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A CRISE ECONÔMICA DE 2008

No documento As mídias sociais e o Occupy Wall Street (páginas 31-34)

Com o fim do comunismo, a globalização acelerada removeu muitas barreiras da competição econômica. Essa mesma globalização “viria a ser uma benção” para a estabilidade internacional e para o crescimento global. Entretanto, ela permitiu que tantos outros “novos americanos” competissem por uma vaga de trabalho com os próprios americanos, o que significava para esses uma corrida contra o tempo para conseguir uma colocação laboral (FRIEDMAN; MANDELBAUM, 2011, p.16).

De acordo com Friedman e Mandelbaum (2011, p.15, tradução nossa):

Ao ajudar a destruir o comunismo, nós ajudamos a abrir o caminho para mais dois bilhões de cidadãos para começarem a viver como nós (americanos): dois bilhões a mais de pessoas com as suas próprias versões do sonho americano, dois bilhões de pessoas a mais praticando o capitalismo, dois bilhões de pessoas a mais com meio século de repressão passam a viver como americanos e trabalhar como americanos e dirigir como americanos e consumir como americanos. O resto do mundo olhou para os vitoriosos da Guerra Fria e falaram “ Nós queremos viver como eles vivem.”. Nesse sentido, o mundo em que nós vivemos hoje é o mundo que nós criamos.7

Segundo Bordo (2008, tradução nossa), “muitas instituições e instrumentos financeiros apanhados na crise são parte do secular e velho fenômeno da inovação financeira”. A crise econômica teve seu inicio nos Estados Unidos no início de 2007 com o colapso do mercado das hipotecas e com o fim do boom imobiliário. Muitas das causas dessa crise podem ser descritas por: baixa

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By helping to destroy communism, we helped open the way for two billion more people to live like us: two billion more people with their own versions of the American dream, two billion more people practicing capitalism, two billion more people with half a century of pent-up aspirations to live like Americans and work like Americans and drive like Americans and consume like Americans. The rest of the world looked at the victors in the Cold War and said, “We want to live the way they do.” In this sense, the world we are now living in is a world that we invented.

fiscalização monetária, mudanças na regulamentação e por longos períodos de taxas baixas de juros. As inadimplências relacionadas às hipotecas se alastraram para os bancos de investimento e para os bancos comerciais dos Estados Unidos. Todos essas causas e fatos levaram ao congelamento do mercado de crédito interbancário e dos empréstimos cedidos aos bancos no segundo semestre de 2007: a crise se agravou a partir de março de 2008 (BORDO, 2008).

De acordo com Ali (2011, p.67):

Para muitos economistas foi obvio que Wall Street planejou deliberadamente a bolha imobiliária, gastando bilhões em campanhas publicitárias com o intuito de encorajar as pessoas a fazer uma segunda hipoteca e incrementar as dividas pessoais para consumir cegamente. A bolha tinha que estourar e, quando isso aconteceu, o sistema cambaleou até o Estado resgatar os bancos do colapso total.

Segundo Soros (2009b, p.327), “reconheci que a crise era mais grave do que muitos estavam dispostos a aceitar, mas nem sequer eu esperava que o sistema financeiro falhasse de fato”. Nas crises financeiras anteriores a de 2008, as autoridades financeiras entravam em ação logo que avistassem um colapso financeiro: não foi o que ocorreu em 2008. Foi deixado que o banco Lehman Brothers entrasse em falência e por conta disso, adveio um “efeito dominó”, onde todo o sistema financeiro “sofreu uma parada cardíaca e teve de ser ligado à máquina para continuar vivo” (SOROS, 2009b, p.237).

“A falência do Lehman Brothers na segunda-feira, 15 de Setembro de 2008, foi um acontecimento que alterou tudo.” (SOROS, 2009b, p.242). Para Soros (2009b, p.244):

A Reserva Federal teve de oferecer ajuda atrás de ajuda e foi nesta atmosfera que o Fundo Monetário Internacional (FMI) efetuou a sua reunião anual, em Washington, em 11 de Outubro de 2008. Os líderes europeus saíram mais cedo e encontraram-se em Paris, no domingo, 12 de Outubro, e, nessa reunião, decidiram garantir que nenhuma grande instituição financeira europeia entrasse em falência. Não conseguiram no entanto, chegar a um acordo generalizado, de todos os países europeus, sobre como fazê-lo, por isso, cada Nação definiu as suas próprias regras. Os Estados Unidos, pouco depois, seguiram o exemplo. Estas decisões tiveram um efeito secundário, não intencional: causaram uma pressão adicional sobre os países que não podiam oferecer garantias credíveis semelhantes às suas instituições financeiras. A Islândia estava em colapso, o maior banco da Hungria sofreu uma puxada para baixo, e as moedas e o mercado de dívida pública da Hungria, e de outros países do leste europeu, caíram a pique. O mesmo aconteceu no Brasil, no México, nos tigres asiáticos e em menor grau na Turquia, na África do Sul, na China, na Índia, na Austrália e na Nova Zelândia. Todos esses movimentos juntos tiveram um impacto

tremendo no comportamento e nas atitudes dos consumidores, das empresas e instituições financeiras, em todo o mundo.

A quebra do Lehman Brothers pode ser comparada às grandes falências bancárias que ocorreram nos anos 30. Para Soros (2009b, p.242), a responsabilidade era das autoridades financeiras, que alegaram, na época, não terem os poderes necessários para salvar a economia. Soros afirma que essa foi uma “desculpa pobre” e que em outras ocasiões conseguiram evitar um colapso semelhante ao de 2008. Segundo Roubini (2009):

Houve muita ganância e, em Wall Street, houve uma tolerância exagerada com o risco, tanto entre bancos e operadores quanto entre investidores. Os investidores finais também têm sua parcela de culpa, porque não fizeram a lição de casa. Além disso, as autoridades reguladoras americanas ajudaram a girar a roda. Tinham a ideologia do laissez-faire, do mercado livre, da auto regulação – ou seja, de não regulação. Confiavam apenas nos controles internos dos bancos e esqueciam que, quando a música está tocando e todo mundo está dançando, ninguém presta atenção nisso. Deixaram o monstro da inovação financeira crescer sem supervisão adequada. Em cima disso, é preciso levar em conta que as agências de classificação de risco deram notas altas aos bancos envolvidos com operações arriscadas no mercado imobiliário, mas eram pagas pelos mesmos clientes que tinham de avaliar.

O ano de 2011 foi bom para a esquerda mundial, quaisquer que fosse a definição de esquerda (WALLERSTEIN 2011, p.72). Segundo Wallerstein (2011, p.72), a razão para esse fato foi que a condição econômica negativa atingia a maior parte do planeta, tendo o desemprego como um dos maiores implicativos negativos. “A maioria dos governos teve de enfrentar grandes dividas e receita reduzida e como resposta tentaram impor medidas de austeridade contra suas populações, ao mesmo tempo em que tentavam proteger os bancos” (WALLERSTEIN, 2011, p.72). Segundo Sader (2011, p. 83), a maior consequência do ano de 2011 foi a prolongada recessão do capitalismo, que, segundo ele, será o cenário da segunda metade do século.

Segundo Ali (2011, p.69):

Os políticos se negaram a aceitar que a crise de 2008 tinha a ver com as políticas neoliberais que vinham perseguindo desde a década de 1980. Presumiram que poderiam seguir como se nada tivesse acontecido, mas os movimentos de baixo desafiaram tal suposição. As ocupações e manifestações de rua contra o capitalismo são de alguma maneira análogas às Jacqueries (revoltas) camponesas dos séculos anteriores. A energia dos jovens é admirável. Há muito tempo que a primavera havia fugido do coração político dos Estados Unidos. Os invernos gelados dos anos Reagan

e Bush não se derreteram com Clinton ou Obama: homens ocos que governam um sistema oco em que o dinheiro domina tudo e o Estado difamado serve principalmente para preservar o status quo financeiro e custear as guerras do século XXI.

Já para Sader (2011, p. 82):

O cenário geral que englobou todo o ano de 2011 foi o novo ciclo da crise geral do capitalismo, iniciado em 2008. Ao salvar os bancos – ação que detonou a crise e foi seu epicentro -, os governos acreditavam que salvariam as economias e os países. Os bancos se recuperaram, mas as economias e os países ficaram abandonados. Por isso, a crise voltou como um bumerangue, tendo agora diretamente os governos como epicentro, pressionados pelo sistema bancário e pelos organismos que expressam seus interesses: FMI e Banco Central Europeu.

Segundo Roubini (2011, p.150), mesmo que os movimentos de 2011 sejam todos diferentes entre si, eles expressam, de maneira distinta, as preocupações da classe media e da classe de trabalhadores em relação ao futuro econômico, aos desafios ao acesso às oportunidades econômicas e à concentração de poder entre as elites políticas, financeiras e econômicas. Para Sader (2011, p.84), em 2008 quando houve o boom da crise econômica, não houve grandes mobilizações populares, ao contrario de 2011, onde novos protagonistas surgiram como os Indignados e os ocupas.

No documento As mídias sociais e o Occupy Wall Street (páginas 31-34)

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