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Fotogrametria digital à curta distância na documentação do patrimônio arquitetônico: estudo de caso

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E

URBANISMO

Silvia Sayuri Yanaga

FOTOGRAMETRIADIGITALÀCURTADISTÂNCIANADOCUMENTAÇÃO DOPATRIMÔNIOARQUITETÔNICO–ESTUDODECASO

Florianópolis 2006

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Silvia Sayuri Yanaga

FOTOGRAMETRIADIGITALÀCURTADISTÂNCIANADOCUMENTAÇÃO DOPATRIMÔNIOARQUITETÔNICO–ESTUDODECASO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção de grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. Carlos Loch

Florianópolis 2006

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Silvia Sayuri Yanaga

FOTOGRAMETRIADIGITALÀCURTADISTÂNCIANADOCUMENTAÇÃODO PATRIMÔNIOARQUITETÔNICO–ESTUDODECASO

Esta dissertação foi julgada e aprovada para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 14 de março de 2006

____________________________________________ Prof.ª Alina Gonçalves Santiago, Drª.

Coordenadora do Programa

Banca Examinadora

____________________________________________ Prof. Carlos Loch, Dr.

Orientador

Profª. Alina Gonçalves Santiago, Drª. Profª. Sérgio Castello Nappi, Dr.

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DEDICATÓRIA

Ao meu pai, Tetsuo Yanaga por ter sido sempre um exemplo de força e amor em minha vida.

À minha mãe Eiko Helena Yanaga, pelas orações, pela compreensão e por cuidar tão bem de nossa família.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus por me proporcionar saúde, força de vontade e sabedoria, me iluminando em todos os momentos de minha vida.

Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Loch pelo encaminhamento dessa dissertação, pela confiança e amizade. E também, ao seu filho Günter Loch, pela prestatividade.

Aos professores da PósArq, em especial à Prof Dr. Alina Santiago pela amizade e ao Prof. Dr. Sérgio Castello Branco Nappi pelo apoio e pelas valiosas discussões.

Ao grupo de arquitetos Sandra Rafaela Magalhães Correa, José Rodrigues Cavalcanti Neto e Anna Elisa Finger por colaborarem na minha pesquisa, fornecendo dados e materiais importantes para o histórico e analise dos resultados, possibilitando a realização de um estudo de caso mais completo e aprofundado. Porém, agradeço em especial à minha querida amiga Anna que contribuiu intensamente tanto em conhecimento, como em dedicação e companheirismo, sem hesitar em colaborar no que fosse preciso durante muitos momentos deste trabalho.

Aos meus amigos que conviveram e compartilharam comigo esses anos de estudo, pela troca de idéias, pelo apoio e pelas gostosas e importantes risadas nos momentos de “desestress”. Especialmente, à Vanessa Dorneles pelo auxílio na correção de texto e a parceria na pubicação de artigos, e, à Cristina V. Florentin Arias La Fuente e Sara Nunes de Souza pela amizade e companheirismo sempre.

Ao departamento de Engenharia Civil e funcionários do Laboratório de Fotogrametria, local no qual passei muitas horas de estudo, e a Pós-Graduação em Arquitetura – PósArq que me ofereceu a oportunidade de realizar este curso.

Ao meu noivo pela paciência, carinho e companheirismo.

E, finalmente, um especial agradecimento aos meus pais pelo incentivo, compreensão e o apoio que me possibilitou o ingresso e a realização dessa dissertação.

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“Não se trata de Arte, nem de Comunicação: a ordem fundadora da fotografia é a Referência.” ROLAND BARTHES,1980

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RESUMO

Este trabalho aborda a técnica da Fotogrametria Digital à Curta Distância como uma ferramenta importante de auxílio à proteção do patrimônio arquitetônico. Utilizou-se um programa computacional, surgida a partir do desenvolvimento da tecnologia digital e da ampliação de novos produtos e softwares de restituição fotogramétrica, para a obtenção da geometria da arquitetura de uma edificação histórica e a produção de seu registro gráfico e documental. O estudo de caso baseia-se na aplicação do software Rolleimetric MSRPlan no levantamento fotogramétrico digital e restituição de imagens da Igreja Nossa Senhora da Glória, localizado na cidade de Curitiba. Uma análise deste processo e de seus resultados obtidos permitiu realizar comparações com o método tradicional de levantamento e documentação arquitetônica, e avaliar questões de custo, agilidade, qualidade, e precisão do produto final.

Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico, Fotogrametria digital à Curta Distância, Rollei MSR Plan.

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ABSTRACT

This work approaches the technique of the Digital Close Range Photogrammetry as an important tool to help the protection of the architectural heritage. Making use of a computational program arised from the development of the digital technology and new products of photogrammetry restitution increase, to obtain the architectural geometry of a historical construction and to produce a documental graphic register. The case studied is based on Rolleimetric MSRPlan application by digital photogrammetry survey and images restitution of Nossa Senhora da Gloria church located in Curitiba. An analysis of this process and results permited to make comparisons with the traditional method of survey and architectural documentation, and to evaluate questions of cost, agility, quality, and precision.

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SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ...14 2. JUSTIFICATIVA...16 3. OBJETIVOS...18 3.1.OBJETIVO GERAL ...18 3.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...18 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...19 4.1.PATRIMÔNIO HISTÓRICO...19 4.1.1. DEFINIÇÃO ... 19 4.1.2. O VALOR DO “PATRIMÔNIO“ ... 22

4.2. POR QUE PRESERVAR?...23

4.3. POR QUE DOCUMENTAR? ...25

4.5. METODOLOGIAS PARA UM PROJETO DE RESTAURO ...29

4.6. FOTOGRAFIA ...37

4.7. FOTOGRAMETRIA ...38

4.7.1. DEFINIÇÃO ... 38

4.7.2. FOTOGRAMETRIA TERRESTRE E À CURTA DISTÂNCIA ... 40

4.7.3. RETIFICAÇÃO DE FOTOGRAFIAS... 44

4.7.4. TÉCNICAS FOTOGRAMÉTRICAS DE RETIFICAÇÃO ... 45

4.7.4.1. MONORESTITUIÇÃO ... 46

4.7.4.2. ESTEREORESTITUIÇÃO ... 48

4.7.4.3. RESTITUIÇÃO A PARTIR DE VÁRIAS FOTOGRAFIAS ... 51

4.8. FOTOGRAMETRIA DIGITAL ...54

4.8.1. CÂMERA DIGITAL ...56

4.8.2 . RESOLUÇÃO E TAMANHO DE ARQUIVO ...58

5. ESTUDO DE CASO ...60

5.1. IGREJA NOSSA SENHORA DA GLÓRIA...60

5.1.2. HISTÓRICO DA IGREJA NOSSA SENHORA DA GLÓRIA ...63

5.1.3. TIPOLOGIA E CARACTERÍSTICAS DO EDIFÍCIO ... 65

6. MATERIAIS E MÉTODOS...66

6.1. DEFINIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ...66

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6.2. MATERIAIS ( MÉTODO TRADICIONAL ) ...67

6.2.1. PESQUISA DE CAMPO COMO REFERÊNCIA PARA ANÁLISES DO RESULTADOS ... 70

6.2.2. TEMPO GASTO PARA REALIZAÇÃO DOS LEVANTAMENTOS ... 75

6.2.3. SOBRE A NÃO UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA FOTOGRAMÉTRICA ... 76

6.3. MATERIAIS ( MÉTODO FOTOGRAMÉTRICO )...76

6.4. CALIBRAÇÃO DA CÂMERA ...79

6.5. DESCRIÇÃO DO LEVANTAMENTO FOTOGRAMÉTRICO ...79

6.6. UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE ROLLEI MSRPLAN...84

7. RESULTADOS ...84

7.1. FUSÃO E COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS NO SOFTWARE AUTOCAD.85 7.1.1. FACHADA PRINCIPAL (ORTOFOTO 1)... 86

7.1.2. VISTA DO CORO (ORTOFOTO 2 ) ... 87

7.1.3. VISTA DO ARCO CRUZEIRO DA CAPELA-MOR (ORTOFOTO 3 ) ... 88

7.1.4. JANELAS DA NAVE E DO ALTAR (ORTOFOTOS 4 E 5) ... 89

7.1.5. PORTA PRINCIPAL ( ORTOFOTO 6 )... 90

7.2. COMPARAÇÕES DE CUSTO E TEMPO ENTRE O MÉTODO DE LEVANTAMENTO TRADICIONAL X FOTOGRAMÉTRICO...91

8. CONCLUSÕES ...95

8.1. RECOMENDAÇÕES ...98

8.2. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...99

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Exemplo de Retificação de uma foto ... 44

Figura 2 - Mosaico de várias ortofotos formam a fachada por completo... 45

Figura 3 - Posicionamento da câmara na monorestituição... 46

Figura 4 - Foto original da edificação demolida (a). Imagem sendo mensurada através do método de linhas paralelas e perpendiculares sobre a própria Edificação (b)... 48

Figura 5 - Reconstrução parcial da Edificação em 3D,... 48

Figura 6 - (a) Relação entre a base estéreo e a distância para o objeto na tomada estereofotogramétrica (b) Sobreposição necessária na estereorestituição³ ... 49

Figura 7- Plano da cobertura fotográfica... 50

Figura 8 - Desenho gráfico das fachadas , após a retificação das fotos ... 50

Figura 9 - Modelo 3D vetorial da Edificação. ... 50

Figura 10- Modelo 3D renderizado da Igreja Matriz de Oeiras... 50

Figura 11- Câmara análogica semi-métrica Pentax Pams-645 de médio formato ... 51

Figura 12 - Kit ImageStation SSK ... 51

Figura 13 - Exemplos de diferentes tomadas fotográficas na restituição de várias fotografias ... 52

Figura 14 - Imagens originais das fotos panorâmicas obtidas separadamente ... 53

Figura 15 Resultado final da imagem 3D. Fonte: LUHMANN et TECKLENBURG, 2005. ... 53

Figura 16 - Vista da Capela N. Sra. da Glória antes da construção da torre. ... 60

Figura 17 - Foto aérea do Bairro Alto da Glória.Localização da Igreja N. S.Glória. ... 61

Figura 18 - Vista da Avenida João Gualberto. Fonte: www.ippuc.org.br... 63

Figura 19 - Foto da Igreja atualmente. Vista frontal. Fonte: Acervo próprio, 2006... 63

Figura 20 - Detalhe esquadrias.Croquis necessários para resgistrar as medidas das esquadrias in loco para posterior realização de desenhos em AutoCad... 70

Figura 21 - Foto do levantamento das medidas à trena para o detalhamento de esquadrias.. ... 71

Figura 22 - Alguns croquis dentre os muitos desenhados para o levantamento gráfico... 71

Figura 23 - Sobre o telhado da igreja... 72

Figura 24 - Rappel... 72

Figura 25 - Complementação de algumas medidas. ... 72

Figura 26 - Complementação de medidas. ... 72

Figura 27 - Extração da medida do arco principal. ... 73

Figura 28 - patologia da edificação, diagnóstico de materiais. ... 74

Figura 29 - Medição de elementos estruturais... 74

Figura 30 - Detalhamento gráfico das esquadrias à partir de medidas obtidas através da trena. ... 75

Figura 31 - Rollei dp3210 - Câmera semi-métrica digital... 77

Figura 32 - Software: RolleiMetric MSRParallel Software de retificação. Retificação a partir de linhas paralelas sobre o objeto . ... 77

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Figura 33 - Software: RolleiMetric MSRParallel Software de retificação. Restituição a partir do

aplicativo AutoCad... 77

Figura 34 - Implantação com a localização do posicionamento das fotos e as distâncias entre a edificação e o muro. ... 81

Figura 35 – Fachada lateral direita... 81

Figura 36 – Pouca distância entre a edificação e o muro para obter campo de visão na câmera... 81

Figura 37 - À direita da igreja, encontra-se a residência vizinha (Foto 3). Acervo próprio, 2006... 82

Figura 38 - Vegetação impede a obtenção de fotos através da residência vizinha ... 82

Figura 39 - Fachada lateral esquerda ... 82

Figura 40 - Como no exemplo anterior, pouca distância entre a edificação e o muro para obter campo de visão na câmera... 82

Figura 41 - À esquerda da igreja, encontra-se uma edificação em abandono e desuso ... 83

Figura 42 - Foto tirada à partir da rua João Gualberto (frente à igreja)... 83

Figura 43 – Foto entre o muro dos fundos e a igreja... 83

Figura 47 – Levantamento fotogramétrico da porta principal. ... 84

Figura 45 – Implantação da Igreja N. S. da Glória com o posicionamento das fotos para o levantamento fotogramétrico. ... 85

Figura 46 - Fotografia da fachada principal retificada e sobreposta sobre o levantamento e documentação gráfica realizada pela equipe de arquitetos em seu projeto de restauro.. 86

Figura 47 - Análise comparativa do coro. Ortofoto X documentação gráfica existente... 87

Figura 48 - Análise comparativa do arco interno. Ortofoto X documentação gráfica existente... 88

Figura 49 - Fotografia da janela da nave (a) e do altar (b ... 89

Figura 50 - Fotografia do detalhamento da porta principal ... 90

Figura 51 - Comparativo entre um desenho obtido pelo método tradicional (cor magenta) e um desenho extraído a partir da fotogrametria (cor azul). ... 91

LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Mapa do Paraná. Localização da cidade de Curitiba. ... 60

Mapa 2 - Mapa da cidade de Curitiba com a localização do bairro do Alto da Glória (em vermelho), onde se encontra a edificação em estudo. ... 60

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparativo de tempo e custo para documentação entre os métodos tradicional e

fotogramétrico. ... 92

LISTA DE DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BMP Bitmap

CAD Computer Aided Design CCD Charge Coupled Device CUB Custo Unitário Básico

EPSF Encapsulated PostScript File GIF Graphics Interchange Format JPEG Join Photographic Experts Group MSR Metric Single Image Retification PICT Picture (Macintosh)

PPI Pixel Per Inch RD Restituidor Digital RDC Rollei Digital Camera TIFF Tagged Image File Format

UIP Unidade de Interesse de Preservação VRML Virtual Reality Modeling Language

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1. INTRODUÇÃO

As cidades atuais enfrentam problemas, como a pobreza, a especulação imobiliária e a deterioração dos espaços. A falta de identidade, cultural e espacial, por parte da população agrava ainda mais estes problemas e como conseqüência deste processo surgem pessoas sem raiz, sem origem. A construção de uma cidade exige mais que aço, cimento e maestria na composição de espaços, exige a beleza do “pertencimento”, numa arquitetura das identidades.

A busca do significado histórico do que o homem é e do que viveu, mesmo através de momentos presenciados por seus antepassados e ancestrais, mas que se refletem na realidade e na cultura atual, faz com que ele sinta a necessidade de encontrar o seu próprio significado através da identificação, preservação e restauração de acervos e monumentos do patrimônio. A cultura pode ser mantida pela sociedade, através da educação e do cuidado de preservar hábitos e costumes, porém o objeto ou a edificação não depende apenas de cada individuo, mas de autoridades responsáveis e profissionais especializados.

Os bens arquitetônicos devem ser transformados em monumento, ou relíquia para que sejam testemunhos que “autenticam a nação, permitindo percebê-la como uma realidade única, totalizadora (KERSTEN 2000)”.

Dentre as mais diversas categorias de patrimônio histórico, a edificação é a que se encontra mais presente na vida diária de uma comunidade, é um importante meio de valorização cultural ao longo das gerações. A preservação de uma edificação histórica em uma cidade contemporânea, por exemplo, implica não só na diversificação da paisagem urbana, mas ainda na manutenção da memória e identidade do lugar.

O ser humano sente a necessidade de definir, descrever, representar e transmitir o entorno no qual se insere, tanto de forma literal como gráfica. Isso permitiu e continuará permitindo a obtenção de importantes descobrimentos da história do homem e a busca de elementos imprescindíveis para a restauração ou a recriação do patrimônio edificado.

Tanto para o projeto de obras futuras, como para o estudo das existentes, é necessário, tradicionalmente, representações gráficas do edifício. A fotogrametria

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surgiu como um auxílio às técnicas tradicionais de levantamento e representação arquitetural. Apesar dos progressos na área da informática nos últimos anos, que vem multiplicando o desenvolvimento de diferentes tipos de software e diversificando aplicações na área da fotogrametria digital, a prática da documentação de monumentos históricos utilizando esta tecnologia ainda continua muito aquém do que se poderia desejar.

No Brasil, a grande maioria dos levantamentos documentais arquitetônicos para o registro de patrimônio, para tombamentos ou até mesmo para reformas ou restaurações de edificações, não utilizam a técnica fotogramétrica, principalmente, por falta de conhecimento sobre suas vantagens e pela ilusão da necessidade de um custo elevado e de equipe técnica altamente especializada.

É clara a necessidade da expansão do conhecimento a respeito da fotogrametria à profissionais como arquitetos, engenheiros e restauradores, pois se trata de uma importante ferramenta para a obtenção rápida e precisa de dados essenciais ao planejamento de restauro, intervenções conscientes e também para a documentação e divulgação de bens patrimoniais e arquitetônicos.

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2. JUSTIFICATIVA

As cidades representam o fenômeno mais significativo e mais desafiador para os arquitetos e urbanistas que, para responderem constantemente às suas novas necessidades devem, além de acompanhar as grandes mudanças relacionadas à sua forma física, estar atentos em respeitar e perceber, até por uma questão ética, tipologias arquitetônicas de valor estético e histórico, que marcam uma época e que fazem parte da identidade da cidade.

Também é importante saber mostrar à sociedade e fazê-la participar da construção, tanto pela ética, respeito ao outro, quanto pela estética. Experiências urbanas tornam-se reais quando estão relacionadas ou associadas à identidade dos cidadãos que se reconhecem no espaço exterior e interior, tendo a noção de pertencimento àquele lugar.

O arquiteto deve buscar esta valorização e identificação da cidade, tanto através da preservação como também da busca de referências arquitetônicas. Pois, segundo a Carta de Veneza, entende-se como monumento histórico, não somente, as grandes criações, mas também, as obras mais modestas que adquirem com o tempo valor cultural significativo (IPHAN, 2000).

A valorização do patrimônio histórico arquitetônico e a importância de seu registro e preservação é uma questão amplamente discutida, e para isso, o estudo multidisciplinar utilizando a fotogrametria na aquisição de dados arquitetônicos, mais uma vez, deve servir como incentivo à prática da técnica fotogramétrica por arquitetos e restauradores.

Com o amplo desenvolvimento tecnológico, a digitalização da fotogrametria passou a agilizar e facilitar ainda mais o uso desta técnica, além de contribuir com o surgimento de novos programas computacionais. Empresas especializadas desenvolvem softwares cada vez mais acessíveis, com a diminuição do custo e grau de dificuldade relacionado à praticidade de seu uso. Portanto, pretende-se verificar e, também, comprovar que o usuário não, necessariamente, precisa ser um técnico especializado ou possuir conhecimento aprofundado sobre todo o

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conceito da fotogrametria para poder realizar um levantamento fotogramétrico de precisão.

Para isso, através da utilização da Fotogrametria Digital e de um novo programa computacional, espera-se constatar reais expectativas sobre as vantagens fotogramétricas mencionadas.

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3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Analisar as vantagens e desvantagens da fotogrametria à curta distância, visando à documentação e preservação do patrimônio edificado, através da avaliação comparativa entre o método tradicional (levantamento à trena) e o método fotogramétrico.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Fundamentar a importância do patrimônio histórico edificado visando a compreensão de profissionais de diversas áreas sobre o registro e o processo metodológico tradicional de um projeto de restauro;

b) Levantar técnicas fotogramétricas à curta distância e apresentar exemplos práticos de sua utilização na documentação do patrimônio;

c) Acompanhar um levantamento do método tradicional à trena para conhecer as técnicas e as dificuldades encontradas na documentação arquitetônica em um projeto de restauro;

d) Explorar a fotogrametria digital através do uso de uma câmera digital semi-métrica modelo Rollei dp3210 para o levantamento fotogramétrico do estudo de caso;

e) Aplicar o software de restituição fotogramétrica Rollei MSR Plan em um levantamento documental de uma edificação histórica - estudo de caso: Igreja Nossa Senhora da Glória em Curitiba;

f) Traçar um comparativo entre os métodos tradicional e fotogramétrico, e indentificar as reais vantagens e desvantagens de cada um.

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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo são apresentadas noções sobre o patrimônio histórico, o porquê de sua preservação, documentação e os processos metodológicos necessários para um projeto de restauro. Posteriormente, apresenta-se os conceitos sobre fotogrametria, esclarecimento do modo à curta, diferentes técnicas de retificação e o uso da fotogrametria digital.

4.1. PATRIMÔNIO HISTÓRICO

4.1.1. DEFINIÇÃO

A palavra patrimônio tem origem na Grécia antiga, onde: ”Patris” siginifica pai e “monio” significa herança. Dessa forma, patrimônio quer dizer herança do pai. Assim, de forma geral, “patrimônio” se refere a todo o legado das gerações passadas mantidas no presente.

A Constituição Federal define o patrimônio como bens materiais e imateriais que se referem à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Esses bens são, portanto, os modos específicos de criar e fazer (as descobertas e os processos genuínos na ciência , nas artes e na tecnologia), as construções referenciais e exemplares da tradição brasileira, incluindo bens imóveis (igrejas, casas, praças, conjuntos urbanos) e bens móveis (obras de arte ou artesanato), as criações imateriais como a literatura e a música; as expressões e os modos de viver, como a linguagem e os costumes; os locais dotados de expressivo valor para a história, a arqueologia, a paleontologia e a ciência em geral, assim como as paisagens e as áreas de proteção ecológica da fauna e da flora (FUNDARPE, 2006).

O patrimônio referencia-se pelo sentimento inexplicável que o objeto, a edificação, o costume ou a beleza do local transmite, seja pela valiosa bagagem de informações e acontecimentos nela contidos, seja por carregar consigo uma história.

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“....nós estabelecemos também uma noção do patrimônio pela simples razão de que nós atribuímos a essas coisas, a objetos e artefatos, significados, funções e valores. E como são patrimônio, são suscetíveis de geração, aquisição e de transmissão.”(ARANTES, 1984, p. 62)

Choay (2001) designa patrimônio histórico como um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire1 dos seres humanos.

A noção de patrimônio assenta-se numa versão de história que se pretende ter a capacidade de se reportar a fatos que realmente aconteceram, transformando-os em marctransformando-os que se impõem no presente. Estes marctransformando-os instauram uma temporalidade que organiza a história tal como contada. O acervo patrimonial selecionado materializa um ponto de vista social particular sobre determinado tema ou fato (KERSTEN,2000).

Entre os bens incomensuráveis e heterogêneos do patrimônio histórico, Choay (2001) completa afirmando que escolhe como categoria exemplar aquele que se relaciona mais diretamente com a vida da comunidade, o patrimônio histórico representado pelas edificações. Em outros tempos denominariam-se de monumentos históricos, mas as expressões, “patrimônio histórico” e “monumento histórico”, não são mais sinônimas. A partir de 1960, os monumentos históricos representam parte de uma herança que cresce constantemente, com a inclusão de novos tipos de bens e com o alargamento do quadro cronológico e das áreas geográficas no interior das quais esses bens se inscrevem.

Quatremère de Quincy (apud MENEGUELLO, 2000), designa que o monumento é construído para estabelecer o que é memorável (o monumento deixa de ser evidência da memória e passa a criá-la), ou seja, o monumento histórico é um agente de embelezamento das cidades. Ele passa a ser também a afirmação do design público, dos estilos, de manifestação estética. Como conceito estético, ele existe, assim, para o consumo imediato.

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Logo, o monumento histórico não é um dado sempre existente, mas uma invenção ocidental datada que ganha força a partir da segunda metade do século XIX. A consagração do monumento histórico surge na Inglaterra e na França ligada ao evento da era industrial.

O sentido original do termo é o do latim monumentum, que por sua vez deriva de monere (“advertir”,”lembrar”), aquilo que traz à lembrança alguma coisa. Para Choay, (2001) a natureza do seu propósito é essencial, não é somente a de apresentar, dar uma informação neutra, e sim a de emocionar, como uma memória viva. O monumento assegura, acalma e desafia o tempo, ele é uma garantia das origens e dissipa a inquietação gerada pela incerteza dos começos.

A palavra monumento, aplicada às obras de arquitetura, passa a designar um edifício construído para eternizar a lembrança de coisas memoráveis, ou concebido, erguido ou disposto de modo que se torne um fator de embelezamento e de magnificência nas cidades. A idéia de monumento, está mais ligada ao efeito produzido pelo edifício que ao seu fim ou destinação, ajusta-se e aplica-se a todos os tipos de edificações (CHOAY, 2001).

Riegl (apud KERSTEN, 2000) define três classes de monumentos: os internacionais, os históricos e os antigos; os dois últimos são classificados como não-internacionais. Tal classificação mostraria, segundo ele, que a história da conservação dos monumentos passou por um processo de sucessiva generalização, obedecendo exatamente aquela ordem.

Hoje, o sentido desta palavra evoluiu ainda mais. Além da beleza buscada no patrimônio edificado e seu valor histórico, o encantamento ou o espanto da proeza técnica, e muitas vezes até sua representação colossal é que o tornam dignos desta definição. A partir daí o monumento impõe à atenção sem pano de fundo. Como exemplos: o edifício de Lloyd’s em Londres, o Arco da Défense em Paris , Museu Guggeheim em Bilbao (CHOAY, 2001).

A denominação, “monumento histórico”, passa então a fazer parte de uma outra categoria, a dos “bens culturais”, pois, o sentido de “monumento” muitas vezes pode ser reportado apenas à algo grandioso, com grandes dimensões, e o “bem” engloba desde edificações monumentais até pequenos casebres, que possuam um valor cultural.

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4.1.2. O VALOR DO “PATRIMÔNIO“

“A diversidade de culturas e patrimônios no nosso mundo é uma insubstituível fonte de informação a respeito da riqueza espiritual e intelectual da humanidade. A proteção e valorização da diversidade cultural e patrimonial no nosso mundo deveria ser ativamente promovida como um aspecto essencial do desenvolvimento humano” (IPHAN, 2000, p. 36).

Segundo BALLART (1997) as situações reais na qual atribuímos valor ao patrimônio, resumidamente, podem ser contempladas em três categorias de referência: valor de uso, formal e simbólico-significativo:

a) Valor de uso: refere-se à valorização do patrimônio pensando fazer com ele algo que satisfaça uma necessidade material ou de conhecimento ou um desejo. É a dimensão utilitária de um objeto histórico.

b) Valor formal: este valor corresponde à sensação que determinados objetos despertam aos sentidos, pelo prazer que proporcionam, pela sua forma e outras qualidades sensíveis e pelo mérito que apresentam.

c) Valor simbólico-significativo: entende-se como a ligação que se tem com os objetos do passado, considerados como meio de relação entre as pessoas que os produziram ou os utilizaram e seus atuais receptores. Atuam como presenças substitutivas, ou um elo entre pessoas de diferentes gerações, porque são testemunhos de idéias e de situações do passado (BALLART, 1997, p.65).

Para Mafalda Reis (apud INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA , 2002), o patrimônio edificado, na escala municipal, compreende um amplo conjunto de elementos inseridos na paisagem, que pela sua singularidade e expressividade no conjunto do território, adquire valor, do ponto de vista artístico, arquitetônico, urbanístico e/ou de paisagem, constituindo grande potencial de desenvolvimento local.

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4.2. POR QUE PRESERVAR?

“[...]a idéia de preservar está interligada à idéia de patrimônio em si;...Por exemplo, a idéia do que se faz em um museu, na realidade, é marcar, registrar uma memória, que é informação, e é esta informação que servirá como base para uma ação futura. Na medida em que atribuímos valores, nós criamos bens, transformamos as coisas, os objetos e os artefatos em bens, e os bens constituem o patrimônio__ o patrimônio é suscetível de ser adquirido, de ser transmitido. Portanto, é condição necessária do patrimônio que ele seja preservado.” (RUSSIO apud ARANTES, 1984, p. 63).

Um determinado tipo de construção pode até não causar nenhuma satisfação estética, conclui Rússio (apud ARANTES, 1984, p 77), mas ele é documental e testemunhal de uma fase, de um período econômico, de uma fase de transição de modelos sócio-culturais, políticos, etc, então há que se preservá-lo, há que se registrá-lo.

Um dos pontos com o qual o arquiteto deveria se preocupar ao projetar novas edificações, é com que a intervenção tenha um caráter revitalizador para o espaço urbano onde estes edifícios estão inseridos, pois, ao optar pela política de destruição, o arquiteto está aceitando que suas obras sejam também destruídas no futuro. Uma vez que ele opta por esta política de substituição sistemática, está concordando com que aquilo que ele edificou hoje seja derrubado amanhã. Assim não restará nenhum testemunho de obra alguma, e com isso a história se perde. A atual busca constante pelo “moderno”, muitas vezes em nome do progresso, destruiu inúmeras preciosidades de nossa arquitetura, tanto religiosa, quanto civil ou militar (RODRIGUES, 1979).

Segundo definições constadas na Carta de Nairobe, aprovada pela conferência geral da organização das nações unidas em 1976, preservação deve significar a identificação, proteção, conservação, restauração, renovação, manutenção e revitalização de conjuntos históricos ou tradicionais e de seu entorno (MASCARELLO, org , 1986, p.105).

Assim, um dos princípios gerais desta carta é a necessidade do julgamento em que o governo e os cidadãos devem ter em preservar os conjuntos históricos e seus entornos como uma forma insubstituível de herança e integrá-la na vida social e contemporânea. Desta forma, essa herança deve ser ativamente protegida contra

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qualquer tipo de destruição, particularmente os que resultam em um uso incoveniente, com adições desnecessárias e deturpadas ou mudanças insensíveis que enfraquecem suas autenticidades. Uma das medidas é a existencia de planos de preservação e documentação redigidos e estudados por grupos multidisciplinares compostos por: especialistas em conservação e restauração, arquitetos e planejadores, sociólogos e economistas, ecológolos e paisagistas, especialistas em saúde pública e bem estar social, e de um modo mais geral, especialistas nas disciplinas que envolvem a proteção e embelezamento dos conjuntos históricos (MASCARELLO, org , 1986, p.105 e 108).

Esta preocupação em conservar e preservar as belas obras do passado criarão constantemente grandes dificuldades. Segundo AGACHE (1915), o arquiteto e urbanista é quem deverá achar as soluções mais convenientes para cada caso. É importante que ele não deixe de considerar como relíquia, as pequenas edificações que vem de séculos passados, que muitas vezes são demolidas, desconsideradas ou lamentavelmente alteradas, pela falta de conhecimento das pessoas. Isso inclui também arquitetos, que desrespeitam e consideram estas edificações como arquitetura sem tradição ou de pouco gosto.

Preservar uma edificação histórica é oferecer à sociedade uma fonte valiosa de informações. Na concepção de Lynch (1975), é preciso comunicar ao público os conhecimentos históricos para educá-lo e entretê-lo. As palavras e as imagens documentais são informações, mas os artefatos reais produzem às pessoas uma impressão bem mais profunda sobre a história.

“Rodearmos de edifícios e objetos do passado, ou melhor ainda, atuarmos como se estivéssemos no passado, é uma excelente maneira de aprender coisas sobre ele.” (LYNCH, 1975, p79).

Outra razão importante para a preservação do patrimônio, citados em vários textos sobre o tema, é o turismo. A exploração dos monumentos franceses na atração de turistas é imaginada com base no modelo que a Itália desenvolvera (CHOAY, 2001).

Através do valor de saber preservar e enaltecer o patrimônio edificado, muitas cidades enriquecem com o turismo. A Europa é um dos exemplos mais

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conhecidos, onde a arquitetura histórica é o seu principal atrativo, e é por isso que toda e qualquer edificação identificada como “patrimônio” é respeitada e preservada.

4.3. POR QUE DOCUMENTAR?

AGACHE (1915), já afirmava que são os arquitetos e urbanistas que devem assegurar toda e qualquer intervenção sobre o urbanismo e seu patrimônio. Todo município deveria criar uma comissão de estudos, formada por especialistas na área, para discutir e propor um programa e com ele designar soluções para os problemas de intervenções urbanísticas sobre cada edificação. No entanto, o autor conclui que, somente o programa seria insuficiente para quem o fosse interpretar, se o mesmo não estivesse acompanhado de um número de documentos indispensáveis. Dentre estes itens, o autor cita como uns dos principais as vistas gerais e detalhadas de cada edificação obtidas através de fotografias.

A documentação garante autenticidade ao patrimônio, concebido como herança de tradições e estilos que devem ser mantidos em sua originalidade. Um dos itens citados nas Cartas Patrimoniais (IPHAN, 2000) é a autenticidade desses documentos e das edificações que devem se manifestar, se alicerçar e se manter na veracidade dos patrimônios que o homem recebe e transmite à posteridade.

O significado da palavra autenticidade está intimamente ligado à idéia de verdade: autêntico é o que é verdadeiro, o que é dado como certo, sobre o qual não há dúvidas. Os edifícios e lugares são objetos materiais, portadores de uma mensagem ou de um argumento cuja validade em um contexto social e cultural determinado, os convertem em patrimônio. Pode-se dizer, com base neste princípio, que a sociedade encontra-se diante de um bem autêntico quando há correspondência entre o objeto material e seu significado (IPHAN, 2000).

O sistema de informação municipal que também gera os processos de gestão urbana, recorre necessariamente ao patrimônio edificado, por isso ele deve ser autêntico, porque gera produção de instrumentos que estudam e divulgam o patrimônio enquanto valor a preservar e porque elabora instrumentos orientadores

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das políticas de desenvolvimento nas diversas áreas de intervenção, na vertente da educação e cultura, do turismo e lazer e do urbanismo (INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA, 2002).

A documentação gráfica e o sistema de registro adquirem um importante protagonismo, tanto por converter-se em instrumentos imprescindíveis para a investigação histórica (arqueologia da arquitetura), como por constituir o suporte para sua gestão e posterior difusão do registro da memória. As técnicas e métodos operativos desenvolvidos, implantados e apurados dentro da equipe, correspondem a experiência e o intercâmbio de informação obtida do contato multidisciplinar com profissionais diversos, como arqueólogos e historiadores, arquitetos, engenheiros técnicos, topógrafos, informáticos (INSTITUTO AÇORIANO DE CULTURA, 2002).

Com o objetivo de promover esta ação de importância universal, o ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, prossegue no exercício de sua tríplice missão: assessoria científica, centro de reflexão e órgão difusor de metodologia e tecnologia contemporâneas. Sendo membro da UNESCO, atua e interage sempre como organização operacional que é, na maioria dos países do mundo (IPHAN,2000).

Assim, na reunião do ICOMOS em Washington (1987), a técnica fotogramétrica foi apontada como a mais indicada para o levantamento arquitetônico preciso de monumentos e sítios históricos. A recomendação do ICOMOS é que cada país constitua um arquivo fotogramétrico de seus monumentos históricos. A utilização da fotogrametria à curta distância aliada a bancos de dados contendo informações sobre os monumentos é sem dúvida um dos mais importantes instrumentos tecnológicos disponíveis para registro. É necessário portanto, divulgar mais amplamente a importância da utilização da fotogrametria arquitetural como ferramenta para a preservação do patrimônio histórico. (ALTROCK, 2004).

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4.4. POR QUE RESTAURAR?

O restauro de edificações arquitetônicas é um dos principais meios de conservação de um bem histórico e de valor cultural. No entanto, muitas vezes, quando se percebe a degradação do edifício, opta-se por reformá-lo parcialmente e em etapas, ameaçando assim a perda de suas características históricas e estéticas.

Em uma reforma, visa-se apenas reparar os problemas que a edificação apresenta, devolvendo sua funcionalidade e adaptando-a as novas necessidades. Conforme o caso pode-se gerar prejuízos à leitura do edifício, descaracterizando-a e alterando sua concepção. Algumas ocasiões, estes procedimentos, acabam gerando outros problemas devido à falta de planejamento do impacto que estas intervenções podem causar, seja pela incompatibilidade entre os materiais originais da edificação e os inseridos nas reformas, seja pelos efeitos físicos ou estruturais destes, que podem alterar a estabilidade das estruturas, ou interferir nas condições climáticas e ambientais à que a edificação estava adaptada. Estas medidas podem solucionar alguns problemas apenas em curto prazo, sendo necessário em pouco tempo novas intervenções para a solução dos mesmos problemas (FINGER;CORREA;NETO,2006)

Uma restauração considera, além dos danos existentes, o conjunto da obra, em sua concepção formal, estilística, histórica, propondo medidas que solucionem os problemas imediatos e os futuros que possam ocorrer, inclusive com a inserção de novos materiais durante a obra. Além disso, também visa sua adaptação às novas necessidades, mas de forma a não comprometer a leitura do conjunto do edifício, e preservando-o da forma mais íntegra possível. Um projeto de restauração prevê recomendações de gestão e de conservação preventiva da edificação, que se seguidas adequadamente, permitem sua manutenção por muito mais tempo, sem a necessidade de novas intervenções (FINGER;CORREA;NETO;2006)

Viollet-le-Duc enunciou no verbete “Restauração” publicado no Dictionnaire Raisonné de l’Architecture Française du XV au XVI siècle, editado entre 1854 e 1868:

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“Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento.” (Viollet-le-Duc, 2000, p29).

Em uma restauração, são diversos os conceitos existentes para a escolha da intervenção a ser tomada. Para Viollet-le-Duc, em um projeto de restauro pode-se incluir a continuação de parte do projeto original não executado ou até mesmo a implementação de novos e modernos elementos arquitetônicos. Ruskin, pelo contrário, defendia a manutenção da edificação no estado em que ela se encontra, juntamente com as características de degradação adquiridas através do tempo, ou seja, o importante era somente evitar que o processo de deteriorização não continuasse.

No entanto, nem a intervenção mais invasiva ou inovadora e nem mesmo a conservação somente do existente serviria como regra na execução de um projeto de restauro. É preciso avaliar todos os conceitos e embasar critérios bem definidos para cada caso no momento de decidir qual intervenção a ser realizada. Esses critérios muitas vezes são definidos até mesmo pela cultura local, pelo fim a ser destinado a edificação, pela religião ou crença da sociedade que a mantém e até mesmo, pela disponibilidade financeira destinada ao restauro da edificação. Assim, se for devidamente fundamentada a inclusão de novos elementos, pode-se propô-la, desde que se haja atenção na harmonia e no sentimento estético produzida pela ligação e o contraste da mesma sobre a edificação histórica.

É difícil definir uma única linha de pensamento e procedimento, que deva ser rigorosamente seguida e aplicada a toda e qualquer obra de restauro. As peculiaridades das estruturas do patrimônio, com suas complexidades históricas, requerem a organização de estudos e propostas em etapas, semelhantes àquelas usadas em medicina. Anamnese, diagnóstico, terapia e acompanhamento. Estes três momentos ou etapas correspondem, respectivamente, à busca de dados e informações significativas, identificação das causas de danos e degradações, escolha de medidas de reparo e controle da eficiência das intervenções. Para obter adequação de custos e mínimo impacto no patrimônio arquitetônico, usando os recursos disponíveis de uma maneira racional, é normalmente necessário que o estudo repita estes passos em um processo interativo (ICOMOS, 2001).

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Na concepção de Viollet-le-Duc (2000), o arquiteto deve agir como um cirugião habilidoso e experimentado, que somente intevém em um órgão após ter adquirido o conhecimento completo de sua função e depois de ter previsto as consequências imediatas ou futuras de sua operação.

“Se for aleatório, mais vale que se abstenha. Mais vale deixar morrer o doente do que o matar” (Viollet-le-Duc, 2000, p29).

GALLO (2002) acredita que, para compreender os procedimentos de uma restauração, é preciso preliminarmente ter conhecimento dos documentos normativos e referenciais na área de preservação, que foram formalizadas e incorporadas nas chamadas Cartas Patrimoniais. São eles verdadeiros guias para a atividade de preservação e restauração. Assim, serão apresentadas no item a seguir, alguns exemplos de metodologias para restauro do patrimônio arquitetônico.

4.5 . METODOLOGIAS PARA UM PROJETO DE RESTAURO

Foram encontradas três referências bibliográficas que descrevem os procedimentos e definem as etapas a serem seguidas para a realização de um projeto de restauro: Gallo, H. (2002), ICOMOS(2001) e CULTINAT(2004).

A primeira referência apresentada foi obtida através de um artigo em que o arquiteto Haroldo Gallo relata o seu modo de realizar um projeto de restauro e define detalhadamente quais os procedimentos usados por ele.

Gallo (2002), pressupõe ter um projeto específico de restauração e preservação arquitetônica as seguintes atividades: pesquisa histórica, concepção, desenvolvimento, realização da obra, documentação da execução e divulgação e difusão.

A pesquisa histórica compreende o estudo das fontes documentais e do objeto da preservação. E são divididas em fontes documentais primárias: documentos escritos e iconográficos disponíveis (inventários, escrituras, fotografias antigas, desenhos originais, etc) e fontes documentais secundárias: bibliografia disponível sobre o objeto de pesquisa (ex: conjunto de estudos analíticos

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monográficos publicados). Porém é o objeto, na realidade, o principal documento. O seu estudo direto e a interpretação dos dados daí obtidos devem ser confrontados com as informações das demais fontes e as conclusões incorporadas ao processo de pesquisa.

A pesquisa do objeto é constituída de levantamento métrico, que compreende a determinação geométrica de toda a edificação, tanto dos bens arquitetônicos quanto dos bens integrados, como obras de arte, mobiliário, equipamentos, etc., e seu registro gráfico pelas formas convencionais da arquitetura, como plantas, cortes e elevações. Além disso, deve-se realizar, também, um levantamento fotográfico sistemático, no estágio que antecede a intervenção, para obtenção de um registro criterioso de todas as imagens, que permita a compreensão e reconstituição integral da edificação no conjunto e em seus pormenores. A pesquisa do objeto prevê também prospecções, que compreendem três categorias de elementos distintos: os componentes do artefato edifício e a identificação das alterações e sobreposições. Finalmente, são feitos o levantamento e a análise do estado de conservação e identificação de patologias.

A concepção do projeto compreende as etapas de estudo preliminar e anteprojeto, e envolve a definição dos critérios de intervenção e do partido arquitetônico a ser adotado, ou seja, a definição das linhas gerais da futura obra de restauração.

No desenvolvimento a própria execução da obra permite investigar o objeto de forma mais aprofundada, na medida em que se interfere diretamente no artefato existente. Assim sendo, a execução dos serviços e os procedimentos de construção possibilitam novas descobertas que, ampliando o conhecimento do objeto, podem definir à inclusão de novos critérios, serviços e procedimentos técnicos, até então não considerados. Nesse sentido, o projeto arquitetônico de restauração de edifícios históricos deve ser entendido como uma obra aberta a revisões.

Na documentação, toda e qualquer intervenção de restauro deve ser minuciosamente documentada em todo o seu processo, recorrendo-se tanto a registros escritos e iconográficos, como fotografias e desenhos.

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A pesquisa do objeto e a pesquisa histórica, em forma mais ampla, têm especial importância, uma vez que, do seu conhecimento são obtidas as diretrizes de intervenção a serem desenvolvidas no projeto. Este é um fator distintivo que singulariza o processo de projeto de restauro (GALLO, 2002).

A segunda referência sobre metodologia de restauro, vem do documento elaborado pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS, que a partir de uma reunião em Paris no dia 13 de setembro de 2001, discutiu diretrizes e métodos que foram aprovados e documentados. De acordo com esse documento, segue a descrição dos procedimentos essenciais para análise, conservação e restauração estrutural do patrimônio arquitetônico recomendadas pela ICOMOS em 2001.

A Pesquisa histórica e compreensão arquitetônica e estrutural serve para compreender a concepção e o significado do edifício, as técnicas e a perícia usadas na sua construção, as modificações tanto na estrutura como no ambiente ao seu redor e, finalmente, os eventos que possam ter causado danos. A validação e a interpretação meticulosa são essenciais para produzir informações confiáveis sobre a história do edifício.

Uma vez que toda a documentação estiver coletada, as fontes devem ser classificadas de acordo com a sua confiabilidade na sua tentativa de recriar a história da construção. As suposições feitas na interpretação do material histórico devem ser deixadas claras. Uma atenção especial deve ser dada para quaisquer danos, colapsos, reconstruções, adições, modificações, trabalhos de restauração, modificações estruturais e qualquer mudança no uso da estrutura que tenha caracterizado à sua condição atual.

No levantamento da estrutura, a observação direta da mesma é uma fase essencial do estudo, geralmente feita por uma equipe qualificada multidisciplinar a fim de fornecer uma compreensão inicial da estrutura e de dar uma direção apropriada às investigações subseqüentes. Entre os objetivos principais estão:

I - Identificar deterioração e danos,

II - Determinar se os fenômenos estão estabilizados ou não,

III - Decidir se há riscos imediatos e medidas urgentes a serem tomadas, IV - Descobrir se o meio ambiente é danoso ao edifício.

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O estudo de falhas estruturais começa pelo mapeamento de danos visíveis e é uma tarefa bastante delicada na qual a interpretação do que foi encontrado deve ser usada para direcionar o processo de levantamento. Durante este processo, o especialista já deve estar desenvolvendo alternativas de possíveis esquemas estruturais de modo que aspectos críticos da estrutura possam ser examinados em maiores detalhes.

Os levantamentos geométricos ou desenhos devem mapear diferentes tipos de materiais, notando sua deterioração e suas irregularidades e danos estruturais, prestando atenção especial aos padrões de fissura e às evidências de esmagamento. Irregularidades geométricas podem ser o resultado de deformações prévias e/ou indicar a ligação entre diferentes etapas de construção ou alterações nas estruturas.

A pesquisa de campo e ensaios de laboratório são testes que possuem como objetivo identificar as características mecânicas (resistência, deformabilidade, etc.), físicas (porosidade, etc.) e químicas (composição, etc.) dos materiais, as tensões e deformações da estrutura, a presença de descontinuidades e/ou trincas no interior da estrutura, etc.

O monitoramento a longo prazo (observação estrutural durante um período de tempo) pode ser necessária não somente para adquirir informação útil quando existir suspeita de fenômeno progressivo, mas também durante os diferentes estágios de intervenção estrutural. Neste caso, os efeitos são monitorados a cada estágio (abordagem de observação) e dados adquiridos serão usados como base para qualquer decisão futura.

Na identificação das causas (diagnóstico) verificam-se as causas de danos e deterioração com base nos dados adquiridos, obedecendo três aspectos: análise histórica, qualitativa e quantitativa. O diagnóstico é geralmente uma fase difícil, uma vez que os dados disponíveis freqüentemente se referem a efeitos enquanto o que deve ser determinado é a causa – ou, como geralmente é o caso, as várias causas concomitantes. Por esse motivo que a intuição e a experiência são componentes essenciais no processo de diagnóstico. Um diagnóstico correto é indispensável para uma avaliação adequada da segurança e para decisões racionais sobre as medidas de tratamento a serem adotadas.

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A avaliação de Segurança é o próximo passo para completar a fase de diagnóstico. Enquanto o objetivo do diagnóstico é identificar as causas de danos e de deterioração, a avaliação de segurança deve determinar se os níveis de segurança são aceitáveis, ao analisar a condição atual da estrutura e dos materiais. Nesta etapa é decidida a necessidade de medidas corretivas e a sua extensão no processo de restauração.

Para a avaliação da segurança, obtém-se o “melhor julgamento” após a análise e a combinação de todas as informações obtidas a partir da pesquisa histórica, abordagem qualitativa, analítica e experimental.

O julgamento deve levar em consideração tanto aspectos objetivos quanto subjetivos, tendo sido pesados com base na confiabilidade dos dados e nas suposições feitas. Tudo isto deve fazer parte do “Memorial Justificativo” (Relatório Explicativo).

As decisões e o memorial justificativo (relatório explicativo) como julgamentos qualitativos podem ter um papel tão importante quanto dados quantitativos, a aplicação da segurança e as decisões conseqüentes sobre a intervenção devem ser colocadas no “Memorial Justificativo” (Relatório Explicativo), já referido, onde todas as considerações relacionadas à avaliação e às decisões finais são claramente explicadas.

A terceira e ultima referência encontrada sobre a metodologia de restauro foi a partir da página internet do centro de documentação cultural e natural do patrimônio - Center for the Documentation of the Cultural and Natural Heritage - CULTNAT que pesquisa e divulga trabalhos e desenvolvimentos que são realizados no mundo e em diversas instituições de ensino avançado. A partir da pesquisa feita sobre a faculdade de engenharia da Universidade do Cairo, que possui o Centro de Engenharia para Arqueologia e Ambiente “Engineering Center for Archeology and Enviromment - ECAE“, foi possível encontrar a descrição de uma forma sucinta e técnica, de toda a teoria citada anteriormente através de uma metodologia por eles adotada para a realização de projetos de restauração baseada na experiência de outros países e na experiência local dos egípcios da Universidade do Cairo. Ela respeita a Carta de Atenas, a Carta de Veneza, e as normas de Quito (CULTNAT, 2004).

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O método consiste em 3 fases (CULTNAT, 2004): Fase 1 – Documentação

1.1 - Estudos históricos, fotografias, pesquisas e documentação arquitetônica para o fornecimento dos seguintes elementos:

1.2 - Locação: coordenadas, acessibilidade, limites e relação com o entorno. 1.3 - Registro histórico: período e data da construção e nome do construtor. 1.4 - Função: residência, igreja, capela, templo, instituição, escola, etc.

1.5 - Elementos arquitetônicos: colunas, portas, janelas, paredes. Estes elementos são registrados com mapas, plantas, desenhos, croquis, esboços e fotos que dão uma descrição completa de todos os espaços, usos e relações entre eles, de acordo com a função da construção.

1.6 - Tipo de material: pedra, madeira ou adobe nos diferentes elementos arquitetônicos, suas origens e composição específica.

1.7 - Mudanças/Modificações: toda e qualquer implementação, intervenção ou alteração realizada pelos diferentes usuários do monumento e as adaptações feitas pelos mesmos para adequação, por exemplo, de uma nova função, diferente da de sua origem.

1.8 - Fases de restauração: todos os trabalhos de restauro previamente executados durante todo o período de sua vida útil como edificação (quando? Quais partes ou elementos? Onde? Qual material usado? Custos?)

Fase 2 – Estudos técnicos

Estudo de solo e fundação, estudo de materiais de construção, avaliação estrutural, estudo hidráulico, lumínico, de segurança e prevenção contra incêndio. Portanto, é realizada uma avaliação geo-ambiental do monumento que define:

2.1 - Qualidade do ar: o ar é analisado para determinar a composição e concentração de poluentes.

2.2 - Água subterrânea: análise amostral da água subterrânea para identificação da acidez, agressividade da água e sua salinidade.

2.3 - Características da rocha e do solo: determinação das propriedades geotécnicas (física, mecânica) de diferentes camadas do solo para determinar a estabilidade das fundações.

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2.4 - Variação da temperatura: durante o dia e a noite, no verão e no inverno, para medir e avaliar o efeito das mudanças diurnas do ambiente no local do monumento e seus efeitos de umidade, dilatação das fissuras e rachaduras, e reações químicas.

2.5 - Fenômeno de degradação: diagnósticos patológicos .

2.6 - Avaliação da estabilidade estrutural: reconhecimento e mensuração da maioria das rachaduras que separa elementos estruturais devido a diferentes tipos de junções da fundação ou devido ao movimento do solo.

Fase 3 – Projeto de restauração e desenho

Finalmente, o planejamento apropriado das medidas de restauro a serem tomadas acompanhadas de especificações técnicas, custo de quantidades e materiais, e desenhos técnicos do projeto (CULTNAT, 2004).

A partir do embasamento e a descrição dos processos metodológicos para a conservação e o restauro acima mencionadas, é pertinente ressaltar que a fotogrametria pode servir como um valioso instrumento, principalmente, nas seguintes abordagens:

Para a pesquisa do objeto, auxilia no levantamento da geometria e no registro gráfico dos bens arquitetônicos. Isto poderá ser verificado no trabalho proposto para esta dissertação a partir do estudo de caso desta pesquisa (ver capítulo 5).

No estudo de falhas estruturais e diagnóstico, a técnica fotogramétrica colabora no mapeamento de danos visíveis (uma vez identificado o dano, é possível registrá-lo com precisão).

No monitoramento é possivel controlar as mudanças na abertura de trincas a partir da colocação de um selo (testemunha) sobre elas. As fotos retificadas podem fornecer com precisão a evolução das mesmas, revelando fenônemos progressivos nas estruturas.

Para o desenvolvimento (execução da obra), as novas descobertas podem ser avaliadas pela fotogrametria, principalmente em casos em que a coleta de dados e medição são inacessíveis ao especialista ou quando esse processo possa trazer riscos ao patrimônio ou falta de segurança.

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Finalmente, na documentação da intervenção, assim como, no memorial justificativo, a inclusão dos registros fotogramétricos até então adquiridos são fundamentais como registros precisos que servem para esclarecer , de forma técnica, a razão pela qual foi proposta as intervenções de projeto, além de ser um documento valioso de informações sobre as características e o estado de conservação da edificação anterior à realização do restauro.

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4.6. FOTOGRAFIA

Com o surgimento da fotografia Roland Barthes (apud Choay, 2001) compreendeu que esse “objeto antropologicamente novo” não vinha fazer concorrência, nem contestar, nem rejeitar a pintura. Ela traz um novo tipo de prova que nenhum escrito pode dar. Esse poder de conferir autenticidade relaciona-se certamente às reações químicas que fazem da fotografia uma emanação do referente e, ao mesmo tempo, lhe conferem também o poder de ressuscitar. A fotografia contribui, além disso, para a semantização do monumento-sinal. Toda construção pode ser promovida a monumento pelas novas técnicas de “comunicação”.

Segundo Viollet-le-Duc (2000), a fotografia assumiu um papel importante no auxílio ao trabalho de restauração dos edificios antigos. Quando os arquitetos tinham à sua disposição somente os meios comuns de desenho, mesmo os mais exatos, era-lhes bastante dificil não cometer algumas omissões, não negligenciar alguns traços pouco aparentes. Com o uso da fotografia após o término do trabalho de restauração, pode-se sempre contestar a exatidão dos levantamentos gráficos daquilo a que se chama estados atuais. Ela apresenta essa vantagem de fornecer relatórios irrefutáveis e documentos que podem ser consultados sem cessar, mesmo quando as restaurações mascaram os traços deixados pela ruína. A fotografia levou, naturalmente, os arquitetos a serem mais escrupulosos no respeito pelos detalhes, melhor conscientização da estrutura, e fornece-lhes um meio permanente de justificar suas operações. Muitas vezes, se descobre na foto aquilo que não se tinha percebido no próprio monumento.

As potencialidades da fotografia está no registro instantâneo e fiel , na obtenção de informações adicionais sobre sua cor e textura, possibilitando a identificação de materiais que a compõem e seu estado de conservação, além de revelar detalhes das estruturas fornecendo documentos de estados sucessivos de obras em andamento.

A difusão da fotografia, permite que pessoas comuns registrem cenas do cotidiano, incluindo monumentos arquitetônicos de grande valor histórico. Esses

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registros amadores são, muitas vezes, a única fonte de informações a respeito da edificação e podem servir como base de seu cadastramento (MEDINA, 2002).

A partir da fotografia, surgiu a fotogrametria, desta forma, além das potencialidades já mencionadas, foi possível a obtenção precisa da geometria do objeto contido na imagem fotográfica, facilitando a extração de dados para documentação e cadastro , além de possibilitar o planejamento e a representação da imagem de uma edificação sonhada ou projetada sobre a imagem de uma outra já construída, autêntica e fotografada. Isso permite a visão da combinação entre ambas, possibilitando prever intervenções futuras que interfiram na paisagem ou na construção existente. A pirâmide do Louvre, por exemplo, já existia antes que se iniciasse sua construção.

4.7. FOTOGRAMETRIA 4.7.1. DEFINIÇÃO

A palavra Fotogrametria é derivada de três palavras de origem grega: “photos” (luz), “gramma” (descrição) e “metron” (medida). E pode ser definida como uma técnica de extrair de fotografias, as formas, as dimensões e as posições dos objetos nelas contidos (AMORIM et GROETELAARS, 2004).

A Fotogrametria também pode ser definida como a ciência e tecnologia para a determinação de informações precisas de objetos e do meio ambiente, a partir do registro, mensuração e interpretação de imagens fotográficas (LOCH & LAPOLLI, 1994).

Entre os maiores benefícios da Fotogrametria sobre outros procedimentos de campo pode-se citar: o aumento da precisão, a informação da construção mais completa, custos reduzidos, além do tempo reduzido a campo. Estes benefícios são resultados da substituição de medidas de campo por medição de imagens. Isto remove a necessidade do acesso físico em cada ponto que a medida é necessária (MELLO, 2002, p12).

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A aplicação da Fotogrametria é dividida em dois tipos, a terrestre, fotografias tomadas a partir da superfície terrestre, e a aérea, também chamada de aerofotogrametria, quando câmaras são montadas em aeronaves ou espaçonaves e tiradas a partir de vôos sobre a área de registro.

Os produtos hoje obtidos através da fotogrametria contêm um valioso caudal de informações que, uma vez decifrados por especialistas e técnicos em sistemas de processamento, constituem uma importante ferramenta para a realização e controle de muitos aspectos da atividade prática do homem.

Com o grande avanço da Informática nas duas últimas décadas e, também, com a produção de equipamentos computacionais cada vez mais velozes no processamento e maior capacidade de memória eletrônica para armazenamento dos dados, a fotogrametria e o desenvolvimento de seus produtos deu um grande salto em questões de precisão, acurácia, qualidade de imagem, diversificação maior de produtos e velocidade na obtenção dos mesmos.

Históricamente, as soluções gráficas nos primórdios da Fotogrametria foram utilizadas por Aimé Laussedat que, em 1849, foi o primeiro a utilizar fotografias para auxiliar na confecção de mapas. No entanto, o termo fotogrametria, somente apareceu no ano de 1893, quando o Dr. Albrecht Meydenbauer o utilizou pela primeira vez. O novo vocabulário teve grande aceitação (ROCHA et al, 2004).

As técnicas analógicas começaram a ser utilizadas depois de 1901, quando o alemão Dr. Carl Pulfrich inventa o estereocomparador, o que facilitou o trabalho dos usuários, graças à substituição de inúmeros cálculos matemáticos e operações geométricas por equipamentos ótico-mecânicos. As soluções analógicas foram amplamente substituídas pelos processos analíticos e, mais recentemente, pelos digitais (AMORIM et GROETELAARS, 2004).

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4.7.2. FOTOGRAMETRIA TERRESTRE E À CURTA DISTÂNCIA

A Fotogrametria terrestre foi a ciência precursora, uma vez que na época de seu aparecimento, em meados do século XIX ainda não existiam aeronave2.

Posteriormente, passou-se a fotografar de balões e aeroplanos, surgindo então a Fotogrametria aérea (MELLO, 2002, p13).

O termo fotogrametria a curta distância para Kraus (1993) é um ramo da técnica onde o objeto deve estar entre 1m a 100m da câmara e para Atkinson (1996) é quando a extensão do objeto é menor que 100m e as câmaras são posicionadas próximas a ele.

Coelho (2000) afirma que fotogrametria a curta distância é também conhecida como fotogrametria terrestre. Loch (1994) acredita que é pelo fato da fotografia ser obtida de um ponto da superfície terrestre, portanto os autores entendem fotogrametria terrestre e fotogrametria à curta distância como sinônimos.

No entanto, Westphal (1999) diz que o termo fotogrametria a curta distância pode ser empregado quando a distância entre a câmara e o objeto, não ultrapassa os 300 metros, para fotogrametria terrestre, e os 1000 metros para fotogrametria aérea.

Kraus (1993) completa dizendo que as fotografias terrestres a longas distâncias, são utilizadas apenas em casos especiais como por exemplo em medições topográficas por expedições e pesquisas glaciais .

Coelho (2000) menciona em um outro critério de classificação, que na fotogrametria à curta distância há convergência dos eixos ópticos substituindo o paralelismo, ou seja, o foco não é dado ao infinito.

Portanto, dentre autores pesquisados podemos associar as seguintes características à fotogrametria a curta distância: as imagens são obtidas por volta do objeto, o eixo das câmeras podem ser convergentes, as fotografias são obtidas de estações fixas e geralmente de posições determinadas sobre o terreno e devem respeitar uma distância máxima de 300 metros entre a camêra e o objeto.

2 A aeronave foi inventada somente em 23 de outubro de 1906, por Alberto Santos Dumont. Contudo a

plataforma aérea não foi utilizada de imediato, pois ainda eram necessários aperfeiçoamentos e adaptações (ROCHA et al, 2004).

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A Fotografia terrestre pode ser estática ou dinâmica, as fotos devem ser obtidas sobre o terreno, e é chamada de horizontal quando o seu eixo principal é horizontal entre a câmera e o objeto, oblíqua, quando o eixo principal é inclinado.

Outro ponto, de extrema relevância é a dificuldade de homogeneização de métodos, pois com o avanço tecnológico, equipamentos convencionais são utilizados em certos estudos, provocando um leque heterogêneo de métodos e resultados.

Tanto a fotogrametria terrestre como fotogrametria à curta distância são muito mais eficientes e econômicas que a poucas décadas atrás, principalmente devido ao avanço da tecnologia digital e no desenvolvimento de avançados sistemas de processamento. Atualmente, a falta de rigor no uso de câmeras métricas, requer novos mercados sobre a demanda fotogramétrica. Além de que, há mais técnicos de diferentes áreas interessados em aplicar processos fotogramétricos em seu campo de trabalho. Esta realidade pode ser verificada em mercados específicos tais como fotogrametria arquitetural, arqueológica e industrial (Lema et Tortosa, 2004). Também pode ser aplicada na medicina, esportes, animações, filmagens e acidentes de trânsito. Um exemplo deste avanço no mercado é a possibilidade de restituir e recuperar edificações através de fotos antigas, obtidas sem nenhuma precisão métrica. A principal vantagem é que em muitos casos, a fotografia antiga pode ser a única fonte de dados sobre uma edificação já destruída. E com o método fotogramétrico pode-se obter toda a geometria de sua arquitetura.

Os resultados da fotogrametria à curta distância devem geralmente ser avaliados rapidamente após a aquisição de imagens podendo ser usados para vários processos relacionados à mensuração do objeto e suas funções. Uma característica significante da fotogramétria à curta distância é a grande diversidade de problemas de medição que podem ser solucionadas usando a técnica. Para isso, são utilizados diferentes tipos de câmeras, imagens, configurações, processos fotogramétricos, métodos de análise e forma de resultados a serem considerados, como instrumentação específica e técnicas a serem selecionados dependendo de cada caso em particular (ATKINSON, 1996, p 9).

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A sociedade Americana de Fotogrametria e Sensoriamento Remoto (ASPRS) enumera as seguintes aplicações para a Fotogrametria terrestre à curta distância. São elas:

a) análise detalhada de fachadas de prédios, servindo para a recuperação de estruturas ou para trabalhos de arquitetura;

b) mapeamento topográfico, auxiliando nos trabalhos de campo, uma vez que, além de obter dados com o teodolito, ainda obtém a imagem do local, usada em locais de difícil acesso e de grande interesse;

c) na evolução de escavações ou explorações em minas ou reservas quaisquer; d) aplicações na agricultura, ecologia, florestas, arqueologia, paleontologia,

criminologia, oceanografia e acidentes de trânsito.

O maior uso da técnica fotogramétrica para Atkinson (1996) tem sido a representação de fachadas ou levantamento de edificações e estruturas históricas. O produto mais comum é a linha de desenho que delimita a forma arquitetural. Muitos dos estudos e pesquisas requerem o envolvimento de várias disciplinas relacionadas a restauração e conservação. O produto é bastante usado para fins comerciais para reforma de edificações, em que não se tem um grande interesse histórico no geral, através do registro de fachadas e interiores das mais importantes edificações e estruturas históricas.

Um dos pontos questionados é porque o produto fotogramétrico não é requerido em todo o projeto relacionado a uma edificação existente ou um monumento. É um erro desconsiderar a grande complexidade e a escolha certa que envolve o trabalho de conservação de edificações. Para muitos projetos, o custo do registro fotogramétrico não é considerado como necessário e justificável. Enquanto que a fotogrametria indubitavelmente representa economia de custo. Portanto, o ideal para a pesquisa e o registro é que a utilização do método fotogramétrico torne-se automático (ATKINSON, 1996).

O levantamento e registro preciso de patrimônio cultural, é essencial para: a) acumular conhecimento e propiciar compreensão da herança cultural e sua

progressão;

b) ajudar a manutenção e a preservação do patrimônio de modo fiel a seu aspecto físico, material, construtivo e significado histórico e cultural;

Referências

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