O que será tratado
nesta aula
Esta aula vai discorrer sobre a Ética
enquanto disciplina filosófica. Também tratará dos assuntos: o que é a Ética, qual é a sua relação com a psicologia e como o estudo da Ética das Virtudes pode remediar o mal causado pelo relativismo moral e
filosófico da sociedade contemporânea.
Ética e crise da cultura
A ética é uma disciplina filosófica que tem por objeto a felicidade, isto é, a boa vida humana. O trabalho do Dr. Italo Marsili tem a ética em seu fundamento,
pois aponta a insuficiência de certas visões contemporâneas a respeito da felicidade e propõe outra visão, resgatando a sabedoria clássica e tradicional.
Não é por acaso que esse trabalho seja
relacionado à psicologia, outra disciplina filosófica. A modernidade, entretanto,
limitou a psicologia ao atribuir-lhe o status de mera ciência. A psicologia só pode, ainda assim, ser compreendida se levarmos em
conta manifestações que não são sensíveis, entre as quais a cultura em que ela está
inserida.
A cultura contemporânea, que podemos chamar de pós-moderna, é uma espécie de crise, de ruptura, de mudança. Só
entendemos a cultura contemporânea se compreendermos a tradição com a qual ela está rompendo e para onde ela pretende ir.
Ora, o objetivo da cultura contemporânea é a liberdade do indivíduo em relação às instituições que antes o orientavam. Sem instituições como família, tradição, cultura e religião, o indivíduo não se torna livre,
mas incapaz de guiar-se.
Não é culto aquele que fala muitas línguas, conhece literatura antiga ou música
clássica, mas sim aquele que dispõe de uma linguagem para interpretar suficientemente o que acontece ao
seu redor. Essa linguagem é sempre normativa, pois não abarca apenas a
descrição das coisas, como também o seu aperfeiçoamento e a sua melhor realização.
Se a cultura não é capaz dessa abrangência, ela está em uma crise de sentido.
O mistério da alma humana
A ciência tende a reduzir o
conhecimento a um esquema de problema e solução. A internet, por
exemplo, só é possível graças a uma série de problemas resolvidos pela computação e pela matemática. A mesma coisa é
impossível de se fazer com a alma humana, já que ela possui um componente de
mistério. O corpo é delimitável, seus
limites se encontram na matéria; a alma, entretanto, desconhece limites materiais.
Se a alma não é um objeto lógico e matemático, uma cultura que
apenas considera os aspectos lógicos
e matemáticos da realidade jamais
conseguirá compreendê-la. Precisamos, para isso, de um horizonte mais amplo de reflexão, e devemos buscá-lo na filosofia.
E xiste uma visão filosófica, chamada
“relativismo”, que exclui a
possibilidade mesma da felicidade humana, porque não crê que possamos encontrar
uma visão objetiva sobre as coisas. Quem vive de modo relativista oscila entre as mais variadas visões de mundo, terminando no vazio existencial. Não tem esperança de cura, porque não acredita na existência de cura. O fato de muitas pessoas viverem hoje como relativistas não é por acaso; é, na verdade, conseqüência da aposta na liberdade individual em detrimento da tradição e da ética.
O problema
do relativismo
Tradicionalmente, o conhecimento, sobretudo o conhecimento de si, não vem sem o aperfeiçoamento, que não é obtido isoladamente, mas por meio de uma integração social. Uma abordagem terapêutica que não leve em conta a
ética não conseguirá livrar o paciente do vazio existencial relativista. No máximo, conseguirá resolver um ou outro trauma pessoal, ou torná-lo mais funcional.
O s problemas originados no relativismo serão tratados pelo terapeuta
inexperiente por meio de uma ferramenta que podemos chamar de “bom senso”.
Como podemos notar de imediato, ela não é, nem de longe, a ferramenta mais
adequada a um profissional de psicoterapia.
Existem escolas de pensamento que podem fornecer uma ferramenta mais adequada.
A Ética das Virtudes, por exemplo, vem de uma tradição que remonta a Platão e Aristóteles, e oferece a visão de que todas as instâncias da vida humana podem,
em primeiro lugar, ser aperfeiçoadas e, em segundo lugar, integradas. Esse
Alternativas ao
“bom senso”
aperfeiçoamento e integração devem se dar a partir de modelos concretos de pessoas a serem imitadas.
Um terapeuta que utilizasse da ferramenta da Ética das Virtudes primeiro investigaria em um paciente a sua maneira de lidar
com os prazeres. Como meu paciente, perturbado com seu vazio existencial, lida com os prazeres da mesa e da cama?
Depois, investigaria seu modo de lidar com os outros. Esses pontos constituem o que Platão chama de “virtudes cardeais”. Só a obra “Ética a Nicômaco” de Aristóteles lista uma série de virtudes que o profissional pode utilizar para o auxílio de seu paciente.