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POEMAS CONCEBIDOS SEM PECADO. e FACE IMÓVEL

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Academic year: 2021

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MANOEL

DE BArrOS

POEMAS

CONCEBIDOS

SEM PECADO

e

FACE IMÓVEL

(2)

Copyright © 1937, 2016 by herdeiros de Manoel de Barros Copyright © 1942, 2016 by herdeiros de Manoel de Barros Todos os direitos reservados.

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica

Regina Ferraz

Imagem de capa

Martha Barros

Créditos das imagens

Todas as fotos e documentos reproduzidos no livro pertencem ao acervo pessoal do autor.

Textos de contracapa e orelha

Italo Moriconi

Revisão

Eduardo Rosal André Marinho

[2016]

Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz s.a.

Rua Cosme Velho, 103

22241-090 — Rio de Janeiro — rj Telefone: (21) 2199-7824

Fax: (21) 2199-7825 www.objetiva.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Barros, Manoel de

Poemas concebidos sem pecado e Face imóvel / Manoel de Barros. – Rio de Janeiro : Alfaguara, 2016.

isbn 978-85-5652-006-7 1. Poesia brasileira I. Título.

16-00669 cdd-869.1 Índice para catálogo sistemático:

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Poesia do aquém – Italo Moriconi 7

POEMAS CONCEBIDOS SEM PECADO

11

Cabeludinho 13

Postais da cidade 27

Retratos a carvão 39

Informações sobre a musa 47

FACE IMÓVEL

51

Cronologia 73

Fotografias e documentos 81

Relação de obras 95

Bibliografia sobre Manoel 97

(4)

Poesia do aquém

A poesia de Manoel de Barros começa por onde termi-na: sob o ponto de vista do menino do mato, maravilha-do, em sua convivência de vida toda, de corpo e alma, com palavras, pessoas e o mundo ao seu redor. Mundo que afeta e é afetado (recriado) pelo olhar da criança, pela dicção que esta engendra em desabrida liberdade criadora frente à língua. É a linguagem contra a língua. Linguagem-invenção que subverte os limites do dizer, produzindo figurações inusitadas, de originalidade sem-pre sursem-preendente. Singularidade sem concessões da poé tica de Manoel de Barros.

Desde os Poemas concebidos sem pecado, de 1937, até o livro Menino do mato, publicado em 2010, quando já estava com noventa e quatro anos, Manoel é munido e movido por esse maravilhamento inquisitivo e inventivo que constrói — em poesia/prosa — suas narrativas do mundo. É uma poesia de frases que narram, antes de tudo, os embates do próprio olhar, fazendo da autorre-flexão um de seus traços mais distintivos na alta literatu-ra bliteratu-rasileiliteratu-ra. Olho paliteratu-ra meu olhar que olha o mundo. Meu olhar capta os detalhes esquecidos do mundo.

Esse movimento autorreflexivo do olhar transfor- ma-se num tecido de visões nascidas da observação do micrológico, do marginal, do residual, do pequeno, do mais-pobre. Lixo que é luxo. Como afirmou a professora Berta Waldman, da Universidade de São Paulo, a poesia de Manoel de Barros se elabora nas sobras da sociedade capitalista. Perscruta o entulho. Percebe num átimo de intuição o até então despercebido.

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Ao recortar, resgatar, em suma salvar, aspectos me-nos notados do real (“pré-coisas”, dirá depois o poeta), a poesia de Manoel de Barros cria uma hiper-realidade, uma realidade virtual, mas não no sentido glamouroso ou neon da expressão. Uma hiper-realidade na lingua-gem. O apelo contemporâneo da poesia de Barros talvez esteja mais na capacidade de exteriorizar o virtual das palavras do que no que muitos de seus comentadores consideram, não sem alguma razão, seu lado ecológico. Trata-se de ecologia social, escavando as falas de perso-nagens do mato, “bugres”, como por vezes também se autodenomina o poeta.

Hiper-realidade, ecologia, estética do resto. Há, na verdade, hibridismo, mútua fecundação entre natureza e hiper-realidade. Poemas concebidos sem pecado já apre-senta essa linha: o casamento entre memória da infância pantaneira e vivência intensa das palavras em estado de pré-dicionário (contrastando com as “palavras em esta-do de dicionário” de Carlos Drummond de Andrade). Pré-coisas, pré-dicionário. Do aquém da pré-palavra ao além da neo-palavra. O além do aquém é o hiper-real da linguagem. Totalmente alheio a esta poesia é o sublime do empíreo, do celestial. Trata-se de uma poesia aferrada à terra, ao chão, ao corpo. Quando voa, é voo de animal passarinho. Se “espírito” é uma palavra para imaterial, aqui o imaterial está no próprio material, no desdobra-mento infinito do material.

* * *

Vê-se que em seu primeiro livro (Poemas concebidos

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pron-to, senhor das artes do poetar escripron-to, num contexto de linguagem também pronto. Era o legado do moder-nismo dos anos 1920 que o estreante Manoel de Barros fazia reviver, reaclimatando nas paisagens da infância pantaneira e corumbaense a revolução literária nacio-nalizante, regionalizante e coloquializadora que mudara os rumos da expressão literária brasileira.

Nesse sentido, se existe uma família de autores com cuja produção a poesia deste primeiro Manoel de Barros revela afinidade, ela deve incluir um Mário de Andrade e um Raul Bopp, mas também algum Bandeira, mesmo um Alcântara Machado, em que pesem diferenças te-máticas; e aponta, certeira, para a postura de Oswald de Andrade, o “aluno de poesia”, o poeta do “ver com olhos livres”. Olhos livres sem pecado. São afinidades mais que simplesmente estéticas, pois apontam para cer-ta ética da poética: o compromisso com a fala popular, a rejeição da arrogância dos mandarinatos intelectuais.

Toda poética pressupõe uma ética. “Só bato conti-nência para árvore, pedra e cisco”, declarou certa vez o poeta. No caso de Manoel de Barros, sem demagogia: a palavra que o poeta recolhe do popular é retrabalhada e mesmo distorcida para chegar ao idioleto do poema. A torção na língua também define uma ética poética. Força do neologismo e do ilogismo: neo-logismo.

Já no segundo livro publicado por Manoel, Face

imó-vel, de 1942, podemos identificar ecos de uma poesia

mais meditativa, de observação do urbano metropolita-no, em consonância com os textos triunfantes caracterís-ticos da terceira década do modernismo. Fica evidente a ampliação de sua experiência de mundo e as leituras e

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diálogos mentais com o grande repertório poético da época, com destaque talvez para o impacto exercido por um Drummond da fase de Brejo das almas, um Vinicius, e até mesmo um Mário tardio. Mas Face imóvel é ponto relativamente fora da curva na trajetória poética de Ma-noel de Barros, correspondendo ao período em que ele viveu no Rio de Janeiro e viajou aos Estados Unidos.

De qualquer modo, a singularizada ética poética de Manoel não deixa de perpassar todos os poemas de Face

imóvel, apesar das diferenças entre o tom desse livro e o

restante de sua obra. Essa mesma ética marcará presença no livro seguinte — Poesias, de 1956 —, obra de transi-ção, de reafirmatransi-ção, mas também de reinvenção ou re-fundação do poeta por si mesmo e a partir de si mesmo. Em Poesias ainda conviverão pautas concomitantes: de um lado, a memória do menino do mato crescido em Corumbá e no Pantanal; de outro, o poeta que sonda e explora a cidade grande e o centro do mundo.

Não há dúvida de que as bases mais profundas da linguagem e da ética poética de Manoel de Barros serão definitivamente desenvolvidas e amadurecidas a partir de Compêndio para uso dos pássaros, de 1961. E tal con-figuração definitiva está mais presente no livro de 1937 do que no de 1942. No conjunto, porém, estes dois li- vros de estreia — reunidos aqui num só volume — evi-denciam as forças conflitantes e complementares de uma assinatura em pleno processo/devir de singulari-zação autoral.

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POEMAS

CONCEBIDOS

SEM PECADO

(9)
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1.

Sob o canto do bate-num-quara nasceu Cabeludinho bem diferente de Iracema

desandando pouquíssima poesia o que desculpa a insuficiência do canto mas explica a sua vida

que juro ser o essencial

— Vai desremelar esse olho, menino! — Vai cortar esse cabelão, menino! Eram os gritos de Nhanhá.

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2.

Um dia deu de olho com a menina com a menina que ficou reinando na sua meninice

Dela sempre trazia novidades:

— Em seus joelhos pousavam mansos cardeais… Está com um leicenço bem na polpa

quase pedi o carnegão pra isca de rubafo…

Dela sempre trazia novidades:

— A ladeira falou pro caminhão: “pode me descer de motor parado, benzinho…” Era o pai dela no guidão.

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3.

Viva o Porto de Dona Emília Futebol Clube!!! — Vivooo, vivaaa, urrra!

— Correu de campo dez a zero e num vale de botina! plong plong, bexiga boa

— Só jogo se o Bolivianinho ficar no quíper — Tá bem, meu gol é daqui naquela pedra plong plong, bexiga boa

— Eu só sei que meu pai é chalaneiro mea mãe é lavandeira

e eu sou beque de avanço do Porto de Dona Emília o resto não tô somando com qual é que foi o índio que frechou São Sebastião…

— Ai ai, nem eu

Uma negra chamou o filho e mandou comprar duzentos de anil

— Vou ali e já volto já

Mário-Maria do lado de fora fica dando pontapés no vento

— Disilimina esse, Cabeludinho! plong plong, bexiga boa

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4.

Nisso chega um vaqueiro e diz:

— Já se vai-se, Quério? Bueno, entonces seja felizardo lá pelos rios de janeiros…

— Agradece seu Marcão, meu filho

— Que mané agradecer, quero é minha funda vou matando passarinhos pela janela do trem de preferência amassa barro

ver se Deus me castiga mesmo

Havia no casarão umas velhas consolando Nhanhá que chorava feito uma desmanchada

— Ele há de voltar ajuizado — Home-de-bem, se Deus quiser

Às quatro o auto baldeou o menino pro cais Moleques do barranco assobiavam com todas as cordas da lira

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5.

No recreio havia um menino que não brincava com outros meninos

O padre teve um brilho de descobrimento nos olhos — poeta!

O padre foi até ele:

— Pequeno, por que não brinca com os seus colegas? — É que estou com uma baita dor de barriga

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6.

Carta acróstica:

“Vovó aqui é tristão Ou fujo do colégio Viro poeta

Ou mando os padres…”

Nota: Se resolver pela segunda, mande dinheiro para comprar um dicionário de rimas e um tratado de versificação de Olavo Bilac e Guima, o do lenço.

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7.

Êta mundão moça bonita cavalo bão

este quarto de pensão a dona da pensão

e a filha da dona da pensão

sem contar a paisagem da janela que é de se entrar de soneto e o problema sexual que, me disseram, sem roupa

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8.

— Sou uma virtude conjugal, adivinha qual é? — Um jambo, um jardim outonal? — Não. — Uma louca, as ruínas de Pompeia? — Não.

— És uma estátua de nuvens, o muro das lamentações? — Não.

— Ai, entonces que reino é o teu, darling? Me conta, te dou fazenda,

me afundo, deixo o cachimbo. Me conta que reino é o teu? — Não.

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