã o p o r G u a r a m ir a n g a . I n d o a lé m , su a s p a la v r a s te n t a m d iz e r d o a m o r p o r su a s fi lh a s c o m o o r v a lh o

d e s u a v id a . N e s t e c a s o , f ic a c la r o q u e o s e n tim e n to e s t a m p a d o , d a d a s u a d im e n s ã o , tr a n s c e n d e , e m m u ito , o s m u r o s d a li n g u a g e m . F a l t a r e p r e s e n ta ç ã o p a r a ta m a n h o sig n ific a d o .

E m m e i o a t u d o is to , e m c e rto p o n to d a e n tr e v is ta , o in u s ita d o n o s a c o lh e c o m s u a s a sa s : u m b e lo p á s s a r o , c u ja e sp é c ie n in g u é m s o u b e id e n tific a r, p la n a , e sta c io n á rio , d ia n te d e n o s s a s c o n te m p la ç õ e s . M a is u m e s p e tá c u lo d a n a tu r e z a , a te n ta , e m c o n s o n â n c i a c o m o o n ír ic o q u e n o s a c a le n ta v a d u r a n te a q u e la ta r d e . N e n o , e n c a n ta d o e g e n til, c o m e n to u : “ Q u e li n d o , h e in ? E lin d o d e m a i s. S ã o v o c ê s, h e in ? ”

F i n d a a e n t r e v i s t a , a l g u n s q u e fi c a m o s u m p o u c o m a is n o s d ir ig i m o s a u m g r a n d e s a l ã o a c é u a b e r to , n a in te n ç ã o d e p r e s tig i a r o p ô r - d o - s o l , p o é ti c o f e c h o d e u m a ta r d e q u e s e c o n s t r u iu e m b a s e s d e a p r e n d i z a g e m , d e a m iz a d e , d e s im p lic id a d e , d e h u m a n id a d e .

Neno C avalcante

_{E ntrevista}

Op r im e ir o c o n t a t o c o m N e n o se d e u p o r t e le f o ­ n e Ele lo g o a c e it o u o c o n v it e p a ra se r e n t r e ­ v ist a d o , m a s d isse q u e n ã o e n t e n d ia o p o r q u ê d a e s c o lh a d e s e u n o m e .

A p r o d u ç ã o t e v e d if ic u l­ d a d e s e m e n c o n t r a r m a t é r ia s q u e f a la sse m so b r e o jo m a list a . O p r ó ­ p r io N e n o e x p lic a : j o r ­ n a lis t a é p a r a e s c r e v e r n o t íc ia e n ã o se r n o t i­ c ia .

4 4

E n tre v ista - N eno, p ra com eçar, co m o é q u e você a va lia a co lu n a " £... ” se n d o um a d a s p o u c a s re p re­ se n ta n te s d o jo rn a lism o crítico, p r in ­ cipa lm en te no C eará?

Neno Cavalcante

- B o m , a c o l u ­ n a c u a v a li o d a s e g u i n te m a n e ir a : é u m a c o l u n a f e ita c o m m u i ta s in c e r i d a - d e . E u p o s s o , n a h o r a e m q u e e s t o u e s c r e v e n d o J á p o s s o t e r e r r a d o m u ita s v e z e s . C e r ta m e n te e r r e i. M a s h á h o r a e m q u e e s c r e v i, e u e s t a v a a c r e d i ta n d o n a q u ilo . E n tã o , e u d ir ia q u e e la é u m a c o l u n a b e m in t e n c io n a d a e n ã o te m o s e n t im e n to d e m e d o .

E n tre vista - C om o é p a ra você tr a b a l h a r d e n tr o d e s s e g ê n e r o jo rn a lístic o de m a n eira crítica a ce r­ co d o s a ssu n to s cotid ian os, q u a n d o o colunism o, em su a m aioria, tem co m o a ssu n to p rin c ip a l o s a co n te­ cim en to s d a sociedad e?

Neno Cavalcante

- É p o r q u e te m v á r io s t i p o s d e c o l u n a n é ? A c o lu ­ n a “ E ...” n u n c a fo i u m a c o l u n a so c ia l. D a í, a g e n te t e r s e m p r e a

p r e o c u p a ç ã o c o m o s o c ia l, m a s n ã o c o m o society, c o m a f u t i l i d a - d e . E n tã o , e u a c h o q u e e l a lu ta , te n t a d e s e m p e n h a r u m p a p e l im ­ p o r t a n te p a r a a s o c ie d a d e .

E n tre vista - Neno, co m o é q u e você vê o co lu nism o qu e ê h o je f e i t o n o B r a s il? E s s e co lu n ism o está m a is p a ra a in ­ dependência, está m a is p a r a a criticid ade ou está m ais p a ra a a n em ia , está m ais p a ra a oficia ­ lid a d e ?

Neno Cavalcante

- E u a c h o q u e o c o lu n is m o é m e n o s p a r a a o f i c i ­ a li d a d e d o q u e o s p r ó p r io s v e íc u lo s . A g o r a , d e p e n d e d a c o lu n a . Q u a n d o

v o c ê p e g a u m a c o lu n a - e u n ã o te n h o v is to - d o B o e c h a t (R ica rd o B oechat, co lu n ista d o jo r n a l O G lo bo e do p ro g ra m a B om D ia B rasil, d a R ed e G lob o) n ã o é u m a c o l u n a q u e s e a p r o ­ x im e d o o f ic ia l, d a n o tí c ia c h a p a b r a n ­ c a . A g o r a , h á c o lu n i s t a s e c o lu n is ta s , n é ? E , c o m r e la ç ã o a e s s e c o m p r o m e ­

ti m e n t o , a g e n te te m q u e a v a li a r t a m ­ b é m o c o m p r o m e t im e n to d a e m p r e s a

e n ã o s ó d o c o l u n i s t a

No

C e a r á , te m m u ito c o lu n i s t a - n ã o q u e r o p a r e c e r q u e e s t o u q u e r e n d o a g r e d i r u m c o le g a d e p r o f is s ã o , m u ito e m b o r a q u e m fa z c e r to t i p o d e c o is a e u n ã o c o n s i d e r o c o l e g a c o m o a c h o q u e v o c ê s ta m b é m n ã o c o n s i d e r a m - q u e u s a a c o l u n a e m b e n e f í c io p r ó p r io . N ã o é s ó n o C e a r á , te m n o R i o (de Ja n eiro ), te m e m S ã o P a u lo , te m e m B r a s í l i a p r i n c ip a l m e n ­

te , m a s e u a in d a a c h o a c o l u n a o e s p a ç o m a i s lid o d e n tr o d o j o r n a l.

E n tre vista - A su a colu na tem os tra ços bem m a rca n tes d a ch am ada a n á lise d e conjuntura. Você a n a li­

sa os fa to s q u e acon tecem , os fa to s s ô c io -p o litic o s d o P aís, m a s, ao m esm o tem po, você te n ta tam bém tra zer a s s u n to s b em p o n tu a is do C e ará e de F ortaleza. H á um a te n ­ tativa d e e q u ilib ra r essa s a b o rd a ­ g e n s ?

Neno Cavalcante

- H á s im . P o r m im , te r ia m a i s , b e m m a is c o is a s lo ­ c a is . S ó q u e

o

C e a r á é m u i to p e q u e n o , o C e a r á n ã o d e c i d e c o i s a a lg u m a . É o

n o s s o u n iv e r s o a q u i, t u d o b e m , m a s a g e n te n ã o p o d e ig n o r a r u m F e r n a n d o H e n r iq u e (.F ern a n d o H en riq u e C a r­ doso, p re sid en te d a R ep ú b lica en ­ tre o s a n o s d e 1995 e 1998 e reeleito p a r a um se g u n d o m a n d a to q u e c o ­ m eç o u em 1 9 9 9 e va i a té 2002. F ern a n d o H en riq u e C a rd o so é alvo d e várias crítica s n a co lu n a ''£ ... ”), a g e n te n ã o p o d e ig n o r a r u m P a u lo M a l u f (ex -p re feito e ex -g o vern a d o r d e S ã o P aulo ), u m A n t ô n i o C a r lo s

M a g a lh ã e s (sen a d o r d a R ep ú b lic a p e lo P F L e p re sid en te do S en a d o e d o C o ngresso N a cio na l, q u e p o ssu i um g r a n d e p o d e r d e d e c is ã o no P aís). M a s a in f o r m a ç ã o lo c a l, e u a c h o m a is i m p o r t a n te e m a i s c u r io s a .

E n tre vista - £ q u a l a im p o rtâ n ­ cia do jo rn a lism o crític o e p o r qu e ele é tã o p o u c o u tiliza d o p e la m a io ­ ria d o s ó rg ã o s d e im pre nsa ?

Neno Cavalcante

- B o m , a í é q u e tá . É d e u m a im p o r tâ n c ia f u n d a m e n ta l, p o r q u e s e n ã o f o s s e o j o r n a l i s m o c r iti­ c o a p o p u la ç ã o f i c a r i a s e m s a b e r d e ta n t a c o is a , n ã o é ? M a s a í v o c ê m e p e rg u n to u ?

E n tre vis ta - P o r q u e é tão p o u c o utiliza do p e lo s ó rg ã o s d e im prensa ?

Neno Cavalcante

- A h , s im . E u a c re d ito q u e h o je e m d ia , ta lv e z , e u n ã o sei n e m s e a m i n h a c o l u n a c o m e ç a s s e . P o r q u e d e p o is q u e c o m e ç a , a í j á f ic a

d if íc il e le s a c a b a r e m . M a s u m a v e z e u j á o u v i a m u l h e r d e u m p a tr ã o d iz e r q u e a s p e s s o a s c o b r a v a m m u ito d e le : “ P o r ­ q u e a q u e l a c o lu n a , a q u e l e e s t il o d e c o lu n a , s ó f a z a t a c a r n o s s o s a m i g o s ” . E n tã o , e u a c h o q u e s ã o m o t iv o s ó b v io s

“ E u p o s s o , n a h o r a e m

q u e e s to u e s c r e v e n d o , j á

p o s s o t e r e r r a d o m u ita s

v e z e s . C e r t a m e n t e e r r e i.

M a s n a h o r a e m q u e

e s c r e v i, e u e s t a v a

a c r e d i t a n d o n a q u i l o .”

q u e fa z e m a s e m p r e s a s n ã o a d o ta r e m e s s e ti p o d e c o lu n a , a liá s m u ito tr is te p a r a n ó s ; e l e s p r e f e r e m a q u e la c o is a c a r e t in h a , b a ju l a ti v a , c o m ra r ís s im a s e x c e ç õ e s .

E n tre vis ta - Neno. qu a is sã o as va n ta g en s e d esva nta gens da s co ­ lu n a s cr itic a s so b re as qu e ap en as se re strin g em a d iv u lg a r os fa to s se m o p in iã o nen hum a?

Neno Cavalcante

- B o m , p r im e i­ r o , se v o c ê s i m p l e s m e n t e v a i n o tic ia r u m fa to s e m e m i ti r u m a o p in iã o , se m f a z e r u m a a n á li s e a i n d a q u e rá p id a d a q u e le a s s u n to , v o c ê v a i c o m p e tir

c o m a s a g ê n c i a s d e in f o r m a ç ã o , c o m I n t e r n e t , c o m tu d o is so , e v o c ê v ai f a z e r u m a c o i s a q u e n ã o v a i a tr a ir a a te n ç ã o d e n in g u é m . A g o r a , a d e s v a n ­ t a g e m d e v o c ê f a z e r e s s e tip o d e c o lu ­ n a , e u n ã o v e j o n e n h u m a , p o r q u e ta l­ v e z a d e s v a n t a g e m f o s s e s e r d ifíc il v o c ê s e r r e m u n e r a d o , m a s c u n ã o

e s t o u b u s c a n d o isso .

E n tre vista - Você se im ag i­ na ria fa z e n d o ou tro tipo d e co ­ luna, q u e nã o opinativa?

Neno Cavalcante

- N ã o , e u n ã o m e im a g in a r ia n à o . O u tro tip o d if e r e n t e d a c o lu n a “ É ...” ? N ã o . I m a g in o n ã o . E n e m ta m b é m s o ­ b r e u m t e m a e s p e c íf ic o , a s s im : e c o n o m i a , e s p o r te o u u m a c o lu n a só p o lí ti c a , re s e n h a d a A ss e m -

b lé ia . E u n ã o te r ia o m e n o r sa c o p a r a f a z e r isso .

E n tre v is ta - Neno, você acha qu e a co lu n a so c ia l é necessá­ ria à so cie d a d e e você a cha que ela é jo rn a lism o ou é um a ver­ te n te m u ito d ista n te do jo rn a lism o ?

Neno Cavalcante

- Q u a n d o e u c o n h e c i c o l u n a s o c i a f e l a s e l i m i t a v a a d a r a q u e l a s i n f o r m a ç õ e s s ó d e “ f u l a n in h o s a i u c o m s ic r a n in h o ” o u e n tã o “ t á n a m o r a n d o c o m fu la n o , d e

lo v e . d e b o r r a c h a n o v a ” - b o r r a c h a n o v a é c a r r o (N en o explica e a turm a ri) - e e la s s e lim ita v a m a isso . D e p o is n ã o , e l a s f o r a m e v o lu i n d o p a r a d a r in f o r m a ç õ e s p o lític a s , e c o n ó m ic a s. S ó

q u e s e v o c ê q u e r s a b e r se e u a c h o n e c e s s á r io ? E u a c h o q u e te m p ú b l ic o , n é ? S e t e m p ú b li c o , e u n ã o s o u n a d a c o n t r a q u e e x is ta , n ã o . L ê q u e m q u e r.

E n tre vista - Neno, você p o d ia n o s trazer o co tid ia no da confecção d a su a c o lu n a ? C om o é o seu traba­ lh o do d ia -a -d ia p a r a escrever, p a ra co n fec cio n a r a co lu na ?

Neno Cavalcante

- E u p o ss o , m a s n ã o é m u i to r o tin e ir o n ã o , v iu ? E u

a c o r d o ... E u p r e f ir o c o m e ç a r a té p e la n o it e . À n o it e e u c o s tu m o tra b a l h a r a té ta r d e , p o r q u e à n o it e é q u a n d o e u fa ç o a s lig a ç õ e s , te l e f o n o p a r a a lg u m a s p e s s o a s . A í, d e p e n d e n d o d a h o r a q u e

r-d ar à s c in c o , se is, se te, a té o ito h o r a s a í v o u c a m i n h a r , s e m p r e c o m p a p e l e c a n e t a s e m p r e à m ã o a li p a r a p o d e r ... a g e n te v ê u m a c o i s a e a n o ta , p o r q u e p o d e p e r d e r a lg u m d a d o s e n ã o a n o ta r . E u n u n c a m e a c a n h e i d e p u x a r u m a c a n e t a , p o r q u e e u n ã o v e jo n a d a d e ­ m a is , s e ja o n d e fo r . S e m p r e e u f i z is so .

D e p o is e u v o l t o e m c a s a , to m o c a f é , v o u p a r a o j o r n a l (D iá rio d o N o r d e s­ te. jo r n a l fu n d a d o em d ezem b ro d e 1981 p elo in d u stria l E d so n Q u eiro z) - n ã o e s t o u m a is in d o a o j o r n a l ; a t u a l ­ m e n te , e u e s t o u in d o p a r a a R á d i o V e r d e s M a r e s (R á d io p e r te n c e n te a o g ru p o E d so n Q ueiroz e q u e f ic a n a m esm a á rea on d e está in sta la d o o D iá rio do N o rd este) e e s t o u t e n t a n ­ d o p r o v id e n c ia r u m a s a la , n ã o p r a m i m s o z i n h o p o r q u e e u n ã o p r e c i s o d e u m a

s a la s o z in h o , m a s c o m m a is d u a s p e s s o ­ a s lá n a t e l e v i s ã o (T V D iá rio , te le v i­ sã o d o S iste m a V erdes M a re s d e C o m u n ic a ç ã o o n d e e le e s tá m a n te n d o um p ro g ra m a d iá rio n o m e s m o e s tilo d a c o lu n a

“ £ . . . ”, d en o m in a d o T eve n e n o ) - e f a ç o a c o l u n a , o u f a ç o e m c a s a c o m m á q u i n a m e s m o m a n u a l p o r ­ q u e e u n ã o te n h o c o m p u t a d o r . N o j o r n a l n ã o , n o j o r n a l e u u s a v a c o m p u ta d o r .

O c o m p r o m i s s o q u e e u t e n h o c o m o e d it o r (F ra ncisco B ilas, d ireto r-ed ito r do D iá rio do N o r­ d este ) é d e e n tr e g a r a té s e i s d a ta r d e , m a s g e r a l m e n t e e u e n t r e g o à s q u a tr o . A í e n tr e g o e j á c o m e ç o a tr a b a l h a r n a o u tr a , p o r q u e o c o l u n i s t a é c o m o u m e d ito r , c o m o u m p a u te i r o - g u a r d a d a s a s d e v i d a s p r o p o r ç õ e s , c la r o ; u m e d it o r , d e p e n ­ d e n d o d o e d it o r , u m c h e f e d e r e p o r t a ­ g e m , é m u i to m a i s r e s p o n s a b i l i d a d e e

tu d o - e é c o m o ta m b é m u m r e p ó r t e r q u e n ã o s e l i m i t a s ó a c u m p r i r a q u e l a s p a u ta s q u e d ã o , e le t á s e m p r e a te n t o , q u a n d o t e r m i n a u m a , e le j á e s t á f a z e n ­ d o o u tr a , e le n ã o te m f o l g a , n ã o te m s o s s e g o . R o t i n a e u s e i q u e n ã o te m p a r a c o n f e c c i o n a r a c o lu n a , e u n ã o

s i g o u m a r o tin a .

E n tre vista - Q u a l a p a r tic ip a ­ çã o d o s leito re s? C o m o é a re la çã o q u e voc ê te m com os le ito res?

N e n o

Cavalcante

- B o m é o s e g u in te : s e m p r e e u re c e b i m u i t a s c a r ­ ta s , a g o r a o e-m ail, n é ? A r e l a ç ã o q u e e u te n h o c o m e le s é a m e l h o r p o s s ív e l.

A c o n te c e o s e g u in te : e u p r o c u r o p u b li­ c a r a s c a r ta s q u e a c r e s c e n te m a l g u m a c o i s a o u e n t ã o q u e te n h a m u m a p i t a d a d e h u m o r . E u n ã o p u b li c o c a r t a , p o r

e x e m p l o , d e a lg u é m a ta c a n d o o u t r a p e s s o a p o r in t e r e s s e c o n tr a r i a d o . A í c o m o é q u e e u v o u a v a l i a r is s o ? E e x p e r i ê n c ia ta m b é m . O s c a b e l o s b r a n ­

c o s e n s i n a m à g e n te a l g u m a c o is a . E

ta m b é m a in tu iç ã o . E u te n h o u m a in tu i­ ç ã o m u i to f o r te . E n ã o p u b li c o c a rt a ... e u s u p r im o a s p a r te s q u e v ê m e l o g i a n ­ d o o r e d a to r . A c h o m u i to c h a to (N eno alte ra o to m d e vo z p a r a d a r ênfase à su a o p in iã o ) f ic a r b o ta n d o e lo g i o a m im m e s m o , e u m e s m o p u b lic a n d o . É m u ito c h a to , e m b o r a e u f iq u e f e liz c o m e le e tu d o e é b o m p r o e g o d a g e n te .

E n tre v ista - S u a co lu n a é m uito opinião, é m u ito o q u e você p en sa so b re d e te r m in a d a s n o tíc ia s qu e saíram , q u e estã o aco n tecen d o d ia ­ riam ente, s ó q u e você d isse q u e liga p a ra a lg u m a s p esso a s. C o m o é qu e se d á a su a rela çã o c o m a s fo n te s?

Neno Cavalcante

- E u n ã o te n h o m u i ta s f o n t e s , n ã o . E u t e n h o p o u c a s f o n te s , m a s d e q u a li d a d e . P o r q u e e u n ã o a c r e d i to e m f o n te ... A té e u v o u c ita r o B o e c h a t d e n o v o , e le d is s e q u e

ti n h a c o m o f o n t e A r m a n d o F a lc ã o , q u a n d o e le e r a m i n is tr o d a J u s tiç a d o

“A r m a n d o F a lc ã o n ã o

p o d e s e r f o n te d e

n in g u é m . (...) e r a u m c a r a

d e d ir e ita , g o v e m is ta

d o e n te . P a r a e le f ic a r d o

la d o d o g o v e r n o , b a s ta v a

o g o v e r n o s e r r u im ( ...) ”

g o v e r n o J u s c e l i n o ( J u s c e li n o K ubitschek, p re sid en te d o B ra sil de 195 6 a 1960, q u e m a rco u se u m a n ­ d ato p e lo es tim u lo à in d u stria liza ­ çã o d o P aís), d o g o v e r n o G e is e l (ge­ n era l E rn esto G eisel, presid en te do B ra sil no p e r ío d o d e 197 4 a 1979. F o i no se u g o ve rn o q u e teve início o p ro cesso d e a b ertu ra p o lítica) , e le ta m b é m ti n h a s id o d o J u s c e lin o , e u n ã o m e le m b r o b e m e m q u a l d o s d o is . A r m a n d o F a lc ã o n ã o p o d e s e r f o n te d e n in g u é m . A r m a n d o F a lc ã o e r a u m c a r a

d e d ir e ita , g o v e m i s t a d o e n te . P a r a e le fi c a r d o la d o d o g o v e r n o , b a s t a v a o

g o v e r n o s e r r u im e , m e s m o q u e e le n ã o f o s s e a q u e l e “ b ic h o ” q u e e le é -

b ic h o e n tr e a s p a s , p o r q u e o s b ic h in h o s n ã o m e r e c e m n e m e s s a c o m p a r a ç ã o ,

m a s m e s m o q u e e le n ã o f o s s e a ss im , e le e r a h o m e m d e g o v e r n o , h o m e m d e g o v e r n o n ã o v a i d a r n o tí c ia ... P o r q u e

q u e v a i d a r n o t í c i a q u e in te r e s s a à p o p u la ç ã o ? E le v a i d a r n o t í c i a q u e i n t e r e s s a a o g o v e r n o , a e l e p r ó p r io . E u c o n f i o m a is e m f o n t e q u e é a q u e le q u e s e r v e o c a f e z i n h o , o m o t o r i s t a d e u m

p o lític o , u m s o l d a d o d a P o l í c i a M i l i t a r

c o lo c a d o à d is p o s iç ã o d o g a b in e t e d o d e p u ta d o P in h e ir o L a n d im (N en o cita o nom e do dep u ta d o fe d e r a l P in h ei­ ro La ndim , do P M D B , a le a to ria ­ m ente, a p en a s p a r a d a r um a ilu s­ tra çã o ao ex em plo), u m a c o is a a s ­ s im . N ã o a c r e d ito e m f o n t e o f i c ia l d e

m a n e i r a n e n h u m a . M a s e s s a s p e s s o a s q u e e u lid o s ã o d u a s , t r ê s p e s s o a s , o u e n tã o q u e n ã o f a z p a r te d e s s a s d u a s o u

tr ê s , u m a o u o u tr a q u e o c o r r e d e e u c o n s u l ta r n a q u e le d ia , tir a r a lg u m a d ú v id a , p e g a r u m a in f o r m a ç ã o .

E n tre vis ta - E co m o é q u e se dá a se leçã o d o qu e vai s e r a b o rd a d o na co lu na ?

NenoCavalcante-Ah,aínaotem.

E u n ã o te n h o c rité r io p a r a isso , n ã o .

E n trevis ta - F a la n d o em fo n te , q u a l a m elhor m a neira d e p reserva r um a fo n te , tra ta r d a s fo n te s ? C o m o é q u e você f a z p a r a co n ta r sem pre co m ela? Enfim, co m o é se u c o n ta to

( c o m a s f o n t e s ) ?

Neno Cavalcante

- E u te n h o u m a f o n t e q u e , a n te s d e c o m e ç a r o D iá r io d o N o r d e s te , j á e r a m in h a

f o n te , m a s e u n u n c a v i p e s s o a l ­ m e n te . M a s e u se i q u e m e l e é , e u c o n h e ç o f ilh o s d e le , s e i o n d e e le m o r a , m a s a g e n te s ó s e f a l a p e lo te le f o n e . É p o r q u e n u n c a a c o n te ­ c e u , n ã o é p r o g r a m a d o p a r a

a c o n te c e r a s s im , n ã o . É p o r q u e n ã o a c o n te c e u . A m e l h o r m a n e ir a

d e p r e s e r v a r u m a f o n t e é p r e s e r ­ v a r a f o n t e , é n ã o d i z e r q u e m é. E n tre vista - Neno, com rela ­ çã o à leitu ra de jo rn a is, revis­ tas, os ve íc u lo s de c o m u n ic a ­ çã o q u e você costum a a ssistir; co m o é q u e esses veículos de u m a m a n eira g e r a l - nã o só televisivos, im pres­ sos, rá d io -. co m o é qu e eles servem tam bém d e fo n te p a ra o se u tra b a ­ lh o? E m qu e m ed id a isso acontece?

Neno Cavalcante

- E a í q u e e u p e g o a q u e l a in f o r m a ç ã o e d o u a m in h a o p in i ã o e m c im a , p o r q u e n ã o é u m a

i n f o r m a ç ã o n o v a S e e u f o r d a r s ó a in f o r m a ç ã o , é a q u ilo q u e e u e s t a v a f a la n d o , s e e u f o r d a r s ó a in f o r m a ç ã o q u e s a iu n o J o r n a l N a c i o n a l (jo rn al qu e p a s s a n a R ed e G lo bo d e Televi­ sã o, e q u e ta lv ez te n h a a m a io r a u d iê n c ia no jo r n a lis m o b ra silei­ ro), m e ta d e d o P a í s j á v i u . Q u e n o v id a ­ d e te m is s o ? A g o r a , e u t e n h o m e a f a s ­ t a d o u m p o u c o d e a s s is tir c e r t a s c o is a s e d e l e r c e r ta s c o is a s , o q u e te m m e

fe ito u m b e m tã o g ra n d e . P o r e x e m p lo : n ã o a s s i s t i r ã o J o r n a l N a c i o n a l m e fa z u m b e m m u ito g ra n d e , m a s m u ito g r a n ­

d e (en fático ).

E n tre vis ta - E o q u e você co stu ­ m a ler?

Neno Cavalcante

- E u g o s t o d a r e v i s t a I m p r e n s a , g o s t o d a C a r o s

O s jo r n a lis t a s Tom Bar- r o s. R o n a ld o Sa lg a d o . M a u r íc io Silv a e C a r lo s A lb e r t o A le n c a r fo ra m e n t r e v ist a d o s n o p r o ­ c e sso d e p r o d u ç ã o d a e n t r e v ist a .

O s q u a t r o jo r n a list a s f o ­ r a m a s p r in c ip a is fo n t e s p a r a se sa b e r c o m o é a c o n v iv ê n c ia c o m N e n o C a v a lc a n t e . T o d o s f iz e ­ r a m g r a n d e s e lo g io s a o e n t r e v ist a d o .

Neno C avalcante

E n trevista

A e q u ip e d e p r o d u ç ã o t a m b é m p r o c u r o u a l­ g u é m p a ra f a la r a lg u ­ m a c o isa c o n t r á r ia a N e ­ n o , m a s n in g u é m se m a n if e st o u . A so lu ç ã o a p o n t a d a p o r a m ig o s d o e n t r e v ist a d o e r a p r o ­ c u r a r a lg u m p o lít ic o .

A p r é - e n t r e v ist a c o m N e n o C a v a c a n t e a c o n ­ t e c e u e m u m a d a s sa ­ la s t ía R á d io V e r d e s M a r e s, n o p e r ío d o d a t a r d e , o n d e N e n o e s­ c r e v e a su a c o lu n a a t u - a im e n t e .

4 6

Am ig o s e , d e s s a s r e v i s t a s s e m a n a is tip o V e ja , Is to É ,e u l e i o a C a r ta C a p i ta i .

E n tre v is ta - E o q u e você d eixo u de ler qu e lhe f a z b em ?

N e n o C a v a l c a n t e - V e ja . E n tre v ista - Q u a n to à qu estã o do leitor, q u e eu q u ero vo lta r e você j á fa lo u um p o u co . A q u estã o d a s co lu n a s q u e só tra zem in fo rm a çã o, sem opinião , ela s n ã o têm im pacto m uito sig n ifica tivo com o s leitores, eles lêem , se in fo rm a m e p ro n to . J á as co lu n a s crítica s não . É a q u ela coisa, p o d e te r um im p a cto neg a tiv o ou p o d e te r im p a cto p o sitiv o . C o m o é qu e você a va lia essa rece ptivid ade d o s le ito re s q u a n to a su a co lu n a n esse a sp ecto d o s im pactos, ta n to os n eg a tiv o s co m o os p o sitiv o s s o ­ bre o leito r?

N e n o C a v a l c a n t e - P o is é , e u a c h o q u e t e n h o q u e r e p e t i r a q u e la h is tó r i a d a in f o r m a ç ã o s e m a o p i n i ã o : e l a n ã o é tã o a tr a e n te , p o r q u e a i n f o r m a ç ã o j á e s t á a í n o J o r n a l N a c io n a l , n a V e ja , a li á s m u ita s v e z e s e r r a d a , m a s e s tá . S ó p o d e

tr a z e r a lg u m i m p a c to ... n ã o s ó n a m in h a c o lu n a , a c r e d ito q u e te n h a m

o u tr a s t a m b é m , a d o R o g a c ia n o (R o g a cia n o L eite F ilho, jo r n a ­ lista e p o e ta ce are nse j á fa le c i­ do qu e escre veu d u ra n te a lg u n s a n o s a co lu n a d iá ria "E m O f f \ no jo r n a l O P ovo, o m a is tra d i­ cio n a l d o C ea rá co m 71 a n o s de fu n d a ç ã o ) e r a u m a c o l u n a t a m ­

b é m m u ito o p in a tiv a , m u ito b o a . A

p r ó p r ia c o l u n a C o m u n i c a d o , q u e é u m a c o l u n a e d it o r i a l {do D iá rio do N o rd este) , é m u ito b e m e s c r i t a e é o p i n a t i v a t a m b é m . A V e r ti c a l, d e O P o v o , s o l t a l á s u a s o p in i õ e s . E u a c h o q u e n ã o a tr a i m e s m o , n ã o te m c o m o a tr a ir u m a c o l u n a s ó in f o r m a t iv a .

E n tre v ista - V ocê a c h a q u e a qu estã o d a co lu n a o p in a tiva é m e s­ m o atrair...

N e n o C a v a l c a n t e - É , p o r q u e u m a p e s s o a q u e p e g a o j o r n a l , n o te m p o e m q u e e u e s t o u , e la v a i le r m i n h a c o l u n a o u p o r q u e g o s t a d o q u e e u p e n s o o u p o r q u e o d e i a o q u e e u p e n s o e v a i p o r m a s o q u i s m o m e s m o , m a s n ã o é in d i f e r e n te . A p e s s o a s e f o r in d if e r e n te , n ã o v a i.

E n tre vista - M a s você sabe q u a l é o p e r fil d o se u leito r?

N e n o C a v a l c a n t e - E u a c h o ... E m q u e a s p e c t o ?

E n tre v ista - D e n tr o d essa co ­ m u n ic a çã o q u e você esta belece co m o se u leitor, d e re c e b e r cartas, se você tem um co n h ecim en to d e um tip o d e p ú b lic o .

N e n o C a v a l c a n t e - S e v o c ê m e p e r g u n t a r s e e u a c h o q u e te m m a is h o m e n s o u m a is m u l h e r e s , e u a c h o q u e

te m m a is h o m e n s . S e sã o p e s s o a s m a i s j o v e n s o u m a is v e lh a s , e u a c h o q u e sã o m a is v e lh a s , o u m e lh o r, m e n o s

j o v e n s , n é ? N in g u é m é m a is v e lh o , t o d o m u n d o é m e n o s j o v e m , is so e u a p r e n d i c o m u m a m ig o m e u , o L u ís

F r o t a (e m p r e s á r io c e a r e n s e d e terra p la n a g em em F o rta le za e de fa z e n d a s no m u n icíp io d e Sobral, a 2 4 0 km d e F orta leza). E a c o n d iç ã o s o c i a l d e s s a s p e s s o a s ... E u n ã o sei o p e r f il. N ã o se i. T a l v e z o j o r n a l d is p o ­ n h a d e s s e tip o d e d a d o . E u n u n c a fu i a tr á s , n ã o .

E n tre vista - A su a coluna, este ano. f a z 18 a n o s e co m o você fa lo u é u m a colu na q u e m exe com a s p e s ­ so as: (as p e s s o a s j lêem ou p o rq u e g o sta m ou p o rq u e n ã o go sta m . C o m o vo cê d isse tam bém se fo s s e p a ra se r c r ia d a hoje, ta lv ez ela nem fo s s e criad a. E u q u eria sa b er a qu e você a trib u i essa lo n g evid a d e da co lu na

e essa bo a receptividade.

N e n o C a v a l c a n t e - A r e c e p t iv i d a d e é a q u e l a h i s t ó r i a : q u e m lê p o r q u e g o s ta , s e n t e a m i n h a s in c e r i­ d a d e q u a n d o e u e s t o u e s c r e v e n d o e

g o s t a d a s m in h a s p o s iç õ e s . M u ita g e n ­ te m e a b o r d a p a r a d iz e r q u e e u d ig o o q u e e la q u e r i a d iz e r e n ã o te m e s p a ç o

p a r a d iz e r . I s s o ta m b é m m e g r a t if i c a m u ito . E a lo n g e v id a d e , e u s ó p o s s o a t r i b u i r a is so (à receptividade) e o D iá r i o d o N o r d e s t e é u m j o r n a l q u e

te m o s d e f e ito s , m u i to s d e f e ito s c o m o t o d o s o s o u tr o s , m a s e le é u m j o r n a l . . . a t é o q u e te m o P o v o d e in c o n s ta n te , te m o D iá r i o d e c o n s t a n te d e m a is , o q u e ta m b é m j á c h e g a a s e r u m d e f e ito . O P o v o , h o je , te m u m e d ito r d e p o lític a , a m a n h ã j á é o u tr o e v o c ê n ã o s a b e p o r q u e q u e a q u e l a p e s s o a s a iu , a p e s ­

s o a e s t á d e fé r ia s , q u a n d o v o l t a j á n ã o e s t á m a i s n a q u e la f u n ç ã o . O D iá r io j á é o o p o s to d is so , o q u e ta m b é m n ã o é p a ra s e r a s s im , te m q u e s e r m e i o te r m o , e u a c h o . M u d a r a lg u m a s v e z e s e n ã o n a p r o p o r ç ã o q u e o j o r n a l O P o v o faz.

E n tre v ista - P o r qu e você ach a q u e su a co lu n a n ã o se ria cria d a h o je ?

N e n o C a v a l c a n t e - N ã o , e u s u ­ p o n h o q u e n ã o f o s s e p o r q u e ... N ã o é q u e o jo r n a l i s m o d a q u e le te m p o e r a m e lh o r , m a is li v r e , n o te m p o q u e c o ­ m e ç o u a c o lu n a , n ã o . E u a c h o q u e d if ic i lm e n te s e r ia p e lo in c ó m o d o q u e

t r a z {dem onstran do cu id ad o na es­ colha d a s p a la vra s) a o s d o n o s d o p o d e r . V e ja b e m : e s t o u d iz e n d o isso s e m n e n h u m a p r e te n s ã o . M a s e u a c r e ­ d ito q u e e le s n ã o g o s ta m , e le s tê m h o r r o r a . . E u c o s t u m o a té d iz e r - e u

p e g u e i u m a o u t r a h is tó r i a c o m re la ç ã o a o s tu c a n o s , q u e n ó s to d o s te m o s o in a lie n á v e l d ir e ito d e c o n c o r d a r c o m

e le s , n ã o p o d e é d is c o r d a r , c o n c o r d a n ­ d o v o c ê é ó tim o . M a s a í e s s e p o d e r q u e e u f a lo a c h o q u e n ã o é só o s tu c a n o s é o p o d e r m e s m o d e u m a f o r m a m a i s a m p la .

E n tre v is ta - Você fa lo u qu e h o je ta lv e z a su a co lu n a , você supõe, n ã o seria coloca da em p r á ­

tica. M as com o é qu e se deu o c o n tex to da su a e n tra d a no Jo rn a lism o ? C o m o e q u a n d o se d e u a s u a e n tr a d a n o Jo rn a lism o ?

N e n o C a v a l c a n t e - B o m , e u te n h o u m ir m ã o q u e é j o r n a l i s t a e

é ta m b é m c o lu n i s t a so c ia l, q u e é o L ú c io B r a s i le i r o {do jo r n a l O P ovo). E u fu i t r a b a lh a r c o m e le e a ju d á - lo n a c o lu n a . A í e le c r io u o c a d e r n o F a m e (suplem en to se­ m a n a l do jo r n a l O P ovo, que co n tin h a a n á lises d e fa to s da vida so cia l da cidade e diversas co lu na s e d eixo u de circular há a lg u n s an o s) e m e b o to u lá p a r a s e r o c o o r d e n a d o r d e s te c a d e r n o e e u e s ­

tr e e i u m a c o lu n a , a c o l u n a B ib a , q u e o L ú c io q u e r ia q u e fo s se m a is p r a jo v e n s d e s o c i e d a d e e e u n ã o q u is a c e ita r. F u i

c o n v e n c i d o p o r u m a m i g o m e u , o M a n e c o {E m m anuel A g u ia r C a rva ­ lho Lima, h o je rad icad o no E spírito S a n to ), a a c e i ta r e a o s p o u c o s ir m u ­

d a n d o . E u j á c o m e c e i m e i o a m e io .. E n trevis ta - M a s h o u ve alg u m a insistência do Lú cio ( B r a s ile i r o )p a ra qu e você en trasse no jo rn a lism o ou f o i u m a c o is a q u e v o c ê e s ta v a

cu rio so ?

N e n o C a v a l c a n t e - N ã o , fo i a c o n ­ te c e n d o . N ã o h o u v e in s is tê n c ia n e m ta m b é m e u b r i g u e i p a r a e n tr a r. E le s a b ia q u e e u q u e ri a , e u j á f a z i a a c o l u n a d e le q u a n d o e le v i a j a v a e fo i c r ia d a e s s a c o lu n a . E u q u e j á c o o r d e n a v a o

c a d e r n o , e le c r i o u e s s a c o lu n a p r a m im . E u fiz a c o lu n a B ib a , d e p o is fu i tr a b a lh a r e m B r a s í li a c o m o a s s e s s o r

p a r l a m e n t a r d o p r i m e i r o m a n d a to d o P a u lo L u s t o s a (foi secretá rio d e P la ­ n eja m en to do E stado no g o vern o de A d a u to Bezerra, d e 1975 a 1978, d ep u ta d o fe d era l, d e 1979 c 1982 e

d e 19 82 a 1986. D e p o is n ã o f o i reeleito e assu m iu na le g isla tu ra d e 19 94 a 1998, na co n d içã o d e su ­ p le n te), f i qu e i m a n d a n d o a c o l u n a d e

lá e lá h o u v e u m a p o l i t i z a ç à o m a i o r m i n h a

E n tre vis ta - M as, N eno, q u a is eram a s ca ra cteristica s d a B ib a q u e voc ê p ro c u ro u m a n te r n a “È... ” ou en tã o a p ro fu n d a r um p o u c o ?

N e n o C a v a l c a n t e - Q u a n d o e u fu i c h a m a d o p a r a o D iá r io d o N o r d e s t e (em 1981), a d if e r e n ç a d a c o l u n a “ É ...” p a r a a c o l u n a B ib a , a s d i f e r e n ­

ç a s n ã o e ra m ta n ta s , a p e n a s q u e u m a e r a s e m a n a l e a o u t r a e r a p a r a s e r d iá r ia . E u a i n d a fi q u e i t a l v e z m a i s d e

u m a n o fa z e n d o a s d u a s.

E n tre vis ta - C o m o f o i d rib la r a c o lu n a so cia l, q u e d e v e r ia s e r a B iba, p a ra co n seg u ir se r um p o u c o do je ito qu e é a “E... ” h o je?

N e n o C a v a l c a n t e - E u c o m e c e i m e i o a m e i o , a s s im ...

E n tr e v is ta - C o m o é q u e você co n seg u iu fa z e r isso. c o lo ­ ca r a su a op in iã o e d eixa r q u e a co lu n a virasse um p o u c o m a is a su a cara?

N e n o C a v a l c a n t e - F o r a m e ta p a s , n é ? D e c o m e ç o , l o g o fo i

m e i o a m e io . N a o u t r a , e u j á r e d u ­ z i... p o r q u e t i n h a u m tó p i c o q u e e r a d e n o ti n h a s s o c ia is , a í e u j á fu i r e d u z i n d o a té n u n c a m a is.

E n tre v ista - H o u ve a lg u m m o m e n to e m q u e a lg u é m in te rv eio ?

N e n o C a v a l c a n t e - N ã o . P o r q u e é a ta l h is tó r ia , a c o lu n a , a té p a r a s u r p r e s a m i n h a , p e g o u . N ã o

n a d im e n s ã o d a c o l u n a “ E ...’\ a té p o r ­ q u e e r a u m s u p l e m e n t o e e r a s e m a n a l.

M a s e la p e g o u e , d e p o i s q u e p e g a , a í n ã o te m m a is.

E n trevis ta - U m a co isa in te re s­ sa n te de a b o rd a r é a q u e s tã o do co lu nism o social, né? E ntão, a B iba. inicialm ente, era um a co lu n a so c ia l e você a ca b o u m udan do...

N e n o C a v a l c a n t e - E r a m e e e e i o . E n trevis ta - E, m a s esta va d e n ­ tro d e um ca d ern o de co lu n a s o c i­ al... .

N e n o C a v a l c a n t e - N ã o , m a s a í

n ã o . P o r e s t a r d e n tr o d o c a d e r n o n ã o , p o r q u e ti n h a a c o lu n a d o L u s t o s a d a

C o s ta (jornalista cearense ra d ic a ­ do em B rasília e que, a tu a lm en te , é co lu nista do jo r n a l D iá rio d o N o r­ deste), d e B r a s ília , q u e n ã o e r a s o c ia l e e s t a v a d e n tr o d o m e s m o c a d e r n o .

E n tr e v is ta - M a s s o b r e essa qu estã o do co lu nism o social. E xiste um certo p reco n ceito d o s p r ó p r io s jo r n a lis ta s q u a n to a esse tip o de noticia, ou é fa n ta s ia ou é sem utili­ dade. O qu e você ach a d isso ?

N e n o C a v a l c a n t e - E x is te . E x is ­ te o p r e c o n c e ito , m a s e s s a s p e s s o a s q u e tê m o p r e c o n c e i to a d o r a m sair(«< z co lu na ) e n ã o d e ix a m d e le r d e j e i t o n e n h u m . P o d e a n o ta r . “ A h , c o l u n a s o c ia l é b o b a g e m , n ã o se i o q u ê ” , m a s p õ e o n o m e d e le lá, q u e e le c o m p r a d e z

j o r n a i s , g u a r d a , d is tr ib u i. E u c o n h e ç o u m a p á d e g e n te a s s im . N ã o v o u c it a r p o r q u e ta m b é m n ã o v e m a o c a s o , m a s

e u c o n h e ç o . E u n ã o te n h o p r e c o n c e ito n ã o , e n te n d e u ? Q u a n d o e u fa lo a s s im , m e u ir m ã o é j o r n a l i s t a e ta m b é m c o lu n i s t a s o c ia l é p o r q u e o L ú c io , (em) q u a lq u e r á r e a d o j o r n a l i s m o q u e e le se m e te s s e , e le s e r ia b o m , p o r q u e e le te m v o c a ç ã o , e le é v o c a c io n a d o .

E n tre vista - Você co m eçou com o Lú cio ( B r a s i l e i r o / E q u a l a in flu­ ên cia q u e você ach a qu e o Lú cio d eixo u p a r a você, a p esa r d e vocês terem estilo s diferentes?

N e n o C a v a l c a n t e - P o is é . A c h o

“ J á a c o n te c e u d e e u d a r

u m a n o t a d e u m a li n h a e

a p e s s o a r e s p o n d e r v in te

e t a n ta s la u d a s , s e i lá ,

d e z la u d a s p a r a u m a

n o t a d e u m a l i n h a .”

q u e m u i t a c o is a . A p r i m e i r a c o is a q u e

e u a c h o q u e e u h e r d e i, d ig a m o s a ss im , d o m e u ir m ã o é a m a n e i r a d e d iz e r a s c o is a s d e f o r m a b e m á g il , se m n e n h u - m a p r o li x id a d e . J á a c o n t e c e u d e e u d a r u m a n o t a d e u m a li n h a e a p e s s o a

r e s p o n d e r v in t e c ta n t a s la u d a s , s e i lá , d e z la u d a s p r a u m a n o t a d e u m a l i n h a O c a r a p re c isa r d e ta n ta la u d a p a r a r e s p o n -

d e r ... se b e m q u e v o c ê s tê m m a is c o n d i- ç õ e s d e a n a lisa r isso a i m a is te c n ic a m e n ­

te. M a s e u a c h o q u e n ã o p re c is a v a , se e le fo ss e u m p o u c o m a is su c in to . O q u e e u h e r d e i d o L ú c io fo i isso .

O u t r a c o is a q u e e u h e r d e i d o m e u ir m ã o ... E é c h a to , e u n ã o v o u m a is

n e m f a la r d o m e u ir m ã o , p o r q u e e u m e a c h o n a a u to r id a d e p a r a fa la r b e m d e le p o r q u e e u j á f a l e i m a l ta m b é m , in c lu si­ v e n a c o l u n a j á fiz c r í ti c a s a n o ta s q u e e le e s c r e v e u : “ C o m o é q u e u m a p e s ­ s o a e s c r e v e is s o ? ” E n tã o , e u m e si n to b e m à v o n ta d e p a r a f a l a r b e m d e le . E le é u m a p e s s o a m u ito ín te g r a , o L ú c io .

E u le m b r o q u e , lo g o n o c o m e ç o d a B ib a . o V ir g ílio T é v o tâ (ex-governa- d o r do C eará ) q u e r i a f a z e r o Z é L in s - n ã o s e i s e v o c ê s s e le m b r a m d o Z é

L in s q u e fo i s e n a d o r (d irig iu a S u p e ­ rin ten d ên cia d o D ese n vo lvim en to do N o r d e ste - S u d e n e - e f o i eleito se n a d o r p e lo C eará em 1978), p a r e ­ c i a a q u e le s te l e g r a f is t a s d e f i lm e d e b a n g -b a n g . U m p u b lic itá ri o p r o c u r o u a m im e a o L ú c io p a r a d a r u m X m e n s a l

d u r a n t e o s q u a tr o m e s e s d a c a m p a ­ n h a . E s s e d in h e i r o s e r ia p a r a e u le v a r o p ú b li c o j o v e m a v o t a r n o J o s é L in s , p o r q u e F o r t a le z a j á n ã o v o t a v a e m A r e n a (A lia n ça R en o va d o ra N a c io ­ nal, p a rtid o g o v e rn ista d u ra n te a d ita d u ra m ilita r), m u i to m e n o s o s j o ­ v e n s . A i o L ú c io n e m o l h o u p a r a m im , f ic o u a s s im d e c a b e ç a b a ix a e e u , in e x p e r ie n t e , a c h a v a q u e a q u il o e r a n o r m a l. S a b e u m a c o is a q u e n ã o d e s c e b e m ? E u f u i p r a c a s a à n o it e e n ã o d o r m i. E u d ig o : “N ã o . n ã o p o s s o a c e i­

t a r u m a c o is a d e s s a s ” . E e u ti n h a c o m p r a d o u m f u s c a e e r a e x a ta m e n te o d in h e i r o q u e f a lta v a p a r a p a g a r o c a rr o . N o o u tr o d ia , e u c h e g u e i p a r a o L ú c io e d is s e : “ I r m ã o , e u n ã o v o u a c e i ta r a q u e l a p r o p o s ta , n ã o ” . E e le m e d e u u m a b r a ç o e d is s e : “ O r a p a z , a in d a b e m q u e v o c ê d e c id i u is s o , p o r q u e e u n ã o q u is m e m e t e r n a s u a v id a , m a s e s s a s c o is a s n ã o le v a m a g e n te p r a f r e n te , n ã o ” . A í, a té (o Lú cio) m e a d ia n t o u u n s m e s e s p a r a a j u ­ d a r a p a g a r o c a r r o , d e m o d o q u e e u a c h o q u e h e r d e i is s o ta m b é m . E o L ú c io é - v o u e n c e r r a r d e e lo g i o a o m e u ir m ã o -, e le é u m a d a s p o u c a s p e s s o a s q u e e u c o n h e ç o q u e a ju d a o p r ó x i m o e n ã o p e r m ite q u e o p r ó x i m o s a ib a . P o r q u e a j u ­ d a r e d iv u l g a r t e m m u ito s a í q u e f a z e m , a té p r a S a n t a C a s a (de M isericórdia, h o sp ita l q u e a te n d e às p o p u la ç õ e s m a is n ec essita das), p r o I p r e d e (In sti­ tu to d e P reven çã o à D esnutriçã o). E n tre vis ta - N eno, q u e tip o de em b a sa m en to você teve q u a n d o co­ m eço u a exercer a p ro fissã o ?

N e n o C a v a l c a n t e - P r a t ic a m e n -

te n e n h u m . P o r q u e e u lia a q u e le s liv ro s q u e a g e n t e li a n o c o lé g io . E u s o u m u ito a g o n ia d o , e u c o m e ç o a l e r u m liv r o , a í e u q u e r o c h e g a r a o f im , d e p o i s e u p e r c o o in te r e s s e . E u s o u a s s im , m a s e u n ã o g o s t o d e s e r a s s im e a c o n s e l h o

q u e n in g u é m s e j a a s s i m . E m u i to b o m v o c ê s e r d if e r e n t e d e m i m n e s s e a s ­ p e c to a í, p o d e a p o s ta r .

E n tre vis ta - Você tem um estilo bem p ró p rio . O u a is a s in flu ên cia s q u e você teve na fo r m a ç ã o d esse estilo ?

N e n o C a v a l c a n t e - E u tiv e m u i to d o P a s q u i m (pro va velm ente o m a is fa m o s o jo r n a l altern a tivo q u e cir­

cu lo u n o B ra sil n a ép o c a d o G olpe M ilita r d e 64, criad o p o r jo r n a lis ­ ta s esquerdista s), ta n t o d a p r i m e i r a

N a p r é - e n t r e v is t a , a e q u ip e d e p r o d u ç ã o p e d iu q u e N e n o d e sli­ g a sse o a r c o n d ic io n a ­ d o d a s a la . M in u t o s d e ­ p o is o jo r n a lis t a p e d iu p a r a lig a r d e v id o a o c a - io r .

A e q u ip e d e p r o d u ç ã o fe z 7 6 p e r g u n t a s a N e ­ n o C a v a lc a n t e n a p ré - e n t r e v ist a . Fo r a m q u a ­ se 5 0 m in u t o s d e u m a c o n v e r sa q u e r o lo u d e f o r m a d e sc o n t r a íd a .

N eno Cavalcante

E n trevista

A Jg u n s d ia s a n r e s d a e n t r e v ist a , N e n o c o lo ­ c o u em s u s c o lu n a “ É ..." q u a is se ria m o s e n t r e ­ v is t a d o s n a d é c im a e d iç á o d a r e v ist a , m a s n ã o c it o u o se u n o m e .

A e n t r e v ist a e st a v a m a r ­ c a d a p a ra a c o n t e c e r e m u m h o t e l n a p r a ia d o C u m b u c o , m a s t e v e d e se r d e sm a r c a d a p o r q u e o h o t e l e st a v a lo t a d o

4 8

co m o d a s e g u n d a fa se . D e ix a e u v e r . M i ll ô r F e m a n d e s (escritor e colunista. É o cria d o r d a p e ç a " £ ... ”, na q u a l se b a se ia o n o m e d a co lu n a do N eno. F a z u m a p a u s a p a ra q u e a tu rm a vire a s fita s e brinca com o fa to d e to d a s a s fita s terem a ca ba do m a is ou m en o s n o m esm o te m po ) B a s i c a m e n t e fo i o P a s q u im .

E n tre v ista - M a s você p o d ia n o s fa la r d o s jo rn a lista s q u e d e a lg u m a fo r m a você tem a d m irado ao lon go d e s se s 18 a n o s d e co lu nism o, de tra b a lh o n o jo rn a lism o , qu e se riam a s su a s referê n cia s n esse m un do do jo r n a lis m o ?

N e n o

Cavalcante

- N a v e r d a d e , e u j á c o m p l e te i 2 0 a n o s e m a g o s t o , n o d i a 13 d e a g o s t o . T e m q u e c o n t a r o s d o i s a n o s d a B ib a . O lh a , a d m ir o D e d é d e C a s tr o (jo rn a lista d o D iá rio do N o rd este e um d o s p rin c ip a is f u n ­ d a d o re s d o extin to jo r n a l a ltern a ti­ vo c e a re n se O M u i tirão, q u e c irc u lo u n a d éc a d a d e 1970. D ed é d e C astro f o i entrevistado na ed içã o d e nú m ero d o is desta re vista), a d m i r o R o n a ld o S a lg a d o - e u le m b r o o R o n a ld o S a lg a d o c h e f e d e r e p o r ta g e m (fo i chefe d e r e p o r ta g e m d o D iá rio d o N o rd este d e 1985 a 1990) e r a u m a c o i s a a d m i r á v e l m e s m o -, A g o s t i n h o G ó s s o n (jo rn a lista, p ro fe sso r d e C o m u n ic a çã o S o ­ cia l d a U F C e co o rd en a d o r d a R á d io U niversitária. A g o stin h o G ó sso n f o i en trev ista do na ed i­ çã o d e n ú m ero se is d esta revis­ ta). Q u e e u le m b r e a g o r a , e u a d ­ m ir o e s s e s a í, m u ito .

E n tre v is ta - Q u a l f o i o tipo de a ssesso ria q u e você p re sto u a o P a u ­ lo L u sto sa ?

N e n o

Cavalcante

- F o i p o u c o t e m p o , f o r a m s e i s m e s e s . E u fu i u m p é s s im o a s s e s s o r p a r l a m e n t a r p o r q u e

a s s e s s o r p a r la m e n ta r , n a q u e le te m p o , i m p li c a v a t a m b é m ... v o c ê m a r c a v a a u d iê n c ia s c o m o s m in is tr o s , f a z i a tr a -

b a lh o d e im p r e n s a , m a s ta m b é m ti n h a q u e p e g a r , le r a q u e la s c a r ta s q u e o P a u lo L u s t o s a c h a m a v a d e o s “ p le i­ t o s ” , q u e e r a m o s p e d i d o s d o s

in te r io r a n o s . Q u a n d o e le ia a S o b r a l, v o l t a v a c o m a m a l a c h e i a d e p a p é i z i n h o s d e s s e ta m a n h o , c o m a c a li g r a f ia r u i m , d if íc il d a g e n t e .... U m d i a e u m e a p e r r e e i J o g u e i tu d o d e n tr o d o la g o P a r a n o á (em B rasília). M a s f o r a m s ó s e i s m e s e s . O q u e a g e n te f a z ia m a i s e r a c o n v e r s a r p o lític a . O

P a u lo é u m a p e s s o a b r ilh a n te , m u ito b r i lh a n t e . E n tã o , e le c h e g a v a à n o it e , e s t á v a m o s e u e o J o r g e C a r ta x o (jo r­ n a lista cea ren se), e e le : “ E a s a u d i ê n ­ c ia s f o r a m m a r c a d a s ? ” . (Eu): “ Ih , P a u lo , d e u n à o ” . (Ele): “ Q u e a s s e s s o ­

r e s s ã o e s s e s q u e e u t e n h o ? ” . A í a g e n te : “ E c o m o é q u e v a i o V ir g ílio (T á v o r á )T . E le s e n ta v a , a í p r o n t o , ia a té à s d e z h o r a s d a n o it e f a l a n d o d e p o lític a . F o i m u i to p r a m i m a q u e le p e ­

r ío d o , m a s n à o s ó o P a u lo , c o m o o C o n g r e s s o N a c io n a l. F o i m u ito im p o r ­ ta n te . O tip o d e a s s e s s o r i a e r a is s o : e r a m a r c a r a u d iê n c ia s , c a v a r m a té r ia s p a r a a b e r t u r a d o F a n tá s tic o (p ro g ra m a que v a i ao a r à s 2 0 horas, a o s d o m in ­ gos, p e la R ed e G lo bo h á 2 6 anos), d o s te le j o r n a is d e n ív e l n a c io n a l - p o r ­ q u e lo c a l, lá e m B r a s ília n ã o a d ia n ta v a , e le e r a v o ta d o a q u i - e c u i d a r d e s s a

p a r t e d e a te n d i m e n t o a o e le ito r . E s s a p a r t e é b ra b a .

E n tre vis ta - F o i esse p erío d o de m a io r co n ta to com a p o lítica q u e te ajud ou, te d eu um a p o litiza ç ã o d i­ a nte d a a n álise nacio n a l?

N e n o

Cavalcante

- S e m d ú v id a ! (en fá tico ) N ã o s ó p o r c a u s a d o P a u lo ,

“ E u so u (b riz o lista ), m a s se

e le tiv e sse g a n h o p ra

p re sid e n te , n o o u tro d ia e u

j á e sta v a c o n tra , p a r a p o d e r

co b rar. E u s o u b riz o lista,

n ã o s o u p e d e tis ta n e m s o u

p e tista (...)”

m a s p o r c a u s a d o C o n g r e s s o . P o r q u e o C o n g r e s s o N a c io n a l é f a s c in a n te ! A q u ilo é u m m u n d o ! U m a p e s s o a se e le g e a q u i d e p u ta d o fe d e r a l, a c h a q u e v a i f a z e r m il c o is a s , q u a n d o c h e g a lá, p r a v o c ê f a z e r u m a c o i s a a l i ... É b r a b o , v iu ? E p r a n ó s d a im p r e n s a é u m a m in a .

E n tr e v is ta - F o i a su a ú n ica experiência em o u tro ca m p o d o j o r ­ n a lism o essa co m o a ssesso r d o d e ­ p u ta d o P a u lo L u s to s a ?

Neno Cavalcante

- F o i. E u n u n ­ c a m a is fu i a s s e s s o r , n ã o . D e i u m a a s s e s s o r i a p r o C a s a N o s t r a (restau­ ra nte d e m assas, lo ca liza d o n a A ve­ nida S e n a d o r Virgílio T ávo rá ) p o r a m iz a d e , fi q u e i a l g u n s a n o s . F u i m a is a s s im m e s m o p o r a m iz a d e . E u n ã o

g o s to m u ito d e s e r a s s e s s o r , n ã o . T a m ­ b é m n ã o s o u c o n tr a , e s t o u f a l a n d o p o r m i m . N ã o g o s t o d e p r e s ta r a s s e s s o r ia ,

e u a c h o m u ito c h a to .

E n tre vis ta - A in d a n essa co isa d a p o litização. N a su a co lu n a dá p a ra p erce ber, em a lg u n s m o m en ­ tos a o lon go d esse s anos, q u e você fa z m uita s referências à fig u r a do

e x - g o v e r n a d o r L e o n e l B r iz o la . C o m o é essa co isa ? O N en o C a val­ ca n te é brizolista ?

N e n o C a v a l c a n t e - E u s o u , m a s s e e le ti v e s s e g a n h o p a r a P r e s id e n te , n o o u tr o d ia e u j á e s t a v a c o n tr a , p a r a p o d e r c o b r a r . E u s o u b r iz o lis ta , n ã o s o u p e d e ti s t a n e m s o u p e t i s t a e o re s to é q u e e u n ã o s o u m e s m o . M a s o B r iz o la , e u j á tr a b a lh e i n a c a m p a n h a d e l e se m r e m u n e r a ç ã o n e n h u m a , fo i

n a q u e l a c a m p a n h a d e 8 9 . 0 D iá r io d o N o r d e s t e ta v a - q u e r d iz e r , n ã o s e i se

e r a a e m p r e s a o u s e e r a m a lg u n s in t e r m e d iá r i o s ... E u a c h o in te r m e d iá ­ r io p i o r q u e o d o n o . O q u e é fa to c q u e a p o ia v a m o C o l l o r (F ern a n d o C ollor d e M elo, p re sid en te d a R epú blica n o p e r ío d o d e 199 0 a 1992, qu an d o so fr eu o p ro c esso d e im pea chm en t) e e u n ã o e s t a v a a g u e n ta n d o a q u ilo , a q u e l a c e n s u r a . N u m a é p o c a d e c a m ­ p a n h a , o s le ito r e s c o b r a m : “ P o rr a , v o c ê

n ã o t á d i z e n d o n a d a ! ” . E F o r ta le z a (era) B r iz o l a f e c h a d a e d e p o is v o t o u n o L u l a , a p e s a r d a s a c a n a g e m q u e f iz e r a m c o m a

M a r i a L u i z a (M a r ia L u iz a F ontenelle, p re fe ita de F orta le­ za d e 1 9 8 6 a 198 8 p e lo PT. ex- dep u ta d a esta d u a l e ex-d ep u ta - d a fe d e ra l. M a ria L u iza f o i en­ tre vista da n a ed içã o d e nú m ero três d esta re vista) , q u e f o i tã o c r u e l q u a n t o a q u e l a q u e a G lo b o fe z c o m o B r i z o l a lá n o R io (que fic o u c o n h e cid o co m o “O es­

câ ndalo d a P ro c o n s u lt”, um ins­ titu to d e p e s q u is a que, ju n to co m a G lob o, f o i a cu sa d o de m a n ip u la r núm eros, esta tística s de p e s q u isa s eleito ra is e d e bo ca -d e- u rn a p a ra p re ju d ic a r a eleição de L e o n e l B rizola, n o R io d e Janeiro, em 1982). E u c h e g u e i p a r a o B ila s , s a b e n d o q u e e le s ia m t e r d if ic u ld a d e e m a r r a n ja r a lg u é m e e u t i n h a fé r ia s v e n c id a s , a í e u d is s e : “ B ila s , e u v o u ti r a r fé r ia s p o r q u e e u n ã o e s t o u a g u e n ­

t a n d o a c e n s u r a ” .

E u s o u b e d e p o is q u e fo i a M y r a Q u e ir o z , q u e é m u i to m i n h a a m i g a (e u m a d a s h erd eiro s do g ru p o E dson Q u eir o z), q u e a r r a n jo u u m a s o lu ç ã o q u e fo i m u i to b o a p r a to d o m u n d o . O j o r n a l m e d e u u m a l i c e n ç a r e m u n e r a ­ d a . A í v o c ê v a i d iz e r : “ P ô , g a n h o u se m t r a b a lh a r ? ” . N ã o , e u e n c a r e i a q u ilo c o m o p r é m io p e l o s a l á r io b a ix o q u e

e le s m e p a g a r a m a v id a to d a , e n te n ­ d e u ? E u f iq u e i c o m a q u e l a g r a n a e o L ú c i o A l c â n ta r a (se n a d o r da R ep ú ­ b lic a e e x -p re fe ito d e F o rta le za ) c o o r d e n a v a a c a m p a n h a d o B r i z o l a e e u d is s e : “ O lh a , e u v o u t r a b a lh a r n a