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6 PASSOS PARA ENTRAR NO MUNDO DIGITAL

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Academic year: 2021

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6 PASSOS PARA

ENTRAR NO MUNDO DIGITAL

Dicas e histórias para estimular você a

modernizar o seu pequeno negócio

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C6 Bank São Paulo 15.out.2020 Autor D. Oliveira Produção

D. Oliveira Serviços Editoriais

Design Eduardo Asta Fotos

Wanezza Soares Milena Marzagão

Site do C6 Bank c6bank.com.br

Nossa maquininha c6bank.com.br/c6pay/

Nossas soluções de venda integrada

com automação comercial paygo.com.br/

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Mudar, alterar, modificar, virar, trocar, mexer, variar,

converter, reinventar. Quando se imaginava que já havia

si-nônimos suficientes para o verbo transformar, uma turma

de empreendedores moderninhos, nascidos na era digital,

resolve, a seu modo, cunhar mais um termo: pivotar. Repito:

pi-vo-tar, uma palavra esquisita, feia mesmo, derivada do

in-glês “to pivot” para designar a habilidade de promover

mu-danças rápidas, procurar alternativas – algo que eles fazem

com frequência em suas empresas.

Pense no basquete, na figura do pivô, o jogador que geralmente recebe a bola bem abaixo da cesta e tem de girar o corpo em torno do pé de apoio para arremessar ou encontrar opções melhores, como um passe decisivo para um companheiro. Pivotar é, portanto, a capacidade de dar uma guina-da de modo a alcançar o objetivo. Legal. Mas por que é mesmo que você tem que ler sobre a criação de uma palavra esquisita ou sobre as habilida-des de um pivô de basquete? Porque você vai ter que aprender a “pivotar” se quiser que a sua empresa prospere em um mundo cada vez mais digita-lizado. Mesmo que rejeite o termo dos moderninhos – nós também preferi-mos o velho e bom português dos dicionários – você terá, inevitavelmente, que usar a ideia da transformação constante, da reinvenção.

Porque o mundo mudou numa velocidade impressionante. O consumi-dor mudou. Não é exagero dizer que a pandemia de Covid-19 antecipou

SUA JORNADA

DIGITAL

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em dois ou três anos a tal revolução digital, transformando as relações co-merciais em um movimento majoritariamente eletrônico. Quem não sabia fazer compras online aprendeu. E gostou. Pode até voltar a fazer compras físicas – e deve voltar –, mas já está fisgado para sempre pela tecnologia. A você, empreendedor, caberá se adaptar, independentemente de seu tamanho. Não há escolha. Ou você muda a sua forma de pensar e operar para oferecer o melhor dos dois mundos – o físico e o digital - ao cliente ou corre o risco de fechar as portas.

Para as grandes empresas, o caminho é sempre mais fácil. Há condi-ções financeiras, pessoais e técnicas para fazer essa transição. E para as pequenas e médias e os micro empreendedores individuais, que têm de enfrentar o mesmo cenário sem contar com os mesmos recursos? Qual a saída? O objetivo deste livro é justamente mapear essa mudança, ajudar

o pequeno empreendedor a entendê-la e auxiliá-lo nessa jornada, com dicas sobre o caminho a seguir e exemplos práticos de quem já está pro-movendo sua pequena revolução.

6 passos para entrar no mundo digital - Dicas e histórias para você mo-dernizar o seu pequeno negócio é uma iniciativa do C6 Bank, um banco

completo para pessoas físicas e jurídicas (em especial, MEIs e PMEs), e da PayGo, empresa de meios de pagamento pertencente ao banco. Com este guia, queremos incentivar você a modernizar seu empreendimento.

Boa leitura e boa jornada digital.

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SUMÁRIO

Introdução | pág. 6

Capítulo 1 - Era uma vez | pág. 9

Capítulo 2 - Cultura Digital e Conhecimento | pág. 14 Capítulo 3 - Criatividade | pág. 20

Capítulo 4 - Conectividade | pág. 26 Capítulo 5 - Capacidade Técnica | pág. 31 Capítulo 6 - Cliente | pág. 35

(6)

“O consumidor sumiu da minha frente. Eu não o vejo mais.

Não consigo mais perceber os hábitos de compra usando

meus olhos e ouvidos. Não consigo ver como ele reage

dian-te de um novo produto ou de uma promoção. Porque estou

em casa, e meu cliente também está. Ele costumava bater

à minha porta. Não vem mais. Costumava me telefonar com

alguma frequência para fazer alguma encomenda. Não liga

mais. Ou eu arrumo uma forma de me conectar com ele, e de

conectá-lo novamente à minha loja, de entendê-lo e servi-lo,

ou a minha porta será fechada de vez.”

Eis o resumo de uma conversa que tive com o dono de uma pequena loja de materiais de construção de um bairro da zona sul de São Paulo, no final de abril de 2020, quando ainda estávamos, todos, tentando entender os efeitos da pandemia do novo coronavírus. transformei essa conversa em um depoimento curto, de 100 palavras, porque essa centena de palavras traz a mensagem cen-tral do que será abordado nas próximas páginas: a constatação de que

é preciso mudar o seu negócio, tenha ele o porte que for.

Se houve a perda momentânea de “sinal” com o consumidor, é preciso recuperá-lo e estabelecer novamente a conexão. E a conexão virá pelos canais digitais. Sim, estamos falando das redes sociais, de sites, aplicativos, de encon-trar um meio de restabelecer a sintonia com quem compra os seus produtos e serviços. Mas essas ferramentas são apenas um “atalho” para trazer o cliente de volta. Você terá que modernizar o seu empreendimento, se adaptar às novas

O CONSUMIDOR

NÃO É MAIS O MESMO

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tecnologias, implementar novos modelos de gestão, aprender novas formas de distribuição, conhecer novas tecnologias e mudar a mentalidade. Porque as re-lações comerciais não serão mais as mesmas, os efeitos do isolamento fizeram o consumidor despertar para um novo tipo de comportamento de compra de bens e serviços. “Tivemos a confirmação do que já existia e um ensaio geral do que virá pela frente. A pandemia só acelerou o que se convencionou chamar de economia digital, antecipando em dois ou três anos a transformação do modelo de negócios. Qualquer negócio”, diz o consultor Daniel Castello, espe-cializado em estratégia e transformação digital.

Porque o consumidor não é e não será mais o mesmo. Quem ainda não

sabia lidar com o mundo online aprendeu. Experimentou, gostou, achou mais

prático, ganhou tempo, viu que não precisava mais se deslocar, pegar trânsito e enfrentar filas. Viu também que teria de pagar uma taxa para receber em casa... mas ok, até isso ele descobriu que é parte do jogo, desde que não seja algo exorbitante. Junte essa mudança acelerada de comportamento com o fato de o Brasil ter 154 milhões de celulares, um total de 24 milhões de chips 4G, de 3% dos usuários de internet utilizarem o WhatsApp, considere os 72 mi-lhões de perfis no Instagram e as 127 mimi-lhões de pessoas no Facebook. O que se tem é uma conclusão tão simples quanto o ato de mandar um “zap”: é ele, o

consumidor, quem escolhe como vai comprar, de quem e por qual canal. Aos

empreendedores, só resta se adaptar. Não há saída, porque o mundo dos ne-gócios certamente vai deixar uma série de hábitos e práticas administrativas e estruturais para trás. O tal do foco no cliente ganha um outro significado, sutil, mas decisivo: agora, é a sua empresa que precisa estar no foco do cliente. E isso não é temporário. É uma mudança estrutural.

Significa dizer que o mundo físico acabou? Longe disso. Significa dizer ape-nas que quem não ape-nasceu digital terá de criar uma estrutura capaz de operar também nesse mundo. Haverá, então, um imenso desafio estratégico para todos os empresários, de todos os tamanhos: descobrir qual será o balanço

ideal entre suas operações online e offline. Você terá que trafegar nos dois

universos. Para as grandes empresas que ainda não fizeram a migração, o

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caminho pode ser diferente. Algumas podem ter caixa forrado para “comprar” a mudança e têm acesso mais fácil aos recursos tecnológicos, além de equipe suficiente para virar o barco. Mas quando falamos de empreendedores indivi-duais, microempresas, pequenas e médias firmas, a situação é completamente diferente. Eles não têm os mesmos recursos – técnico, pessoal e financeiro - mas são obrigados a enfrentar o mesmo cenário: a necessidade urgente de fazer a transformação digital.

uma pesquisa do Instituto Gartner sobre o estágio da transformação digital em pequenas e médias empresas brasileiras mostra que 95% dos entrevista-dos dizem já ter iniciado esse processo. testam um aplicativo delivery aqui, um software mais moderninho acolá, mas ainda estão em uma fase muito embrionária ou mesmo empírica do processo de transformação. Os maiores

empecilhos são (adivinhe!) o orçamento e a falta de capacitação técnica. O

estudo mostra que há pouco conhecimento em tecnologias emergentes: cer-ca de metade dos entrevistados desconhece ou tem poucer-ca familiaridade com “coisas” como big-data, inteligência artificial, superlogística, marketing digital etc. A boa notícia é que existem alternativas para absorver essas tecnologias e conceitos e começar, ao menos, se mexer para entrar no novo mundo – ou melhor, no mundo que já vinha se formando e que a pandemia descortinou.

Este livro não tem a pretensão de revelar fórmulas salvadoras ou apresentar caminhos infalíveis. O objetivo é mostrar com alguma teoria e exemplos

prá-ticos que é possível, sim, transformar a sua lojinha, a sua portinha comercial,

a sua prestadora de serviços em um negócio dinâmico, capaz de se adaptar às mudanças. Vamos percorrer seis passos, que batizamos de os 6 Cs, para ajudar os pequenos empreendedores a entender essa jornada. São eles: cultura digi-tal, conhecimento, criatividade, conectividade, capacidade técnica e cliente.

Continue com a gente nos próximos capítulos e boa leitura!

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CAPÍTULO 1

ERA

UMA VEZ...

O primeiro passo, antes de entrarmos diretamente nos 6 Cs,

é entender o que significa, exatamente, essa tal de

transfor-mação digital. Um breve histórico do fenômeno pode ajudar a

compreender o porquê de ela ser tão importante e necessária.

Há cerca de 20 anos, o mundo começou a viver um processo intenso de desenvolvimento de tecnologias digitais que foram amadurecendo ao lon-go do tempo e convergindo entre si. Estamos falando de internet, tablets, computadores cada vez mais potentes, telefones celulares mais modernos e da evolução desses celulares para os smartphones. A palavra conexão ganhou, então, outro sentido. As barreiras começaram a ser derrubadas.

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Se era possível alcançar qualquer um em qualquer canto do mundo, então, também era possível alcançar qualquer consumidor, dentro de sua casa, em qualquer ponto. Falou-se em Economia 2.0, em revolução

digital. Houve quem dissesse que o mundo sofreria, naqueles anos de pu-jança eletrônica, uma transformação tão grande e tão mais veloz do que havia experimentado em todas as outras revoluções industriais. Exagero? talvez. Mas o fato é que a tal velocidade ganhou endereço, primeiro, nos Estados unidos, sobretudo na Califórnia e em Seattle, berços de empresas como Google, Facebook e Amazon. As tecnologias foram se aprimorando, e esse aprimoramento forçou a uma mudança fundamental no modo de se fazer negócio, vender produtos ou serviços. Conceitos como inteligên-cia artifiinteligên-cial, análise de dados baseadas em algoritmos, marketing digital, internet das coisas, chatbots… tudo isso passou a fazer parte da “caixa de ferramentas” para construir uma empresa. Como num efeito dominó, aquela turminha estimulou um conjunto de empreendedores, e a filosofia digital começou a pipocar em 30 ou 40 lugares no mundo inteiro – mul-tiplicando novos modelos de negócio ancorados nas oportunidades que essas tecnologias geravam. E começou a era da economia digital.

Pois essa economia gerou filhotes, especializados em romper com a indústria tradicional. A mistura de tecnologia, muita criatividade e um

enorme senso de oportunidade formaram o tripé capaz de enchê-los de energia para enfrentar os gigantes do mundo físico. Bastava enxergar pro-blemas em algum setor ou vislumbrar nichos mal aproveitados e... bingo: os filhotes avançavam, alimentando-se da ineficiência alheia. Engordaram, cresceram e descobriram que, além da tecnologia, da criatividade e do senso de oportunidade, eles teriam de encontrar novas metodologias de gestão para operar em grande escala e atender à distância, sem a neces-sidade de ver o consumidor. Lembra-se dos sensores naturais, os olhos e ouvidos para detectar os hábitos dos consumidores que entram em sua loja? Com um mercado consumidor tão ampliado pela tecnologia, é

pre-ciso encontrar outras ferramentas para continuar entendendo o cliente.

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As novas empresas rezam a cartilha dos sensores digitais. tudo é re-gistrado e tudo é medido, rastreado e estudado. “Haverá o dia em que saberemos até o que o cliente ainda nem sabe o que vai comprar, apenas rastreando os seus hábitos de consumo”, disse-me certa vez um diretor de uma startup da Califórnia. O ciclo então se renova. Novas tecnologias possibilitam novos modelos de negócios, que são sustentados por no-vas competências e essas nono-vas competências transformam empresas e revolucionam setores inteiros, provando que é possível oferecer serviços e produtos melhores. Às vezes mais baratos, às vezes, não, mas certamente melhores para o consumidor.

Pense no que o Spotify fez com a indústria fonográfica. O que o uber fez com a mobilidade ou o Airbnb, com a hotelaria. Assim como o WhatsApp transformou as operadoras de telefonia.

Só que essas empresas fizeram isso desde a origem. Elas nasceram digitais, trazendo toda a essência do que se convencionou chamar de economia digital, que é movida, basicamente, por dois motores: alcance e velocidade. Com muita tecnologia embarcada e a pressa característica dos novatos, elas foram experimentando, testando e errando, até conseguir chegar a algum lugar. E chegaram. Dominaram a festa. Das dez marcas

mais valiosas do mundo em 2020, sete são big-techs (veja quadro

na pág. 12).

As empresas tradicionais, offline, ficaram, então, com um desafio estra-tégico imenso: aprender a competir com essa turma que invadiu o seu quintal sem pedir licença e trazendo um modelo de negócios mais dinâ-mico, capaz de arrancar sorrisos dos consumidores e atrair a atenção de investidores. Qual é a saída, então? Fazer o processo de transformação. A transformação digital é, portanto, a resposta estratégica das empresas estabelecidas ao desafio imposto pelas empresas tecnológicas em todos os setores da economia.

(12)

US$ 415,9

Amazon

US$ 352,2

Apple

US$ 326,5

Microsoft

US$ 323,6

Google

US$ 152,5

Alibaba

US$ 186,8

Visa

US$ 150,9

Tencent

US$ 147,1

Facebook

US$ 129,3

McDonald's

US$ 108,1

Mastercard

As dez marcas mais valiosas do mundo Em uS$ bilhões

Consultoria Kantar e Grupo WPP | Junho de 2020

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Dito tudo isso, você, agora, deve estar se perguntando:

— E o que eu, um pequeno empreendedor, um pequeno comerciante ou prestador de serviço, tenho a ver com Google, Amazon, Spotify, Uber, essa turma toda que teve acesso a conhecimento, tecnologia e capital?

talvez a pergunta correta a se fazer, que poderia ser um primeiro passo para a mudança de mentalidade que o levará a transformação digital, seja: “E o que eu, um pequeno empreendedor, pequeno comerciante ou presta-dor de serviço, que não tenho o acesso ao que essa turma teve, posso tirar dessa história toda das empresas que inventaram a tal economia digital, um negócio que agora me obriga a me reinventar?”.

Vamos começar com algumas coisas em comum: a pegada empreen-dedora, a obrigação de ser criativo – criatividade sempre foi a alternativa para quem tem (ou começa com) poucos recursos –, as longas horas de trabalho em cima de seu projeto-negócio-sonho- empresa (dê a ele o nome que quiser) e a vontade de querer mais, sempre (independente-mente de quanto é esse mais). Sim, estou falando de quem tem o incon-formismo na essência - e inconincon-formismo não é característica exclusiva de quem está nos grandes centros do mundo e na lista das marcas mais valiosas. Querer mais - ou, em alguns casos, querer sobreviver - passa pela

reinvenção diária, o aprendizado constante. É a marca dessa turminha

digital. Por que não pode ser a sua?

Já que falamos de mudança de mentalidade, de troca de chip, vamos aos primeiros pontos da jornada de transformação: Cultura Digital e Conheci-mento.

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Uma pesquisa conduzida pela consultoria Capgemini, com

340 empresas, intitulada The Digital Culture Challenge,

mostra que 62% dos profissionais ouvidos apontaram a

cul-tura corporativa como um grande obstáculo para a

trans-formação digital. As empresas até pensam em mudar, mas

esbarram na grande questão de não mexer naquilo que

vêm fazendo há anos com certo sucesso. É um pensamento

genuíno, mudar é sempre desconfortável, consome tempo,

dinheiro e o resultado pode demorar um pouco a aparecer.

CULTURA DIGITAL E

CONHECIMENTO

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Certa vez eu conversei com um amigo, dono de um restaurante, sobre a velocidade do mundo digital e a necessidade de os pequenos empreen-dedores começarem a adotar novos conceitos. Ele me respondeu que era um cara aberto ao novo e que já havia criado até um site. Que bom! Per-guntei sobre entrega por aplicativo. “Ah, o aplicativo vai me comer 20% do faturamento. Não quero, não. O cliente vê nossos contatos no site, pede e a gente entrega.” Ele não tem um e-commerce, portanto. tem apenas um site – e há uma grande diferença nisso. Fiz mais duas ou três perguntas so-bre processos digitalizados, pagamento eletrônico e softwares integrados. Ele me interrompeu: “Não. Aí, não. Eu faço do mesmo jeito há 10 anos e dá tudo certo. Não vou querer mexer na minha estrutura”. Ou seja, ele pode até ser um sujeito aberto a mudanças, mas nem tanto.

Ele me contou que um restaurante vizinho estava usando aplicativo, experimentando meios de pagamento digitais e testando novos canais de venda em redes sociais, todo “moderninho”. “Mas eu vendo tanto ou mais que ele”, disse, orgulhoso. E, de fato, até agora o mercado permitia que os dois convivessem bem. Não havia uma diferença muito significativa entre o modelo mais tradicional, com sua clientela cativa, e o mais moderninho, tentando abrir novas frentes digitais. Os dois ganhavam. O problema é que o mundo está mudando. E aquilo que se tinha como verdade absoluta parou de funcionar. Pode-se argumentar que, quando a pandemia do novo coronavírus passar, o restaurante vai voltar a ficar cheio. tomara. Mas por

que não lucrar com os dois mundos, o físico e o digital? tenha o cliente

na mesa e o cliente da tela. Nesse ponto, o vizinho de meu amigo está mais adiantado.

O empreendedor tradicional é muito bom em aperfeiçoar, gradualmen-te, a forma convencional de operar. No mundo digital, essa evolução é a atualização constante do modelo. Sabe aquela mensagem que pisca no seu celular ou no computador, avisando que o sistema precisa ser atuali-zado? É uma boa comparação para a forma de operar na economia digi-tal. Porque é um jogo de aprender, desaprender e reaprender. Em muitos

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casos, será preciso destruir e reconstruir para acompanhar a mudança de

hábito do consumidor ou o se adaptar a novos métodos e tecnologias. É

aí que começa a brincadeira difícil, de aprender a virar a chave mental – ou mudar o chip, se preferir.

No caso dos micros, pequenos e médios empreendedores, é preciso, na verdade, estabelecer uma cultura digital, porque não havia essa necessida-de, até aqui, de pensar naquela história de velocidade + alcance, a

espi-nha dorsal do mundo online. Muitos deles não trabalhavam com entrega,

não atendiam fora de sua região, não pensavam em novos canais de venda e não cogitavam a experimentação. Estabelecer a nova cultura implica em algo que os empresários, em geral, odeiam fazer, que é errar. Ora, a falha, quando se coloca em prática um novo modelo, deve ser encarada como parte do processo. Obviamente que não estou falando aqui do erro siste-mático, da incompetência comprovada. Refiro-me ao erro da

experimen-tação, o risco de mergulhar no desconhecido e ir aprendendo aos pou-cos. O seu novo site, a relação com o aplicativo, o software integrado aos

meios de pagamento, todos eles vão produzir ruídos no primeiro momen-to. É inevitável. Claro que o grau de tolerância, para quem não tem tantos recursos, vive com o caixa apertado e, por isso mesmo, precisa ser mais assertivo nas apostas, tende a ser menor. Mas acredite: será fundamental exercitar esse ponto. Ninguém vai acertar sempre, de primeira. Coloque,

então, o erro no orçamento.

Outra mudança de chip: você não será mais o comerciante da rua, o prestador de serviço do bairro e o empreendedor que atende somente aquela região. Quando entra na internet, no aplicativo e nas mídias digi-tais com sua empresa, você está no mundo. A sua página o jogou numa vitrine imensa, o seu negócio saiu do estado físico para se transformar em partículas que alcançarão cada ponto da cidade – e dependendo do seu ramo de atuação, até outros estados. A sua comunicação, portanto, com o novo e desconhecido cliente tem de acompanhar essa evolução. Você terá

de dobrar a atenção ao modo como interage com o público. Não é a sua

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rede social. É a da empresa, com seu logotipo no Instagram e no Face-book, onde for. E empresas não emitem opiniões sem embasamento e não entram em polêmicas vazias, sem sentido. Elas oferecem o produto, fazem promoções, criam conexão com o cliente e estimulam a visita a um site ou outro canal de vendas.

O consultor Castello lembra que a cultura digital engloba outra série de atributos que têm a ver também com habilidades mentais necessárias para sustentar uma jornada digital. Em seu curso de transformação digi-tal, Castello chama a atenção para o conceito de hiperatenção. “É preciso sair de sua bolha e prestar atenção ao que acontece no seu setor, na sua cidade, no país, no mundo, nas mudanças comportamentais, nas novida-des que você pode implementar”, diz ele. “Dá trabalho? Claro que dá. Mas acredite: dará mais trabalho não saber.” Simplificando: você tem que estar antenado. Velocidade + alcance, lembre-se sempre disto. Claro que nin-guém consegue ficar ligado em tudo ao mesmo tempo. Mas você pode es-tabelecer fontes de informação que o ajudem nesta tarefa: por exemplo, participar de fóruns de discussão na internet e frequentar páginas sobre temas que possam trazer algum valor ao seu negócio – e pedir para rece-ber notificações sobre isso. Arranje um meio de estar atento para identifi-car mudanças no ambiente externo que podem, de alguma forma, auxiliar nessa migração digital. Surgiu um novo meio de pagamento eletrônico que facilita a vida do consumidor? teste. Veja se cabe em seu planejamen-to, se faz sentido adotá-lo. Esqueça aquele velho hábito de “não é comigo” e vá atrás, procure descobrir se funciona ou não para o seu negócio, se é viável financeiramente e se o custo-benefício vale a pena.

Observe as pessoas que estão lá fora – os potenciais clientes – mas tam-bém as pessoas que estão ao seu lado trabalhando. É a hiperatenção ao ambiente interno. Se as pessoas de dentro gostam de você, estão engaja-das e conectaengaja-das com as pessoas lá fora, então cada pessoa de dentro vira uma antena que o ajuda a entender o novo consumidor. Em poucas pala-vras: inclusão no processo de tomada de decisão.

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Competências digitais da empresa Ao contexto Habilidades de identificar mudanças nos ambientes interno e externo de uma organização e de entender quais mudanças são importantes. Aos comportamentos Habilidade de compreender como funcionários e consumidores agem, o que pensam e valorizam. Inclusiva Habilidade de tomar decisões com base nas diversas perspectivas e nas ferramentas mentais de um mix correto de colaboradores. Processos Habilidade de introduzir e adaptar rapidamente processos de negócios às mudanças do negócio. Recursos Habilidade de adquirir, implantar, gerenciar e realocar recursos (por exemplo: talentos e tecnologia) de acordo com as necessidades de negócios. Aumentada Habilidade de incorporar dados e análises nos processos de tomada de decisão. Hiperatenção Tomada de decisão Dinâmica

Fonte: Global Center for Digital Business Transformation

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Não se muda a cultura se apenas o fundador quiser (obviamente que para um profissional autônomo essa regra não vale). Trazer a turma para o

seu novo projeto, estimulando ideias, experimentando e tolerando

even-tuais erros, significa ampliar a capacidade de encontrar alternativas ao negócio. É o que os consultores adoram chamar de “comprometimento”. Vale para uma empresa com 40 funcionários ou para um pequeno comér-cio com 5 pessoas.

Entenda: sua capacidade digital aumentará consideravelmente quando você aprender a pensar de forma diversa, a dividir o projeto, riscos e ga-nhos. O que nos leva a outro ponto fundamental que, de certa forma, tem a ver com a atenção constante mencionada por Castello: as parcerias, uma prática quase obrigatória para os novos tempos. Conectar-se ao ecossiste-ma digital é o caminho ecossiste-mais curto para entrar na festa. Vamos falar daqui a pouco o que significa essa conexão e esse ecossistema.

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Há quem já esteja enfrentando na raça essa estrada digital.

São inúmeros os exemplos de empreendedores que

identifi-caram as necessidades de mudar e – com medidas criativas

e econômicas – vêm conquistando alguns bons resultados.

O chef mineiro Léo Paixão, por exemplo, criou um negócio

chamado “Cozinhando com Paixão” (nome bacana, não?),

em que o consumidor pode cozinhar em parceria com o chef,

de forma online. Pelas redes sociais ou no site do chef, o

inte-ressado se cadastra, compra (do restaurante de Paixão) um

pacote de ingredientes para determinada receita, já

prees-tabelecida, e no dia e horário marcados, se conecta em uma

live com o chef para cozinhar.

CRIATIVIDADE

CAPÍTULO 3

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um conceito tão simples quanto fazer um espaguete na manteiga. O que ele gastou nisso? Quase nada. “Ah, mas ele é conhecido, dono de restaurantes”, você dirá. “Assim é mais fácil.” Sim, a fama ajuda, claro, mas o ponto aqui é outro: ele enxergou uma saída criativa em tempos de

iso-lamento, com um potencial gigantesco quando o caos passar. O dono de

um restaurante de bairro poderia fazer algo parecido. Por exemplo: criar “um curso online” para ensinar determinados pratos, em determinados dias da semana, vendendo os ingredientes ao cliente. Lembre-se sempre do mantra do empreendedor moderno: o melhor dos dois mundos, o físico e digital. E o digital não precisa se restringir apenas aos serviços de deli-very. Ofereça algo mais. A sua live gastronômica certamente vai aumentar a sua fama e lustrar a sua marca. E isso pode se reverter em mais gente no seu restaurante.

Foi exatamente com esse mesmo princípio que Mury Corcione Jr. e Marco Cruz, os sócios do ziggy PuB na cidade de Vinhedo, interior de São Paulo, se lançaram com força nas mídias sociais, A ideia era manter a marca acesa no período em que o PuB ficou fechado por causa da pandemia. Detalhe: o ziggy foi inaugurado em novembro de 2019. Ficou, portanto, quatro meses em atividade. Era sempre casa cheia, som da melhor quali-dade e as contas em dia. Até que veio o caos e não havia o que fazer, a não ser descer o pano, desligar o som e fechar a porta. “Ficamos dois meses em casa, segurando a onda como dava. Até que surgiu a ideia de fazer algo diferente, que rendesse algum dinheiro e, ao mesmo tempo, mantivesse a marca em evidência”, diz Mury. O caminho natural era amplificar a atuação no Instagram. Mury assumiu a tarefa de repaginar o ziggy na mídia – ele tinha cursos de design no currículo – e Marco cuidou da outra parte do plano, que era inventar algo para lucrar nos meios digitais. Mas o que exa-tamente um PuB poderia entregar? “O que servimos é para ser consumido no próprio PuB. São pratos rápidos, aperitivos e bebidas. Não tínhamos um produto para delivery”, conta Marco. A saída foi pedir ao chef Marco Masano que criasse os hambúrgueres ziggy – mesmo tendo uma dúzia de hamburguerias na região. Era uma aposta. A página ficou pronta, os sócios

(22)

Mury Corcione Jr. (em pé) e Marco Cruz, sócios do Ziggy PUB na cidade de Vinhedo, interior de São Paulo

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começaram a postar conteúdos diferenciados, como dicas de músicas, dicas de livros, sorteio de brindes relacionados ao universo do rock e blues, e a fazer lives musicais. O número de seguidores quase triplicou, o

enga-jamento aumentou e a venda dos Ziggy Burgers pagou a conta dos dias parados. Os próprios sócios e o segurança se revezaram no papel de

entre-gadores. um belo exemplo de criatividade, marketing digital – a marca foi preservada – e de resiliência. Diz Mury: “A inspiração do PuB é David Bowie, o nosso ziggy Stardust. E ele fazia de tudo: cantava, atuava, escrevia e pro-duzia. O tipo de cara que se adaptava a qualquer situação. Essa é a jogada nos tempos atuais”.

Nada como invocar o “Camaleão” para falar de transformações. Ou ler histórias de resiliência como a de Gláucia ribeiro, a Gláu, para entender o que é virar a chave quantas vezes forem necessárias. Podemos começar sua saga dizendo que ela largou a faculdade de arquitetura para trabalhar com arte, uma de suas paixões. tornou-se marchand em uma galeria na zona sul de São Paulo e, pouco tempo depois, já tinha a “própria galeria” de artistas, atuando como autônoma. Anos depois, abandonou a arte e mudou-se para Mogi das Cruzes, movida pelo coração. Casou-se. Deixou um pouco de lado, então, o perfil empreendedor e arranjou em-prego com horário fixo, em uma empresa de móveis para escritório. Mas a vontade de cuidar do próprio negócio só aumentava. Saiu do emprego e abriu uma confecção. Ela mesma desenhava as peças - chegou a ter oito vendedores e a organizar eventos de moda em São Paulo e no rio. Até que veio a crise econômica de 2014/2015 e a confecção quebrou. Mais uma vez, era preciso recomeçar. Glau aproveitou outra de suas paixões, a de fa-zer doces, para testar um novo negócio: confeitaria fina para festas. Mer-gulhou nas receitas e técnicas, aprimorou-se no ofício e lançou a Atelier de Doces Gláu ribeiro. Deu bastante certo.

Em junho de 2019 ela voltou para São Paulo, divorciada. O Atelier de Doces resistiu por pouco tempo. Gláu explica: “São Paulo tem um

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do muito fechado para os doces finos de festas, é muito difícil conseguir entrar nesse meio. E os doces finos têm um alto custo de produção, já que a maioria dos insumos é importada. A conta, portanto, não fechava”. Foi então que o Atelier de Doces virou o Atelier Gastronômico. O açúcar deu lugar ao sal no cardápio, pois entregar marmitas parecia mais fácil do que vender doces finos. As encomendas eram feitas por whatsapp.

Nos primeiros meses de pandemia as vendas até aumentaram. “Muitas pessoas não cozinhavam ou não queriam cozinhar, então houve, sim, um salto nas encomendas, o suficiente para pagar minhas contas”, ela diz. Com o tempo, porém, os pedidos voltaram ao patamar normal. Era pre-ciso, portanto, engordar o orçamento, sacar um plano B, de preferência totalmente digital. Assim como havia feito com a arte e com os doces, ela se valeu de outra habilidade para encontrar a alternativa: seus conheci-mentos de astrologia + tarô. “Sempre tive muita curiosidade pelos astros e pelas cartas. Sabia fazer mapa astral e geralmente produzia alguns deles para os amigos mais próximos”, conta Gláu. Até que um desses amigos a desafiou: queria presentear outros amigos com um mapa. “Fiquei com medo de fazer, mas ele insistiu tanto que acabou me convencendo”.

A sequência da história é a esperada: ela começou a receber cada vez mais encomendas de mapas astrais, aprofundou-se nos estudos - “quanto mais eu lia mais fascinada ficava por esse universo” - e passou a praticar diariamente a leitura do tarô. “Eu sempre frequentei páginas de astrólo-gas e taróloastrólo-gas do mundo todo. Quase todas as que eu seguia também colocavam o tarô”, diz Gláu. “No fundo, essa combinação é uma leitura de energia, com um viés terapêutico muito forte, que pode ajudar as pes-soas. Pela primeira vez eu sinto que é algo com que quero trabalhar para o resto da vida”. Definido o caminho a seguir, faltava estruturar a parte digital. Como o caixa é sempre o vilão dos pequenos empreendedores, ela fez essa migração na raça. O whatsapp ganhou o status profissional e Gláu passou a produzir vídeos diários no Instagram - sempre voltados para transformação e evolução pessoal. Assim, nasceu a Gláu ribeiro tarot, que

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oferece consultas online e produz mapas por encomenda. “tenho clien-tes de várias parclien-tes do Brasil e venho aumentando bastante o número de seguidores nas redes”. Hoje, a empreendedora vive das cartas e dos astros. Mas o Atelier Gastronômico continua ativo. Plano A e B, sempre.

Aprender, desaprender e reaprender. Bem-vindo ao mundo digital.

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Vimos que a necessidade é um grande indutor de soluções,

ainda que sejam na raça e totalmente improvisadas. E isso é

um excelente sinal, porque desperta nos empreendedores a

vontade de buscar a fase seguinte, que é profissionalização

de seus métodos. Sai o instinto e entra um modelo de

negó-cios. A ferramenta de vendas eles já descobriram, a rede

so-cial. Agora é estruturar a empresa para o marketing digital,

os sistemas integrados e novos meios de pagamento e

dis-tribuição. Em poucas palavras: avançar para a gestão digital.

CONECTIVIDADE

CAPÍTULO 4

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Luciano ramos, gerente de pesquisa e consultoria do segmento enter-prise da consultoria IDC Brasil, dá um exemplo simples mas certeiro de que a prática e a constância nas mídias sociais aguçam o apetite do empreen-dedor. “O dono de uma hamburgueria do meu bairro estava esfuziante por ter atingido 10 mil seguidores no Instagram e me contou que já estava na fase de gastar mais um pouco para alavancar seus posts, com o objetivo de chegar aos 20 mil. E que, quando chegasse a essa marca, ele queria dar 25% de desconto na compra dos sanduíches em determinado dia. Ou seja, o cara estabeleceu um negócio que ele não tinha antes, que é uma

estra-tégia de marketing baseado em rede social. Ele usa de vitrine, para

divul-gar e gerar promoções. E isso é superdemocrático. Você pode partir desde pagar nada até chegar a algum momento em que entende ser necessário algum investimento.

A partir daí, é preciso desenvolver uma engrenagem que faça com que o consumidor percorra o caminho que você quer sem atalhos, de forma descomplicada. Lembre-se: o fluxo digital tem de ser rápido. Em um clique o consumidor tem de estar no seu “balcão” virtual, escolhendo o produto e pagando por ele. Com uma experiência rápida, boa e descomplicada.

Em outras palavras, a sua oferta virtual tem de funcionar integrada com todo o resto: a loja, o pagamento, a previsão de entrega, a entrega e a baixa contábil. Não é ter um site, como disse meu amigo do restaurante. É ter um e-commerce. Só que ter um e-commerce, por conta própria, é algo que vai custar caro – e difícil de fazer. Lembra-se de quando eu falei que a mudança de cultura implica em se abrir a parcerias? A conexão com o ecossistema digital é fundamental para quem está começando. Imagine uma lojinha de flores do bairro que precisa fazer rapidamente a trans-formação. Qual é a saída mais prática? Talvez seja se plugar em alguma

plataforma que já tenha todo o processo estruturado. Pode ser um

grande marketplace, não importa qual. O marketplace nada mais é do que um shopping virtual. tal qual ocorre em um shopping, haverá uma taxa para você se hospedar ali. Sim, tem um pedágio. Mas pense que o alcance

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e o marketing para o seu produto serão bem maiores. O mesmo vale para prestadores de serviço e para os microempreendedores individuais. Exis-tem empresas que reúnem num mesmo site ou no aplicativo o sisExis-tema de busca de serviços – é como um grande classificado virtual onde os presta-dores oferecem o seu trabalho, uma espécie de Service Place. Pense num professor, num personal trainer, um pedreiro, pintor, qualquer profissional autônomo disposto a alcançar potenciais clientes aos quais ele não teria acesso sem a ajuda da tecnologia e uma vitrine acostumada a essa tecno-logia.

É preciso compreender como operam esses ecossistemas e se conectar rapidamente a eles. Habilitar a compra de seus produtos e serviços atra-vés de outras fontes é acessar um número bem maior de consumidores. E aprender – de novo, a palavra mágica – como funciona essa engrenagem. No mundo tradicional, você vendia a toda hora, entregava na hora, recebia na hora. No digital, você vende a toda hora e verá o relatório de

paga-mento no final do dia, além de entregar no prazo previsto pelo seu par-ceiro de distribuição. Muda o jogo e muda a forma de operar, de pensar.

As irmãs Luna Halabi e Maria Eduarda Halabi Dutra, da grife de roupas Clóh rota 411, criada em 2016 em Belo Horizonte, foram obrigadas a mu-dar a forma de pensar e de operar para manter as vendas durante a pan-demia. “Já tínhamos um site, mas ele funcionava mais como um catálogo, um mostruário, do que como um e-commerce”, conta Luna. “Eu e minha irmã fizemos cursos online, acompanhamos tutoriais na internet e fomos testando, na prática, a engrenagem das vendas digitais”.

Até então, como era de se esperar, o grosso das vendas vinha mesmo das lojas físicas, uma no bairro nobre da Savassi e outra no bairro de Vila da Serra, no município de Nova Lima, grande BH. Essa última, aliás, havia sido inaugurada em novembro de 2019. Mal teve tempo de decolar e foi obri-gada a fechar as portas. Veio o susto, mas não o conformismo. “Em nossa trajetória, felizmente, nunca houve conformismo. Começamos fabricando

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Luna Halabi (em pé) e a irmã Maria Eduarda, sócias na grife Clóh Rota 411, de Belo Horizonte

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os produtos em casa e vendendo em uma feira hippie na avenida Afon-so Pena, que só acontecia aos domingos. Depois, abrimos um pequeno showroom para atender os clientes no meio de semana. Do showroom saltamos para a loja na Savassi e, em seguida, conseguimos inaugurar a segunda unidade”, conta Luna. “Não dava para deixar a Cloh parada, espe-rando a crise passar”.

O primeiro movimento, já no segundo dia do fechamento geral do co-mércio, foi criar a “Clóh em Casa”, habilitando o whatsapp para a venda dos produtos. Medida emergencial e acertadíssima. Em seguida, Luna e Maria Eduarda se debruçaram sobre o site para transformá-lo, de fato, em um e-commerce. Poderiam até ter optado por um marketplace (chegaram a tentar um deles), mas resolveram, elas mesmas, fazer a transição. Já havia um ponto de partida, afinal - e se elas conseguissem realmente levantar as vendas online escapariam dos pedágios de aluguel do shopping virtual. Bem... Estuda daqui, estuda dali, testa, volta, faz de novo e, em um mês, a plataforma estava pronta. O cliente entrava, olhava, escolhia, pagava, tudo funcionando certinho. Que tal, então, incluir conteúdos no site e produ-zir vídeos bacanas? Foi feito. E usar o Instagram como mais um canal de vendas? também. A distribuição passou a ser feita de forma híbrida. Por aplicativo e por aplicação das sócias - elas mesmas cuidavam de parte das entregas. “As lojas já estão abertas de novo e o nosso online continua com a maioria das vendas, algo como 65% das vendas”, diz Maria Eduarda.

Lembra-se da história de “sai o instinto e entra um modelo de negó-cios?”. Na Clóh, o instinto turbinou o modelo de negócios.

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Há uma série de alternativas acessíveis no mercado para

que se possa pular do estágio quase empírico para o de

construção de um modelo digital. Você tem o site, as mídias

sociais, aprendeu como funciona e descobriu a solução do

marketplace. Colheu alguns bons resultados. E o passo

se-guinte? Habilitar os meios de pagamentos digitais. Estou

falando do cartão digital, da conta digital, do PIX, de links

para pagamento digital e de outros meios que permitam

simplificar a forma de receber de seus clientes. De novo, a

conexão com ecossistema é fundamental.

CAPACIDADE

TÉCNICA

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O C6 Bank, por exemplo, acaba de incluir na plataforma de soluções de pagamento PayGo (que reúne todos os recursos mencionados acima)

a opção de o cliente escolher por qual adquirente (empresas que fazem

a liquidação financeira das transações realizadas com cartão de débito ou crédito) quer receber. O cliente compara as taxas e condições de cada adquirente e usa a mesma maquininha para passar as transações no adqui-rente que for melhor para ele. Não precisa mais ter tantas maquininhas no negócio. um sistema totalmente aberto, como aberto é o mundo digital. “Através do nosso sistema, ele escolhe o adquirente que ele quiser e tam-bém escolhe o software de gestão que quiser. Hoje temos 1,3 mil software houses conectadas com a gente”, diz Philippe Katz, CEO da PayGo. “Pense num bar ou numa padaria. O dono guarda lá todos os papeizinhos que saem da maquininha e espeta naquele metal. No final do dia ele conta aquele papel e bate com o caixa. Ele não precisa mais daquilo. Está tudo no portal. Entrou a transação, ele vai ver. O caixa já nasce batido. tudo isso facilita a vida do empreendedor.”

O sistema também ajuda profissionais autônomos, os microempreen-dedores individuais, a se organizarem. Katz dá mais um exemplo: “Você é um professor. Dá aula remotamente e de forma presencial. Na aula pre-sencial, você recebe em dinheiro, no cartão ou por transferência. Na venda remota, o dinheiro vem por transferência ou online, por meio do cartão. teremos o PIX também, que é o pagamento eletrônico digital. todos esses ‘dinheiros’ vão estar consolidados no mesmo lugar. Você vai ter o controle da gestão e isso significa tempo para fazer o que realmente interessa, que é captar mais alunos e aumentar a demanda”.

O universo de MEIs, aliás, tem crescido exponencialmente na carteira da PayGo. Philipe Pellegrino, chefe de distribuição de Pessoa Jurídica do C6 Bank, afirma que, quando começou a pandemia, os pequenos empreen-dedores sofreram muito, mas que ao longo dos meses isso foi mudando. “Nas microempresas e com os profissionais autônomos, a gente observou uma queda nas vendas no começo da pandemia, mas, já no finalzinho de

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abril, houve recuperação e, em junho, o valor que vendiam ultrapassou o que faturavam antes da pandemia”, diz Pellegrino. “O desconforto forçou o microempreendedor a se mexer, a mergulhar no aprendizado. Eu diria que de 60% a 70% deles estão faturando mais do que no pré-pandemia. Muito provavelmente, eles encontraram novos mercados.”

também é hora de rever o dinheiro gasto com tarifas de bancos. Vale a pena comparar serviços e procurar soluções que tenham melhor custo--benefício. O C6 Bank, por exemplo, oferece contas gratuitas para MEIs,

sem taxa de abertura, nem de manutenção. A conta dá direito a 100 tEDs

gratuitas por mês, saques gratuitos nos caixas eletrônicos da rede Ban-co24Horas, C6 taggy (uma tag para passar nas cancelas automáticas de pedágio), sem taxa de adesão nem mensalidade, cartão C6 Business que funciona no crédito ou no débito, isento de anuidade, maquininha C6 Pay com possibilidade de isenção da taxa de adesão, depósito por boleto e C6 Kick (transferência de recursos por mensagem de texto). também há re-carga de celular, limite da conta (cheque especial), pagamento de estacio-namentos, CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e empréstimo.

E, por falar em sistemas integrados, com meios de pagamento e sof-twares, a oferta desse tipo de produto tem aumentado sensivelmente no mercado brasileiro, sobretudo para pequenos e médios empreendedores. Para os pequenos, há uma razoável oferta de soluções de gestão gratuitas, em nuvem. Isso faz com que ele comece a ajustar a engrenagem digital e consiga enxergar melhor as questões de abastecimento, de administração de caixa, de estoque voltadas a esse novo modelo de negócios. Já para as empresas médias, há uma quantidade de oferta bastante grande de so-luções, boa parte baseada em volumetria. Se o cliente vender mais, paga mais. Do contrário, economiza. “É quase como um modelo de assinatura ou de consumo por serviço. No fundo, o provedor oferece uma solução que ‘escala’ com você e vai dando benefícios à medida que você ganha em volume”, explica Luciano.

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É curioso notar esse importante movimento na mão contrária: os prove-dores de softwares de gestão, de meios de pagamento, de aplicações em nuvem, aumentando consideravelmente suas ofertas para o segmento dos pequenos e médios empreendedores. Sinal inequívoco de que a prepara-ção para a transformaprepara-ção digital é também um grande mercado.

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Já falamos de Cultura Digital e Conhecimento, Criatividade,

Conectividade e Capacidade Técnica. Agora, vem o último C:

o Cliente, a razão de todos os pontos anteriores. Você

che-gou até aqui para entender aquilo que é fundamental num

mundo digital: a jornada do consumidor, que pode ser

re-sumida como o caminho que ele percorre desde o primeiro

contato com a sua empresa até a efetivação da compra ou

fechamento do negócio. A sua habilidade de analisar esse

caminho de compra e adesão do cliente é que vai fazer a

di-ferença e mostrar a sua capacidade digital. Nessa fase não

há instinto, aposta ou achismo. É rastreamento por meio da

tecnologia, além de estatística, na veia.

CLIENTE

CAPÍTULO 6

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Estou falando de algoritmos, de dados e da exata compreensão do que esses dados significam. Existem diversas ferramentas para ajudar o em-preendedor a mapear esse caminho. Small datas, big-datas e softwares de análise estatística. Com essas ferramentas em mãos, será possível observar, com lupa, cada transação e corrigir, diariamente, a rota, para entender, por exemplo, que aquele cliente que ficou navegando dez minutos pelo seu e-commerce chegou a colocar um produto na sacolinha virtual e não comprou pode ter tido problemas com o processo de pagamento. Ou, ainda mais longe: determinado cliente buscou, com alguma frequência, informações sobre um dos produtos de seu catálogo. Clicou e saiu. Voltou, clicou, ficou um tempinho maior e saiu. Não seria a hora de oferecer um desconto naquele produto? Pode ser uma alternativa. E se ele comprou? Com o cadastro que ele fez para efetuar a compra, você pode, daqui a al-guns dias, alcançá-lo com uma oferta para um produto semelhante. tendo esse jogo de dados para medir os indicadores em cada ponto da jornada do cliente, você consegue ver onde ela está ruim, onde está boa, onde precisa melhorar.

Os estágios da jornada

Fontes: Antonio Salvador, Daniel Castello/ Varejo Tech, Curso Startse Transformação Digital/Mercer.

Digitalização

Automação de processos, uso de sistema em nuvem e testes com novas

tecnologias. Reinvenção digital de funções Transformação de funções como RH, finanças, estoque, logística, atendimento ao cliente. Reinvenção digital de negócios Entrada em novos

mercados, novos negócios, novas propostas de valor aos clientes.

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Ótimo, mas como se entra nesse jogo de dados sem ter conhecimen-to, nenhuma experiência e poucos recursos? “Uma tendência cada vez mais frequente é a introdução de capacidades analíticas inseridas em soluções simples de gestão”, diz Luciano ramos. Essa tendência vai des-de os grandes-des provedores – todos eles falam em introduzir o assistente digital, o sistema analítico de relacionamento e a inteligência da cadeia de suprimentos – às soluções mais modestas, quando o próprio sistema aponta quais são os momentos, por exemplo, de sazonalidade nas vendas durante o mês. “Eu diria para os pequenos e médios empreendedores que o melhor caminho é, dentro das soluções que você está avaliando neste momento, entender quais são as capacidades que ela já está provendo e alavancar o uso dessas capacidades. Acontece, muitas vezes, de existir uma solução, um software já com aplicações analíticas e não se usar ou nem desconfiar que se tem.” Ou seja, você não precisa ter uma plataforma separada ou buscar uma solução específica para navegar com dados. É possível aplicar os conceitos de análises de dados com ferramentas gratui-tas (a nuvem está cheia delas). Essas ferramengratui-tas permitem coletar dados ao longo do tempo e visualizar tendências e outros insights para tomar decisões mais seguras. Permite também que você encontre padrões de

consumo que podem se converter em aumento nas vendas. Muitas vezes,

um cruzamento de dados de vendas das plataformas de e-commerce com campanhas patrocinadas no Facebook, por exemplo, pode ajudar a definir o melhor horário para a programação de anúncios. Ou o tipo de público que deve receber determinados posts. Lembre-se: no mundo digital tudo é rastreado, tudo é medido.

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O MELHOR DOS

DOIS MUNDOS

Estamos quase no fim da jornada. Passamos por todos os Cs.

Você entendeu o conceito, começou a agir empiricamente,

mudou a mentalidade, criou coragem para testar e

incor-porou tecnologia. Depois converteu as funções do negócio

para digitalizá-lo. Procurou entender a jornada do cliente,

está testando, experimentando e tentando entender cada

vez mais como está essa pessoa que trocou a sua porta pelo

smartphone. Agora, sim, você pode dizer que tem um

negó-cio digital. Ou melhor, que tem os pés (e dedos da mão) no

mundo físico e também digital. O seu restaurante tem um

sistema bem estruturado de entrega por aplicativo,

marke-ting digital e uma análise de dados que permite fazer

ofer-tas certeiras. Você vende seguros presencialmente e,

tam-bém, vende seguros por uma plataforma e pelo WhatsApp.

Dá aulas físicas de piano, mas criou um ambiente de lives no

IGTV, do Instagram, e tem uma solução de pagamentos

onli-ne que resolveu a sua vida. Tem uma lojinha do bairro e está

vendendo como nunca em um marketplace.

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E não se esqueça: seja curioso, antenado, faça perguntas, faça parcerias, aprenda e copie. Sim, faça o que os moderninhos chamam de benchmark, que é o nome chique para o famoso “control+C, control+V”. O vizinho fez algo legal? Copie. O chatbot do concorrente é bom? Veja quem é o forne-cedor. A ferramenta X funciona bem? Contrata. O mundo digital é demo-crático. A nuvem é de todos. Você vai sair mais forte desse aprendizado.

O consultor Daniel Castello ilustra bem esse conceito de aprendizado, benchmark e evolução com a seguinte comparação: “Você sabe jogar futebol. Mas o jogo é rúgbi. Vou te contar uma coisa: daqui a 17 segundos um brutamontes de 2 metros de altura vai te jogar no chão, com a cara na lama. E está tudo certo. É a regra. Não se assuste. Ao contrário, aprenda. E pergunte: de onde veio esse moleque de dois metros? Dali? Pois vou ali ver como ele chegou a esse tamanho”. Aí está transformação digital.

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Referências

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