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Análise da contribuição tecnológica à mitigação dos efeitos da variabilidade climática na produtividade da terra sob cultivo de soja em Goiás / An analysis of the technological contribution to the mitigation of the effects of climate variability on land p

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Academic year: 2020

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Análise da contribuição tecnológica à mitigação dos efeitos da variabilidade

climática na produtividade da terra sob cultivo de soja em Goiás

An analysis of the technological contribution to the mitigation of the effects of

climate variability on land productivity of the soybean of cultivation in Goiás

DOI:10.34117/bjdv6n3-467

Recebimento dos originais: 11/02/2020 Aceitação para publicação: 30/03/2020

Najla Kauara Alves do Vale

Mestre em Agronegócio pela

Instituição: Universidade Federal de Goiás – UFG.

Doutoranda do programa de pós graduação em agronegócio-UFG, docente no instituto Federal Goiano-Campus Iporá.

Endereço: Av. Esperança, s/n - Chácaras de Recreio Samambaia, Goiânia - GO, 74690-900 E-mail: najla.vale@ifgoiano.edu.br

Klaus de Oliveira Abdala

Doutor em Ciências Ambientais

Instituição:Universidade Federal de Goiás – UFG. Docente na UFG.

Endereço: Av. Esperança, s/n - Chácaras de Recreio Samambaia, Goiânia - GO, 74690-900 E-mail: agroklaus@gmail.com

Marcelo Dias Paes Ferreira

Doutor em Economia pela UFV.

Instituição: Universidade Federal de Goiás – UFG.

Endereço: Av. Esperança, s/n - Chácaras de Recreio Samambaia, Goiânia - GO, 74690-900 E-mail: marcelo.ferreira@ufg.br

Reginaldo Santana Figueiredo

Doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ. Instituição:Universidade Federal de Goiás – UFG.

Endereço: Av. Esperança, s/n - Chácaras de Recreio Samambaia, Goiânia - GO, 74690-900 E-mail: emaildesantana@gmail.com

RESUMO

Dado o efeito da evolução tecnológica na produtividade das terras cultivadas com soja no estado de Goiás, o trabalho teve como objetivo compreender qual a contribuição desta evolução em termos de mitigação dos efeitos da variabilidade climática na produtividade da soja no estado entre 1990 e 2008. Haja vista que diversos trabalhos já abordaram a questão da relação entre precipitação e produtividade, este trabalho se diferencia por utilizar um modelo econométrico com o intuito de captar os avanços tecnológicos. A partir da análise da variabilidade climática, foi possível evidenciar que a escassez hídrica, estimada pelo cômputo do desvio negativo à precipitação média, provocou decréscimos na produtividade de até 306,97 kg/ha para cada décimo de desvio padrão de redução de precipitação, todavia, a evolução das tecnologias não foi significativa em mitigar essas perdas na cultura da soja ao longo do período analisado. Nessa perspectiva, este estudo se torna referência para o direcionamento de pesquisas e investimentos em tecnologias para dirimir os decréscimos na produtividade da cultura analisada, sobretudo em um cenário de mudanças climáticas.

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Palavras-chaves: Econométrico; Eficiência; Desvio de precipitação. ABSTRACT

Given the effect of technological evolution on the productivity of soya cultivated land in the State of Goiás, the objective of this study was to understand the contribution of this evolution in terms of mitigating the effects of climatic variability on soybean productivity in the state between 1990 and 2008. As many work papers have already discussed the relationship between precipitation and productivity, this work differs by the use of an econometric model in order to capture technological advances. From the analysis of the climatic variability, it was possible to show that the water scarcity, estimated by the negative deviation calculation to the average precipitation, caused decreases in productivity of up to 306.97 kg / ha for each tenth of the standard deviation of precipitation reduction, however, the evolution of the technologies was not significant in mitigating these losses in the soybean crop over the analyzed period. In this perspective, this study becomes a reference to direct researches and investments in technologies to solve the decreases in crop productivity analyzed, especially in a climate change scenario.

Key-words: Econometric; Efficiency; Deviation of precipitation. 1 INTRODUÇÃO

O agronegócio responde por 1,280 trilhões do produto interno bruto (PIB) brasileiro, só o setor agrícola apresenta um PIB de 871,779 bilhões, atribuindo ao Brasil uma significativa participação nos mercados internacionais e destaque entre os maiores produtores e exportadores das commodities açúcar, café, suco de laranja, carne bovina e de aves e soja. Em 2015 a cadeia produtiva da soja, gerou uma receita com valor superior a 26 bilhões de dólares, colocando o país na segunda posição dentre os maiores produtores mundiais, com produção de 81,4 milhões de toneladas (BEZERRA et al., 2015; CEPEA, 2015).

Além das tecnologias inseridas na cultura da soja a produtividade da terra cultivada com esta cultura é condicionada a variáveis agrometeorológicas (climáticas) como: tempertura, radiação solar e precipitação, que se influenciam e interferem positivamente ou negativamente, provocando oscilações na produção estimada (ADAMS et al., 1998; FOCHEZATTO; GHINIS, 2009).

A interação ente os fenômenos climáticos podem produzir efeitos caracterizados como mudança climática e variabilidade climática, sendo que o primeiro consiste em alterações, em longo prazo, na temperatura, na precipitação e em outras variáveis climatológicas, sendo um fenômeno que acompanha a Terra desde a sua origem. Já variabilidade climática é a expressão da variação dos parâmetros climáticos em um período, sendo determinada pela frequência de valores de temperatura e precipitação, que se desviam da média. Dessa forma, eventos de anos mais quentes ou menos quentes, que reflitam em alterações das temperaturas máximas e mínimas, bem como em anos chuvosos ou secos, caracterizam a variabilidade climática (IPCC, 2016).

Relatórios divulgados pelo IPCC (2016) demonstram que a variabilidade climática tem ocorrido com mais frequência, impactando diretamente na produtividade dos grãos. Dessa forma,

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uma redução no nível das chuvas, sobretudo quando acompanhadas de aumentos de temperatura, coloca em risco o abastecimento de alimentos para a população, forçando a elevação dos preços desses produtos (ADAMS et al., 1998).

Os países em desenvolvimento tendem a ser mais vulneráveis a esses choques devido a forte dependência da agricultura, falta de recursos técnicos e financeiros, acentuando a pobreza, forçando a migração para áreas mais agricultáveis. Birthal et al. (2015) destaca ainda que uma ocorrencia de eventos climáticos extremos em paises subdesenvolvidos, afetaria de forma drástica sua população.

A produção de soja tem avançado continuamente em razão de expressivos aumentos em seu índice de produtividade. Na região Centro-Oeste este avanço é mais acentuado devido a existência de extensas áreas de pastagens degradadas que estão sendo apropriadas para o plantio de grãos (HIRAKURI; LAZZAROTO, 2014). No estado de Goiás, a expansão da produção de soja se manifesta como uma dinâmica de uso de solo decorrente da atratividade de fatores locacionais que evidenciam vantagens comparativas desta região (ABDALA, 2012) e do desenvolvimento da pesquisa fitotécnica e de melhoramento genético, cujo objetivo foi o aumento da produtividade, como resposta em resistência à pragas e doenças, adubação, densidade e adequação da época de semeadura (BEZERRA et al., 2015).

Apesar dessa expansão, o estado de Goiás pode ser caracterizado pela ocorrência de acentuada variabilidade climática, sobretudo devido à manifestação de prolongadas estiagens em meio à estação chuvosa (veranicos) que interferem diretamente nas atividades agrícolas, sendo responsáveis por níveis significativos de decréscimo em produção de soja e gerando grande impacto na economia local. Dessa forma o estudo e quantificação dos impactos dos desvios de precipitação na produtividade da soja são de fundamental importância para o planejamento do desenvolvimento do estado de Goiás, que tem no agronegócio um importante setor na geração de riqueza.

Logo, dado o efeito da evolução tecnológica na produtividade das terras cultivadas com soja no estado de Goiás, o objetivo do presente estudo é responder a seguinte questão: qual a contribuição desta evolução tecnológica em termos de mitigação dos efeitos da variabilidade climática na produtividade da terra?

A resposta a essa questão possibilita gerar informações estratégicas para tomada de decisão de atores sociais e econômicos relacionados ao setor, tais como instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, agências de financiamento, seguro rural e planejamento das atividades agrícolas, bem como para os produtores e demais stakeholders. As discussões propostas são fonte do trabalho de dissertação (VALE, 2017).

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS DO ESTADO DE GOIÁS

Segundo Mariano, Santos e Scopel (2005) as chuvas nas regiões tropicais condicionam os rendimentos das culturas, principalmente das temporárias, fornecendo insumos hídricos para o desenvolvimento fenológico das mesmas. O clima na região Centro-Oeste brasileira é influenciado por fatores dinâmicos e físico-geográficos. Os fatores dinâmicos correspondem à circulação atmosférica. As principais circulações que atingem a região Centro-Oeste do Brasil são: 1) sistema de circulação perturbada de oeste, que ocorre no final da primavera e início de outono, e no verão, quando a região é afetada por ventos, chuvas e trovoadas; 2) sistema de circulação perturbada do norte, que influencia o Mato Grosso e o norte de Goiás, no verão e no outono; 3) sistema de circulação perturbada do sul, que apresenta características diferentes no verão, apresentando baixa pressão no interior do continente, o que dificulta a invasão do anticiclone polar, ocasionando chuvas frontais e pré-frontais (CAVALCANTI et al., 2009).

Os fatores físico-geográficos referem-se ao posicionamento continental, à extensão latitudinal/longitudinal e ao relevo e condicionam a tipificação climática. O clima do estado de Goiás é o tropical sazonal e o posicionamento geográfico do estado determina o clima tropical, com pequenas invasões de ar frio de origem polar durante o semestre. O inverno é seco, com baixa umidade do ar, principalmente nos períodos de junho e julho (MARIANO, 2010).

A temperatura média anual está em torno de 22ºC e 23°C, com máximas mensais que não variam muito ao longo dos meses do ano, mas podem chegar a mais de 40ºC. A precipitação média anual fica entre 1.200 e 1.800 mm e apresenta uma grande estacionalidade, concentrando-se entre os meses de outubro a março, nas estações de primavera e verão, considerados os mais chuvosos. Ocorrem também curtos períodos de seca, em meio à estação chuvosa, denominados de veranicos (MARCUZZO; FARIA, 2012).

O intervalo entre os meses de maio a setembro é considerado período seco, influenciado pela massa de ar tropical continental que, apesar de úmida, com o avanço para o continente perde essa umidade nas regiões Sul e Sudoeste do país, antes de chegar ao estado de Goiás, principalmente pelas chuvas orográficas, restando somente as temperaturas altas, além de empurrar a massa de ar equatorial continental para o norte à medida que avança para o centro do país. Nesse período, os índices de precipitação ficam em uma média de 100mm a 40mm (COSTA et al., 2012).

2.2 O PAPEL DA TECNOLOGIA NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

De modo geral, a produtividade da soja pode ser associada a três fatores: os de ordem natural, como o clima e as características do solo, os artificiais, como insumos, maquinários e tecnologias, e

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os socioeconômicos, como as políticas de incentivo ao agronegócio. As ações estratégicas e tecnológicas para aumentar a produtividade consistem em: a) uso de cultivares melhoradas geneticamente, diferenciadas quanto à resistência a doenças, ciclos vegetativos e exigências de fertilidade do solo; b) distribuição espacial e temporal das cultivares; c) intensificação nos tratamentos químicos de controle de ervas, pragas e doenças em situações climáticas adversas (SANTOS, 2005).

No contexto das mudanças graduais do clima médio ao longo dos anos, os produtores agrícolas têm se adaptado em relação às mudanças ocorridas. A estruturação de um ambiente agrícola ocorre em torno de culturas e práticas apropriadas e produtivas, considerando as variáveis climáticas. Quando se trata de eventos extremos, a produtividade agrícola pode ser prejudicada por secas agrícolas, ondas de calor ou inundações (GORNALL et al., 2010).

A adoção de novas tecnologias pode reduzir significativamente as perdas de produtividade das culturas (ADAMS et al., 1998). Dentre trabalhos que analisaram a utilização tecnológica para reduzir os efeitos dos déficits e excessos hídricos, é possível destacar Di Falcon (2014) e Birthal et al. (2015). Di Falcon (2014) estudou o impacto da irregularidade da distribuição das chuvas e seus riscos para os agricultores, tendo constatado que medidas adaptativas, como a aplicação de fertilizantes e nutrientes no solo, bem como mudanças nas espécies cultivadas, podem reduzir esses efeitos.

Birthal et al. (2015) abordou a frequência, a gravidade e o aumento das secas na Índia e avaliou o seu impacto na produção de arroz. Os resultados obtidos demonstram que um terço da área de arroz na Índia é afetado pelas secas, principalmente as secas moderadas, cuja frequência tem aumentado nos últimos anos. A severidade do impacto das secas, no entanto, tem diminuído nos últimos tempos. Esse fato é atribuído a melhorias na capacidade de adaptação dos agricultores, devido à expansão das instalações de irrigação e ao incremento da disponibilidade de variedades melhoradas para os sistemas de produção de sequeiro.

Entretanto, Mendelsohn et al. (1998) e Adams et al. (1998) demonstram que as mudanças na tecnologia implicam em custos de pesquisa e desenvolvimento, relatando ocorrer vários entraves às adaptações tecnológicas, como a falta de acesso aos recursos financeiros e à assistência técnica, assim como a indisponibilidade de insumos como água e fertilizantes (ADAMS et al., 1998; MENDELSOHN et al., 1998).

Há outros fatores que influenciam a adoção de novas tecnologias, como a preferência e a adaptação dos produtores à adoção de novas práticas agrícolas (ADAMS et al., 1998).

As estratégias adaptativas minimizam as perdas a qualquer exposição de eventos extremos, gerando benefícios e permitindo ao produtor obter um controle maior sobre a produção, reduzindo

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os riscos inerentes ao cultivo. Segundo o IPCC (2007), a adaptação se refere às alterações ou mudanças em decisões relacionadas ao meio ambiente, ações antecipatórias ou reativas dos agentes, sejam eles públicos ou privados, que aumentam a resiliência e reduzem a vulnerabilidade aos eventos extremos, como secas ou enchentes. A adaptação pode ser alcançada pelo desenvolvimento de cultivares mais tolerantes, criação de centros de pesquisa com estudos relacionados à qualidade das sementes, manejos de pragas e doenças (BRYAN et al., 2013).

3 METODOLOGIA

3.1 ABORDAGENS ANALÍTICAS

Metodologicamente, é possível evidenciar três teorias comumente utilizadas para analisar os impactos do clima sobre a agricultura: a abordagem agroeconômica, por meio da função produção, a Ricardiana e o equilíbrio geral computável. O modelo agroeconômico é fundamentado em experimentos controlados, que possuem uma estimativa da produtividade de cada cultura em vários cenários climáticos. Essa abordagem tem sido usada para avaliar os impactos das mudanças climáticas sobre a produtividade agrícola e as perdas econômicas de agricultores a partir da aplicação de determinadas práticas de adaptação, porém, não considera todas as estratégias adptativas (MENDELSOHN; NORDHAUS; SHAW, 1994).

Conforme a abordagem Ricardiana, o clima afeta diretamente a produção e os efeitos desse fator geram externalidades computáveis, como as incertezas econômicas, inferindo diretamente no valor da terra. Essa abordagem parte do pressuposto de que sempre que as alterações no clima tornarem os ganhos decrescentes, o produtor, cuja característica é ser racional, tentará se adaptar, modificando suas técnicas no emprego das culturas ou praticando outros meios de exploração agrícola.

Mandelsohn, Nordhaus e Shaw (1994) desenvolveram um modelo conhecido como abordagem Ricardiana ou hedônica para avaliar a importância do clima para a agricultura dos Estados Unidos, apresentando como variável dependente o valor da terra. Os autores concluíram que as maiores temperaturas em todas as estações do ano, com exceção do outono, tendem a reduzir o valor médio da terra, enquanto a precipitação, ao contrário, implica em maiores valores para a terra.

Deschênes e Greenstone (2007) apresentaram uma limitação ao modelo Ricardiano, pois essa abordagem não considera as características não mensuráveis, como a qualidade do solo e as características de cada localidade. Por isso, os autores propuseram um modelo econométrico de dados em painel com efeitos fixos, que permite controlar as especificidades de cada localidade, estimando a relação entre temperatura e precipitação e os lucros agrícolas. Os resultados apontaram

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que as mudanças climáticas tendem a aumentar os lucros agrícolas anuais, mesmo que o efeito seja pequeno. Além disso, conseguiram captar a heterogeneidade entre os estados: alguns apresentam ganhos e outros perdas expressivas.

A metodologia utilizada por Deschênes e Greenstone (2007) também possui algumas limitações, haja vista que esse modelo não permite a inclusão de estratégias de adaptação em resposta às variações no clima. O modelo de equilíbrio geral computável determina endogeneamente preços e níveis de produção relativos e sua aplicação se justifica quando se espera que medidas ou políticas exógenas sejam capazes de gerar efeitos no equílibrio geral na economia (FOCHEZATTO; GHINIS, 2009).

Diante dessas limitações metodológicas e do objetivo pretendido por este trabalho, foi utilizada a metodologia proposta por Birthal et al. (2015), que empregou um modelo agroeconométrico para analisar a relação entre déficit hídrico e produtividade da cultura do arroz, levando em consideração as estratégias adaptativas.

Na perspectiva de Birthal et al. (2015), os agricultores tendem a adotar diversas estratégias para mitigar os efeitos da seca, como irrigação, adoção de variedades tolerantes à seca, aumento da aplicação de fertilizantes e mudança de datas de plantio. Nesse conjunto de variáveis identificadas, os autores avaliaram os efeitos das estratégias para reduzir as perdas ocasionadas pela seca, considerando a irrigação como a principal variável de controle no modelo, simulando a perda no rendimento em diferentes níveis de irrigação.

3.2 MODELO ECONOMÉTRICO

A variabilidade é produto tanto do espaço quanto do tempo e sua manifestação nunca é igual de um ano para o outro, pois ocorrem flutuações em curto, médio e longo prazo, associadas, em sua maioria, a mecanismos distintos de precipitação pluvial, interferindo diretamente no papel das chuvas e na obtenção de água pelas plantas. A variabilidade climática se manifesta a partir de variações de elementos meteorológicos, os quais podem ser persistentes por vários meses (SANTOS, 1998).

O desvio de precipitação demonstra o quanto a chuva está acima ou abaixo da média para determinado período. A média identifica o valor mensal de precipitação na região, a partir de certo período, normalmente 30 anos, dessa forma, o desvio positivo indica que as chuvas estão acima da média para o período; se negativo, abaixo da média.

Neste trabalho adotou-se como parâmetro de variabilidade climática o índice de desvio de precipitação e de temperatura, haja vista que suas variações refletem períodos de baixa ou alta pluviosidade, identificando períodos curtos, médios e longos de estiagem ou inundações, que,

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𝑖=1

𝑖=1

quando associados a diferentes combinações de desvios de temperaturas, podem agravar ou atenuar o efeito de estresse nos cultivos agrícolas (SCHNEIDER; SILVA; SANTOS, 2014) e, segundo Wilhite (2000), quando incidem no período crítico do calendário agrícola de cada região, o qual é caracterizado por uma elevada demanda hídrica, os desvios negativos de precipitação, mesmo que em curtos intervalos de tempo, apresentam alto potencial de caracterizar uma seca.

Para estimar o modelo econométrico os valores da produtividade foram ajustados em um modelo de regressão que considera um índice de desvio de temperatura e de precipitação, como variável independente e produtividade da terra (Y), como variável dependente. Foi estimada a regressão com dados em painel, por meio de observações de seção cruzada ao longo do tempo, em que o rendimento das culturas é regredido sobre o índice do desvio de temperatura e de precipitação, seu termo quadrático e suas interações com a tendência. O modelo apresentado foi concebido para analisar a interação entre as principais variáveis descritas, com o objetivo de compreender o efeito da evolução tecnológica do setor frente às adversidades climáticas. Os termos quadráticos, para índices de desvios de precipitação e temperatura, foram inseridos no modelo que pretende testar a hipótese de resposta logística aos mesmos termos no modelo, típicas de fenômenos naturais (ENRÍQUEZ, 2010).

Adotando-se a premissa de que as tecnologias de processo  dadas pelas práticas de gestão do sistema  e de produtos  dadas pelos insumos aplicados no processo produtivo  podem ser tratadas como um pacote tecnológico e sob a hipótese de que tal pacote se aprimora ao longo do tempo, é possível simplificar o sistema, reduzindo-o às variáveis de interesse da análise proposta, representada pela seguinte equação:

𝑌𝑖𝑡 = ∑𝑁 ∅𝑖𝐷𝑀 + ∑𝑁 𝜌𝑖 𝐷𝑀 ∗ 𝑇 + 𝛽1𝐷𝑝𝑖𝑡 + 𝛽2(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑝𝑖𝑡)+𝛽3(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝑇) + 𝛽4(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗

𝑇) + 𝛽5(𝐷𝑡𝑖𝑡 ) + 𝛽6(𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡) + 𝛽7(𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝑇) + 𝛽8(𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝑇) + 𝛽9(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡) +

𝛽10(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡) + 𝛽11(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝑇) + 𝛽12(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝑇) + 𝜀.

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em que:

𝑌 = Produtividade da terra sob cultivo de soja (kg/ha); ∅𝑖= representa a média de produtividade de

cada município. DM = é uma variável dummy específica para cada município que assume valor 1 se é o município observado e 0 caso contrário. A variável dummy controla efeito fixo para os municípios e equivale a média e tendência de produtividade em cada município. Dessa forma, as dummies de municípios representam variáveis de controle da heterogeneidade de fatores locacionais, tais como qualidade do solo e fatores geográficos que interagem diferentemente nas

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variáveis analisadas (temperatura, precipitação e estágio de evolução tecnológica adotado em cada município). 𝑖 = corresponde aos municípios do estado de Goiás.

N = equivale à quantidade dos municípios (247); 𝑡 = ano, que nesta pesquisa corresponde ao período entre 1990 e 2008; T representa os anos e capta a tendência de crescimento da produtividade da soja, variando de 1 a 19 e constitui uma aproximação de avanço tecnológico. A interação de T com DM permite identificar a taxa de crescimento da produtividade para os municípios, sendo outra importante variável de controle de heterogeneidade; 𝐷𝑝 = índice do desvio de precipitação, corresponde ao nível de intensidade dos desvios de precipitação ocorridos ao longo do período analisado. 𝐷𝑡 = índice do desvio de temperatura, diz respeito ao nível de intensidade dos desvios de temperatura ocorridos ao longo do período analisado e o subscrito 𝑖 e 𝑡 são respectivamente município e ano; 𝜀 = corresponde ao erro aleatório.

O índice de temperatura é expresso por:

Dt =𝑇𝐸𝑀𝑃 – 𝑇𝐸𝑀𝑃𝑀𝐸𝐷, (2)

TEMPDT

Onde 𝐷𝑡 é o índice de temperatura, T𝐸𝑀𝑃 é o valor total da temperatura mensal, 𝑇𝐸𝑀𝑃𝑀𝐸𝐷 corresponde a média mensal da temperatura e 𝑇𝐸𝑀𝑃𝐷𝑇 é o desvio de temperatura.

O índice de precipitação é expresso por:

Dp = 𝑃𝑅𝐸𝐶 – 𝑃𝑅𝐸𝐶𝑀𝐸𝐷 , (3)

PRECDP

Onde 𝐷𝑝 é o índice de precipitação, 𝑃𝑅𝐸𝐶 é o valor mensal da precipitação, 𝑃𝑅𝐸𝐶𝑀𝐸𝐷

corresponde à média da precipitação de cada mês e 𝑃𝑅𝐸𝐶𝐷𝑃 é o desvio de precipitação. O valor zero foi atribuído a todos os índices de desvios de precipitação positivos, que identificam período chuvoso, uma vez que foi adotada a premissa de que não interfeririam significativamente na perda de produtividade da soja, ou seja, o modelo se concentrou no estudo do efeito da seca na produtividade da soja. Já para o índice do desvio de temperatura, o valor zero foi adotado às todos os índices que identificaram temperaturas abaixo da média, tendo sido retidos para analise apenas aqueles que identificavam temperatura acima da média, uma vez que a condição de elevação de temperatura acentua os efeitos de escassez pluviométrica nos cultivos agrícolas.

A partir das Equações 1, 2 e 3, é possível estimar a perda no rendimento devido ao desvio de

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𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎 =𝜕𝑌𝑖𝑡 = 𝛽 + 2𝛽 𝐷𝑝 + 𝛽 𝑇 + 2𝛽 (𝐷𝑝 ∗ 𝑇) + 𝛽 (𝐷𝑡 ) + 2𝛽 (𝐷𝑝 ∗ 𝐷𝑡 ∗ 𝐷𝑝 𝜕𝐷𝑝 𝑖𝑡 1 2 𝑖𝑡 3 4 𝑖𝑡 9 𝑖𝑡 10 𝑖𝑡 𝑖𝑡 𝐷𝑡𝑖𝑡) + 𝛽11(𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝑇) + 2𝛽12(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝑇) (4) 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎 = 𝜕𝑌𝑖𝑡 = 𝛽 + 2𝛽 𝐷𝑡 + 𝛽 𝑇 + 2𝛽 (𝐷𝑡 ∗ 𝑇) + 𝛽 (𝐷𝑝 ) + 2𝛽 (𝐷𝑝 ∗ 𝐷𝑝 ∗ 𝐷𝑡 ) + 𝐷𝑡 𝜕𝐷𝑡 𝑖𝑡 5 6 𝑖𝑡 7 8 𝑖𝑡 9 𝑖𝑡 10 𝑖𝑡 𝑖𝑡 𝑖𝑡 𝛽11(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝑇) + 2𝛽12(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝑇) (5)

A derivada parcial (2) calcula a perda de produtividade decorrente dos desvios de precipitação, a derivada parcial (3) calcula a perda de produtividade decorrente dos desvios de de temperatura. O efeito marginal calculado por meio destas derivadas parciais avalia o efeito na produtividade quando aumenta o desvio. Quando os resultados da equação (2) e (3) forem positivos significa que houve ganhos na produtividade. E quando os resultados forem negativos significa que ocorreu perdas na produtividade.

A Equação (6) calcula a contribuição da tendência tecnológica à produtividade.

𝜕𝑌𝑖𝑡 = 𝛽 𝐷𝑝 + 𝛽 (𝐷𝑝 ∗ 𝐷𝑝 ) + 𝛽 𝐷𝑡 + 𝛽 (𝐷𝑡 ∗ 𝐷𝑡 ) + 𝛽 (𝐷𝑝 ∗ 𝐷𝑡 )

𝜕𝑇 3 𝑖𝑡 4 𝑖𝑡 𝑖𝑡 7 𝑖𝑡 8 𝑖𝑡 𝑖𝑡 11 𝑖𝑡 𝑖𝑡

+ 𝛽12(𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑝𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡 ∗ 𝐷𝑡𝑖𝑡) (6)

Finalmente, a derivada parcial (7) estima o efeito da evolução tecnológica, ao longo do período analisado, sobre a perda de produtividade decorrente do desvio de precipitação:

∆𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎 = 𝜕𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝐷𝑝

= 𝛽 + 2𝛽 𝐷𝑝 + 𝛽 𝐷𝑡 + 2𝛽 (𝐷𝑝 ∗ 𝐷𝑡 ∗ 𝐷𝑡 ) (7)

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Se o resultado da equação (7) for negativo e seu coeficiente significativo indica que as estratégias tecnológicas utilizadas, foram eficazes em dirimir o impacto ao longo dos anos, mitigando os efeitos dos desvios de precipitação.

3.2 BASE DE DADOS

Os dados das variáveis climáticas, temperatura e precipitação pluviométrica, foram fornecidos pelo professor Claudio Araujo, do Centro de Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento Internacional (Cerdi), da Université D’Auvergne, França. Essa base de dados constitui uma serie de dados mensais de temperatura e precipitação, para todos os municípios do Brasil e foi obtida dos dados originais de Willmott, Matsuura, que apresenta dados de precipitação e temperatura média mensal para todas as coordenadas geográficas, com variação de 0,250 graus decimais entre elas. Para sua elaboração, os valores mensais foram obtidos das estações meteorológicas disponíveis e utilizados como referência para estimar, por interpolação, os dados de precipitação de locais não amostrados (MATSUURA; WILLMONTT, 2014).

Essa base de dados foi usada devido às limitações que as outras bases forneciam, como dados incompletos ou falta de dados para alguns munícipios, dificultando a realização de estudos climáticos de longo prazo.

O recorte temporal adotado, 1990 a 2008, foi obtido a partir da verificação previa de consolidação da expansão da fronteira agrícola da soja no estado de Goiás (1990) (VALE, 2017), sendo limitada pela disponibilidade dos dados climáticos, compilados até 2008. Com a finalidade de analisar o efeito do armazenamento hídrico do solo ao longo do período de cultivo da cultura da soja, os procedimentos de cálculos foram também executados considerando a precipitação acumulada ao longo dos meses (out+nov+dez+jan+fev). Nessa abordagem mantiveram-se os mesmos parâmetros para a temperatura, ou seja, foram utilizados os meses isoladamente, devido à temperatura não ter efeito cumulativo mensal na produtividade.

Foram extraídas as médias de precipitação referentes a cada mês (outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro) e testadas as significâncias dos coeficientes para as relações entre os meses de cultivo da cultura da soja, com cada mês de precipitação individualmente e com a precipitação acumulada ao longo dos meses. Não considerou o mês de março, devido a sua inserção não ser representativa no modelo. Esse recorte temporal se justifica pela sazonalidade do ciclo vegetativo da soja e a utilização desses meses específicos ocorreu devido ao calendário agrícola no estado de Goiás, no qual os meses de outubro, novembro e dezembro correspondem ao período de plantio da soja em Goiás e os meses de janeiro a março ao de colheita (CONAB, 2015). O vazio sanitário para a soja em Goiás é de 1º de julho até 30 de setembro (Plantio permitido de 1º de outubro

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até 31 de dezembro), além de que o ajuste do sistema de produção em Goiás levou ao plantio da soja em outubro-novembro, com colheita em janeiro-fevereiro, para dar lugar as culturas subsequentes (ex. soja, sorgo etc.).

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

Os modelos que consideravam a precipitação isoladamente em cada mês de cultivo da soja não tiveram os coeficientes significativos, esse resultado confirma a hipótese de que o armazenamento hídrico do solo é importante fator de mitigação às condições de estresse hídrico ao cultivo da soja (TAVARES et al., 2013). Os resultados dos modelos de regressão estimados para este estudo são mostrados na Tabela 1 e são referentes ao modelo que considera a precipitação acumulada ao longo da estação de cultivo da cultura da soja, o primeiro modelo (primeira coluna) diz respeito ao desvio de precipitação, desvio de temperatura, tendência de variação da produtividade. O segundo modelo (segunda coluna) leva em consideração além dos desvios e tendência, as dummies para controlar a variação da produtividade por município. Por fim, o terceiro modelo (terceira coluna) além das variáveis anteriores, considera também a tendência de variação da produtividade por município, ou seja, acrescenta-se mais informação em cada um dos modelos.

Tabela 1 – Estatística descritiva dos modelos estimados

(1) (2) (3)

produtividade produtividade produtividade

𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎çã𝑜 -251,80 -206,02 -306,97* (166,23) (160,43) (158,66) 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎çã𝑜2 313,96** (154,35) 269,75* (148,02) 238,49 (145,47) 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎çã𝑜 𝑇𝑒𝑛𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎 20,89 (15,71) 14,25 (15,31) 14,41 (15,18) 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎çã𝑜2 𝑇𝑒𝑛𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎2 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑇𝑒𝑛𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎2 -32,29** (13,22) 1103,19*** (196,72) -557,77*** (159,32) -97,89*** (16,02) 63,41*** -24,04* (12,82) 148,02 (189,14) -628,52*** (153,20) -95,49*** (15,49) 68,51*** -12,91 (12,78) 1082,95*** (185,31) -802,18*** (151,64) -102,75*** (15,39) 87,07***

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𝑇𝑒𝑛𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎çã𝑜 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎çã𝑜2 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎2 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎çã𝑜² 𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎² 𝑇𝑒𝑛𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎 (14,46) -877,54*** (206,47) 152,52*** (44,03) 42,01*** (15,44) (13,91) -748,82*** (195,31) 159,66*** (41,94) 27,55* (14,81) (13,89) -451,89** (191,95) 149,09*** (40,50) 4,85 (14,77) R2 0.5037 0.5871 0.6410 AIC 19723,0 19624,6 19594,5 BIC 19754,2 20020,4 20354,7 Estatística F 112,98 21.95 14,05

Os valores entre parênteses expressam a variação do estimador. ***, ** e * determinam a significância de 1%, 5% e 10% respectivamente.

Dentre os coeficientes estimados, observa-se que não houve mudança de sinal à medida que se incorporava mais informação ao modelo. Porém, alguns coeficientes tornaram-se significativos e outros deixaram de ser significativos para o modelo. Isso indica que a introdução de variáveis de controle para diferenças de média e para diferenças de tendência de crescimento entre os municípios são importantes para explicar a produtividade da soja em Goiás e que a não inclusão de tais variáveis levaria a vieses nos coeficientes estimados.

O quadrado da precipitação foi se tornando menos significativo à medida que se acrescentou mais informações ao modelo, assim como o efeito da interação do quadrado do desvio de precipitação e tendência e também o efeito da interação do desvio de precipitação, desvio de temperatura e tendência. Os outros coeficientes se mantiveram significativos com os acréscimos de informações aos modelos.

Analisando as diferenças em relação ao R² e aos valores de AIC, é possível observar que o primeiro modelo explica 50,37% da produtividade da soja, o segundo modelo explica 58,71% e o terceiro modelo 64,10%, valor esse que, confirmado pelo menor AIC, permite concluir ser este o modelo com maior poder de explicação.

Quantificada a contribuição da tendência tecnológica à variação da produtividade da soja (Equação 6), foi possível concluir que as tecnologias e a utilização de insumos, conseguiram um aumento médio na produtividade da soja de 66,84 kg/ha/ano, o que totaliza um ganho de aproximadamente 1000kg/ha para o período analisado.

A equação cujas significâncias são analisadas na Tabela 1 possui coeficientes com interações entre diversas variáveis, dificultando a interpretação dos efeitos marginais do desvio de precipitação

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e de temperatura, bem como dos testes estatísticos de significância. Para contornar essa dificuldade, os resultados dos efeitos marginais foram apresentados em suas formas gráficas, interagindo com seus erros-padrão, calculados pelo método delta sobre a média da amostra, para intervalo de confiança de 95%.

A Figura 1 mostra o efeito marginal do desvio de precipitação na produtividade.

Figura 1 – Efeito marginal do desvio de precipitação na produtividade

Fonte: Dados da pesquisa.

A relação direta e marginal (Figura 1), indica que para cada aumento de 0,1 no desvio da precipitação média a produtividade cai (valor negativo) até o limite de 0,85 desvios, a partir do qual não existe mais perda de produtividade em um intervalo de 95% de confiança, o qual compreende o valor 0 para todos os demais desvios. Esse resultado sugere que a partir de 0,85 desvio da média de precipitação já houve perda total na produtividade devido aos deficits hídricos.

A Figura 2 apresenta o efeito marginal da temperatura na produtividade, indicando que as variações da temperatura acima da média não tiveram influência significativa.

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Figura 2 – Efeito marginal do desvio de temperatura na produtividade

Fonte: Dados da pesquisa.

Quando se analisa o efeito do desvio de temperatura positivo (Figura 2), observa-se que, inicialmente ele é igual a zero até aproximadamente 1 desvio e após o efeito marginal, é diferente de zero. Entretanto o intervalo de confiança fica muito próximo a zero, fazendo com que o efeito seja quase nulo. Esse resultado sugere que os desvios em relação a média de temperatura não foram suficientes para comprometer a produtividade, ou seja as variações de temperatura ocorridas no estado de Goiás compreendem a faixa de temperatura ideal para a cultura da soja.

Apesar de o efeito do desvio de precipitação ter sido mais significativo do que da temperatura no efeito marginal da produtividade ao longo do tempo, é importante destacar que o coeficiente da interação do desvio de precipitação com o desvio de temperatura foi significativo, o valor negativo indica que quando a temperatura está acima da média e a chuva está abaixo da média, há menor produtividade da soja.

Finalmente, a mitigação das perdas de produtividade em relação aos desvios de precipitação devido ao agregar tecnologias na cultura da soja, representada pela Equação (7), calculada para o ponto médio, tem seus resultados apresentados na Figura 3.

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Figura 3 – Efeito marginal do desvio de precipitação na produtividade ao longo dos anos

Fonte: Dados da pesquisa.

É possível observar que o efeito marginal dos desvios de precipitação média (Figura 3), foi reduzindo ao longo do período analisado. Os resultados permitem concluir que, em média, houve uma contribuição de 100 kg/ha ao longo do período analisado, ou seja, as perdas médias, que eram de 300 kg/ha, em 1990, passaram a ser de 200 kg/ha, em 2008. Esse resultado, confirmado pelo coeficiente desse parâmetro (desvio de precipitação versus tendência) não significativo (Tabela 1), sugere que as tecnologias e a aplicação de insumos têm contribuído timidamente para mitigar os efeitos dos desvios de precipitação média no estado de Goiás.

Se a distribuição dos eventos climáticos se mantiver constante ao longo do tempo, pode ocorrer mudança no nível de tolerância de uma cultura, ocasionando uma modificação no nível de rendimento. Os resultados apontam que uma redução no nível de tolerância a esses eventos resulta na diminuição da produtividade de uma cultura e um acréscimo no nível de tolerância tem como consequência o avanço da produtividade.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estado de Goiás, ao longo do período estudado, a produtividade da terra sob cultivo de soja foi significativamente afetada pela variabilidade climática. Dentre os parâmetros analisados, os desvios negativos de precipitação foram mais significativos do que os desvios positivos de temperatura, os quais tiveram pouca influência devido ao seu efeito na produtividade estar associados ao efeito da precipitação, sendo, portanto, significativo apenas quando ocorre o déficit hídrico.

As perdas médias decorrentes de desvios negativos da média de precipitação foram de 306,97 kg/ha e, quando associadas a altas temperaturas, podem alcançar 451,9 kg/ha. O incremento tecnológico e a aplicação de insumos não foram significativos em mitigar as perdas em produtividade ao longo do período analisado.

Entretanto, os resultados de adaptação tecnológica à essas adversidades sofrem alterações de acordo com as estratégias produtivas locais, pois diferentes regiões podem adotar diferentes tecnologias, uma vez que elas sofrem influência de disponibilidade de capital, investimentos e fatores exógenos, como as características geográficas do local.

O modelo permitiu analisar os efeitos dos desvios de precipitação na produtividade, porém, apresentou limitações quanto à base de dados, uma vez que os dados encontrados se localizam no período até o ano de 2008. Desse modo, esse fator limitante direciona para o desenvolvimento de uma pesquisa com a utilização de uma base de dados mais atualizada, que permita analisar a relação com os eventos relacionados às mudanças climáticas. Além disso, o modelo considera, em conjunto, todas as tecnologias e o aumento da aplicação de insumos, sendo interessante a sua desagregação para o estudo de tecnologias específicas para a mitigação dos efeitos estudados. Os resultados aqui obtidos referem-se aos valores médios encontrados para os parâmetros das equações, sendo de interesse analisar os resultados para valores extremos, por meio de testes de sensibilidade. Dadas às limitações de escopo deste trabalho, sugere-se sua continuidade em futuras publicações.

Considerando a heterogeneidade nos ambientes de produção da soja, uma vez que podem ocorrer variações nos impactos dos desvios na produtividade devido às estratégias adaptativas, recursos ambientais e insumos utilizados, a adaptação é o fator chave para superar as mudanças de rendimento ocorridas em razão dos desvios de precipitação.

Em virtude dos estudos de mudanças climáticas sugerirem aumento na intensidade e frequência de eventos de seca, considerando como resultado o aumento dos seus impactos, verifica- se a necessidade de ações dos setores públicos e privados, voltados para a redução e a minimização de seus efeitos. Nessa perspectiva, este estudo pode servir como um guia para o direcionamento de

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pesquisas e investimentos em tecnologias para melhorar a produtividade da terra em níveis de escassez hídrica mais severa.

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Imagem

Tabela 1 – Estatística descritiva dos modelos estimados
Figura 1 – Efeito marginal do desvio de precipitação na produtividade
Figura 2 – Efeito marginal do desvio de temperatura na produtividade
Figura 3 – Efeito marginal do desvio de precipitação na produtividade ao longo dos anos

Referências

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