• Nenhum resultado encontrado

Trajetória profissional de trabalhadores com baixa qualificação

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Trajetória profissional de trabalhadores com baixa qualificação"

Copied!
84
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA WELTON R. KUWER AZAMBUJA

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DE TRABALHADORES COM BAIXA QUALIFICAÇÃO

PALHOÇA 2012

(2)

WELTON ROBERTO KUWER AZAMBUJA

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DE TRABALHADORES COM BAIXA QUALIFICAÇÃO

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso referente a elaboração de monografia necessária para a obtenção da graduação em Psicologia na Un iversidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. A orientação do TCC I realizada por Iúri Novaes Luna, Dr. e do TCC II por Vanderle i Brasil, esp.

Orientadores: Vande rlei Brasil, Esp Iúri Novaes Luna, Dr.

Palhoça 2012

(3)

WELTON ROBERTO KUWER AZAMBUJA

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DE TRABALHADORES COM BAIXA QUALIFICAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel e m Psicologia e aprovado em sua forma final pelo curso de Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 28 de novembro de 2012.

______________________________________________ Professor Vanderlei Brasil, Esp.

Professor Iúri Novaes Luna, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Professora Deise Maria do Nascimento, Dra.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Professora Michelle Regina da Natividade, Dra.

(4)

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus orientadores, o professor Iúri Novaes Luna e o professor Vanderlei Brasil, que estiveram presentes ao longo da construção desta monografia, auxiliando e orientando sempre que necessário.

Ao professor Iúri Luna, agradeço pelas orientações na construção do projeto de pesquisa, sua contribuição a partir de seu profundo conhecimento sobre o tema Psicologia e Trabalho, foram de grande ajuda na elaboração e construção desse projeto.

Ao professor Vanderlei Brasil, agradeço pelas orientações nos momentos de coleta de dados e análise, as contribuições feitas foram, igualmente, importantíssimas. Assim como seu conhecimento de temas relativos a Psicologia e Trabalho, assim como temas afins que possibilitaram uma visão mais ampla sobre o fenômeno que pesquisei.

Agradeço aos amigos e colegas de orientação, que estiveram presentes, sendo fonte de apoio mútuo e auxiliando nos momentos em que era preciso outras “percepções” sobre os dados. Dentre estes agradeço a Janaina Bosquetti, por colocar- me em contato com sua mãe, que possibilitou o acesso aos sujeitos de pesquisa. Agradeço igualmente a Meri Bosquetti, em função de sua disponibilidade em apresentar-me os sujeitos de pesquisa, imprescindíveis para a realização dessa pesquisa.

Agradeço a Mariana França, por ser colega presente e sempre preocupada com os demais colegas, e também por propiciar ao grupo o conhecimento dos dotes culinários de sua mãe, jamais esqueceremos os bolinhos ingleses e os empadões.

Também agradeço a Marian Veloso Xavier, por ser companheira nessa trajetória, ser paciente e solícita para as necessidades de todos os colegas do grupo, além de seu trabalho promover conversas sobre um tema que todos no grupo se interessam, música.

De maneira especial agradeço a Camila Felipe, por ser uma grande companheira e amiga durante os dois últimos anos, auxiliando- me a ver as falhas que não conseguia ajudar, ao mesmo tempo em que possibilitava mediações para transcendê- las. Por ser paciente em muitos momentos em que eu não conseguia ver a saída para os problemas que surgiam ao longo da pesquisa, e principalmente por estar sempre presente e disposta a dia logar a respeito de meu trabalho. Nossas conversas foram de grande auxílio ao pensar em desatar alguns “nós” do processo de criação desta pesquisa. Sendo uma das poucas pessoas, para além da minha família, que considero fraternalmente, como uma irmã.

Agradeço de forma carinhosa minha família, que mesmo longe esteve sempre presente, apoiando- me naquilo que lhes era possível.

(5)

A minha mãe, Magda Idalina Kuwer Gimenez, por ser uma mãe sempre disposta a ouvir e auxiliar. Mesmo quando deixava- me louco com suas preocupações, era importante saber que existe alguém que se preocupa e estará sempre presente quando necessário. Ainda a agradeço por ser uma mulher forte, e que trabalhou muito para que eu chegasse onde estou.

Agradeço meu padastro, Sergio Figueiredo Gime nez, pois sempre que possível esteve presente, disposto a conversar. Demonstrando sempre preocupação com minha trajetória. Também agradeço por ser o companheiro de minha mãe, apoiando-a quando necessário e sendo presente a ela nos momentos em que eu não pude ser.

Agradeço minha Irma, Carolina Kuwer Bünchen, por também, sempre me apoiar e acreditar em minha capacidade. Apoiando-me mesmo de longe, sempre disponível a me auxiliar caso fosse necessário, principalmente ao se tratar de questões jurídicas, cujo conhecimento domina com certa facilidade. Estendo estes agradecimentos ao meu cunhado, Claudio Bünchen.

Agradeço a meu irmão, Wilk Ottoni Azambuja, por me colocar contra a parede nos momentos em que fui prepotente e a creditei saber o suficiente, mostrando- me que a verdade pode ter muitos lados, dependendo de onde a olhamos e para onde olhamos. Também agradeço por ser um companheiro leal, e que apesar de exercer o papel implicante de irmão mais velho, muitas vezes me ensinou o que eu precisava aprender. Estendo esse agradecimento a minha cunhada, Fabiana de Faria Lima, que além de ser companheira de meu irmão, há muito tempo está presente na trajetória de minha família.

Agradeço meu irmão por afinidade, Edimar Dias de Souza, por ser um grande amigo desde nossa infância, possibilitando conversas que filosóficas que atravessaram as noites. Suas indagações a cerca do mundo que nos rodeavam foram fundamentais na construção de minha subjetividade em relação ao entendimento que tenho do mundo.

Agradeço minha avó, que sempre foi fonte de inspiração de força, tanto para mim quanto para minha família. Sua perseverança e foco nos objetivos sempre foram a todos nós exemplo de caminho que poderíamos seguir.

Agradeço também ao meu avó, que já não está mais entre nós, por tudo aquilo que me ensinou e que pretendia me ensinar. As suas contribuições foram as mais importantes no sentido de ensinar a pensar criticamente sobre o mundo, a sociedade e suas ideologias.

Agradeço por fim a todos os meus amigos queridos, Vanesa Montagna, Célio Montagna, João Gustavo da Silva, Felipe Pereira da Silva, e sua família, Gracielle Carla Finger, Leonardo Meneguzzi, Mariana Carlesso, Elizete Branga entre tantos outros que não tem seus nomes transcritos, mas que estão presentes em meu afeto.

(6)

RESUMO

Considerando as mudanças ocorridas no mundo do trabalho no decorrer do século XX, o enxugamento dos postos de trabalho, as necessidades cada vez maiores de qualificação profissional, e a realidade de trabalho existente no Brasil. Diante dessas questões, a presente pesquisa visa “investigar a avaliação de trabalhadores que executam atividades de baixa qualificação sobre suas trajetórias profissionais”. Foram participantes da pesquisa sujeitos com idade entre 40 e 60 anos, que executavam atividades profissionais que não exijam qualificação e que possuíam o Ensino Fundamental. O contato com os participantes ocorreu por meio de indicações de coordenadores de instituições de Ensino para Jovens e Adultos. Os sujeitos foram selecionados conforme o aceite dos mesmos em participar da presente pesquisa. Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado uma entrevista semi-estruturada, construída a partir dos objetivos específicos desta pesquisa. As entrevistas foram gravadas, posteriormente transcritas, organizadas em tabelas e tratadas a partir dos procedimentos de análise de conteúdo. As categorias foram construídas de acordo com a similaridade contextual das informações coletadas. As categorias mais significativas foram: a trajetória profissional dos trabalhadores; o sentido do trabalho; as expectativas existentes no inicio da trajetória; dificuldades ao longo da trajetória; aspectos que mudariam ao longo da trajetória; percepção dos trabalhadores sobre suas trajetórias; escolhas ao longo da trajetória. Os resultados da presente pesquisa evidenciam que os sujeito s entrevistados avaliam suas trajetórias como bem sucedidas, no que se refere aos bens materias adquiridos ao longo dos anos. Os sujeitos pesquisados indicam que, se pudessem mudar algo em suas trajetórias “estudariam mais”. De maneira geral, os trabalhadores apresentam uma avaliação positiva de suas trajetórias, reconhecendo-se como “trabalhadores honestos”. Em relação ao lócus de controle, os sujeitos apresentam uma avaliação voltada para si, avaliando-se como responsáveis pelas suas escolhas e assim responsáveis pelas consequências de suas trajetórias profissionais. Dessa forma, é possível perceber que os trabalhadores pesquisados avaliam-se como culpados pela descontinuidade de seus estudos, entretanto, percebem-se capazes de aprender apenas observando outras pessoas fazendo. Nos casos estudados, os trabalhadores indicam que a fonte de controle para a avaliação pessoal passa pelo que conseguem realizar, pelas escolhas que tomaram no passado e pela maneira que se percebem como sujeitos. Dessa forma, conclui- se que os trabalhadores pesquisados focam em si os determinantes das escolhas que realizaram e realizam ao longo de suas trajetórias profissionais. Além disso, os dados

(7)

coletados evidenciam que os trabalhadores avaliam suas próprias trajetórias como satisfatórias em relação a bens materiais adquiridos e ao reconhecimento, por parte de seus familiares e seus vizinhos, e insatisfatória em relação ao grau de conhecimento formal que adquiriram ao longo de suas vidas.

Palavras-chave: Trajetória Profissional. Trabalhadores com Ensino Fundamental Incompleto. Atividades de Baixa Qualificação.

(8)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Caracterização dos trabalhadores entrevistados... 40

Quadro 2: Histórico da trajetória profissional de Pedro ... 42

Quadro 3: Percepção que Pedro tem em relação a si como trabalhador ... 43

Quadro 4: Sentido do trabalho segundo a percepção de Pedro ... 47

Quadro 5: Escolhas de Pedro ao longo de sua trajetória de vida ... 48

Quadro 6: Expectativas de Pedro ao longo de sua trajetória de vida ... 50

Quadro 7: Dificuldades de Pedro ao longo de sua trajetória de vida ... 51

Quadro 8: Facilidades de Pedro ao longo de sua trajetória de vida ... 53

Quadro 9: Aspectos que Pedro consideraria mudar ou manter ao longo da trajetória profissional ... 54

Quadro 10: Histórico da trajetória profissional de Maria ... 56

Quadro 11: Expectativas de Maria ao longo de sua trajetória de vida. ... 57

Quadro 12: Percepção quanto à sua trajetória profissional ... 58

Quadro 13: Sentido do trabalho para Maria ... 61

Quadro 14: Escolhas consideradas difíceis ao longo da trajetória ... 63

Quadro 15: Percepção de si como trabalhadora ... 65

Quadro 16: Aspectos que dificultaram ao longo da trajetória... 67

Quadro 17: Aspectos positivos ao longo da trajetória ... 68

(9)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 1.1 PROBLEMÁTICA/JUSTIFICATIVA ... 10 2 OBJETIVOS ... 20 2.1 OBJETIVO GERAL ... 20 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 20 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 21

3.1 COMO O HOMEM SE CONSTITUI SUBJETIVAMENTE ... 21

3.1.1 A condição Humana da Escolha ... 26

3.1.2 O neoliberalis mo: como a realidade se constitui na atualidade ... 28

3.2 LÓCUS DE CONTROLE... 35

4 MÉTODO ... 39

5. ANÁLISE... 42

5.1 ESTUDO DE CASO: PEDRO ... 42

5.2 ESTUDO DE CASO: MARIA ... 55

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 72

REFERÊNCIAS... 75

APÊNDICE ... 80

APÊNDICE A: Instrumento de Coleta de Dados ... 81

APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Eslcarecido (TCLE) e Consentimento e Gravações ... 82

(10)

1 INTRODUÇÃO

O presente projeto tem como objetivo principal investigar como trabalhadores que executam atividades de baixa qualificação avaliam suas trajetórias profissionais, como suas trajetórias profissionais se desenvolveram ao longo de suas vidas e em que condições estas foram possíveis. Nesse sentido, o que se pretende é explorar a partir de que conjunto de variáveis os trabalhadores se avaliam, sendo esta avaliação realizada por meio de aspectos externos a ele, os quais o trabalhador não possui controle, como aspectos da economia, modo de produção de trabalho, emprego/desemprego, aspectos sociais, como o nível e qualidade das escolas de seu contexto social etc. Ou, ainda, se sua avaliação parte de aspectos pessoais, como sua auto-avaliação sobre sua eficácia e sua capacidade para desempenhar determinadas atividades.

O projeto faz parte do Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, e teve como ponto de partida as discussões realizadas no Programa de Orientação de Carreira desta Universidade, sobre as trajetórias profissionais e as escolhas possíveis de pessoas que vivem em condições consideradas como de vulnerabilidade social. Este projeto está, ainda, ligado ao Núcleo Orientado Psicologia e Trabalho Humano, existindo estágio realizado na Psicologia do Trabalho Humano, que, também, possibilita discussões sobre o tema. Sendo, ainda, condição para a graduação de psicólogo, visa possibilitar ao acadêmico desenvolver habilidades de pesquisado, necessárias para a execução da profissão em qualquer campo de atuação.

Portanto o projeto apresenta como problemática as transformações ocorridas no mundo do trabalho tais como: a divisão do trabalho em relação as atividades que um trabalhador deve desempenhar, a flexibilização do trabalho e a responsabilização do trabalhador pela sua trajetória profissional. Serão apresentados, neste projeto, capítulos sobre a constituição da dimensão subjetiva a partir de uma perspectiva existencial e dessa maneira a concepção de Homem e o Mundo apresentada neste trabalho; também serão abordados temas relativos ao discurso dominante, a partir de que sistema político e ideológico a sociedade do século XIX se baseia; e quais as fontes de controle que os sujeitos utilizam para avaliarem suas trajetórias o seu lócus de controle. Por fim, serão apresentados, a partir da respectiva teoria abordada, a percepção de dois trabalhadores sobre suas trajetórias profissionais.

(11)

1.1 PROBLEMÁTICA/JUSTIFICATIVA

O trabalho possivelmente é um dos aspectos mais importantes da vida humana. É por meio do trabalho que o Homem transforma o mundo a seu redor, a natureza, dando a esta uma nova forma, um novo sentido. Isto acontece pois o Homem estabelece uma relação com o meio em que vive, e essa relação produz mudanças no próprio meio e no Homem. Assim, o trabalho pode ser entendido como um aspecto que se relaciona em duas dimensões: a social, o lugar onde o sujeito trabalha, tece relações com outros sujeitos, com o objeto de seu trabalho e produz transformações sociais e individuais; a psicológica, ou seja, a subjetividade humana, onde se produz sentido para o sujeito em relação ao seu trabalho, aquilo produzido por seu trabalho, e as relações existentes em seu trabalho. Segundo CODO (2004, p. 12), “através do trabalho você [o Homem] se iguala e se diferencia de si e do outro em uma ciranda quase mágica, se exercita socialmente, transforma o outro e é transformado por ele”.

Ao considerar o trabalho como um processo dialético entre o sujeito e o contexto de trabalho, este, o mundo do trabalho, não é estático, passando por constantes modificações. Modificações, essas, que podem ser facilmente observadas por meio do modo de produção, ou seja, a forma que é utilizada para produzir as mercadorias e os produtos necessários à comunidade humana. Como exemplo, pode-se observar e citar uma significativa transformação no mundo do trabalho e seu modo de produção desde a Idade Antiga até o mundo contemporâneo. Por exemplo, a forma de produzir da Antiguidade, da escravização de outros povos, estava ligada à forma de compreender a própria sociedade e dividi- la entre homens livres e escravos. Logo, quando organiza-se por um tipo de produção está também se construindo a maneira de entender e dividir a sociedade (ROBERTS, 2000).

Assim, outro exemplo, de transformações ocorridas no mundo do trabalho e suas consequências na sociedade, pode se referir ao modo de produção da Idade Média na Europa e sua transformação para o modo de produção existente no mundo moderno; a produção na Idade Média, era orientada, basicamente, pela mão de obra servil voltada para o cultivo de terras e o trato de animais, sendo o cultivo de terras então o grande mobilizador da força de trabalho e da economia da época (HUBERMAN, 1986). Considerando que a sociedade medieval era composta por castas, ligadas a uma religião que supunha que o nasc imento em uma ou outra casta era obra de um Deus e assim uma dádiva e parte de um destino, aqueles que não possuíam terra estavam a mercê daqueles que possuíam o direito de ter terras, a Igreja e os nobres em sua maioria (HUBERMAN, 1986). E, sendo a terra a fonte de renda, esta não

(12)

estava disponível a todos, estando na mão de alguns poucos, quem possuía propriedades cultivaveis possuía prestígio e poder sobre os demais, aqueles desprovidos de tais posses e que obrigatoriamente colocavam-se a serviço dos primeiros, os senhores, e se submetiam à vontade desses senhores, donos da terra (AQUINO et al, 1996). O modo de produção servil estava relacionado à forma que a sociedade era organizada.

No mundo moderno, com o advento da Revolução Industrial e da revolução Francesa, o grupo que detinha o poder mudou, isso porque o modo de produção também mudou, sendo agora orientado para a produção de produtos manufaturados, que não estavam nas mãos dos senhores e sim de outro grupo conhecido como burguesia (HUBERMAN, 1986). Nesse novo contexto as pessoas necessitam trabalhar nas fábricas para ganhar seu sustento, precisam vender sua força de trabalho para aqueles que possuem o equipamento, as máquinas, que possibilitam a produção (AQUINO, 1996). O trabalho começa a ser diretamente relacionado com o emprego, para trabalhar precisa-se estar empregado, para estar empregado precisa-se dispor daquilo que o patrão, o nome dado àquele que possui os equipamentos, precisa. O próprio emprego formal mudou com o passar do tempo, novas formas de produção começaram a ser implementadas assim que a tecnologia por meio da ciência, como a administração científica de Taylor, tentava desenvolver métodos mais eficientes para a produção.

Da Revolução Industrial até o mundo contemporâneo, muitas mudanças ocorreram no modo de produção. Inicialmente o que era uma produção manufaturada, muda completamente em função e desenvolvimento tecnológico ( Revolução Industrial) das ideias de duas pessoas, Henry Ford, que utilizou-se a ideia da esteira para otimizar a produção em massa de seus automóveis, por meio através da esteira de produção, e Frederick Taylor, criador da Administração Científica, cuja proposta era aumentar a eficácia dos trabalhadores por meio do estudo da maneira que cada operário deveria desempenhar sua função (HUBERMAN, 1986).

Assim o fordismo, pautado em uma concepção taylorista, acaba por definir o modo de produção do início do Século XX, modo de produção que Charles Chaplin demonstra em seu filme Tempos Modernos1. Esse modo de produção cria um tipo de trabalhador, aquele que seria considerado por Taylor como o homem certo para o trabalho certo. Assim, o sujeito era devidamente treinado para desempenhar uma determinada tarefa

1

O filme de Charles Chaplin te m co mo cena a Revolução Industrial e a mecanização dos processos de trabalho. O personagem de Chaplin, u m operário que te m co mo função apertar porcas de parte de uma me rcadoria, não definida, que passa a sua frente por me io de uma esteira. Esse personagem acaba perdendo sua função e seu emprego, quando o patrão (dono da fábrica), automat iza o modo de produção.

(13)

que fazia parte de uma linha de produção, essa tarefa poderia ser apertar um parafuso, pintar uma determinada peça, serrar um determinado material, alimentar uma fornalha etc. O trabalhador deveria exercer o que era esperado de si, não precisava ser criativo, ter um bom relacionamento com os colegas, se sua função era apertar uma porca a cada 10 segundos, ele deveria apertar uma porca a cada 10 segundos. O seu treinamento ficava a encargo da empresa em que trabalhava, se o trabalhador demonstrasse compromisso com o trabalho, e, por exemplo, capacidade de comando, poderia com o tempo ser promovido à superintendente do setor.

O que acontecia, até as últimas décadas do Século XX, era que a empresa se responsabilizava pela trajetória profissional ou pela Carreira Profissional de seus trabalhadores. O mundo de trabalho estava ligado às empresas que disponibilizavam o trabalho, por meio de empregos, e os sujeitos, em sua grande maioria, traçavam suas trajetórias profissionais dentro das empresas. Era comum nessa época alguém em um cargo de gerência ter chegado a esse posto passando por diversos outros cargos abaixo dessa posição. Consequentemente, o trabalhador exercia um papel mais passivo dura nte sua trajetória profissional e na construção de sua carreira.

Mas os ideais fordistas/tayloristas sofreram sua crise durante os anos 1970 e outra concepção de como a produção deveria ocorrer surge; ideia existente no mundo do trabalho no final do século XX e no início do século XIX, qual seja, o toyotismo. Esse modelo tem sua origem bem antes de sua consolidação como modelo, surge no Japão dentro de um contexto em que era necessário competir com as indústrias estrangeiras, no caso as indústrias automobilísticas, produzindo somente o necessário, sem excessos, sem estoque, e com diretrizes sobre como o operário deve produzir e quais devem ser suas atitudes durante o trabalho (GOUNET, 2002). Nesse contexto, as características que interessam sobre o toyotismo são referentes a nova atitude que o trabalhador deve ter para desenvolver seu trabalho.

No fordismo/taylorismo, o empregado deveria dedicar-se a produção sem que uma implicação de seu pensar fosse necessário, sua atividade consistia em realizar mecanicamente suas funções, executando apenas uma atividade por todo o seu tempo de trabalho. Já no toyotismo o empregado deve, além de executar tarefas repetitivas, realizá- las em diversas máquinas diferentes, sendo necessário, enquanto uma máquina produz, preparar as outras que deve usar posteriormente, e quando ocupado para tal tarefa deve chamar um outro empregado para auxiliá- lo (GOUNET, 2002). O trabalho dentro desse contexto, agora, ocorre em equipes, não mais por sujeitos isolados em sua tarefa única. Assim, o trabalho é

(14)

dividido agora por equipes de trabalho, cada qual responsável pela produção, pelos pedidos de peças referentes a sua parte na construção do produto, quando necessário e do controle de qualidade sobre a tarefa realizada pela equipe precedente a sua. Isto é, o empregado não tem mais a única tarefa de montar, apertar um parafuso, co locar uma peça, avaliar o controle de qualidade, pedir uma peça ao almoxarife, ou a empresa que a produz a peça, agora ele é responsável por todas essas etapas, ele e sua equipe de trabalho.

Dessa forma, com a mudança da maneira de produzir, o mundo do trabalho acaba por exigir sujeitos mais competitivos, mais qualificados, que consigam trabalhar em equipe, que consigam gerir suas próprias necessidades no trabalho, sujeitos com certo grau de flexibilidade, que tenham uma implicação maior no processo de trabalho, sendo agora necessário que o trabalhador realize diversas atividades em sua atividade profissional e que pense, reflita, sobre o seu trabalho (HUBERMAN, 1986). Se antes no fordismo/taylorismo era responsabilidade da empresa dar todos os subsídios e treinamento para que o sujeito operasse de maneira satisfatória sua função sendo que a decisão sobre as possibilidades de trajetória profissional do sujeito eram, também, da empresa. Entretanto, agora é de responsabilidade do sujeito gerir seu tempo de trabalho, e como será a maneira mais satisfatória de realizar sua tarefa, caso não obtenha os resultados esperados é responsabilidades deste, o empregado, o seu fracasso. Essa concepção pode parecer libertária, entretanto do mesmo modo que a concepção fordista, não abre possibilidades de trajetórias para o sujeito, apenas retira do gestor a possível responsabilidade de pensar a trajetória de seus trabalhadores.

Dentro dessa nova concepção de trabalho o sujeito é responsável pelo gerir de sua carreira profissional; surgem diversas possibilidades de carreira, de como alcançar os objetivos profissionais, conseguir aquele cargo em uma alta gerência, ou aquele cargo em um determinado órgão público etc. Entretanto, existe uma diferença importante entre trabalho e emprego que necessita ser explicitada. Apesar de relacionados, o emprego e o trabalha não fazem parte de uma mesma categoria, sendo possível entender o trabalho como uma dimensão mais ampla do que o emprego. O trabalho, como mencionado anteriormente, pode ser entendido por toda a ação do Homem sobre a natureza, sobre o contexto em que está inserido, que gere uma transformação desta e a criação de um sentido para o Homem (CODO, 2004). Dessa forma, cabe compreender que o trabalho é um processo dialético entre o trabalho e o trabalhador, e ocorre quando a natureza é transformada pelo trabalhador e ganha um novo sentido para o próprio trabalhador. Isso porque, “numa perspectiva histórico-dialética, o sujeito se constitui a partir das relações e, conseqüentemente, das mediações que estabelece com o mundo”

(15)

(MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 456). Nesse sentido o trabalho pode ser entendido por diversas atividades realizadas pelo Homem e que produzam sentido para este.

Já o emprego pode ser definido como trabalho formal, ou seja, o trabalho ligado a alguma empresa ou instituição, que possui um cargo, com determinada função, atividades específicas, regras e horários determinados. Há uma rotina, um local, um contexto de trabalho já previamente organizados, “as atividades que o trabalhador deve executar já estão todas previamente determinada” (CODO, 2004).

Um trabalhador, como empregado, tem uma função e atividades específicas que deve executar, e com o desenvolver de novas tecnologias de produção, mais específica se torna a função que o trabalhador desempenha, produzindo-se, dessa forma, tal divisão do trabalho que, o trabalhador como empregado, e realizando apenas parte do processo de construção de determinado produto, não produz um sentido daquilo que produz (CODO, 2004). É nesse sentido que o trabalho seccionado, onde cada um é responsável por uma parte da produção de um produto, acaba sofrendo críticas, pois esse modo de produção retira do sujeito que trabalha o mais importante, o sentido daquilo que faz, o transforma em um sujeito alienado (CODO, 2004).

Dessa forma, com o advento de uma nova forma de produzir (toyotismo), o trabalhador se torna cada vez mais responsável pelo se u trabalho, pela manutenção de seu trabalho, assim, passa a ser o responsável pelo controle de qualidade de seu trabalho e do trabalho de seus colegas. Conseguintemente, a indicação agora é, trabalhar em equipe, ser versátil, flexível, conseguir resolver problemas na hora em que eles acontecem sem a necessidade de se reportar aos superiores; o trabalhador deve estar ainda mais bem preparado para realizar suas funções, surge a necessidade de que os trabalhadores estejam ma is qualificados para o trabalho, requisito que nem todos conseguem preencher. Isso é, que os trabalhadores apresentem maior capacidade de efetivar seu trabalho, no sentido de que, consigam aliar conceitos técnicos e operacionais com suas capacidades comportamentais, afim de que consigam realizar suas atividades de maneira cada vez mais eficiente, produzindo mais em menos tempo, e com menores perdas de qualidade da mercadoria produzida. E o que acontece com estes sujeitos? Portanto, o mundo do trabalho no século XXI exige que os trabalhadores estejam em contínua qualificação profissional e, com raras exceções, essa qualificação quando necessária não é responsabilidade unicamente do trabalhador. Entretanto, existem aqueles que não têm a possibilidade de conseguir qualificar-se de maneira a competir no mercado de trabalho, ficando então com empregos e serviços que não exigem muita qualificação, mas que também não possuem um retorno financeiro expressivo.

(16)

Para tanto é preciso compreender o sentido de qualificação profissional e sua diferença com os estudos. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil, devido a não haver, na teoria, um consenso relativo à concepção de qualificação profissional. Para Machado (1992),

As condições físicas e mentais apresentadas pela força de t rabalho de u ma sociedade varia m h istorica mente, representando, em linhas gerais, a síntese de uma série de ele mentos, tais como : o grau médio de destreza dos indivíduos, a disponibilidade de recursos naturais, a forma co mo é organizada socialmente a produção, a quantidade de meios utilizados para produzir, inc luindo -se evidentemente o desenvolvimento das ciências e a possibilidade de aplicação dos resultados.

A qualidade do trabalho hu mano diz respeito, e m primeiro lugar, a u ma qualificação coletiva dada pelas próprias condições da organização da produção social, da qual a qualificação indiv idual não é só um pressuposto mais ta mbé m u m resultado, que se e xpressa em um maior ou menor grau de comp le xidade dependendo das possibilidades de potenciação dos vários tipos de trabalhos simp lesconhecidos pela sociedade (p.9)

Essa definição é a que mais se aproxima da compreensão de qualificação expressa neste trabalho. Ou seja, a qualificação é mais ampla do que o entendimento de estudos, apesar dos estudos poderem sem parte do processo de qualificação profissional, mas não necessários. Isso porque, “a educação escolar é vista como importante para a qualificação profissional, mas não se constitui em fator principal”, já que “ela fornece as credenciais necessárias para a permanência no mercado de trabalho, mas é na aprendizagem que se dá no ambiente de trabalho que se constrói a qualificação ” (N EVES, 2004)

Conseguintemente, alguns dados apresentados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) são representativos dessa realidade. Segundo o DIEESE (2011), em 2009 66,4% da população oc upavam uma posição de assalariados, entretanto, apenas 34,9% da população brasileira trabalhavam com carteira assinada. Em Santa Catarina o número de trabalhadores assalariados está na média brasileira, representando 66,6% da população catarinense, entreta nto o número de pessoas trabalhando sem carteira de trabalho é de 11,4%, enquanto aqueles sujeitos que trabalham com carteira de trabalho assinada é de 44,6%.

Há um aumento significativo no Estado em relação aos sujeitos que trabalham com carteira de trabalho assinada pelo empregador, comparativamente ao país. Ainda quanto ao salário, os dados apresentados demonstram que, aqueles sujeitos que estudam por mais tempo têm os salários maiores, segundo o DIEESE (2011), sendo que os sujeitos que estudam 15 anos ou mais, podem chegar a ganhar de cinco a 10 salários mínimos (23%) ou 10 a 20 salários mínimos (22,2%); em relação aos sujeitos que nunca freqüentaram a escola ou que freqüentaram por menos de um ano, os dados do DIEESSE indicam que, esses sujeitos ganham, em sua maioria (27%), entre meio e um salário mínimo; os sujeitos que têm de um a três anos de estudos ganham em sua maioria (26,9%) de meio a um salário mínimo, e 25,7%

(17)

ganham entre um e dois salários mínimos (DIEESE, 2011). O que pode ser observado é que, quanto maior o tempo de estudo, maior o salário, ou seja, quanto maior o tempo de estudos, o tempo que o sujeito passa dedicando-se a vida acadêmica, maior o retorno financeiro que obterá.

Um dado interessante faz relação à taxa de escolarização que a população brasileira apresenta (DIEESE, 2011). Segundo os dados, há um número maior de pessoas matriculadas no ensino fundamental 86 % da população pesquisada (dados referentes ao ano de 2009), em relação às pessoas matriculadas no Ensino médio, que são 84% da população pesquisada e com uma porcentagem ainda menor, apenas 22%, de pessoas matriculadas no ensino superior (DIEESE, 2011). Ao se considerar que a média de formandos no ensino superior cai pela metade, 11% das pessoas pesquisadas, e que essa parcela da população não representa a maioria das pessoas inseridas no mercado de trabalho até o ano de 2009, e ainda que, há uma maior inserção no mercado de trabalho de pessoas que têm o ensino fundamental completo, fato que provavelmente decorre do cenário nacional onde a maior parcela da população é de pessoas com formação até o Ensino Fundamental. Em função disso, é de se pensar que, existem hoje no mercado de trabalho muitas pessoas inseridas que ganham relativamente mal em relação a poucas que ganham relativamente bem, apesar desse ser o paradigma da sociedade capitalista. Entretanto, esse fato gera consequêcias de uma maior desigualdade social.

Apesar de um número maior de pessoas inseridas no mercado com grau de escolaridade baixo, os maiores salários são pagos para os sujeitos que tem grau universitário. Assim, há muitos ganhando pouco e poucos ganhando muito, algo que parece inerente a sociedade humana em diversos momentos da História. Sendo que normalmente observam-se os sujeitos que apresentem sucesso em suas trajetórias profissionais, não se apresentando grandes estudos e políticas públicas em direção ao que, segundo os dados do DIEESE (2011), são a maioria quanto a inserção no mercado de trabalho.

Em relação à concepção semelhante da distância entre o que acontece na realidade e o que é feito por meio do discurso, Sennett (2004) re lata um episódio em seu livro “RESPEITO”, em que o autor retorna ao lugar onde cresceu, uma região pobre de Chicago, em função de um evento realizado pela sua Universidade, cujo o objetivo era levar aos jovens moradores locais o depoimento de trabalhadores, que anteriormente residiam no bairro e que conseguiram, por meio do trabalho, atingir um certo grau de estabilidade financeira. Entre aqueles voluntários que se apresentaram aos jovens, descrevendo suas trajetórias profissionais, sendo um deles o próprio autor, aparece o relato de duas pessoas, uma jovem

(18)

que conseguiu tornar-se secretária de um dirigente sindical e um homem negro que conseguiu empregar-se no setor de eletricidade, sendo este considerado como um dos setores mais racistas da cidade de Chicago.

O relato destas pessoas produziu nos jovens certa identificação, pois apresentaram os passos que os dois trabalhadores realizaram durante sua trajetória profissional, mesmo que estes trabalhadores não possuíssem um histórico profissional considerado como uma trajetórias de sucesso, eram sim percursos profissionais “modestos”. Entretanto, um jovem, de origem latina, também ex- morador do bairro, que havia se tornado um médico de sucesso, iniciou seu discurso em um tom mais “motivador”, não relatando os passos e as dificuldades que enfrentou para atingir sua posição atual, conseguintemente o discurso do jovem médico não produziu o efeito esperado nos jovens moradores locais, na verdade produziu o inverso (SENNETT, 2004). Sennett (2004) aponta que o discurso do jovem, apesar de motivador, estava distante da realidade vivida por aqueles jovens, reproduzira o discurso de uma elite, enquanto os dois empregados em situação mais modesta em seus discursos descreveram cada passo que precisaram dar em direção ao seu objetivo, as dificuldades encontradas e as estratégias utilizadas para contornar essas dificuldades.

Em decorrência de cenários semelhantes no Brasil, nas últimas décadas, surgiram programas que tem como objetivo qualificar os trabalhadores, principalmente os jovens, no sentido de gerar condição para uma melhor inserção no mercado de trabalho. E também, políticas publicam com o objetivo de implementação da renda de famílias com baixa e baixíssima renda econômica como o Programa Bolsa Família, criado em 2003 (SANTOS, 2010).

Há também, políticas que visam à possibilidade de qualificação para aqueles que vivem nessas esferas da população economicamente mais baixa a fim de contribuir para o aumento de probabilidade na obtenção de atividades remuneradas mais qualificadas, tais como o “Plano Setorial de Qualificação e Inserção Profissional (PlanSeQ), o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (PROMINP) e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM)” (SANTOS, 2010, p. VIII). Ainda que, estes programas sejam importantes para a melhoria das populações que tenham baixa renda, essas políticas muitas vezes não produzem possibilidades reais de auxílio no sentido de que estas pessoas possam transcender as situações de sua realidade, isso porque, muitas vezes e sem a intenção, armam-se de um discurso “motivador”, próximo ao apresentado pelo médico de Sennett (2004), ao invés de um discurso que possibilite a visualização dos passos que as

(19)

pessoas incluídas na população com baixa renda necessitam executar para atingir uma maior número de possibilidades de ocupações profissionais.

Consequentemente, o público alvo dessas políticas são, em sua maioria, jovens que estão em vias de inserção no mercado de trabalho e pertencem a uma população econômica de baixa renda ou em vulnerabilidade social (BULHÕES, 2004; DIAS; BULGACOV; CAMARGO, 2007; THOMÉ; TELMO; KOLLER, 2010; FI GUEIRAS, 2011; BRITO, ANO; GARAY, 2011; SOARES, 2011). A preocupação é qualificar e proporcionar a inserção desses jovens no mercado de trabalho, consequência nem sempre possível para todos os jovens que frequentam programas de qualificação e inserção profissional. Há também programas cuja preocupação é a qualificação de trabalhadores, isso é, pessoas que já estão no mercado de trabalho mas não possuem uma qualificação considerada como adequada e suficiente para o desempenho de atividades cada vez mais necessárias nas novas concepções do mundo do trabalho.

Ainda quanto a inserção dos jovens no mercado de trabalho, há hoje, além de programas do governo citados anteriormente, projetos e ações isoladas que tem como objetivo instrumentalizar e auxiliar os jovens de baixa renda e vulnerabilidade social a construírem projetos profissionais pautados em uma escolha condizente com suas possibilidades reais e concretas que viabilizem ações mais efetivas para a sua inserção no mercado de trabalho (SARRIERA; SILVA; KABBAS; LÓPES, 2001; SILVA JUNIOR, 2011), assim como as discussões da importância de intervenções focadas nesse público (BARDAGI; ARTECHE; NEIVA-SILVA, 2005; SILVA, 2010).

Para possibilitar um conhecimento mais adequado sobre as possibilidades existentes hoje em relação a escolhas profissionais, a inserção no mercado de trabalho e a permanência nesse mercado por parte de classes socioeconômicas baixas, é necessário conhecer os passos necessários que este público deve traçar, ou seja, a trajetória profissional de trabalhadores cujo perfil é correspondente a daqueles jovens que futuramente irão se inserir, de alguma maneira, no mercado de trabalho. Nesse sentido já existem estudos realizados com o objetivo de explorar e identificar a trajetória profissional destes trabalhadores (MORTADA; TAVARES, 1999; FERREIRA, 2004; BASTOS, 2005; ACKERMANN, 2007), assim como trajetórias profissionais de profissões com certo grau de qualificação (DIOGO; COUTINHO, 2011) e trajetórias entendidas como trajetórias de sucesso (MAIA; MANCEBO, 2011; SOUZA, 2009).

Vale destacar, ainda, que o DIEESE (2011) considera baixa escolaridade pessoas com escolaridade menor que o ensino médio completo, ou seja, menos que 10 anos de estudo,

(20)

sendo, atualmente, essa parcela de trabalhadores brasileiros a mais significativa em relação aqueles que estudaram por mais tempo. Dentro de um sistema centrado no capital, é esperado algo próximo à realidade brasileira, muitos ganhando pouco e formando a base de uma pirâmide econômica, enquanto um número menor ganha um pouco mais e se localiza no centro da pirâmide e poucos ganham muito compondo o topo da pirâmide econômica.

O conhecimento das trajetórias profissionais vividas por trabalhadores, cujo trajeto profissional percorrido é semelhante a trajetória dos jovens, que hoje, estão começando a traçar, ou que demonstram interesse em traçar suas trajetórias profissionais, pode auxiliar tanto no aprimoramento de políticas públicas já em vigor, como na elaboração de novas políticas. Políticas necessárias para a ampliação das possibilidades de escolha de uma parcela da sociedade, que tem limitado e circunscrito seu poder de atuar, de escolher em função do contexto em que vivem. Parte importante desse conhecimento deve-se àquilo que os sujeitos nessas condições percebem de si mesmos, ou seja, como é que esses sujeitos avaliam suas próprias trajetórias profissionais. Nesse sentido, é preciso investigar qual a percepção os trabalhadores que executam atividades de baixa qualificação têm sobre suas trajetórias profissionais?

(21)

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Compreender a percepção de trabalhadores que executam atividades de baixa qualificação sobre suas trajetórias profissionais.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Caracterizar a situação atual de trabalho dos trabalhadores investigados;

b) Identificar quais os critérios os trabalhadores investigados utilizaram na escolha de sua atividade profissional;

d) Verificar o sentido do trabalho para os trabalhadores investigados;

(22)

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 COMO O HOMEM SE CONSTITUI SUBJETIVAMENTE

Existem diversas perspectivas teóricas que entendem e explicam de que forma o Homem se constitui. E, levando-se em conta que o presente projeto parte do entendimento em que o Homem enquanto trabalhador estabelece uma relação dialética entre si e o seu trabalho, pois por meio do que produz com o trabalho o Homem produz sentido para si, a concepção adotada, neste projeto, de como o Homem se constitui no mundo é pautada na concepção filosófica sartreana. Esta possibilita a compreensão da constituição do Homem por meio das relações que estabelece com o mundo, sendo o trabalho um lugar onde há existência constante da construção de relações.

Dessa forma é necessário compreender que,

numa perspectiva histórico-dialét ica, o sujeito se constitui a partir das re lações e, conseqüentemente, das med iações que estabelece com o mundo. Situado num contexto histórico específico, o sujeito está em me io a conflitos, contradições, negações, afirmações e superações, as quais estão impressas nas suas ações cotidianas, mediadas pela historia que se dá num movimento dialético - o movimento singular/universal. Isto é, o home m, e m seu sentido genérico, se faz u m sujeito singular/original, já que pode se fazer diferente do que a história fe z dele , e se faz, ao mesmo te mpo, um suje ito universal, já que contém a história da humanidade e m si, e se encontra aberto a u ma diversidade de possibilidades e m curso (MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 456).

É por meio da relação com o outro que o Homem, entendido como sujeito de sua história, se constitui subjetivamente. Isto porque,

o sujeito, a partir das re lações que vivencia no mundo, produz significações e, co mo ser significante, vivenciar esta sua condição de ser lhe permite singularizar os objetos coletivos, humanizando a objetiv idade do mundo. Suas significações aliadas às suas ações, em mov imento de totalizações abertas, compõem o sujeito que vai sendo revelado por perspectivas (MAHEIRIE, 2002, p. 36).

Nesse sentido, é no mundo e por meio das relações estabelecidas com esse, que o Homem irá se constituir como Homem, como parte de uma humanidade, preservando o seu aspecto singular e ao mesmo tempo sendo parte de um todo, sendo e construindo a própria humanidade da qual faz parte e se reconhece como tal. Isso porque, o Homem, entendido aqui como sujeito de sua própria história constitui-se por meio do “coletivo e, por ser uma obra de autoria coletiva, em maior ou em menor medida, a história pode lhe escapar” (MAHEIRIE, 2002, p. 36).

(23)

Portanto, “neste processo de elaboração de seu projeto ou de constituição de sua singularidade em meio a multiplicidade da coletividade, o sujeito precisa relacionar-se com o outro, ou seja, ser atravessado pelas condições históricas determinadas” (MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 456-457). Sendo por meio dessa multiplicidade da coletividade, ou seja, em relação ao contexto em que o sujeito vive e se relac iona é que ele deverá agir, deverá escolher. Entretanto, a liberdade de escolha humana é limitada pelo outro (SCHNEIDER, 2011).

Consequentemente, o sujeito

inserido neste cenário de mú ltiplas singularidades que se entrecruzam, e le rea liza a sua história e a dos outros, na mes ma medida e m que é rea lizado por e la, sendo, por isso, produto e produtor, simultanea mente. Ele não a realiza co mo bem entende, mas també m não se constitui como u m objeto dela, podendo realizá -la de u ma forma ma is ou menos alienada, sempre e m função de um projeto (MAHEIRIE, 2002, p. 36).

Entende-se então que, mesmo escolhendo-se como um sujeito privado de sua possível liberdade de ser, em uma escolha alienada pelo outro, o sujeito não deixa de realizar uma escolha, de realizar ações no mundo que produzem a sua constituição como sujeito, como Homem. No entanto quando a ação está unicamente em função do outro, esta escolha é considerada como uma escolha “não posicional-do-eu” (SCHNEIDER, 2011, p. 171), ou seja, uma escolha que não considera o ser, os desejos, sentimentos, realizações, daquele que realiza a ação, apenas a presença do outro na escolha que realiza.

Para a concepção sartreana, é “a partir do outro (pessoa, objeto, racionalidade, corpo, tempo) que o sujeito apreende significados e sentidos para o mundo e para si, e, mais do que isso, é a partir dessa relação que é significado como um ser humano entre outros seres-humanos” (MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 457). Ou seja, a relação eu/outro compreende a relação de um sujeito para com o outro por meio da objetivação do outro pelo eu. Essa objetivação do eu pelo outro, gera o reconhecimento do outro para o sujeito (ser-para-outro) e do sujeito pelo outro (ser-para- mim), quando isso ocorre é considerado uma transcendência transcendida, fixa em uma determinada situação temporal e espacial, isso porque, o outro capta o sujeito como um ser fixo no tempo, sem a possibilidade de ser um sujeito dialético possível existente na relação eu/outro, isso acontece pois há a objetificação do sujeito por parte do outro (SCHNEIDER, 2011).

Ainda é possível distinguir uma terceira possibilidade de relação existente na relação eu/outro, o ser-com-o-outro. Nessa relação há “o estabelecimento de uma transcendência única comum e dirigida a um fim único” (SCHNEIDER, 2011, p. 151). Portanto, essa relação propiciaria uma troca com o outro, na medida em que um é mediação

(24)

ao outro, permitindo-se uma relação dialética, sendo que nessa possibilidade o sujeito não estaria alienado ou alienando o outro por completo, o sujeito é mais do que apenas objeto, há uma relação dialética entre o eu e o outro.

Dessa forma,

dize r que o ser é dialético, é dize r in icia lmente (no plano ontológico) que ele é uma totalidade que imp lica a a firmação e a negação. Em seguida (no plano antropológico), é d ize r que o ser se rea liza não apenas enquanto mundo natural, mas també m e, fundamentalmente, co mo mundo histórico (MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 456).

Segundo Sartre (1960 apud SCHNEIDER, 2011, p, 151), entender o sujeito como um ser que se move no tempo, é uma possibilidade de compreendê-lo “por meio de um ponto de vista histórico e dialético”. Isso abre a possibilidade de compreensão de um homem que é “produto de seu produto”, isso significa que, o homem gera sentidos, constrói a história, sendo que a história e seus produtos o condicionam, são significados pelo sujeito de alguma forma, isso é, o homem também é construído pela história e seus produtos (SCHNEIDER, 2011, p. 151). Para elucidar essa condição humana pode-se fazer alusão ao poema de Cecília Meireles “Construirás os labirintos impermanentes que sucessivamente habitarás”, sendo o homem o próprio criador das situações, da história, que virão a ser a condição antropológica de sua existência, não sendo nem as situações e nem a própria história estanques e sim dialéticas em seu processo de eternamente vir a ser.

É por meio dessa relação que o homem nunca consegue se desvincular completamente da alienação, pois a completude da história lhe escapa. Isso po rque, ao fazê- la e ser condicionado o homem se reconhece, mas esta também é feita por outros, em outros tempos e locais, e nesse sentido a história escapa em parte do sujeito, pois foge de seu controle. Então, “nunca seremos plenamente senhores de nosso ser; estaremos sempre, em certa medida, em poder dos outros; a alienação nunca pode ser revogada absolutamente” (SCHNEIDER, 2011, p.152).

Portanto, em parte o Homem sempre será alienada a algo ou alguém e em algum grau, dependendo de fatores relativos ao contexto no qual o sujeito vive suas experiências de vida. “Neste sentido, experimenta a alienação e a sensação de estar fora da história, como se esta fosse estranha a ele já que ela é escrita por outros também” (MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 457). Isso porque o sujeito nunca pode capturar e controlar de maneira plena, ainda que suas ações (escolhas) contribuam para a construção da história (subjetiva e objetiva) que o rodeia, pois não é o único autor dessa história produzida por muitos e por ninguém em específico.

(25)

Consequentemente, é possível compreender o homem em sua totalidade, como um sujeito que será o eterno vir a ser em suas possibilidades continuas de escolhas, isso porque, está em relação com o outro e os outros como um conjunto sócio-cultural e histórico que ajuda a construir na medida em que é construído. “Na verdade, o homem transforma a natureza e a si mesmo na atividade, e é fundamental que se entenda que esse processo de produção cultural, social e pessoal tem como elemento constitutivo os significados” (AGUIAR; OZELLA, 2006, p. 226). Assim, os sujeitos nas relações eu/outro se tornam “meios uns para os outros para realizar nosso ser; sem as mediações sociais não nos humanizaríamos” (SCHNEIDER, 2011, p.153).

Em função disso, “as significações estão em cada ato humano e estão presentes na totalização histórica, transformando-se ao longo dela, sendo superadas por outras significações que vão surgindo” (MAHEIRIE, 2002, p.39). Entende-se que “os significados são, portanto, produções históricas e sociais [...] são eles que permitem a comunicação, a socialização de nossas experiências” (AGUIAR; OZELLA, 2006, p.226). Em decorrência disso, “as significações traduzem os acontecimentos históricos e, com isso, devemos entender que elas traduzem a história passada, as expectativas futuras, mas também o cotidiano (MAHEIRIE, 2002, p.39). Ou seja, as significações possibilitam que o sujeito reconheça que como humanidade, como pertencentes a uma Cultura, uma Sociedade, pertencentes a uma História que denominamos como humana, propicia uma mediação entre estes homens, entre si e entre o mundo.

Contudo, o Homem não é um ser indistinto no meio de outros Homens, há existência de particularidades de homem para home m, a possibilidade de uma identificação de um sujeito em relação a outro. Os homens possuem sua singularidade, que pode ser compreendida como uma personalidade. Nesse sentido a compreensão de uma personalidade por meio de um olhar existencialista do fenôme no de personalidade estaria relacionada a dimensão psicológica, subjetiva do sujeito.

A priori, antes de qualquer definição, deve-se compreender que para a concepção sartreana “a existência precede a essência” (SCHNEIDER, 2011, p. 158), ou seja, a essência do homem seria sua personalidade, e esta não é algo dado, no sentido de algo pronto no nascimento de qualquer sujeito, é algo que acontece a partir das mediações do sujeito no mundo, ou seja, é algo que é construído ao longo da vida. Maheirie (2002) compreende a dimensão subjetiva também como algo construído, denominada pela autora como identidade. Assim, “a constituição da identidade tem a marca da ambigüidade, da síntese inacabada de contrários, daquilo que é individual e coletivo, daquilo que é próprio e alheio, daquilo que é

(26)

igual e diferente, sendo semelhante a uma linha que aponta ora para um pólo, ora para outro” (MAHEIRIE, 2002, p.41).

Consequentemente, é por meio da mediação eu/outro e eu/mundo (que seria a relação eu e toda a construção histórica, cultural e social de muitos outros e do próprio eu), que o homem entende-se parte inerente a uma concepção do humano, é a partir desse meio que o homem construirá o que será entendido como sua essência, ou sejas sua personalidade, a maneira que o Homem se entende como sujeito. Sua existência como um homem corpo, sem a noção de uma personalidade em si precede a concepção de compreensão do sujeito sobre si, como alguém distinto de inúmeros outros “eu”, sendo ainda similar a esses inúmeros outros. Dessa forma, “é a consciência, como dimensão subjetiva do sujeito, que é capaz de construir, desconstruir e reconstruir a identidade (os perfis/papeis sociais que o sujeito controis ao longo de sua trajetória de vida em relação as experiências que tem) constantemente, em que participam as percepções, imaginações, emoções e as reflexões, quer críticas ou não” (MAHEIRIE, 2002, p.42). Portanto, parte disso “a necessidade de um processo histórico de totalização das relações sujeito com o mundo” (SCHNEIDER, 2011, p. 158).

Por conseguinte, no

processo de elaboração de seu projeto ou de constituição de sua singularidade em me io a mu ltip lic idade da coletiv idade, o suje ito precisa relac ionar-se co m o outro, ou seja, ser atravessado pelas condições históricas determinadas, e, ao fazê -lo, inic ia o processo de subjetivação e objetivação de seu ser no mundo. (MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 456-457)

Na maioria dos casos o primeiro lugar de mediação dos sujeitos é a família. É nesse contexto que o sujeito tem suas primeiras mediações no sentido de identificação com o que é propriamente humano, e comparação com características físicas, comportamentais e psicológicas com outros membros da família (SCHNEIDER, 2011). Posteriormente o sujeito passa a ter outras mediações, para além da família, constituídas por aspectos institucionais, podendo ser instituições de educação (escola, instituições de qualificação profissional, universidades etc), de correção (presídios, hospícios, escolas etc.) e de trabalho (organizações privadas ou públicas), ou apenas aspectos relacionais, como relações de amizade, relações amorosas, relações trabalhistas, etc.

Essas mediações também são dialéticas, na medida em que o sujeito ao ser comparado também compara-se com os outros, se reconhece em membros de sua fa mília, e também em outros sujeitos, para além desta, sujeitos próximos como amigos, colegas, chefes, empregados, e sujeitos distantes, temporalmente, por existirem em outro tempo na história, ou espacialmente, por existirem em outro local. Isso porque,

(27)

[...] a totalidade dia lética deve envolver os atos, as paixões, o trabalho e a necessidade, tanto quanto as categorias econômicas; ela deve colocar ao mesmo tempo, o agente ou o evento no conjunto histórico, definindo -o e m relação à orientação do futuro, e determinar e xata mente o sentido do presente enquanto tal (MACIEL, 1986, p. 164 apud MAHEIRIE; PRETTO, 2007, p. 459).

Logo, a escolha aparece como a possibilidade de um vir-a-ser diferente ou igual, a liberdade de escolha é limitada da medida em que o sujeito se vê objetivado nas características apontadas pelo outro, ou como um sujeito livre na proporção em que se vê como o criador de sua própria história e nas situações em que a escolha ocorre por meio de uma relação dialética eu/outro e eu/mundo. Relação que ocorre em diversas dimensões sócias, entre elas o trabalho, onde o sujeito é constituído e constituinte, onde o sujeito produz sentido no produto de seu fazer.

Entretanto há um constante fazer, há a ação do sujeito, dentre as diversas possibilidades de ser no mundo, pai, mãe, irmão, esposo, amigo, professor, trabalhador. Todas a ação se resume no ato e “ao realizar um ato qualquer, o sujeito o escolhe dentre algumas possibilidades, em uma determinada situação específica” (MAHEIRIE, 2002, p. 36). Sendo que “escolher é, unicamente, atuar, realizar qualquer coisa no mundo concreto” (MAHEIRIE, 2002, p. 37). Assim a escolha é uma constante, pois o homem é em si a realização de atos, de ações, e consequentemente de escolhas, sendo esta condição humana em sua própria existência.

3.1.1 A condição humana da escolha

Sendo então entendido o homem a partir de uma perspectiva existencialista sartreana, e que este se constitui por meio das relações que estabelece ao longo de sua vida, cabe compreender que condição possibilita ao Homem ir se construindo como sujeito. Ou seja, o que faz com que os sujeitos, como pais, como amigos ou como trabalhadores, tenham possibilidade de se constituírem como tal, não sendo apenas determinados pelos aspectos existentes no contexto em que vivem?

Durante toda a trajetória de uma vida humana, o Homem depara-se com uma constante, a escolha. Escolha profissional, escolher casar, ter filhos, escolher aceitar ou não um emprego etc. A escolha seria um condição humana, devido a possibilidades de escolha, e a liberdade possível a esse homem. Segundo Schneider (2011, p. 168), “o homem é livre, isso porque ele não é um „si mesmo‟, mas „presença de si‟[...] ele é „presença‟ em um mundo que exige sua posição ou atuação constante”. Essa atuação co nstante exige do homem a

(28)

necessidade igualmente constante de escolher, “[...] o homem depara-se a todo instante com a necessidade de se escolher” (SCHNEIDER, 2011, p.168).

Retomando a definição de Maheirie (2002), a escolha pode ser entendida como um ato qualquer realizado pelo sujeito. Sendo que,

Ao realizar u m ato qualquer, o sujeito o escolhe dentre alguns possíveis, em u ma determinada situação específica. Escolher é, unica mente, atuar, rea liza r qualquer coisa no mundo concreto e isto, na maior parte das vezes, não envolve grandes refle xões ou posicionamentos. Assim, seu significado corresponde, simp lesmente, à objetivação da subjetividade que se concretiza a partir das determinações do contexto, do passado e em função do ainda-não-feito, do futuro (MAHEIRIE, 2002, p. 37).

Por conseguinte, a escolha do homem é feita em função de seu desejo ser, por isso a “necessidade de se escolher” constantemente. Para Schneider (2011, p.168), o “ser” é a escolha em si, ou seja, para o homem ser ou vir a ser é necessário escolher-se nessa condição. Nesse ponto que reside a liberdade do homem, a possibilidade constante de se escolher ao longo de sua vida. Pois “ao escolher, singularizo a possibilidade ou a impossibilidade coletiva, tornando-a individual, pois a interiorizo e exteriorizo na coletividade, mesmo que não me reconheça nesta ação” (MAHEIRIE, 2002, p. 37). Logo, a possibilidade de escolher-se do homem ocorre em relação a uma situação, não escolher-sendo essa determinante do homem nem o homem determinante da situação, entretanto uma permeia a outra, abrindo possibilidades concretas, reais a determinada situação, ou limitando a possibilidade de uma escolha concreta em relação à determinada situação, conseguintemente as escolhas estão relacionadas com as “possibilidades concretas que a realidade nos oferece” (SILVA, 1995, p. 30).

Dessa forma, “a liberdade só existe em uma estrutura de escolha, dada pela situação na qual está inserida. Portanto, o indivíduo se escolhe dentro de determinadas condições, que constituem o contexto que o cerca” (SCHNEIDER, 2011, p. 170). Isso porque, “a realidade humana não poderia receber seus fins nem de fora nem de uma pretensa „natureza‟ interior. Ela os escolhe e, por essa mesma escolha, confere-lhes uma existência transcendente como limite externo de seus projetos” (SARTRE, 2011, p. 548). Ou seja, a escolha existe em relação as possibilidades existente na realidade do sujeito, sendo, por exemplo, um trabalhador que possui mediações sociais que limitem suas possibilidades de escolhas, não é, de certa forma, uma surpresa que as escolhas desse sujeito sejam igualmente limitadas.

Para demonstrar de forma mais didática as condições que constituem o contexto que cerca o homem, Sartre (1987 apud SCHNEIDER, 2011) exemplifica quatro dimensões que permeiam a escolha de um sujeito: o lugar onde o sujeito vive, que consiste na casa onde

(29)

esse sujeito vive, no bairro, na cidade, no país etc.; na história do sujeito, que seria a própria trajetória de vida de determinado sujeito até determinada escolha; os objetos, que consistiria nas “coisas/utensílios” (SCHNEIDER, 2011, p.171), com os quais o sujeito costuma se relacionar, ou utilizar, dependendo do objetivo prático que tenha em relação ao objeto; e as relações com os outros, que pode ser diretamente, por meio das relações rotineiras que o sujeito estabelece ao longo de sua trajetória de vida (pais, amigos, colegas de escola/profissão, professores, chefes, empregados, filhos, irmãos, etc.), ou indiretamente, por meio de sinais, placas, objetos com funções predeterminadas, que possibilitam ao sujeito uma percepção de um mundo já significado pela existência de outros homens, históricos e presentes.

Portanto, é por meio e através dessas situações de condições, ou seja, em relação ao contexto em que o sujeito vive e se relaciona, é que ele deverá escolher (SCHNEIDER, 2011). A liberdade de escolha humana é limitada pelo outro, quando há uma limitação da possibilidade de escolher-se, a alienação de escolha, ou escolha alienada (SCHNEIDER, 2011). Isso é, mesmo escolhendo-se como um sujeito privado de sua possível liberdade de ser, como um escravo por exemplo, o sujeito não deixa de fazer uma escolha, o que Schneider (2011, p. 171) caracteriza como uma escolha “não posicional-do-eu”. Isso é uma escolha que não considera o ser daquele que realiza a escolha, apenas a presença do outro na escolha que realiza.

3.1.2 O neoliberalis mo: como a realidade se constitui na atualidade

Considerando o que foi dito anteriormente, quanto ao compreendimento da constituição da subjetividade humana a partir da perspectiva teórica existencialista sartreana. É que, dessa forma, há o entendimento de que o homem se constitui de maneira dialética a partir do contexto em que vive e com as pessoas que se relaciona, contexto entendido por Sartre (2011) como a dimensão antropológica. É importante compreender como esse contexto é organizado, como ele se apresenta ao sujeito. Para além das especificidades existentes em cada região, bairro etc. há a presença de uma ideologia macro, que permeia a sociedade e pode ser presente nas casas mais simples aos bairros mais luxuosos das maiores cidades do planeta.

Ao longo do século XX e início do século XXI, ocorreram diversas renovações no modo de produção. Tendo como base um modelo de produção fordista, forte na primeira

(30)

metade do século XX até meados dos anos 70, e posteriormente o toyotismo, que tem se tornado o modelo de produção dominante nas últimas décadas. Essas formas de se produzir têm como objetivo a possibilidade de aumentar a produtividade, e assim, aumentar os lucros da produção. Um dos primeiros teóricos a pensar criticamente e de maneira mais organizada em relação a esse sistema foi Marx. Segundo a teoria marxista a mercadoria produzida possui dois possíveis valores, o valor de uso, a utilidade da mercadoria e o valor de troca o valor agregado a mercadoria quanto a produto de consumo no mercado (MARX, 2003).

Assim, a sociedade atual é caracterizada por seu modo de produção e seu sistema econômico, estes dois sistemas são complementares e a sua totalização é conhecida como sistema capitalista, em função do objetivo maior que é o acumulo de capital. Esse sistema também envolve outros aspectos, além da maneira de se produzir e os planos econômicos, envolve também uma ideologia que baseia os ideais predominantes na sociedade moderna atual.

Dessa forma, a produção capitalista tem como objetivo a produção de bens que gerem lucros e o acumulo de capital. Em função desse modo de produzir, existem aqueles que dispõem dos meios de produção e assim dominam a própria produção e o acúmulo de capital. Esse fato possibilita a compra da força de trabalho daqueles que não tem meios de produzir mercadorias e que, dessa forma, vendem sua força de trabalho em troca do que é denominado como salário. Em função disso, da possível dominação da força de trabalho de outros, surge o que Marx (2003) denomina de mais-valia.

Para Marx (2003), mais valia consiste no fato de que o trabalhador ao vender sua força de trabalho produz um adicional, que é o lucro do “dono da fábrica”. Essa maneira de trabalho pode ser entendida como uma relação de trabalho existente num mundo onde o sistema capitalista é predominante, afinal um sujeito que monta uma fábrica, indústria ou empresa, tem como objetivo maior gerar um lucro que lhe permita acumular capital. Mas essa relação de trabalho pode muitas vezes se tornar perversa, quando há, e em muitos casos há, a exploração do trabalhador e a desapropriação destes do produto de seu trabalho.

Para entender melhor essa desapropriação do sujeito de seu trabalho, voltemos ao que anteriormente foi comentado quanto a alienação ocorrida por meio do trabalho citado por Codo (2004). Quando um trabalhador vende sua força de trabalho em um modo de produção fordista ou toyotista, fica responsável por parte do processo de construção do todo de um determinado produto, não se apropriando completamente daquilo que ajuda a produzir, pois nunca reconhece o que faz em sua totalidade. O trabalhador também não pode se apropriar do que produz no sentido mais objetivo da palavra, pois não tem direito a possuir aquilo que

Referências

Documentos relacionados

Intercâmbios educacionais e diversidade cultural: implicações para o ensino de português para falantes de outras línguas. Revista Brasileira de Linguística

O modelo conceitual procura mostrar quais são os elementos de informação tratados pelo sistema, para que mais adiante se possa mostrar ainda como essa informação é transformada pelo

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

6 Consideraremos que a narrativa de Lewis Carroll oscila ficcionalmente entre o maravilhoso e o fantástico, chegando mesmo a sugerir-se com aspectos do estranho,

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos

Na sua qualidade de instituição responsável pela organização do processo de seleção, o Secretariado-Geral do Conselho garante que os dados pessoais são tratados nos termos do

Figura 8 – Isocurvas com valores da Iluminância média para o período da manhã na fachada sudoeste, a primeira para a simulação com brise horizontal e a segunda sem brise

Para se alcançar aos objetivos propostos, foi realizada pesquisa bibliográfica sobre os principais temas, como: reforma agrária, a região do Brejo Paraibano, a produção de