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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências

Instituto de Geografia

Hebert Guilherme de Azevedo

Projeto de emancipação do Alcântara e política integracionista de São Gonçalo: conflitos discursivos, razões do fracasso e

atualidade da questão.

Rio de Janeiro

2014

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Hebert Guilherme de Azevedo

Projeto de emancipação do Alcântara e política integracionista de São Gonçalo: conflitos discursivos, razões do fracasso e atualidade da questão.

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico

Orientador: Prof. Dr. Miguel Angelo Campos Ribeiro

Rio de Janeiro 2014

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CATALOGAÇÃO NA FONTE

UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/C

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que citada a fonte.

________________________________________________ ____________________________________

Assinatura Data

A994 Azevedo, Hebert Guilherme de.

Projeto de emancipação do Alcântara e política integracionista de São Gonçalo: conflitos discursivos, razões do fracasso e atualidade da questão / Hebert Guilherme de Azevedo. ± 2014.

164 f. il.

Orientador: Miguel Ângelo Campos Ribeiro.

Dissertação (Mestrado) ± Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geografia.

Bibliografia

1. Geopolítica ± Alcântara (São Gonçalo, RJ) - Teses.

2. São Gonçalo (RJ) ± Política e governo - Teses. 3.

Municipalização ± Alcântara (São Gonçalo, RJ) ± Teses.

I. Ribeiro, Miguel Ângelo Campos. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Geografia. III.

Título.

CDU 91:327(815.3)

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Projeto de emancipação do Alcântara e política integracionista de São Gonçalo: conflitos discursivos, razões do fracasso e atualidade da questão.

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico

Aprovado em 11 de agosto de 2014.

Banca Examinadora:

_______________________________________________

Prof. Dr. Miguel Angelo Campos Ribeiro (Orientador) Instituto de Geografia - UERJ

_______________________________________________

Prof. Dr. Ulisses da Silva Fernandes Instituto de Geografia - UERJ

_______________________________________________

Prof.ª Dra. 0DULD0{QLFD9LHLUD&DHWDQR2¶1HLOO Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Rio de Janeiro 2014

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DEDICATÓRIA

Dedico à minha família: meu apoio, meu lar, meu norte.

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Inicialmente gostaria de registrar meus agradecimentos a minha família, por todo apoio e suporte que me deram ao longo dessa caminhada, desde os tempos da graduação até agora. Em especial gostaria de agradecer a ajuda da minha irmã Maiara Moreira Bacellar e meu cunhado Vinicius Costa Marinho durante as transcrições das reportagens, sem a qual essa atividade não seria exequível em tempo hábil.

Também gostaria de agradecer ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ter aceito minha proposta de pesquisa, em especial ao meu orientador, Professor Miguel Angelo Campos Ribeiro, que sempre acreditou em mim e na qualidade do meu trabalho, mesmo quando fraquejei em dúvida, muito obrigado por tudo professor. Também não posso deixar de registrar meus agradecimentos a Ciro Marques Reis e Marta Rodrigues de Oliveira, pelas constantes palavras de incentivo e ao Professor André Reyes Novaes pelas valiosas indicações bibliográficas.

Agradeço à Biblioteca Nacional, ao arquivo do jornal O São Gonçalo, a Biblioteca Municipal Joaquim Lavoura e a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro pelo acesso aos documentos basilares a execução desta pesquisa.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior agradeço por disponibilizar a bolsa de estudos que permitiu cursar o primeiro ano do mestrado.

À todos os amigos e familiares que me ajudaram nesse caminhar, os quais são tantos que não cabe listar a todos nominalmente, de São Gonçalo, do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, que não me deixaram esmorecer e desistir, meus sinceros agradecimentos.

3RUILPPHDSURSULDQGRGDH[SUHVVmRGRP~VLFR-RmR%RVFR³%ULJDGRJHQWH´

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RESUMO

AZEVEDO, Hebert Guilherme de. Projeto de emancipação do Alcântara e política integracionista de São Gonçalo: conflitos discursivos, razões do fracasso e

atualidade da questão. 2014. 164 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) ± Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2014.

O processo de tentativa de emancipação do Alcântara, transcorrido em finais de 1995 sem que o município fosse criado, é um dos casos de fracasso em pleno SHUtRGR GHQRPLQDGR ³)HEUH (PDQFLSDWyULD´, em que diversos municípios foram criados. Para compreender o insucesso deste caso analisaremos, por meio da Geopolítica Crítica e da análise dos discursos, os diferentes grupos representados, bem como sua argumentação para a divisão ou a manutenção do território. A identificação dos grupos representados, bem como dos argumentos mobilizados por estes grupos, nos permitiram inferir, em comparação com aqueles que tiveram êxito na emancipação, as razões do exemplo em estudo não ser exitoso. Adicionalmente foram discutidas a regulamentação da escala local no Brasil, bem como a dinâmica social recente do município de São Gonçalo, para apontar as possibilidades de um novo movimento em prol da emancipação, apontando-se a potencialidade de um novo movimento emancipatório, seja pela construção de um aparato jurídico que regulamente a restrição imposta a criação de novos municípios, seja pelas disparidades entre as áreas que foram alvo deste movimento.

Palavras-chave: Alcântara. Município de São Gonçalo. Emancipação. Geopolítica Crítica. Discurso. Constituição de 1988.

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AZEVEDO, Hebert Guilherme de. Emancipation project of Alcantara and

integrationist politics of São Gonçalo: discursive conflicts, reasons for failure and actuality of the question. 2014. 164 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) ± Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.

2014.

The process of attempted emancipation of Alcântara, passed in late 1995 without the municipality was created, is a case of failure in full period called "Fever Emancipation", in which several municipalities were created. To understand the failure of this case we analyze, through the Critical Geopolitics and discourse analysis, the different groups represented, as well as their arguments for the division or territory maintenance. The identification of the groups represented, as well as the arguments mobilized by these groups, allowed us to infer, compared with those who had successful emancipation, the reasons for such a study not be successful. In addition to regulation of local scale in Brazil were discussed, as well as recent social dynamics of São Gonçalo, to point out the possibilities of a new movement for emancipation, pointing out the potential of a new emancipatory movement, either by construction a legal apparatus that regulates the restriction imposed the creation of new municipalities, either by disparities in areas that were the target of this movement.

Keywords: Alcântara. São Gonçalo. Emancipation. Critical Geopolitics. Speech.

Constitution of 1988.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema conceitual da Geopolítica Crítica. ... 23 Figura 2 - Projeto da linha três do metrô do Rio de Janeiro. ... 102

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Quadro 1 - Periodização da modernização do território e regulamentação do

poder local... ... 41

Quadro 2 - Principais alterações da regulamentação do poder local no Brasil (1446 ± 1967) ... 44

Quadro 3 - Municípios criados conforme o período ... 48

Quadro 4 - Argumentos Prós e Contra. ... 72

Tabela 1 - Resumo da votação ao plebiscito ... 74

Tabela 2 - Reportagens levantadas e analisadas por jornal ... 75

Tabela 3 - Comparação das informações demográficas entre Alcântara e São Gonçalo (2000 ± 2010) ... 83

Tabela 4 - Comparação da renda média entre as áreas ... 89

Tabela 5 - Índice de estrutura urbana média das áreas ... 94

Tabela 6 - Candidatos eleitos segundo a área ± 2000 a 2012 ... 96

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Localização da área estudada ... 13

Mapa 2 - Periodização das emancipações entre 1964 e 2013 ... 49

Mapa 3 - Distribuição dos domicílios em 2000 ... 85

Mapa 4 - Distribuição dos domicílios em 2010 ... 86

Mapa 5 - Distribuição do incremento domiciliar (2000 ± 2010) ... 87

Mapa 6 - Distribuição da renda média em salários mínimos (2000) ... 90

Mapa 7 - Distribuição da renda média em salários mínimos (2010) ... 92

Mapa 8 - Distribuição do incremento da renda média em relação ao aumento do salário mínimo (2000 ± 2010) ... 93

Mapa 9 - Distribuição do grau de estrutura urbana (2010) ... 95

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INTRODUÇÃO... 12

1 TERRITÓRIO E PODER: APORTES CONCEITUAIS PARA COMPREENSÃO DAS LUTAS EMANCIPATÓRIAS... 18 1.1 Linhas de renovação do campo da Geopolítica: a Geopolítica Crítica... 19

1.2 Poder e território: dimensão política do espaço... 24

1.3 Poder, instituições e norma: meios de apropriação do espaço... 31

1.4 Discurso e disputas territoriais... 35

2 REGULAMENTAÇÃO JURÍDICA TERRITORIAL BRASILEIRA E SUA EVOLUÇÃO ... 40

2.1 Estatutos jurídicos da escala local anteriores a constituição de 1988... 40

2.2 O município e a dinâmica territorial após a constituição de 1988... 45

2.3. Visões sobre os processos de divisão municipal... 64

3 PROJETO EMANCIPATÓRIO DO ALCÂNTARA: PROPOSTA E RAZÕES DA FALÊNCIA... 71

3.1 O projeto emancipatório e seus desdobramentos ... 71

3.2 Dinâmica social e avaliação de uma potencial emancipação do Alcântara... 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 98

REFERÊNCIAS... 103

ANEXO A - Listagem dos 50 municípios mais populosos do Brasil (2010)... 110

ANEXO B - Reportagens analisadas ... 111

ANEXO C - Dados de domicílios por Bairro (2000 ± 2010)... 154

ANEXO D- Dados de população por Bairro (2000 ± 2010... 156

ANEXO E - Dados de renda por Bairro (2000 ± 2010)... 158

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ANEXO F - Distribuição por bairro do índice de estrutura urbana... 160

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INTRODUÇÃO

A dinâmica da sociedade impõe ao espaço, enquanto uma construção social, diversas transformações, impulsionando mudanças estruturais, sociais e das relações de poder espacialmente delimitadas. O espaço urbano, compreendido enquanto uma expressão espacial da sociedade, uma forma geográfica que apresenta características distintivas, como a concentração populacional e de recursos, centro difusor de inovações e espaço de trocas comerciais e lutas sociais (CORRÊA, 1993) será tema central na presente dissertação, a partir das relações de poder, corporificadas nos movimentos de criação de novos municípios, tendo como foco um exemplo empírico que apresenta algumas peculiaridades em relação aos GHPDLV FDVRV RFRUULGRV j PHVPD pSRFD QR %UDVLO FRQKHFLGD FRPR ³)HEUH Emancipatória (1985 ± 1996)´$VVLPDGLVFXVVmRFRQWLGDQo presente trabalho tem como elemento norteador a ideia de que o ponto central do discurso e dos debates acerca da emancipação, em relação ao exemplo analisado, são as possibilidades de acesso aos serviços urbanos e a proximidade aos centros decisórios responsáveis pela disponibilização de tais serviços.

A discussão sobre os movimentos emancipatórios municipais nos encaminha a uma área temática em que as relações entre espaço e poder devem ser debatidas.

Tais relações manifestam-se em diversos níveis, dentre os quais destacaremos: em nível político e eleitoral, considerando-se o modelo representativo brasileiro, compreendendo que a articulação de agentes políticos locais e a formação de seus redutos eleitorais torna-se primordial ao entendimento destes movimentos, haja vista que muitos dos atores sociais que conduzem tais processos, seja como proponentes da emancipação, ou enquanto oposição a tais movimentos, são representantes políticos em cargos eletivos, ou do secretariado municipal; em nível econômico, considerando que o município é um ente federativo, com poderes arrecadatórios e de legislar sobre seu território, a disputa em torno das arrecadações locais, os repasses dos demais entes federativos, e a distribuição destes recursos auxiliam ao entendimento destes conflitos, ao localizar grupos de interesse na manutenção do status quo e grupos insurgentes a ordem instituída, considerando principalmente, a

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carência de infraestrutura instalada, e em nível social, analisando os discursos e as representações elaborados e mobilizados ao longo destes processos, afeto ao modo como os atores centrais articulam a população a partir de representações da realidade moldadas aos seus interesses (SIMÕES, 2007).

Neste contexto, o objetivo da presente dissertação é compreender a dimensão política do espaço à escala do urbano, atinente a um caso específico: a tentativa de criação de um novo município, exemplificado neste trabalho pelo Alcântara que seria desmembrado do município de São Gonçalo ± RJ, localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, na margem oriental da Baía de Guanabara, conforme indicado no mapa 1.

Mapa 1 - Localização da área estudada

Fonte: Organizado por AZEVEDO, 2014, a partir de IBGE, 2010.

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Ademais buscaremos, a partir de jornais da época da realização da consulta plebiscitária, identificar os grupos envolvidos, bem como os discursos e as representações desenvolvidas por tais atores. Outra inquietação a respeito do tema surge da percepção, enquanto morador da área que seria emancipada, das possíveis vantagens da separação política, apreensão esta partilhada entre inúmeros conterrâneos ao qual se pretende analisar detalhadamente, entretanto, embasado em uma perspectiva teórica e com base em dados e informações que referenciam tal pesquisa.

Posto isto, em Por uma Geografia do Poder, Raffestein (1993) nos convida a pensar como os poderes se organizam espacialmente e como este tem o território como um dos seus trunfos, redimensionando o campo da Geografia Política, descentralizando-a da figura do Estado Nacional para pensar os poderes internos, inerentes a sua estrutura. Outra leitura é a chamada Geopolítica Crítica e segundo Thuathail, (1996) precursor desta perspectiva, o seu desejo, junto com John Agnew era pensar a geopolítica em termos mais amplos, iniciando por uma visão Foucaultiana de que a geopolítica compreendida como discurso é, também, uma forma de poder.

Este repensar a Geopolítica tomou quatro teses como premissas: (a) a geopolítica não é uma atividade restrita aos especialistas; (b) a existência de dois tipos de práticas geopolíticas, a formal, exercida pelos acadêmicos e pensadores geopolíticos e a não formal ou prática exercida pelos políticos, militares e outros agentes do estado; (c) a terceira tese diz respeito à consideração das comunidades interpretativas e dos contextos locais, regionais, nacional e global daqueles que escrevem e por último (d) pensar os contextos em que os discursos são proferidos dentro de um quadro não estatal, ou seja, em que as conjunções de forças entre os estados são algumas dentre as várias redes de poder. A partir desta matriz teórica encaminhamos o presente trabalho, buscando compreender a conjunção de forças locais em um momento singular de sua conjuntura geopolítica: a emancipação municipal.

Os movimentos em torno da criação de novos municípios são momentos em que o conflito entre as lideranças políticas que atuam no plano local se tornam mais patentes e, por isso, são momentos privilegiados para o estudo do geógrafo

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preocupado com a dimensão política do espaço urbano. Isto ocorre, pois, diferente dos embates cotidianos em torno do uso dos espaços da cidade, este é um momento de delimitação formal do conjunto citadino, que reconfigura o equilíbrio de forças de poder, tendo reflexos legalmente consubstanciados. Assim, esta análise de um movimento que não logrou êxito mostra como o grupo hegemônico continuou a se perpetuar no poder.

Exposta a problemática a qual buscamos entendimento podemos sistematizar a presente dissertação em torno da seguinte questão central: quais foram os discursos desenvolvidos em torno do projeto emancipatório do Alcântara?

A partir desta questão central desdobramos a seguinte sub-questão: as razões que justificavam a emancipação ainda podem ser observadas nesta localidade?

Enquanto morador da referida área a observação da dinâmica social, dos serviços prestados, bem como da organização espacial levou a consideração do tema a ser compreendido, tal inquietação converge com a visão enquanto estudioso do campo da geografia, interessado em compreender os arranjos espaciais do poder levados a cabo neste conflito, eminentemente territorial, a emancipação municipal.

Assim a justificativa desta pesquisa dá-se tanto em nível pessoal quanto profissional.

As fontes de dados utilizadas incluem arquivos da documentação do processo de emancipação (ALERJ, 1995) e dados estatísticos dos Censos 2000 e 2010 (IBGE, 2013), agregados por setores censitários, para o entendimento geral da organização espacial e social dos municípios propostos, Alcântara e São Gonçalo, considerando a dinâmica atual, em um quadro em que não houve a requerida emancipação.

Buscando compreender a conformação dos grupos de interesse envolvidos, utilizaremos os discursos e representações mobilizados a época a partir dos jornais ORFDLV³2)OXPLQHQVH´³1RVVR-RUQDO´ H³26mR*RQoDOR´LGHQWLILFDQGRRVDWRUHVH grupos sociais envolvidos, bem como suas representações. A escolha destes periódicos foi feita devido ao fato de terem como foco a área em estudo, o primeiro abrangendo todo o leste fluminense, o segundo apenas o município de São Gonçalo e o terceiro apresentando também matérias de interesse das municipalidades de Niterói e Itaboraí. Assim tais publicações nos possibilitam compreender os discursos elaborados e distribuídos localmente. A partir de dados Censitários e estatísticos

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buscaremos compreender a situação atual das localidades, caso emancipados, com o intuito de avaliar se os questionamentos levantados enquanto razões para a emancipação ainda são pertinentes. As informações levantadas são tratadas a partir de processos estatísticos (tabelas e séries temporais) e de mapeamento (mapas), bem como, o escrutínio da documentação jornalística a partir da análise do discurso.

Nesta apreensão tomaremos como aporte conceitual a definição de Foucault (2012) HP TXH ³R GLVFXUVR QmR p VLPSOHVPHQWH DTXLOR TXH WUDGX] DV OXWDV RX RV sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta, o poder do qual nos queremos DSRGHUDU´S$VVLPGLVFXWLUDVUHODo}HVGHSRGHUHVSacializadas a partir dos discursos nos encaminha a discussão dos meios mobilizados para se alcançar um fim determinado, ou em outros termos para estabelecer a assimetria entre os entes de uma relação (CASTRO, 2011).

Neste contexto, a dissertação encontra-se estruturada em três capítulos. No primeiro serão discutidas as concepções teóricas basilares ao estudo, a partir da bibliografia especializada consultada, em que serão discutidos no primeiro item as matrizes do subcampo disciplinar da Geopolítica, considerando-se três momentos da produção acadêmica desta área, um primeiro momento, de finais do século XIX, com a institucionalização da Geografia, até a Segunda Guerra Mundial, ao qual denominaremos Geopolítica Clássica, posteriormente, com a estigmatização da Geopolítica, encarada como discurso acadêmico dos estados totalitários derrotados durante a guerra, têm-se um longo hiato, em que a produção fora pouco representativa, desde 1945 até a década de 1980, aproximadamente. O terceiro momento, marcado pela retomada do tema, em novos termos, caracteriza-se pela diversidade de matrizes teóricas e metodológicas que embasam tais estudos, desde a teoria social crítica, a análise espacial até leituras da micropolítica, definindo o pluralismo de abordagens, temas e questões passíveis de estudo.

Neste capítulo discutiremos também alguns conceitos fundamentais ao entendimento da problemática, sendo eles os conceitos de poder e norma, entendendo-os como relações de regulação social inerentes ao fazer humano, e território e territorialidade, representando a face geográfica das relações de poder e da imposição da norma. Tais conceitos nos permitem estudar a relação entre sociedade, poder e espaço.

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No segundo capítulo o enfoque será dedicado a discutir as regulamentações jurídicas em relação ao poder local, destacando-se o período após a Constituição Federal de 1988 e posteriormente, debatido o tema da emancipação municipal a partir de diferentes vieses analíticos.

O terceiro capítulo será dedicado ao estudo do projeto emancipatório e seu desdobramento a época do plebiscito realizado com a população afetada, a partir de reportagens dos jornais locais da época, buscando identificar os grupos e atores sociais envolvidos neste processo. O distanciamento no tempo da questão, transcorrida em finais de 1995, impôs grande dificuldade na obtenção de dados primários nos arquivos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, não tendo sido localizados outros documentos para subsidiar a identificação de tais grupos, a exceção do memorial descritivo de delimitação do município proposto e da homologação da votação, o que nos levou a escolher os jornais como fontes principais de informações. Ao final, a partir de dados sociais e demográficos levantaremos a questão acerca da pertinência da emancipação do Alcântara, ante a dinâmica demográfica, de renda, eleitoral e da estrutura urbana entre 2000 e 2010.

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1 TERRITÓRIO E PODER: APORTES CONCEITUAIS PARA COMPREENSÃO DAS LUTAS EMANCIPATÓRIAS.

Antes de iniciarmos a análise do problema proposto nesta dissertação é conveniente apontarmos as bases teóricas e conceituais que irão balizar nossas leituras, as quais buscam dar inteligibilidade ao processo observado. Neste sentido, explicitar o campo de estudo, bem como os aportes teóricos e conceituais que embasam a pesquisa é uma estratégia de direcionamento da leitura da realidade. O campo de estudo a ser trilhado nesta pesquisa é o da Geografia Política ou da Geopolítica1.

Para Castro (2011) o campo da Geografia Política se define a partir da relação entre a política, como expressão e modo de controle dos conflitos sociais, e o território, enquanto base material e simbólica da sociedade, sendo um conjunto de ideias políticas e acadêmicas sobre as relações entre geografia e política e vice- versa. A definição deste campo de pesquisa, na concepção da autora, parte das questões e conflitos de interesses que produzem disputas e tensões sociais materializadas em determinados arranjos territoriais, em que alguns atores irão impor sua organização sobre os demais. Tal campo, com a incorporação de questões relativas à identidade política foi ampliado para além do temário clássico da disciplina. A multiescalaridade de atuação dos atores, que podem ser individuais ou institucionais, traz consigo uma nova complexidade em tratar das questões políticas, tendo-se em vista que estes convivem com entidades e atores espacialmente delimitados, levando a convivência de espacialidades múltiplas.

Agnew, Mitchell e Toal (2008) afirmam que a Geografia Política, enquanto área de estudo, esteve sempre preocupada com temáticas relacionadas à ordem, limite, poder e resistência, bem como a dinâmica dos grupos e formas de organização do

1 No presente estudo consideraremos ambas, Geografia Política e Geopolítica, como um mesmo subcampo científico, pois a distinção entre uma e outra, a primeira oriunda de uma produção acadêmica voltada às questões da sociedade em geral e a segunda voltada a consolidação do Estado totalitário, ou a atividade prática de cunho belicista do Estado, conforme expõe Raffestein (1993), corresponde a um posicionamento ideológico e político que não adotaremos na presente pesquisa.

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poder são criadas, crescem e são destruídas e como processos materiais e movimentos políticos refazem o modo como vemos o mapa político mundial.

Considerando as delimitações deste campo disciplinar, o presente capítulo abordará alguns conceitos fundamentais. No primeiro item faremos um breve histórico do campo disciplinar, resgatando suas raízes e autores, principalmente Frederich Ratzel, bem como apontando para as linhas de renovação teóricas atuais, dentre as quais com destaque a Geopolítica Crítica. Posteriormente, trataremos dos conceitos de poder e norma, inserindo-os na discussão da abordagem institucional, fundamental a discussão política, buscando compreender como tais conceitos podem auxiliar no entendimento da espacialidade das questões políticas e, por fim, trataremos da análise de discurso como ferramenta analítica ao entendimento das relações de forças entre os agentes.

1.1. Linhas de renovação do campo da Geopolítica: a Geopolítica Crítica

A partir da literatura consultada, com o objetivo de sistematizar nossa leitura, a Geografia Política, enquanto subcampo da Geografia, foi dividida em três períodos (CASTRO, 2011; MITCHELL, THUATHAIL e AGNEW, 2008), definidos temporalmente de maneira aproximada, levando em consideração as características da produção de seus autores fundamentais, bem como dos contextos políticos, sociais, históricos e geográficos aos quais estavam inseridos.

O primeiro período, denominado Geopolítica Clássica, compreende a institucionalização da Geografia enquanto disciplina acadêmica até o fim da Segunda Guerra Mundial, em que a disciplina será fortemente associada com os movimentos nazifascistas, o segundo período, aproximadamente correspondendo desde o final da guerra até a década de 1980, é caracterizado como hiato, em que este campo do conhecimento será relegado a segundo plano e mesmo estigmatizado (TUATHAIL, 2006), sendo poucos os autores a se dedicarem à temática, o terceiro período, o qual denominaremos como linhas de renovação da Geopolítica, é marcado por uma pluralidade de empreitadas para a retomada do campo, a partir de múltiplas vertentes teóricas, um temário ampliado e da revisão de

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diversos conceitos tradicionais, movimento este o qual outros campos da Geografia, bem como de outras ciências, também tem experimentado nas últimas décadas.

Destacaremos dentre estas linhas de renovação a Geopolítica Crítica enquanto cerne ao qual guiaremos as análises posteriores.

O termo Geografia política foi usado pela primeira vez pelo filósofo francês Turgot, em 1750, referindo-se a relação entre os fatores geográficos, tais como solos e agricultura e a organização política, o termo Geopolítica, por sua vez, foi utilizado pela primeira vez em 1890 por Rudolf Kjellen, cientista político sueco, buscando analisar as bases do poder político global (MITCHELL, THUATHAIL e AGNEW, 2008). Entretanto, será a partir dos trabalhos de Frederich Ratzel que o campo de estudo irá se conformar, concomitante a institucionalização da Geografia enquanto campos de saber acadêmico na Alemanha.

Ao abordar a formação da geopolítica clássica, Raffestein (1993) irá destacar aqueles que ele chama de momentos mais densos da epistemologia geográfica no que tange a Geografia Política. Nesta perspectiva ele irá identificar em Ratzel o momento fundamental da criação deste campo cientifico. Representando a convergência entre uma corrente de pensamento naturalista e uma corrente de pensamento sociológica, tem como princípio a estreita ligação entre o solo e o Estado, sendo o segundo o enraizamento da comunidade historicamente constituída em relação ao primeiro. Este autor critica o fato de Ratzel ter tornado apenas o Estado o objeto de sua Geografia Política, reconhecido como superior a todas as outras formas de poder, adquire dimensão tal que outras não necessitam serem investigadas.

Castro (2011), por outro lado aponta para a necessidade de se avaliar o contexto no qual o autor estava inserido. Como resultante da vitória na Guerra Franco- Prussiana, bem como decorrente do processo de unificação alemã havia a necessidade da reafirmação do Estado enquanto esfera política maior, visando à dissolução da antiga ordem feudal e dos antigos valores simbólicos, substituindo-se a servidão ao Senhor pelos sentimentos nacionalistas. Neste sentido as primeiras cátedras de Geografia estavam voltadas a formação de professores, com o intuito de disseminar uma imagem do Estado-nação.

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Outra importante dimensão do contexto em que este autor se insere diz respeito ao ambiente filosófico, influenciado pelas ideias de Hegel, pelo evolucionismo de Charles Darwin e a recém-criada sociologia, que marcarão fortemente sua produção intelectual, conduzindo-o a investigar o aspecto visível das relações sociais responsáveis pela dinâmica do poder na sociedade.

Assim, Castro (2011) argumentará que as análises produzidas à época tinham como preocupação central a investigação de como a política era influenciada pela geografia, tendo na natureza o marco teórico de suas análises. Entretanto, a própria autora relativiza esta visão do autor, ao afirmar que

indo além do determinismo do meio natural como fundamento do espírito das leis, Ratzel procurou elaborar uma verdadeira teoria das relações entre a política e o espaço, introduzindo o conceito de sentido do espaço, segundo o qual certos povos tinham maior capacidade de ordenar paisagens, de valorizar os recursos naturais, de se fortalecer a partir do seu próprio enraizamento no território (CASTRO, 2011, p. 19 - 20).

Uma caracterização da obra deste autor é de sua visão organicista do Estado.

Comparando-o a um organismo vivo, seus componentes se assemelhariam aos componentes de um corpo, em que a fronteira seria a epiderme do Estado, área de contato e troca com meio exterior, as estradas seu sistema circulatório e a capital o coração do Estado. Tal assertiva é corroborada pelas palavras do próprio autor, ao DILUPDU TXH ³para a geografia política, cada povo, localizado na sua área essencialmente delimitada, representa um corpo vivo que se estendeu sobre uma SDUWHGD7HUUD´(MORAES, 1990, p. 176).

A partir das ideias de Ratzel formaram-se diversas escolas de pensamento da geografia, não somente a Geopolítica Nazista, como Raffestein (1993) argumenta, mas outras como a Geografia Cultural e, em certa medida, mesmo a Geografia Francesa fora influenciada por suas ideias.

Outros autores, como Haushofer, Mackinder e Spykman2, desenvolveram, principalmente de maneira aplicada e a partir de formulações nomotéticas, o campo

2 Apesar de estes autores apresentarem importantes contribuições ao campo geográfico, não abordaremos seus trabalhos em específico.

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da Geopolítica. Interessados em formulações causais e genéricas, tais autores não tiveram densidade epistemológica semelhante àquela de Ratzel.

O campo da geopolítica, a partir da Segunda Guerra Mundial, foi associado aos movimentos nazifascista, o que o estigmatizou posteriormente a guerra, com a derrota da Alemanha, tornando-o um tabu entre os geógrafos (TUATHAIL, 2006;

CASTRO, 2011; RAFFESTEIN, 1993). Tal situação promoveu um hiato nas pesquisas sobre o tema, somente sendo retomada, com base em diversas matrizes teóricas e filosóficas, no início da década de 1980.

A partir da década de 1980 algumas iniciativas de renovação da Geografia Política ganharam força. Castro (2011) argumenta que a dissolução da União Soviética, a globalização, o recrudescimento de lutas territoriais de minorias dentro de estados nacionais, expansão das democracias representativas, e paralelo enfraquecimento do Estado nacional são fatores históricos que impulsionaram estas iniciativas. Tal esforço de renovação seguiu por linhas de pesquisas diversas, seja pela influência crescente da análise espacial no subcampo da Geografia Eleitoral, relacionado aos estudos de comportamento dos eleitores associados a padrões espaciais de votação, seja pela incorporação da perspectiva marxista e dos estudos do sistema-mundo, apontando-se para a análise multiescalar do fenômeno da globalização, bem como das redes de poder, seja pela incorporação da perspectiva do poder e do conhecimento, redimensionando o campo da Geografia Política para além das discussões acadêmicas, conforme defende a Geopolítica Critica. O denominador comum de tais leituras é a necessidade de repensar a Geografia Política ante as transformações do mundo e da ciência contemporâneas.

Segundo Tuathail (2006) a Geopolítica Crítica se configura a partir de três argumentos, que vão de encontro às concepções clássicas da Geopolítica. O primeiro argumento propõe que se avance para além do realismo político, pensando a geopolítica enquanto discurso. O autor aponta três problemas na abordagem do realismo político, a saber: a) primeiramente por oferecer poucas possibilidades empíricas de compreensão da história das relações políticas internacionais, à medida que é marcada pela dinâmica entre competição e cooperação entre os Estados, (b) por ser um discurso que se afirma enquanto um não discurso naturaliza as visões socialmente construídas e (c) o afastamento do autor em relação ao

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A partir desta proposição a geopolítica não emana unicamente do especialista ou do estadista, mas a partir de múltiplos atores, dentre eles a opinião pública, inserindo um novo agente nas análises da relação entre espaço e poder, a população, não mais como um trunfo do poder, conforme propunha (RAFFESTEIN, 1993).

O terceiro argumento aponta para o paradoxo da geopolítica clássica em que se por um lado é destacada a disputa entre os Estados nacionais, pouca atenção é dada, por sua vez, as disputas internas e como tais disputas moldam o discurso do Estado. De tal modo que se assume a proposição de Mann (1986) HP TXH ³DV sociedades são constituídas por múltiplas, sobrepostas e conectas redes VRFLRHVSDFLDLVGHSRGHU´4 (MANN, 1986, p. 1) e a identificação de quatro relações de origem do poder social: (a) relações ideológicas, relacionadas a valores, normas e rituais que caracterizam a vida social, (b) relações políticas, centralizada na regulação da vida social pelo Estado, (c) relações econômicas, ligada a produção, distribuição, comércio e consumo social e (d) relações militares, referenciada a organização da segurança e da defesa.

Assim, o entendimento desta corrente teórica e a renovação proposta a Geopolítica, atentando para a produção e circulação dos discursos em uma esfera popular, serão basilares ao encaminhamento do presente trabalho.

O campo da geopolítica apresenta diversos caminhos de análise possíveis, com base em alguns conceitos e abordagens metodológicas tornando inteligíveis as questões relativas a dimensão política do espaço. O viés conceitual adotado na presente dissertação será da abordagem do território enquanto expressão desta dimensão política do espaço, tema este que será estudado no item subsequente.

1.2. Poder e território: dimensão política do espaço

4Societies are constituted of multiple overlapping and intersecting social networks of power.

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A discussão acerca da dimensão política do espaço nos encaminha, no campo teórico, necessariamente ao debate sobre os conceitos de poder e território. Tal assertiva baseia-se na consideração que, se em toda relação há disputa de poder, nas relações analisadas pela Geografia Política, são as disputas de poder o cerne do estudo.

No que tange a política Castro (2011), aponta três vertentes para se pensar a política: (a) sociológica, em que é interpretada como a condição das regras e das solidariedades sociais, (b) da economia política, em que toda a lógica do poder está sob o julgo do capital e (c) da ciência política, em que o objetivo é compreender os fundamentos das ações e decisões dos atores políticos formalizados a partir do Estado. Para a autora a política deve ser compreendida como a essência das normas socialmente instituídas e como condição para o surgimento do espaço político, em que é possível a convivência entre os diferentes.

Por sua vez Raffestein (1993) considera como elementos constitutivos das relações políticas: os atores, a política dos atores ± ou o conjunto de suas intenções, isto é, suas finalidades -, a estratégia deles para chegar a seus fins, os mediatos da relação, os diversos códigos utilizados e os componentes espaciais e temporais da relação. Neste sentido prRS}HTXH³a geografia política, concebida como a geografia das relações de poder, poderia ser fundada sobre os princípios de simetria e de GLVVLPHWULD QDV UHODo}HV HQWUH RUJDQL]Do}HV´ (RAFFESTEIN, 1993, p. 29). Ao analisarmos tal proposição podemos considera-la útil e basilar a pesquisa que se pretende empreender à medida que considera a fundamentação do campo de estudo sobre as relações de poder, o caráter dissimétrico desta relação e a necessidade de se entender as interações entre os atores envolvidos.

Castro (2011, p. 52-53), por outro lado destaca as

três dimensões necessárias aos problemas considerados pertinentes a análise da geografia política: 1) o pressuposto da política, em seu sentido restrito, como central ao controle e a definição dos limites do cotidiano das sociedades; 2) o território como materialidade e arena dos interesses e das disputas dos atores sociais; e 3) o poder como um exercício resultante de relações assimétricas que se organizam no interespaço do mundo

Podemos então considerar a necessidade do estudo dos territórios como resultantes e meios das relações assimétricas de poder. Neste item serão discutidos

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os conceitos de poder e território. Analisemos, inicialmente, algumas definições do conceito de poder.

Castro (2011) apresenta algumas definições da noção de poder em autores clássicos:

a) em Hobbes, o poder de um homem consiste nos meios de que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem futuro, b) para Weber, poder significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social , mesmo contra a resistência e qualquer que seja o fundamento desta probabilidade, c) Bertrand Russel diz que o poder pode ser definido como a produção de resultados pretendidos, d) para Lasswell o poder é, especificamente, um valor de deferência: ter poder é ser levado em conta nos atos dos outros, e) para Brachach existe poder quando há conflitos de interesses ou valores entre duas ou mais pessoas ou grupos.

Tal divergência é condição necessária, porem insuficiente, do poder. Uma relação de poder se diferencia da influência pela possibilidade de uma das partes invocar sanções (CASTRO, 2011, p. 97).

Foucault (1985), por sua vez, elenca cinco características do poder:

(a) não pode ser adquirido, transmitido ou guardado, ele se exerce a partir de inúmeros pontos, em meio a relações desiguais e móveis,

(b) não é exterior a outras relações, como econômicas, sendo efeito imediato da relação entre os desiguais,

(c) as correlações de força se originam nos níveis mais baixos, a partir da correlação de forças múltiplas, nas famílias, nos grupos sociais e nas instituições,

(d) as relações de poder são intencionais e não subjetivas, não há poder sem que se haja um objetivo e

(e) onde há poder haverá também resistência.

Segundo Raffestein (1993) o poder é imanente a toda relação e se manifesta por ocasião da relação, o embate entre os atores cria um campo: o campo do poder.

Para Castro (2011) os

conflitos de interesses surgem das relações sociais e se territorializam, ou seja, materializam-se em disputas entre grupos e classes sociais para organizar o território da maneira mais adequada aos objetivos de cada um, ou seja, do modo mais adequado aos seus interesses (p. 41).

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Enquanto Castro (2011) apresenta uma interessante definição do poder como a manifestação da possibilidade de dispor de um instrumento para se alcançar um fim, supondo uma relação assimétrica, envolvendo uma capacidade de ação sobre coisas e pessoas, Allen (2008) discute a diferenciação entre o poder como uma capacidade de impor coerções sobre outrem e o poder enquanto uma capacidade de empreender uma ação sem constrangimentos, consubstanciando a ideia do poder como uma possibilidade de agir.

A discussão do poder é primordial ao entendimento do território, pois este pode ser compreendido enquanto uma expressão material das relações de poder, conforme apontou Souza (2000, p. 78): ³R território é um espaço definido e GHOLPLWDGR SRU H D SDUWLU GH UHODo}HV GH SRGHU´. A partir deste entendimento analisemos outras definições de território, que compartilham a discussão da dimensão espacial do poder.

A partir de levantamento da bibliografia especializada Haesbaert (2007, p. 45) conclui que as concepções do conceito de território podem ser agrupadas nos seguintes referenciais teóricos:

³Do binômio materialismo e idealismo, desdobrado depois em duas outras perspectivas, a visão mais totalizante e a visão mais parcial do território em relação a: i) o vínculo sociedade-natureza; ii) as dimensões sociais privilegiadas (econômica, política e/ou cultural); a historicidade do conceito, em dois sentidos: i) sua abrangência histórica ± se é um componente ou condição geral de qualquer sociedade ou se está historicamente circunscrito a determinado(s) período(s) ou grupo(s) sociais, ii) seu caráter mais absoluto ou relacional: físico-FRQFUHWR FRPR ³FRLVD´ REMHWR D SULRUL QR sentido de espaço kantiano) ou social-KLVWyULFRFRPRUHODomR´

Considerando estas discussões Haesbaert (2007) aponta para a necessidade que sejam superados os pensamentos dicotômicos, que separam em diferentes esferas de análise a dimensão material das relações sociais, da dimensão simbólica sobre as representações que movem tais relações.

Tendo em vista este quadro geral o autor abordará as principais orientações teóricas sobre o território nas seguintes perspectivas: (a) o território numa posição materialista, aliando a discussão entre território e natureza, visão predominante na Geografia, em que este é visto como uma fonte de recursos, enquanto meio material de existência, (b) o território em uma perspectiva idealista, em que são debatidas as

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relações entre território e cultura, principalmente a partir das discussões das identidades com forte conteúdo territorLDO DVVLP ³R WHUULWyULR UHIRUoD VXD GLPHQVmR enquanto representação, valor simbólico. A abordagem utilitarista de território não dá FRQWD GRV SULQFLSDLV FRQIOLWRV GR PXQGR FRQWHPSRUkQHR´ (HAESBAERT, 2007, p.

50), (c) um terceiro viés privilegia a dimensão política, das relações de poder, fortemente identificada com o Estado nação bem como (d) uma abordagem econômica, em conjunto com a discussão política da subordinação dos espaços aos interesses econômicos hegemônicos.

Ademais, o autor discute o sentido do território, enquanto absoluto, uma coisa dada a priori ou como coisa, substrato material ou como relacional, como resultante das relações de poder. No âmbito desta discussão conclui que

o território é relacional não apenas no sentido de incorporar um conjunto de relações sociais, mas também no sentido, destacado por Godelier, de envolver uma relação complexa entre processos sociais (...) ele não significa simplesmente enraizamento, estabilidade, limite e/ou fronteira.

Justamente por ser relacional, o território inclui também o movimento, a fluidez e as conexões (HAESBAERT, 2007, p. 56).

Por sua vez, Sack (1986), discutirá as relações de apropriação do espaço, a partir da territorialidade humana entendendo-D FRPR XPD ³tentativa, de indivíduos ou grupos, de afetar, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relações, pela demarcação e controle de uma área. Esta área será denominada território5´(SACK, 1986, p. 19). Esta é uma noção fundamental ao entendimento da questão discutida na presente dissertação, à medida que os movimentos emancipatórios representam momentos de insurgência sobre um determinado controle exercido sobre pessoas e lugares. Assim uma determinada área somente poderá ser considerada um território se este for controlado por alguma autoridade, no sentido de moldar, influenciar e controlar atividades.

No ínterim desta discussão o autor reconhece três implicações da territorialidade:

(a) envolve uma forma de classificação de áreas, criando diferenciações que

5 The attempt by an individual or group to affect, influence or control people, phenomena, and relationships, by delimiting and asserting control over a geographic area. This area will be called territory.

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definem o que é e o que não é o território, (b) uma forma de comunicação, à medida que enquanto estratégia, a territorialidade somente será efetiva se for compartilhado o entendimento do que é e do que não é o território e (c) pressupõem tentativas de imposição de controle ou exclusão do acesso às coisas e áreas definidas enquanto território.

Assim Sack (1986) reconhece dez tendências da territorialidade:

1. A territorialidade envolve uma forma extremamente eficiente de classificação de áreas, ao identificá-las enquanto tipos.

2. O limite territorial é uma marca que torna fácil a comunicação da territorialidade exercida, diferenciando o que está inserido daquilo que está excluído.

3. A territorialidade será mais efetiva como estratégia de controle, se a distribuição dos recursos e coisas estiver entre a ubiquidade e a imprevisibilidade.

4. A territorialidade prove mecanismos de reificação do poder.

5. Pode ser usada para desviar a atenção da relação entre aqueles que controlam e os que são controlados para o território, naturalizando relações sociais enquanto algo imanente daquele ente territorial.

6. Ajuda a tornar as relações impessoais, ao ser tratada como uma definição de áreas.

7. Pode ser entendida como uma maneira de compreender a existência dos lugares, considerando-se que a apreensão total das relações que se quer controlar podem se tornar tão complexas que escapam a percepção em sua totalidade.

8. Molda as propriedades espaciais dos eventos, pois o território altera o conteúdo de outros objetos.

9. Ajuda a criar a ideia de vazios espaciais quando as características daquela territorialidade não estão presentes

10. E, por fim, a territorialidade dá início a um processo retro alimentador, em que a mesma enseja a geração de mais territorialidades.

Outra abordagem é aquela descrita por Paasi (2008) em que o autor considera

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o território como um processo social, em que a ação e o espaço social são inseparáveis. Os territórios não são quadros estáticos em que a vida social ocorre. Estes podem ser criados, ganhar significado e destruídos na ação social e individual (PAASI, 2008, p. 110).

O autor complementa sua análise argumentando que o processo de formação destas unidades, ao qual denomina institucionalização dos territórios se efetiva a partir de quatro abstrações: (a) a forma do território, seja pela construção física ou simbólica do mesmo, (b) a construção de símbolos territoriais, como os topônimos, a bandeira e as práticas cívicas, (c) a forma institucional do território, referindo-se a como são institucionalizadas as diversas ações, como econômica, administrativa, política, cultural, dentre outros e (d) a construção de identidades territoriais que LGHQWLILTXHPXP³HX´RSRVWRDR³RXWUR´

Por fim, destacamos a discussão proposta por Foucault (2008, p. 3) a respeito do conceito de biopoder, definido pelo autor como ³o conjunto de mecanismos pelos quais aquilo que na espécie humana, constitui suas características biológicas fundamentais vai poder entrar em uma política, numa estratégia política, numa HVWUDWpJLDJHUDOGRSRGHU´.

No âmbito destas discussões nosso interesse é debater os mecanismos do poder elencados pelo autor, pois estas proposições são fundamentais ao entendimento da relação entre poder, norma e território. Assim serão delineados três mecanismos gerais do poder: (a) o mecanismo legal ou jurídico, baseado em uma divisão binária das ações entre proibido e permitido, interligado a uma forma de punição, uma sanção a ser exercida sobre o transgressor; (b) o mecanismo disciplinar, em que além do sistema binário prevê uma série de técnicas de vigilância e correção e (c) os dispositivos de segurança, em que os fenômenos serão colocados em uma perspectiva global, em que serão consideradas as probabilidades dos acontecimentos.

No item subsequente abordaremos este tema de maneira mais detalhada, considerando a relação entre o poder e a norma, a partir da formação dos aparatos institucionais como formas de apropriação do espaço, considerando os mecanismos acima elencados.

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1.3. Poder, instituições e norma: meios de apropriação do espaço.

Ao considerarmos a relação entre o poder e o espaço, bem como a maneira como tais relações são materializadas, é fundamental discutirmos a questão da norma e das instituições. Tal pensamento baseia-se na apreensão de que o poder representa a capacidade de criar assimetrias nas relações em prol de um fim determinado, tornando as normas maneiras de instrumentalizar tais assimetrias, à medida que esquadrinha e define os atores e sua ação espacial, sob a ótica da legalidade. Assim, pensar a conformação das normas, a partir da ação e da intencionalidade das instituições será o viés adotado nesta dissertação. Neste item a discussão entre as normas e as instituições será permeada pelo debate das técnicas do poder.

Em relação às características das técnicas do poder, Foucault (2008) destaca: (a) a definição de espaços de segurança, (b) o tratamento do acontecimento, (c) as formas de normalização e (d) a correlação entre a técnica de segurança e a população. Analisemos os três primeiros.

No que tange a definição dos espaços de segurança, importa ao autor compreender o problema da organização espacial da cidade, seja em termos abstratos da função da capital e do planejamento da cidade, bem como os conteúdos materiais da urbanização das cidades. Deste modo o autor resume suas proposições, afirmando que

enquanto a soberania capitaliza um território, colocando o problema maior da sede do governo, enquanto a disciplina arquiteta um espaço e coloca como problema essencial uma distribuição hierárquica e funcional dos elementos, a segurança vai procurar criar um ambiente em função de acontecimentos ou séries de acontecimentos ou de elementos possíveis, séries que vai ser preciso regularizar num contexto multivalente e transformável. O espaço próprio da segurança remete portanto a uma série de acontecimentos possíveis, remete ao temporal e ao aleatório, um temporal e um aleatório que vai se inscrever num espaço dado (FOUCAULT, 2008, p. 27).

Neste ínterim as discussões acerca da emancipação municipal podem ser compreendidas enquanto um dispositivo jurídico, ao criar uma diferenciação entre a porção do espaço ao qual se regulamenta a partir de unidade territorial especifica,

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daquele ao qual não pertence, um dispositivo disciplinar, a medida em que permite uma ação reguladora mais aproximada, com regras especificas de fiscalização e coerção em relação aos assuntos da municipalidade e como um dispositivo de segurança, em que as políticas municipais atuariam sobre um novo conjunto de possibilidades, bem como as probabilidades quando da criação de um novo ente em relação ao conjunto, por exemplo no relativo a arrecadação de tributos e seus respectivos repasses.

No tocante ao tratamento do aleatório o autor irá discutir a relação com o acontecimento, tendo como exemplo as técnicas de governo utilizadas, principalmente pelo governo francês, para lidar com o problema da escassez alimentar. Ao considerar esta discussão Foucault (2008) identifica que em um primeiro momento adotou-se um sistema jurídico e disciplinar, ao mesmo tempo, tendo como premissa uma série de limitações, de preço, estocagem, exportação e cultivo de cereais. Sistema de limitações este que não prescindirá de mecanismos de vigilância que possam garantir tais limitações. Deste modo o autor argumenta que este ³sistema antiescassez alimentar, sistema essencialmente centrado num acontecimento eventual, um acontecimento que poderia se produzir e que se procura impedir que VH SURGX]D DQWHV TXH HOH VH LQVFUHYD QD UHDOLGDGH´

(FOUCAULT, 2008, p. 43-44).

Por outro lado, a partir das discussões empreendidas por fisiocratas e posteriormente com a adoção da técnica de governo mercantilista um outro GLVSRVLWLYR VHUi LPSOHPHQWDGR FRQIRUPH H[S}H R DXWRU ³p XP WUDEDOKR QR SUySULR elemento dessa realidade (...) é apoiando-se nessa realidade, e não tentando impedir previamente, que um dispositivo vai ser instalado, um dispositivo que é precisamente, a meu ver, um dispositivo de segurança e não mais um sistema MXUtGLFRGLVFLSOLQDU´(FOUCAULT, 2008, p. 49). Este dispositivo estará baseado não mais nas limitações e proibições do sistema precedente, mas na liberdade do comércio e a auto regulação entre os acontecimentos que manterá estabilizada a escassez alimentar.

No que concerne aos movimentos de emancipação municipal os dispositivos relacionados ao tratamento do acontecimento podem ser compreendidos a partir das diferentes regulações sobre o processo de divisão da malha municipal. Enquanto

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momentos de maior concentração de poder nos governos centrais e leis mais rígidas representam dispositivos jurídicos e disciplinares, em que há uma série de limitações a criação de novas entidades territoriais, seja pela exigência de estruturas dificilmente alcançáveis por áreas com menor arrecadação, seja pela exclusividade do poder central em criar tais unidades, ou por outro lado, dispositivos de segurança, em que são criados mecanismos descentralizados de controle, considerando que o conjunto da população regulará seu processo, por exemplo, a partir da realização de consultas plebiscitárias na área afetada, estabelecendo-se os critérios mínimos para sua realização.

A terceira característica dos dispositivos de segurança refere-se as formas de normalização. Ao iniciar esta discussão o autor traça importante diferenciação entre a normalização e a normação. Tratando dos mecanismos disciplinares Foucault argumenta que

a normalização disciplinar consiste em primeiro colocar um modelo, um modelo ótimo que é construído em função de certo resultado, e a operação da normalização disciplinar consiste em tornar as pessoas, os gestos, os atos, conformes a esse modelo, sendo normal precisamente quem é capaz de se conformar a essa norma e o anormal quem não é capaz (FOUCAULT, 2008, p. 75).

Por enquadrar as pessoas, as coisas e o os atos em um esquema dual, normal e anormal, o autor defende que se visa mais a normação do que a normalização.

Tendo como exemplo de estudo o tratamento da varíola, e posteriormente a vacinação, ao comparar as técnicas disciplinares e as de segurança o autor afirma que

nas disciplinas, partia-se de uma norma e era em relação ao adestramento efetuado pela norma que era possível distinguir depois o normal e o anormal. [Nas técnicas de segurança], ao contrário, vamos ter uma identificação do normal e do anormal, vamos ter uma identificação das diferentes curvas de normalidade, e a operação da normalização vai consistir em fazer essas diferentes distribuições de normalidades funcionarem uma em relação as outras e em fazer de sorte que as mais desfavoráveis sejam trazidas às que são mais favoráveis. Temos portanto aqui uma coisa que parte do normal e que se serve de certas distribuições consideradas, digamos assim, mais normais que as outras. São essas distribuições que vão servir de norma. A norma está em jogo no interior de normalidades diferenciais. O normal é que é primeiro, e a norma se deduz dele, ou é a partir desse estudo das normalidades que a norma se fixa e desempenha seu papel operatório. Logo, eu diria que não se trata mais de

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uma normação, mas sim, no sentido estrito, de uma normalização (FOUCAULT, 2008, p. 83).

Assim o entendimento das técnicas de poder envolvidas nos movimentos de emancipação municipal esta característica pode ser compreendida a partir da definição da forma normal de um ente territorial deste âmbito, em que consiste?

Como se organiza? Que funções e estruturas deve deter? Assim são discutidos os critérios que levariam a permitir a criação de uma nova unidade, uma norma que poderá ser tanto generalizadora, quanto regionalizada.

A partir destas três características das técnicas do poder, definição de uma porção do espaço de atuação, forma de considerar e tratar o acontecimento, controlando sua ocorrência e suas características, bem como a instituição da normalização, definido o que é, ou dentro do quadro especifico, o que pode ser aceito enquanto normal, serão encaminhadas nossas leituras. Pois tais características podem ser observadas nas disputas acerca da apropriação do espaço por meio da criação de novos entes territoriais, tais quais os municípios.

Neste sentido, compreender o encadeamento destas ações demanda o entendimento que não é somente ligado ao indivíduo ou o grupo. Deste modo, trataremos da discussão acerca do papel das instituições nestes processos. Ao debater sobre DVRFLHGDGHFDSLWDOLVWD2¶1HLOO(2004) afirma que

a dimensão político-institucional propicia as relações entre o Estado, a sociedade e o regime político e compreende o modelo de desenvolvimento adotado. Teria por finalidade assegurar os objetivos e ações planejadas do Estado, assim como o funcionamento das instituições, normas e regulamentações que implementam a economia e orientam os atores políticos através de seus projetos (O'NEILL, 2004, p. 50).

Nestes termos compreender a função das instituições é fundamental a compreensão dos arranjos territoriais, tendo em vista sua estreita relação com as normas e regulamentações. As instituições surgem a partir da tipificação da sua ação, ou seja, elas surgem a partir do momento em que seu objetivo é determinado, não existindo fora do papel que lhe cabe (O'NEILL, 2004).

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1RFDPSRGDHFRQRPLDVHJXQGR2¶1HLOO(2004), as instituições representam um conjunto de regras que são obedecidas, sob a ameaça de sanções, em uma outra perspectiva, a partir do novo institucionalismo sociológico, estas são marcos de referências culturais, aos quais os indivíduos não conseguem desvincular seu comportamento, a leitura da ciência política, por sua vez, concebe que as instituições representam o conjunto de normas, tradições e costumes, sendo a fonte de estabilidade que orienta o comportamento do indivíduo na tomada de decisões.

Ao considerar a relação entre as instituições e o território a autora afirma que

uma forma de institucionalização clara é a que encontramos no território definido pelas relações de poder. A sociedade, através de um pacto ou mesmo de normas estabelecidas pelo Estado, legitima o poder quer através do voto, elegendo representantes, quer através da definição de contornos políticos-administrativos nos territórios. A ação é deslocada do indivíduo para um comportamento coletivo ou sancionado pelo coletivo, que é institucional (O'NEILL, 2004, p. 60).

Ao discutirmos, nos capítulos subsequentes as diferentes regulamentações acerca do poder local no Brasil, em especial a partir da Constituição de 1988, e a análise do exemplo específico da busca de emancipação do Alcântara, em relação ao município de São Gonçalo, as características das técnicas de poder, bem como o entendimento dos pactos institucionais estabelecidos serão as linhas norteadoras da análise. Entretanto, conformando a base teórica desta pesquisa é necessária a reflexão sobre os discursos.

1.4. Discurso e disputas territoriais

Para Arendt (2010) a pluralidade entre os homens e a sua identificação enquanto tal é condição fundamental da vida humana6, esta pluralidade torna-se patente na ação e no discurso, de modo que

a vida sem discurso e sem ação ± único modo de vida em que há sincera renúncia de toda a vaidade e aparência na acepção bíblica da palavra ± está literalmente morta para o mundo, deixa de ser uma vida humana, uma vez que já não é vivida entre os homens (ARENDT, 2010, p. 189).

6A expressão vida humana pode ser compreendida enquanto sociedade.

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Assim, para a autora, a ação e o discurso são condições de existência da vida humana, considerando que não há vida social em que estes não se apresentem. Por sua vez, Foucault (2012) assevera que

o discurso ± como a psicanálise nos mostrou ± não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que ± isto a história não cessa de nos ensinar ± o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar (p. 10).

Pensando nas relações sociais, Foucault (2004) avalia a importância dos discursos, ao afirmar que

em qualquer sociedade, existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e que estas relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação e um funcionamento do discurso. Não há possibilidade de exercício de poder sem certa economia dos discursos de verdade que funcione dentro e a partir desta dupla exigência (p. 179-180).

Assim como as demais relações de poder, as disputas territoriais desenvolvem certas condições de produção e disseminação dos discursos, conforme explicita Tuathail (2006) ³GLVFXUVRV JHRSROtWLFRV RSHUDP GHQWUR GH UHGHV de poder e aqueles que prevalecem refletem a influência daquela estrutura de poder, de fato, estes discursos fazem parte de muitas operações destas estruturas de SRGHU´7.

Uma definição da noção de discurso é apontada por Rose (2001) FRPR³XP grupo de declarações que estrutura a forma como algo é pensado e como agimos sobre este pensamento, em outras palavras, é um entendimento especifico sobre o PXQGRTXHOKHFRQIHUHIRUPDHDVFRLVDVQHOHLQVHULGDV´8 (p. 136).

Considerando esta questão devemos discutir a análise do discurso enquanto aporte metodológico a pesquisa empreendida. Segundo Gill (2003) a análise do discurso surge a partir de diversas correntes teóricas, que apesar de suas diferenças

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