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AJES - FACULDADES DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E GESTÃO AMBIENTAL A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS

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AJES - FACULDADES DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E GESTÃO AMBIENTAL

A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS

Ademar Boeing

ademar_boeing@hotmail.com

Orientador: Prof. Dr. Ilso Fernandes do Carmo

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AJES - FACULDADES DO VALE DO JURUENA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E GESTÃO AMBIENTAL

A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS

Ademar Boeing

Orientador: Prof. Dr. Ilso Fernandes do Carmo

"Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Educação e Gestão Ambiental".

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RESUMO

A escolha do assunto do trabalho de conclusão do curso de pós-graduação é decorrente das constantes ocorrências de crimes ambientais em decorrência do interesse de empresas na exploração agropastoril da região, onde muitas vezes, se torna inviável a verificação individualizada do responsável pelo ato criminoso.

No intuito de se eximir da responsabilidade muitos tentam responsabilizar a empresa acreditando que não haverá punições, assim busca-se demonstrar legislativamente e na prática como esta questão pode e deve ser resolvida.

A principal metodologia a ser adotada para a busca do conhecimento almejado é a bibliográfica, principalmente as leis e diretrizes gerais que regulamentam o assunto.

Logo, o presente trabalho visa a busca do conhecimento da forma de identificação dos responsáveis por crimes ambientais quando, aparentemente, a responsável pelo dano é a empresa, para tanto, será realizado uma abordagem histórica do assunto, bem como todos os requisitos norteadores do tema, necessários para a identificação e punição dos responsáveis. Ressaltando-se a importância da perícia ambiental para auxiliar na identificação do autor do fato delituoso, bem como a sua extensão.

Com a conclusão do estudo pode-se verificar que a pessoa jurídica também pode e deve ser responsabilizada por atos praticados em face do meio ambiente, que possam caracterizar crime, assim como, todo os requisitos que devem ser preenchidos e observados durante a análise da perícia técnica do dano, quando há envolvimento de pessoa jurídica.

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SUMÁRIO

Introdução ... 04

Capitulo I – Pressupostos Históricos da Responsabilidade da Pessoa Jurídica em Crime Ambiental ... 06 1. Evolução histórica ... 06

1.1 A declaração de Estocolmo ... 06

1.2 Direito Francês ... 08

2. Precedentes no Direito Brasileiro ... 09

3. Direito comparado ... 10

3.1 Portugal ... 10

3.2 Grã-Bretanha e Irlanda do Norte ... 11

3.3 Canadá ... 11

3.4 Holanda ... 12

3.5 Itália ... 12

3.6 Alemanha ... 12

4. Societas delinquere non potest ... 13

Capítulo II – Aspectos da Legislação Ambiental ... 15

1. Direito ambiental como um Direito Fundamental ... 15

2. A efetividade da lei 9.605/98 ... 16

3. A responsabilização penal das pessoas jurídicas e a Constituição Federal de 1988 ... 17 4. Da ação penal e do processo na lei 9.605/98 ... 19

Capítulo III – Aspectos Gerais da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica ... 21 1. Individualismo e realidade social ... 21

2. Adequação das penas ... 22

3. Tipos de penas a serem adotadas ao caso concreto ... 23

3.1 Da pena de multa ... 24

3.2 Das penas restritivas de direito ... 25

3.3 Das penas de prestação de serviço à comunidade ... 25

3.4 Da pena de morte ... 25

Capítulo IV – Culpabilidade ... 28

1. Sujeito ativo ... 27

2. Pessoa jurídica/empresa-definição ... 27

3. Pessoa jurídica de direito público ... 28

3.1 Sujeição ao princípio da legalidade ... 29

3.2 Inadequação das penas às pessoas jurídicas de direito público ... 29

3.3 Agente público ... 31

3.4 Da observância do interesse público ... 32

Capítulo V – Da Teoria a ser Adotada ... 33

1. Teoria objetiva ... 33

2. Teoria do fato ... 34

3. Argumentos contrário à responsabilidade penal da pessoa jurídica ... 34

4. Argumentos favoráveis à imputabilidade penal das pessoas jurídicas ... 37

4.1 Posicionamento do STJ ... 37

4.2 Observancia da função social da empresa ... 39

Conclusão ... 41

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INTRODUÇÃO

Neste trabalho busca-se retratar um assunto polêmico, objeto de grandes controvérsias entre os doutrinadores e juristas, qual seja, a responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais.

Não obstante as controvérsias existentes, fato é que se trata de uma tendência mundial, objetivando-se uma maior repressão contra as práticas abusivas ao meio ambiente perpetradas por empresas, grandes corporações, transnacionais, dentre outras, que pelos meios disponíveis que possuem estão cada vez mais, desgovernadamente, lesionando o patrimônio ambiental de toda a sociendade.

No primeiro capítulo, será apresentado o aspecto histórico, as evoluções, as influências pela qual se chegou a atual visão protecionista aos chamados direitos difusos, do qual o direito ambiental faz parte, e ainda, será elaborado um breve relato sobre a máxima já ultrapassada “societas delinquere non potest”.

Ao capítulo segundo fica reservado o aspecto legal, onde será abordado o direito ambiental como um direito fundamental, as previsões constitucionais e extraconstitucinais, bem como os princípios norteadores da responsabilização.

No capítulo terceiro serão estudados os aspectos gerais da reponsabilidade penal da pessoa jurídica, tais como adequação das penas e tipos penais aplicáveis.

Já no capítulo quarto será esmiuçado o requisito da culpabilidade, levando-se em conta os sujeitos ativos dos ilícitos penais ambientais, bem como a possibilidade ou não de figurar no pólo passivo da demanda penal as pessoas jurídicas de direito público e privado.

Por fim, será realizado no capítulo quinto um comparativo das teorias contra e a favor da responsabilizadação das pessoas juridicas pelos crimes ambientais, além da jurisprudência consolidada no Supremo Tribunal de Justiça, bem como breve comentário à observância da função social, justificando e relatando embasamento jurídico-teórico à responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais.

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CAPÍTULO I

PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS DA RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA EM CRIME AMBIENTAL

A idéia de apurar a responsabilidade da pessoa jurídica no crime ambiental, a teor do disposto na lei 9.605/98, nos remete a indagação de como a responsabilização da pessoa jurídica aconteceu ao longo da história.

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Ao longo da História, segundo ROTHENBURG (2005), observa-se que a responsabilização penal às pessoas jurídicas na história, refere-se basicamente às associações de classe e entidades políticas.

Neste sentido, há notícias de que na Grécia e Roma antigas, segundo SHECAIRA e CORRÊA JUNIOR (2002), apesar de o conceito subjetivo e individual de imputabilidade já estar plenamente definido, abria-se margem para a punição de sociedades de classe, mediante a supressão das mesmas. Ao tempo de Cícero, o Senado suprimiu todas as numerosas pequenas associações populares, por constituírem perigosos focos de agitação. Isso voltando a acontecer no tempo de Júlio César.

Na Idade Média, segundo ROTHENBURG (2005), também presente estavam as constantes repressões penais contra os atos praticados pelas pessoas jurídicas, uma vez que os Municípios eram punidos pelo imperador ou pelo papa, sobretudo por rebelião, cominando sobre os mesmos além da multa, a destruição de seus muros e fortificações.

Entretanto, observa-se com a exposição supra que a responsabilização penal às pessoas jurídicas na história, refere-se basicamente às associações de classe e entidades políticas, excluindo, desse modo, as organizações econômicas.

1.1 A DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO

Há tempos já se reporta a utilização desgovernada dos recursos naturais. Entretanto, segundo consta da matéria divulgada no sítio virtual da wikipedia,

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CONFERÊNCIA (2019), somente em 1972 representantes de 114 países reuniram-se na Suécia em Conferência das Nações Unidas para aprovarem a Declaração de Estocolmo sobre o ambiente, ficando definido no 1º Princípio daquela declaração que o homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e a condições de vida satisfatórias, num ambiente cuja qualidade lhe permita viver com dignidade e bem-estar, incumbindo a todos o dever solene de proteger e de melhorar o ambiente para as gerações presentes e futuras.

Desta declaração advieram as posteriores medidas de proteção na esfera ambiental, decorrendo, com isso, o início da era de proteção ecológica.

Passados dez anos da criação da referida declaração, segundo MARUM, (2002), houve aprovação de outro texto pela Assembléia Geral das Nações Unidas (Resolução 37/7, de 28 de outubro de 1982), adotando a Carta Mundial da Natureza, que regulamentou minunciosamente os princípios da Declaração de Estocolmo.

No tempo intermediário entre os textos de 1972 e 1982, segundo MARUM (2002), intercalou-se o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Resolução 2.996 – XXVII), cumprindo observar que o conteúdo da Declaração de Estocolmo não possuía caráter vinculativo, o que fez com que houvesse a criação de estruturas institucionais para a sua concretização, principalmente, mediante um sistema jurídico para a defesa do ambiente.

Com a proclamação da Declaração de Estocolmo, segundo MILARÉ (2014), os países de primeiro mundo difundiram a argumentação de que a poluição maior seria a proveniente de países de terceiro mundo, o que trouxe desconforto por parte destes últimos que obviamente não aceitaram a taxatividade de serem os maiores poluidores, aqueles alegavam ainda, que “a industrialização suja era melhor do que a pobreza limpa.” (MILARÉ, 2014, p. 241).

Fica fácil visualizar a equivocada interpretação dada à Declaração de Estocolmo, na transcrição do Princípio 201:

“Princípio 20

Devem-se fomentar em todos os países, especialmente nos países em

desenvolvimento, a pesquisa e o desenvolvimento científicos referentes

aos problemas ambientais, tanto nacionais como multinacionais. Neste caso, o livre intercâmbio de informação científica atualizada e de

1 Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/doc/estoc72.htm. Acesso em 17 de agosto

de 2010.

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experiência sobre a transferência deve ser objeto de apoio e de assistência, a fim de facilitar a solução dos problemas ambientais. As tecnologias ambientais devem ser postas à disposição dos países em desenvolvimento de forma a favorecer sua ampla difusão, sem que

constituam uma carga econômica para esses países.” (grifo nosso)

Vale ressaltar que a conscientização entre nós, segundo SILVA (1995), somente começou a tomar corpo no início da década de 80, primeiro com a edição da Lei 6.938 de 31/08/1981, que conceituou o meio ambiente como objeto de proteção em seus múltiplos aspectos. Depois veio a Lei 7.347/85 que disciplinou a ação civil pública, transformando a agressão ambiental em “caso de justiça.”

Com a Declaração de Estocolmo vários países passaram a conferir tratamento constitucional às questões relacionadas ao meio ambiente.

O Brasil seguiu o mesmo posicionamento, ou seja, o de constitucionalização das questões ambientais, muito embora a respectiva previsão constitucional somente tenha ocorrido com o advento da Constituição Federal em outubro de 1988, que em verdadeira consagração à questão ambiental, dedicou todo o capítulo VI do Título VIII, no qual estabelece a proclamação do direito fundamental a fruição do meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225).

O legislador constitucional de 1988, segundo SILVA (1995), não se restringiu ao âmbito das normas programáticas, vez que, além de enunciar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, estabeleceu diretrizes para garantir sua efetividade.

Outrossim, o dispositivo constitucional em comento classificou o meio ambiente como “bem comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. Impondo não só o dever de defender e preservar esse bem maior, posto reconhecer deveres às atuais gerações em prol das futuras, mas também, legitima e possibilita a atuação de todos os cidadãos, isoladamente ou em comunhão associativa, ao exercício supletivo da ação estatal, conferindo-lhes não só instrumentos jurisdicionais para a estrita observância das regras de proteção ambientais, mas também atribuindo-lhes legitimidade participativa de intervenção em procedimentoa administrativo de impacto ambiental (art. 225, parágrafo 1º, IV) e, no que tange aos deveres, determinou a responsabilização, nas órbitas administrativa, penal e civil, daqueles nas quais as condutas ou atividades sejam consideradas lesivas ao meio ambiente. (art. 225, parágrafo 3º).

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Do regramento estabelecido no art. 225 da Constituição Federal, conforme demonstrado, pode-se entrever uma estrutura principiológica, integrada pelos princípios da prevenção, da responsabilização, mais conhecido como princípio do poluidor-pagador, e da cooperação ou da participação.

Essa visão principiológica constitui a consagração no texto constitucional brasileiro de valores subjacentes a todas as ações mundiais de defesa ecológica, que foram estabelecidos a partir da referida Declaração de Estocolmo.

1.2 DIREITO FRANCÊS

Embora a França tenha desenvolvido uma tradição penalista sob o prisma individual desde a Revolução Francesa, o seu passado medieval, segundo FIGUEIREDO (1998), já previa traços da responsabilização penal dos entes coletivos. De modo, que sofreu inúmeras transformações e adaptações até que a partir de 1º de março de 1994, com a entrada em vigor do atual Código Penal, a França juntou-se ao rol dos países que, expressamente, admitem a responsabilidade penal das pessoas morais. Tais previsões constam dos artigos 121-2 e 121-4 a 121-7.

“O Código Francês prevê a responsabilidade penal das pessoas jurídicas em seu artigo 121-2, que assim dispõe: As pessoas jurídica, à exclusão do Estado, são responsáveis penalmente, de acordo com as distinções dos artigos 121-4 a 121-7 e nos casos previstos pela lei ou pelo regulamento, das infrações cometidas, por sua conta, por seus órgãos ou representantes(alínea 1). Todavia, as coletividades territoriais somente serão consideradas responsáveis penalmente das infrações cometidas no exercício de atividades susceptíveis de serem objeto de convenção de delegação de serviço público(alínea 2). A responsabilização penal das pessoas jurídicas não exclui aquela das pessoas físicas, autoras ou co-autoras dos mesmos fatos (alínea 3)”2 (FIGUEIREDO, 1998, p. 47)

“A previsão é de punição (ar. 121-2), seja na qualidade de autora ou participe, seja por ação ou omissão, sempre que houver uma previsão pela legislação extravagante, e que tenha sido a conduta praticada por um órgão ou representante da pessoa jurídica, e em seu benefício. Neste sentido, também se encontra submetidas ao Direito Penal francês e, portanto, são puníveis de acordo com o estabelecido em art. 121-2, as pessoas jurídicas estrangeiras. É conseqüência direta do reconhecimento do princípio de territorialidade presente no art. 113-2".3 (SILVA, 2005)

2 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas de direito

público na Lei 9.605/98, Revista de Direito Ambiental, São Paulo, ano: 3; nº 10; abr/jun; 1998; pp. 42/59.

3 SILVA, Luciano Nascimento. O Direito Penal Econômico como Direito Penal da Empresa. O

dualismo jurídico-criminal: "societas delinquere non potest" vs. "societas delinquere potest". Jus

Navigandi, Teresina, ano 9, n. 608, 8 mar. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6415>. Acesso em: 17 de agosto de 2010.

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Das citações supra, verifica-se que na França ao Estado não se estende os efeitos advindos da responsabilização penal das pessoas jurídicas, com o que, nas palavras do mestre Decartes conclui-se:

...admite-se tal responsabilização penal das coletividades territoriais, tais como comunas, os departamentos, as regiões e os sindicatos de comunas, quando estas desempenhem atividades que não suponham o exercício de poderes públicos – puissance publique. Trata-se, por exemplo, de atividades como os transportes coletivos, a iluminação pública, a distribuição de água potável, a coleta de lixo, entre outras, atividades estas que não supõem o próprio exercício das prerrogativas de puissance publique.4 (DEPORTES, 1998, p. 94).

No que diz respeito ao aspecto formal (legal) da responsabilização em tela, isto é, da forma como o assunto foi tratado na legislação francesa, necessário considerar que “O legislador disciplina a matéria de forma expressa e ampla. Instituiu-se, salvo exceção, diretriz genérica no que tange à pessoa jurídica e especial relativamente às infraçõe”. 5 (PRADO, 1998, p. 10)

Ou seja, o legislador francês traçou diretrizes genéricas à pessoa jurídica e as respectivas penas na parte geral, e indicou na parte especial os tipos penais atribuíveis ao ente moral. Além disso, a denúncia deverá também dizer qual a pena a ser aplicada naquele caso, devendo a mesma ser proporcional ao crime cometido.

2. PRECEDENTES NO DIREITO BRASILEIRO.

A evolução do sistema jurídico brasileiro, segundo SHECAIRIA (1998), sofreu influências das ciências da Europa e da América do Norte. Entretanto, a adoção da responsabilidade penal pessoal e o princípio da legalidade passou por momentos difíceis, principalmente com a vigência das Ordenações do Reino, posto apenarem com severidade extrema, condutas sem nenhuma gravidade aparente, visando, desse modo, conter as más condutas pelo terror dos efeitos tenebrosos da lei.

Em 1824, com o início do Império no Brasil, por influência dos grandes movimentos sociais liberais e doutrinas penais da época, segundo DOTTI (2013), os

4 DEPORTES, Fredéric, La responsabilité pénales dês persones morales em droit français, 1995, p.

286, apud, FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, p.94, 1998.

5 PRADO, Luiz Régis, Responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: Boletim do IBCCrim, São

Paulo, n.º 46, p.03, 1996. SIRVINSKAS, Luís Paulo. Questões polêmicas atinentes à responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais, JORNAL SÍNTESE, São Paulo, p.10, 1998.

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princípios da responsabilidade pessoal e da legalidade passaram a integrar a Lei Maior. O art. 179 da Constituição do Império determinava a igualdade de todos perante a lei; a não retroatividade da lei penal e que a lei não passaria da pessoa do delinqüente. E o artigo 178, § 18 da mesma carta, determinava a urgente elaboração de um Código Criminal, fundado nas sólidas bases da justiça e equidade. Tais princípios continuaram a ser contemplados até hoje no ordenamento jurídico brasileiro.

3. DIREITO COMPARADO

3.1 PORTUGAL

O Código Penal português, segundo BRODT; MENEGUIN (2015), consagrou a responsabilidade penal individual, entretanto, abriu margem para que a legislação infraconstitucional dispusesse de outros modos de responsabilização penal diferentes da individual, tais como, a coletiva.

A possibilidade da existência da responsabilização penal imputada às pessoas jurídicas, advém de uma ressalva contida, segundo BRODT; MENEGUIN (2015), no artigo 11 do Código Penal Português, que dispõe: “Salvo disposição em contrário, só as pessoas singulares são susceptíveis de responsabilidade criminal”.

Analisando algumas normativas de Portugal foi possível identificar algumas disposições legais que vieram a salvaguardar tal ressalva, são as seguintes: artigo 7º da Lei 433/82 que dispõe sobre as contra ordenações; o artigo 3º da Lei 28/84 que prevê delitos econômicos, denominadas Lei das infrações antieconômicas; e artigo 3º da Lei 109/91 que cuida da criminalidade na informática.

O direito português, conforme disposto no artigo 126 do CÓDIGO Penal

Português (2008), admite tal responsabilização, entretanto, exige que o comportamento do agente do ente coletivo atue em representação e nos limites

6 “Artigo 12º Actuação em nome de outrem 1 - É punível quem age voluntariamente como titular de

um órgão de uma pessoa colectiva, sociedade ou mera associação de facto, ou em representação legal ou voluntária de outrem, mesmo quando o respectivo tipo de crime exigir: a) Determinados elementos pessoais e estes só se verificarem na pessoa do representado; ou b) Que o agente pratique o facto no seu próprio interesse e o representante actue no interesse do representado. 2 - A ineficácia do acto que serve de fundamento à representação não impede a aplicação do disposto no número anterior.”

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desta representação. Necessária uma conexão entre o comportamento do agente – pessoa singular – e o ente coletivo, já àquele deve atuar em representação ou em nome deste e no interesse coletivo.

De tal modo, que tal responsabilidade será excluída quando o agente tiver atuado contra ordens expressas da pessoa coletiva. O Dec.-lei nº 28/84, somente afasta a responsabilidade penal do ente coletivo se a pessoa física tiver agido exclusivamente em seu próprio interesse, sem qualquer conexão com os interesses da pessoa jurídica. É, portanto, diferente da atuação além dos poderes do mandato, pois que abrange também a atuação no interesse coletivo e os parcialmente em interesse do agente. A responsabilidade é excluída quando o agente atua contraordens ou instruções expressas de quem de direito. (art. 3º, 2).

3.2 GRÃ-BRETANHA E IRLANDA DO NORTE

Regido, o ordenamento jurídico destes países, pelas regras do Comomn Law, este, segundo AMORIM (2000), não admitia a responsabilização das pessoas jurídicas até meados do século passado.

Tal entendimento prevalecia tanto por obstáculos materiais (incapacidade dos entes coletivos de querer), quanto por obstáculos processuais (incapacidades dos entes coletivos em comparecer) pessoalmente em juízo.

Com o desenvolvimento industrial ocorrida na segunda metade do século passado, e, consequentemente, com o aumento do número de corporações, segundo AMORIM (2000), os tribunais não tiveram alternativa, a não ser admitir a responsabilização penal das pessoas jurídicas quando da prática de ilícitos penais.

Atualmente, admite-se tal responsabilização, entretanto, na prática, a punibilidade restringe-se às violações à economia, ao meio ambiente, à saúde pública e à segurança e higiene do trabalho.

3.3 CANADÁ

No Canadá, segundo AMORIM (2000), a regra geral é a responsabilização penal das pessoas jurídicas, sendo que esta se estabelece da seguinte forma:

a) Por fato de outrem;

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b) Por ela mesma

No segundo caso, exige-se, ainda, que as pessoas jurídicas cometam crime com vontade criminosa, no espectro de suas funções como agente de pessoa moral, e com suficiente posição hierárquica na pessoa jurídica, para que entre em vigor o princípio do alter ego.

3.4HOLANDA

O direito penal holandês, segundo SILVA (2003), admite a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, conforme disposição legal contida no artigo 51 do seu Código Penal. O referido artigo faz a previsão de que tanto as pessoas físicas como as jurídicas, podem cometer fatos puníveis.

Outrossim, menciona

Klaus Tiedmann que a Corte Suprema da Holanda vem reconhecendo em suas decisões que determinadas condutas são ações ou omissões da própria empresa. E somente como conseqüência são imputadas a determinadas pessoas naturais vinculadas às pessoas jurídicas. (AMORIM, 2000, p. 28).

3.5 ITÁLIA

Prevalece na Itália, segundo BRODT; MENEGUIN (2015), a responsabilização penal individual, só admitindo a imputabilidade civil às pessoas jurídicas, caso em que se lhe aplicam responsabilização pecuniária.

3.6ALEMANHA

Vigora na Alemanha, segundo PEREIRA (2016), o brocardo “societas delinquere non potest”. Entretanto, antes da Segunda Guerra Mundial admitia-se a responsabilização penal das pessoas jurídicas.

A punição às pessoas jurídicas, segundo AMORIM (2000), é feita através de multas administrativas, bastando comportamento antijurídico, não se exigindo a culpa. O processo é desenvolvido na esfera administrativa.

A autoridade administrativa diante do fato antijurídico, contravenção à ordem, conforme o caso, segundo CABETTE (2003), pode impor multa e sanções acessórias (confisco), repetição de indébito nos casos de infrações sobre preços. 13

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Ressalte-se ainda, que dessa decisão caberá interposição de recurso ao tribunal administrativo regional.

4.SOCIETASDELINQUERENONPOTEST

Societas delinquere non potest, segundo ROTHENBURG (2011), trata-se de uma expressão pelo qual se entende que a responsabilidade penal só poderá ser considerada sobre o prisma pessoas individuais, isto é, somente poderá ser sujeito ativo de crime, pessoa física. Tal entendimento é defendido ainda por um grande número de doutrinadores e juristas. São os adeptos à chamada doutrina tradicionalista.

Certo que não se pode olvidar que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso XLX, dispôs que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do patrimônio transferido”. Entretanto, a mesma Carta admite a aplicação de outros princípios que possibilitam a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, e como se sabe um princípio não afasta o outro, mas sim coexistem harmonicamente.

Oportuno salientar que, a doutrina tradicional defende a sua tese baseando-se na culpabilidade, ou baseando-seja, na dificuldade da imputabilidade penal às pessoas jurídicas, já que a esta faltaria o requisito volitivo. Ademais, argumenta ainda a inexistência de penas possíveis de serem aplicadas às mesmas. Este assunto será tratado no capítulo IV desta monografia.

Os tradicionalistas, segundo MILARÉ; COSTA JÚNIOR (2002), defendem também, que numa infração praticada no âmbito de uma atividade desenvolvida por uma pessoa jurídica, deveria ser punido somente o administrador, o diretor, o gerente etc., mas jamais o próprio ente coletivo. Entretanto, confirmar tal entendimento seria não alcançar a verdadeira vontade da lei, vez que, na maioria das vezes, o administrador, o diretor, o gerente seria deposto do seu cargo. Outrora, a pessoa jurídica continuaria a praticar as mesmas atividades lesivas ao meio ambiente, pior de tudo, sem nenhuma repressão legal de caráter punitivo-repressivo. Vale mencionar que o repúdio a este entendimento se justifica pelo fato de que o tratamento atual legalmente amparado permite não se esquivar da 14

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responsabilidade pelo dano causado, nem o administrador nem a empresa. Ambos respondem solidariamente.

Pelo exposto, não podemos adotar a Teoria Societas delinquere non potest como sendo absoluta, até mesmo porque a nossa atual Carta Magna e a Lei 9.605/98, afastou tal teoria quando previu a possibilidade de se responsabilizar penalmente os entes coletivos. E assim o fez, diante do fato de que existem inúmeros crimes que são pelas suas próprias características, praticadas exclusivamente pelas pessoas jurídicas em meio a suas atividades e, sobretudo, no exclusivo interesse das mesmas, enquadrando-se perfeitamente os crimes ambientais.

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CAPÍTULO II

ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

1.DIREITOAMBIENTALCOMOUMDIREITOFUNDAMENTAL

Primeiramente, no que diz respeito a legislação aplicável não se pode deixar de mencionar, ou melhor, dar tratamento ao direito ambiental como um direito fundamental do homem, vez que tal tratamento vem sido introduzido nas constituições mundiais desde a Declaração de Estocolmo (assunto já discorrido no Capítulo I). E partindo, também, de uma visão mais amplificada do assunto, chegar-se-ia facilmente a conclusão que os Direitos Fundamentais encontram-se todos entrelaçados e que um assegura a efetividade do outro.

E muito embora o tema Meio Ambiente tenha sido inserido no Título VIII que trata da Ordem Social, não se pode deixar, por isso, de tratá-lo como um direito fundamental, por força do próprio artigo 5º, LXXIII, da CF que previu a possibilidade de ajuizamento de ação popular visando anular ato lesivo contra o meio ambiente.

Ademais vale citar o parágrafo 2º do artigo 5º da CF que estabelece: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”(grifo nosso)

De modo que a ideia de se considerar que os Direitos Fundamentais seriam somente aqueles dispostos no artigo 5º da Constituição Federal é errônea, bem como ultrapassada pelo Supremo Tribunal Federal, tendo o mesmo inclusive reconhecido como Direito Fundamental o Princípio da Anterioridade Tributária (artigo 150, III, “b”, CF), que se encontra disposto no Título VI da Constituição pátria que trata da Tributação e do Orçamento, desse modo, não inserto no rol exemplificativo do artigo 5º da CF.

Doutrinariamente, a definição de Direito Ambiental tem sido em torno de ser "um direito fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais(...)".7 (ANTUNES, 2000, p. 8)

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Desse modo, inegável tratar-se o Direito Ambiental de nada mais nada menos do que Direito Fundamental constitucionalmente reconhecido.

2.AEFETIVIDADEDALEI9.605/98

Em entrevista, Antonio Herman Benjamim, um dos precursores do Direito Ambiental no Brasil, ao ser indagado sobre a efetividade das leis ambientais no Brasil, assim respondeu: “Essa efetividade ainda é vaga. A lei é boa, mas sua aplicação é ruim. Precisamos criar mecanismos que propiciem uma boa aplicação da lei e o fortalecimento das instituições que têm responsabilidade”.8 (BENJAMIN, 2004,

p. 5).

Certo é que, segundo MILARÉ; COSTA JÚNIOR (2002), existem diferenças marcantes entre o Direito Penal Ambiental e o Direito Penal Clássico. Dentre elas a existência de um número elevado de normas penais incriminadoras com elementos normativos do tipo, utilização costumeira dos crimes de perigo.

Entretanto, tal diferenciação não pode ser suficiente para caracterizá-lo como inconstitucional, desnecessário ou abusivo. Longe disso, o direito é dinâmico, deve acompanhar o desenvolvimento e os anseios da sociedade como um todo, tutelando direitos que outrora não eram e que hoje se fazem imprescindíveis, como é o caso do direito penal ambiental.

A tendência da moderna ciência penal, segundo MILARÉ; COSTA JÚNIOR (2002), é voltada para conceber o crime ecológico como crime de perigo. Obtém-se dessa forma a confortadora perspectiva de avançar a fronteira protetora de bens e valores, merecedores de especial tutela.

De um ponto de vista político-criminal, portanto, o recurso aos crimes de perigo permite realizar conjuntamente finalidades de repressão e prevenção, sendo certo que o progresso da vida moderna está aumentando em demasia as oportunidades de perigo comum, não estando a sociedade em condições de refrear certas atividades perigosas, tidas como essenciais do desenvolvimento que se processa. Em tal contexto, torna-se evidente que uma técnica normativa assentada na incriminação do perigo é mais adequada a enfrentar as ameaças multíplices

8 BENJAMIN, Antonio Herman. Temos uma das mais completas leis ambientais do mundo. Mas a

aplicação não é plena. Jornal da ABRAMPA. Belo Horizonte, ano 1, julho de 2004, p. 5.

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trazidas de muitas partes e por meios estranhos ao sistema ecológico.9 (MILARÉ;

COSTA JÚNIOR, 2002, p.1).

A existência de um modelo efetivo de Direito Penal Ambiental não revela um rompimento com o Direito Penal clássico, mas, apenas, uma adequação da tutela penal em uma área que anteriormente não atuava. Negar a necessidade da utilização das normas penais no controle da criminalidade ambiental é uma postura inócua, reacionária e que só interessa aos infratores contumazes10 (em muitos casos

aliados ao poder econômico e político). (CALHAU, 2004).

3. A RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS E A

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Conforme breve relato histórico trazido no Capítulo I desta monografia, pode-se verificar que a Constituição Federal de 1988, seguiu a tendência mundial de dar especial tratamento as questões ambientais.

O Art. 225 da Constituição Federal pátria, dispõe: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Dentre os assuntos tratados constitucionalmente, no que diz respeito às questões ambientais, fez previsão expressa da responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais, objeto desse estudo.

Cita-se o parágrafo terceiro do referido dispositivo, que assim dispõe: “§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” (grifo nosso)

Entretanto, muito embora tenha a nossa Carta Magna cuidado da responsabilização em tela, somente após 10 (dez) anos, com o advento da Lei 9.605/98 é que passaria a ter aplicação a responsabilidade penal das pessoas

9 MILARÉ, Édis; COSTA JÚNIOR, Paulo José. Direito penal ambiental – comentários à lei 9605/98.

Campinas: Millennium, 2002: 1.

10 CALHAU, Lélio Braga. Efetividade da tutela penal do meio ambiente: a busca do “ponto de

equilíbrio” em Direito Ambiental. Jus Vigilanbus, Vitória, 22 set. 2004. Disponível em: <http://jusvi.com/doutrinas_e_pecas/ver/2221>. Acesso em 2 set.2010.

(19)

jurídicas nos cirmes ambientais.

Finalmente, cita-se o Art. 3º e seu parágrafo da Lei 9.605/98:

“As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e

penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração

seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.” (grifo nosso)

A Lei n.º 9.605 de 12/02/98, dispôs sobre as sanções penais e administrativas advindas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Trata-se dos crimes praticados por aquelas pessoas contra a fauna, flora, ordenamento urbano e o patrimônio cultural, crimes de poluição e crimes contra a administração ambiental. A responsabilização penal da pessoa jurídica na prática de crimes dessa natureza, somente se dará dentro da previsão legal, de modo que os tipos legais previstos na lei em comento é que determinará a aplicação ou não da mesma. E não poderia ser de outra maneira, senão vejamos:

Art. 5º, XXXIX – “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem

prévia cominação legal;”

Trata-se do Princípio da Anterioridade da Lei Penal, de modo que o tipo penal deverá estar previsto em lei, em caso de negativa, impossível a imputabilidade penal.

No que concerne ao aspecto de adequação das penas, assunto a ser tratado no Capítulo III deste trabalho, oportuno mencionar o disposto no Art. 5º, XLVI, da Constituição Federal:

a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

As penas aplicáveis às pessoas jurídicas, quando do cometimento de crimes ambientais, encontram-se dispostas na Lei 9.605/98 em seu artigo 21:

As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:

I - multa;

(20)

II - restritivas de direitos;

III - prestação de serviços à comunidade.

4. DA AÇÃO PENAL E DO PROCESSO NA LEI 9.605/98

Primeiramente, ressalte-se que a Lei 9.605/98, dispôs da matéria processual em apenas três artigos, quais sejam:

Artigo 26 – Trata da ação penal, dispondo que a natureza jurídica da

mesma sempre será pública incondicionada em relação aos delitos previstos em seu próprio texto;

Artigo 27 – Cuida da aplicação da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados

Especiais), nos casos em que o crime ambiental cometido, previsto na Lei 9.605/98, seja de menor potencial ofensivo, possibilitando, desse modo, a conciliação cível e a transação penal, estando estas condicionadas à prévia composição do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

Artigo 28 - Disciplina a aplicação do artigo 89 da Lei 9.099/95, em se

tratando de crimes de menor potencial ofensivo, definidos na Lei 9.605/98. Trata-se da suspensão do processo, desde que observados os requisitos do citado artigo.

Diante do fato de ter a lei 9.605/98 apenas três artigos disciplinando a cerca da matéria processual, nota-se de logo, a existência de um laconismo que desperta algumas preocupações. Primeiramente, porque não se pode definir precisamente qual o tipo de procedimento a ser adotado e, também, por não ter determinado o prazo prescricional da pena.

Entendemos não ser um óbice à aplicação dos comandos previstos na referida lei, já que diante da omissão do legislador penal, conclui-se que se deve aplicar os procedimentos comuns do Código de Processo Penal, e no que diz respeito à prescrição aplica-se regra contida no Código Penal (1940), mais precisamente nos artigos 109 a 118.

Outra dúvida surge, no que diz respeito à adoção do critério para escolha do procedimento cabível, vez que “o critério para determinação do procedimento, dentre os que denominamos comuns, é o da pena privativa de liberdade cominada 19

(21)

(reclusão, detenção, pena carcerária máxima não excedente a um ano)”.11

(AZEVEDO, 1999, p.107).

Vale ainda mencionar os seguintes comentários sobre o instituto da transação penal prevista na Lei 9.605/98, trazidos pelo Ilustríssimo Promotor de Justiça do Estado de São Paulo Dr. José Eduardo Ismael Lutti:

“Conclusões:

1. Não é permitido ao promotor de justiça propor a título de transação penal o pagamento de cestas básicas por ferir dispositivo legal. 2. Nas propostas de transação penal o promotor de justiça deverá exigir previamente a composição do dano praticado, sendo que a reparação do dano deverá ser a mais ampla possível.

3. Em eventual compensação ambiental por impossibilidade de reparação do dano, o promotor de justiça deverá necessariamente exigir a “demonstração cabal de irrecuperabilidade técnica parcial ou total do meio ambiente adversamente afetado”.

4. Nas propostas de transação penal, o promotor de justiça, preferencialmente, deverá optar pela aplicação de pena restritiva de direitos por ser mais benéfica ao meio ambiente e, sempre que possível, deverá conhecer previamente, através de prova pericial, os valores do dano e aqueles auferidos pelo autor com a degradação ambiental para melhor subsidiá-lo.

5. Optando pela proposta de aplicação de pena restritiva de direitos, o promotor de justiça, preferencialmente, deverá exigir o pagamento de valores a entidades públicas consistente na aquisição diretamente pelo autor do fato de instrumentos, produtos, aparelhos, etc., que necessariamente serão utilizados pelas entidades na prevenção e recuperação do meio ambiente, consultando previamente o CAO-UMA, ou diretamente às entidades locais, acerca de suas necessidades.

6. Nas transações penais, o promotor de justiça poderá, isolada ou cumulativamente com o pagamento de valores a entidades públicas ou privadas, optar pela exigência de recuperação de outra área degradada. Assim agindo, o promotor de justiça estará realmente atentando para os princípios básicos previstos na lei de crimes ambientais, os quais podem ser traduzidos na prevenção, educação e reparação do dano e, concomitantemente, colaborando para o fortalecimento da lei que pode ser retratada como um instrumento tão, ou mais, eficaz que a ação civil pública.”12

Do mencionado supra, conclui-se, que a não efetividade da norma somente ocorrerá diante de os aplicadores e intérpretes do direito ficarem inertes à mudança e ao avanço apresentado pela norma, receosos na aplicação da verdadeira vontade legal, pois houve previsão legal dos meios hábeis a serem aplicados no caso em concreto.

11 AZEVEDO, Tupinambá Pinto de, Pessoa jurídica: ação penal e processo na lei ambiental. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, 12, 1999. p.107.

12 Disponível em: http://www.mp.sp.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/CAO_

URBANISMO_E_MEIOAMBIENTE/BIBLIOTECA_VIRTUAL/TESES_DE_CONGRESSO/DR%20JOS %C3%89%20%EDUARDO%20ISMAEL%20LUTTIHTM. Acesso em: 31 ago 2010.

(22)

CAPÍTULO III

ASPECTOS GERAIS DA RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

1.INDIVIDUALISMOEREALIDADESOCIAL

Desde a antiguidade, nota-se que o homem sempre fora o centro norteador das criações legais, ocupando, desse modo, um papel exclusivo, entretanto, podemos verificar que a realidade atual não é a mesma, e que diante das evoluções apresentadas, nasce, também, uma necessária adequação às mesmas, sob pena de não estar o direito efetivando o seu principal objetivo, qual seja, o de se fazer justiça.

Daí, não se faz duvidosa a idéia de que a Teoria Penalista Clássica, em que se considera somente o homem, como sujeito ativo de crime, caiu por terra. Vez que a visão contemporânea reconhece entes e situações coletivas.

Ora, se o direito clássico penal protege a vida e a incolumidade pública pessoal, a teoria moderna tutela não só estas, como também, acrescenta no seu rol, com mais empenho, a incolumidade da coletividade ameaçada pelas agressões ao meio ambiente.

Oportuno, utilizando as palavras de M.J. Litmann-Martin, diferenciar o agente que comete crime comum do que comete o crime de natureza ambiental.

“O primeiro é um ser associal, que merece sanção. O segundo, um empresário, criador de empregos, frequentemente influente e respeitado, que às vezes indeniza espontaneamente as vítimas diretas dos danos por ele causados: associações de pescadores privados da pesca; criadores cujo gado fica doente, intoxicado pela dejeção maciça de flúor na atmosfera, por exemplo.13 (LITMANN-MARTIN, 1992, p. 10)

A consideração supra, apenas diferencia os agentes sob o aspecto, ainda, individual, abstendo-se de englobar, o sujeito coletivo, que também comete infrações. O caso citado, restringe-se a mencionar a presença do representante empresarial, responsabilizando somente a ele, no que tange a aplicação de sanção, seja ele de natureza civil (indenização), penal ou administrativa.

A Lei 9.605/98, veio normatizar consectário constitucional anteriormente previsto, dispondo sobre a aplicação de sanções penais ao ente coletivo, de modo que esta não exclui a responsabilidade do seu representante.

13 LITMANN-MARTIN, M.J., A proteção penal do ambiente no Direito Francês, 1992, p.482, apud

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Questões polêmicas atinentes à responsabilidade penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais, REVISTA SÍNTESE, São Paulo, 1992, p.10.

(23)

Faz-se ainda necessária a reflexão sobre os aspectos referentes à dosagem na gravidade de cada tipo de delito praticado, seja ele por sujeito ativo comum ou sujeito coletivo, e qual o objeto jurídico está sendo ofendido e quais as efetivas medidas a serem tomadas diante de tais situações.

“Os diversos ramos do direito vão se adaptando à nova realidade, mas o Direito Penal tem-se mostrado particularmente refratário e, com isso, perdendo o compasso do tempo e parcela de sua utilidade, que precisa ser resgatada.”14

(ROTHENBURG, 1998, p. 61)

Ora, a evolução a qual toda matéria de direito está submetida, somente se procede adequando a realidade jurídica à realidade social, e o direito penal não pode fechar os olhos para essa nova realidade. Se não fosse assim, certamente o caos que já se instalou no quotidiano de toda uma coletividade estaria por difundir-se cada vez mais, e o objetivo do direito é fazer com que isso não ocorra ou pelo menos que não venha a ocorrer.

Valendo-se de tais assertivas é que o legislador, apesar de tardiamente, tendo em vista que a nossa Constituição Federal data de 1988 e a lei 9.605/98 é de 1998, materializou esse significativo avanço, qual seja, o de tutelar bens jurídicos maiores.

2. ADEQUAÇÃO DAS PENAS

No que diz respeito ao assunto tratado neste tópico, importante ressaltar, a necessidade de se buscar a efetiva adoção de penas adequadas às pessoas jurídicas.

Tanto a Constituição Federal brasileira como a lei 9.605/98 (ver capítulo II), dispõe sobre os tipos penais a serem aplicados em cada caso, levando-se em conta a gravidade da lesão ocasionada ao meio ambiente.

Geralmente, os óbices à responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais, trazidos pela doutrina tradicionalista, segundo MILARÉ; COSTA JÚNIOR (2002), referem-se a impossibilidade dos entes coletivos serem apenados e cumprirem penas de natureza restritiva ou privativas de libertade, e mais, que a

14 ROTHENBURG, Walter Claudius, A responsabilidade criminal da pessoa jurídica na nova lei de

infrações ambientais. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, 9, 1998, p.61.

(24)

capacidade delitiva é inerente ao ser humano.

Ora, tais alegações são retrógradas e insuficientes a impedir a responsabilização em tela, vez não serem as penas restritiva ou privativa de liberdade as únicas a serem aplicadas. Do contrário, permite-se a aplicação de vários outros tipos de penas, estando estas previstas na Lei 9.605/98, conforme se verifica abaixo:

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:

I - multa;

II - restritivas de direitos;

III - prestação de serviços à comunidade.

Inclusive, vale a pena citar o artigo 24 da lei em comento:

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

O artigo 24 previu inclusive da chamada “pena de morte” para a pessoa jurídica, já que tratou da liquidação forçada da mesma.

Do acima exposto, verifica-se plenamente possível a adoção de medidas repressivas e preventivas que não sejam alcançadas somente com as chamadas penas privativas ou restritivas de liberdade, vez que estas, na prática, têm-se demonstrado cada vez mais ineficazes ao combate e à prevenção das práticas delituosas, já que o Sistema Carcerário brasileiro atual se encontra na verdadeira acepção da palavra falido.

Ademais, a alegação de que só o ser humano pode ser sujeito ativo de crimes não procede, no sentido de que a realidade aponte a necessidade de uma nova adequação às situações apresentadas. Não significa dizer com isso, que a responsabilização penal dos entes coletivos deverá ser feita observando-se as mesmas bases da responsabilidade individual. Faz-se necessário a criação de uma nova teoria, não mais a subjetiva, própria para os delitos praticados pelo ser humano, mas sim de uma teoria que possibilite o alcance precípuo do fim colimado legalmente.

3. TIPOS DE PENAS A SEREM ADOTADAS AO CASO CONCRETO

(25)

A Lei 9.605/98, conforme já citado em seu artigo 21, traz o rol das penas a serem aplicadas às pessoas jurídicas, quando do cometimento de infrações ambientais. Dentre elas, a multa, a restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade. E em seu artigo 24 a pena de liquidação forçada, equivalendo a uma verdadeira pena de morte para pessoa jurídica.

3.1DAPENADEMULTA

Primeiramente, faz-se necessária a distinção entre a multa de natureza administrativa e a de natureza penal. Apesar de não se diferenciarem quanto ao montante mínimo, quanto ao máximo observa-se tamanha disparidade: “a multa penal máxima não atinge o patamar de 1/70 do valor da multa administrativa máxima”.15 (FIGUEIREDO, 1998, p. 46)

Outra diferença a ser destacada é que a multa de natureza penal, nos termos em que dispõe o art. 49 caput, do Código Penal (1940), é destinada ao Fundo Penitenciário, ao passo que a multa de natureza administrativa será revertida ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (Lei 7.797/89), ao Fundo Naval (Dec. 20.923/32) e a fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador.

Ademais, vale ressaltar que, o pagamento das multas tanto de natureza administrativa como a penal, não exime o ente coletivo que causou algum dano ao meio ambiente de arcar com o pagamento das respectivas indenizações de caráter civil.

Outrossim, é de se notar que a penalidade administrativa não está condicionada ao prévio pronunciamento da instância criminal. Mesmo porque não sentenciando o Judiciário, seja em virtude da inexistência do fato, da negação de autoria ou do reconhecimento de excludente, essa eventual absolvição criminal não terá repercussão na esfera administrativa. Desse modo, podem cumular-se cominações de sanção penal, administrativa e indenizatória civil por um mesmo fato.

“A absolvição no âmbito da justiça criminal não gera necessariamente efeitos na esfera administrativa, pois a configuração de infração administrativa independe

15 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin, op. cit., p. 46

(26)

da exigida tipicidade penal.”16 (FIGUEIREDO, p. 46)

3.2DASPENASRESTRITIVASDEDIREITO

O tipo de penal a ser abordado neste item, está disciplinado na Lei 9.605/98, conforme abaixo citado:

“Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I - suspensão parcial ou total de atividades;

II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.

§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem

obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.

§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade

estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.

§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,

subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos.”

3.3 DAS PENAS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE

As penas desta natureza, conforme disposto no artigo 46 do Código Penal brasileiro, “consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a entidades assistenciais, hospitais, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários e estatais”.17 (JESUS, 1995, p. 466)

As penas em comento encontram-se dispostas na Lei 9.605/98, conforme abaixo transcrito:

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:

I - custeio de programas e de projetos ambientais;

II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos;

IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

3.4DAPENADEMORTE

A pena tratada no artigo 24 da Lei 9.605/98, de natureza mais grave, é o da

16 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de, ibid, mesma página.

17 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal .1º Volume – Parte Geral, São Paulo: Saraiva, 1995, p.466.

(27)

liquidação forçada, no qual a empresa, que tiver sido constituída ou utilizada apenas com o intuito de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crimes definidos na mesma lei, terá o seu patrimônio considerado como sendo produto de crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

Trata-se este tipo de pena, na verdadeira acepção da palavra, de pena de morte.

Entretanto, o que se deve considerar neste tipo de pena é o seu caráter preventivo, pois a difusão de que a responsabilidade penal das pessoas jurídicas está sendo apurada, a ponto de ser decretada sua pena de morte, faria com que as outras empresas adotassem uma postura objetivando não causar gravames ao meio ambiente, evitando, desse modo, o cometimento de infrações previstas na Lei 9.605/98. Tal previsão demonstra um objetivo mais efetivo ao fim colimado pela lei, entretanto, só será alcançado se houver uma fiscalização por parte de todos, principalmente, por aqueles que têm o dever precípuo de fazê-lo.

(28)

CAPÍTULO IV CULPABILIDADE

1.SUJEITOATIVO

Entende-se por sujeito ativo, aquele que pratica o fato descrito na norma penal incriminadora.

No que diz respeito a responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais, vale mencionar novamente, que a previsão legal encontra-se expressa no Texto Constitucional, em seu artigo 225, §3º, bem como no artigo 3º da Lei 9.605/98.

Ao dispor dessa forma, os textos legais supra elencaram as pessoas jurídicas como sendo sujeito ativo de infração penal ambiental, e sendo assim, poderá ser responsabilizada penalmente.

Para um melhor entendimento, faz-se necessário uma análise conceitual da pessoa jurídica, e, após, das especificidades próprias, no que couber, às pessoas jurídicas de direito público.

2. PESSOA JURÍDICA/EMPRESA - DEFINIÇÃO

Partindo-se de uma definição técnico-jurídica de que pessoa jurídica ou empresa, chega-se a conclusão de que se trata de um dilema não resolvido tanto no âmbito legal como no da doutrina. Podendo ser determinado:

...subjetivamente, a empresa se confunde com o próprio empresário, sendo essa apenas exteriorização dos interesses e das vontades daquele. Numa análise objetiva, a empresa corresponde ao fundo de comércio, ou seja, ao conjunto de bens, materiais e imateriais, destinados ao exercício da empresa. Sobre o ponto de vista institucional, a empresa é a conjugação dos esforços do empresário e dos seus colaboradores (empregados, assessores, fornecedores, diculgadores etc.), mirando um objetivo, abordagem similar a que pode ser feita do ângulo funcional, que significa a atividade empreendida no sentido de organizar e coordenar os segmentos de capital e trabalho.18 (CARVALHO, 1999, p. 30).

Pessoas jurídicas “podem ser definidas como associações ou instituições formadas para a realização de um fim e reconhecidas pela ordem jurídica como

18 CARVALHO, Ivan Lira de, A empresa e o meio ambiente. Revista de Direito Ambiental, São

(29)

sujeitos de direitos”.19 (MONTEIRO, 1984, p. 96)

Pelas definições acima citadas, chega-se a conclusão de que o ente fictício almeja o alcance de seus objetivos, basta observar, precipuamente “realização de um fim.”

Ora, se tal ente coletivo, geralmente, almejando apenas suas finalidades econômicas, ficasse imune à responsabilização no âmbito penal, simplesmente, por defender a escola tradicional, que aquele não possui vontade própria, a que ponto chegaria a insegurança jurídica?

Outrossim, evidencia-se cada vez mais que, a responsabilização tratada somente na esfera administrativa não surte os efeitos colimados, vez que diariamente presenciamos nos noticiários a ocorrência de danos irreparáveis ao meio ambiente em contraposição com o sucateamento dos Órgãos Administrativos seja no âmbito funcional seja no de insuficiência de equipamentos.

Entretanto, para que se configure a responsabilização penal da pessoa jurídica nos crimes dessa natureza, necessário verificar a presença do nexo de causalidade entre a decisão e a violação concreta da norma. Tal verificação exige a identificação do indivíduo que efetivamente viola a norma. Isto é, “diz expressamente a lei que a responsabilidade da pessoa jurídica somente ocorrerá quando a infração for cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da entidade.”20 (FERREIRA FILHO, 1999, p. 32)

Verifica-se com as exposicões supra, que a culpabilidade da pessoa jurídica será determinada pela decisão, quando desta advier algum gravame ao meio ambiente, desde que tomada objetivando o alcance de algum interesse ou benefício seu.

De sorte, que a sua responsabilização, não excluirá a de seu representante legal ou contratual.

3. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO

Destaca-se, segundo o disposto no artigo 37 da Constituição Federal, as

19 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil - parte geral. São Paulo: Saraiva, 1984,

p.96.

20 FERREIRA FILHO, Edward, As pessoas jurídicas como sujeito ativo de crime na lei 9.605/98. Revista de Direito Ambiental, São Paulo: RT, n 10, 1999, p.32.

(30)

pessoas jurídicas de direito público, como sendo aquelas adstritas à observância do Princípio da Legalidade (União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias e fundações públicas).

3.1SUJEIÇÃOAOPINCÍPIODALEGALIDADE

De acordo com o Princípio da Legalidade, as pessoas jurídicas de direito público deverão executar suas atividades em plena concordância com o texto legal, tendo em vista que o interesse almejado pelas mesmas nada mais é do que a obervância do interesse social.

Isto porque, “A administração púnlica não é um sujeito distinto do estado, mas é o próprio Estado em ação para alcançar seus fins.”21(ZAMBONINI, 1998, p.

49)

Um dos óbices à responsabilização penal das pessoas jurídicas de direito púlico nos crimes ambientais, advém, primeiramente, da não previsão legal, vez que o já citado artigo 3º da Lei 9.605/98, não abre margem para tal responsabilização. Basta mencionar o trecho do texto legal: “interesse ou benefício de sua entidade”.

Ora, se o interesse precípuo de qualquer pessoa jurídica de direito público deve ser justamente o alcance do interesse coletivo em toda a sua abrangência. Como poderia o Estado beneficiar-se com a prática de infrações de natureza penal, se o mesmo encontra-se vinculado à observância legal?

Não se pode admitir que o Estado possa ser infrator penal quando a ele foi incumbido o papel de primar pela paz social, quando é o mesmo que detém o monopólio do exercício da repressão criminal em nome da sociedade. Reconhecer a responsabilidade penal às pessoas jurídicas de direito público seria o mesmo que negar legitimidade de seus atos, situações que gerariam desconforto e inseguranças jurídicas perenes.

3.2 INADEQUAÇÃO DAS PENAS ÀS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO

PÚBLICO

21 ZABONINI, Guido. Scritti vai di diritto pubblico. 1995, p.203-208 e214-218, apud, SILVA,

Solange Teles da. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, 10, 1998, p.49.

(31)

Um outro óbice a estabelecer a impossibilidade de ser a pessoa jurídica de direito público responsabilizada penalmente por crime ambiental, está na aplicação da pena.

No que diz respeito à aplicação da pena de multa, esta teria sua natureza penal desvirtuada, adquirindo apenas um caráter de remanejamento de créditos orçamentários, tendo em vista que a multa paga pelo Estado nos casos de cometimento de infrações ambientais reverteria ao proprio Estado.

Já com relação às penas restritivas de direito expressas na Lei 9.605/98, importante ressaltar que quanto à suspensão parcial ou total das atividades desenvolvidas pelas pessoas jurídicas de direito público colidiria diretamente com o princípio da continuidade do serviço público, daí a impossibilidade da sua aplicação.

Outra impossibilidade de aplicação estaria na pena de interdição do estabelecimento, obra ou atividade. Para tanto necessárias algumas pontuações:

O que significaria a interdição de um Município? Ou a interdição da União? A interdição de uma atividade lesiva ao meio ambiente que venha sendo realizada por pessoa jurídica de direito público e, evidentemente, possível; mas isso constitui objeto de ação civil – obrigação de fazer ou não fazer. Nesse caso, seria, de todo inadequado buscar pela morosa via do processo penal algo que, para uma efetiva proteção do meio ambiente, poderia ser rapidamente obtido através de pedido liminar em ação civil pública.”22

(FIGUEIREDO,1998, p. 51).

Evidenciando, desse modo, que apesar de possibilitada desse tipo de pena ao Estado – englobando, também, a administração direta, autárquica e a fundacional, não seria feita sem que provocasse prejuízos a própria população.

Existe ainda, outra consideração a ser feita quanto à inadequação na aplicação das penas às pessoas jurídicas de direeto público que é a contida no artigo 22, inciso III da Lei 9.605/98, que dispõe sobre a impossibilidade de se contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. Evidenciando, que o legislador ao criar tal lei, jamais pensou em responsabilizar penalmente o Estado, vez que a idéia de se proibir que um Estado firme um convênio com a União Federal, é na verdadeira acepção da palavra punir o próprio Estado e a própria União Federal, e, consequentemente, a própria coletividade.

A única possibilidade de se punir na esfera criminal o Estado, seria através

22 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de, ob. cit., p.51

(32)

da aplicação da pena de serviços à comunidade, através do cumprimento das seguintes penas: execução de obras de recuperação de áreas degradadas, manutenção de espaços públicos, custeio de programas e projetos ambientais, e a realização de contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. Entretanto, mesmo nesse caso, haveria uma incompatibilidade de aplicação de penas, já que existe previsão constitucional23 estabelecendo que o próprio Estado é incumbido de

tutelar tais interesses, o que não seria um cumprimento de penas, mas sim, um dever estatal.

Desse modo, a execução de obras de recuperação de áreas degradadas, seria nada mais do que o Poder Público exercer o dever de restaurar os processos ecológicos essenciais. Bem como o custeio de projetos e programas ambientais seria equivalente ao dever constitucional de proteção a fauna e a flora, que são alcançadas através de políticas públicas estatais. Ademais, quanto à manutenção de espaços públicos, o Estado a realiza através de política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, consoante dispõe ao artigo 182 da Constituição Federal.

Diante de todas as considerações acima, evidencia-se a impossibilidade/incompatibilidade de aplicação de sanções de natureza penal às pessoas jurídicas de direito público.

3.3 AGENTE PÚBLICO

De acordo com a definição da Prof.ª Maria Sylvia Zanella di Pietro “agente público é toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da administração indireta”.24 Elenca-se, ainda, três diferentes categorias de agentes

públicos:

1) Agente político;

2) Servidores públicos; e

3) Particulares em colaboração com o poder público.

Importante salientar, que em qualquer categoria em que se encontre o

23 Artigo 225, § 1º, I, da CF: “Incumbe ao Poder Público preservar e restaurar os processos

ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas.”.

24 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 1997, p.357.

Referências

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