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SOCIEDADE, ESCOLA E REPRODUÇÃO SOCIAL: ISTVAN MÉSZÁROS E A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL.

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Academic year: 2021

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MÉSZÁROS E A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL.

ALMEIDA, José Luciano Ferreira de 1 - SEED PR

PARRA, Silvia2 - SEED PR

Grupo de Trabalho - Cultura, Currículo e Saberes. Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O objetivo dessa comunicação é analisar o papel da educação escolar, formação docente e sua adequação aos propósitos da reprodução do capital. Nesse sentido busca-se a partir da reflexão de Istvan Mészáros o suporte teórico necessário para refletir a educação para além do capital. Ao mesmo tempo remete-se para a função da educação escolar no interior desse processo histórico, levando-se em consideração que o capital é uma construção histórica que atende a uma determinada lógica social que contempla as relações de poder e de dominação. Pensar a educação escolar como mecanismo de superação do capital tal qual ele se efetivou historicamente, requer considerar os elementos sociais, políticos e históricos que determinam o trabalho educativo contemporâneo. Ao mesmo tempo deve-se considerar a dimensão da formação docente a partir dos saberes constituídos para o desenvolvimento da prática docente. O mundo do trabalho capitalista é determinante para a constituição desses saberes que envolvem a formação docente, nesse sentido deve-se considerar que ao estabelecer uma relação entre essa formação e reprodução social é fundamental compreender o papel histórico da própria educação escolar. Os mecanismos que levam a educação escolar a se tornar um processo de reprodução das relações sociais dominantes se constituem a partir do próprio mundo do trabalho capitalista. Nesse caso, a relação entre formação docente e trabalho é inerente ao próprio processo de uma educação transformadora, ou para além do capital que significa estabelecer uma formação docente com base em saberes que pensem a sociedade e a educação a partir de uma perspectiva critica de sociedade. Nesse sentido há que se superar os mecanismos que produzem e reproduzem as relações de dominação e de poder.

Palavras-chave: Educação. Reprodução social. Capital. Sociedade. Saberes escolares.

1 Mestre e Especialista em Educação: Universidade Federal do Paraná. Professor da Rede Estadual de Educação

do Paraná (SEED). Professor do Ensino Superior e Pós graduação em Educação - E-mail: jlucianoalmeida@seed.pr.gov.br.

2 Mestre e Especialista em Educação: Universidade Federal do Paraná. Professora da Rede Estadual de Educação

do Paraná (SEED). Professora do Ensino Superior e Pós graduação em Educação - E-mail: silviaparra@seed.pr.gov.br.

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Introdução

O centro dessa comunicação é discutir a partir do pensamento reflexivo de István Mészáros o processo de reprodução escolar, formação docente e a educação para além do capital. O papel da educação escolar nesse sentido ganha destaque por meio de uma relação pedagógica na qual a ausência da critica e de possibilidades de transformação tornam-se cada vez mais presentes. Ao mesmo tempo tem-se uma redução da teorização sobre a relação entre educação escolar e transformação social.

O termo transformação social não envolve qualquer novidade intrínseca. Normalmente, implica uma noção subjacente sobre o modo como a sociedade e a cultura se transformam em resposta a factores como o crescimento económico, a guerra, ou convulsões políticas. (CASTLES, 2002,p.125)

Busca-se a partir dos referenciais teóricos levantar questões, reflexões, discussões e compreender o nexo entre formação docente, saberes, reprodução do capital e mundo do trabalho. A presença da centralidade do mundo do trabalho nesse aspecto é fundamental para sustentar a defesa de uma concepção e de um pensamento critico para uma educação para além do capital. “O capital é a força econômica da sociedade burguesa que tudo domina. Constitui necessariamente o ponto de partida e o ponto de chegada e deve ser explicado antes da propriedade fundiária.” (MARX, 2011, p.257)

Ao mesmo tempo deve-se considerar que a educação escolar encontra-se sob uma dupla dimensão: a primeira refere-se a compreendê-la como um mecanismo histórico de reprodução social, ou seja, ela atende a manutenção de uma realidade social que envolve processos de dominação e perpetuação das relações de poder, sob a hegemonia de uma classe social, nesse caso a burguesia. Por outro lado, a segunda dimensão refere-se a compreendê-la como um mecanismo histórico de transformação social, ou seja, ela pode desencadear uma mudança social a partir da critica e negação das relações sociais dominantes e ao próprio movimento e lógica do capital.

A educação escolar nesse contexto no qual as contradições são inerentes ao desenvolvimento do trabalho educativo, e mesmo da formação docente deve ser tomada como um elemento politico, na medida em que ela mesma tem por função e natureza a manutenção das relações de poder e do predomínio do capital sobre o trabalho.

A vida em sociedade necessita dos indivíduos a produção e apropriação de conhecimentos e saberes, e esses conhecimentos por meio do processo histórico é repassado

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por meio da educação escolar. Cabe à educação desencadear esse complexo mecanismo de entendimento sobre a natureza e sobre a sociedade, ao mesmo tempo cabe a ela promover a produção de conhecimentos e saberes que constituem a base de desenvolvimento dos grupos sociais.

Nesse aspecto o conhecimento tem uma função fundamental para o desenvolvimento da formação docente e para e educação escolar, deve-se considerar que o caráter de uma prática educativa progressista possui como pressuposto um trabalho educativo voltado para a transformação social.

Por outro lado, na educação escolar contemporânea a importância dos saberes docentes na perspectiva da transformação social é reduzida, a formação docente passa a ser um mecanismo de precarização da educação escolar e do trabalho educativo. O contexto de um mundo do trabalho permeado pelo processo neoliberal e pela globalização faz-se presente, deve-se considerar a necessidade de se refletir sobre essa relação, sob o risco de perder-se a capacidade critica de compreender os saberes que constituem a educação escolar.

No contexto atual, com as políticas neoliberais, o conhecimento passou a ser foco de grande atenção em razão da sua importância para o desenvolvimento econômico, no entanto, com a diminuição da responsabilidade do Estado com a educação, a profissão, também, tende a ser cada vez mais desvalorizada. (ENS, R. T.; GISI, M. L.; EYNG, A. M. 2011, p.312)

A desvalorização da formação docente e sua profissionalização recai sobre os próprios saberes escolares, repõe-se nesse sentido a natureza de uma educação escolar cuja perspectiva histórica se constitui como mecanismo de reprodução de um contexto social cujo principal objetivo consiste em reproduzir as formas de manutenção e acumulação do capital. O papel do capital nesse sentido tem o proposito de ampliação das relações de dominação e de poder que são inerentes ao mundo do trabalho capitalista.

Os saberes docentes e escolares estão nesse caso submetidos a uma lógica do capital que não possibilita uma ampliação das possibilidades de transformação histórica da sociedade capitalista, constituindo-se em agencia de reprodução dos valores e representações produzidas pelo grupo social hegemônico. Nesse aspecto a formação docente aliada a um saber que é constituído a partir da reprodução social, aparece como uma dimensão na qual a ausência de critica é parte constituinte desses saberes.

A educação para além do capital requer a compreensão de um mundo do trabalho no qual as relações históricas de produção têm por objetivo, a manutenção da ampliação e

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acumulação do capital sem levar em consideração os processos internos e as contradições sociais que sustentam um amplo mecanismo de dominação e poder.

Ao considerarmos que a educação é para a vida, como afirma Mészáros (2005), isso quer dizer que deve-se superar a alienação.

Alienação é um conceito eminentemente histórico. Se o homem é alienado, ele deve ser alienado com relação a alguma coisa, como resultado de certas causas – o jogo mútuo dos acontecimentos e circunstâncias com relação ao homem como sujeito dessa alienação – que se manifestam num contexto histórico. (MÉSZÁROS, 2006, p.40)

Nesse caso a educação escolar para o mercado reproduz a lógica do capital, ou seja, volta-se para a manutenção das relações sociais de poder e dominação. O capital assim torna-se um processo que desumaniza, na medida em que promove e inculca um saber escolar que fundamenta-se na individualização e na competição. Esses mecanismos que compõem a lógica do mercado são a base para o desenvolvimento e a produção de um contexto no qual o poder se institui como elemento central do trabalho educativo.

A critica à sociedade capitalista e ao Estado no qual a própria reprodução compõe a sua estrutura, expressa o contexto que constitui a educação escolar e os saberes que fundamentam a formação docente. Esses saberes docentes podem ser considerados como conhecimentos que não promovem o desenvolvimento de uma conscientização sobre a natureza do trabalho educativo.

Nesse sentido o objetivo dessa comunicação é o de promover e retomar a necessidade de constituição de uma reflexão critica sobre a formação docente e seus saberes na perspectiva de uma educação escolar para além do capital, ou seja, para além das relações de dominação, de poder e mesmo de exclusão social. A relação entre educação escolar e a reprodução social envolve nesse aspecto a dimensão e o desenvolvimento dos saberes escolares, na direção de que a formação docente em si mesma reproduz o caráter e a lógica de uma sociedade na qual a própria centralidade do mundo do trabalho capitalista saiu de cena e ocupa um espaço reduzido enquanto mecanismo e objeto de reflexão.

A educação escolar e a questão da reprodução social e saberes docentes: algumas considerações

A formação docente numa perspectiva critica depende em larga medida dos saberes que se constituem a partir de uma perspectiva histórica, politica e social. O trabalho docente é

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um mecanismo fundamental para compreender-se a dimensão da reprodução social e a ausência do elemento reflexivo, ao mesmo tempo há que se considerar a dimensão conservadora da relação pedagógica. O papel da formação docente nesse sentido é inerente ao desenvolvimento do trabalho educativo.

A docência e seus agentes ficam nisso subordinados à esfera da produção porque sua missão primeira é preparar os filhos dos trabalhadores para o mercado de trabalho. O tempo de aprender não tem valor em si mesmo, é simplesmente uma preparação para a “verdadeira vida”, ou seja, o trabalho produtivo, ao passo que, comparativamente a escolarização é dispendiosa, improdutiva ou, quando muito, reprodutiva. (TARDIF, 2005, p.17)

É nesse contexto que os saberes docentes encontram uma relação intelectual com a educação escolar, ou seja, a partir de uma lógica que sustenta-se na reprodução social do capitalismo. O mecanismo da reprodução traduz a permanência das relações de poder e de dominação na perspectiva de uma educação escolar que permita a apropriação de saberes escolares que conserva e não transforma.

Complexifica-se assim a possibilidade de se desenvolver uma prática reflexiva e crítica na formação e na construção de saberes docentes. Há uma espécie de impedimento que se perpetua a partir da própria constituição da educação escolar que na lógica do mundo do trabalho capitalista é marcada pela reprodução.

Há nesse mecanismo de reprodução a manutenção de um contexto que se reduz a manutenção da desigualdade diante do processo escolar. A desigualdade é um mecanismo central na constituição da reprodução social. “Mas não é suficiente enunciar o fato da desigualdade diante da escola, é necessário descrever os mecanismos objetivos que determinam a eliminação continua das crianças desfavorecidas.” (BOURDIEU, 2007, p.4)

A educação no contexto da reprodução social tem como perspectiva o desenvolvimento e manutenção de uma lógica que contextualiza o mecanismo das desigualdades e da seleção escolar. A questão fundamental que se coloca diante desse quadro está no aspecto da formação docente, no sentido de que os saberes não são suficientes para transformar, para ir além do capital.

Ao mesmo tempo há que se refletir sobre os saberes docentes na construção e elaboração de uma critica ao processo de desigualdade que a própria educação escolar legitima. Deve-se considerar que a reprodução confirma a manutenção de um contexto no qual a desigualdade é a base dessa cultura escolar.

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Nesse sentido os saberes docentes são imprescindíveis para a própria reprodução ou para a transformação desse contexto. A ausência ou o estabelecimento da critica histórica à reprodução são fundamentais para se pensar a própria formação docente, nesse aspecto o próprio trabalho educativo torna-se uma pratica docente na qual está permeada pela perspectiva de redução ou mesmo de ausência da crítica.

A superação de uma educação escolar pautada pela reprodução está na contextualização histórica da educação escolar. Há que se constituir um mecanismo ou uma prática reflexiva a partir da própria superação da reprodução social. Na estruturação da sociedade capitalista o desenvolvimento das forças produtivas ocorrem de forma que se estabelece um mecanismo que é fundamental para a consolidação do poder do capital sobre o trabalho. O papel da alienação ocupa um espaço central nesse mecanismo, ou seja, a reprodução social do poder consolida-se a partir da ausência de uma construção intelectual teórica critica que promova uma formação e um saber docente pautada pela lógica transformadora.

Educação escolar e formação docente para além do capital : o papel da reprodução e alienação

A formação docente como uma pratica transformadora deve ser compreendida no contexto da sociedade capitalista, ao mesmo tempo assinala-se que essa mesma prática insere-se no contexto das contradições sociais. Enfatiza-insere-se a necessidade da mudança como um processo de constituição de uma nova realidade, “uma mudança que nos leve para além do capital, no sentido genuíno e educacionalmente viável do termo.” (MÉSZÁROS, 2005, p.25)

Por outro lado, não há transformação da educação sem uma correspondente transformação do contexto social, elas estão interligados. A lógica do capital se impõe sobre a realidade social na qual a educação escolar se institui; nesse sentido transformar a realidade educacional requer significativamente romper com essa mesma lógica.

Há que se considerar nesse aspecto a dimensão da formação docente num contexto da reprodução social, ou seja, se essa formação não contempla uma mudança e uma transformação, ela está inserida na manutenção das condições de conservação do capital e suas formas de reprodução de um contexto social hegemônico.

Ao mesmo tempo é fundamental considerar as bases que sustentam uma formação, a definição de um método que dê sustentação a uma determinada concepção de sociedade deve

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ser considerada e mesmo observada. A constituição dos saberes escolares nesse caso pode ser considerada como reflexo desse mecanismo de sustentação das relações de reprodução de um contexto social que é hegemônico.

De um modo geral deve-se observar o contexto contemporâneo do mundo do trabalho capitalista, de forma que esse contexto é determinante para a lógica da reprodução presente na formação docente. Ao se conhecer o contexto no qual a formação docente se desenvolve e se realiza, a possibilidade de desenvolver-se uma reflexão critica torna-se ampliada.

O capital não é uma coisa, mas um processo em que o dinheiro é perpetuamente enviado em busca de mais dinheiro (...) Até mesmo o estado pode atuar como um capitalista, por exemplo quando usa as receitas fiscais para investir em infraestruturas que estimulem o crescimento e gerem mais receitas em impostos. (HARVEY, 2011, p.41)

A presença dessa lógica na formação docente materializa os mecanismos de reprodução de um contexto social no qual se insere a educação escolar. Advoga-se nesse sentido, a elaboração de um quadro critico sobre esse processo, haja vista a presença de um caráter histórico que reproduz as relações de poder e de dominação. Há que se configurar uma formação docente que observe criticamente essa dimensão, que por si só é politica por excelência.

A formulação da critica deve ser compreendida como uma manifestação de que a educação escolar constitui-se como um importante mecanismo para a transformação social, politica, econômica e cultural. Estabelecer um nexo entre educação critica e transformação social deve ser compreendido como um recurso no qual os saberes docentes são fundamentais para a materialização desse processo.

A educação escolar critica se caracteriza pela ênfase na dimensão politica e histórica do trabalho educativo, nesse caso há que se compreender que o mundo do trabalho capitalista apresenta limites diante da perspectiva de uma sociedade na qual as relações de poder e de dominação se constituem como mecanismos que exigem a transformação social.

Esse conceito de educação como produção do humano histórico não pode ser desvinculado de sua dimensão politica. A politica se faz presente como realidade inerente à espécie humana porque não é sequer imaginável que o homem, em sua condição histórica, como produtor de sua própria humanidade, possa existir isoladamente. O homem só consegue produzir sua realidade material relacionando-se com outros homens, por meio da divisão social do trabalho. (PARO, 2011, p.26-27)

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Retoma-se a relação da educação com a dimensão da politica, nesse aspecto o mundo do trabalho ocupa também uma dimensão fundamental nesse processo. Ao mesmo tempo destaca-se a formação docente como um processo inerente à condição contemporânea da educação escolar.

Coloca-se nesse aspecto a formação docente como imprescindível para a elaboração de um contexto no qual a superação de uma educação na qual seja possível pensar e materializar a sua transformação. Há que se reconhecer que diante de um mundo do trabalho capitalista contemporâneo, a formação docente e a construção de seus saberes passa por uma crise estrutural.

A crise na área de formação dos professores não é só uma crise econômica, organizacional ou de estrutura curricular. É uma crise de finalidade formativa de metodologia para desenvolver esta formação, reestabelecendo a relação de comunicação e de trabalho com as instancias externas nas quais os formandos vão atuar, ou seja, as escolas em sua cotidiana concretude. (GATTI, 2011, p.156)

O contexto social no qual a formação docente se materializa é determinante para a compreensão da natureza desse processo. Torna-se fundamental assinalar que ao inserir a formação docente a partir da perspectiva de para além do capital, significa compreender seu alcance e objetivo. Deve-se compreender a educação como um mecanismo para a superação da alienação, ou seja, como uma forma para mudar as condições nas quais o real estado das coisas retorne à consciência do individuo.

Há nesse sentido a presença do caráter da transformação social, ela permanece como um meio fundamental para a construção de uma educação escolar que leve em consideração as contradições sociais presentes na formação docente. Visa atender as condições nas quais a sociedade em geral busca pensar a educação escolar como meio para a inserção do individuo num mundo do trabalho capitalista.

Vivemos sob condições de uma desumanizante alienação e de uma subversão fetichista do real estado de coisas dentro da consciência (muitas vezes caracterizada como “reificação”) porque o capital não pode exercer suas funções sociais metabólicas de ampla reprodução de nenhum outro modo. Mudar essas condições exige uma intervenção consciente em todos os domínios e em todos os níveis da nossa existência individual e social. (MÉSZAROS, 2005, p. 59)

No que se refere a formação docente há que se considerar também que a alienação é um mecanismo que está presente como uma dimensão inerente da e para a reprodução do capital. O eixo central dessa questão está no fato de que os saberes constituintes na formação

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docente não possibilitam a produção de uma critica a esse mesmo processo de reprodução. Há que se considerar a necessidade de se estabelecer um mecanismo que possibilite a partir da formação a elaboração de um quadro critico que permita superar essa alienação.

Nesse sentido pensar uma formação docente num contexto histórico significa compreendê-la a partir das suas condições materiais de existência, ou seja, do mundo do trabalho e suas contradições. Torna-se necessário vislumbrar o quanto a formação docente insere-se no contexto da alienação, não como um exercício especulativo sobre suas possibilidades, mas o quanto essa alienação estabelece uma prática e um saber docente eminentemente marcado pela reprodução e pela conservação de um contexto no qual as relações sociais de dominação e de poder se enraízam-se no interior da sociedade.

A alienação assim adquire uma condição de base para a reprodução e ao mesmo tempo impedir a superação de uma educação para além do capital, na medida em que não possibilita o desenvolvimento de uma saber docente critico e histórico. A ausência da critica e da reflexão histórica é um dos principais mecanismos para a reprodução escolar, ou seja, tem-se a constituição e a perpetuação de uma condição na qual a formação docente institui-se como acrítica. Dessa foma o processo de emancipação humana torna-se um aspecto que deve ser considerado como um contraponto ao mecanismo de alienação e submissão da educação escolar ao capital.

A emancipacao humana é objetivo de uma educacao escolar para além do capital, por outro lado, reconhece-se que no atual estágio de desenvolvimento da sociedade capitalista, ela tem se apresentado como um instrumento que legitima os valores, saberes e interesses das classes dominantes.

Ao invés de tornar-se um mecanisno de emancipacao humana, a educacao escolar promove uma especie de perpetuacao da reproducao social da lógica capitalista. Isso decorre da necessidade que possui o capital para socializar determinados principios que insejam a reproducao. A reproducao assim, decorre da capacidade que o capital tem para reduzir ou não permitir a realizacao da emancipacao da forca de trabalho.

O mecanismo da alienacao se sobrepoe ao mecanismo da emancipacao, nesse sentido, a educacao escolar adquire uma funcao central diante da impossibilidade de superar a reproducao. Assim como o trabalho, também a educacao está subordinada ao capital, dessa forma a educacao funciona como um instrumento de internalizacao do contexto do capital que explora o trabalho. Como ocorre com o trabalho, a educacao compartilha a alienacao como

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um mecanismo imprescindivel para a reproducao social, a emancipacao assim, somente é possivel a partir da compreensao de que o processo educativo está inserido e articulado a um quadro social mais amplo da sociedade capitalista.

As contradições e os processos que estruturam as relações de poder e dominação são decorrentes de um contexto histórico que possui como lógica a própria reprodução do capital em detrimento do trabalho.

Portanto, seria realmente um absurdo esperar uma formulação de um ideal educacional, do ponto de vista da ordem feudal em vigor, que considerasse a hipótese da dominação dos servos, como classe, sobre os senhores da bem estabelecida classe dominante. (MÉSZÁROS, 2005, p.26)

Há que se considerar que o desenvolvimento histórico da sociedade capitalista tem na educação escolar uma importante participação para a estruturação do mundo do trabalho, a incorporação do conhecimento cientifico à técnica foi um processo imprescindível para a expansão do capital. Ao mesmo tempo deve-se considerar que é na educação escolar que tem-se a qualificação e profissionalização para o trabalho, nestem-se tem-sentido o capital necessita de uma mão de obra que atenda aos designíos e exigências da lógica expansiva da sociedade capitalista.

Considerações Finais

Pensar uma educação para além do capital requer desenvolver uma lógica critica na perspectiva da superação do capitalismo, ao mesmo tempo essa concepção significa que no campo da educação escolar a transformação é inerente ao trabalho educativo.

No que se refere a formação docente e ao desenvolvimento dos saberes a constituição de uma critica é fundamental para a superação de uma educação escolar que reproduz as condições sociais que produzem as desigualdades sociais.

A educação escolar enquanto reprodução tem por objetivo estabelecer a manutenção das condições estruturais de acumulação e ampliação do capital, ao mesmo tempo busca-se perpetuar as relações de dominação e de poder a partir de uma classe social hegemônica.

É nessa perspectiva que a necessidade da critica histórica faz-se necessária, a superação das condições atuais da educação escolar contemporânea estabelece um impasse no que se refere ao desenvolvimento de processo de autonomia e de democratização da educação escolar.

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A produção da autonomia e da promoção de uma igualdade das condições educacionais necessita de uma reflexão critica sobre a própria lógica de constituição do capital, nesse sentido as relações de dominação promovem as desigualdades no âmbito da educação escolar.

Faz-se necessário ao refletir numa educação para além do capital estabelece um nexo entre o processo histórico de legitimação da desigualdade educacional e a critica sobre a formação docente e a construção dos saberes docentes que legitimam a reprodução social por meio da educação escolar.

A legitimação por meio da educação escolar dos processos de manutenção das relações de poder e de dominação formam o contexto no qual a reprodução ganha destaque na elaboração de um processo de manutenção de saberes docentes que se desconstituem enquanto capacidade critica e reflexiva.

A contribuição de Mészáros nesse sentido, deve-se ao fato de que o referido autor busca de forma radical refletir a lógica do capital a partir do que ele chama de metabolismo do capital. A educação escolar nesse sentido contribui de forma determinante para a manutenção e reprodução desse metabolismo.

Uma educação para além do capital envolve a necessidade de transformação social, de uma superação das relações de poder e de dominação que compõem a sociedade capitalista, e nesse contexto a própria educação escolar tem uma função determinante para a reprodução de uma sociedade cuja existência está fundada na expansão de um capitalismo cada vez mais metabólico, ou seja, ele interage sob várias formas e perspectivas.

Deve-se resgatar e retomar o carater criativo e emancipatório do trabalho educativo, nesse sentido há que se considerar conforme Mészáros (2005) a possibilidade de uma educacao que promova uma ruptura com a lógica do capital. Propoe-se uma educacao escolar que coloque e privilegie o ser humano como referencia em detrimento de uma educacao centrada no mercado. Nesse sentido promove-se uma reproducao da base de valores e saberes que perpetuam uma concepcao de trabalho e sociedade mercantil.

Uma educacao para alem do capital supoe ainda uma transformacao radical na sociedade na qual há uma hegemonia de classe, nesse sentido a educacao escolar tem como principio conscientizar e não apenas transferir conhecimentos.

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REFERENCIAS

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CASTLES, Stephen. Estudar as transformações sociais. SOCIOLOGIA, PROBLEMAS E

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ENS, R. T.; GISI, M. L.; EYNG, A. M. Formação de professores: possibilidades e desafios do trabalho docente na contemporaneidade [I]Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 33, p. 309-329, maio/ago. 2011

GATTI, Bernadete. A. Textos selecionados. Belo horizonte : Autentica editora, 2011

MARX, Karl. Contribuição à critica da economia politica. São Paulo : Martins Fontes, 2011.

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TARDIF, Maurice. O trabalho docente : elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis, RJ : Vozes, 2005

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