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1 Imortal Histórias de Amor Eterno organizado por PC Cast

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Academic year: 2021

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Claudiana Dias

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SUMARIO

INTRODUÇÃO ... 4

Amor Assombrado Cynthia Leitich Smith ... 6

Névoa amarela ... 18

Kristin Cast ... 18

Perseguição de um homem morto ... 29

Rachel Caine ... 29

Bons modos à mesa ... 42

INTRODUÇÃO: P.C CAST

1º CONTO: AMOR ASSOMBRADO – CYNTHIA LEITICH SMITH

A autora de Tantalize, Cynthia Leitich Smith apresenta um triângulo amoroso entre um vampiro, um fantasma e uma garota, no qual nenhum deles é o que parece ser.

2º CONTO: NÉVOA AMARELA - KRISTIN CAST

E Kristin Cast, coautora da série House of Night, apresenta um novo tipo de vampiro: aquele com raízes na mitologia grega, com o poder de alterar o espaço e o tempo para salvar a menina a quem ele ama.

3º CONTO: PERSEGUIÇÃO DE UM HOMEM MORTO - RACHEL CAINE

Rachel Caine revisita sua série Morganville Vampires, na qual os vampiros estão no comando e o amor é negócio arriscado, mesmo quando se trata de sua própria família.

4º CONTO: BONS MODOS À MESA - TANITH LEE

A mestre em fantasia Tanith Lee nos mostra o que acontece quando uma moça bonita e inteligente com sabedoria sobrenatural encontra um jovem e atraente vampiro.

5º CONTO: LUA AZUL - RICHELLE MEAD

A autora de Vampire Academy, Richelle Mead, mostra o conto de um jovem vampiro fugindo se seus semelhantes, e um rapaz que oferece carona e... um motivo para continuar fugindo.

6º CONTO: TRANSFORMAÇÃO - NANCY HOLDER

A escritora da série Wicked, Nancy Holder, entra em uma Nova York pós-apocalíptica na qual dois grandes amigos são forçados a tomar uma decisão que pode levá-los à morte.

7º CONTO: FARRA - RACHEL VICENT

Rachel Vicent explora um novo aspecto do universo se seu Soul Screamers com a história de uma fada capaz de inspirar o músico a quem ama a alcançar novos pontos de criatividade – ou sugar dele seu talento.

8º CONTO: LIVRE - CLAUDIA GRAY

Claudia Gray nos leva ao mundo de sua séria Noite Eterna (Evernight), em que uma futura cortesã do século XVII é assediada por um homem perigosamente atencioso – em diversos aspectos.

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INTRODUÇÃO

Então, diga, qual o problema entre adolescente e vampiros? Como? Certo, eu tenho minhas suspeitas. Assim como qualquer adulto maduro e razoável acima dos 30 anos de idade, que também é pai, costumo acreditar que a atração deles tem a ver com... bem... sexo. Sabe como é. Admito que li

Entrevista com Vampiro no ano em que foi publicado. Não vou dizer em qual ano isso aconteceu para

não assustá-los com minha idade avançada, mas posso dizer que li o livro pela primeira vez aos 16 anos, e fiquei encantada e obcecada pela grande sexualidade dos vampiros de Anne Rice.

Mas ao fazer essa viagem de volta ao passado, concluo que preciso admitir mas do que apenas minha idade. Para ser sincera comigo e com você, preciso dizer que a atração do vampiro é muito mais complexa do que o simples desejo. A verdade é que o apelo dos vampiros vai além de hormônios em ebulição e de nossas emoções mais básicas. Devorei o livro de Anne Rice e depois absorvi Drácula, de Bram Stocker, e as maravilhosas Crônicas de Saint Germain, de Chelsea Quinn Yarbro, não apenas por serem sensuais – seria um motivo simplista demais. Fiquei vidrada em vampiros na adolescência porque me identificava com eles.

Agora, meus leitores adultos devem estar balançando a cabeça e pensando: Cast enlouqueceu...

de novo.

É meio bizarro. Como uma adolescente da década de 1970, ou da década de 2000, que seja, poderia se “identificar” com vampiros? Certo, pois vamos lá. Quando eu era adolescente, compreendia os vampiros no fundo da alma porque, na essência do meu ser tomado por hormônios, eu acreditava que também era imortal. Na verdade, era uma crença tão enraizada, tão condizente com espinhas, dirigir, problemas com meninos e bailes, que apenas quando analisei o passado percebi o que me levou a absorver todos os mitos vampirescos que chegavam até mim.

Pense bem. A sensualidade e atração dos vampiros deve ir além das mordidas e sangue. Vamos lá! Nenhuma dessas coisas é interessante, mesmo com um cara ou menina sensual e ardente na mistura. Mas pense um pouco sobre a habilidade de viver praticamente para sempre e de parar no tempo fisicamente, para não ter de envelhecer, e vai entender bem. Os vampiros se rebelam contra o tempo, independente de o “tempo” ser representado por rugas ou pulso firme de um pai, ou pela morte, não tem tudo a ver com ser adolescente?

É claro que sim, pelo menos na maior parte do tempo.

Espero que você esteja concordando, sorrindo e pensando: Cast não enlouqueceu totalmente.

Ela esta velha, mas não enlouqueceu. Ainda.

É de surpreender que Buffy tenha se tornado um fenômeno tão grande? Por um lado, ele representou a urgência de ser um adolescente. Tudo se tornou tão delicioso com a Buffy e a turma do Scooby. Para eles, todo dia podia ter sido mesmo o fim do mundo. Por outro lado, Buffy parecia invulnerável, até para ela própria, até depois de ter morrido – duas vezes! E por quem ela se apaixonou? Por vampiros, é claro. Sim, Buffy tinha amigos mortais, mas ela sofria com o fato de nunca conseguir se entender com um cara normal de sua idade (e espécie). Os personagens de Angel e Spike eram velhos e monstros, mas Buffy se identificou e se apaixonou por eles mesmo assim. Por que? (além do fato de serem tão liiindos). Por serem vampiros, eles simbolizam tudo que Buffy, como adolescente, acreditava que seria sempre exclusivamente dela: juventude imortal e a possibilidade de termos 15 ou 50 anos, queríamos estar com eles também – compartilhar da atração da imortalidade possível e do amor eterno.

É um tema com o qual brinco em minha série de historias de vampiros para jovens adultos,

House of Night, que escrevi com minha filha, Kristin. Em nossos livros, a heroína adolescente Zoey

Redbird, faz uma mudança – deixando sua existência como ser humano para adentrar o mundo dos vampiros, no qual vai se tornar uma vampira adulta ou morrer. Durante essa mudança, Zoye se esforça para manter um relacionamento com seu namorado, um ser humano. Nesse esforço, ele demonstra que não esta pronta para assumir a mágica, a paixão e a eternidade que os vampiros, mais

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conseguem se identificar – a sensação de medo que existe juntamente com a promessa da eternidade. É como a mistura de medo e ansiedade que sentimos ao pensar em sair de casa pela primeira vez. É algo que desejamos – algo com que sonhamos e esperamos – mas tem também a sensação do “com esse passo, nada mais vai ser como antes”. E mesmo esse medo é excitante, motivador. Os vampiros causam essa mesma sensação de excitação. Claro que podemos vencer a hesitação e nos lançarmos à imortalidade, mas talvez apenas os adolescentes sejam dispostos a fazer isso, por que eles estão acostumados com a grande incerteza que é o futuro e ainda acreditam que a eternidade poder ser alcançada – que a juventude pode vencer a morte e o amor pode vencer a idade e a apatia.

Afinal, é essa a essência da juventude, não é? É a possibilidade mágica da eternidade que se abre diante de todos nós no inicio da fase adulta. Quando uma pessoa se torna adolescente, já é velho o bastante para ver a responsabilidade de vida adulta, pode praticamente tocar o apelo da liberdade e o mistério de imaginar o que esta por vir, mas ainda é jovem o bastante para crer que pode passar por esse futuro sem mudar, sem perder a si mesmo e sem se transformar em versões clonadas assustadoras de seus pais.

E é isso que os vampiros pelos quais nos apaixonamos tentam fazer também. Não importa qual seja o mito, se estamos perdidos no mundo de Lestat, Edward e Bella, Angel e Buffy, ou mesmo de minha fabulosa Zoey Redbird, nossos encantados imortais lutam para manter seu próprio ser e encontrar amos em suas vidas. E nos levam juntos nesses esforços e, talvez, a jornada seja mais magicamente real para aqueles que ainda são jovens.

Quer vir comigo? Vamos passar pelas terras dos imortais de novo. Eu fiquei impressionada com a veracidade e riqueza das histórias que os autores maravilhosos criaram nessa analogia. É sempre uma prazer visitar Morganville de Rachel Caine, e uma alegria ser seduzida pela mágica da voz e da visão únicas de Tanith Lee. Eu fui uma mãe orgulhosa, olhando para o mundo de Kristin Cast, no qual os vampiros eram criados pelas Fúrias antigas, e também me senti satisfeita como leitora. A conclusão da história da pré-Guerra Civil, de Claudia Gray, me deixou entusiasmada. Em

Amor assombrado, fiquei surpresa com as mudanças de enredo de Cynthia Leitch Smith. Lua Azul,

de Richelle Mead, me deixou sem fôlego. A visão pós-apocalíptica de Nancy Holder me levou em uma viagem maluca e assustadora, e a sirene vampírica de Rachel Vincent foi um acréscimo interessante em nossos mitos.

Convido vocês a se unirem a mim na leitura da mágica dentro destas páginas. Ficaremos surpresos, juntos, pelo apelo do vampiro com isso – mesmo que temporariamente – alcançaremos certa imortalidade.

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Amor Assombrado

Cynthia Leitich Smith

No caminho para o trabalho, passo pela casa branca e desgastada, na qual passei minha infância. As janelas estão fechadas com ripas de madeira. A porta também. Acredito que ela será posta em leilão. Espero que seja vendida por um preço barato. Ninguém vai se mudar para Spirit, Texas.

Todos os anos, os formandos do ensino médio fazem as malas e partem – um ou dois vão à faculdade, o resto para assumir empregos em cidades maiores. E, a cada duas semanas, uma multidão se reúne na casa funerária para se despedir de um de seus velhos conhecidos. A morte é o negocio mais lucrativo na cidade.

Parece que todos morrem ou partem. Mas eu não vou a lugar nenhum. Spirit é o meu lar. É o pedacinho do mundo que faz sentido para mim, o que, ultimamente, quer dizer muita coisa.

- Cody! – ouço chamar um voz alegre e feminina atrás de mim. Eu a ignoro. Nunca fui um cara muito falante.

- Dody Stryker! – exclama a filha adolescente do prefeito – aquele que vai transformar salas vazias em lojas de antiguidade e as casas abandonadas em pensões e oferecerá a Spirit um futuro de novo, ou, pelo menos, é o que ele diz. – Espere – ela pede. – Preciso falar com você. – Eu pauso e me viro. Eu disse que ninguém de muda pra cá? A garota em pé diante de mim esta noite é uma exceção a essa regra. Na primavera do ano passado, Ginny Augustine e seus pais chegaram a Spirit depois de o banco ter hipotecado a casa deles em Woodlands.

Geralmente, você precisa morar na cidade por pelo menos um ano antes de se candidatar à prefeitura, mas ninguém mais queria realizar o trabalho, por isso a cidade deu permissão e o Sr. Augustine se candidatou sem oponentes. Olho para a mão de Ginny na manga de minha blusa.

- Não acredito que nos conhecemos. Sou...

- Sei quem você é. – Eu começo a caminhar de novo. Olhando para ela de soslaio, pergunto: - O que você quer?

Sinto uma leve culpa quando ela se mostra assustada.

- Bem – Ginny recomeça -, tem alguém de mau humor. É o seguinte: vou entregar os ingressos a você. Legal, não é? – Ao ver que eu não respondo, diz: - Sabe, no cinema. Filme? Ingressos?

Pela primeira vez em mais de cinqüenta anos, o Old Love Theater vai abrir às oito da noite. Após a morte do tio Dean, vendi 1/3 de seu gado, sua arma antiga e seu barco de pesca para pagar dividas. Nada disso valeu muito, mas nem o Old Love vale muito.

É reconfortante ter um lugar para estar todas as noites, ter um propósito além de satisfazer minha sede. Ter algo em que pensar, além da noite em que vi meu tio pela última vez.

Continuo, tentando ignorar quando Ginny me acompanha.

Aos 16 anos, ela é bonita, de estatura mediana e cheia de curvas. Seus dentes são retos e branco-perolado. O cabelo comprido e cor de mel que emoldura seu rosto simpático. Com a camiseta azul-bebê na qual se lê espertinha com pedrinhas brilhantes e suas calças desbotadas e cortadas para serem transformadas em bermuda, Ginny parece ter sido nascida e criada em Spirit, como uma menina da cidade pequena.

Quando chegamos ao cinema, ela insiste em continuar me seguindo.

Ginny se recosta na porta, tímida, enquanto tiro minhas chaves do bolso de meus jeans. - Grande noite – ela comenta. – Esta nervoso?

- Não – eu respondo, mentindo, destravando a tranca. Já do lado de dentro, digo: - E não estou contratando ninguém.

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Por um lado, não quero encorajá-la. Por outro, não preciso de problemas por deixá-la irritada. Não preciso de problemas, ponto final. Gostaria que ela fosse embora. – Não vou abrir a parte de prateleiras.

- Pois vai perder seus lucros. Esta cobrando quanto? Três contos por sessão? Sei que as pessoas por aqui não tem dinheiro, mas você tem idéia, por exemplo, de quanto vai custar a eletricidade? Estamos no verão. No Texas. Pense no ar-condicionado.

Para ser honesto, não tinha pensado nisso. Não tenho MBA ou algo assim. Acabei de concluir o ensino médio há algumas semanas. Costumava cortar grama no verão, mas esse será meu primeiro emprego de verdade fora do rancho. Talvez tenha sido ambicioso demais.

- Além disso – Ginny prossegue – seguro, impostos e talvez você queira divulgar o local como sendo uma atração turística. Os fundadores de Spirit foram peças-chave no inicio da República, e o turismo histórico esta se tornando...

- Chega – Tudo bem que ela é filha de político. Abrindo a porta ainda mais, sabendo que vou me arrepender, digo: - Entre. Vamos conversar.

Ginny se aquieta enquanto eu a levo pelo corredor de serviço. Está quante. Abafado.

Tento imaginar se ela sabe da trágica historia da construção, de sua fama. Uma adolescente – Sonia Mitchell – foi encontrada morta em um armário em 1959. outra garota, Katherine “sei-lá-oque” Vogel, talvez - desapareceu e nunca mais foi vista. Ela era nova na cidade, assim como Ginny, e seu corpo nunca foi localizado. As duas meninas trabalhavam no cinema. E também, assim como Ginny, ambas tinham 16 anos.

Todos na redondeza ficaram sabendo da história. Os brincalhões surgiram ao longo dos anos, e de vez em quando um grupo saía correndo gritando que havia um fantasma ali.

Não posso negar que o cinema tem uma atmosfera sombria. Na última semana, via a letra “S” surgir e desaparecer na poeira diversas vezes. Uma ou duas vezes, eu podia jurar ter escutado uma voz suave vindo de dentro da construção. Atraente, musical, feminina... estou começando a escutá-la em meus sonhos.

Quando Ginny e eu entramos no corredor, não deixei que ela ligasse o ar-condicionado imediatamente. Em vez disso, assumo minha nova tarefa, tentando ver o local como os clientes desta noite o verão. É um local grande e antigo com um enorme candelabro de cristal, construído quando o algodão era o produto principal. É verdade que o papel de parede dourado e vinho esta gasto, e o carpete vermelho-sangue está surrado. Assim como os assentos vermelhos na sala de projeção – tanto no andar principal quanto nas sacadas. Entretanto, há um ara de romance ainda presente, um sussurro do passado.

Além disso, minha mãe adorava o lugar. Sempre que passava por ele, dizia que o Old Love era um fantasma dos dias gloriosos de Spirit, um lembrete do que tinha sido e no que nos transformaríamos de novo.

- Sabe mexer em uma caixa registradora? – pergunto a Ginny, fazendo gestos.

Ela já esta mexendo na maquina. Tenho apenas uma, no balcão de venda de ingresso. É um modelo mais velho que comprei pelo eBay.

- Hum – Ginny diz , analisando o salão antes de responder. – Já sei! Podemos colocar doces e pipoca no balcão, divulgar preços e deixar uma caixa com uma abertura para que as pessoas possam dar caixinha. Como na biblioteca, para o pessoal com livros com entrega atrasada.

Aquilo não daria certo na maioria dos locais. Contudo, funcionará em Spirit.

- Tenho algumas caixas em meu escritório – eu digo, impressionado comigo mesmo. Depois de uma pausa, digo: - Por que você quer esse emprego?

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Somos dois. Com o lance de viver para sempre, de repente passo a precisar de um plano financeiro de longo prazo. E percebo que, para Ginny, não há muitos outros empregos por perto. Aposto que ela tinha um carro veloz. Aposto que foi tomado.

Não consigo deixar de tentar imaginar se ela tem outro motivo além desse para estar ali. Não quero parecer convencido, mas sou bem bonito. Tenho os olhos azuis da minha mãe, e eles se destacam em minha pele morena, tenho cabelo preto e liso e traços fortes que herdei de quem quer que seja meu pai. Sou magro, mas forte o bastante por trabalhar no rancho do Tio Dean.

Fora de Spirit, as meninas estão sempre flertando, não que eu saiba como reagir.

Os moradores da região, por outro lado, sentem pena de mim. Quando minha mãe morreu, todos disseram que era uma pena eu ter me tornado órfão aos dez anos, apenas. Viram meus hematomas nos anos seguintes. E sabiam como era o Tio Dean. Durante muito tempo, pensei que mais cedo ou mais tarde alguém o denunciaria ao serviço social – um pastor, uma professora, a enfermeira da escola – mas isso nunca aconteceu.

Acredito que a maioria das pessoas tinha tanto medo do Tio Dean quanto eu.

Ginny esta olhando para mim com um sorriso estranhamente compreensivo, e percebo que ela esta esperando pela minha decisão. Não deixo de pensar que ela pode ser útil. Não consigo parar de tentar imaginar se ela tem namorado. Contudo, ficar com aquela menina de carne e sangue é intrinsecamente problemático. A carne é um problema. O sangue é um problema. A qualquer momento pode acontecer algo pior. – Tudo bem – eu digo. – Está contratada.

O candelabro faz um ruído, distraindo a nós dois.

- Esfriou – Ginny diz, olhando ao redor. – Mas de onde vem esse frio. Ela faz perguntas demais. – Liguei o ar-condicionado.

É mentira.

***********

Depois de muito negociação, concordo em dar dez centavos acima do salário mínimo, mando Ginny para casa para vestir uma camisa branca de botões, calça e sapatos pretos e peço a ela que volte em duas horas.

Trancando a porta do meu escritório repleto de coisas, mas não fico animado ao perceber que preciso contratar mais uma pessoa. Alguém da região. Alguém quieto.

Nos próximos anos, preciso estabelecer um acordo com as pessoas boas de Spirit. Elas podem não saber quem eu sou, mas saberão com o tempo. Se por acaso o plano de “revitalização” do pai de Ginny der certo, eu ficarei ali por gerações. Preciso mostrar a eles que minha presença é tão inofensiva quanto o fato de Edwina Labarge colecionar globos de neve ou de Betty Mueller falar com o marido morto, ou de a Senhorita Josefina e a Senhorita Abigail serem “amigas que moram juntas” há mais de trinta anos.

Percebo que vou precisar de pessoas para a entrada, de modo que os clientes que cheguem da cidade vizinha não percebam que o “jovem” proprietário parece nunca envelhecer.

Dentro do escritório, acendo a luz que aciona o ventilador de teto, e começo a procurar por jornais velhos e caixas, procurando por um que sirva para as prateleiras de produto.

A manchete de um exemplar amarelado do The Spirit Sentinel, de 13 de junho de 1959, chama a minha atenção. Esta escrito: “A cidade lamenta por uma de suas filhas: mais uma moça desaparecida.”

Eu pego o jornal, analisando a foto em preto e branco – a covinha e os olhos risonhos de Sonia. Passo os dedos sobre os cabelos que emolduram seu belo rosto. Dezesseis anos para sempre.

Não quero ser o tipo de monstro a destruir uma inocência como aquela.

Procurando em meu frigobar, pego uma garrafa de sangue, encho com ele um quarto de uma caneca Texas A&Mas, e a coloco dentro do micro-ondas sobre o balcão.

Segundos mais tarde, fecho os olhos, sentindo o gosto, deixando de lado o desgosto. Estou assim há poucas semanas.

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que se importasse.

Pouco depois de o Tio Dean quebrar uma de minhas costelas, fiquei sabendo, na escola, que havia um cara em Athenas, Geórgia, vendendo um “elixir de poder” na Internet. Pensei que fosse um coquetel de esteróides. Provavelmente arriscado, mas minha vida não era muito segura, pra começo de conversa. Contudo, o rapaz parecia que fornecia um pouco do negócio para a principal equipe de futebol do colégio em El Paso, a equipe vencedora do campeonato ano passado.

Foi muito fácil. “Peguei emprestado” o cartão de crédito de meu Tio Dean e fiz meu pedido. O frasco chegou no dia seguinte em uma caixa de gelo seco.

Lembro de ter pensado ”Que diabos é isso?” enquanto abria a tampa. Nada seria mais apropriado.

Afastando essa lembrança, pego a garrafa para me servir de mais sangue.

Alguém usou um dedo para escrever algo na condensação do vidro. Parece a letra “S”. Não estava ali um minuto antes. Ela está ficando mais corajosa, esforçando-se mais para chamar minha atenção. É lisonjeiro, admito. – Sonia?

**********

- O que você acha? – Ginny pergunta, organizando os copos de papel recém-colocados sobre o balcão. - Nada mal. – Preciso dar-lhe crédito. Com o uniforme de atente de cinema, completado com o rabo-de-cavalo, é uma americana perfeita. Ela também pediu a mãe que fosse com ela ao Wal- Mart (duas cidades ao norte) para comprar gelo, diversas garrafas plásticas de refrigerante de dois litros (diet, normal e Sprite), e diversos pacotes de barra de chocolate em promoção. É uma grande demonstração de entusiasmo, de espírito, pode-se dizer.

Ela sorri e pega uma caneta preta de quadro branco para escrever os preços e orientações de pagamento. Ginny trouxe a caneta e a cartolina também. Peguei a caixa em meu escritório e a coloquei sobre o balcão antes de ela voltar. Já estava embrulhada com papel dourado-brilhante, outra compra feita no Wal-Mart.

Meu olhar pousa na pele sobre sua jugular. Felizmente para Ginny, posso comprar “provisões” frescas do mesmo site que me vendeu a dose original.

Na noite em que enterrei o corpo do meu tio atrás do celeiro, recebi um e-mail de um vendedor, dizendo que eu tinha os requisitos necessários para ter “status de cliente especial” e dando-me um código para usar nas próximas compras. Encontrei uma série de paginas dentro do site que incluía um documento extenso com perguntas para responder sobre nosso tipo, informações sobre como misturar diversos tipos de vinho de sangue e, depois, um serviço de namoro on-line (“Amor duradouro”) estendido a todos os membros registrados sem qualquer taxa adicional. Admito que cliquei no link, apesar de tudo, rindo com os anúncios de como fazer as presas crescer, diminuir as coxas e encontrar “companhia eterna”. Não tenho intenção de fazer isso.

Posso ser alvo fácil, ajudando a financiar a aposentadoria de algum mal-intencionado. Mas consegui o que queria. Agora posso me defender de qualquer um.

Só não imaginava que o preço seria tão alto.

**********

olhando pela janela do cinema na Rua Principal, fico feliz ao ver que uma fila já se formou – algumas adolescentes e um delegado com sua esposa.

Esta semana, vou apresentar O Fantasma da Ópera. já agendei A Casa Amaldiçoada, com Vincent Price, Ghostbusters e Ghost para as próximas três semanas.

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Estou tirando vantagem da fama sombria do local. Espero que Sonia não se importe. Cada vez mais, sempre que conserto um taco solto, passo aspirador no carpete ou limpo o banheiro das mulheres, não consigo tentar imaginar se Sonia aprova cada ação. Não consigo para de pensar que estou tentando impressioná-la.

A escola esta fechada há duas semanas. A novidade de verão já passou. Jogadores de futebol americano e líderes de torcida estão ensaiando duas vezes mais, mas param ao por do sol e querem extravasar. Devo estar pronto para receber pessoas de cidades próximas, mesmo que seja por não ter nada melhor a fazer.

- Três minutos – anuncio, percebendo que a fila do lado de fora está mais comprida agora. Grande parte dela é formada por curiosos, com certeza. Contudo, posso ganhar com isso.

- Tudo isso? – Ginny exclama, arrumando o aviso. – O gelo vai derreter. - O gelo vai ficar bem. Você esta... você esta indo bem.

Consigo tolerar a luz do sol, apesar de ela parecer me deixar mais fraco. Assim como o sorriso largo de Ginny. Ela dá um pulinho na direção do balcão de ingressos e estão, com um “Opa!” começa a cair. Sem pensar, utilizo uma força sobrenatural para impedir sua queda.

Ginny se endireita com a mão em meu ombro – Como você fez isso?

Enquanto era ser humano, não tinha amigos da minha idade – não amigos na vida real, mas apenas pessoas com quem eu conversava na Internet. Não pensei que fosse me sentir atraído por alguém agora. Sei que não devo me importar, mas pergunto mesmo assim: - Você está bem?

- Acho que sim. – Ela se endireita. – Poderia jurar que tropecei em alguma coisa. Ambos olhamos para baixo para o carpete vermelho.

**********

Ginny está fazendo um belo trabalho na caixa registradora. Não para de dizer “sim, senhor” aos adultos, é gentil com as adolescentes e um sinal agradável de que, apesar do cinema “assombrado” e sua historia assustadora, o filme sobre fantasma é uma grande brincadeira. Estamos apenas nos divertindo ali.

Enquanto isso, estou servido outra rodada de refrigerante. Está tudo bem. Com o sistema de pagamento livre, não preciso interagir com os clientes.

Pelo menos até o delegado jogar algumas notas enroladas de dólares na caixa e dizer: - Jovem Sr. Stryker, não é?

- Sim, senhor. – Mantenho o tom de voz em um nível normal. Nunca tive problemas com a lei. Na verdade, sou bem decente – alguém que teve uma vida difícil, mas que é respeitável, honrado. – Bem-vindo ao Old Love delegado.

- Como está seu tio? – ele pergunta, pegando um refrigerante, uma caixa de bolinhas de chocolate e um pacote de balinhas de anis. – Alguns rapazes no Hank’s Roadhouse estavam querendo saber dele.

Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, as perguntas viriam. Dói lembrar que o Tio Dean tinha colegas, que ele tinha um lado bom, que só conseguia ver raramente ou quando ele ganhava bastante dinheiro.

Engulo o nó em minha garganta, olho para os dois lados e encaro o delegado. Falando mais baixo, procuro igualar minha voz no tom da dele. – Cá entre nós?

Ele assente de cabeça rapidamente.

- Estou achando que ele encrencou com o homem errado. Deve ter fugido para Matamoros antes de o cara vir pegá-lo. Nem se despediu.

O delegado concorda. – Sorte a dele – ele diz ao começar a se afastar. Então, depois de entregar o refrigerante à sua esposa, ele se vira para mim e diz: - Fico feliz por vê-lo fazendo alguma coisa boa. Sua mãe era uma mulher digna.

Durante um tempo, sirvo mais algumas bebidas e dou um “oi” aqui ou um “como vai?” acolá, e então os clientes fazem suas escolhas e pagam. Contudo, não demora até que eu percebo a agitação no balcão dos ingressos.

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