• Nenhum resultado encontrado

O reconhecimento dos direitos trabalhistas dos profissionais do sexo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O reconhecimento dos direitos trabalhistas dos profissionais do sexo"

Copied!
37
0
0

Texto

(1)

BRUNA EDUARDA SEIBEL

O RECONHECIMENTO DOS DIREITOS TRABALHISTAS DOS PROFISSIONAIS DO SEXO

Três Passos (RS) 2015

(2)

BRUNA EDUARDA SEIBEL

O RECONHECIMENTO DOS DIREITOS TRABALHISTAS DOS PROFISSIONAIS DO SEXO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Paulo Scherer

Três Passos (RS) 2015

(3)

Dedico este trabalho à minha família, base de toda minha caminhada. Obrigada pelo apoio incondicional, carinho e compreensão em todas as horas.

(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela saúde, força e coragem durante esta caminhada, para superar todas as dificuldades.

À minha mãe Vera, minha heroína, que me deu o suporte necessário para chegar até esse momento, não me deixando desistir em momento algum, sempre me fortalecendo. Também à minha irmã Renata, por acompanhar e entender minhas angústias e principalmente por saber que o futuro é feito da constante dedicação no presente.

Ao meu amor Rodolfo, pessoa que amo partilhar a vida. Sua presença tem significado segurança, certeza e paz no meio de toda essa correria do dia a dia, é muito bom ter você ao meu lado.

A esta Universidade, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram um ambiente amigável para que pudesse concluir com sucesso está jornada.

Ao meu professor orientador Paulo Scherer, com quem tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação, disponibilidade e incentivo, pela sua paciência me ajudando a concluir meu trabalho, abraçando-o como um trabalho seu.

À professora Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi, por ter aceitado mais que prontamente meu convite. É um prazer tê-la como banca examinadora.

A todos que fizeram parte da minha caminhada, contribuindo para meu

(5)

No reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se por em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto, não permite equivalente, então ela tem dignidade." (I.Kant – Fundamentos da Metafísica dos Costumes, 1785).

(6)

O presente trabalho de conclusão de curso busca estudar o reconhecimento dos diretos trabalhistas dos profissionais do sexo, além das questões sociais inerentes à prostituição, ou seja, como a sociedade se comporta e como este segmento de pessoas se posiciona frente a este assunto. As concepções sobre como deve ser entendida a questão do reconhecimento dos direitos dos profissionais do sexo variam com o processo histórico-evolutivo da sociedade, vez que sempre houve um pré-conceito frente a este assunto. Contudo, não há uma compreensão do tema aceita como definitiva, já que estes profissionais estão buscando pouco a pouco o reconhecimento, estando em permanente processo de adaptação. Finaliza concluindo que se deve compreender por quais motivos deve-se regulamentar a prostituição como profissão, apresentando em sequência os direitos a serem tutelados e os deveres advindos deste reconhecimento.

Palavras-Chave: Prostituição. Direitos trabalhistas. Regulamentação. Profissionais do sexo.

(7)

This study completion course aims to study the recognition of direct labor of sex workers, as well as social issues related to prostitution, ie how society behaves and how this segment of people stands against this. The views on how it should be understood the issue of recognition of the rights of sex workers vary with the historical and evolutionary process of society, since there has always been a pre-concept forward to this. However, there is no understanding of the subject accepted as definitive, as these professionals are gradually seeking recognition, being in permanent process of adaptation. Ends concluding that one must understand for what reasons should regulate prostitution as a profession, presenting sequentially rights to be safeguarded and duties arising from that recognition.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 O TRABALHO E A PROSTITUIÇÃO NA HISTÓRIA ... 100

1.1 Diferença entre relação de emprego e relação de trabalho ... 100

1.2 Direitos sexuais ... 122

1.3 Prostituição ... 144

2 A PROSTITUIÇÃO COMO EFETIVA ATIVIDADE LABORAL ... 188

2.1 Direito comparado ... 188

2.1.1 Direito Holandês ... 211

2.1.2 Direito Alemão ... 222

2.1.3. Direito Argentino ... 233

2.1.4 Países Proibicionistas ... 244

2.2 Os direitos humanos dos trabalhadores em sexo ... 255

2.3 O reconhecimento da prostituição como profissão ... 277

CONCLUSÃO ... 30

(9)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca verificar questões atinentes ao reconhecimento dos direitos trabalhistas dos profissionais do sexo bem como os deveres dali advindos. No Brasil o ato de prostituir-se não é caracterizado como crime, mas a atividade em torno da prostituição sim. É uma atividade profissional reconhecida pelo Ministério do Trabalho que não possui restrições legais enquanto praticada por adultos.

A atividade das profissionais do sexo é comumente conhecida como prostituição, palavra que difere quanto à origem. No grego clássico tem-se porneia, que significa relações sexuais ilícitas, no período de domínio romano tem-se que seria a junção dos termos stare entendida como “ficar” e pro em “frente”, vez que as que praticavam essa profissão ficavam em frente aos seus clientes fazendo exibição do material oferecido.

Inicialmente, no primeiro capítulo, fez-se uma breve abordagem a respeito da distinção entre relação de emprego e relação de trabalho, para posteriormente poder conceituar direitos sexuais e dentro deste contexto inserir a prostituição como profissão perante a sociedade, afim de que se possa garantir a liberdade de escolha.

No segundo capítulo analisa-se mais profundamente que a regulamentação da prostituição é de suma importância, vez que não só irá tirar os profissionais do “submundo” e trazer-lhes para o campo da licitude, como também garantir-lhes-á a dignidade inerente a todos os seres humanos aumentando o número de cidadãos com direitos e com certeza humanizando mais a sociedade.

(10)

Como será demonstrado no decorrer do presente estudo, a prostituição está consolidada como trabalho, ainda que informal e que durante a história, esta atividade persiste mesmo diante das dificuldades enfrentadas no exercício da profissão, da ilegalidade e do preconceito vivenciado perante a sociedade.

(11)

1 O TRABALHO E A PROSTITUIÇÃO NA HISTÓRIA

A prostituição é, e sempre foi reprovada pela maioria das sociedades, graças à possível transmissão de doenças, ou por causa do adultério, ou ainda pelo fato da exibição dessas mulheres nas ruas. Em muitas civilizações na Antiguidade, a prostituição era praticada por meninas como um ritual de iniciação quando atingiam a puberdade. Já no Egito Antigo, as prostitutas que eram consideradas sagradas, recebiam honras de verdadeiras divindades e presentes em troca de relações sexuais.

A pratica da prostituição está embasada, em argumentos moralistas e preconceituosos de forma que há uma tentativa de ordem social e a preservação das famílias. Houve várias tentativas de regulamentação da prostituição no Brasil em diferentes períodos e diferentes cidades.

No entanto, antes de tratar sobre o tema da legalização da prostituição, bem como do reconhecimento dos direitos desses profissionais é necessário traçar alguns pontos sobre o mundo do trabalho, alicerce do presente estudo.

1.2 Diferenças entre relação de emprego e relação de trabalho

As relações de emprego diferenciam-se no mundo jurídico, especialmente, em função da legislação aplicável e, consequentemente, pela intenção do legislador na forma de tutelar o trabalho.

A relação de emprego pode ser definida como uma relação jurídica de natureza contratual que tem de um lado o empregado e de outro o empregador como sujeitos, e tem como objeto o trabalho subordinado, continuado e assalariado.

Já a relação de trabalho tem um caráter genérico, e refere-se a toda modalidade de contratação de trabalho humano modernamente admissível.

(12)

Maurício Godinho Delgado (2007, p. 287), distingue como se verifica a relação de trabalho da de emprego:

A primeira expressão tem caráter genérico: refere-se a todas as relações jurídicas caracterizadas por terem sua prestação essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em labor humano. Refere-se, pois, a toda modalidade de contratação de trabalho humano modernamente admissível. A expressão relação de trabalho englobaria, desse modo, a relação de emprego, a relação de trabalho autônomo, a relação de trabalho eventual, de trabalho avulso e outras modalidades de pactuação de prestação de labor (como trabalho de estágio, etc.). Traduz, portanto, o gênero a que se acomodam todas as formas de pactuação de prestação de trabalho existentes no mundo jurídico atual. [...]

A relação de emprego, do ponto de vista técnico-jurídico, é apenas uma das modalidades especificas de relação de trabalho juridicamente configuradas. Corresponde a um tipo legal próprio e específico, inconfundível com as demais modalidades de relação de trabalho ora vigorantes.

Nesse sentido, a relação de trabalho é mais genérica abrangendo todos os vínculos jurídicos caracterizados por objetivarem um labor humano. Já a relação de emprego é um tipo de jurídico específico dentre aqueles abrangidos pela relação de trabalho, ou seja, em síntese a primeira é gênero do qual a segunda é a espécie.

Entretanto, apesar do vínculo entre a relação de trabalho e de emprego (gênero e espécie), essas são tratadas pela legislação de forma especial e distinta.

Dessa forma, em se tratando de relações de emprego, as normas aplicáveis no Brasil são aquelas constantes no Decreto-Lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho-CLT, sancionada pelo então Presidente da época Getúlio Vargas, com fim especial de regulamentar as relações individuais e coletivas, e na legislação complementar.

Para haver uma relação de emprego faz-se necessário que o trabalho seja realizado por pessoa física, bem como que a prestação do serviço seja desenvolvida com pessoalidade (sempre o mesmo trabalhador), não-eventualidade (continuidade da prestação do serviço), onerosidade (deve haver uma contraprestação) e subordinação (estar submetido a ordens).

(13)

A relação de trabalho rege-se pelas leis especiais ou ainda pelo disposto do Código Civil, conforme artigo 593: “A prestação de serviços que não estiver sujeita a leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capitulo.”

Portanto, após uma breve distinção das relações entre trabalho e emprego, e partindo da análise de que na relação de emprego é necessária a presença, dentre outras características, da subordinação, e a lei proíbe expressamente a exploração da prostituição, esta deve ser caracterizada como relação de trabalho, visto que a execução da atividade é permitida.

Assim, a partir destas anotações é possível abordar os direitos relacionados à prostituição objeto do próximo tópico.

1.2 Direitos sexuais

Os direitos sexuais são direitos humanos universais baseados na liberdade inerente à pessoa humana, dignidade e igualdade para todos os seres humanos. Já são reconhecidos em Constituições Nacionais e leis, em princípios de direitos humanos, e em conhecimentos científicos relacionados à sexualidade humana e saúde sexual. A Declaração dos Direitos sexuais afirma:

[...] que a igualdade e não descriminação são fundamentais à proteção e promoção de todos os direitos humanos e incluem a proibição de quaisquer distinções, exclusões ou restrições com base em raça, etnia, cor, sexo, linguagem, religião, opinião política ou outra qualquer, origem social ou regional, características, status de nascimento ou outro qualquer, inclusive deficiências, idade, nacionalidade, estado civil ou familiar, orientação sexual e identidade de gênero, estado de saúde, local de residência e situação econômica ou social. (WAS-Associação Mundial pela Saúde Sexual, 2014).

A sexualidade é parte integral da personalidade de toda pessoa, abrangendo sexo, identidade, orientação sexual, intimidade. É fortemente influenciada por fatores biológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos. A Organização Mundial da Saúde, que é uma agência especializada em saúde, fundada no ano de 1948 e subordinada a Organização das Nações Unidas, com objetivo de desenvolver ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos, define

(14)

sexualidade como parte da personalidade de cada um, sendo uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida, bem como que a sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações da saúde física e mental.

Em contrapartida, a saúde sexual é um estado físico, mental, emocional e social relacionado à sexualidade, de forma responsável e respeitosa para com as experiências sexuais, livres de coerção, discriminação ou violência, não se tratando apenas de ausência de doenças.

No contexto das modernas sociedades democráticas, os direitos sexuais se ampliam em outros direitos, sendo além da sexualidade e a saúde sexual, a opção/orientação sexual, que se define por quais gêneros uma pessoa se sente atraída, tendo a liberdade de escolha.

Para Sergio Carrara (2004), os direitos sexuais unificam linhas de ação e reflexão que antes se desenvolviam de forma isolada, abordando a sexualidade em planos distintos: o plano da orientação ou da diversidade sexual, o movimento de mulheres e o feminista e o plano em que diferentes movimentos sociais pensam a sexualidade do ponto de vista das consequências das relações sexuais. De acordo com o previsto no artigo 96 da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim:

Os direitos humanos das mulheres incluem seus direitos a ter controle e decidir livre e responsavelmente sobre questões relacionadas à sua sexualidade, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, livre de coação, discriminação e violência. Relacionamentos igualitários entre homens e mulheres nas questões referentes às relações sexuais e à reprodução, inclusive o pleno respeito pela integridade da pessoa, requerem respeito mútuo, consentimento e divisão de responsabilidades sobre o comportamento sexual e suas consequências.

O direito de exercer plenamente a prostituição tem sido pleiteado insistentemente juntamente com outros movimentos como, por exemplo, a dos homossexuais. Esses direitos podem ser vistos como direitos sexuais, que estão ligados ao campo dos direitos humanos.

(15)

Nesse sentido, a discussão sobre o direito de exercer a prostituição nada mais é que uma escolha, uma vontade individual expressa em um movimento social, que busca dos poderes públicos o reconhecimento dessa vontade, que será tratado adiante.

1.3 Prostituição

A palavra prostituição vem do verbo latino prostituire, que significa expor publicamente, colocar a venda, segundo o dicionário Aurélio é o ato ou efeito de prostituir, ou seja, uma atividade que obtém lucro através da oferta de serviços sexuais.

Importante, definir o conceito de prostituição, em face das confusões surgidas entre os termos “prostituição” e “prostituta”, já que na maioria das vezes tratadas como sinônimos. Nesse sentido, bem salienta a antropóloga Rostagnol (2000, p. 95-107), a prostituição é exercida por qualquer um que venda serviços sexuais, não só pela prostituta:

A prostituição é um fenômeno social extremamente complexo que atravessa traços profundos da sociedade, com múltiplas derivações. Diz respeito à economia, ao trabalho, à sexualidade, à moral e às relações de gênero. Mulheres, homens, homossexuais, transexuais, travestis e crianças, todos eles engrossam as fileiras da prostituição. Sendo um fenômeno social, ocasionalmente é tratado como um fenômeno natural. Com frequência, prostituição e prostitutas são consideradas sinônimos, de tal forma que todo sistema da prostituição passa a ser visto e definido a partir das prostitutas, esquecendo que a prostituição envolve uma relação entre alguém que vende os serviços sexuais e alguém que os compra.

A prostituição, conhecida pelo senso comum como “a mais antiga profissão do mundo”, sempre foi um tema muito polêmico, tanto nacional como internacionalmente, de modo que, historicamente, os países encontram-se divididos entre sua proibição ou regulamentação.

Segundo Mario Bezerra da Silva (2008), há no mundo três sistemas legais sobre a prostituição: o Regulamentarismo, o Proibicismo e o Abolicionismo. No Regulamentarismo, a profissão é reconhecida e regulamentada, alguns países como

(16)

Uruguai, Equador, Bolívia e outros países em outros continentes como Alemanha e Holanda adotam esse sistema. Ainda conforme o autor, essas regulamentações são muito conservadoras, tendo vantagens e desvantagens, bem como exigências descabidas, como, por exemplo, a submissão a exames periódicos, que não é exigido para outras profissões.

No Uruguai, a profissão foi descriminalizada em 1915, porém, em 1999 a câmara dos Deputados do Uruguai aprovou um projeto de lei regulamentando o exercício da prostituição, criando um registro nacional de trabalhadoras sexuais e limitando lugares em que a profissão pode ser exercida, sendo considerada uma falta caso alguma prostituta seja encontrada trabalhando nas ruas.

O Proibicismo é adotado por pouquíssimos países, como os Estados Unidos, onde a prática da prostituição é ilegal, condenando todos os envolvidos: prostituta, agenciadores e cliente, ou seja, o Estado decide o que a pessoa pode ou não fazer com seu corpo. A crítica que se faz a este sistema é que, como bem observa Regis Prado (2010, p.699):

[...] sua adoção, por alguns países, não surtiu o efeito almejado pela legislação penal, já que a prostituição é motivada por fatores complexos, muitas vezes por graves problemas sociais, não constituindo causa obstativa da sua prática o simples fato de ser considerado delito.

Quanto ao sistema abolicionista, dentre os países que o aderem pode-se citar a Itália, Portugal, Espanha, assim como o Brasil. Neste sistema, a prostituta é uma vítima e só exerce a atividade por coação de um terceiro, “explorador ou agenciador” que receberia parte dos lucros obtidos pelo profissional, de modo que o abolicionismo pune o dono ou gerente da casa de prostituição e não a prostituta, ou seja, quem está na ilegalidade para este sistema é o empresário.

No Brasil a prostituição foi incorporada à Classificação Brasileira das Ocupações – CBO em 2002, esta classificação descreve e ordena as ocupações dentro de uma estrutura hierarquizada que permite agregar as informações referentes ao trabalho, segundo características ocupacionais que dizem respeito à natureza da força de trabalho e ao conteúdo do trabalho. O órgão responsável pela

(17)

manutenção e gestão da Classificação Brasileira das Ocupações é o Ministério do Trabalho e Emprego.

Classificada com o código n.o 5198-05, segundo a CBO os profissionais do sexo são pessoas que dispõe de:

I. Condições gerais de exercício trabalham por conta própria, na rua,

em bares, boates, hotéis, rodovias e em garimpos, atuam em ambientes a céus abertos, fechados e em veículos, horários irregulares. No exercício de algumas atividades podem estar expostas a inalação de gases de veículos, a poluição sonora e a discriminação social. Há ainda dicas de contágios de doenças sexualmente transmissíveis e maus tratos, violência de rua e morte.

II – Formação e experiência, para o exercício o profissional requer-se

que os trabalhadores participem de oficinas sobre o sexo seguro, oferecidas pelas associações da categoria. Outros cursos complementares de formação profissional, como, por exemplo, curso de beleza, de cuidados pessoais, de planejamento de orçamento, bem como cursos profissionalizantes para rendimentos alternativos também são oferecidos pelas associações, em diversos Estados. O acesso à profissão é livre aos maiores de dezoitos anos; a escolaridade média está na figura de quarta a sétima séries do ensino fundamental. O pleno desenvolvimento das atividades ocorre após dois anos de experiência.

III – Áreas de atividades: 1 – Batalhar programa; 2 – Minimizar as

vulnerabilidades; 3 – Atender Clientes; 4 – Acompanhar Clientes; 5 – Administrar orçamentos; 6 – Promover a organização da categoria; 7 – Realizar ações educativas no campo da sexualidade.

IV – Competência as Pessoas: 1 – Demonstrar capacidade de

persuasão; 2 – Demonstrar capacidade de expressão gestual; 3 – Demonstrar capacidade de realizar fantasia eróticas; 4 – Agir com honestidade; 5 – Demonstrar paciência; 6 – Planejar o futuro; 7 – Prestar solidariedade aos companheiros; 8 – Ouvir atentamente (saber ouvir); 9 – Demonstrar capacidade lúdica; 10 – Respeitar o silêncio do cliente; 11 – Demonstrar capacidade de comunicação em língua estrangeira; 12 – Demonstrar ética profissional; 13 – Manter sigilo profissional; 14 - Respeitar Código de não cortejar companheiro de colegas de trabalho; 15 – Proporcionar prazer; 16 – Cuidar da higiene pessoal; 17 – Conquistar o cliente;

V – Recurso de Trabalho: Guarda – roupa de batalha, Preservativo

masculino e feminino, Cartão de visita, Documento de Identificação, Gel lubrificante à base de água, Papel higiênico, Lenços umedecidos, Acessórios, Maquilagem, Álcool, Celular, Agenda.

Porém o reconhecimento, apesar de constituir um avanço nas relações sociais e de trabalho, por si só não resguarda as pessoas a ela vinculadas, é necessária a sua regulamentação que permitiria além da descrição legal da

(18)

atividade, também a admissão da prostituição como profissão, vez que assim não tem benefícios trabalhistas garantidos.

Em suma, distinguiram-se as relações de emprego e trabalho, sendo que nesta última a prostituição deve ser enquadrada para que se obtenha o reconhecimento da prostituição como profissão, além disso, conceituaram-se direitos sexuais e como estes estão ligados ao exercício da atividade de prostituir, bem como o significado e conceitos da prostituição em si, para a partir disso analisar tópicos específicos que vinculam a prostituição como uma efetiva atividade laboral.

(19)

2 A PROSTITUIÇÃO COMO EFETIVA ATIVIDADE LABORAL

O presente capítulo apresentará a prostituição e sua constituição enquanto atividade laboral. Observará também como o Brasil e outros países a regulamentam, juntamente com o conceito de direitos humanos relacionados aos trabalhadores em sexo, e finalizando com os direitos trabalhistas que devem ser estendidos a esta classe.

2.1 Direito comparado

Para a análise da condição das profissionais do sexo em vários países é importante que se observe algumas especificidades do caso brasileiro. No país o exercício da prostituição não é atividade proibida, mas praticamente todo o seu entorno o é. A contratação de mulheres para atuar como prostitutas no Brasil ou fora são considerados crime. Os artigos 227 a 231-A do Código Penal tratam dessas condutas criminalizadas, ficando a margem da legislação somente, a própria mulher “prostituída”. Vejamos:

Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem.

Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone.

Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente.

Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.

Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro.

Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual.

(20)

Perante a estes dispositivos legais supracitados, percebe-se que o Código Penal, como já referido não pune o exercício da prostituição propriamente dito, ou seja, não é considerado crime a pessoa exercer prática sexual com outra pessoa com a finalidade de obtenção de lucro financeiro pra si.

Conforme Rogério Greco (2010, p. 644):

[...] embora atípico o comportamento de prostituir, a lei penal reprime aquelas pessoas que, de alguma forma, contribuem para a sua existência, punindo os proxenetas, cafetões, rufiões, enfim, aqueles que estimulam o comércio carnal, ou seja, não com finalidade de lucro.

Assim, a pessoa que pratica a prostituição não comete delito, vez que não existe crime defino em lei para esse ato, a previsão legal atinge a pessoa que se utiliza da prática sexual alheia com o propósito de auferir resultado financeiro, é punido aquele que contribui para atividade de modo a “agenciar” a prostituição.

Consoante Heim (2011, p. 234-251), existem grupos que debatem o tema e defendendo suas ideias, com relação à prostituição. Para os grupos feministas abolicionistas, as relações de gênero estão inseridas em uma lógica patriarcal e machista, que confere poder total ao ser masculino sobre o corpo e sexualidade feminina.

Neste sentido, a mercantilização da prostituição é a expressão máxima desse poder e da redução das mulheres ao status de objeto, próprio para uso exclusivamente sexual. Já para outro grupo, o das feministas pró-direitos, que defendem a disposição livre do próprio corpo, o direito à liberdade, sendo a prostituição uma possibilidade de autodeterminação da mulher no exercício de sua sexualidade, merecendo a atividade, por isso, reconhecimento social e político, como um trabalho lícito.

A proibição do exercício da prostituição, nada mais é do que uma cultura controladora e moralista e, mesmo que defendida por líderes feministas, acabariam por apoiar, na prática, uma repressão de cunho moral, com o controle e poder sobre o corpo. É perceptível que o objetivo de ambas as correntes é análogo, ou seja, ao

(21)

legalizar a prostituição no Brasil como forma de trabalho, muitas mulheres estariam tendo o direito a um mínimo de dignidade, garantindo direitos individuais e sociais, entretanto, para isso mostra-se fundamental que hajam iniciativas e mudanças realizadas pelo Poder Público de modo que correspondam a todos esses elementos.

A questão da prostituição e a sua regulamentação é um tabu e sempre foi tratado de forma clandestina, o que reafirma o preconceito da sociedade em face da questão. Esses profissionais sempre sofreram e ainda sofre discriminação por usar o corpo como instrumento de trabalho, além de que o Estado não lhes garante proteção jurídica alguma.

Por não ser atividade proibida, mas também não legalizada, a prostituição permanece, em um espaço de atipicidade. Com o propósito de resolver esta lacuna que o projeto de lei de Jean Wyllys, sob n.o 4211/2012 prevê, em seis artigos, a descriminalização da conduta do organizador da atividade, que passaria a atuar como um empresário do sexo, além de desmarginalizar a profissão, permitindo aos profissionais do sexo, o acesso a saúde, ao Direito do Trabalho, à segurança pública e principalmente à dignidade humana.

O primeiro artigo da PL 4211/2012 define que profissional do sexo podem ser pessoas maiores de 18 (dezoito) anos, que prestam serviços sexuais, mediante pagamento. Já o segundo artigo veda a pratica da exploração sexual, ou seja, proíbe os cafetões, de explorar as prostitutas.

O artigo terceiro estabelece que o profissional do sexo pode exercer a profissão como trabalhador autônomo ou coletivamente em cooperativas. O artigo quarto do referido projeto estabelece algumas alterações no Código Penal e o artigo seguinte discorre acerca da possibilidade de incorporação destes profissionais no âmbito de proteção social através do direito à aposentadoria especial.

A existência e aprovação deste projeto, ou de projeto similar contribuiriam para a existência de um conjunto legal que enquadrasse estas trabalhadoras em todas as esferas da relação de trabalho, retirando-as de um campo periférico e igualando-os aos demais trabalhadores do país.

(22)

Desse modo, o debate acerca da legalização da atividade da prostituta se faz extremamente necessário, na busca de um Estado mais igualitário e justo. Assim, a prática da prostituição não pode ser ignorada, como se não tivesse importância na sociedade. É dever do Poder Público parar de tratá-las como se invisíveis fossem, até porque a conduta, em si, não é ilícita, nos termos do Código Penal Brasileiro.

Como anteriormente já mencionado, a prostituição é hoje classificada como ocupação profissional na Classificação Brasileiras de Ocupações- CBO, sendo que este foi um dos grandes avanços para o tema, vez que configura o reconhecimento do Poder Executivo ao profissional do sexo, passando a ser vista sob uma nova ótica, segundo a qual exerceria realmente uma profissão.

Portanto, é possível definir a prostituição como um a forma autônoma de prestação de serviços, ou seja, trata-se de uma atividade, na qual se ganha dinheiro a partir da prática de atos sexuais, explorando o corpo como atividade profissional.

Entendendo-se o que seja a atividade dos profissionais do sexo, o espaço ou a ausência de espaços destinados a estes profissionais em nossa legislação e também já observadas as formas conceituais de tratamento da prostituição, ou seja, o regulamentarismo, o abolicionismo, e o proibicismo, passa-se a observar a forma como alguns países compreendem estes trabalhadores e os recepciona ou não em suas legislações.

2.1.1 Direito Holandês

A Holanda, desde o ano 2000, adotou o regulamentarismo, sendo o primeiro país no mundo em que as prostitutas gozam de todos os direitos comuns aos trabalhadores em geral. E para que isso ocorresse apresentaram dois argumentos fundamentais: o fim da exploração das prostitutas por terceiros e o controle de doenças sexualmente transmissíveis por conta da atividade.

Importante registrar que, neste sistema elas não somente têm direitos, mas também deveres como pagar tributos, devem realizar exames periódicos para

(23)

prevenção e controle de doenças. Além de existirem lugares definidos para que exerçam essa atividade, como exemplo, em Amsterdã, o bairro da luz vermelha, no qual as prostitutas se exibem em vitrines a fim de atrair clientes (ALMEIDA, 2009).

Este sistema holandês que protegem aos profissionais, já que a regulamentação permite investimentos, não vivendo a necessidade de exposição a céu aberto, sujeito às intempéries e violência. Também condicionam maior qualidade e controle nas condições de higiene para a realização de suas atividades, elementos que permitem afirmar a existência de condições muito mais dignas para aquelas profissionais do que as oferecidas, em regra, no nosso país.

2.1.2 Direito Alemão

A Alemanha também é aderente ao sistema regulamentarista, com a aprovação da seguinte lei:

Artigo 1º Lei que regulamenta as relações jurídicas das prostitutas (Lei da Prostituição)

§ 1º Realizada uma relação sexual mediante pagamento previamente acordado, este acordo fundamenta uma obrigação jurídica exigível. O mesmo vale quando, no âmbito de uma relação negocial, uma pessoa, por determinado tempo e mediante contra-pagamento, se tiver colocado à disposição para a realização de uma relação dessa espécie.

§ 2º A obrigação é intransferível e só pode valer em nome próprio. Contra uma obrigação referida na primeira parte do § 1º só pode ser oposta a objeção de contrato inteiramente descumprido; contra a obrigação referida na segunda parte do § 1º, se pode opor a falta de cumprimento parcial, na medida em que corresponda ao tempo acordado. Exceptuando-se a objeção de descumprimento, nos termos do § 362 do Código Civil e a exceção de prescrição, estão excluídas quaisquer outras objeções ou exceções.

§ 3º Não é oponível às prostitutas, para os termos da previdência social, a instrução normativa que a limita a uma atividade profissional.

(24)

A prostituição é legalizada, foi regulamentada em 2002, dois anos após a Holanda, garantindo direitos trabalhistas as prostitutas como carteira assinada, seguro-saúde e férias. Além é claro de participarem do sistema de seguridade social.

Ademais, os profissionais do sexo alemãs também possuem obrigações, como o pagamento de tributos, sendo denominado de “taxa do prazer”, que é arrecadada dos prostíbulos pelo Estado. Nesse contexto, na Alemanha, a prostituição é uma profissão similar às outras.

2.1.3. Direito Argentino

Assim como o Brasil, a Argentina adota o sistema abolicionista, em outras palavras, a prostituição não é considerada crime. Entretanto diverge no sentido de que, a exploração da prostituição de menores representa uma conduta típica, diferente do que ocorre com o agenciamento de prostitutas maiores, que só é crime se há o uso de engano, violência, abuso, ou outras formas de ameaça.

Assim dispõe o Código Penal Argentino:

Art. 125.- El que con ánimo de lucro o para satisfacer deseos propios o ajenos, promoviere o facilitare la prostitución o corrupción de menores de edad, sin distinción de sexo, aunque mediare el consentimiento de La víctima, será castigo:

1) con reclusión o prisión de cuatro a quince años, si la víctima fuera menor de doce años;

2) con reclusión o prisión de tres a diez años, si la víctima fuera mayor de doce años y menor de dieciocho;

3) con prisión de dos a seis años, si la víctima fuera mayor de dieciocho años y menor de veintidós. Cualquiera que fuese la edad de la víctima, la pena será de reclusión o prisión, desde diez a quince años, cuando mediare engaño, violencia, amenaza, abuso de autoridad o cualquier otro medio de intimidación o coerción, como también si el autor fuera ascendiente, marido, hermano, tutor o persona encargada de su educación o guarda o que hiciera con Ella vida marital.

Portanto, na Argentina são punidos aqueles que para obter lucro ou para satisfazerem seus próprios desejos promoverem ou facilitarem a prostituição, bem como a corrupção de menores ainda que com o consentimento da vítima, com pena

(25)

de até quinze anos, dependendo caso especifico e analisadas as agravantes e atenuantes.

Há que se considerar que em todos os casos de países que reconhecem os profissionais do sexo, ainda ocorre certa resistência por parte destas pessoas em se expor como tal, o que mantêm certo distanciamento, de alguns destes trabalhadores de seus direitos. Também influencia negativamente a utilização de pessoas socialmente vulneráveis para esta atividade, o que implicaria afirmar a existência de profissionais não por opção, mas pela total falta dela, e inclusive da condição migratória, sendo utilizadas oriundas de países economicamente muito pobres, conforme observa Bezerra da Silva (2008):

Importante rever a legislação vigente no que se refere à situação das mulheres imigrantes vítimas de violências, a atuação das policias relativamente à entrada no domicílio sem mandato judicial em situações de perigo iminente, à legislação relativa ao uso e porte de arma, à rede pública de casas de apoio às mulheres vítimas de violência e a Lei de proteção de testemunhas no Processo penal, a admissibilidade de autorização especial de residência para estrangeiras vítimas de tráfico.

Tem-se então que não basta apenas a legislação, não obstante constitua-se um importante passo de inclusão social, é necessário que um sistema de controle iniba a utilização de pessoas em condição de vulnerabilidade social, o que ocorre, na citação acima, com imigrantes em países ricos e também em países em condição econômica mais frágil, como o Brasil.

2.1.4 Países Proibicionistas

Como exemplo de país proibicionista, a Tailândia penaliza com multas tanto quem oferece como quem compra serviços sexuais, além de proibir bordeis e punir com restrição à liberdade a quem incentiva a atividade.

Também adota este sistema o Irã, vinculado a uma cultura com forte incidência religiosa, que sobrepõe, em regra, aos próprios ditames jurídicos, apresentando leis mais severas. Por exemplo, quem compra os serviços é punido com 75 chibatadas e expulso das comunidades por três meses, além de que, se

(26)

forem pegos em bordeis, podem ter uma pena de prisão de até dez anos. Quanto às prostitutas, além das já mencionadas, também podem ser presas.

2.2 Os direitos humanos dos trabalhadores em sexo

Os direitos humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos, independente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião, ou qualquer outra condição. Nas palavras de Bobbio (1992, p. 17) “direitos do homem são os que cabem ao homem enquanto homem”, para ele o conceito de direitos humanos encontra dificuldades tautológicas, ou seja, não é específico.

Para Bellinho (2014, p. 14) o conceito de direitos humanos foi inserido a partir “da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993.”

Artigo 2º

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

É neste contexto, que as profissionais do sexo encontram dificuldade de vinculação, pois, uma vez que todos têm direitos sem distinção alguma, estas também o devem ter já que exercem função similar as outras, porém, de cunho mais íntimo já que a sexualidade humana nunca foi tão explorada, e a mídia tem contribuído para erotização precoce.

Não diferente de outras classes, os trabalhadores em sexo também estão expostos constantemente a sofrer abuso, o que não os torna notícia, vez que pouca gente se importaria em saber que esse grupo sofre com violências e discriminação. Menos ainda sabem que esse grupo se obriga a viver sem uma condição mínima de dignidade.

(27)

Nesse sentido se pronunciou Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional:

Os trabalhadores e trabalhadoras sexuais são um dos grupos mais marginalizados do mundo e, na maioria dos casos, enfrentam risco constante de sofrer discriminação, violência e abusos. Nosso movimento global preparou o terreno para a adoção de uma política para a proteção dos direitos humanos dessas pessoas, que ajude a orientar o trabalho futuro da Anistia Internacional sobre assunto tão importante. (INTERNACIONAL, Anistia, p.3)

Isso significa que a Anistia Internacional está a organizar uma política que apoie a descriminalização do trabalho sexual, desde que realizado com consentimento em todos os seus aspectos. Tal política solicitará aos Estados que garantam aos profissionais do sexo quem desfrutem de uma proteção jurídica plena e igualitária a qualquer outra classe de trabalhadores.

Logo, assim como os direitos humanos são direitos inerentes a qualquer trabalhador e devem ser garantidos em todas as esferas, devem também ser garantidos aos trabalhadores em sexo, principalmente no que concerne ao princípio da dignidade da pessoa humana que está consolidado no artigo 1o, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil:

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana; [...]

Não garante somente o direito fundamental à vida, mas também o direito a uma vida digna, uma vez que na concepção de José Luiz Magalhães (2000, p.189), não existe vida sem dignidade:

Acreditamos, no entanto, que o direito à vida vai além da simples existência física. (...) O direito à vida que se busca através dos Direitos Humanos é a vida com dignidade, e não apenas sobrevivência. Por esse motivo, o direito à vida se projeta de um plano individual para ganhar a dimensão maior de direito (...), sendo, portanto, a própria razão de ser dos Direitos Humanos.

(28)

Esta é, portanto, a necessidade de se analisar a ideia de um mínimo de direitos trabalhistas a serem garantidos à classe dos profissionais do sexo pelo simples fato de serem pessoas, de modo a assegura-los uma vida digna por parte do Estado e perante a sociedade, uma vez que configuram relação de trabalho e por meio do qual promovem o seu sustento e independência.

2.3 O reconhecimento da prostituição como profissão

As profissões regulamentadas têm sua própria exigência quanto a formação do profissional que poderá exercê-las, ou seja, são aquelas que a lei regulamenta, compostas por direitos e deveres do trabalhador e do empregador, algumas têm sua norma regulamentadora no Ministério do Trabalho com regimento próprio, de direitos e garantias, tais como piso salarial, jornada de trabalho, dentre outros.

Nesse sentido, o reconhecimento por parte do Ministério do Trabalho do Brasil dos profissionais do sexo, busca romper com a exclusão e garantir a cidadania para essas profissionais, que está materializada no artigo 1o, inciso II, da Carta Magna.

Há uma omissão da legislação, no sentido de regulamentar a profissão daqueles que vivem de sexo. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), não inclui a prostituição entre as categorias de trabalhadores, não existindo ainda nenhuma outra norma que a regulamente.

Gustavo Marques (2004, p. 31), bem observa que devem ser respeitados a personalidade moral do empregado na sua dignidade absoluta de pessoa humana. Isso no sentido de garantir aos profissionais do sexo alguns direitos objetivos, como identificação e o registro profissional.

Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), segundo Martins (2004, p.480) é “o documento de identificação o trabalhador que serve não só para constatar que ele mantém contrato de trabalho com o empregador, provando sua existência, mas também comprova o tempo de serviço que foi prestado a outras empresas”.

(29)

Nesse sentido, a classe dos trabalhadores sexuais não deveria prestar serviços sem a CTPS. Assim regulamentada a profissão, esses profissionais deverão portar sua carteira de trabalho, constando o trabalho atual e todos os anteriores, pois em conformidade com o artigo 13 da Consolidação das Leis Trabalhistas o é exigido para o exercício por conta própria de atividade profissional remunerada, ainda que atuem como profissionais autônomos.

No caso de direitos previdenciários, os profissionais do sexo podem se filiar como contribuinte individual ou trabalhador autônomo, com direito a aposentadoria se inscritos no respectivo órgão. Caso esta profissão seja regulamentada, o profissional em sexo poderá inscrever-se não como uma dessas alternativas, mas sim como um trabalhador, devidamente registrado, garantindo dessa forma todos os direitos previdenciários inerentes às profissões.

Além dos benefícios previdenciários, devem as prostitutas ter observadas as normas de segurança e medicina do trabalho, nesse sentido esclarece Martins (2004, p. 639):

(a)cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; (b) instruir os empregados, por meio de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar para evitar acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais; (c) adotar medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; (d) facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente (art. 15, CLT).

Nesse caso, pode-se afirmar que para as prostitutas é adequado o uso de camisinhas e dos métodos anticoncepcionais, com objetivo de evitar doenças sexualmente transmissíveis, ou até mesmo gravidez indesejada pela profissional.

É por este motivo também, que deve ser garantido o adicional de insalubridade às profissionais do sexo. Significa segundo o dicionário Aurélio: “o que origina doença”, ou seja, aquilo que é nocivo a saúde do trabalhador.

(30)

O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário mínimo da região, segundo se classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo.

A insalubridade deve ser comprovada através de perícia a cargo do médico do trabalho, o que no caso dos profissionais do sexo é de facilmente identificado, visto que estão a cada relação expostos a doenças sexualmente transmissíveis. Assim, aos profissionais que estiverem diretamente envolvidos com ato que possa prejudicar sua saúde, o adicional de insalubridade é devido.

Por todo o exposto, vislumbra-se que há muito que ser debatido acerca dessa categoria de trabalhadores, os profissionais do sexo, uma vez que reconhecido a relação trabalhista existente, estes passam a ter todos os direitos e deveres garantidos, como profissão similar às outras.

(31)

CONCLUSÃO

Tem-se que a atividade dos profissionais do sexo, não obstante as restrições sociais ao debate constituem espaço de nossa civilização. Porquanto incontáveis profissões surgem e são regulamentadas após a atividade de prestação de serviços sexuais, esta não é regulamentada em grande maioria dos países.

No primeiro capítulo observarmos o papel que a prostituta desempenha ao longo dos anos, sendo possível a partir desse resgate histórico perceber a existência de três grandes formas de regulamentar a prostituição, ou seja, o Regulamentarismo, no qual a prostituição é totalmente regulamentada, o Proibicionismo, no qual a prática da prostituição é ilegal, e o Abolicionismo, sistema adotado pelo Brasil, no qual a atividade não é proibida, mas a sua exploração o é.

Ainda, no primeiro momento, distinguiu-se a relação de emprego e trabalho, encaixando a prostituição como uma relação de trabalho, vez que essa abrange vínculos jurídicos maiores de labor humano.

Desta forma, no segundo capítulo foi preciso investigar como os outros países tratam a questão da regulamentação, comparando os direitos destes com Brasil, sendo debatidos ainda, as leis que existem hoje e os projetos de lei para regulamentar esta atividade.

Após as análises do presente tema, é possível identificar que a prostituição por ser uma atividade ainda não regulada por lei expõe esses profissionais a uma condição de vulnerabilidade em um segmento que constitui, por seus agentes envolvidos e por sua forma de realização, relações precárias de trabalho, mais

(32)

expostos, por exemplo, a atos violentos e a doenças. Efetivamente, deve haver uma legalidade ampliada da atividade profissional acerca da prostituição, capaz de promover a inclusão social dessas pessoas, através da regulamentação, dando-lhes o suporte necessário para que a exerçam com os direitos e deveres observados pela Constituição Federal, pela Consolidação das Leis do Trabalho e pela legislação especial.

Sem uma lei regulamentada que proteja esses profissionais dos abusos e violências que rodeiam esta atividade não há como garantir que possam exercê-la em parâmetros entendidos como de dignidade, objetivo a ser perseguido para todos os trabalhadores.

Esta regulamentação, existente em alguns países como a Holanda e a Alemanha coloca estas trabalhadoras em condições mais qualificadas, se comparadas com as condições de países que não as regulamentaram, conforme observado.

Nesta perspectiva, a regulamentação também permitiria a correta inserção destas trabalhadoras no sistema previdenciário, a discussão acerca da insalubridade, riscos inerentes a profissão e a condições de trabalho aos profissionais do sexo.

(33)

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Mario Vinicius Assis. O trabalho da prostituta a luz do ordenamento jurídico. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/13963/o-trabalho-da-prostituta-a-luz-do-ordenamento-juridico-brasileiro/2>. Acesso em: 21 out 2015.

ARGENTINA. Código Penal. Ley 11.179. 1984.

BASTOS, Roseli Quaresma. Diferenças entre a relação de trabalho e a relação de emprego a partir da análise da legislação. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10829>. Acesso em: 21 jun 2015.

BEZERRA DA SILVA, Mario. Profissionais do sexo e o Ministério do Trabalho.

Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigos_id5233>. Acesso em: 8 jun 2015.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 17. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Campus, 1992.

CARRARA, Sérgio. Questões para movimentos sociais e para agendas de ativismo. In: TERTO JR., Veriano; VICTORIA, Ceres e Gomes & KNAUTH, Daniela Riva (orgs.). Corpus – cadernos do núcleo de pesquisa em antropologia do corpo e da saúde. Porto Alegre: 2004.

DECLARAÇÃO e plataforma de ação da IV conferência mundial sobre a mulher. Disponível em: < http://www.unfpa.org.br/Arquivos/declaracao_beijing.pdf>. Acesso em 03 nov 2015.

DECLARAÇÃO dos direitos sexuais. Disponível em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/direitossexuais.html>. Acesso em 22 jun 2015.

DECLARAÇÃO universal dos direitos humanos. Disponível em: <http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso em 02 nov 2015.

(34)

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTR, 2007.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio. 4.ed. RIO DE JANEIRO: Nova Fronteira, 2000.

GERSHON, Priscilla. Profissionais do sexo: da indivisibilidade ao reconhecimento. Disponível em: <http://www.sociologiajuridica.net.br/numero-2/168-profissionais-do-sexo-da-invisibilidade-ao-reconhecimento>. Acesso em: 10 jun 2015.

GRECO, Rogério. Código penal comentado. 4.ed. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2010.

INTERNACIONAL, Anistia. Política sobre a obrigação do Estado de respeitar, proteger e realizar os direitos humanos das pessoas dedicadas ao trabalho sexual (Junta Diretora Internacional).Disponível em:<https://anistia.org.br/wp- content/uploads/2015/08/Pol%C3%ADtica-sobre-trabalhadores-sexuais_Anistia-Internacional.pdf> . Acesso em: 02 nov 2015.

MARQUES, Gustavo. Regulamentação da prostituição, efeitos no direito do trabalho. 2004.Disponível em:<http://siaibib01.univali.br/pdf/Gustavo%20Marques.pdf>. Acesso em 02 nov 2015

MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

MAZZIEIRO, João Batista. Sexualidade criminalizada: prostituição, lenocínio e outros

delitos. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000100012>. Acesso em: 21 jun 2015.

PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, parte especial. São Paulo: 2010. Revista dos Tribunais, v.2.

PROPOSTA regulamenta atividade dos profissionais do sexo. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/TRABALHO-E

PREVIDENCIA/428344-PROPOSTA-REGULAMENTA-ATIVIDADE-DE-PROFISSIONAIS-DO-SEXO.html>. Acesso em: 8 jun 2015.

PROSTITUTAS defendem regulamentação da profissão em evento na assembleia. Disponível em: <http://www.sul21.com.br/jornal/prostitutas-defendem-regulamentacao-da-profissao-em-evento-na-assembleia/>. Acesso em: 15 jun 2015.

QUADROS DE MAGALHÃES, José Luiz, "Direito Constitucional". Belo Horizonte: Livraria Mandamentos, 2000. t. 1. p. 189).

ROSTAGNOL, Susana. Regulamentação: controle social ou dignidade do/no trabalho. Porto Alegre: Decasa, Palmarica, 2000.

SERPA, Monise Gomes. Exploração sexual e prostituição: um estudo de fatores de risco e proteção com mulheres adultas e adolescentes. Disponível em: <

(35)

https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/17231/000711590.pdf?sequence= 1>. Acesso em 15 jun 2015.

TAVARES, Manuela. Prostituição: diferentes posicionamentos no movimento

feminista. Disponível em:

<http://www.umarfeminismos.org/images/stories/pdf/prostituicaomantavares.pdf>. Acesso em: 15 jun 2015.

(36)

ANEXO I

O Congresso Nacional Decreta:

Art. 1º - Considera-se profissional do sexo toda pessoa maior de dezoito anos e absolutamente capaz que voluntariamente presta serviços sexuais mediante remuneração.

§ 1º É juridicamente exigível o pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual a quem os contrata.

§ 2º A obrigação de prestação de serviço sexual é pessoal e intransferível.

Art. 2º - É vedada a prática de exploração sexual. Parágrafo único: São espécies de exploração sexual, além de outras estipuladas em legislação específica: I- apropriação total ou maior que 50% do rendimento de prestação de serviço sexual por terceiro; II- o não pagamento pelo serviço sexual contratado; III- forçar alguém a praticar prostituição mediante grave ameaça ou violência.

Art. 3º - A/O profissional do sexo pode prestar serviços: I - como trabalhador/a autônomo/a; II - coletivamente em cooperativa.

Parágrafo único. A casa de prostituição é permitida desde que nela não se exerce qualquer tipo de exploração sexual.

Art. 4º - O Capítulo V da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Favorecimento da prostituição ou da exploração sexual.

Art. 228. Induzir ou atrair alguém à exploração sexual, ou impedir ou dificultar que alguém abandone a exploração sexual ou a prostituição: ...” “ Casa de exploração sexual

Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou

mediação direta do proprietário ou gerente:

...” “Rufianismo

“Art. 230. Tirar proveito de exploração sexual, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em

parte, por quem a exerça:

(37)

“Art. 231. Promover a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a ser submetido à exploração sexual, ou a saída de

alguém que vá exercê-la no estrangeiro.

...”

“Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para ser submetido à exploração sexual: ...

Art. 5º. O Profissional do sexo terá direito a aposentadoria especial de 25 anos, nos termos do artigo 57 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991.

Referências

Documentos relacionados

Distribuição ao longo do plano xy (gráfico da esquerda obtido pelo algoritmo, gráfico da direita obtido através do software Maple).. Números quânticos: n=1, l=0, m=0...94 Figura

Os resultados estão na Tabela foram não significativos para as três progênies, que os knoos não atetam recombinação homólogos.... apresenta os resultados do

Fomos informados de que vários técnicos da Petrobrás, que tinham sido admitidos recentemente, rescindiram seus contratos com a Companhia para trabalharem no BNDES, cujo

Pode-se observar que boa parte do município não conta mais com a vegetação original, principalmente nas regiões ao sul, que são drenadas pelo rio Dois Riachos,

demandas ajuizadas perante os Juizados Especiais, argumentando a necessidade de este Supremo Tribunal resolver a questão aqui discutida, uma vez que o Superior

...71 Tabela 6 - Quantidades e custo dos materiais e insumos utilizados no banho no leito tradicional e insumos usados no pós-banho na desinfecção dos

2000 avaliaram o efeito da adição CaCO3 ao PET durante a cristalização não-isotérmica a frio, observando tanto um deslocamento do pico de cristalização para temperaturas mais

para o processo de investigação, uma vez que é com base nos diários de campo.. que os investigadores conseguem analisar e refletir sobre os dados recolhidos, permitindo