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As mídias sociais e o Occupy Wall Street

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Academic year: 2021

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MANUELA DA ROSA JORGE

AS MÍDIAS SOCIAIS E O OCCUPY WALL STREET

Florianópolis, 2013

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AS MÍDIAS SOCIAIS E O OCCUPY WALL STREET

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, Dr.

Florianópolis, 2013

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AS MÍDIAS SOCIAIS E O OCCUPY WALL STREET

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 24 de Junho de 2013.

________________________________________________________________ Prof. e orientador José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

________________________________________________________________ Prof. João Batista da Silva, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

________________________________________________________________ Profa. Dâmaris de Oliveira B. da Silva, Msc.

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Dedico este trabalho de conclusão de curso aos meus pais, Carolina Henriqueta e Carlos Alberto, os quais em todos os anos de minha vida, e principalmente nos anos da graduação, me apoiaram, me incentivaram a perseguir meus sonhos e a acreditar em mim mesma e me encheram

de amor todos os dias,

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Acredito que agradecer a todas as pessoas que diretamente e indiretamente contribuíram para a concretização desta minha caminhada seria um pouco longo, então serei breve e pontual, mas sem deixar de agradecer a todos aqueles que são especiais para mim, de alguma maneira.

Um agradecimento não só por este trabalho, mas por todos os dias de minha vida, aos meus maravilhosos pais: Carlos Alberto e Carolina Henriqueta. Cada qual com seu jeito e maneira de viver, mas sempre, incondicionalmente, me apoiando com a maior paciência e sempre escutando, atentos, às minhas ideias, aguentando a minha inquietação diária e me mostrando que sou capaz de realizar todos os meus sonhos - sem esquecer de todo o amor que eles me transmitem e todo o orgulho que tenho em ser filha deles. Amo vocês, incondicionalmente.

Serei eternamente grata a toda paciência e atenção com que o Professor Dr. Baltazar Guerra dedicou do seu valioso tempo para me orientar em cada passo deste trabalho, sempre se mostrando interessado pelo meu tema e me incentivando a cada orientação, não esquecendo de deixar aqui registrado a grande admiração e respeito que tenho para com ele. Obrigada, Mestre.

Agradeço às minhas irmãs Laíse e Maíra, ao meu cunhado Ricardo, ao meu irmão Emir e a minha cunhada Caroline por me apoiarem, cada um da sua maneira, por participarem das minhas realizações e por me aconselharem com suas experiências de estrada e por sempre visarem o meu bem. Amo vocês.

O meu muito obrigada à Professora Fabiana Witt, por sua paciência, atenção e calma durante as aulas de TCC e à bibliotecária Tatiana por sua gentileza, atenção e profissionalismo.

O meu agradecimento aos meus amigos se estenderia por longas páginas, caso fosse citar cada um deles e o por que de cada um ter sido diretamente ou indiretamente fundamental para a concretização deste trabalho e desta caminhada, portanto, amigos, sintam-se muito, mas muito agradecidos mesmo, cada um de vocês. Vocês estiveram e estão presentes nos momentos de grandes alegrias mas também nos de tristeza. Dessa forma, agradeço a vocês por me darem força, por vibrem com as minhas conquistas, por me presentearem com amizades como as de vocês e por me escolherem para fazer parte de suas vidas. Obrigada do fundo do meu coração, amo muito vocês.

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Este trabalho objetivou analisar o uso das mídias sociais nos movimentos sociais decorrentes do ano de 2011: os Indignados na Espanha, a Primavera Árabe no Egito e, com maior ênfase, o Occupy Wall Street nos Estados Unidos, bem como procurou ressaltar os precedentes desses movimentos sociais como a crise econômica de 2008. Através da pesquisa básica, qualitativa, exploratória, bibliográfica e documental foram descritas as influencias das mídias sociais nesses movimentos sociais bem como revisou conceitos de globalização, mídias sociais, crise do sistema econômico e movimentos sociais. A pesquisa contribuiu tanto para a pesquisadora que almeja seguir a carreira jornalística, bem como para a sociedade, estados e academia, uma vez que esses movimentos sociais estão cada vez mais organizados e sem prazo para terminar.

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This study aimed to analyze the use of three types of social media – Facebook, Twitter and YouTube- in social movements arising from the year 2011: the Indignados in Spain, the Arab Spring in Egypt and more emphasis on the Occupy Wall Street in the United States and sought to highlight the unprecedented of these social movements such as the 2008 economic crisis. Through basic research, qualitative, exploratory, literature and documents were described influences of social media in these social movements and also revised concepts of globalization, social media, crisis of the economic system and social movements. The research has contributed much to the researcher who longs to follow journalistic career, as well as to society, academic studies and states, since these social movements are increasingly organized and has no deadline to finish.

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1 INTRODUÇÃO ... 9

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 9

1.2 OBJETIVOS ... 11

1.2.1 Objetivo geral ... 11

1.2.2 Objetivos específicos ... 11

1.3 JUSTIFICATIVA ... 11

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 13

1.4.1 Classificação da pesquisa quanto à natureza ... 14

1.4.2 Classificação da pesquisa quanto à abordagem ... 14

1.4.3 Classificação da pesquisa quanto aos objetivos ... 15

1.4.4 Classificação da pesquisa quanto aos procedimentos ... 15

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 17 2.1 GLOBALIZAÇÃO ... 17 2.2 MÍDIAS SOCIAIS ... 19 2.2.1 Facebook ... 21 2.2.2 YouTube ... 22 2.2.3 Twitter ... 24

2.3 CRISE DO SISTEMA ECONÔMICO ... 24

2.4 MOVIMENTOS SOCIAIS ... 27

3 DESENVOLVIMENTO DE ESTUDO ... 31

3.1 A CRISE ECONÔMICA DE 2008 ... 31

3.2 A PRIMAVERA ÁRABE NO EGITO E OS INDIGNADOS NA ESPANHA ... 34

3.2.1 A Primavera Árabe no Egito ... 34

3.2.2 Os Indignados na Espanha ... 40

3.3 OCCUPY WALL STREET ... 45

3.4 AS MÍDIAS SOCIAIS E O OCCUPY WALL STREET ... 57

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 64

REFERÊNCIAS ... 66

ANEXO A - PRINCÍPIOS DE SOLIDARIEDADE ... 75

ANEXO B - AFIRMAÇÃO DE AUTONOMIA ... 76

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1 INTRODUÇÃO

Elaborar um trabalho de pesquisa que trate de um tema contemporâneo tem as suas peculiaridades como, por exemplo, o fato de não apresentar, ainda, um resultado final ou que do dia para noite possa surgir uma nova notícia ou uma nova teoria que modifique certo ponto da pesquisa. Todavia, investigar sobre uma temática que não é muito abordada pela academia brasileira, até o presente momento, traz ânimo e motivação à acadêmica, e é isso que a desafiou a desenvolver esta pesquisa sobre o movimento Occupy Wall Street (OWS) – Ocupe Wall Street, em português – e de ter feito deste o tema de Trabalho de Conclusão de Curso.

Neste capítulo introdutório, serão apresentadas a exposição do tema e do problema, os objetivos geral e específicos, a justificativa, a metodologia utilizada na pesquisa e a estrutura da pesquisa.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

Seja por motivos políticos ou econômicos, ou os dois juntos, o ano de 2011 foi marcado por grandes protestos e manifestações ao redor do mundo. Em Janeiro de 2011, mais de 50.000 pessoas tomaram a Praça de Tahrir no Egito, marcando o início da revolução egípcia contra o governo de Hosni Muraback. Em Maio do mesmo ano, na Espanha, houve protestos em 58 cidades contra as medidas econômicas adotadas por seu governo. Os protestantes espanhóis se autodenominaram “os Indignados” e, em Madrid, a Praça Puerta Del Sol, a principal da capital espanhola, tornou-se o ponto principal e um símbolo durante os protestos nesse País. Já na Grécia, também em Maio de 2011, protestos tomaram as ruas das principais cidades do país, incluindo a capital Atenas.

Os Estados Unidos, mesmo sendo uma potência mundial, também estavam vivenciando uma crise econômica, e em meio a vários protestos e crises internas, em Julho de 2011, um chamado da revista canadense ecológica e anti consumismo Adbusters marcou o nascimento do processo de ação do Occupy Wall Street: “Vocês estão prontos para um momento Tahrir? No dia dezessete de Setembro de 2011 encham o sul de Manhattan, armem tendas, cozinhas, barricadas

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pacíficas e ocupem Wall Street!” (BAUE et al., p.10). Não foi apenas este chamado que fez surgir o movimento OWS, entretanto, ele foi crucial para o seu nascimento.

O Occupy Wall Street é um movimento de pessoas que lutam de uma forma pacífica por um mundo melhor. Lutam devido à falta de empregos em seu país, contra políticos corruptos, grandes corporações e bancos privados, pelo abuso de controle dos mais ricos, pela igualdade social, etc. Segundo Gelder (2011, p.6, tradução nossa):

É fácil perceber quais os motivos de existir do movimento: de uma forma resumida eles querem um mundo que funcione para os 99%. Os cartazes sinalizadores do protesto mostram algumas das preocupações do movimento: dívidas excessivas dos estudantes universitários; bancos que oferecem altos valores em empréstimos aos seus clientes e depois se recusam a ajudar esses mesmos clientes a ficarem com suas casas; cortes nos financiamentos do governo para serviços essenciais; políticas da Reserva Federal; a falta de empregos1.

Para os participantes do movimento, todos são bem vindos, não importa a classe social, cor, raça, idade, nacionalidade, preferência política e gênero. Eles não têm lideres, têm “facilitadores”. Estão abertos a diversas opiniões. Possuem comitês. Utilizam a Internet como seu alicerce principal para a efetivação de suas passeatas, ocupações, acampamentos e assembleias. Possuem diversas plataformas online que contem todos os dados referentes ao movimento e seus próximos eventos, bem como fotos e vídeos feitos pelos próprios participantes. E por ser tão importante, esse jornalismo feito por aqueles que participam do movimento foi denominado de citizen media, “jornalismo cidadão” e, segundo Greenberg (2012, p.265, tradução nossa):

Não importavam quem eles eram: visitantes, participantes ou facilitadores. Eles eram gravados e fotografados e os vídeos assim que feitos, eram colocados no YouTube, e também, no mesmo momento, os canais de rede eram atualizados, deixando os participantes com um senso de importância histórica pessoal2.

1

It is easy to see what the movement is demanding: quite simply, a world for the 99%. The hand lettered protest signs show the range of concerns: excessive student debt; bank that look taxpayer bailouts, then refuse to help homeowners stay in their homes; cuts in government funding for essential services; Federal Reserve; the lack of jobs.

2

No matter who they were: visitors were recorded, photographed, archived, Youtubed, and live-fed on a plethora of global Web channels, imbuing them with a sense of personal historical importance.

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Todas as questões e fatos abordados acima conduzem à questão central de pesquisa, que direcionou e aprofundou o desenvolvimento deste trabalho: Como

as mídias sociais influenciaram o movimento Occupy Wall Street?

1.2 OBJETIVOS

Partindo-se da definição da questão central desta pesquisa, serão apresentados na sequência os objetivos deste trabalho.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é analisar o Occupy Wall Street destacando a importância das mídias sociais para o movimento.

1.2.2 Objetivos específicos

De forma a atingir e complementar o objetivo geral, apresentam-se alguns objetivos específicos a serem alcançados no decorrer do trabalho:

- Caracterizar a crise econômica de 2008;

- Apontar a ligação das mídias sociais com dois movimentos sociais que inspiraram o OWS: os Indignados (Espanha) e a Primavera Árabe – caso Egito;

- Descrever o movimento Occupy Wall Street;

- Descrever a ligação das mídias sociais com o movimento Occupy Wall Street:

1.3 JUSTIFICATIVA

Manifestações da população contra medidas adotadas por um governo ocorrem ao redor do mundo há muitos séculos, sejam elas medidas ligadas diretamente a economia, sejam ligadas a questões sociais. Atualmente, essas manifestações continuam a acontecer, entretanto, com alguns minuciosos detalhes distintos daquelas mais antigas, principalmente na maneira como são organizadas.

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Hoje, a Internet está diretamente ligada às pessoas, e principalmente os jovens se utilizam dela para buscar respostas e fazer dela uma ferramenta diferenciada de informação. Estudar como as mídias sociais influenciam as relações internacionais no mundo atual, especialmente nas manifestações que golpearam o planeta em 2011, e que foram elaboradas via Internet, como a Primavera Árabe, os Indignados e o Occupy Wall Street, é de suma importância e relevância para a pesquisadora, uma vez que a mesma almeja seguir a carreira de jornalista internacional e tem vasto interesse por movimentos sociais, mídias digitais, relações internacionais e principalmente em quão rápida é a disseminação da informação através dessas mídias.

De acordo com Bauer et al. (2011, p.5, tradução nossa):

O Occupy Wall Street é parte de um movimento global que tem alcançado quase todos os continentes no último ano. Embora os protestos tenham tomado diferentes formas e variado em especificidade na sua demanda dependendo do país, todos eles expressaram uma ofensa similar com as desigualdades do irrestrito capitalismo global3.

Além de outras questões, é principalmente a partir desse último ponto ressaltado por Bauer et al (2011), a despeito do capitalismo, que a acadêmica crê que este tema possui alta relevância acadêmica, pois teorias a respeito de uma transformação no sistema econômico também já estão sendo questionadas. Uma das teorias mais respeitadas atualmente é a do sociólogo norte americano, Immanuel Wallerstein, sobre os “sistema mundo” – que na realidade, de acordo com ele, não seria uma teoria e sim um “protesto”. Segundo Wallerstein (2000a, tradução nossa) a respeito dessa teoria:

Eu argumentei que a analise dos sistema mundo não é uma teoria e sim um protesto contra questões negligenciadas e epistemologias enganosas. É um chamado para uma mudança intelectual, de fato “irracional” para as premissas das ciências sociais do século dezenove, como eu disse no título de um de meus livros. O “protesto” é uma tarefa intelectual que é e tem de ser também uma tarefa de cunho político, por que – eu insisto – a procura pela verdade e pelo bom é a mesma busca. Se nós queremos avançar para um mundo que é substantivamente racional, nos termos de Marx Weber, nós não podemos negligenciar nem o desafio intelectual, nem o político. E nós não podemos segmentá-los em dois “containers hermeticamente lacrados”. Nós apenas podemos lutar inquietantes para

3

Occupy Wall Street is a part of a global movement that has reached nearly every continent in the last year. Although the protests in disparate nations have taken place under different forms of government and have varied in the specificity of their demands, all have expressed a similar outrage with the inequities of unfettered global capitalism.

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continuar seguindo em frente e chegar cada vez mais perto de cada um desses desafios, porém simultaneamente4.

A pesquisadora acredita que este assunto é também de extrema relevância para a sociedade uma vez que o planeta vive hoje crises de cunho político, social e econômico, e são cada vez mais evidentes e decorrentes as manifestações contra governos autoritários e\ou contra medidas de austeridade e governos corruptos, e que não apenas a juventude está envolvida nestes movimentos, mas também cidadãos de outras faixas etárias e profissões. O movimento Occupy Wall Street está ligado diretamente a questões socioeconômicas, e segundo Gelder (2011, p.7, tradução nossa):

O movimento Occupy, como assim é chamado, nomeia a fonte da crise do nosso tempo: os bancos de Wall Street, as grandes corporações, e os outros dentre o 1% estão reivindicando a riqueza do mundo para eles mesmos à custa dos 99% e estão trilhando os seus caminhos com os governantes.5

Por fim, a pesquisadora acredita que estudar as ligações das mídias sociais e os atuais movimentos sociais são também de relevante importância para os Estados. Medidas de austeridade, governos corruptos, governos autoritários, insatisfações sociopolíticas e socioeconômicas, desemprego, etc. são algumas questões interligadas desses movimentos com os governos dos países em questão.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento deste trabalho acadêmico foram utilizadas diferentes abordagens de pesquisa, as quais se diferenciaram por suas características: segundo a sua natureza, abordagem do problema, seus objetivos e seus procedimentos.

4

I have argued that world-systems analysis is not a theory but a protest against neglected issues and deceptive epistemologies. It is a call for intellectual change, indeed for “unthinking” the premises of nineteenth-century social science, as I say in the title of one of my books. It is an intellectual task that is and has to be a political task as well, because – I insist – the search for the true and the search for the good is but a single quest. If we are to move forward to a world that is substantively rational, in Max Weber’s usage of this term, we cannot neglect either the intellectual or the political challenge. And we cannot segment them into two hermetically-sealed containers. We can only struggle uneasily with pushing forward simultaneously to coming closer to each of them.

5

The Occupy movement, as it has come to be called, named the source of the crises of our times: Wall Street Banks, big corporations, and others among the 1% are claiming the world´s wealth for themselves at the expense of the 99% and having their way with our governments.

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Segundo Andrade (1998, p.101) “pesquisa é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos”.

A seguir, serão apresentadas as classificações específicas da pesquisa.

1.4.1 Classificação da pesquisa quanto à natureza

A forma de pesquisa quanto à sua natureza pode ser classificada como básica, pois visa unicamente gerar conhecimento, sem finalidades práticas imediatas.

A pesquisa pura ou pesquisa básica tem por finalidade o conhecer por conhecer. Está mais em nível de especulação mental a respeito de determinados fatos. É ainda chamada pesquisa teórica. Esse tipo de pesquisa não implica, em um primeiro momento, ação interventiva e transformação da realidade social. (BARROS; LEHFELD, 2004)

Para a pesquisadora, o conhecimento dos movimentos sociais que decorreram no ano de 2011 é imprescindível para compreender o cenário internacional contemporâneo.

1.4.2 Classificação da pesquisa quanto à abordagem

A pesquisa quanto à abordagem classificou-se em qualitativa.

As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões [...] (OLIVEIRA, 1999, p. 117).

Neste presente trabalho, a pesquisa qualitativa foi de suma importância uma vez que o movimento Occupy Wall Street é apenas um dos vários movimentos de cunho social que estão acontecendo simultaneamente ao redor do mundo. Pesquisar a fundo sobre sua criação e formação, sobre o processo de mudança pelo qual o planeta está passando foi imprescindível para compreender essa avalanche de movimentos sociais globais e sua ligação direta com as mídias sociais.

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1.4.3 Classificação da pesquisa quanto aos objetivos

A forma de investigação quanto aos objetivos, tratou-se de uma pesquisa de caráter exploratório. Segundo Santos (2001, p. 26) “pesquisa exploratória é quase sempre feita como levantamento bibliográfico, entrevistas com profissionais que estudam\atuam na área, visitas a web sites, etc.”. Para um maior aprofundamento no tema, livros escritos pelos próprios organizadores e colaboradores do movimento Occupy Wall Street foram utilizados, bem como web sites oficiais do movimento. Ainda de acordo com Santos (2001, p. 26):

Explorar é tipicamente a primeira aproximação de um tema e visa criar maior familiaridade em relação a um fato ou fenômeno. Quase sempre se busca essa familiaridade pela prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real importância do problema [...].

Ou seja, ao aproximar-se do tema a pesquisadora trouxe para si maior conhecimento a respeito do assunto e pôde assim compreender a verdadeira importância e relevância do tema no cenário atual.

1.4.4 Classificação da pesquisa quanto aos procedimentos

Os procedimentos utilizados para realização deste trabalho foram a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e o levantamento de campo. “A pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno” (OLIVEIRA, 1999, p.119). A presente pesquisa fez uso de acervos virtuais, livros e artigos científicos produzidos sobre o tema os quais continham informações relevantes ao conteúdo do objeto de estudo.

Já a pesquisa documental foi baseada em vídeos sobre o tema. Segundo Reis (2008, p. 53), “a pesquisa documental utiliza-se, primordialmente de documentos que não foram analisados cientificamente, mas que são fontes valiosas de dados e informações antigas [...]”.

Nas plataformas de vídeo na internet, milhares de vídeos foram postados no decorrer dos movimentos pelos próprios participantes, o que facilitou para a pesquisadora na busca por fontes documentais.

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1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

Neste primeiro capítulo foram abordadas as noções iniciais para maior compreensão do leitor do que será apresentado na seguinte seção.

Dessa forma, no capítulo dois, com o objetivo de verificar como as mídias sociais influenciaram o movimento Occupy Wall Street, a fundamentação teórica aprofundou o conhecimento em temas mais amplos, como: a globalização e suas diversas ramificações; a definição de mídias sociais bem como as três mídias que foram conectadas com o movimento Occupy: o Facebook, o Twitter e o Youtube; a crise no sistema econômico que tomou conta do planeta nos últimos cinco anos e os movimentos sociais.

No desenvolvimento que segue essa fundamentação teórica, foram abordados temas de relevância para a compreensão dos objetivos específicos deste trabalho. Foi abordada a crise econômica de 2008: os motivos pelas quais ela se desencadeou e os efeitos da mesma nos Estados Unidos. Foi demonstrado o uso das mídias sociais em movimentos que precederam o OWS: a Primavera Árabe no Egito e os Indignados na Espanha. E também, foram estudados aspectos da criação, formação e das principais características do OWS, bem como verificado o embasamento teórico do movimento e esclarecida a sua ligação com as mídias sociais.

Por fim, no capítulo quatro, foram destacadas as considerações finais deste Trabalho de Conclusão de Curso.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo será apresentado o desenvolvimento da fundamentação teórica o qual abordará aspectos relevantes para esta pesquisa como: a globalização, as mídias sociais, a crise do sistema econômico e os movimentos sociais.

2.1 GLOBALIZAÇÃO

A definição de globalização pode ser encontrada de diversas formas dependendo de seu autor. Para Coutinho (2003, p.58) “definir a globalização é uma tarefa simples e complicada. Sempre faltará algo”. Segundo ele, “a globalização não é um conceito, nem um meio, é um fim; é uma palavra arranjada para definir uma conjunção de forças poderosas” e é também um eufemismo para tudo o que “gera ansiedade e é difícil de definir”. A globalização é um resultado das viagens, do comércio, da navegação da expansão da influencia cultural e da disseminação do conhecimento. Ela não é nova e não é algo do ocidente; explodiu nos últimos anos como uma das consequências do desenvolvimento espetacular da tecnologia que é predominante na conjunção de forças poderosas (COUTINHO, 2003 apud AMARTYA SEN, 2001).

Já para Soros (2003, p. 43), o termo globalização vem sendo muito utilizado, entretanto com diferentes significados. Uma das analises que, segundo ele, se pode fazer a despeito do termo “globalização” é “a globalização da informação e da cultura; a difusão da televisão, da Internet e de outras formas de comunicação; e o aumento da mobilidade e da comercialização de ideias”, ou seja, a globalização, para ele, não enfatiza apenas os mercados e a economia, mas também a maneira como os cidadãos se comunicam e como as informações são transmitidas.

Para Giddens (1990, p.64), “a globalização é a intensificação das relações globais que une localidades distantes de uma forma que acontecimentos locais são relevantes mesmo para localidades a quilômetros de distancia e vice versa”. E, segundo o autor, a globalização afeta as sociedades, as firmas e a vida pessoal das pessoas. Importante frisar que para Giddens a globalização está interconectada em quatro dimensões: os estados nação, a ordem militar global, a economia global e a divisão internacional do trabalho (GEORGANTZAS, 2012, p.6).

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Outra definição interessante de globalização é a do americano Thomas Friedman em seu livro “O mundo é plano”. Friedman é economista de formação e colunista do jornal The New York Times. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, ele passou os três anos seguintes escrevendo sobre os fatos e eventos pós 11 de setembro (FRIEDMAN, 2005). Entretanto ao viajar para a Ásia, ele percebeu que havia “cochilado” naqueles últimos três anos: o mundo continuou girando enquanto ele prestava atenção em apenas fatos relativos aos atentados terroristas e ao Oriente Médio, a chamada “olive tree” - árvore da oliveira. “O que eu perdi”, ele se perguntou e após algum tempo, descobriu que existiam países emergentes e que o mundo era plano.

Para Friedman, a globalização existe desde os tempos das grandes navegações. Entretanto, o termo “globalização” surgiu após a queda do muro de Berlim, evento que para ele, ajudou a deixar o mundo plano. “O muro veio abaixo e o Windows veio à tona” (FRIEDMAN, 2005).

Para ele, a globalização pode ser dividida em três tipos: a 1.0 que se refere à época das grandes navegações até 1800; a 2.0 que é de 1800 até os anos 2000; e a 3.0 que é dos anos 2000 até os dias atuais. A 1.0 é a globalização dos países, como se quebraram as fronteiras e se descobriram novos estados. A 2.0 é a globalização das empresas; com a industrialização e as grandes guerras, as empresas se tornaram atores cruciais no cenário mundial. Já a globalização 3.0 é a dos indivíduos; nos dias atuais não mais os países nem as empresas são o foco no cenário globalizado, e sim, os indivíduos (FRIEDMAN, 2005).

Já de acordo com Wallerstein (2000b), a década de noventa foi consumida pelo discurso da globalização. As pessoas foram avisadas que estariam vivendo aquele momento chamado de a era da globalização pela primeira vez. Foram avisados também que a globalização havia mudado tudo: a soberania dos estados estava em declínio; as habilidades dos cidadãos em resistir às regras do mercado tinham desaparecido; a possibilidade de uma autonomia cultural havia sido anulada; e a estabilidade das identidades dos cidadãos estava em pauta. Segundo ele, esse estado de globalização foi celebrado por alguns e lamentado por outros.

Ainda para Wallerstein (2000b), esse discurso é de fato, um gigante mal entendido da atual realidade: um engano imposto às pessoas pelos poderosos grupos e, ainda pior, um discurso que as próprias pessoas colocaram sobre elas mesmas, muitas vezes por desespero. É um discurso que leva os cidadãos a ignorar

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os reais problemas que os circundam, e também os leva a equivocar-se sobre a histórica crise, a qual todos se encontram. Essas pessoas estão localizadas em uma era de transição: transição não apenas dos países que necessitam alcançar os mais desenvolvidos, e sim, uma transição no sistema capitalista mundial para algum outro sistema, o qual será transformado nessa era.

2.2 MÍDIAS SOCIAIS

Nos últimos dez anos, o surgimento das mídias sociais modificou a maneira como os seres humanos se relacionam e vivem. Segundo Vizer (2007, p.24):

Como na fábula do Escopo, sobre a capacidade da língua para produzir o melhor e o pior do ser humano, os meios de comunicação na Modernidade nos permitiram dizer que “falamos com uma infinidade de línguas”. Os meios se transformam nos “objetos de desejo” e, por sua vez, no objeto do medo. O desejo de apropriar-se do instrumento material do poder simbólico da língua e das imagens, como o que se apropria de um campo de mentes e de subjetividades para “cultivar-lhe” com as palavras, as ideias e a imagem que a própria fantasia do poder deseja instalar no “Outro”. E, por sua vez, o medo de que esse instrumento de poder seja possuído por esse outro, pondo em evidência pública o que os poderosos desejam ocultar.

Nessa linha de infinitas línguas, é possível definir mídia social como aquela utilizada pelas pessoas por meio de tecnologias e políticas na web com fins de compartilhamento de opiniões, ideias, experiências e perspectivas. São consideradas mídias sociais os textos, imagens, áudio e vídeo em blogs, microblogs, quadro de mensagens, podcasts, wikis, vlogs e afins que permitam a interação entre usuários da rede (TERRA, 2011 apud COUTINHO, 2007). Já para Recuero (2009 apud Wasserman e Faust, 1994; Degenne e Forse, 1999), rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (interações ou laços sociais).

John Doerr, um dos maiores investidores de risco do mundo, argumenta que “social representa a “grande terceira onda” de inovação tecnológica, vinda diretamente na esteira da invenção do computador pessoal e da internet” (KEEN, 2012, p.34). Em relação ao social, para Keen (2012, p.17):

Em Oxford eu entendera que o social – tomando como o compartilhamento de nossas informações pessoais, nossa localização, nossas preferências e

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identidades em redes como Twitter, LinkedIn, Google+ e Facebook – era a coisa mais nova da net. Aprendi que toda a nova plataforma social, todo o serviço social, aplicativo social, pagina social estavam se tornando um pedaço desse novo mundo da mídia social – de jornalismo social a empreendedorismo social, passando por comercio social, produção social, aprendizado social, caridade, social, email social, aposta social, televisão social, consumo social e consumidores sociais no gráfico social, um algoritmo que supostamente mapeia cada uma de nossas redes sociais únicas. Considerando que a internet estava se transformando no tecido conjuntivo da vida no século XXI, o futuro – nosso futuro, o seu, o meu e de todos os outros na rede onipresente – iria ser, sim, você adivinhou, social.

De acordo com Terra (2011) “a mídia social tem como características o formato de conversação e não de monólogo”, e ainda segundo a autora, o planeta está na era da midiatização dos indivíduos, na possibilidade de utilizar as mídias digitais como instrumentos de divulgação, exposição e expressão pessoais. Alguns autores ainda compartilham da ideia de que os seres humanos se tornaram “narcisistas da informação”, ou seja, desinteressados de qualquer outra coisa que não seja eles próprios. Ross Douthat, colunista do jornal norte americano New York Times caracteriza esse fato de “narcisismo adolescente desesperado” e, segundo Neil Strauss, autor de best-sellers, “a cultura das redes sociais medica a necessidade de autoestima oferecendo gratificação para conquistar seguidores” (KEEN, 2012, p.32).

Ainda segundo Keen (2012, p.30):

A arquitetura digital é descrita por Clay Shirky, estudioso de mídia social da Universidade de Nova York, como “o tecido conjuntivo da sociedade” e pela ex-secretaria de Estado Hilary Clinton como o novo “sistema nervoso do planeta”. Ela foi projetada para nos transformar em exibicionistas, sempre em exposição em nossos palácios de cristal ligados em rede. E hoje, numa era de comunidades on-line radicalmente transparentes como Twitter e Facebook, o social se tornou o “ambiente padrão” da internet, transformando a tecnologia digital, de ferramenta de uma segunda vida, em parcela cada vez mais nuclear da vida real.

Conectando as redes sociais aos movimentos sociais, o fundador da página da internet Change.org, Bem Rattay, relata que a mídia social é usada para “apoiar e não para implementar estratégias existentes”. Jeremy Heimans, cofundador e CEO da Purpose expõe que a melhor maneira de as pessoas saírem da frente dos computadores e irem para as ruas é pelo próprio computador; segundo ele, não se poderia organizar milhares de cidadãos na cidade de Nova York sem a internet (KANALLEY, 2011). Já para Vizer (2007), o século XXI é demarcado por “novos modos de relação entre militância, novas formas de ativismo social e os

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meios de comunicação”. Para ele, o ativismo social não deve ser forçosamente organizado, nem requerer “atos de fé” nem formalidades. Pode ser espontâneo e tomar a forma de multidões convocadas por situações criticas, como é o caso do Occupy.

Segundo Khonder (2011, tradução nossa):

O significado da globalização da nova mídia apresenta um caso interessante de conectividade horizontal na mobilização social, assim sinalizando uma nova tendência no cruzamento das novas mídias e meios de comunicação convencionais, como televisão, rádio e telefone celular. Uma das contradições da fase atual da globalização é que o Estado, em muitos contextos facilitou a promoção de novos meios de comunicação, devido à compulsão econômica, inadvertidamente, enfrentando as consequências sociais e políticas das novas mídias.6

A seguir serão apresentadas três dessas mídias que são essenciais para a compreensão dessa pesquisa: o Facebook, o Twitter e o YouTube. Este último não é considerado uma mídia social em si, entretanto ele é aqui englobado, pois foi crucial para a disseminação da informação no movimento Occupy Wall Street.

2.2.1 Facebook

O Facebook foi inventado por um estudante de Ciências da Computação de Harvard, Mark Zuckerberg, juntamente com seus colegas Eduardo Saverin (brasileiro), Dustin Moskovitz e Chris Hughes. O primeiro nome da plataforma foi Facemash. O Facemash foi criado para que os estudantes da Universidade de Harvard opinassem a respeito de duas fotos de duas estudantes, lado a lado, e eles deveriam dizer quem era a mais bonita. Para conseguir as fotos das estudantes, Zuckerberg invadiu o sistema de segurança de Harvard e copiou todas as fotos das carteirinhas de estudante das meninas matriculadas em Harvard (BELLIS, 2012b).

O Facemash foi ao ar na rede em Outubro de 2003, e fechou alguns dias depois pelos advogados de Harvard. Mark enfrentou queixas de quebra de sigilo, violação de sistema, cópia sem autorização, violação de privacidade, etc. (BELLIS,

6

The significance of the globalization of the new media is highlighted as it presents an interesting case of horizontal connectivity in social mobilization as well signaling a new trend in the intersection of new media and conventional media such as television, radio, and mobile phone. One of the contradictions of the present phase of globalization is that the state in many contexts facilitated the promotion of new media due to economic compulsion, inadvertently facing the social and political consequences of the new media.

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2012b). Um pouco depois, em Fevereiro de 2004, Zuckerberg criou o site “Thefacebook”. Entretanto, seis dias depois, ele enfrentou novamente problemas: três estudantes de Harvard o acusaram de roubar suas ideias ao elaborar a rede social. Segundo eles, a ideia de Mark foi muito similar com a deles, que pretendiam lançar a HarvardConnection. Os três estudantes entraram com um processo contra Zuckerberg que foi parar na corte americana (BELLIS, 2012b). Ainda em 2004, a empresa passou a se chamar apenas “Facebook”, com a ajuda do fundador do Napster, Sean Parker. A partir da mudança de nome, o Facebook se tornou viral e se espalhou mundo a fora.

Atualmente, o Facebook possui mais de um bilhão de usuários (SHAUGHNESSY, 2012) e fala-se em “efeito Facebook”, que é um conceito genérico de um gigantesco fenômeno social e tecnológico que está mudando o mundo. “Está transformando os governos, a política, os negócios, os mercados, as identidades, a privacidade, a vida social, e muitas outras áreas” (KIRKPATRICK, 2010). Em uma pesquisa feita com 400 profissionais que utilizam as mídias sociais, 85% responderam que o Facebook é de longe a plataforma mais utilizada por eles, seguida por 10% do Twitter e 2% do Google+ (SHAUGHNESSY, 2012).

As histórias que o Facebook é capaz de contar são desde histórias profundas como a doação de rim até histórias ordinárias do dia a dia. Se conectar com amigos, parentes e pessoas que estão a muitos quilômetros de distancia se tornou muito mais acessível com o Facebook. Sempre houve a oportunidade das pessoas conversaram face to face e um tempo depois foi possível fazer ligações via telefone, as quais estão cada vez mais acessíveis às pessoas. Todavia, um sistema que possibilitasse a essas pessoas continuar se comunicando quando quisessem a hora que quisessem, e com mais de uma pessoa ao mesmo tempo não existia (ZUCKERBERG, 2010). O simples fato de querer manter o contato com alguém que conheceu há muito tempo, ou com pessoas que não estão no seu dia a dia faz do Facebook essa enorme plataforma virtual.

2.2.2 YouTube

O YouTube não é uma rede social, mas sim uma rede de compartilhamento de vídeos. Entretanto, para uma parcela dos usuários, o YouTube

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pode ser considerado sim um site de relacionamento social (BURGESS; GREEN, 2009, p.86). Segundo Burgess e Green (2009, p.86):

Diferente dos sites mais óbvios de relacionamento, como o Facebook, em que as conexões sociais são baseadas em perfis pessoais e em “ser amigo” de alguém, no YouTube é o próprio conteúdo dos vídeos o maior veiculo de comunicação e o principal indicador de agrupamentos sociais.

Ele foi fundado por Steve Chen, Chad Hurley e Jawed Karim em uma garagem, em 2005 nos Estados Unidos. Eles se conheceram enquanto trabalhavam na empresa americana PayPal. A ideia de criar o YouTube surgiu da dificuldade que eles tiveram após uma festa: queriam compartilhar os vídeos com os amigos e não conseguiam pois eram muito pesados para download. (BELLIS, 2012c). De acordo com o canal YouTube (2012), a plataforma possibilita que milhões de pessoas “descubram, vejam e partilhem vídeos originais”. Ele proporciona um fórum para que as pessoas do mundo todo possam se informar e se inspirar com os milhares de vídeos que ali são postados, bem como auxiliar a criadores independentes ou não a divulgarem os seus produtos.

No YouTube é possível criar uma conta pessoal e carregar vídeos próprios que ficam disponíveis para o mundo inteiro. Caso o indivíduo não tenha uma conta, ele pode acessar os vídeos da mesma maneira só não pode carregar seus próprios vídeos. Em 2006 os três inventores ficaram bilionários quando venderam a sua invenção para o Google (BELLIS, 2012c).

Segundo Mota e Pedrinho (2009, p.13):

Quer você o ame, quer você o odeie, o YouTube agora faz parte do cenário da mídia de massa e é uma força a ser levada em consideração no contexto da cultura popular contemporânea. Embora não seja o único site de compartilhamento de vídeos da internet, a rápida ascensão do YouTube, sua ampla variedade de conteúdo e sua projeção publica no Ocidente entre os falantes da língua inglesa o tornam bastante útil para a compreensão das relações ainda em evolução entre as novas tecnologias de mídia, as industrias criativas e as políticas da cultura popular.

De acordo com Mota e Pedrinho (2009, p.9), o YouTube, juntamente com outras plataformas de vídeos online, transformaram a maneira como os cidadãos absorvem os conteúdos e, segundos os autores, com o YouTube e as mídias sociais como Facebook e Twitter, é necessário que as pessoas pensem quais serão os próximos passos dessas plataformas, o que pode ser modificado e aprimorado, não

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quais virão após elas pois as pessoas já se acostumaram a manejar e a utilizar essas mídias, que não é necessário a criação de outras que as substituam.

2.2.3 Twitter

O Twitter surgiu da vontade do seu criador, Jack Dorsey, em poder mandar uma única mensagem de texto para vários amigos de uma vez só, e que funcionasse não apenas no telefone celular, mas também no computador. Para isso, em 2006, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, ele elaborou um projeto e mostrou para o seu chefe na época, Noah Glass, na empresa em que trabalhava: ODEO (BELLIS, 2012a). Primeiramente foi chamado de Twttr, e após a separação do Twttr da companhia ODEO, em 2007, que ele modificou o seu nome para Twitter (BELLIS, 2012a).

O Twitter é um microblog, e como o nome sugere, é realmente como um blog, entretanto com mensagens mais curtas. Como um blog, o Twitter é um sistema de disseminação de informação: uma pessoa posta uma mensagem que outros milhares irão ler (WATERS, 2012). De acordo com a página oficial do Twitter (2012):

O Twitter é uma rede de informação em tempo real que conecta você às últimas histórias, ideias, opiniões e notícias sobre o que há de mais interessante. Basta encontrar as contas que você mais se identifica e seguir as conversas. O Twitter é composto por pequenas explosões de informações chamadas Tweets. Cada Tweet tem até 140 caracteres, mas não se deixe enganar pelo tamanho da mensagem; você pode descobrir muita coisa em pouco espaço. Você pode ver fotos, vídeos e conversar diretamente nos Tweets e acompanhar toda a história num piscar de olhos, tudo em um único lugar (http://twitter.com/about).

Segundo Jeff Bercovicci (2012), jornalista de tecnologia da revista Forbes, nos Estados Unidos, em Março deste ano, o Twitter atingiu a marca de 140 milhões de usuários ativos, ou seja, que diariamente escrevem no microblog, e em Julho de 2012, atingiu mais de 500 milhões de usuários.

2.3 CRISE DO SISTEMA ECONÔMICO

Há anos que se discute, entre lideres globais e especialistas, sobre as deficiências na arquitetura do sistema financeiro internacional e sobre o desequilíbrio da economia mundial. Até hoje nada foi feito (Stiglitz, 2008a). Segundo Stiglitz

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(2008a), o mundo está pagando o preço pelo fracasso da não solução. Há dez anos o medo era de que um “tornado financeiro” chegasse aos países industrializados. Hoje, a crise afeta o mundo, não apenas os países industrializados. E se existe uma maneira de prevenir a ocorrência de outra crise, a solução é a reforma e a reconfiguração do sistema financeiro (STIGLITZ, 2008a).

Uma das análises feitas para reconfigurar o sistema é a dos “sistema m mundo”, que argumenta que o planeta está vivendo não apenas uma crise econômica, mas uma crise estrutural, que o sistema não conseguirá sobreviver e que o mundo está em uma situação caótica, a qual irá piorar entre os próximos vinte a quarenta anos (WALLERSTEIN, 2008). Para Wallerstein, o sistema está bifurcando: existem duas maneiras de se sair da atual crise econômica, na tentativa de criar um novo sistema. Basicamente terá pessoas tentando criar um novo tipo de sistema-mundo ao qual repetirá algumas premissas do atual sistema, como um sistema hierárquico e exploratório, mas não será capitalismo, será diferente. A outra direção será criar um sistema alternativo que seria relativamente democrático e relativamente igualitário. É quase impossível prever qual será o resultado dessa bifurcação; a única coisa que se pode ter certeza é que o atual sistema não sobreviverá e que as consequências desse sistema já estão aparecendo (WALLERSTEIN, 2008).

Para Wallerstein, o sistema capitalista não durará para sempre, pois nenhum sistema dura - “nem sistemas químicos, físicos ou biológicos”. Todos eles têm um ciclo de vida: eles nascem, crescem até certo ponto, sobrevivem de acordo com certas regras, e depois caem no desequilíbrio e não conseguem mais sobreviver. O sistema capitalista já se desequilibrou faz tempo. Hoje ninguém mais consegue controlá-lo. Então o processo desse sistema que dura cinco séculos, não consegue mais se mover em equilíbrio, e isso é uma das razões para a crise estrutural que o mundo vive hoje. O sistema capitalista não irá muito longe, nem mesmo mais quarenta ou cinquenta anos, e acredita que esses anos que estão por vir serão difíceis (WALLERSTEIN, 2008). Para o autor, os próprios capitalistas não estarão mais interessados no capitalismo uma vez que esse sistema não funciona mais para eles. Eles estão a procura de alternativas, de outros sistemas, os quais ele possam continuar a ter suas posições privilegiadas (WALLERSTEIN, 2008).

A atual crise do sistema capitalista pode trazer também à tona a volta do socialismo (GREENSPAN,2008). As discussões sobre globalização e capitalismo

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tem se intensificado com a crise de 2008. A solução para esta crise irá determinar o futuro do mercado e a maneira como os seres humanos vivem (GREENSPAN, 2008). A globalização, a competitividade do mercado e o capitalismo não poderão ser mais sustentados sem o apoio da grande massa da sociedade mundial.

O mundo não via uma crise assim desde os anos trinta. O problema da crise não é apenas o capitalismo, mas também o problema da confiança: não apenas de cidadãos comuns, mas de bancos, das grandes corporações que não confiam uns nos outros (REICH, 2012). Nunca houve um mercado livre, sempre foram necessárias instituições, regulamentações e governos. O que está em pauta é o balanço entre o poder do mercado e o poder do governo. Não se sabe o que virá a seguir. Há muitos críticos relatando o que há de errado com o sistema, entretanto sem apresentar soluções (THIRLWELL, 2008).

Para Stiglitz (2008b), o capitalismo é o melhor sistema que o homem já inventou, entretanto não é por que é considerado o melhor que gerou estabilidade. De fato, segundo o autor, nos últimos trinta anos o mundo enfrentou mais de cem crises financeiras, e é por isso que a regulamentação governamental é uma parte essencial no funcionamento do mercado: o mercado por si só não funciona sozinho, necessita do governo participando junto.

O mercado financeiro está carregando o mundo na direção de uma Segunda Grande Depressão. As autoridades perderam o controle da situação, principalmente na zona da União Europeia. Entretanto, eles precisam reaver o controle o mais rápido possível, do contrário, algo pior pode vir à tona (SOROS, 2011). Segundo Soros (2009a), o mercado deveria ser guiado por uma mão invisível, e é por isso que ele deveria ser tão eficiente. Os compradores, vendedores e negociadores em geral, não deveriam sobrepor seus julgamentos morais nas suas decisões de compra e venda, pois suas atitudes não deveriam afetar a invisibilidade dos preços do mercado. Todavia, na verdade, as regras que rondam o mercado financeiro são feitas pela mão visível dos políticos, e em uma sociedade democrata, os políticos enfrentam uma grande barreira com os agentes que os representam, pois muitas vezes eles estão representando a si mesmos ao invés de cumprir com o seu trabalho. Ainda segundo Soros (2009a), esses políticos se utilizam de suas eleições democráticas para buscar os seus próprios interesses, em detrimento dos interesses da população, e pela representação dos agentes tornam os seus interesses possíveis: há um enorme conflito entre os valores do mercado e os

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valores da sociedade. Os valores dos agentes do mercado são distintos dos valores da sociedade comum: o interesse está explicito para os agentes Por traz da mão invisível do livre mercado, está a mão visível do ser humano, especificamente dos agentes de mercado e dos políticos que ditam as regras.

2.4 MOVIMENTOS SOCIAIS

O ano de 2011 foi marcado por uma onda “contagiosa e simultânea” de movimentos sociais de protestos ao redor do mundo, cada qual com suas revindicações, mas “com formas de luta muito assemelhadas e consciência de solidariedade mútua”, podendo caracterizá-los como movimentos sociais globais (CARNEIRO, 2011, p.8).

Para Souza (2008, p.9) “movimento social refere-se a uma organização sociopolítica, cuja expressão empírica é dada pela manifestação conjunta de pessoas, movidas por determinados interesses e/ou carências”. Ainda segundo Souza (2008, p.9), o termo “movimentos sociais” apareceu no meio acadêmico no século XIX com a Revolução Industrial e, segundo ela, naquela época “movimento social era sinônimo de desordem”. Já para Gohn (2011, p. 335), os movimentos sociais são caracterizamos como “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas demandas”.

Para Ferreira e Vizer (2007, p.45):

Os movimentos sociais representam em principio a expressão dialética e manifesta da complexidade, a diversidade e a agitação social. Uma forma de ação social que pretende justamente transformar as condições objetivas de seu “ambiente”. Mais que reconstruí-lo por meio do trabalho condicionado ao “sistema” ou às limitações de seu mundo da vida, procura formas de ação coletiva para modificar a ambos. Como se pode apreciar, os movimentos sociais têm como característica fundamental:

Desenvolver (práticas e dispositivos instrumentais de ação);

Com o fim de transformar (as relações e as praticas de poder instituídas: por exemplo, no governo, o sistema legal, as formas de propriedade etc.);

Por meio da mobilização (ações de resistência instituintes);

Apropriando-se conflitivamente ( de tempos e espaços) públicos (cortes de rotas, tomada de edifícios e empresas fechadas etc.);

Motivados para cultivar (vínculos, instituições de agrupamento e contenção);

Motivados e inspirados criativamente (o enorme universo da cultura, a comunicação e as formas simbólicas).

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De acordo com Goulart (2012, p.207):

Após a derrota do totalitarismo na segunda guerra mundial, a queda de muitas ditaduras e o fim do socialismo já há aproximadamente vinte anos atrás, o mundo parecia estar caminhando para o lugar certo. Talvez por isso os jovens daquela época caíram no erro de achar que não era mais necessária a participação popular nas grandes decisões do planeta. Tal geração se entregou à corrupção, à especulação imobiliária, à indústria cultural, aos abusos financeiros ao endividamento desenfreado, ao conceito de “viver bem” e acabaram por se esquecer de que não há vida boa sem calor humano, justiça, sustentabilidade ambiental e equidade social.

Ainda segundo Goulart (2012, p.208), essa geração pós ditaduras e segunda guerra mundial, de uma maneira geral, acreditava que estava “caminhando para o lugar certo e os mais jovens já sabem que isso é uma grande mentira, nós somos os filhos do meio da história”. Ou seja, os filhos da geração pós ditaduras são aqueles mais afetados, os chamados “indignados”. Para Goulart (2012, p.208), essa nova geração tem o “direito de querer mudar o mundo” e é isso que está sendo visto nas ruas desde o ano de 2011 ao redor do planeta.

É possível verificar que após o início das manifestações da chamada Primavera Árabe no norte da África, especificamente na Tunísia e no Egito, os protestos tomaram o continente europeu: os Indignados na Espanha, a Geração à Rasca em Portugal e a ocupação da Praça Syntagma na Grécia. “Em todos os países houve uma mesma forma de ação: ocupações de praças, uso de redes de comunicação alternativas e articulações políticas que recusavam o espaço institucional tradicional” (CARNEIRO, 2011, p.9). Esses movimentos europeus possuíam um cunho social, econômico e financeiro, os quais sofriam as consequências da crise financeira de 2008, como o aumento dos preços dos alimentos e o aumento do desemprego (CARNEIRO, 2011, p.9). Segundo Alves (2011), esses três movimentos europeus “são reverberações radicais do capitalismo financeiro senil”, uma vez que ocorreram em países capitalistas democráticos.

Já o movimento global denominado de “ocupas” pode ser caracterizado como “acampamentos de estudantes e trabalhadores em áreas públicas de centenas de cidades em todo o mundo” (PESCHANKI, 2011, p.27). Em 2011, esses ocupas vieram à tona criticando principalmente a desigualdade econômica de seus países e em particular os participantes do Occupy Wall Street, em Nova York, intitularam-se como aqueles que representavam os 99% da população, parcela que, segundo eles, é afetada diretamente pela desigualdade econômica. Aqueles que

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participam dos ocupas pelo mundo discutem principalmente alternativas aos regimes econômicos desiguais e a “experimentação do igualitarismo democrático radical” (PESCHANKY, 2011, p.27).

Tanto o OWS como os Indignados, expuseram a insatisfação com o sistema democrático capitalista de seus estados: “a luta social anticapitalista hoje é a luta para dar visibilidade às suas contradições candentes” (ALVES, 2011). Segundo Alves (2011):

No plano contingente, os manifestantes fazem uma critica radical do capitalismo como modo de produção da vida social. Mas não podemos considerá-los, a rigor, movimentos sociais anticapitalistas. Na verdade, o que predomina entre os manifestantes é um modo de consciência contingente capaz de expor, com indignação moral, as misérias do sistema sociometabólico do capital, mas sem identificar suas causalidades histórico-estruturais (o que não significa que não haja os mais diversos espectros de ativistas anticapitalistas).

Para Postill (2011), os movimentos globais apresentam algumas características próprias: são propagados e compartilhados via mídias sociais por cidadãos de todos os tipos, sejam eles jornalistas ou não. São abraçados principalmente pela classe média, a qual conta com estudantes, professores, artistas, assistentes sociais e outros “trabalhadores culturais” e foram inspirados e sustentados pela ocupação dos espaços públicos das manifestações no Egito, que “reavivou ideias vernáculas de horizontalidade e comunitarismo”. Alves (2011), denota algumas outras características para os movimentos sociais do Occupy Wall Street e para os Indignados: esses dois movimentos possuem uma “densa e complexa diversidade social, exprimindo a universalização da condição de “proletariedade” (os 99%)” e possuem também uma “profunda consciência moral e senso de justiça social”, recusando-se a adotar táticas violentas , evitando, desse modo, a criminalização.

Nesses movimentos globais do século XXI, as redes sociais tiveram e têm um papel fundamental na maneira em como eles são organizados, principalmente o Facebook e o Twitter (ALVES, 2011). Os manifestantes utilizaram-se das redes sociais para ampliar “a sua área de intervenção territorial e mobilização social. Produziram sinergias em rede, tecendo estratégias de luta territorial num cenário de crise social ampliada” (ALVES, 2011). De acordo com Carneiro (2011, p.10):

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Houve algo de dionisíaco nos acontecimentos de 2011: uma onda de catarse política protagonizada especialmente pela nova geração, que sentiu esse processo como um despertar coletivo propagado não só pela mídia tradicional da TV ou radio, mas por uma difusão nova, nas redes sociais da internet, em particular o Twitter, tomando uma forma de disseminação viral, um boca a boca eletrônico com mensagens replicadas a milhares de outros emissores.

Após abordados os temas de globalização, mídias sociais, crise do sistema financeiro e movimentos sociais, o próximo capítulo se aprofundará em temas mais específicos como: a crise financeira de 2008, os movimentos dos Indignados, da Primavera Árabe e do Occupy Wall Street e, por fim, a ligação deste último movimento com as mídias sociais.

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3 DESENVOLVIMENTO DE ESTUDO

A ligação das mídias sociais com o Occupy Wall Street é muito densa, sendo assim, para compreender o movimento e sua ligação com essas mídias, se faz necessário a exposição de um motivo que foi crucial para o surgimento do OWS: a crise econômica de 2008. Bem como dos dois movimentos que o inspiraram: os Indignados na Espanha e a Primavera Árabe no Egito.

3.1 A CRISE ECONÔMICA DE 2008

Com o fim do comunismo, a globalização acelerada removeu muitas barreiras da competição econômica. Essa mesma globalização “viria a ser uma benção” para a estabilidade internacional e para o crescimento global. Entretanto, ela permitiu que tantos outros “novos americanos” competissem por uma vaga de trabalho com os próprios americanos, o que significava para esses uma corrida contra o tempo para conseguir uma colocação laboral (FRIEDMAN; MANDELBAUM, 2011, p.16).

De acordo com Friedman e Mandelbaum (2011, p.15, tradução nossa):

Ao ajudar a destruir o comunismo, nós ajudamos a abrir o caminho para mais dois bilhões de cidadãos para começarem a viver como nós (americanos): dois bilhões a mais de pessoas com as suas próprias versões do sonho americano, dois bilhões de pessoas a mais praticando o capitalismo, dois bilhões de pessoas a mais com meio século de repressão passam a viver como americanos e trabalhar como americanos e dirigir como americanos e consumir como americanos. O resto do mundo olhou para os vitoriosos da Guerra Fria e falaram “ Nós queremos viver como eles vivem.”. Nesse sentido, o mundo em que nós vivemos hoje é o mundo que nós criamos.7

Segundo Bordo (2008, tradução nossa), “muitas instituições e instrumentos financeiros apanhados na crise são parte do secular e velho fenômeno da inovação financeira”. A crise econômica teve seu inicio nos Estados Unidos no início de 2007 com o colapso do mercado das hipotecas e com o fim do boom imobiliário. Muitas das causas dessa crise podem ser descritas por: baixa

7

By helping to destroy communism, we helped open the way for two billion more people to live like us: two billion more people with their own versions of the American dream, two billion more people practicing capitalism, two billion more people with half a century of pent-up aspirations to live like Americans and work like Americans and drive like Americans and consume like Americans. The rest of the world looked at the victors in the Cold War and said, “We want to live the way they do.” In this sense, the world we are now living in is a world that we invented.

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fiscalização monetária, mudanças na regulamentação e por longos períodos de taxas baixas de juros. As inadimplências relacionadas às hipotecas se alastraram para os bancos de investimento e para os bancos comerciais dos Estados Unidos. Todos essas causas e fatos levaram ao congelamento do mercado de crédito interbancário e dos empréstimos cedidos aos bancos no segundo semestre de 2007: a crise se agravou a partir de março de 2008 (BORDO, 2008).

De acordo com Ali (2011, p.67):

Para muitos economistas foi obvio que Wall Street planejou deliberadamente a bolha imobiliária, gastando bilhões em campanhas publicitárias com o intuito de encorajar as pessoas a fazer uma segunda hipoteca e incrementar as dividas pessoais para consumir cegamente. A bolha tinha que estourar e, quando isso aconteceu, o sistema cambaleou até o Estado resgatar os bancos do colapso total.

Segundo Soros (2009b, p.327), “reconheci que a crise era mais grave do que muitos estavam dispostos a aceitar, mas nem sequer eu esperava que o sistema financeiro falhasse de fato”. Nas crises financeiras anteriores a de 2008, as autoridades financeiras entravam em ação logo que avistassem um colapso financeiro: não foi o que ocorreu em 2008. Foi deixado que o banco Lehman Brothers entrasse em falência e por conta disso, adveio um “efeito dominó”, onde todo o sistema financeiro “sofreu uma parada cardíaca e teve de ser ligado à máquina para continuar vivo” (SOROS, 2009b, p.237).

“A falência do Lehman Brothers na segunda-feira, 15 de Setembro de 2008, foi um acontecimento que alterou tudo.” (SOROS, 2009b, p.242). Para Soros (2009b, p.244):

A Reserva Federal teve de oferecer ajuda atrás de ajuda e foi nesta atmosfera que o Fundo Monetário Internacional (FMI) efetuou a sua reunião anual, em Washington, em 11 de Outubro de 2008. Os líderes europeus saíram mais cedo e encontraram-se em Paris, no domingo, 12 de Outubro, e, nessa reunião, decidiram garantir que nenhuma grande instituição financeira europeia entrasse em falência. Não conseguiram no entanto, chegar a um acordo generalizado, de todos os países europeus, sobre como fazê-lo, por isso, cada Nação definiu as suas próprias regras. Os Estados Unidos, pouco depois, seguiram o exemplo. Estas decisões tiveram um efeito secundário, não intencional: causaram uma pressão adicional sobre os países que não podiam oferecer garantias credíveis semelhantes às suas instituições financeiras. A Islândia estava em colapso, o maior banco da Hungria sofreu uma puxada para baixo, e as moedas e o mercado de dívida pública da Hungria, e de outros países do leste europeu, caíram a pique. O mesmo aconteceu no Brasil, no México, nos tigres asiáticos e em menor grau na Turquia, na África do Sul, na China, na Índia, na Austrália e na Nova Zelândia. Todos esses movimentos juntos tiveram um impacto

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tremendo no comportamento e nas atitudes dos consumidores, das empresas e instituições financeiras, em todo o mundo.

A quebra do Lehman Brothers pode ser comparada às grandes falências bancárias que ocorreram nos anos 30. Para Soros (2009b, p.242), a responsabilidade era das autoridades financeiras, que alegaram, na época, não terem os poderes necessários para salvar a economia. Soros afirma que essa foi uma “desculpa pobre” e que em outras ocasiões conseguiram evitar um colapso semelhante ao de 2008. Segundo Roubini (2009):

Houve muita ganância e, em Wall Street, houve uma tolerância exagerada com o risco, tanto entre bancos e operadores quanto entre investidores. Os investidores finais também têm sua parcela de culpa, porque não fizeram a lição de casa. Além disso, as autoridades reguladoras americanas ajudaram a girar a roda. Tinham a ideologia do laissez-faire, do mercado livre, da auto regulação – ou seja, de não regulação. Confiavam apenas nos controles internos dos bancos e esqueciam que, quando a música está tocando e todo mundo está dançando, ninguém presta atenção nisso. Deixaram o monstro da inovação financeira crescer sem supervisão adequada. Em cima disso, é preciso levar em conta que as agências de classificação de risco deram notas altas aos bancos envolvidos com operações arriscadas no mercado imobiliário, mas eram pagas pelos mesmos clientes que tinham de avaliar.

O ano de 2011 foi bom para a esquerda mundial, quaisquer que fosse a definição de esquerda (WALLERSTEIN 2011, p.72). Segundo Wallerstein (2011, p.72), a razão para esse fato foi que a condição econômica negativa atingia a maior parte do planeta, tendo o desemprego como um dos maiores implicativos negativos. “A maioria dos governos teve de enfrentar grandes dividas e receita reduzida e como resposta tentaram impor medidas de austeridade contra suas populações, ao mesmo tempo em que tentavam proteger os bancos” (WALLERSTEIN, 2011, p.72). Segundo Sader (2011, p. 83), a maior consequência do ano de 2011 foi a prolongada recessão do capitalismo, que, segundo ele, será o cenário da segunda metade do século.

Segundo Ali (2011, p.69):

Os políticos se negaram a aceitar que a crise de 2008 tinha a ver com as políticas neoliberais que vinham perseguindo desde a década de 1980. Presumiram que poderiam seguir como se nada tivesse acontecido, mas os movimentos de baixo desafiaram tal suposição. As ocupações e manifestações de rua contra o capitalismo são de alguma maneira análogas às Jacqueries (revoltas) camponesas dos séculos anteriores. A energia dos jovens é admirável. Há muito tempo que a primavera havia fugido do coração político dos Estados Unidos. Os invernos gelados dos anos Reagan

Referências

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