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O direito sucessório do patrimônio virtual

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA GABRIELLA FRANCISCONI

O DIREITO SUCESSÓRIO DO PATRIMÔNIO VIRTUAL

Içara 2018

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GABRIELLA FRANCISCONI

O DIREITO SUCESSÓRIO DO PATRIMÔNIO VIRTUAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarinacomo requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof.ª Roberta dos Santos Rodrigues.

Içara 2018

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GABRIELLA FRANCISCONI

O DIREITO SUCESSÓRIO DO PATRIMÔNIO VIRTUAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Içara, 4 de dezembro de 2018.

______________________________________________________ Professora e orientadora Roberta dos Santos Rodrigues,Dr./Ms./Bel./Lic

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Emanuel Gislon dos Santos Moreira, Dr./Ms./Bel./Lic

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Reginaldo Messagi, Dr./Ms./Bel./Lic

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Dedico este trabalho a Deus, que com sua infinita sabedoria, foi um importante guia nessa trajetória; aos meus pais, meu irmão e meu amado esposo, que acreditaram em mim e não mediram esforços para que eu chegasse a esta etapa da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, que me deu forças durante esses anos e permitiu que tudo isso acontecesse.

Agradeço aos meus pais, que desde o princípio foram meus maiores incentivadores e não mediram esforços em me ajudar nessa caminhada. Sou grata também a minha vó pelas orações diárias e pelo exemplo de vida me ensinando valores importantes.

A todos os meus familiares, que, de uma forma ou de outra, contribuíram com essa conquista.

Ao meu amado esposo, que sempre acreditou no meu potencial, sendo paciente comigo quando enfrentava momentos difíceis, não me deixando desistir.

A todos os professores que contribuíram para minha formação, em especial à professora Roberta, por ter aceitado ser minha orientadora, colaborando com toda sua sabedoria e por dividir comigo este grande desafio acadêmico.

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“Nascemos, vivemos por um momento breve e morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando muito este cenário”. (STEVE JOBS).

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RESUMO

O presente trabalho monográfico teve como objetivo primordial analisar a importância da regulamentação da sucessão do patrimônio virtual deixado pelo de cujus. Sabe-se que a sucessão dos bens patrimoniais físicos já é matéria abordada pelo Direito Civil Brasileiro, mas a novidade é a chamada herança digital, relacionada aos bens armazenados em ambiente virtual. Para tanto a pesquisa realizou-se através do método de abordagem dedutivo, com pesquisa baseada em material bibliográfico e legislação pertinente, sendo que para se obter os resultados foi analisada a lei, doutrinas e artigos acerca do tema. No que tange à abordagem, empregou-se a qualitativa, posto ser a mais adequada ao objetivo proposto.O trabalho se deteve a analisar, em um primeiro momento, o Direito Sucessório propriamente dito. Ainda, foi realizada uma abordagem sobre o Direito Virtual e Digital, elucidando acerca da evolução tecnológica e suas influências no cotidiano. Por conseguinte, explorou-se a inserção do tema herança digital à luz do Direito Sucessório, apontando os projetos de leis existentes que contam com a intenção de regulamentar a sucessão desses ativos, e que objetivam fazer uma interpretação extensiva e analógica quanto à inserção dos ativos digitais em um processo de inventário, da mesma forma como são inclusos os bens móveis e imóveis. Por fim, se constatou a necessidade de se estabelecer uma norma que regulamente o tema proposto, afim de assegurar a segurança jurídica dentro das relações jurídicas, em especial, no Direito das Sucessões.

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ABSTRACT

The presente monographic work had as main objective to analyze the importance of the regulation of the succession of the virtual patrimony left by the de cujus. It is known that the succession of physical assets is already a subject covered by Brazilian Civil Law, but the novelty is the so-called digital inheritance, related to goods stored in a virtual environment. For this, the research was carried out through the deductive approach method, with research based on bibliographical material and related legislation. In order to obtain the results, law, doctrines and articles about the subject were analyzed. Regarding the approach, the qualitative approach was used, since it is the most adequate for the proposed objective. The work analyzed, in a first moment, the Sucessory Right. Also, an approach was taken on the Virtual and Digital Law, elucidating about the technological evolution and its influences in the daily life. Therefore, the insertion of the theme digital inheritance was explored considering the Succession Law, pointing out the projects of existing laws that have the intention to regulate the succession of these assets, and that aim to make na extensive and analogous interpretation on the insertion of the assets in na inventory process, in the same way as the movable and real estate properties are included. Finally, it was noted that there is a need to establish a norm that regulates the proposed topic, in order to ensure legal certainty within legal relations, especially in the Law of Succession.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 10 1.1 TEMA ... 10 1.2 PROBLEMA ... 11 1.3 JUSTIFICATIVA... 11 1.4 OBJETIVOS ... 13 1.4.1 Objetivo Geral ... 13 1.4.2 Objetivos Específicos ... 13 1.5 METODOLOGIA ... 13

1.6 ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DOS CAPÍTULOS ... 144

2 DO DIREITO DAS SUCESÕES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. ... ... 15

2.1 BREVES CONSIDERAÇÕES ... 15

2.2 ASPECTOS HITÓRICOS ... 16

2.3 ABERTURA DA SUCESSÃO ... 16

2.4 ESPÉCIES DE SUCESSÃO ... 18

2.4.1 Sucessão Testamentária: breves considerações ... 19

2.4.2 Sucessão Legítima: breves considerações ... 19

2.5 DA ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA ... 20

2.6 DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS E DA LEGÍTIMA ... 22

3 O DIREITO VIRTUAL NA ORDEM JURÍDICA BRASILEIRA: BREVES CONSIDERAÇÕES ... 24

3.1 O DIREITO NA ERA DIGITAL ... 24

3.2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ... 27

3.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS NO DIREITO VIRTUAL ... 28

3.4 PRINCIPAIS LEIS REFERENTES AO DIREITO DIGITAL ... 31

4 O DIREITO SUCESSÓRIO DO PATRIMONIO VIRTUAL ... 35

4.1 HERANÇA DIGITAL – CONCEITO ... 35

4.1 DIREITO À PERSONALIDADE DO DE CUJUS ... 40

4.2 DIREITO À PRIVACIDADE POST MORTEM ... 41

4.3 DA AUSÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO LEGAL ... 42

4.4 PROJETO DE LEI Nº 4.099/2012 ... 43

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4.6 CASOS PRÁTICOS ... 45

4.7 GERENCIAMENTO DE CONTAS VIRTUAIS ... 47

5 CONCLUSÃO ... 48

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1 INTRODUÇÃO

O forte avanço tecnológico tem trazido reflexos nas mudanças comportamentais e culturais da sociedade. E a internet, por sua vez, com toda sua destreza, abriu caminhos para que as pessoas possam se relacionar de uma forma mais eficaz e prática.

É crescente o armazenamento de dados, arquivos pessoais e documentos no ambiente virtual, assim como sua vinculação às redes sociais. São inúmeras as formas de armazenamento que geram um grande acervo digital e acabam transformando-se em patrimônio virtual daquele que armazenou as informações.

O problema surge no acesso e na destinação desse acervo quando o proprietário vem a falecer, gerando para os herdeiros dificuldade em saber qual o fim deve ser dado a esse conjunto de arquivos armazenados virtualmente.

Aliás, sequer se tem certeza se os bens que compõe o acervo virtual de alguém que vem a falecer podem ter o mesmo tratamento conferido aos bens físicos, os quais são facilmente individualizados no processo de inventário.

No presente trabalho, será feita uma abordagem acerca da dificuldade na destinação dos bens armazenados virtualmente, se podem ou não serem considerados parte do patrimônio de uma pessoa, bem como se é possível tais bens serem objeto da sucessão causa mortis de alguém.

No âmbito jurídico, o Direito vem tentando adaptar-se a essa realidade, todavia, a verdade é que a tecnologia caminha de modo muito mais veloz, inexistindo regulamentação legislativa sobre a matéria.

Com isso é de extrema importância que esse tema seja discutido no meio jurídico, a fim de garantir uma segurança jurídica aqueles que deixam informações armazenadas virtualmente, bem como aos seus herdeiros.

Para tanto, serão apresentados os projetos de lei existentes, os quais objetivam regulamentar o acesso e a devida destinação do acervo virtual deixado por alguém após sua morte.

1.1 TEMA

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1.2 PROBLEMA

A crescente onda tecnológica repercutiu no surgimento de um novo ramo, o qual pode ser chamado de Direito Virtual ou Digital. Esse novo ramo do direito trouxe reflexos em vários seguimentos sociais e, consequentemente, nas relações jurídicas. Fato é que a legislação não consegue acompanhar a evolução tecnológica, mas tende a se adaptar.

No presente trabalho será contemplada a incidência do Direito Virtual no âmbito sucessório, tratando-se da possibilidade de uma sucessão patrimonial, de arquivos, bens, dados, ativos em contas virtuais, todos eles deixados em ambiente virtual pelo de cujus aos seus herdeiros.

Com o objetivo de colaborar com um melhor entendimento acerca da discussão proposta proferem-se, primeiramente, algumas indagações: Quais dados armazenados virtualmente podem ser considerados parte do patrimônio de alguém? Existe regulamentação legislativa acerca do acervo virtual? Qual destino é dado ao patrimônio virtual de alguém após sua morte? Qual a proteção jurídica estabelecida para os arquivos e dados pessoais armazenados em ambiente virtual? Ressaltadas as indagações e com o propósito de tornar mais específico o problema da pesquisa designa-se uma pergunta central: O patrimônio virtual pode ser objeto de

sucessão mortis causa?

1.3 JUSTIFICATIVA

Considerando a crescente evolução do mundo virtual, que gera constantes armazenamentos de informações nesse meio, o presente tema se justifica devido à tamanha relevância no contexto social e no meio jurídico.

Nesse sentido, Pinheiro (2008, p. 27) entende que “o maior desafio da evolução humana, é cultural. Podemos dizer o mesmo do Direito. Como instrumento de regulamentação de condutas, o Direito deve refletir a realidade da sociedade”.

Sabe-se que a transmissão patrimonial após a morte é consagrada pelo ordenamento jurídico brasileiro, insculpida no artigo 1.784 do Código Civil, que dispõe que “aberta a sucessão, a herança transmite desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários.” (BRASIL, 2002).

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Além disso, tem-se que o direito à herança é um direito fundamental, assegurado no artigo 5º, inciso XXX da Constituição Federal que diz que “é garantido o direito à herança”, bem como no inciso XXII do mesmo dispositivo constitucional que garante “o direito de propriedade.” (BRASIL, 1988).

Com isso, resta evidenciada a importância de se regulamentar as variadas formas de patrimônio, a fim de que seu destino seja assegurado aos herdeiros, incluindo nessa concepção, o patrimônio virtual deixado por alguém.

Para uma melhor compreensão, Venosa (2009, p. 22) traz o conceito de herança “como o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem em razão da morte, a uma pessoa, ou a um conjunto de pessoas, que sobreviveram ao falecido”.

Dias (2015, p. 30), por sua vez, entende que “o patrimônio individual constituiu-se em uma universalidade, um conjunto indivisível de direitos que passa ao sucessor universal”.

No que se refere ao patrimônio virtual algumas empresas de tecnologia, como a Google, lançaram um recurso que facilita a sucessão dos ativos digitais após a morte do titular. Trata-se de uma espécie de testamento, em que o titular dos dados virtuais direciona um alguém para ficar gerenciando, bem como, especifica o que fazer com suas contas no momento em que se tornarem inativas.

Nessa esteira, destaca-se:

trata-se do gerenciador de contas inativas: não é lá um nome fantástico, mas, acredite, as outras opções eram ainda piores. O recurso pode ser encontrado na página de configurações da conta do Google. Você pode nos orientar com relação ao que fazer com as suas mensagens do Gmail e dados de vários outros serviços do Google se a sua conta se tornar inativa por qualquer motivo (GOOGLE BRASIL, 2015).

Todavia, de um modo geral, não se tem a mesma facilidade na destinação dos acervos virtualmente armazenados, o que justifica ser o tema de grande importância, a fim de se estabelecer uma uniformização, especialmente no que tange às relações sucessórias causa mortis.

De acordo com Pinheiro (2008, p. 29), acerca da evolução do direito digital, tem-se que:

o direito digital consiste na evolução do próprio direito, abrangendo todos os princípios fundamentais e institutos que estão vigentes e são aplicados até hoje, assim como introduzindo novos institutos e elementos para o pensamento jurídico, em todas as áreas (PINHEIRO, 2008, p. 29)

O ser humano se adapta às situações que vão surgindo na sociedade e, nessa esteira de novas realidades, se vê a necessidade de se estudar o Direito

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Virtual, dada a importância das relações sociais e o ordenamento jurídico acompanharem as inovações tecnológicas.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Analisar a importância de regulamentação da sucessão do patrimônio virtual deixado pelo de cujus.

1.4.2 Objetivos Específicos

a) Discorrer sobre os elementos atinentes ao Direito das Sucessões; b) Discutir acerca do avanço tecnológico do patrimônio virtual;

c) Apresentar os sistemas normativos sobre o tema no direito comparado; d) Abordar a necessidade de regulamentação normativa no ordenamento jurídico brasileiro;

e) Elucidar as propostas legislativas que pretendem regulamentar a sucessão causa mortis dos bens armazenados virtualmente.

1.5 METODOLOGIA

Método é o meio pelo qual o pesquisador se utiliza para buscar respostas e obter resultados confiáveis. “O método é um recurso que requer detalhamento de cada técnica aplicada na pesquisa. É o caminho sistematizado, formado por etapas, que o pesquisador percorre para chegar à solução.” (MOTTA, 2012, p. 83).

Os métodos de procedimento a serem utilizados na pesquisa consistem no monográfico e no comparativo. O primeiro deve-se a preocupação com o aprofundamento do tema em estudo e o segundo, a necessidade de comparações entre leis, normas e doutrinas.

Para Motta (2012, p. 98), “o método monográfico é aquele que analisa, de maneira ampla, profunda e exaustiva, determinado tema-questão-problema.” E o método comparativo consiste “[...] na verificação de semelhanças e diferenças entre duas ou mais pessoas, empresas, tratamentos, técnicas, etc., levando-se em conta a relação presente entre os aspectos comparados.” (MOTTA, 2012, p. 96).

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1.6 ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DOS CAPÍTULOS

A pesquisa conta inicialmente com a introdução temática. Logo, no segundo capítulo, entrar-se-á na esfera do direito sucessório, expondo suas formas de conceituações, com referência à sua aplicabilidade no ordenamento jurídico, elencando as suas espécies, demonstrando a ordem da vocação hereditária e quem são os herdeiros a quem se destina o patrimônio do de cujus.

No terceiro capítulo serão feitas breves considerações acerca do Direito Virtual na ordem jurídica brasileira, os impactos e inovações que vem causando e beneficiando uma nova geração, definições e princípios atinentes ao tema.

Posteriormente, no quarto capítulo, será abordada a ideia central do estudo proposto. A possível sucessão do patrimônio armazenado virtualmente, com a definição dessa forma moderna de transmissão post mortem com algumas bases principio lógicas relacionadas ao tema, bem como sua aplicação ao direito comparado.

A caracterização dos bens armazenados virtualmente, como parte do patrimônio, tendo sua valoração econômica ou não. O efeito dessa sucessão por não ter uma regulamentação jurídica específica, dando o devido enfoque aos projetos legislativos, que objetivam regulamentar a matéria. No quinto, e último capítulo, será apresentada a conclusão do trabalho em foco.

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2 DO DIREITO DAS SUCESSÕES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

O Direito Sucessório está previsto na parte especial do Código Civil, disposto entre os artigos 1.784 à 2.027, e regula a forma como se dará a transferência do patrimônio de alguém aos seus sucessores após o evento morte. Nesse sentido, corrobora Coelho (2012, p.245) que “o direito das sucessões disciplina a destinação do patrimônio da pessoa física após sua morte. Sua matéria, portanto, é a transmissão causa mortis”.

2.1 BREVES CONSIDERAÇÕES

O direito à herança é assegurado como direito fundamental tutelado no inciso XXX do artigo 5º da Constituição Federal:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XXX - é garantido o direito de herança (BRASIL, 1988).

Rizzardo (2015, p. 12) conceitua herança como sendo “aquele conjunto de bens pertencente ao sucedido, no momento de sua morte, e que são transferidos aos herdeiros legítimos ou testamentários.”

Ainda, Rizzardo (2015, p. 14) diz que “com a herança, ocorre uma sucessão no universo patrimonial do falecido, o sucessor ou herdeiro sucede no universo dos bens que ficaram.”

A palavra Sucessão vem do latim successio e significa “sequência de pessoas, de eventos, de circunstâncias que ocorrem sem pausas ou com pequeno intervalo.” (DICIONÁRIO ONLINE, 2018).

Assim, o termo Sucessão refere-se à transmissão causa mortis, transmitindo direitos e obrigações aos herdeiros, e, nesse sentido, Leite (2004, p. 23) conceitua Sucessão como “o ato pelo qual uma pessoa toma o lugar de outra, substituindo o antigo titular nos direitos que lhe competiam.”

Dias (2015, p. 34), por sua vez, destaca que “é a substituição do titular de um direito, com relação as coisas, bens, direitos ou encargos.”

Lisboa (2009, p. 295), por sua vez, afirma que o direito sucessório traz três objetivos a serem destacados, quais sejam: “a perpetuidade do patrimônio da

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família do de cujus; a demonstração do apreço do sucedido pelo herdeiro; e a continuidade das relações jurídicas provindas do autor da herança.”

2.2 ASPECTOS HITÓRICOS

O Direito Sucessório passou por diversas alterações, estando entre diferentes povos que viviam em culturas variadas, como os romanos, os gregos, os alemães, entre outros. Isso mostra, portanto, que desde os primórdios já era dada atenção a destinação dos bens deixados pelo de cujus.

Sobre o tema, Monteiro (2008, p. 9) preleciona:

o atual direito das sucessões resultou da fusão do direito romano e do antigo direito germânico, o primeiro, com sua absoluta liberdade de testar, abrangendo todo o patrimônio do de cujus, e o segundo, ignorando o testamento, e por isso, atribuindo a herança aos herdeiros legítimos do falecido.

Na idade média, a ideia de sucessão era ligada sempre a figura masculina, ou seja, se entendia que com a morte do parter família, a sucessão de seus bens e, inclusive, a religião se transferiria ao primogênito homem, para que este pudesse dar continuidade na geração.

Aliás, Rizardo (2015, p. 5) ensina que “com a morte do pai, a administração passava ao filho primogênito, sempre do sexo masculino.”

Dias (2015, p. 31), por seu turno, disciplina que:

quando a sociedade estruturou-se em famílias, surgiu a propriedade privada, cada núcleo familiar com seus bens e sua religião. Por muitos séculos os direitos patrimoniais não se partilhavam: pertenciam a sociedade familiar. A ideia de sucessão surgiu após consolidar-se a formação da família.

Já Gama (2007, p. 5) associa o efeito da sucessão com o bem da estrutura familiar, de maneira que “a propriedade é perpétua, porquanto tem como ser conservada na família em que o bem passou a pertencer e, como se espera que haja a perpetuação da existência da família nas gerações seguintes, a propriedade nunca desaparecerá.”

2.3 ABERTURA DA SUCESSÃO

Um fato determinante para que haja a abertura da sucessão é a morte, posteriormente, os bens e direitos transmitem-se aos sucessores, os quais vêm a

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serem, os herdeiros legítimos e testamentários. Nesse sentido, o artigo 1.784 do código civil afirma dizendo que “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.”

Ao se referir no que consta descrito no artigo 1.784 do código civil, Dias (2015, p 109) explana que “nada mais significa do que o momento da morte de alguém e o nascimento do direito dos herdeiros aos bens do falecido. A transmissão é automática.”

Compreende Gama (2007, p. 15) de modo que “a morte da pessoa é fato jurídico que origina o direito de suceder, fazendo com que ocorra simultaneamente a abertura da sucessão.”

Gonçalves (2012, p. 33) faz um aparato ao momento da extinção dos direitos e obrigações da pessoa natural, com o surgimento da sucessão dos bens dispostos. Assim,

a existência da pessoa natural termina com a morte, como não se concebe direito subjetivo sem titular, nos mesmo instante em que aquela acontece abre-se a sucessão, transmitindo-se automaticamente a herança aos herdeiros legítimos e testamentários do de cujus.

Para Leite (2004, p. 34), “a posse e a propriedade transmitem-se desde o momento da morte do de cujus aos herdeiros legítimos e testamentários, sem necessidade de qualquer manifestação dos mesmos.”

Em consonância com o momento de abertura da sucessão, encontra-se o uso da expressão saisine, que tem por objetivo resguardar o acesso dos herdeiros a herança do de cujus.

Disciplina Rizzardo (2015, p. 23) que “a transferência imediata da posse e do domínio corresponde à expressão francesa saisine. Todo o acervo, tanto ativo como passivo, é transferido aos herdeiros.”

Venosa (2009, p.15) complementa afirmando que “o princípio da saisine representa uma apreensão possessória autorizada. É uma faculdade de entrar na posse de bens, posse essa atribuída a quem ainda não a tinha.”

Para tanto, Dias (2015, p. 109) discorre acerca da diferença entre dois momentos notáveis no decorrer da sucessão. A abertura da sucessão e abertura do inventário, de forma que:

abertura da sucessão não se confunde com abertura do inventário. São momentos distintos. [...] A abertura da sucessão se dá no momento da morte, termo final da personalidade natural, e a abertura do inventário

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ocorre quando do ingresso em juízo da ação correspondente, sempre depois da abertura da sucessão.

Rizzardo (2015, p. 23) acrescenta, ainda, que “o inventário representa apenas a formalização da sucessão, a qual, no entanto se dá com a morte. Não passa o mesmo de exteriorização administrativa da transmissão.”

2.4 ESPÉCIES DE SUCESSÃO

O Código Civil traz duas modalidades de sucessão causa mortis. Em uma delas, a aplicação se dá estritamente por força da lei, que é a chamada sucessão legítima. Já no outro modelo, o que fica em evidência é a manifestação de última vontade do autor da herança através da chamada sucessão testamentária.

Estabelece o artigo 1.786 do Diploma Civil, que “a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.” (BRASIL, 2002).

Gonçalves (2012, p. 42) define as duas espécies de sucessão, afirmando que “quando se dá em virtude da lei, denomina-se sucessão legítima; quando decorre de manifestação de última vontade, expressa em testamento chama-se sucessão testamentária.”

Venosa (2009, p. 9), por sua vez, acrescenta que “a vocação legítima, prevalece quando não houver ou não puder ser cumprido o testamento. A sucessão testamentária é detalhadamente ordenada pelo nosso ordenamento.”

Gonçalves (2012, p. 42) faz referência, ainda, a presunção de vontade do de cujus quanto à modalidade de transmissão da herança, dado que “costuma-se dizer, por isso, que a sucessão legítima, representa a vontade presumida do de cujus de transmitir o seu patrimônio para as pessoas indicadas na lei, pois teria deixado testamento se outra fosse sua intenção.”

Gama (2007, p. 8) complementa diferenciando as modalidades de sucessão, enfatizando que:

a distinção entre as espécies de sucessão não apenas se refere ao título da vocação, mas também se estende aos efeitos, já que na sucessão legítima somente haverá herdeiro, ao passo que na sucessão testamentária pode ser instituído herdeiro e ou legatário.

Já Monteiro (2008, p. 11) ensina que “uma não exclui a outra, pois ambas podem coexistir.”

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Assim, tem-se que ambas espécies sucessórias podem ser aplicadas na sucessão, pois ao de cujus é permitido testar parte de seus bens, desde que preservada a parte que pertence aos herdeiros necessários.

2.4.1 Sucessão Testamentária: breves considerações

A sucessão testamentária aborda a sucessão decorrente da manifestação de última vontade do autor da herança.

Gonçalves (2012, p. 22), sobre o tema, ensina que “conheceram os romanos, ainda, a sucessão testamentária por diversas formas e compreensiva de todo o patrimônio do testador. Tinham eles verdadeiro horror pela morte sem testamento.”

Dias (2015, p. 122) conceitua a sucessão testamentária como sendo a que “ocorre quando houver manifestação de vontade da pessoa, elegendo quem deseja que fique com o seu patrimônio depois de sua morte.”

Preceitua o artigo 1.857 do Código Civil que “toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.” (BRASIL, 2002).

Para Monteiro (2008, p. 124), é o ato “pelo qual alguém dispõe dos bens para depois de sua morte, ou determina a própria vontade sobre a situação dos filhos e outros atos de última vontade, que não poderão, porém, influir na legítima dos herdeiros necessários.”

Discorre Lisboa (2009, p. 374) que “a sucessão testamentária afasta a incidência ampla da sucessão legítima, pois esta última é de caráter residual sempre sendo aplicada sobre, pelo menos, metade dos bens deixados pelo de cujus no momento da sua morte.”

E finaliza Venosa (2009, p. 113) registrando que “o testamento serve precipuamente para o autor da herança alterar a vontade do legislador.”

2.4.2 Sucessão Legítima: breves considerações

Ao tratar de sucessão legítima leva-se em conta, no ato de transmissão do acervo, o que está disposto em lei.

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morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorre quando os bens não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. (BRASIL,2002).

Dias (2015, p. 121) refere-se à legítima como sendo “a metade dos bens da herança que pertencem aos herdeiros necessários: descendentes, ascendentes e cônjuge.”

Ainda, Dias (2015, p. 120) entende que “a expressão legítima é alvo de críticas. A referência tem a ver com a discriminação que sofriam os filhos havidos fora do casamento. Eram chamados de filhos ilegítimos.”

Monteiro (2008, p. 86), por seu turno, aduz que “verifica-se a sucessão legítima quando o de cujus falece ab intestato. Sua herança é então deferida a determinadas pessoas, consoante ordem prescrita pelo legislador e que se chama ordem de vocação hereditária.”

Nessa modalidade sucessória, pode-se verificar que prevalecem os laços sanguíneos, de forma que o legislador ordinário preocupou-se em criar uma ordem de vocação hereditária, para serem dispostos os bens, após aberta a sucessão, presumindo-se, assim, a afeição do autor da herança.

Para Gama (2007, p. 12), “a sucessão legítima é, especialmente, a sucessão em favor dos que formavam com o falecido a família em sentido estrito.”

E Leite (2004, p. 38) conclui que “a sucessão legítima prevalece em todos os casos e sobre todos os bens, quando não há testamento.”

2.5 DA ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Em se tratando de sucessão legítima, o Código Civil estabelece a ordem de vocação hereditária, ou seja, a ordem das pessoas que sucederão a titularidade do patrimônio deixado pelo autor da herança.

Afirma Dias (2015, p. 145) que “a lei indica os legitimados para receber a herança: todos os parentes, bem como o cônjuge e o companheiro. Daí a expressão: herdeiros legítimos.”

O artigo 1.829 da Lei Civil enumera a ordem de vocação hereditária da seguinte forma:

A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no

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regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais (BRASIL, 2002).

Verifica-se que a lei chama determinadas pessoas à sucessão hereditária, conferindo caráter preferencial (GONÇALVES, 2012).

Considerando que a classe de herdeiros de grau mais próximo exclui a de grau mais remoto, Pereira (2008, p. 88) corrobora dizendo que “a ordem de vocação hereditária é a distribuição dos herdeiros em classes preferenciais, conjugando as duas ideias de grau e de ordem.”

De acordo com Dias (2015, p. 145), a identificação de quem é chamado a receber a herança caminha pelas linhas do parentesco: reta e colateral.

Coelho (2007, p. 273) ensina que o legislador se baseia em classes para definir a ordem de vocação hereditária, elucidando que “são chamados a suceder os sucessores da primeira classe; não existindo, chamam-se os da segunda classe; se não existirem sucessores desta também, os da terceira classe são convocados.”

Tratando de uma regra fundamental na ordem de vocação hereditária a qual deve ser observada, Tartuce e Simão (2008, p. 134) falam que “se os filhos dão continuidade à estirpe dos pais, nada mais justo que sejam ele os primeiros a receber a sua herança.”

Logo tem-se que os descendentes são os primeiros na classe a receberem a herança.

Para Diniz (2005, p. 109), “esses herdeiros sucessíveis de primeira classe constituem-se pelos filhos, netos, bisnetos, trinetos, tetranetos etc., excluindo os demais de outras classes.”

Na ausência de descendentes, serão chamados os ascendentes à sucessão.

Com relação à segunda classe, Venosa (2005, p. 136-137) discorre dizendo que “Não existindo descendentes, em qualquer grau, são chamados a suceder os ascendentes. [...] Não há representação para os ascendentes. O mais próximo exclui o mais remoto.”

No que tange ao cônjuge sobrevivente, o mesmo se encontra na terceira classe sucessória, muito embora, excepcionalmente, a depender do regime de bens,

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o mesmo poderá concorrer com os descendentes do autor da herança, bem como com os ascendentes.

Por isso, Diniz (2005, p. 105) afirma que “o consorte supérstite, além de, em certos casos, concorrer com descendente ou ascendente, só herdará a totalidade da herança na ausência de descendentes e ascendentes.”

O cônjuge é herdeiro necessário, portanto tem garantia da legítima, está na terceira classe de vocação hereditária, inexistindo descendentes e ascendestes recebe a herança por direito próprio. (DIAS, 2005).

Por fim, os parentes colaterais ocupam o último lugar da ordem de vocação hereditária. Recebem a herança na ausência de herdeiros necessários. Assim se o falecido tiver descendentes, ascendentes ou for casado, os colaterais não herdam (DIAS, 2005).

Vale registrar que, no que se refere à sucessão do companheiro sobrevivente, recentemente a Suprema Corte Brasileira o incluiu na mesma ordem de vocação hereditária do cônjuge supérstite, conferindo os mesmos direitos sucessórios insculpidos no artigo 1.829 do Diploma Civil.

2.6 DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS E DA LEGÍTIMA

De acordo com o Código Civil, os herdeiros necessários são todos aqueles que por lei possuem direito à herança. O seu artigo 1.845 estabelece que “São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.” (BRASIL, 2002).

Rizzardo (2015, p. 53) conceitua herdeiros necessários dizendo que “são aqueles herdeiros que a lei protege e obriga a reserva a eles da metade do patrimônio que a pessoa tinha ao falecer.”

Leite (2004, p. 154), por sua vez, afirma que “são os herdeiros com o direito a uma parcela mínima, 50% do acervo (legítima), da qual não podem ser privados por disposição de última vontade.”

De acordo com Lisboa (2009, p. 321) “o novo código civil inseriu o cônjuge supérstite para o fim de concorrer à herança na mesma situação dos descendentes e dos ascendentes.”

Está disciplinado, portanto, no artigo 1.846, da Lei Civil, a garantia, a uma porção da herança, deixada especificamente aos herdeiros necessários, pelo de

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cujus, a qual, em regra, não pode ser subtraída por vontade do mesmo, pela qual vem a ser assegura o direito à legítima, que corresponde à metade dos bens do testador, ou à metade da sua meação”. Dessa forma, “pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.” (BRASIL, 2002).

Sobre o tema, Gonçalves (2012, p. 206) expõe que “aos herdeiros necessários a lei assegura o direito à legítima, que corresponde à metade dos bens do testador, ou à metade da sua meação.”

Gama (2007, p. 133) conceitua a legitima como sendo “a porção da herança que a lei reserva aos herdeiros necessários, não podendo ser atingida pelo poder do testador de dispor sobre ela em testamento no sentido de favorecer outras pessoas que não os herdeiros necessários.”

A legítima, portanto, vem a ser o montante pelo qual o de cujus não pode dispor, sendo garantido legalmente aos herdeiros necessários. Ainda, Gama (2007, p. 133) expõe que “a parte disponível, ao contrário da legítima, é a parte dos bens de que a pessoa pode dispor livremente, mesmo que tenha herdeiros legítimos necessários.”

Destarte, se o autor da herança não deixar testamento, os herdeiros necessários perceberão a integralidade a herança, respeitando a ordem de vocação hereditária. Contudo, não havendo herdeiros necessários, o autor da herança pode, em vida, dispor de todo seu patrimônio.

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3 O DIREITO VIRTUAL NA ORDEM JURÍDICA BRASILEIRA: BREVES CONSIDERAÇÕES

O estudo acerca do Direito Virtual é de grande relevância, pois a sociedade está em constantes transformações. Essa nova ciência tem trazido reflexos nos mais diversos segmentos e o Direito tem que acompanhar essa evolução, a fim de regular as relações sociais.

3.1 O DIREITO NA ERA DIGITAL

Uma sociedade abarcada nos conceitos éticos e morais, bem como nos bons costumes, ao ser surpreendido com inovações, tende, a princípio, duvidar de seus benefícios.

Sobre o tema, Batista (2014, p. 43) preceitua que “a tecnologia é trabalho humano materializado e cabe ao homem construir uma relação de velocidade maior ou menor com a tecnologia, que refletirá em sua evolução e obsolescência.”

Rohnrmann (2005, p. 1) se posiciona acerca do Direito Virtual da seguinte forma:

a revolução das telecomunicações fez surgir o que ficou conhecido como “ciberespaço”, “mundo online” ou “ mundo virtual”. Cuida-se do ambiente de comunicação que interliga os dispositivos eletrônicos, permitindo às pessoas a realização de vários atos, muitos dos quais jurídicos.

Dentre tantas evoluções no meio social, sejam elas em ambientes familiares, industriais, medicinais, ou, até mesmo, nas próprias normas regulamentadoras e relações jurídicas, tem-se como um dos meios influenciadores da tecnologia, a virtualização nos meios de informação.

Para Pinheiro (2010, p. 33), “a virtualidade, por ser intangível, deixa muitas vezes uma impressão errada. Não há outro no mundo, mas sim uma extensão do mundo presencial, e nossos atos no meio digital provocam efeitos e consequências na vida real.”

Tratando-se de perspectivas de campo do Direito e de suas ramificações na atuação em meio a sociedade, Teixeira (2015, p. 22) se posiciona com relação ao Direito Virtual, dizendo que “não se trata de um ramo do Direito, pois no fundo o que temos são relações jurídicas sendo cada vez mais estabelecidas virtualmente, o que pode necessitar, em alguma medida, de ajustes no ordenamento jurídico, mas não o caso de um novo ramo do Direito.”

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No mesmo sentido, expõe Pinheiro (2008, p. 35) que “não devemos achar, portanto que o Direito Digital é totalmente novo. Ao contrário, tem ele sua guarida na maioria dos princípios do Direito atual, além de aproveitar a maior parte da legislação em vigor.”

Levy (2007, p.11) traz em sua obra uma significativa conceituação da virtualização da sociedade, elucidando que:

a virtualização atinge mesmo as modalidades do estar junto, a constituição do “nós: comunidades virtuais, empresas virtuais, democracia virtual... Embora a digitalização das mensagens e a extensão do ciberespaço desempenhem um papel capital na mutação em curso, trata-se de uma onda de fundo que ultrapassa amplamente a informatização.”

Já Rover (2004, p. 33) preceitua que “o virtual apresenta-se como algo mais estável, substantivo. A virtualização, por sua vez, apresenta-se como processo, que não tem início e nem fim. Ocorre a todo instante, em todo lugar.”

Refletindo sobre o tema, Pinheiro (2008, p. 1) aduz que “o cotidiano do mundo jurídico resumia-se a papéis. Burocracia e prazos. Com as mudanças ocorridas desde então, ingressamos na era do tempo real, do deslocamento virtual dos negócios, da quebra de paradigmas.”

E Lima (2000, p. 1), por sua vez, confirma a existência de um novo paradigma, afirmando que:

é inegável que estamos em um processo de mudança cada vez mais acelerada. Mudanças estas que estão transformando nosso meio ambiente, nossa maneira de trabalhar, nos divertir e nos relacionar com os demais. Em outras palavras, estamos no meio de um processo de transformação que nos impõe repensar nossas relações com a realidade. E isto, sem sombra de dúvidas, pode ser considerado uma mudança paradigmática.

Diante do cenário vivido atualmente, com tantas novidades que surgem em nosso meio, destaca-se a influência que teve a internet sob as relações da sociedade ocasionando o surgimento do Direito Virtual, que tenta estabelecer parâmetros e gerar, por conseguinte, resguardo no convívio pessoal, que ocorrem em um mundo tecnológico face às transformações experimentadas.

A Legislação traz o conceito de internet na alínea “a” do item 3 da Norma nº. 004/1995, aprovada pela Portaria nº. 148, de 31 de maio de 1995, do Ministério do Estado das Comunicações (ANATEL, 1995): “Nome genérico que designa o conjunto de redes, os meios de transmissão e comutação, roteadores, equipamentos

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e protocolos necessários a comunicação entre computadores, bem como o software1e os dados contidos nestes computadores.”

Segundo Rover (2004, p. 142), “o direito virtual não se restringe ao direito tecnológico. Quando nos referimos ao direito virtual pensamos no direito em que aplica a Internet e a tecnologia. A tecnologia auxilia o direito, mas não é o próprio direito virtual.”

Ainda, na visão de Rover (2004, p. 144), “o direito virtual, antes de ser tecnológico, é o direito que se apresenta potencialmente íntegro, humano, que não vive a fantasia da fragmentação, o direito virtual é real.”

Consoante Pinheiro (2010, p. 25), “o direito digital, de forma simples, é a evolução do próprio direito aplicado a realidade atual da sociedade. Logo, reúne um conjunto de princípios fundamentais e instrumentos jurídicos já existentes.”

Como é notório dizer, os reflexos decorrentes do Direito Virtual são marcantes e desafiadores, sendo que “a proposta é que o Direito siga sua vocação de refletir as grandes mudanças culturais e comportamentais vividas pela sociedade.” (PINHEIRO 2008, p. 30).

Aliás, “no direito digital prevalecem os princípios em relação às regras, pois o ritmo de evolução tecnológica será sempre mais veloz que o da atividade legislativa.” (PINHEIRO, 2008, p. 30).

Na mesma esteira, Ronhrmann (2005, p. 9) aduz que “o desafio para o Direito Virtual é apresentar soluções para as novas situações de conflitos trazidas pela virtualização de grande número de atos jurídicos.”

Para Rover (2004, p. 14), “o Direito, de uma forma geral, já não pode se mostrar indiferente aos avanços da ciência, da técnica e principalmente, da produção de riscos, pois esses elementos incidem decisivamente na configuração do sistema jurídico.”

O Direito Digital, portanto, trata-se do Direito em si, estando ele unido a todas as áreas já existentes do Direito, seja penal, civil, trabalhista, constitucional, tributário, contratual, entre outros (PINHEIRO, 2008).

1

Software é um agrupamento de comandos escritos em uma linguagem de programação. Estes comandos, ou instruções, criam as ações dentro do programa, e permitem seu funcionamento. Resumindo, é tudo que pode ser executado no computador (PACIEVITCH, 2011).

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Ademais, importante registrar o ensinamento de Pinheiro (2008, p. 3) quando diz que “toda mudança tecnológica é uma mudança social, comportamental, portanto jurídica.”

Por este ângulo é que se vê quão importante é o acompanhamento das normas jurídicas aos novos segmentos tecnológicos, sua adaptação, a fim de que a sociedade esteja amparada legalmente.

3.2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Está cada vez mais aparente a conexão entre a informação e a tecnologia, pois a informação se difunde de uma forma muito mais veloz através de mecanismos tecnológicos, de modo que a sociedade está inserida nesse contexto.

Gazieiro (2013) discorre acerca de alguns objetivos das interações entre as informações ocorridas nos meios digitais, da seguinte forma:

a Internet está inserida no contexto da globalização e acesso às informações, atualmente, com o objetivo primordial de possibilitar, por meio da transmissão de informações, pesquisas, análises fáticas da sociedade e, principalmente, permitir a troca de experiências entre indivíduos, empresas, instituições e governos.

Já Limberger (2007, p. 51) fala de um importante passo dado pela humanidade:

a história da humanidade experimentou importantes mudanças devido a algumas descobertas que permitiram o desenvolvimento da civilização. Uma das primeiras a ser considerada é a escrita, que propiciou às pessoas evoluir de uma comunicação oral a uma comunicação gráfica. Com o advento da escrita, a informação pôde ser guardada e levada a outros lugares, bem como ser armazenada para outras gerações.

Para Paesani, (2013, p. 202), estar-se-ia em uma sociedade chamada de “sociedade da informação”, e isso porque a informação tornou-se o objeto central contemporâneo.

Reis (2016) traz duas nomenclaturas referentes a esse novo conceito de sociedade, quais sejam:

o nome de “Sociedade da Informação” ou “Sociedade do Conhecimento” foi dado a este período histórico no qual a informação passou a prevalecer sobre os meios de produção e no qual a realização de atos e negócios jurídicos se utiliza dos meios de comunicação.

Diante desse novo contexto, Rover (2004, p. 357) dispõe sobre a dificuldade que encontra em descrever essa nova categoria de sociedade, pois

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não existe um consenso quanto a terminologia que representa esse novo paradigma social, caracterizado pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e principalmente pela digitalização das informações e conhecimentos que proporcionam à sociedade global uma nova reflexão acerca dos diversos sistemas da sociedade.

Revela, ainda, Paesani (2013, p. 203) sobre o assunto, que:

a sociedade da informação é constituída em tecnologias de informação e

comunicação que envolvem a aquisição, o armazenamento, o

processamento e a distribuição da informação por meios eletrônicos, como rádio, televisão, telefone, computadores e entre outros.

Diante de tantas transformações, o mundo se depara com um novo mister de ideais, eis que “Nessa nova realidade, a versão impressa é cópia, e as testemunhas são as máquinas”, consoante discorre Pinheiro (2008, p. 1).

Com relação aos efeitos causados pela transição em que passa a sociedade, Paesani (2013, p. 203) atesta que “as relações sociais e consequentemente as relações jurídicas sofreram impactos e mudanças com o surgimento dessa sociedade calçada na informação. Podemos, sem medo de errar, falar em nova economia, novo direito, nova sociedade, etc.”

Em se tratando do termo transformações, Lima (2000, p. 2) ressalta:

transformações que representam uma ruptura com uma forma de pensar adquirida em árduo desenvolvimento intelectual da humanidade e a adoção de um novo modelo ainda não muito claramente formatado, mas que Irá conduzir a novos caminhos em nosso processo evolutivo.

Nesse sentido, então, afirma Paesani (2013, p. 203) que “a sociedade da informação caracteriza-se pela revolução tecnológica, a qual passou a fornecer as bases da economia e do conhecimento em geral.”

A humanidade passou por diversas revoluções e, para Pinheiro (2010, p. 2) “as leis passaram a proteger mais as fronteiras entre os países e também o trabalhador, e agora estamos passando pela terceira grande revolução, que é a da informação, em que o modelo de riqueza é o conhecimento.”

3.3 DIREITOS FUNDAMENTAIS NO DIREITO VIRTUAL

3.3.1 Direito à privacidade

A oferta e facilidade trazidas pelo mundo virtual às pessoas as deixaram de certa forma, expostas. Os sites de relacionamentos dispõem de uma

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acessibilidade facilitada, na qual influenciam que as pessoas venham a divulgar seus dados pessoais e expor sua vida privada.

Sobre o assunto, Rover (2004, p. 33) destaca que “há problemas basilares a serem discutidos e definidos, como os seguintes: proteção à privacidade, defesa dos direitos autorais, democratização das informações e a proibição de monopólio de informações.”

Como um direito fundamental, o artigo 5° da Constituição Federal, em seu inciso X, assegura que: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.” (BRASIL, 1988).

Paesani (2014, p. 34) preceitua que:

o direito à privacidade ou direito ao resguardo tem como fundamento a defesa da personalidade humana contra injunções ou intromissões alheias. Esse direito vem assumindo, aos poucos, maior relevo, com a expansão das novas técnicas de comunicação, que colocam o homem numa exposição permanente.

Ainda, Paesani (2014, p. 43) traz o seguinte questionamento: “O que é a Privacidade, hoje? A privacidade adquiriu novo significado e nova extensão correspondente ao direito reconhecido ao indivíduo de exercer o controle sobre o uso dos próprios dados pessoais inseridos num arquivo eletrônico.”

Ronhrmann (2005, p. 157) explica que: “o direito à privacidade refere-se ao direito de subtrair ao conhecimento de terceiros a divulgação de certos aspectos da vida privada.”

Silva (2007, p. 206) prefere usar a expressão “direito à privacidade” num sentido genérico e amplo, de modo a abarcar todas essas manifestações da esfera “íntima, privada e da personalidade.”

Bastos ([1989]) conceitua privacidade como a:

faculdade que tem cada indivíduo de obstar a intromissão de estranhos em sua vida privada e familiar, assim como de impedir-lhes o acesso a informações sobre a privacidade de cada um, e também impedir que sejam divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser humano.

Nota-se que o direito à privacidade é considerado um direito fundamental e está incluído no rol dos direitos da personalidade, encontrando amparo legal no artigo 21 do Código Civil, ao preceituar que “a vida privada da pessoa natural é

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inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.”

No entendimento de Doneda (2008):

a privacidade é componente essencial da formação da pessoa. A sutil definição do que é exposto ou não sobre alguém, do que se quer tornar público ou o que se quer esconder, ou a quem se deseja revelar algo, mais do que meramente uma preferência ou capricho, define propriamente o que é um indivíduo.

Em suma, conforme Vieira (2014), “a definição de privacidade elaborada no novo contexto de tecnologia também está imbuída na complexidade da construção da definição da proteção de dados, que vai além da tutela da intimidade individual.”

3.3.2 Direito à intimidade

A inviolabilidade da intimidade é prevista como garantia constitucional, e disciplinada no inciso X da Carta Magna.

Para Vieira (2014), “a intimidade é intrinsecamente engajada na pessoa, pertencente à vida privada e sem possibilidades de tornar-se público sem sua violação propriamente dita, permeando o centro da privacidade, onde esta abrange aquela.”

Já Limberger (2007, p. 116) demonstra a importância que possui tal garantia como constitucional, ao preceituar que:

o direito fundamental à intimidade pessoal e familiar, deriva-se da dignidade humana e está vinculado à própria personalidade, sendo seu núcleo central. Como direito que é da expressão da própria pessoa, desfruta da mais alta proteção constitucional.

Ainda, Limberger (2007, p. 119) correlaciona a intimidade com a personalidade, ensinando que “as exigências do mundo tecnológico atual fizeram com o que o direito tutelasse essa nova face da intimidade. A intimidade deriva da dignidade humana, é um direito fundamental que integra a personalidade.”

Para Ferraz Junior (1992, p. 77), “a intimidade é o âmbito do exclusivo que alguém reserva para si, sem nenhuma repercussão social, nem mesmo ao alcance da sua vida privada que, por mais isolada que seja, é sempre um viver entre os outros.”

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Atualmente existe muita preocupação com a violação da intimidade das pessoas e, com isso, Oliveira Junior (2012) realça a relevância desse direito, ao aduzir que: “a intimidade pode ser vista como valor supremo dos indivíduos enquanto vivendo em sociedade. Trata-se de um direito essencial, inalienável, inapreensível, portanto livre de amarras e contornos.”

Nessa mesma linha, Queiroz (2015) afirma que “no âmbito civilista, o direito à intimidade é tipificado como direito da personalidade, inerente, pois, ao próprio homem, tendo por objetivo resguardar a dignidade e integridade da pessoa humana.”

Isso posto, nota-se que quando um direito é fundamental, é porque possui caráter essencial na vida, e assim é o direito a intimidade.

3.3.3 Direito à informação

O direito à informação encontra-se disposto no inciso XIV da Constituição Federal, da seguinte forma: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.” (BRASIL, 1988).

É considerado um direito fundamental, merecendo especial destaque face a adaptação que a sociedade está inserida, que vem a ser o meio virtual de se relacionar, interagir, armazenar dados e arquivos.

Assim sendo, preceitua Oliveira (2011) que:

o direito à informação, tanto no sentido de acesso quanto de difusão encontra uma limitação por parte de outros direitos que incidem sobre a informação. Na medida em que é disponibilizado, o conhecimento lida igualmente com sua tutela, configurando-se assim os direitos que o criador deste conhecimento/informação adquire com sua concepção.

E Limberger (2007, p. 52), por sua vez, afirma que “o progresso tecnológico e o direito à informação vão configurar uma nova face ao conceito de intimidade. Às vezes, o direito à informação encontra limites em alguns direitos fundamentais, entre eles o direito a intimidade.”

3.4 PRINCIPAIS LEIS REFERENTES AO DIREITO DIGITAL

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A Lei nº. 12.737/2012, conhecida por Lei Carolina Dieckmann, levou o referido nome por se tratar de caso que envolveu a mencionada atriz, quando seu computador fora invadido e teve, arquivos e fotos íntimas, divulgados por meio das redes sociais.

Com a alteração, o Código Penal Brasileiro foi acrescido dos artigos 154-A e 154-B no Capítulo IV, que trata dos crimes contra a liberdade individual, na seção dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos.

A referida lei, no caput do artigo 154-A, dispõe que é crime:

invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. (BRASIL, 1940).

O caput do artigo 154-A reproduz a ideia de criminalizar a conduta de quem se apodera por meios ilícitos e sem permissão de ativos, armazenados virtualmente. Cada vez mais pessoas têm a necessidade de usar desses meios digitais para aprimoramento profissional ou como forma de relacionamento e entretenimento, porém, a evolução tecnológica não está imune da ocorrência de práticas ilícitas.

Nesse diapasão, Borges (2013) defende que “a referida lei representa um avanço considerável na garantia da segurança de dados.”

3.4.2 Lei nº 12.965/2014

Devido à proporção que o uso da internet se deu na sociedade, algumas complicações surgiram, haja vista a inexistência de regulamentação do tema. Assim, foi criada a Lei nº. 12.965/2014, conhecida como, o Marco Civil da Internet, que, de acordo com Leite (2014, p. 79) “traz consigo a promessa de alterar definitivamente a maneira como o Direito se aproxima das relações sociais desenvolvidas no âmbito da Rede.”

De acordo com Pereira (2014), o projeto de tramitação do Marco Civil da Internet recebeu especial atenção após ter se tomado conhecimento de que o governo brasileiro teria sido alvo de espionagem, que “após a divulgação de notícias de que autoridades brasileiras eram alvos de espionagem cibernética, atribuiu-se

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urgência constitucional à tramitação do Projeto de Lei, o que culminou em sua sanção no mês de abril.”

No entendimento de Pereira (2014), “o Marco Civil da Internet tem como objetivo precípuo oferecer segurança jurídica aos usuários da rede, sejam eles internautas, empresas, provedores e Administração Pública.”

Karasinsk (2014), sobre o tema alude que:

o Marco Civil da Internet é uma legislação que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. O principal objetivo é regulamentar a rede no país para garantir que a internet continue livre, não proprietária e culturalmente diversificada.

Dentre as garantias que o Marco Civil da Internet prevê, estão o direito à inviolabilidade da intimidade e da vida privada, já tratados anteriormente. Além disso, o artigo 7º da Lei nº. 12.965/2014 prevê alguns direitos ao usuário da internet, colacionando-se:

Art. 7º. O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuáriosão assegurados os seguintes direitos:

I – inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

II – inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;

III – inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;

IV – nãosuspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização;

V – manutenção da qualidade contratada da conexão à internet;

VI – informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de serviços, com detalhamento sobre o regime de proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a aplicações de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam afetar sua qualidade; VII – não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei; (BRASIL, 2014)

Costa (2015) expõe algumas ponderações com relação à importância da criação dessa lei, da seguinte forma:

Sua criação teve importância ímpar na regulação das relações digitais, especialmente no que tange a: inclusão digital (art. 27); exigência de neutralidade da rede (art. 9º), evitando, assim, a discriminação da informação; proteção à intimidade e ao sigilo dos dados (art. 7º, I, II, III), inclusive com a exigência de consentimento expresso do usuário para a coleta, o uso, o armazenamento e o tratamento de dados pessoais (art. 7º, IX); e garantia da liberdade de expressão, como fundamento do uso da Internet no Brasil (art. 2º). O detalhamento de garantias consumeristas aplicáveis às relações no ambiente digital também é um ponto positivo da norma (vide art. 7º, IV a VIII e XI a XIII).

No mesmo sentido, disciplina Leite (2014, p. 51) que “o objetivo foi estabelecer o conjunto de direitos e deveres aplicáveis aos usuários de internet,

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provedores e poder público, proporcionando, na medida do possível, a melhor conciliação entre o Direito e a chamada cultura digital.”

O Marco Civil da Internet, portanto, foi a grande evolução no meio legal, do ambiente virtual, fornecendo às pessoas, diretrizes e amparos frente aos avanços sociais e midiáticos.

Destarte, passa-se a analisar o patrimônio virtual como objeto do Direito Sucessório.

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4 O DIREITO SUCESSÓRIO DO PATRIMÔNIO VIRTUAL

É comum que as pessoas acumulem bens ao longo de suas vidas, os quais serão objetos de um eventual processo de inventário quando da morte do autor da herança.

Mas quando os bens em tela estiverem armazenados virtualmente, deve-se ter a certeza do destino que os mesmos terão quando da morte de deve-seu titular, bem como se poderão ser considerados como parte do acervo hereditário. Com essa proposta, passa-se a considerar o que pode ser incluído no conceito de herança digital.

4.1 HERANÇA DIGITAL – CONCEITO

Conforme visto anteriormente, após o falecimento de uma pessoa, todo o seu patrimônio é repartido entre seus herdeiros, tendo em vista a garantia constitucional do direito à herança.

Entretanto, em face a atual possibilidade de acumular bens em um ambiente digital, tem-se a necessidade de se analisar a natureza jurídica e a destinação dos ativos digitais.

Costa Filho (2016) aborda a viabilidade de reconhecer os bens armazenados virtualmente como parte do patrimônio sucessório do de cujus, tendo em vista ser um tema extremamente recente, e que tem se desenvolvido com uma nova geração de pessoas, colacionando-se:

enquanto a transmissão patrimonial após a morte é um fenômeno milenar, apenas recentemente a herança digital passou a ser objeto do direito das sucessões, sendo ainda controversa até mesmo a caracterização de bens armazenados virtualmente como patrimônio.

A aquisição de livros e músicas, por exemplo, passou a ser de forma virtual, uma conta em um blog, tornou-se fonte de renda. Nesse sentido, se explora a possibilidade de enquadrar esses ativos como forma de patrimônio pessoal, suscetível de transmissão post mortem.

Barreto e Nery Neto (2016) apontam que “o problema a ser enfrentado pelo Direito, nessa sociedade ultramoderna na qual as relações sociais tornaram-se eletrônicas, é regular a sucessão do patrimônio digital dos indivíduos.”

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No Direito Sucessório, como já foi visto, herança é o conjunto de bens, direitos e obrigações que é transmitido aos herdeiros ou legatários por meio da sucessão legitima ou testamentaria, após ocorrer a morte do de cujus (VENOSA, 2007).

Corrobora Diniz (2007, p. 38) afirmando que “a herança é, portanto, o patrimônio do falecido, ou seja, o conjunto de bens materiais, direitos e obrigações.”

Dessa forma, entende-se que o de cujus constituiu ao longo de sua vida um patrimônio, o qual este será transferido aos herdeiros após a sua morte.

Consoante ao tema, Coelho (2012) preleciona que a herança é composta pelos bens patrimoniais da pessoa falecida e que, sendo aberta a sucessão, seus titulares são os herdeiros legítimos e testamentários.

Ao se falar em patrimônio, Venosa (2005, p. 23) o conceitua “como o conjunto de direitos reais e obrigacionais, ativos e passivos, pertencentes a uma pessoa. O patrimônio transmissível, portanto, contém bens materiais ou imateriais, mas sempre coisas avaliáveis economicamente.”

Complementando o estudo acerca do vínculo patrimonial na composição do acervo hereditário, é relevante mostrar os conceitos trazidos doutrinariamente quanto à caracterização de um bem, dessa forma, Ribeiro (2006) traz o conceito de que os bens em uma relação jurídica são:

os de natureza patrimonial, isto é, tudo aquilo que se possa incorporar ao nosso patrimônio é um bem: uma casa, um carro, uma roupa, um livro, ou um CD. Além disso, há uma classe de bens jurídicos não-patrimoniais. Não são economicamente estimáveis, como também insuscetíveis de valoração pecuniária: a vida e a honra são exemplos fáceis de se compreender.

Na visão de Gagliano e Pamplona Filho (2009, p. 254), “bem jurídico é a utilidade, física ou imaterial, objeto de uma relação jurídica, seja pessoal ou real.”

Ainda, ao fazerem a distinção entre bem e coisa, sustentam que “bem envolve o que pode ser objeto de direito sem valor econômico, ao passo que coisa restringe-se as utilidades patrimoniais.” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2009, p. 254).

O Código Civil trata dos bens no seu Livro II, onde demonstra todas as categorias existentes. A doutrina, por sua vez, elenca algumas subdivisões.

Diniz (2012, p. 365) aponta várias classificações, e, dentre elas, vale ressaltar a distinção entre bens corpóreos e incorpóreos:

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os bens corpóreos são coisas que têm existência material, como uma casa […] os bens incorpóreos não tem existência tangível e são relativos aos direitos que as pessoas naturais ou jurídicas têm sobre as coisas, sobre os produtos de seu intelecto ou contra outra pessoa, apresentando valor econômico [...].

Já Coelho (2006, p. 267) traz a distinção entre bens móveis e imóveis, dispondo que “imóveis são os bens que não podem ser transportados de um lugar para o outro e móveis os que se podem transportar íntegros.”

Costa Filho (2016) correlaciona a ideia de patrimônio expressa pelo Código Civil de 2002 com as espécies de patrimônio virtual, de forma que:

Desse modo, sendo a herança o patrimônio transmitido aos herdeiros e considerando a ideia expressa pelo código de 2002 de que o patrimônio inclui o complexo de relações jurídicas dotadas de valor econômico de uma determinada pessoa, percebe-se que arquivos digitais dotados de tal valor devem fazer parte da partilha.

Sobre esse prisma, Lopes (2017) menciona a possibilidade de integração dos dados digitais ao acervo patrimonial do de cujus, ao passo que “Infere-se que os dados digitais são abrangidos pelo conceito de bens imateriais, visto que não contam com existência física, material, encontrando-se apenas na esfera virtual, existentes tão somente no âmbito virtual.”

Dessa forma, Barreto e Nery Neto (2016), ao falar em acervo digital, expressam seu entendimento relacionado ao valor pecuniário, ou seja, “quanto aos bens economicamente valoráveis, indubitavelmente, estes integram o conceito de patrimônio, devendo assim ser alcançados pelo direito de herança.”

E continuam, aduzindo que “tanto podemos ter valiosos acervos digitais (inúmeros livros, filmes, músicas) adquiridos pelo usuário, bem como perfis de redes sociais que geram receita mensal ao usuário.” (BARRETO; NERY NETO, 2016).

Costa Filho (2016) também faz uma interpretação analógica ao posicionamento dos bens digitais frente a falta de disposição legal, de modo que “diante da ausência de qualquer disposição que trate especificamente dos bens armazenados virtualmente no Código Civil, a transmissão desses bens através de herança decorre de interpretação extensiva e sistemática.”

Ao falar em forma de se estabelecer uma sucessão aos dados digitais, Lopes (2017) aponta o instituto do codicilo como um meio legal de transmissão daqueles bens sem valoração econômica, por exemplo, o acesso aos dados das

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