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Superior Tribunal de Justiça

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 103.011 - PR (2009/0022261-6)

RELATORA

: MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES

AUTOR

: JUSTIÇA PÚBLICA

RÉU

: EM APURAÇÃO

SUSCITANTE

: JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE CRIMES CONTRA CRIANÇA

E ADOLESCENTE DE CURITIBA - PR

SUSCITADO

: JUÍZO FEDERAL DA 1A VARA CRIMINAL DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ

EMENTA

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME PREVISTO NO

ART. 241, CAPUT, E § 1º, II, DA LEI 8.069/90 (NA REDAÇÃO ANTERIOR À DA LEI

11.829/2008). CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, SUBSCRITA

PELO BRASIL. INEXISTÊNCIA DE TRANSNACIONALIDADE DO CRIME DE

CAPTAÇÃO E ARMAZENAMENTO, EM COMPUTADORES DE ESCOLAS

MUNICIPAIS, DE VÍDEOS DE CONTEÚDO PORNOGRÁFICO DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES, ADVINDOS DA REDE INTERNACIONAL DE COMPUTADORES

(INTERNET). COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

I. O art. 109, V, da Constituição Federal estabelece que compete aos Juízes Federais

processar e julgar "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,

quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no

estrangeiro, ou reciprocamente".

II. Para fixar a competência da Justiça Federal, não basta o Brasil ser signatário de

tratado ou convenção internacional que prevê o combate a atividades criminosas

relacionadas a pedofilia, inclusive por meio da Internet. O crime há de se consumar

com a publicação ou divulgação, ou quaisquer outras ações previstas no tipo penal do

art. 241, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 8.069/90, na rede mundial de computadores

(Internet), de fotografias ou vídeos de pornografia infantil, dando o agente causa ao

resultado da publicação, legalmente vedada, dentro e fora dos limites do território

nacional. Precedentes do STF e do STJ.

III. Na hipótese dos autos, e pelo que se apurou, até o presente momento, o material

de conteúdo pornográfico, em análise no apuratório, não ultrapassou os limites dos

estabelecimentos escolares, nem tampouco as fronteiras do Estado brasileiro.

IV. Não obstante a origem do material em questão seja, em tese, advinda da Internet,

a conduta que se pretende apurar consiste no download realizado, pelo investigado,

e na armazenagem de vídeos, em computadores de escolas municipais – o que se

amolda ao crime previsto no art. 241, § 1°, II, da Lei 8.069/90, cuja redação, vigente

ao tempo dos fatos, é anterior a Lei 11.829/2008 –, inexistindo, por ora, como

destacou o Ministério Público Federal, indícios de que o investigado tenha divulgado

ou publicado o material pornográfico além das fronteiras nacionais.

V. Assim, não estando evidenciada a transnacionalidade do delito – tendo em vista

que a conduta do investigado, a ser apurada, restringe-se, até agora, à captação e ao

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armazenamento de vídeos, de conteúdo pornográfico, ou de cenas de sexo explícito,

envolvendo crianças e adolescentes, nos computadores de duas escolas –, a

competência, in casu, é da Justiça Estadual.

VI. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara de

Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de Curitiba/PR , o suscitante.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA Seção do Superior Tribunal de

Justiça, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente o Suscitante,

Juízo de Direito da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de

Curitiba/PR, nos termos do voto da Senhora Ministra Relatora.

A Sra. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada

do TJ/PE) e os Srs. Ministros Campos Marques (Desembargador convocado do

TJ/PR), Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE), Jorge Mussi, Og

Fernandes, Sebastião Reis Júnior e Marco Aurélio Bellizze votaram com a Sra.

Ministra Relatora.

Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Laurita Vaz.

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Brasília (DF), 13 de março de 2013(data do julgamento)

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES

Relatora

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 103.011 - PR (2009/0022261-6)

RELATÓRIO

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES: Trata-se de Conflito Negativo de

Competência, suscitado pelo Juízo de Direito da Vara de Crimes contra Criança e

Adolescente da Comarca de Curitiba/PR, em face do Juízo Federal da 1ª Vara

Criminal da Seção Judiciária do Paraná, nos autos da Representação Criminal,

instaurada pela Procuradoria-Geral do Município de Curitiba/PR, perante o Núcleo de

Combate a Cibercrimes (NUCIBER), do Departamento de Polícia Civil do Estado do

Paraná – e que, posteriormente, foi remetida à Polícia Federal –, para apurar conduta

de estagiário da Rede Municipal de Ensino de Curitiba/PR, que teria, indevidamente,

realizado downloads de vídeos de pornografia infantil, em computadores do

Laboratório de Informática de escola do Município (fl. 3e).

O Juízo Federal da 1ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Paraná,

acolhendo manifestação ministerial, declinou da competência para o Juízo de Direito

da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de Curitiba/PR (fl. 46e),

que, por sua vez, suscitou o presente Conflito de Competência (fls. 66/69e).

O Juízo suscitante entendeu que, "da análise da documentação

colacionada, em especial do anexo do ofício 82/08 (fls. 06/09), denota-se que as

imagens estavam disponíveis na Internet, o que implica em competência da Justiça

Federal" (fl. 66e).

O Subprocurador-Geral da República, JOÃO FRANCISCO SOBRINHO,

opina no sentido de que seja declarada a competência do Juízo de Direito da Vara de

Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de Curitiba/PR, o suscitante (fls.

76/79e).

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 103.011 - PR (2009/0022261-6)

VOTO

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES (Relatora): Como se viu do

relatório, trata-se de Conflito Negativo de Competência, suscitado pelo Juízo de

Direito da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de Curitiba/PR,

em face do Juízo Federal da 1ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Paraná, nos

autos da Representação Criminal, instaurada pela Procuradoria-Geral do Município

de Curitiba/PR, perante o Núcleo de Combate a Cibercrimes (NUCIBER), do

Departamento de Polícia Civil do Estado do Paraná – e que, posteriormente, foi

remetida à Polícia Federal –, para apurar conduta de estagiário da Rede Municipal de

Ensino de Curitiba/PR, que teria, indevidamente, realizado downloads de vídeos de

pornografia infantil, em computadores do Laboratório de Informática de escola do

Município (fl. 3e).

Conheço, pois, do presente Conflito de Competência, haja vista

cuidar-se de Juízes vinculados a Tribunais diversos, o que atrai a incidência do art.

105, I, d, da Constituição Federal.

Com efeito, consoante se vê a fls. 3/18e, a presente Representação

Criminal foi instaurada pela Procuradoria-Geral do Município de Curitiba/PR, perante

o Núcleo de Combate aos Cibercrimes (NUCIBER), do Departamento de Polícia Civil

do Estado do Paraná, a partir de Sindicância realizada no âmbito da Escola Municipal

do CAIC Cândido Portinari, no Município de Curitiba/PR, em face da existência de

vídeos de pornografia infantil, encontrados nos computadores do Laboratório de

Informática.

A fl. 36e, o Núcleo de Combate a Cibercrimes (NUCIBER), do

Departamento de Polícia Civil do Estado do Paraná, encaminhou ofício ao Juízo de

Direito da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de Curitiba/PR,

asseverando que:

"Considerando o descomunal volume de procedimentos ora em trâmite perante este Núcleo (cerca de sete mil procedimentos investigatórios), e ainda que o Quadro de pessoal do Nuciber conta com apenas um Delegado, um Escrivão e dois Investigadores e, por fim, que o Departamento da Polícia Federal reconhecidamente está melhor aparelhado para impulsionar investigações sobre casos de Pedofilia, mantendo inclusive convênios com outros países, respeitosamente recomendo que o presente caderno investigatório seja encaminhado para a Justiça Federal, com atribuição para prosseguir em definitivo com as necessárias apurações" (fl. 36e).

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Encaminhados os autos, em seguida, ao Ministério Público Federal,

atuante na Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, o Parquet assim deduziu:

"(...) 2. Às fls. 32, 0 Delegado de Policia Demetrius Gonzaga de Oliveira recomendou a remessa do caderno investigatório para a Justiça Federal, pelos seguintes motivos: (i) volume descomunal de procedimento em tramite perante o Núcleo de Combate aos Cibercrimes; (ii) deficiência no quadro de pessoal do Núcleo e (iii) melhor aparelhamento da Policia Federal para impulsionar as investigações sobre casos de pornografia infantil, mantendo inclusive convênios com outros países.

3. Em despacho de fls. 33, o Juízo recebeu os autos, abrindo vistas a este parquet para que se manifestasse.

4. Primeiramente, é preciso destacar que – ao contrário do entendimento do Delegado da Policia Civil – as atribuições da Policia Federal não são fixadas pelo "volume de trabalho"; "deficiências no quadro de pessoal" e muito menos pelo "melhor aparelhamento". As atribuições daquela estão previstas constitucionalmente e somente nas hipóteses elencadas pela Carta Magna é que se pode cogitar de atuação do órgão federal. Transcreve-se o art. 144 da Constituição Federal de 1988:

(...)

De fato, em nenhum momento o constituinte previu que, em determinado caso, acaso a Polícia Federal estivesse melhor aparelhada, deveria esta atuar em detrimento da Polícia Civil, assim como não houve previsão de que o numero de pessoal influencia a atribuição de cada Polícia. Fosse assim, provavelmente todos os crimes deveriam ser investigados por Delegados e agentes federais, considerando o atual panorama das polícias civil, militar e federal. Entendo que atuação da Polícia Federal no presente caso justifica-se, na verdade, em razão da parte final do art. 144, § 1°, l, da Constituição Federal. Isto porque a Lei 10.446, de 08 de maio de 2002, trouxe regras sobre a apuração de infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, estabelecendo, em seu artigo 1°:

(...)

O texto normativo que se amolda ao inciso III do artigo mencionado é aquele que provém da Convenção Sobre os Direitos da Criança, adotada pela Resolução n° 44, da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 20.11.1989, ratificada por meio do Decreto Legislativo n° 28, de 24.09.1990 e, enfim, promulgada pelo Decreto Presidencial n° 99.710, de 21.11.1990.

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5. Por outro lado, muito embora a investigação deva ser procedida pela Polícia Federal, a qual esta embasada em previsão legal, o mesmo não ocorre com a competência da Justiça Federal e, consequentemente, com a atuação do Ministério Publico Federal. E que, assim como ocorre com as atribuições da Policia Federal, a competência da Justiça Federal submete-se a vontade do constituinte que, no art. 109 da Carta Magna, dispôs (competência criminal):

(...)

Podem ser afastados, desde logo, os incisos VI, VII, VIII, IX e X, em razão de sua absoluta impropriedade de incidência ao caso em questão, subsistindo apenas as hipóteses dos incisos IV e V. Com relação ao primeiro, entretanto, é de fácil percepção que os crimes noticiados não constrangeram a bem, serviço ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas publicas, motivo pelo qual o inciso IV não é de ser aplicado a espécie.

Remanesce a análise do inciso V. Embora bastante parecido com o inciso III, do art. 1°, da Lei 10446/02 (já mencionado), a hipótese constitucional aplicada a Justiça Federal contém um plus. E que, o constituinte prevê que a competência da Justiça Federal só se justificará se, além de previstos em tratado ou convenção internacional, a execução do crime tenha sido iniciada no Pais ou o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.

Verifica-se, no entanto, que – muito embora exista uma Convenção especifica para o crime ora investigado — não há nos autos nada que indique que a execução do crime tenha sido iniciada no Brasil ou que o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou vice-versa, daí porque não há razão de ser atraída a competência da Justiça Federal.

(...)

Em resumo, não se pode falar em competência da Justiça Federal quando não há sequer indícios de que a divulgação ou publicação de fotografias pornográficas ou de cenas de sexo explícito envolvendo crianças ou adolescentes não se deu além das fronteiras nacionais. Neste sentido, o STJ:

(...)

6. Diante de todos os fatos e fundamentos antes apresentados, o Ministério Publico Federal requer sejam os autos remetidos a Justiça Comum Estadual, para a continuidade das investigações pela Polícia Federal, adoção das providencias que entender cabíveis no tramite do caderno investigatório e para a promoção da futura ação penal" (fls. 40/45e).

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O Juízo Federal da 1ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Paraná,

acolhendo a manifestação ministerial, acima transcrita, declinou da competência em

favor do Juízo Estadual da Comarca de Curitiba/PR, apesar da continuidade das

investigações, pela Polícia Federal (fl. 46e).

O Juízo de Direito da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da

Comarca de Curitiba/PR, por sua vez, suscitou o presente Conflito de Competência,

ao entendimento de que, "da análise da documentação colacionada, em especial do

anexo do ofício 82/08 (fls. 06/09), denota-se que as imagens estavam disponíveis

na Internet, o que implica em competência da Justiça Federal" (fl. 66e).

Com efeito, reza o art. 109, V, da Constituição Federal:

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...)

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”.

Com efeito, o Brasil é signatário da Convenção sobre os Direitos da

Criança, promulgada pelo Decreto 99.710, de 21/11/1990, a qual, por força do

disposto no referido preceito constitucional, e presente a transnacionalidade, atrai a

competência da Justiça Federal para processar e julgar o crime previsto no art. 241

da Lei 8.069, de 13/07/1990.

O art. 241 da Lei 8.069/90, na redação da Lei 10.764, de 12/11/2003,

tinha o seguinte teor:

“Art. 241. Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou internet, fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente:

Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Incorre na mesma pena quem:

I - agencia, autoriza, facilita ou, de qualquer modo, intermedeia a participação de criança ou adolescente em produção referida neste artigo;

II - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens produzidas na forma do caput deste artigo;

III - assegura, por qualquer meio, o acesso, na rede mundial de computadores ou internet, das fotografias, cenas ou imagens produzidas na forma do caput deste artigo.

§ 2º A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos:

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ou função;

II - se o agente comete o crime com o fim de obter para si ou para outrem vantagem patrimonial.”

Vale ressaltar, não obstante posterior ao delito em questão, que a Lei

11.829, de 25/11/2008, alterou a redação do art. 241 da Lei 8.069/90 e acrescentou,

àquele diploma legal, o art. 241-A – que repete, com algumas modificações, o texto

anterior do art. 241, caput, da Lei 8.069/90 –, acrescendo-lhe, também, os arts.

241-B a 241-E, sobre o mesmo assunto.

A atual redação dos arts 241 e 241-A da Lei 8.069/90, introduzida pela

Lei 11.829/2008, é a seguinte:

“Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.”

“Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º. Nas mesmas penas incorre quem:

I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo. § 2º. As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo.”

Registre-se que, consoante a jurisprudência do STF e do STJ, a

transnacionalidade de delitos de tal natureza, quando efetivamente cometidos pela

Internet, é inerente ao próprio ambiente da rede, que permite o acesso de qualquer

pessoa, em qualquer lugar do mundo, desde que conectada à rede e pertencente à

referida rede social.

Entretanto, não basta, para fixar a competência da Justiça Federal, ser o

Brasil signatário de tratado ou convenção internacional que prevê o combate a

atividades criminosas dessa natureza. O crime há de se consumar com a publicação

ou divulgação, ou quaisquer outras ações previstas no tipo penal, na rede mundial de

computadores (Internet), de fotografias ou vídeos de pornografia infantil, dando o

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agente causa ao resultado da publicação, legalmente vedada, dentro e fora dos

limites do território nacional.

Ressalte-se que o STJ, no julgamento do HC 24.858/GO, em

18/11/2003 (STJ, HC 24.858/GO, Rel. p/ acórdão Ministro FONTES DE ALENCAR,

SEXTA TURMA, DJU de 06/09/2004, p. 311), posicionou-se sobre o tema, ocasião

em que o Relator para o acórdão, Ministro FONTES DE ALENCAR, deduziu que,

disponibilizadas as imagens na rede, "o crime não ocorreu no estrangeiro porque

ninguém acessou o endereço dado. Tal circunstância é irrelevante para afastar a

competência da Justiça Federal".

Dessa decisão do Superior Tribunal de Justiça, houve recurso para o

Supremo Tribunal Federal, que a manteve, ao julgar o HC 86.289-6/GO, em sessão

de 06/06/2006 (STF, HC 86.289-6/GO, Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,

DJU de 20/10/2006, p. 62), cujo Relator, o Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,

assim ponderou:

"(...) O desenvolvimento da rede mundial de computadores, em ambiente virtual de armazenamento de informações binárias, ultrapassou as possibilidades de previsão do legislador acerca das eventuais decorrências do fenômeno. A previsão do legislador infra-constitucional, certamente. Tanto que a lei, foi posteriormente alterada para adequá-la às circunstâncias da realidade.

O questionamento que aqui se apresenta, no entanto, trata em se saber quando ocorre o resultado do crime do artigo 241 do ECA, na sua redação original, quando praticado através do ambiente virtual. Ora, tradicionalmente a ofensa ao bem jurídico tutelado ocorria através da divulgação impressa ou transmitida, de imagem ao público em geral. Publicar teria o significado, então, de disponibilizar visualmente, independentemente da ação do receptor.

No ambiente virtual há a disponibilização de material eletrônico, o qual somente passa a ser inteligível ao ser humano quando de seu acesso por outro usuário. A sensação de imediatidade da imagem nos leva a crer que tenhamos entrado em outro ambiente, quando, na verdade, solicitamos o envio da informação digital. Acessar, portanto, em ambiente virtual, significa solicitar o envio de informações, e recebê-las. Ao recebermos o sinal transmitido pelo servidor de arquivos, essa informação é então processada e transformada em imagem. A consumação da conduta 'publicar', quando em ambiente virtual, na modalidade de disponibilizar imagens, como é o caso que se apresenta, somente ocorre quando a informação binária passa a ser inteligível ao receptor. E isso somente ocorre após o efetivo recebimento das informações eletrônicas pelo solicitador do acesso. Exaure-se o crime no mesmo instante da consumação, sendo dela dependente".

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Nessa mesma assentada, o Ministro CARLOS AYRES BRITO

asseverou:

"No caso, penso que o resultado do crime é a própria ocorrência do dano sofrido pelo bem jurídico tutelado. O que se deu com o instantâneo, o desembaraçado acesso de qualquer pessoa às fotos exibidas pela rede mundial de computadores, o momento da consumação do crime, no caso, deu-se exatamente com a disponibilização das fotos para qualquer pessoa.

(...) também entendo que, hoje em dia, quem entra na rede mundial de computadores em casos que tais não tem como deixar de iniciar o crime no Brasil e se expor ao risco da consumação fora do Brasil. É imediata. Uma coisa puxa a outra. É da natureza desse tipo de comunicação eletrônica.

Também (...) não interpreto o artigo 109, V, da Constituição com esse rigor científico a ponto de exigir que tratado ou convenção internacional defina, contenha todos os elementos do crime. A mim me basta a previsibilidade, que, aliás, encontramos até na Carta da ONU, embora não se possa considerá-la rigorosamente um tratado ou convenção, mas a proteção à criança e ao adolescente, esse cuidado especial, está também na declaração universal dos direitos humanos".

E o Ministro CEZAR PELUSO, na mesma oportunidade, afirmou: "Com

a inserção das fotos na rede internacional, deu-se a publicação instantaneamente,

de modo que os resultados, também, se produziram no exterior desde aí".

A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em sessão de

12/12/2007 (DJe de 01/02/2008), Relatora a Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS

MOURA, proferiu decisão sobre a matéria, ao julgar o CC 29.886/SP, em acórdão

assim ementado:

"CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. PUBLICAÇÃO DE PORNOGRAFIA ENVOLVENDO CRIANÇA OU

ADOLESCENTE ATRAVÉS DA REDE MUNDIAL DE

COMPUTADORES. ART. 241 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. CONSUMAÇÃO DO ILÍCITO. LOCAL DE ONDE EMANARAM AS IMAGENS PEDÓFILO-PORNOGRÁFICAS.

1 - A consumação do ilícito previsto no art. 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente ocorre no ato de publicação das imagens pedófilo-pornográficas, sendo indiferente a localização do provedor de acesso à rede mundial de computadores onde tais imagens encontram-se armazenadas, ou a sua efetiva

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visualização pelos usuários.

2 - Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da Vara Federal Criminal da Seção Judiciária de Santa Catarina" (STJ, CC 29886/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, DJU de 01/02/2008, p. 427).

No voto condutor do acórdão, asseverou a eminente Ministra:

"Todavia, no caso em apreço, urge enfrentar questão espinhosa: onde ocorre a consumação em se tratando de crime cometido por meio da rede mundial de computadores?

Verifica-se que o ilícito em questão prevê a conduta típica representada pelo verbo 'publicar', ou seja, tornar público material que envolva criança ou adolescente em cenas de sexo explícito.

Nos dias atuais, é cediço que a rede mundial de computadores mostra-se como meio eficaz, se não o mais, a tornar públicas informações de quaisquer gêneros, e, inclusive, aquelas que a lei penal tipifica como ilícitas, ao aplicar-lhes as respectivas sanções, como é o caso do art. 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente. É certo, ainda, que tais informações são acessíveis em qualquer parte do mundo em que se disponha de um terminal de computador conectado à referida rede. E é justamente esta diversidade de locais em que a informação pode ser acessada que revela o engessamento das normas de direito processual penal frente às inovações tecnológicas perpetradas pelo homem, ante a dificuldade de identificação do local da consumação do ilícito, como exige a regra geral contida no art. 70 do Código de Processo Penal, para fixação da competência.

Todavia, a melhor técnica de interpretação das normas não permite ao exegeta o distanciamento das intenções do legislador ordinário ao introduzir no ordenamento jurídico o comando normativo, as quais, in casu, encontram-se explicitadas nas lições de Maria Lúcia Karam, ao discorrer acerca das razões para a adoção desta regra de fixação de competência:

(...)

Verifica-se, portanto, que o legislador pretendeu que a competência para a instrução e julgamento do feito fosse fixada no local onde os fatos delituosos se consumaram, por entender que neste as provas poderão ser coletadas com maior precisão e facilidade, com vistas ao princípios da celeridade e economia processual. Diante disso, e das informações constantes dos autos, verifica-se que, ainda que as imagens de conteúdo pedófilo-pornográfico

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estejam armazenadas no provedor de acesso à rede mundial de computadores, localizado na cidade de São Paulo, sabe-se, é certo, que o responsável pela veiculação de tais imagens, o qual possui autonomia no gerenciamento das informações disponibilizadas no espaço virtual fornecido pelo provedor, encontra-se na cidade de Florianópolis/SC, devendo ali serem praticados os ulteriores atos de investigação e eventual persecução penal, pois nesta localidade é que ocorreu a publicação vedada pelo tipo em apreço.

Corroborando o entendimento acima exposto, extrai-se das lições de Carla Rodrigues Araújo Castro, ao comentar o aludido artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente, o seguinte excerto: "Publicar é tornar público, divulgar. Quem insere fotos de crianças ou adolescentes em cena de sexo na Internet está publicando e, assim, cometendo a infração. O crime pode ser praticado através de sites ou homepages, muitas delas destinadas à pornografia. É importante salientar que não importa o número de internautas que acessem a página, ainda que ninguém conheça seu conteúdo, as imagens estarão à disposição de todos, configurando a infração. Aliás, o crime se consuma quando as imagens estão a disposição do público." (Crimes de Informática e seus Aspectos Processuais, 2ª ed rev. amp. e atual., Editora Lumen Juris, 2003, p. 46).

À míngua de precedentes jurisprudenciais desta Corte Superior ou do Pretório Excelso em casos análogos ao em apreço, acredito que a solução apresentada mais se coaduna com o espírito do legislador ordinário ao elaborar a norma do art. 70 do Código de Processo Penal, mormente porque o local a partir de onde foram veiculadas tais imagens é conhecido pela autoridade policial, ou seja, a cidade de Florianópolis/SC, onde reside o acusado".

O STJ, posteriormente, apreciou, em outras situações, o tema referente

à competência para tais crimes, seja da Justiça Federal ou da Estadual, em acórdãos

assim ementados:

"CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL E PROCESSO PENAL. DIVULGAÇÃO DE IMAGENS PORNOGRÁFICAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES POR MEIO DA INTERNET. CONDUTA QUE SE AJUSTA ÀS HIPÓTESES PREVISTAS NO ROL TAXATIVO DO ART. 109 DA CF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. Este Superior Tribunal de Justiça tem entendido que só o fato de o crime ser praticado pela rede mundial de computadores não atrai a competência da Justiça Federal.

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2. A competência da Justiça Federal é fixada quando o cometimento do delito por meio eletrônico se refere à infrações previstas em tratados ou convenções internacionais, constatada a internacionalidade do fato praticado (art. 109, V, da CF), ou quando a prática de crime via internet venha a atingir bem, interesse ou serviço da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (art. 109, IV, da CF).

3. No presente caso, há hipótese de atração da competência da Justiça Federal, uma vez que o fato de haver um usuário do Orkut, supostamente praticando delitos de divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes, configura uma das situações previstas pelo art. 109 da Constituição Federal.

4. Além do mais, é importante ressaltar que a divulgação de imagens pornográficas, envolvendo crianças e adolescentes por meio do Orkut, provavelmente não se restringiu a uma comunicação eletrônica entre pessoas residentes no Brasil, uma vez que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, desde que conectada à internet e pertencente ao dito sítio de relacionamento, poderá acessar a página publicada com tais conteúdos pedófilos-pornográficos, verificando-se, portanto, cumprido o requisito da transnacionalidade exigido para atrair a competência da Justiça Federal.

5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da Vara Federal e Juizado Especial Federal de Pato Branco – SJ/PR, ora suscitado" (STJ, CC 111.338/TO, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, DJe de 01/07/2010).

"CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIMES RELACIONADOS À DIVULGAÇÃO DE MATERIAL PORNOGRÁFICO ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES POR MEIO DA INTERNET. INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS DE INTERNACIONALIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. PRECEDENTES DO STJ. 1. O fato de o suposto crime praticado contra menores ter sido cometido por meio da rede mundial de computadores (internet), não atrai, necessariamente, a competência da Justiça Federal para o processamento do feito.

2. Para se firmar a competência da Justiça Federal, além de o País ser signatário de acordos e tratados internacionais, deve-se demonstrar que a divulgação das cenas pornográficas envolvendo crianças e adolescentes efetivamente ultrapassou as fronteiras do Estado Brasileiro.

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Superior Tribunal de Justiça

mensagens eletrônicas entre pessoas residentes no Brasil, por meio de correio eletrônico e de comunidades virtuais de relacionamento como MSN, sem transpor a fronteiras do Estado Brasileiro, ausente o requisito da transnacionalidade, motivo pelo qual deve ser apurada pela Justiça estadual.

4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da Vara Criminal de Rolândia/PR, o suscitado" (STJ, CC 121.215/PR, Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (Desembargadora Convocada do TJ/PE), TERCEIRA SEÇÃO, DJe de 01/02/2013).

Confira-se, ainda, decisão monocrática do Ministro SEBASTIÃO REIS

JUNIOR, assim ementada:

"PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO PENAL. CRIMES RELACIONADOS À POSSE E DIVULGAÇÃO DE MATERIAL CONTENDO CENAS DE SEXO ENVOLVENDO CRIANÇAS E

ADOLESCENTES. INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS DE

INTERNACIONALIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. PRECEDENTES DO STJ. PARECER ACOLHIDO.

1. A competência da Justiça Federal para o julgamento de crimes praticados contra crianças e adolescentes só exsurge nas hipóteses em que, iniciada a execução no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou reciprocamente, nos termos do art. 109, V, da Constituição Federal.

2. No caso do autos, trata-se de ação penal em que se apuram supostos crimes relacionados à posse e divulgação de material contendo cenas de sexo envolvendo crianças e adolescentes.

3. Embora com uso da rede mundial de computadores (internet), as evidências colhidas, até então, indicam que a conduta praticada pelos acusados ficou restrita à comunicação eletrônica no Brasil, motivo pelo qual compete à Justiça Estadual o processo e julgamento do feito.

4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 30ª Vara Criminal de São Paulo/SP, o suscitante" (STJ, CC 119.561/SP, Rel. Ministro

SEBASTIÃO REIS JUNIOR

, DJe de 13/02/2012).

No presente caso, consoante se observa do relatório elaborado na

manifestação do Ministério Público do Estado do Paraná, o material de conteúdo

pornográfico, encontrado no presente apuratório, não ultrapassou os limites dos

estabelecimentos escolares, nem tampouco as fronteiras do Estado brasileiro, in

verbis:

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Superior Tribunal de Justiça

"(...) O presente caderno investigatório apresenta peças colhidas pela Procuradoria Geral do Município de Curitiba para apurar a prática, em tese, do crime capitulado no artigo 241, do Estatuto da Criança e do Adolescente, onde se verificou em computadores de duas escolas municipais a presença de vídeos com conteúdo pornográfico infantil.

Consta dos autos que na Escola Monsenhor Boleslau Falarz, nesta cidade, junto a um computador do Laboratório de Informática e, também, em um computador do Caic Cândido Portinari, foram encontrados material pornográfico com conteúdo de pedofilia.

Em decorrência disso, instaurou-se procedimento administrativo perante o Núcleo Regional da Educação, sendo após encaminhado cópia do processo administrativo ao NUCIBER, para prosseguimento das investigações.

Referido NUCIBER, por sua vez, encaminhou o procedimento a Justiça Federal, tendo em vista seu melhor aparelhamento, inclusive, através de convênios com outros países, para investigar delitos que de alguma forma envolvem a rede mundial de computadores.

Em manifestação as fls. 35/40, o Ministério Publico Federal entendeu que a competência para investigar os fatos seria da POLÍCIA FEDERAL, porém, a competência para processar e julgar o delito seria da JUSTIÇA ESTADUAL, eis que não percebeu a existência de qualquer indicio de que a divulgação ou publicação da fotografia pornográfica ou cenas de sexo explicito envolvendo crianças ou adolescentes fosse além da fronteira nacional.

Após, as peças investigatórias foram encaminhadas a Justiça Comum (fl. 41) e por fim a esta Vara Especializada (fls. 46/47).

E o relatório.

Percebe-se através do relatório da Diretora da Escola Municipal do CIAC Cândido Portinari as fls. 07/09 que os vídeos podiam ser acessados por link do histórico de acessos a páginas da internet, assim como através de arquivos gravados no computador.

Infere-se, também, através das cópias impressas constantes no interior do envelope as fls. 16, que o conteúdo do vídeo, do qual fora realizado download da internet, e que fora salvo em alguns dos computadores das escolas municipais em questão, apresenta crianças e adolescentes em cenas de sexo explícito (...)" (fls. 59/60e).

Destarte, não obstante a origem do material em questão seja, em tese,

advinda da Internet, a conduta que se pretende apurar – pelo menos até agora –

consiste no download realizado e na armazenagem de vídeos, em computadores

das escolas municipais de Curitiba/PR, consoante, aliás, bem adverte a

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Superior Tribunal de Justiça

Subprocuradoria-Geral da República, atuante neste Tribunal:

"(...) Note-se que não basta estar o crime previsto em tratado ou convenção internacional, sendo imperioso que, concorrentemente, para atrair a competência da Justiça Federal, seja iniciada a execução no território nacional e o resultado ocorra ou deva ocorrer no estrangeiro, ou vice-versa. Em outras palavras, é imprescindível que haja a internacionalização da prática criminosa.

In casu, a conduta ilícita descrita nos autos, qual seja a captação e armazenamento das imagens pornográficas, amolda-se ao crime previsto no art. 241, § 1°, inciso II, da Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990, cuja redação vigente ao tempo dos fatos, anterior a Lei n° 11.829 de 25 de novembro de 2008, era a seguinte:

Art. 241. Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou internet, fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo explicito envolvendo criança ou adolescente.

Pena — reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º. Incorre na mesma pena quem:

I - (...)

II — assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens produzidas na forma do caput deste artigo;

Compulsando os autos, não é possível concluir que o agente tenha efetivamente divulgado o conteúdo pornográfico, quer na modalidade de envio entre particulares, quer na modalidade de disponibilização para exposição pública.

Outrossim, não se pode inferir que algum eventual destinatário estivesse ou pudesse estar fora do país.

Diante desse contexto, não há nenhum elemento que ajuste a conduta do agente as hipóteses descritas no comando constitucional supra aludido, o que afasta a competência da Justiça Federal e atrai a da Justiça Estadual.

Confira-se, por oportuno, o desate conferido por esse Augusto Pretório num caso análogo ao presente, verbis:

"CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DIREITO PROCESSUAL PENAL. ARTIGO 241, CAPUT, DA LEI N° 8.069/90.

DIVULGAÇÃO. CRIME PRATICADO NO TERRITÓRIO

NACIONAL POR MEIO DE PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA ENTRE DUAS PESSOAS. COMPETÊNCIA DA

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Superior Tribunal de Justiça

JUSTIÇA ESTADUAL.

l. 'Aos juízes federais compete processar e julgar: os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no Pais, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente (Constituição Federal, artigo 109, inciso V).

2. Em se evidenciando que os crimes de divulgação de fotografias e filmes pornográficos ou de cenas de sexo explicito envolvendo crianças e adolescentes não se deram além das fronteiras nacionais, restringindo-se a uma comunicação eletrônica entre duas pessoas residentes no Brasil, não há como afirmar a competência da Justiça Federal para o processo e julgamento do feito.

3. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo Estadual suscitante." (CC 57.411/RJ, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, in DJe de 30/06/2008).

Ante o exposto, opina o Ministério Público Federal pela improcedência do conflito, declarando esta Colenda Corte a competência do Juízo de Direito da Vara de Crimes Contra Criança e Adolescente de Curitiba" (fls. 78/79e).

Assim, não estando evidenciada a transnacionalidade do delito – tendo

em vista que a conduta do investigado, pelo que se vê dos autos, a ser apurada,

restringe-se, até agora, à captação e ao armazenamento de vídeos, de conteúdo

pornográfico, ou de cenas de sexo explícito, envolvendo crianças e adolescentes, nos

computadores de duas escolas –, a competência, in casu, é da Justiça Estadual.

Pelo exposto, conheço do Conflito, para declarar a competência do

Juízo de Direito da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de

Curitiba/PR , o suscitante.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA SEÇÃO

Número Registro: 2009/0022261-6 PROCESSO ELETRÔNICO CC 103.011 / PR MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 200800190184 200870000149975

EM MESA JULGADO: 13/03/2013

Relatora

Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES Presidente da Sessão

Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA Subprocuradora-Geral da República

Exma. Sra. Dra. HELENITA AMÉLIA G. CAIADO DE ACIOLI Secretário

Bel. GILBERTO FERREIRA COSTA

AUTUAÇÃO AUTOR : JUSTIÇA PÚBLICA

RÉU : EM APURAÇÃO

SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE CRIMES CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE DE CURITIBA - PR

SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA 1A VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ

ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Terceira Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Suscitante, Juízo de Direito da Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Comarca de Curitiba/PR, nos termos do voto da Senhora Ministra Relatora.

A Sra. Ministra Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJ/PE) e os Srs. Ministros Campos Marques (Desembargador convocado do TJ/PR), Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE), Jorge Mussi, Og Fernandes, Sebastião Reis Júnior e Marco Aurélio Bellizze votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Laurita Vaz.

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Referências

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