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Projeto de educação popular: uma contribuição da psicologia clínica humanista

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PROJETO DE EDUCAÇÃO POPULAR:

UMA CONTRIBUiÇÃO DA PSICOLOGIA CLfNICA HUMANISTA

*

srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

SONIA MARIA LIMA DE GUSMÃO

**

RESUMO

wvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R efletindo sobre alguns depólrnento de coordenadores de gru-pos de Educação Popular a respeito de suas dlficuldades na facilita-ção desses grupos, a autora considera que a falta de um a m aior clare-za sobre si m esm o, sobre o seu processo interior, poderá conduzir o coordenador a um a postura inadequada diante da com unidade que se pretende facilitar a conscientização, haja vista que, o m esm o, pode projetar na com unidade aspectos seus não resolvidos ou clareados, ou, ainda, m anipulá-Ia.

C onsidera que não basta o saber teórico ou a boa intenção, é necessário que o coordenador possua determ inadas condições: um respeito real e profundo pelo seu hum ano; um a capacidade para per-ceber na com unicação os aspectos que subjaz às palavras; transparên-cia na sua form a de ser, não assum indo falsas posturas diante do gru-po; com o tam bém um a certa facilidade em se com unicar com a co-m unidade, fazendo com que os aspectos m encionados sejam percebi-dos.

A lém disso, considera o fato de que a ausência dessas condições ou de algum a delas tenhaconduzldo excelentes teóricos, bem posi-cionados politicam ente, à práticas im produtivas, no cam po da edu-cação popular.

E propõe o desenvolvim ento de um trabalho, junto aos coorde-nadores de grupos, no qual procura associar dois cam pos de sua atuação profissional: o seu trabalho com o facilitadora de grupos vi-venciais e a sua experiência com o educadora de um a abordagem hu-m anista, no sentido de favorecer nestes coordenadores atitudes faci-litadoras, indispensáveis a um a prática efetiva de educação popular.

* Trabalho escrito para ser apresentado no IV Forum Internacional da A bordagem C entra-da na Pessoa - R io/agosto de 1989.

** Professora do D epartam ento de Psicologia da U FPB .

(2)

PROJECT OF POPULAR EDUCATION: A CONTRIBUTION

OF

THE HUMANISTIC

CLlNICAL

PSYCHOLOGY

ABSTRACT

If Vou think about some reports of the coordinators of

Popu-lar Education group about their difficulties as group facilitators, the

author considerer that the lack of major selfawareness and

cons-ciousness about internal process, could take the coordinator to an

inadequate posture in front of the community in which he or she

intended to facilitate the consciousness, in this terms the

coordina-tor can project the unsolved or unclarified personal aspects in the

cornrnunltv, or even manipulate it's participants.

She also takes into account, that's not enought the theoretical

formal knowledgment or the good intention, it's necessary to the

coordinator to process specific conditions: a real and deep respect

for human being; a capacltv to perceiv through comunication the

meaning underneath the words; transparent in the way of being, not

assuming false postures in group, as well as certain facility in

comu-nicate whith the community facilitating to the participants the

perception of the above mentionned aspects.

Yet considered, the fact that the absence of these conditions or

the some of them, have oriented very good professionals, to

unpro-ductive practice, in the field of popular education.

At last, she propose ·the development of a work, in which she

search to associate two fields of her professional background: her

work as groups facilitators, and the experience as an educator in a

humanistic approach, helping each coordinators to achieve insights

towards facilitator's attitudes, indispensable to an affective practice

in popu lar education.

1. INTRODUÇÃO

wvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

N este texto procuro associar dois cam pos de m inha atuação profissional -m eu trabalho com o facilitadora em grupos vivenciais e m inha prática com o edu-cadora - am bos dentro da abordagem hum anista centrada na pessoa, e proponho um trabalho junto aos coordenadores de debates, no sentido de favorecer neles atitudes facilitadoras, indispensáveis a um a prática efetiva de educação popular.

Existe algo de terapêutico no processo educativo, do m esm o m odo que exis-te algo de educativo no processo psicoterápico. A ssim é que tenho observado o

16

Revista de Psicologia, Fortaleza, V. 6 (2): 15-24,

JuL/Dez.,

1988

c r cim ento de m eus alunos com o pessoas e a aprendizagem constante nos m eus \.11ntes. N este contexto, a verdadeira educação e a psicoterapia se confundem :

unbas conduzem à m udança.

M uitas vezes tenho m e perguntado sobre o que conduziria pessoas hum ilha-di , sofridas e em pobrecidas, por um a situação social injusta e opressora, a não

h\l carem m udança, a não lutarem por um a vida m ais digna e hum ana.

M inhas observações apontam em duas direções - am bos têm com o palco a IUYlH ia e com o pano de fundo a sociedade opressora, em que estam os inseridos.

1\

direção da superproteção, cuja m ensagem oculta bem poderia ser: "você não t m condições de enfrentar o m undo, você é frágil, precisa que eu cuide de

vo-r. ", O que equivale a um atestado de incom petência. O u a do autoritarism o pre-~lnte nas figuras parentais. A m bas cerceiam e lim itam a liberdade de ser.

Parece que a m aior das opressões foi aquela que internalizam os, quando

Ic rança. Foi o "não", "engolido à seco", diante da postura autoritária de nossos

puls, que nos fizeram pequenos, além do físico, dim inuídos, hum ilhados e sem

11 der. .

O "não", preso na garganta, nos im pediu, m ais tarde, de nos oporm os a

SI-tuações m aiores de opressão. N os deixou ser sugados e espezinhados por um a

es-11utura social injusta e desum ana. N os despreparou para o enfrentam ento do m undo adverso, que nos esperava. N os deixou sem poder.

O papel do psicólogo, que desenvolve seu trabalho na com unidade é, .entre outros, o de liberar esse grito, esse "não" contido, que não transpôs a barreira da I~rganta, subm etendo seu detentor a "slns lacaios", que obstrui, dessa form a, seu processo de crescim ento e de conscientização.

Tenho observado que a participação em V ivências C om unitárias A lternativas t m propiciado às pessoas, a expressão desse "não" aprisionado, com um a carga

In rgética m uito grande, o que faz com que elas adquiram m elhores condições

d se opor ao am biente, lutando contra a opressão. . . .. C onsidero, a partir dessas experiências grupais e m esm o da terapia indivi-dual, que só vencendo a barreira internalizada, é que poderem os vencer as outras

h rreiras que o social nos im põe.

Som ente pelo enfrentam ento, pela coragem de se opor, de dizer "não" e de orrer riscos, poderá realm ente ser m udada a situação de opressão. E essa cora-Il rn, acredito, poderá ser atingida a partir de um contexto facilitador, onde o

in-dlvíduo experiencie o contrário da vivência opressora, liberando seus m edos, sua

11 r, sua revolta e se potencializando para o enfrentam ento. C ontexto, esse,

for-t m ente m arcado por atitudes com o autenticidade, em patia e aceitação.

2. WORKSHOPS:

UMA

DEMONSTRAÇÃO

E UMA OpçÃO

DE

FORMAS MAIS DIGNAS E AUTENTICAS

DO VIVER SOCIAL

N estas duas últim as décadas, a A bordagem C entrada na Pessoa, através de ri R ogers e de sua equipe, se dedicou à construção de com unidades

(provisó-II

s) form adas por grupos de 50 a 200 pessoas e, eventualm ente, de 600 a 800 p ssoas.

(3)

I

srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

I w ork hops, com o são cham adas essas com unidades, não têm fins

11111 ItlV O n m estão ligadas às instituições governam entais ou quaisquer outras

11 IIIU iç s, garantindo-Ihes, assim , a autonom ia necessária a um processo I i 6rio grupal, livre de interferências alheias ao próprio grupo.

A expressão do "ser" é a tônica dom inante desses encontros e o poder dos

facilitadores é com partilhado, com os dem ais m em bros do grupo, de m odo a que todos possam vivenciar o seu pr6prio poder pessoal. A autenticidade está presen-te em cada m om ento da vivência, na m edida das possibilidades de cada um ,

num a perm anente 'expressão do "ser". E apesar da persuasão, interpretação ou m anipulação não serem usadas pelos facilitadores, não se observa, da parte deles, nenhum a atitude de laissez-faire. Suas participações são ativas, inclusive na

ex-pressão de sentim entos.

R ogers enfatiza que, "o sentim ento de com unhão não surge do m ovim ento coletivo, nem da subm issão às

or-dens de algum grupo. Pelo contrário, cada indivíduo tende a usar a oportunidade para tornar-se tudo aquilo que pode tornar-se. V ivencia a individuação e a diversida-de - a singularidade de ser um "eu".

E

justam ente essa

característica de acentuada individuação da consciência que parece elevar o nível do grupo a um a unidade de

consciência.

D escobrim os que cada pessoa não só percebe o w

orks-hop com o um lugar onde pode satisfazer necessidades pessoais, m as tam bém configura ativam ente um a atuação

que perm ite esta satisfação. U m indivíduo descobre no-vas m aneiras de encarar um m om ento difícil no casam en-to ou na carreira. O utro obtém insights que perm item

crescim ento interno. O utro aprende novas form as de

construir um a com unidade. O utro adquire m ais habilida-des nas relações interpessoais. O utros descobrem novos m eios de renovação espiritual, artística e estética. M uitos

voltam -se para um a ação m ais lúcida e eficiente que vise a m udança social.

*

O utros experienciam com binações dessas aprendizagens"

**

U m outro aspecto destacado nessas vivências diz respeito aos valores. A que-les que nos são im postos de fora, tendem a ser questionados. O indivíduo tom a consciência do peso desses valores sobre sua vida e m uda, guiando-se, agora,

pelos seus pr6prios valores organísm icos. Percebe seu próprio valor e o expressa com liberdade.

R ogers observa, ainda, que ( ... ) "na vida com um , o

cur-so de um a ação é ordenado pela autoridade, e, a m enos

• O grifo é nosso

R ogers, 1983, U m Jeito de Ser, p. 58/59 ..

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R evista de Psicologia, Fortaleza, V . 6 (2): 15-24, Jul./D ez., 1988

que nos ultraje, tendem os a obedecer à ordem , a seguir a regra. Em bora as pessoas possam reclam ar, par,:ce que,

em geral, todos aceitam as regras. Todas as reaçoes com

-plexas ficam encobertas.

M as na com unidade de um w orkshop, onde as pessoas

percebem seu próprio valor e sentem -~e livre,~ para se expressarem , a com plexidade torna-se evidente.

A essência positiva das pessoas é outro ponto visível nessas com unid~des.

seu hum ano longe de ser a besta-fera tão tem ida, a partir de

(li) rva-se que o, .

111" contexto psicológico adequado, é realm ente digno de confiança: suas

poten-II poten-IIidades se atualizam de m aneira surpreendente, se desta~ando seus aspec~,os

IlIrlstrutivos e sociabilizantes, ele se torna "criativo, autom otlvado e poderoso .

.

A

IMPORTANCIA

DA

C_OMUNICAÇÃO VERDADEIRA

NO

, TRABALHO

DE EDUCAÇAO POPULAR

P ra Paulo Freire um a das m aiores dificuldades da Educação Popular cons~s-a _ dos quadros de coordenadores. Esta dificuldade é colocada nao

I na preparaçao .

T

I I f turos agen

I ponto de vista técnico, pois este é facilm ente assrrm ave pe os u -~IO m as na criação de atitudes que venham possibilitar ao coordena~or um a ~ela-, . f d h' ontal - do tipo EU -TU - onde os dO IS envolvidos .io díaloçal pro un a e onz

sJo sujeitos nesta relação. . , . di

-E

evidente que, para que aconteça um a relação diatóqíca. certas ~on lçoe,s cI vem estar presentes: o respeito e a crença no ser hum ano, a.lém do nao e~e:cl-C IO do poder sobre o outro. O poder é com partilhado, num clim a de

autenticida-ti onde um aprende com o outro. .. d

, O utro ponto im portante diz respeito a necessidade do agen_te partlclP.ar e

um a supervisão, igualm ente dialogal, evitando, assim , a te~taçao da m

anipula-ção.

* •.

"N ão há outro cam inho senão o da prática de um .a p~~a-gogia hum anizadora, em que a I.id~rança revo.luclonarla, em lugar de se sobrepor aos oprim idos e continuar m

an-tendo-os com o quase "coisas", com eles estabelece um a

relação dia lógica perm anente ."

* * *

_.,

( ... ) "U m a liderança revolucionária, que n,~o seja

dl~16-gica com as m assas, ou m antém a. "~o.m bra d? dom ina-dor "dentro" de si e não é revoluc'néna ou e:ta .red.ond~-m ente equivocada e, presa de um a sectari~aç~~ I~?~S;~~I-velm ente m órbida, tam bém não é revolucionaria.

• R ogers, O bra citada, p. 62.

C onferir FR EI R E, 1974 - Edu~~o com o Prática da Liberdade, p. 115 . ••• Idem , 1974 - Pedagogia do O prim ido, p. 60

•••• Idem , ibdem , p. 147

(4)

Freire, enfatiza, ainda, a necessidade do coordenador não se proteger e f 1-d c rtez:s, onde a s.egurança advém do aprisionam ento da realidade se arr~ca~

con ecer a realidade para m elhor transform ' -I O

'..-nfrentam ento, pela capacidade de be . a a. que só será atingido pelo com o povo.

srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

*

sa r O U V ire de m anter um encontro real

A propósito da criação de atitudes necessári . . , .

res de atuação política Jú1'10B . I as para se atingir ruveis

superio-, arrerro, co oca:

..A Educaç~o Popu lar aproveita e deve aproveitar todas as oportunidades ~ara ~riar atitudes e com portam entos capazes de .con~uzlr a níveis superiores de atuação políti-~a a .organlzaça~ do povo em torno de seus interesses, "~edlatos ou nao, m as que sirvam , ao m esm o tem po -sejam ~ns ou outros - para provocar o seu sentido críti-co, autonom o, criativo".

**

A bO ~~:~~o C :ennt~:~:~ estabelecer um paralelo entre a Educação Popular e a

e~ vári~s aspectos. A m ~:Se:s~:;ti~~~r~a;~~iou~:ea~~t~~~:tiV os são ~em elhantes viver m ais autônom o e criativo' acreditam no e h que con uzam a um ditam no peso do social sobre o com s r um ano e se centram nele;

acre-~~~a~;s~;. dignas e justas, através d:~~a;~:~~s~o~e h~o~;~i:~t~z~s;:om ef~~~:~~

R aquel R osenberg, educadora e psicóloga centrada na pessoa in R ogers e R osenberg (1977) referindo-se ao papel social do terapeuta, afirm a: '

"O bser~o que, ~ m edida que se perm ite às pessoas tom a-r~m m aior. co~sciência de seus verdadeiros desejos e sen-tim entos: Inevltavelm .ente elas se sentem m ais poderosas em r~laçao a seu destino e m ais diretam ente responsáveis por SI m es~as. Tal m udança, por sua vez, constitue um terr.eno f~rtll para o desencadeam ento de um a atuação socl~1 m ais claram ente propositada e possivelm ente m ais efetiva.

* * *

d

parcece-m e que há um perfeito encontro entre a Educação Popular e a A b

agem entrada na Pessoa.

or-dadeO d:r~~!h~d~~ e~ucação, desenvolvido por Paulo Freire, enfatiza a

necessi-política; um a eduC :~aã~~o~~a~~S~~~~i:e~~C i~!::~a~~~~~~~oan~~:~lid~de soci.al e de sua problem ática; um a educação que o t h . ussao corajosa de sua libertação, com a conquista de sua ~~~:~iza c~m prom etldo com a praxis

~~~en!~:;:~~~~~~~~~~~~~~~:s :a~e~~~~:S~~~i~~~;~Z~:~~~:~~:~~:~~~~~~

• C onferir FREIRE, 1974 - Pedagogia do O prim ido p 24

BARREIRO, Júlio 1980 - Edu - P ,..

ROGERS & ROSef...JBERG caçao opu lar e C onlcientização, p. 13/4 ,1977 - A Pelloa C om o C entro, p,66.

20 R evista de Psicologia, Fortaleza, V . 6 (2): 15-24, JuJ./D ez., 1988

im se refere R ogers a respeito da pedagogia de Freire, que ele considera

Im ente centrada na pessoa:

"O s m em bros ao se revelarem uns aos outros, com eçam a acreditar em si m esm os com o pessoas, assim com o nos outros m em bros do grupo. M udam seus objetivos. A o invés de sim plesm ente aspirarem tornar-se opressores, im aginam um novo tipo de sistem a social, m ais hum ano. Finalm ente com eçam a avançar no sentido de m udar as

terríveis condições as quais vivem "

*

A lgo interessante de ser notado é o m ecanism o utilizado pelas classes dom i-,,"H es, que ao se sentirem am eaçadas acentuam a repressão. N o caso de Paulo II ire, este se viu perseguido e obrigado a se exilar após o golpe m ilitar de 1964.

C om partilhar o poder parece algo profundam ente am eaçador para quem o

c\ tém , à custa da desum anização dos outros e da sua própria. D a sua por opção

da dos outros por im posição.

4. CONTRIBUiÇÃO

DA PSICOLOGIA

CLíNICA

HUMANISTA

À

EDUCAÇÃO POPULAR

O conhecim ento hum ano tem se am pliado e se diversificado, de tal m odo que, parece fora de dúvidas, a necessidade de trabalhos m ultidisciplinares.

N a tentativa de conhecer cada vez m ais, a realidade tem se transform ado em algo que, de tão m ultifacetado, se torna inacessível, fazendo-se necessário um a união de esforços e de conhecim entos especializados, para que a possam os atingir, e, desse m odo, contribuirm os com a educação popular no sentido da transform

a-ção social.

A credito que os efeitos da A bordagem C entrada na Pessoa, quando utiliza-da por um facilitador ( coordenador de debates) que possua as atitudes enfatiza-das por R ogers _ autenticidade, aceitação e com preensão em pática - aliadas a

um profundo respeito e crença no potencial hum ano, tem sido de fundam ental im portância no processo de libertação dos indivíduos, independente das catego-rias profissionais daqueles que pretendem facilitar no outro esse processo. Suas técnicas constituem um im portante instrum ento de conscientização e de

trans-form ações social e individual.

Sem cair na ingenuidade de reduzir a conquista da liberdade a essa atuação, considero que situações de opressão poderão ser superadas com a ajuda de tal abordagem , haja vista que a m esm a potencializa os m em bros da com unidade, conduzindo-os ao auto-conhecim ento, a auto-confiança e ao despertar da sua

for-ça, e, conseqüentem ente, à ação.

R efletindo sobre o trabalho que eu poderia desenvolver junto as cam adas populares, inicialm ente senti-m e inclinada a aprofundar o trabalho realizado, por m im , no H ospital U niversitário, pois, talvez, em nenhum outro contexto a situa-ção opressor-oprim ido se m ostre com tanta crueza. O poder é de tal m odo

exer-*ROGERS, 1986 - Sobre o Poder Pessoal"p. 109 ..

(5)

id no am biente hospitalar, frente ás criaturas enferm as, que sim plesm ente as nulam com o pessoas. "O paciente 308", " perturbador da enferm aria 03" são d signações com uns aos pacientes internos. "Estou àprocura de um fígado cirró-tico para dar um a aula", diz o m édico-professor insensível ao fato de que tal fí-gado se encontra localizado num a pessoa. O professor entra na enferm aria com seus

srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

discípulos e todos se sentem no direito de m anipularem o órgão enferm o, m ais um a vez, insensíveis a dor e ao pudor da pessoa, que nesse m om ento é

per-cebida com o objeto. Pessoa que, na sua percepção "m enosválida" de si m esm a -geralm ente da zona rural não ousa sequer perguntar-Ihes os nom es ou pedir para que sejam "traduzidas em m iúdos" aquelas palavras que estão sendo ditas a seu respeito, e que, ditas daquela m aneira, só fazem aum entar a sua angústia diante

da vida e da m orte. Pessoa, que as injustiças sociais se fizeram sentir com m ais violência, roubando-lhe, tam bém , a saúde.

Todavia, à m edida que am adurecia nessa reflexão, cheguei à conclusão que, talvez eu pudesse contribuir de um a m aneira m ais am pla e efetiva se eu aliasse a m ~nha experi.~nci.a com o facilitadora de grupos vivenciais - "terapêuticos" - e a m inha expenencra com o educadora, atuando junto aos coordenadores de deba-tes, n~ sen:ido de "tr~iná:los" nas atitudes facilitadoras, necessárias ao espaço de reflexão-ação, e contribuindo para reduzir as ansiedades e desgastes decorrentes, m uitas vezes, de tal prática.

B aseio-m e no seguinte:

1.o - A pesar dos re latos bem sucedidos de educação popu lar cuja literatura está cheia de exem plos, sabem os de m uitos casos, não publicados, de

experiên-cias m al sucedidas e m esm o de desistências de coordenadores que se sentem de-cepcionados e sem condições de prosseguirem na sua tarefa;

2.0 - M uitas vezes, essa decepção é decorrente do despreparo do

coordena-dor para lidar com o opressor internalizado que se exterioriza em algum m em bro da com unidade. R ecentem ente, em conversa com um a agente com unitária, ela colocava: - "É profundam ente desestim ulante, depois de tanto batalhar,

perce-berm os que um dos m em bros porque conseguiu algo a m ais que seus com panhei-ros de luta, dar às costas para o grupo e passa a explorá-lo."

3. o - O utras vezes, decorre do fato de que o seu opressor internalizado vem

à tona e ele assum e frente à com unidade, um a postura de controle, cam uflada -quase sem pre de paternalism o, o que só dificulta a com unicação real e autêntica.

4.0 - A falta de um a m aior clareza sobre si m esm o, sobre seu processo

inte-rior, pode conduzir o coordenador a um a postura inadequada diante da com uni-dade que se pretende facilitar a conscientização, haja vista que o m esm o pode projetar na com unidade aspectos seus não resolvidos ou clareados ou ainda

m anipulá-Ia. " t

5. o - N ão basta o saber teórico ou a boa intenção, é necessário que o coor-denador possua determ inadas condições: um respeito real e profundo pelo ser

hum ano; um a capacidade para perceber, na com unicação, a intencionalidade ou o sentim ento contidos e, m uitas vezes, encobertos nas palavras do participante

de grupo, dem onstrada através de um a com preensão em pática; transparência na sua form a de ser, ( não assum indo falsas posturas diante do grupo; com o tam bém

22

R evista de Psicologia, Fortaleza, V . 6 (2): 15-24, Jul./D ez., 1988

III til facilidade em se com unicar com a com unidade, fazendo com que os

m encionados sejam percebidos.

O fato de que a ausência dessas condições ou de algum a delas tem

con-,111' do xcelentes teóricos, com um a boa consciência crítica e bem posicionados

l"tI

11(.,lInente, a práticas im produtivas, no cam po da educação popular.

C oncluindo, a m inha proposta consiste em desenvolver um trabalho dentro

,10, plm cfpios da abordagem hum anista centrada na pessoa, j~nto ao~

~oordena-01111\ d debates, onde busco associar dois cam pos de atuaçao proflssional - o

III11 liabalho com o psicóloga, facilitadora de grupos vivenciais, e o m eu trabalho

I nl1l0 ducadora, visando:

1.0 _ a criação de um espaço, onde os coordenadores possam refletir a sua

1'1 iuca e liberar as tensões decorrentes da m esm a;

2.0 _ possam am pliar a sua auto-consciência e, por extensão, a sua com

pr~-111 .10 do m undo, reduzindo, assim , possíveis projeções de sua parte nas com um

-ti Illt's que coordenam ;

3.0 _ possam desenvolver atitudes que facilitarão o seu desem penho com o

Ioordenador de grupo, quais sejam :

a) com preensão em pática, atitude que consiste em saber ouvir em

profundi-d «le. ou seja apreenprofundi-der a com unicação na sua totalidade, nos seus aspectos inten-I tonais e em ocionais, portanto, nos aspectos que transcende o verbal;

b) autenticidade, cuja consistência reside no ser transparente para o outro,

110 caso, para a com unidade, não assum indo falsas posturas;. ._ c) aceitação positiva incondicional, atitude que diz respeito a acertaçao do outro com o ele é de fato, sem a im posição de condições, na sua form a de ser ou

nos aspectos culturais, entre outros; o que não significa ser conivente com o sis-t m a nem desejar a perpetuação das condições adversas que o transform aram

num oprim ido.

4.0 _ E, a partir dos itens acim a, o diálogo da libertação fluindo de um a m a-neira m ais plena e satisfatória na com unidade, am pliando, assim , as condições

que conduzem a um a atuação social m ais efetiva.

5 -

CONC LUSÃO

U m a andorinha sozinha não faz verão. N inguém por si só transform ará o m undo em algo m ais justo e digno de ser vivido. Faz-se necessário a união dos

que querem a m udança: Psicólogos, m édicos, educadores, advogados, assistente.s sociais, engenheiros, enfim , todas as categorias profissionais integradas,

contri-buindo cada um na sua área de conhecim ento, para o bem com um , para o pro-cesso de conscientização das cam adas populares, no sentido da transform ação

social.

C abe à Psicologia H um anista, com o não poderia deixar de ser, um papel im

-portante nesse m om ento de transição. R econquistar a hum anização perdida e

quase esquecida não parece ser um a tarefa fácil de ser alcançada. A descrença no hom em a violação dos direitos hum anos têm sido m arca registrada de nossa

épo-ca. A consciência, em si m esm a, não é suficiente, é necessário o com prom isso, o

envolvim ento, para que se efetive am udança.

(6)

BIBLIOGRAFIA

SUPLEMENTAR

6. REFERENCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

wvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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Referências

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