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Uma análise das construções de clivagem e outras construções focalizadoras no espanhol atual

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Academic year: 2021

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(1)Universidade Federal da Bahia Instituto de Letras Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística Rua Barão de Jremoabo, nº147 - CEP: 40170-290 - Campus Universitário Ondina Salvador-BA Tel.: (71)3263 - 6256 – Site: http://www.ppgll.ufba.br - E-mail: pgletba@ufba.br. Uma análise das construções de clivagem e outras construções focalizadoras no espanhol atual. por. CARLOS FELIPE DA CONCEIÇÃO PINTO. Orientadora: Profª. Drª. Ilza Maria de Oliveira Ribeiro. SALVADOR 2008.

(2) ii. Universidade Federal da Bahia Instituto de Letras Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística Rua Barão de Jeremoabo, nº147 - CEP: 40170-290 - Campus Universitário Ondina Salvador-BA Tel.: (71)3263 - 6256 – Site: http://www.ppgll.ufba.br - E-mail: pgletba@ufba.br. Uma análise das construções de clivagem e outras construções focalizadoras no espanhol atual. por. CARLOS FELIPE DA CONCEIÇÃO PINTO. Orientadora: Profª. Drª. Ilza Maria de Oliveira Ribeiro. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Letras.. SALVADOR 2008.

(3) iii. Esta Dissertação foi financiada integralmente com uma bolsa de Mestrado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo número 132859/2006-8, no período de 01/04/2006 a 31/03/2008.. Biblioteca Central Reitor Macêdo Costa - UFBA P659. Pinto, Carlos Felipe da Conceição. Uma análise das construções de clivagem e outras construções focalizadoras no espanhol atual / por Carlos Felipe da Conceição Pinto. - 2008. 189f.. Orientadora : Profª. Drª. Ilza Maria de Oliveira Ribeiro Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, 2008.. 1. Gramática comparada e geral - Sintaxe. 2. Gramática gerativa. 3. Língua espanhola. I. Ribeiro, Ilza Maria de Oliveira. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Letras. III. Título.. CDD - 415 CDU- 81’362.

(4) iv. À minha avó e madrinha Ruth, pelo quanto me amou e, Infelizmente, há 15 anos, não está mais comigo..

(5) v AGRADECIMENTOS. No Mestrado e no Doutorado não temos aquela formatura pomposa, convite, baile... infelizmente... mas a ansiedade, o nervosismo e apreensão são iguais ou até mesmo maiores até o veredicto da defesa. Não obstante, devemos agradecer a tantas pessoas. Pessoas que entraram e passaram pelas nossas vidas (antes ou durante o percurso) e contribuíram sobremaneira para o nosso crescimento pessoal e intelectual. Assim sendo, quero agradecer a algumas pessoas pela contribuição, eximindo-as de todo e qualquer erro que persistir neste trabalho, pois são da minha inteira e total responsabilidade. Em primeiro lugar, gostaria de fazer seis agradecimentos muito mais que especiais:. Ao meu Senhor Jesus, pelo seu infinito amor, por cuidar de mim e me oferecer sempre o melhor, apesar da minha imensa incompreensão e ingratidão muitas vezes; Aos meus amados pais, Antônio e Maria José, pelo amor incondicional e por exigir, desde sempre, que eu “fosse alguém na vida”; Ao meu irmão Carlos Frederico, à minha cunhada Alcione Brito e sua mãe Maria da Glória, pelo carinho especial e apoio constantes; À minha querida e mui valiosa orientadora, Ilza Ribeiro, que, com mão segura, me conduziu até aqui. Obrigado pela paciência (e que paciência!!!), confiança, estímulo, oportunidades, orientações, repreensões... A senhora é muito importante e especial para mim. Lembro-me de suas aulas de Lingüística V, na Graduação, nas quais dizia carinhosamente que passaria a dar aula de Lingüística I para puxar os alunos para a gerativa, já que todos chegavam ao curso de sintaxe com projetos de pesquisa em diversas outras áreas; Aos professores e funcionários do PPGLL, pelos ensinamentos, orientações e atenção durante todo o período do Mestrado. Agradeço também a bolsa CNPq concedida, sem a qual teria sido difícil a realização do curso; Às professoras Drª Marilza de Oliveira e Drª Lícia Heine, por participarem da banca examinadora desta Dissertação e conseqüentemente oferecerem valiosas contribuições ao meu trabalho..

(6) vi Também gostaria de agradecer a outras pessoas, que contribuíram com meu trabalho e com meu crescimento pessoal. Há pessoas que merecem mais de um agradecimento, mas por questão de espaço, só as citarei uma vez. A ordem de aparecimento não significa mais ou menos importância na minha vida. Apenas é impossível falar de todo o mundo de uma vez só. Saussure já falava da linearidade do signo lingüístico:. Aos meus grandes amigos Davi de Oliveira e Fabrícia Liane, que, por questões profissionais, estão longe, mas, ao mesmo tempo, continuam tão perto; Aos amigos Cedro Costa e Silva e Sander Borges e às amigas Ana Bárbara Cavalcanti, Cláudia Braga, Cláudia Lima, Elisabete Morais, Deise Viana, Gabriela Ponce, Gisele Lacerda, Márcia Akemi, Maria Cecília Mansur, Maria do Carmo Silva (Duca), Marina Lima, Rafaela Princhack, Simone Tosta, Tia Dnalva, pelo carinho, atenção e motivação constantes; Aos amigos Ariel Lobos, Hernán Saavedra, Julio Gallardo, Moisés Aquino, Octavio Aranda, Octavio Martínez, Roberto Martinez. À amiga Claudia Risso, pelas valiosas ajudas com suas intuições de falantes nativos do espanhol; Ao amigo Caio Siqueira, pelas longas, duras, agradáveis, tristes, alegres conversas diárias. Pela companhia nas madrugadas (na verdade, quase todo o tempo e sem hora certa) no messenger... por me fazer ver que, nem sempre, as coisas eram como eu pensava ou queria que fossem. Por ter acompanhado toda esta etapa da minha vida. Aos amigos Igor Catalão, Otávio Rios, Antônio Ferreira, Bruno Rafael e Rodrigo Lemos, pelas longas conversas sobre Mestrado, Doutorado e “pós-doutorado”... planos presentes e futuros... Onde? Como? Quando? Sobre o quê?... Aos três últimos devo grandes e produtivas discussões sobre o (ensino de) espanhol (no Brasil); Aos professores Dr. Ian Roberts, Drª. Mary Kato e Dr. Jairo Nunes, pelos excelentes cursos de sintaxe que ministraram como professores visitantes no PPGLL, que contribuíram sobremodo com o referencial teórico desta dissertação; Aos professores Dr. Adrián Fanjul, Drª. Luizete Barros, Drª. Maria Eugênia Olímpio, Drª Talía Bugel e Ms. Valesca Irala, pelas discussões que mantivemos sobre a pesquisa em língua espanhola e pelos preciosos comentários que fizeram aos meus trabalhos;.

(7) vii À professora Drª. Risonete Batista, por todo o apoio na Graduação e na PósGraduação, ensinamentos e confiança no meu trabalho. Por ter disponibilizado e entregado sob a minha total responsabilidade a disciplina LET A72 “A formação da língua espanhola” para que eu pudesse realizar o Estágio Docente do Mestrado; Aos meus amigos do ILUFBA, com quem trilhei parte da Graduação e/ou do Mestrado. Ari Sacramento, Carmem Lúcia, Isabella Fortunato, Itatismara Valverde, Lucinda Hora, Luís Gomes, Natália de Deus, Vanessa Pontes; Vivian Antonino. Desculpem-me por, às vezes, os ter deixado de cabelo em pé. Futuramente, quem sabe, não seremos também colegas de Departamento em alguma Universidade deste nosso país??!!; Ao colega de Mestrado, Adelino Pereira, por ter confiado em mim e me convidar para ministrar cursos de introdução à sintaxe gerativa para duas turmas do curso de graduação em Letras Vernáculas da UNEB – campus Itaberaba. Com certeza, foi uma experiência inesquecível e enriquecedora; Aos amigos gerativistas André Azevedo, Verônica Souza, Rerisson Araújo, Rosemarie Athayde, Paula Franco, Maria Cristina Figueiredo Silva, por “procrastinarmos” todos juntos durante (e depois d) os cursos de sintaxe, pelas discussões imprevistas e sem hora marcada; Àquelas pessoas que, por alguma razão, entraram na minha vida e me fizeram um pouco mais feliz.. ¡Muchísimas gracias a todos!. ¡Azúuuuuuuuuuuuuucar!.

(8) viii “El Proyecto mencionado nació en mí con el propósito de que pudiéramos llegar a determinar cuáles son los hechos lingüísticos propios de cada norma geográfica —de cada dialecto culto hispánico— que las caracterizan y, a la par, diferencian a unas de las otras. Esto es: me parecía necesario llegar a saber qué nos separa y qué nos une, desde el punto de vista lingüístico, a los países hispanohablantes.”. (Juan Miguel Lope Blanch, falecido lingüista mexicano, no 2º Congreso Internacional de la Lengua Española, Sevilha, 2001). “El avión voló hacia el sur, caminó casi 8.000 Km, y se seguía hablando español. Después de eso volvimos a caminar no sé cuántos kilómetros, de Santiago a Concepción, 500, 600, 700 Km y se seguía hablando español. Cuando después de esto continuemos hacia el Sur, hasta Punta Arenas, se seguirá hablando español. Se puede caminar 10.000 Km hacia el Sur y hablar el mismo idioma y entendernos, tener la misma sensibilidad, los mismos sentimientos... ¿En qué podemos nosotros distinguir a nuestro pueblo de ustedes? ¿Cómo podemos saber así, qué medio, que cosa hay que nos diga que estamos conversando con un extranjero? ¿Cómo nosotros podemos tener a ustedes por extranjeros?”. (Fidel Castro, Presidente cubano em visita ao Chile, em 1971).

(9) ix RESUMO Os estudos sobre o espanhol têm mostrado que o espanhol europeu apenas apresenta as sentenças pseudo-clivadas (1. Quien compró el coche fue Juan; 2. Juan fue quien compró el coche; 3. Fue Juan quien compró el coche) enquanto alguns dialetos do espanhol americano apresentam, além das pseudo-clivadas, as verdadeiras clivadas (1. Fue Juan que compró el coche; 2. Juan fue que compró el coche). Desta forma, esta Dissertação pretende fazer uma descrição do fenômeno da clivagem em quatro variedades do espanhol atual, a saber, Espanha, México, Cuba e Argentina, a fim de verificar se existem diferenças sintáticas entre essas variedades. No primeiro capítulo, apresenta-se uma reflexão sobre alguns pontos que já foram discutidos sobre a estrutura informacional da sentença, as estratégias de focalização nas línguas humanas (e em especial no espanhol) e as construções de clivagem: definição, características, restrições e tipologia. Também são discutidos aspectos das periferias da sentença e da checagem dos traços de foco. No segundo capítulo, são discutidas questões metodológicas, apresentação dos dados e as duas hipóteses de pesquisa: a) tendo em vista suas características sintáticas atuais, o espanhol cubano apresenta mais tipos de clivagem que as demais variedades estudadas; b) seguindo a proposta de estandardização do espanhol americano, espera-se encontrar menos tipos no México, que deve apresentar características semelhantes às da Espanha, um pouco mais de tipos na Argentina e bastante tipos no espanhol de Cuba. Como a clivagem foi uma estratégia pouco produtiva no corpus analisado, o estudo foi ampliado para outras estratégias de focalização, tais como a alteração da ordem básica e a acentuação, que aqui está sendo chamada de focalização in-situ, a fim de averiguar se a clivagem é uma estratégia preterida. Os dados mostraram que a clivagem não é uma estratégia preterida, porém dentre as estratégias de clivagem, a pseudo-clivada básica é a mais produtiva com mais de 50% das ocorrências. No terceiro capítulo, é feita uma análise formal das construções de clivagem e outras construções focalizadoras. As construções pseudo-clivadas são derivadas a partir de uma mini-oração em que o sujeito, gerado numa relação de argumento-predicado, é o elemento focalizado e o predicado é uma relativa livre, que contém uma variável que terá seu valor fixado pelo elemento focalizado. Por outro lado, as construções clivadas são analisadas como tendo uma estrutura específica, em que a cópula focalizadora seleciona uma oração completa. Também é feita uma nova análise das construções de clivagem e é proposta uma unificação das clivadas básicas e pseudo-clivadas extrapostas, que variam apenas no traço [±concordância] do núcleo Cº com o elemento focalizado na posição de SpecCP. Com relação aos dados da alteração da ordem e da acentuação, mostra-se que foco contrastivo pode ser checado nas duas periferias, enquanto o foco informacional é checado preferencialmente na periferia interna. A possibilidade, embora com muito pouca ocorrência, de checagem de foco informacional de elementos preposicionados e adverbiais, mas nunca o sujeito, na periferia esquerda, pode ser uma evidência do inicio de um processo de mudança lingüística no espanhol e de que as regras fonológicas para reconhecimento do acento neutro estejam se enfraquecendo nesta lengua. Por fim são discutidas algumas propriedades formais das línguas humanas que podem estar causando a variação das construções de clivagem no espanhol. Palavras-chave: Língua Espanhola; Sintaxe Gerativa; Focalização; Clivagem..

(10) x RESUMEN Los estudios sobre el español vienen mostrando que el español ibérico sólo presenta las construcciones seudohedidas (1. Quien compró el coche fue Juan; 2. Juan fue quien compró el coche; 3. Fue Juan quien compró el coche) mientras que algunos dialectos del español americano también presentan las verdaderas construcciones hendidas (1. Fue Juan que compró el coche; 2. Juan fue que compró el coche). De esta manera, esta Disertación pretende describir el fenómeno de la escisión en cuatro variedades del español actual, a saber España, México, Cuba y Argentina, con la finalidad de verificar si hay diferencias sintácticas entre esas cuatro variedades. En el primer capítulo, se presenta una reflexión sobre algunos puntos que ya se discutieron sobre la estructura informativa de la sentencia, las estrategias de focalización en las lenguas humanas (y especialmente en el español) y el fenómeno de la escisión: definición, características, restricciones y tipología. También se discuten aspectos de las periferias de la sentencia y la verificación (checking) de los rasgos de foco. En el segundo capítulo, se discuten cuestiones metodológicas, presentación de los datos y las hipótesis de investigación: a) teniendo en cuenta sus características sintácticas actuales, el español cubano presenta más construcciones hendidas que las demás variedades estudiadas; b) siguiendo la propuesta de estandarización del español americano, se espera encontrar menos tipos de construcciones hendidas en el español de México, que debe presentar construcciones hendidas con características semejantes a las del español de España, un poco más de tipos en el español de la Argentina y más tipos en el español de Cuba. Como la escisión fue una estrategia poco productiva en el corpus analizado, se amplió el estudio para otras estrategias de focalización, como la alteración del orden básico y la acentuación, que se está llamando aquí de focalización in-situ, con la finalidad de averiguar si la escisión es una estrategia preterida. Los datos mostraron que la escisión no es una estrategia preterida, pero entre las demás estrategias de escisión, la seudohedida básica es la más productiva con un promedio de un 50% de las ocurrencias. En el tercer capítulo, se hace un análisis formal de las construcciones hendidas y otras construcciones focalizadoras. Se derivan las construcciones seudohendidas a partir de una oración pequeña (small clause) en que el sujeto, generado en una relación de argumentopredicado, es el elemento focalizado y el predicado es una relativa libre, que contiene una variable que tendrá su valor fijado por el elemento focalizado. Por otro lado, las construcciones hendidas se analizan con una estructura específica, en la que la cópula focalizadora selecciona una oración completa. También se hace un nuevo análisis de la escisión y se propone un análisis único para las hendidas básicas y las seudohendidas extrapuestas, que varían sólo en el rasgo [±concordancia] del núcleo Cº con el elemento focalizado en la posición SpecCP. Con respecto a los datos de la alteración del orden y de la acentuación, se muestra que se puede verificar el foco contrastivo en las dos periferias, mientras que el foco informativo se verifica preferentemente en la periferia interna. La posibilidad, aunque con muy poca ocurrencia, de verificación de foco informativo de elementos preposicionados y adverbiales, pero nunca el sujeto, en la periferia izquierda, puede ser una evidencia del inicio de un proceso de evolución lingüística en el español y de que las reglas fonológicas de reconocimiento del acento neutro se estén debilitando en esta lengua. Por fin, se discuten algunas propiedades formales de las lenguas humanas que pueden ser las responsables de la variación de las construcciones escindidas en el español.. Palabras-clave: Lengua Española; Sintaxis Generativa; Focalización; Escisión..

(11) xi ABSTRACT Studies about Spanish have been showing that European Spanish presents only pseudoclefts (wh-clefts) sentences (1. Quien compró el coche fue Juan; 2. Juan fue quien compró el coche; 3. Fue Juan quien compró el coche) while some varieties of Latin American Spanish also present the true clefts (it-clefts) ones (1. Fue Juan que compró el coche; 2. Juan fue que compró el coche). In this way, this work intends to make a description of cleft phenomenon in four varieties of current Spanish, which are found in Spain, Mexico, Cuba and Argentina, in order to verify if there are syntactic differences among these varieties. On the first chapter, it will be presented a reflection about some aspects that already have been discussed before concerning the informational structure of the sentence, the strategies of focalization in human languages (specially Spanish) and the cleft constructions: definition, characteristics, restriction and typology. The aspects of sentence peripheries (left and internal) and the checking on focus features will also be discussed. On the second chapter, it is discussed methodological questions, data presentation and the research hypothesis: a) Considering its current syntactic characteristics, the Caribbean Spanish shows more cleft strategies than the other studied varieties; b) Following the proposal of Latin American Spanish standardization, it is expected to find less types of constructions in Mexican Spanish, which is likely to show cleft structures with similar characteristics of European Spanish, a little more types in Argentinean Spanish and even more in Cuban Spanish. As the cleft sentences was a less productive strategy in the analyzed corpus, the study was enlarged to other strategies of focalization, such as the alteration of the basic order, and accentuation, called here focalization in-situ, in order to find out if cleft constructions are a second-handed strategy. The data showed that cleft is not a second-handed strategy, although among clefts strategies, the basic pseudocleft is the most productive one with more than 50% of occurrences. On the third chapter, it is performed a formal analysis of cleft constructions, as well as other focalization constructions. Pseudocleft constructions are derived from a small clause, in which the subject, emerging from a predicate-argument relationship, is the focused element and the predicate is a free relative, which has a variable whose value is fixed by the focused element. Moreover, cleft constructions are analyzed as having a specific structure, in which the focusing copula selects a complete sentence. In addition, a new analysis of cleft constructions is performed, and it is proposed a unified analysis for basic cleft and extraposed pseudocleft, which vary only in the [±agreement] feature of head Cº with the element focused at the SpecCP position. As for the alteration of the basic order and accentuation data, contrastive focus can be verified on both peripheries, whereas informational focus appears preferably on the internal periphery. Although remote, the position towards left periphery of the informational focus related to elements headed by prepositions and adverbs ―but never the subject― might evidence the beginning of a process of linguistic change in Spanish, and that the Phonologic rules related to the recognition of nuclear stress are weakening in this language. Finally, it is discussed some formal proprieties of human languages which can originate the cleft constructions variation in Spanish.. Key-words: Spanish Language; Generative Syntax; Focalization; Cleft-sentences.

(12) xii Lista de tabelas. Tabela 1: quantidade das estratégias de focalização. 104. Tabela 2: porcentagem das estratégias de focalização. 104. Tabela 3: ocorrência das construções de clivagem. 105. Tabela 4: porcentagem da ocorrência das construções de clivagem. 105. Tabela 5: porcentagem da ocorrência das construções de clivagem. 172.

(13) xiii Lista de símbolos e abreviaturas. *. *XP – agramatical / XP* - elemento recursivo. ?. Gramaticalidade duvidosa. φ. Traços phi – número, gênero e pessoa. θ. Papel temático. Ø. Elemento nulo. ( ). Elemento opcional. Agr. Agreement = Concordância. AgrP. Agreemente Phrase = Sintagma da Concordância. Adv. Advérbio. AdvP. Adverb Phrase = Sintagma Adverbial. C, Cº. Complementizador. CI. Clivada Invertida. CL. Clivada Básica. CSC. Clivada-sem-cópula. CP. Complementizador Phrase = Sintagma complementizador. DP. Determiner Phrase = Sintagma Determinante. DS. Deep Structure = Estrutura Profunda. ECP. Empty Category Principle = Princípio da Categoria Vazia. EPP. Extended Projection Principle = Princípio da Projeção Estendido. expl. Expletivo. F, Foc. Focus = Foco. FP, FocP. Focus Phrase = Sintagma de Foco. I, Iº. Inflection = Flexão. IP. Inflectional Phrase = Sintagma Flexional. LF. Logical Form = Forma Lógica. P. Preposição. PB. Português Brasileiro. PC. Pseudo-clivada Básica. PCE. Pseudo-clivada Extraposta.

(14) xiv PCI. Pseudo-clivada Invertida. PCR. Pseudo-clivada Reduzida. PCT. Pseudo-clivada Truncada. PE. Português Europeu. PF. Phonetic Form = Forma Fonética. PP. Prepositional Phrase = Sintagma Preposicionado. RM. Relativized Minimalit = Minimalidade Relativizada. SC. Small Clause = Mini-oração. Spec. Specifier = Especificador. SS. Surface Structure = Estrutura Superficial. T, Tº. Tense = Tempo. TP. Tense Phrase = Sintagma de Tempo. TopP. Topic Phrase = Sintagma de Tópico. UG. Universal Grammar = Gramática Universal. V, Vº. Núcleo do Verbo. VP. Verbal Phrase = Sintagma Verbal. WH. Partículas interrogativas, elementos QU.

(15) xv SUMÁRIO. INTRODUÇÃO. 1. CAPÍTULO 01 REVISÃO TEÓRICA: AS. CONSTRUÇÕES DE CLIVAGEM COMO RECURSO DE FOCALIZAÇÃO NAS LÍNGUAS HUMANAS. 1.1. A FOCALIZAÇÃO NAS LÍNGUAS HUMANAS. 7. 1.1.1. A estrutura informacional da sentença. 7. 1.1.2. Sobre a ordem de palavras e a focalização nas línguas humanas e no espanhol 1.1.3. Acentuação. 10. 1.1.4. Alteração da ordem básica. 14. 1.1.5. A clivagem. 16. 1.2. REVISANDO O FENÔMENO DA CLIVAGEM. 18. 1.2.1. A definição de clivagem. 18. 1.2.2. A tipologia da clivagem. 22. 1.2.3. Algumas restrições sobre a clivagem. 24. 1.3. REVISANDO ALGUMAS ANÁLISES. 28. 1.3.1. Di Tullio (1999). 28. 1.3.2. Modesto (2001). 33. 1.3.3. Toribio (2002). 39. 1.3.4. Brito e Duarte (2003). 45. 1.3.5. Kato e Ribeiro (2005; 2006). 50. 1.4. AS PERIFERIAS DA SENTENÇA E A CHECAGEM DE TRAÇOS DE FOCO. 57. 1.4.1. The fine structure of the left peryphery: A periferia esquerda. 57. 1.4.2. The low IP área: A periferia interna. 61. 1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O PRIMEIRO CAPÍTULO. 65. 12.

(16) xvi CAPÍTULO 02 APRESENTAÇÃO. DOS DADOS: AS CONSTRUÇÕES DE CLIVAGEM E OUTRAS CONSTRUÇÕES FOCALIZADORAS NO ESPANHOL ATUAL. 2.1. OS OBJETIVOS DO CAPÍTULO. 68. 2.2. ALGUMAS. 69. CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIVERSIDADE LINGÜÍSTICA DO. ESPANHOL. 2.2.1. Algumas considerações sobre o espanhol americano. 71. 2.3. HIPÓTESES. 76. 2.4. MÉTODOS E TÉCNICAS DE OBSERVAÇÃO. 77. 2.5. APRESENTAÇÃO DOS DADOS. 78. 2.5.1. As Construções de clivagem. 79. 2.5.1.1. Pseudo-clivadas. 80. 2.5.1.2. Clivadas. 88. 2.5.1.3. Construções aparentadas. 90. 2.5.2. A alteração da ordem básica. 91. 2.5.3. A focalização in-situ. 97. 2.6. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O SEGUNDO CAPÍTULO. 103. CAPÍTULO 03 UMA ANÁLISE FORMAL DOS DADOS E DISCUSSÃO DE PROBLEMAS TEÓRICOS 3.1. INTRODUÇÃO. 108. 3.2. A ESTRUTURA DA SENTENÇA. 108. 3.3. AS CONSTRUÇÕES DE CLIVAGEM. 111. 3.3.1. A estrutura das mini-orações. 112. 3.3.2. Pseudo-clivadas. 114. 3.3.3. Clivadas. 124. 3.3.3.1. Revendo alguns estudos. 126. 3.3.3.2. O Critério-WH e a Concordância dinâmica. 130. 3.3.3.3. Uma proposta unificada. 133. 3.4. CONSTRUÇÕES APARENTADAS. 141. 3.4.1. Relativas focalizadoras. 141. 3.4.2. Clivada-sem-cópula. 143.

(17) xvii 3.4.3. Deslocadas à direita. 145. 3.5. SOBRE A ALTERAÇÃO DA ORDEM E A FOCALIZAÇÃO IN-SITU. 146. 3.5.1. Sobre o foco informacional – A inversão VS. 147. 3.5.2. Outros dados sobre a alteração da ordem básica e acentuação. 155. 3.5.3. Sobre o foco contrastivo. 157. 3.6. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A VARIAÇÃO PARAMÉTRICA. 164. 3.6.1. A variação sintática entre as línguas humanas no Programa Minimalista 3.6.2. O espanhol e a variação intralingüística. 164. 3.6.3. Aspectos formais da variação das construções de clivagem. 172. 3.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O TERCEIRO CAPÍTULO. 174. CONCLUSÃO. 176. REFERÊNCIAS. 181. 167.

(18) 1. INTRODUÇÃO.

(19) 2. Muitos são os estudos que têm se interessado em analisar as construções de clivagem, seja em seus aspectos sintáticos, semânticos ou pragmático-discursivos, em várias línguas. No que se refere às questões sintáticas, as construções de clivagem têm chamado a atenção por sua formação, ordem de constituintes, o tipo de constituinte que pode ser clivado etc. Por exemplo, algumas línguas V2 não apresentam as construções de clivagem em que a cópula aparece em posição inicial, a não ser em sentenças subordinadas, já que nas subordinadas a ordenação V2, nessas línguas, não é obrigatória. Com relação às questões semânticas, chamam a atenção por conterem o mesmo valor de verdade que uma sentença simples. Assim, uma sentença como “o que João comeu foi o bolo” tem o mesmo valor de verdade que a sentença “João comeu o bolo”. No que se refere às questões pragmático-discursivas, as construções de clivagem, mesmo sendo construções focalizadoras, são bem-sucedidas apenas em contextos específicos; ou seja, só é possível clivar constituintes nos contextos em que há um par focopressuposição. Por exemplo, uma pessoa que encontra um transeunte na rua e necessita saber as horas não poderá dizer “Bom dia! O que eu gostaria de saber são as horas” porque o seu interlocutor não tem como pressuposto que ele necessita ou quer saber alguma coisa. Neste caso, seria mais bem-sucedida uma abordagem com uma oração simples como “Bom dia! Eu gostaria de saber as horas”. Além disso, as construções de clivagem podem especializar-se em funções discursivas diferentes: um tipo de construção pode se especializar em foco informativo enquanto outro tipo pode se especializar em foco contrastivo, apresentando variação interlingüística, já que uma língua pode utilizar um tipo de construção para representar um foco informativo, enquanto outra língua pode utilizar o mesmo tipo de construção para representar um foco contrastivo. A contribuição concreta que este trabalho pode oferecer nesse panorama é averiguar em que sentido as construções de clivagem apresentam variação dialetal no espanhol tendo em vista os trabalhos de Moreno Cabrera (1999) e Di Tullio (2005) entre outros, que mostram que a clivagem não se apresenta uniformemente em todo o território hispânico. O problema central deste trabalho gira em torno da tipologia da clivagem nas diversas zonas do espanhol atual estudadas e no tipo de constituinte que pode ser focalizado por cada tipo de estratégia..

(20) 3. Em primeiro lugar, cabe uma distinção entre sentenças clivadas e pseudo-clivadas. Observem-se os exemplos abaixo:. (1). (2). a.. Foi O BOLO que eu comi.. b.. O BOLO foi que eu comi.. c.. Foi VOCÊ que chegou.. d.. VOCÊ foi que chegou.. a.. Foi O BOLO o que eu comi.. b.. O BOLO foi o que eu comi.. c. O que eu comi foi O BOLO.. d.. Foi VOCÊ quem chegou.. e.. VOCÊ foi quem chegou.. f.. Quem chegou foi VOCÊ.. Os exemplos em (1) ilustram casos de sentenças clivadas e os exemplos em (2) ilustram casos de sentenças pseudo-clivadas. Inicialmente, a diferença empírica que pode ser feita entre os dois tipos de construção está no fato de que as sentenças clivadas apresentam sempre um elemento “que” invariável, independente da função sintática do elemento focalizado. Por outro lado, as sentenças pseudo-clivadas, como ilustrado em (2), apresentam um elemento variável que dependerá da função sintática/estatuto do constituinte focalizado; por exemplo, a construção apresentará o elemento “quem” no caso de o foco ser o sujeito/elemento humano ou apresentará o elemento “o que” no caso de o foco ser o objeto/elemento não-humano. No caso de ser um elemento temporal, por exemplo, nas sentenças clivadas se realizará a forma “que” invariável e nas sentenças pseudo-clivadas, se realizará um elemento variável como “quando”. Assim, os problemas principais que se levantam neste trabalho são: a) como é, efetivamente, a distribuição das construções de clivagem nas regiões estudadas; b) por que umas regiões apresentam mais tipos de construções de clivagem que outras. Respondo satisfatoriamente à primeira questão. Com relação à segunda, aponto o problema para outros estudos sobre a sintaxe do espanhol e acredito que só uma maior compreensão da.

(21) 4. história sintática das diferentes regiões poderá responder satisfatoriamente à pergunta estabelecida. Como a clivagem apresentou baixa ocorrência no corpus analisado, a pesquisa foi ampliada para outras estratégias de focalização, como a alteração da ordem básica e a focalização in-situ, a fim de averiguar se a clivagem é uma estratégia preterida no espanhol, o que poderia ser a causa da inexistência de certos tipos de construções em algumas zonas. Os resultados mostraram que a clivagem não é preterida, tendo em vista um equilíbrio entre as três estratégias estudadas; mas, dentre as estratégias de clivagem, a pseudo-clivada básica é a estratégia preferida, apresentando mais de 50% das ocorrências de clivagem. As hipóteses principais da pesquisa estão baseadas em critérios sociohistóricos do espanhol, de acordo com a proposta de koineização e estandardização do espanhol americano de Fontanella de Weinberg (1993). Assim, a hipótese (a) é a de que se encontrarão mais tipos de construções de clivagem no espanhol cubano devido às suas características sintáticas na atualidade e a hipótese (b) é a de que se encontrará um continuum entre as quatro regiões estudadas: [-tipos de clivagem] Espanha > México > Argentina > Cuba [+tipos de clivagem]. Em decorrência da ampliação do estudo para as outras estratégias de focalização, uma nova hipótese foi levantada: a hipótese de que o espanhol pode estar passando por um processo de mudança lingüística com relação às regras fonológicas de reconhecimento do acento neutro tendo em vista que são registrados casos de foco informativo em outra posição diferente da posição mais baixa na estrutura, conforme é proposto por Zubizarreta (1998). Finalmente, como conseqüência deste trabalho, ficam abertas as seguintes questões: (a) a história das construções de clivagem nas diversas zonas do espanhol atual; (b) a relação da clivagem com outros fenômenos da sintaxe da língua. Em outras palavras: um estudo diacrônico dessas construções, no espanhol caribenho principalmente, poderá elucidar se, de fato, a clivagem está relacionada com as interrogativas e se é essa relação o que está licenciando mais tipos de construções de clivagem no espanhol do Caribe que nas demais regiões do espanhol. A Dissertação está dividida em três capítulos. No primeiro capítulo, faço uma revisão teórica do fenômeno da clivagem como estratégia de focalização nas línguas.

(22) 5. humanas, apresentando alguns conceitos sobre a estrutura informacional da sentença e as principais estratégias de focalização nas línguas humanas. Em seguida, apresento alguns conceitos sobre a alteração da ordem e acentuação no espanhol atual. O capítulo se centra na clivagem, sobre a qual discuto a definição que norteará esta Dissertação, algumas propriedades e algumas análises das construções de clivagem que já foram realizadas. Por fim, comento os principais pontos dos estudos sobre as periferias (esquerda e interna) da sentença. No segundo capítulo, faço uma apresentação dos dados do corpus utilizado. Em primeiro lugar, comento algumas características da diversidade lingüística do espanhol atual e alguns pontos da sócio-história do espanhol americano que justificaram a escolha do corpus; apresento as duas hipóteses levantadas para a análise formal e os métodos e técnicas de observação. Por fim, apresento os dados, organizados por estratégias: clivagem, alteração da ordem básica e focalização in-situ, fazendo algumas considerações sobre os dados no final do capítulo. No terceiro capítulo, proponho uma análise formal para os dados. O capítulo tem o objetivo de discutir algumas análises já feitas e solucionar alguns problemas teóricos. Primeiramente, apresento a estrutura da sentença na qual acomodo a análise e discuto a estrutura das mini-orações. Em seguida, discuto as construções pseudo-clivadas, as construções clivadas e algumas construções aparentadas. Logo, discuto os dados da alteração da ordem básica e da acentuação. Por fim, discuto alguns pontos da variação sintática entre as línguas humanas seguindo a noção de parâmetros do Programa Minimalista, com a qual pretendo explicar, embora preliminarmente, a variação das construções de clivagem nas quatro variedades do espanhol analisadas na Dissertação..

(23) 6. CAPÍTULO 01. REVISÃO TEÓRICA: AS CONSTRUÇÕES DE CLIVAGEM COMO RECURSO DE FOCALIZAÇÃO NAS LÍNGUAS HUMANAS.

(24) 7. 1.1. A FOCALIZAÇÃO NAS LÍNGUAS HUMANAS Este capítulo tem a finalidade de fazer uma revisão teórica da clivagem como recurso de focalização. Para isso, discuto alguns pontos relevantes da estrutura informacional da sentença com base nos estudos funcionalistas, que posteriormente se tornaram muito úteis para os estudos em sintaxe formal1; em seguida, discuto o que é a focalização e os possíveis recursos para se focalizar elementos nas línguas humanas. Na segunda parte do capítulo, discuto a definição de clivagem, os tipos de construções de clivagem encontrados em diferentes línguas e algumas restrições de clivagem com base nos estudos sobre o espanhol. Também discuto algumas análises já apresentadas para o fenômeno, as quais são apresentadas em ordem cronológica. Por último, discuto as periferias da sentença e a checagem de foco. Como se trata de um capítulo de revisão teórica, apresento uma reflexão do que já foi dito, levantando possíveis problemas que deverão ser resolvidos no capítulo de análise formal.. 1.1.1. A estrutura informacional da sentença Lyons (1982), ao fazer uma revisão de algumas escolas e movimentos modernos em lingüística, comenta que um dos principais interesses da Escola de Praga foi a perspectiva funcional da sentença. Dentro dessa visão, duas sentenças como as ilustradas em (1a) e (1b) abaixo podem ser consideradas versões da mesma sentença.. (1) a. Hoje de manhã ele levantou tarde. b. Ele levantou tarde hoje de manhã. (LYONS, 1982, p. 168). A diferença entre (1a) e (1b) se refere ao que o falante assume que é informação nova e informação conhecida no discurso. Gutiérrez Ordóñez (2000) comenta que a tendência nas línguas é que a informação conhecida preceda a informação nova. Então, em (1a) “hoje pela manhã” poderia ser considerada a informação conhecida e “ele levantou tarde” a informação nova. O contrário acontece em (1b).. 1. Ver Kato (1998) para uma visão de que o funcionalismo e formalismo não são excludentes, mas complementares. Para um exemplo concreto de análise lingüística, dentro desta visão, Correa (2006a)..

(25) 8. Hernanz e Brucart (1987) e Zubizarreta (1999), ao estudarem a ordem das palavras e os efeitos discursivos que determinada ordem pode causar, dizem que as línguas dispõem de uma ordem básica, que é estabelecida independentemente de tais efeitos discursivos e uma ordem marcada, que refletirá os efeitos discursivos. Zubizarreta (1999) diz que o espanhol padrão (estándar, em suas palavras) requer posposição verbal do sujeito nas sentenças interrogativas parciais (interrogativas-wh)2:. (2) a. ¿Qué compró Juan? b. *¿Qué Juan compró? (ZUBIZARRETA, 1999, p. 4217). Assim, a ordem WhVS da interrogativa em (2a) é intrínseca à gramatical do espanhol não tendo qualquer relação com a estrutura informacional da sentença, dada a agramaticalidade da sentença em (2b). Gutiérrez Ordóñez (2000) diferencia as funções representativas das funções informativas. As funções representativas são funções objetivas e podem ser comparadas com cenários de uma dramatização, que contêm pessoas que desempenham um papel na cena. Por exemplo, o verbo “comer” exige uma cena em que haja um ser que tenha capacidade de comer e outro ser que tenha a propriedade de ser comido. Já as funções informativas são funções subjetivas e dependem daquilo que o falante assume como conhecido ou novo para o seu interlocutor. Desta forma, uma sentença deve conter três níveis funcionais diferentes: o sintático, o semântico e o informacional. Por outro lado, Hernanz e Brucart (1987) dizem que, às vezes, se produz um desajuste entre a estrutura sintática, formada por um sujeito e um predicado, e a estrutura funcional, organizada em torno de um tema e de um rema. O tema é sobre o que trata a oração e o rema é o que se enuncia acerca desse tema. Observem-se os exemplos em (3) e (4) extraídos de Hernanz e Brucart (1987, p. 79-80):. (3) a. Dalila traicionó a Sansón. b. A Sansón lo traicionó Dalila. (HERNANZ e BRUCART, 1987, p. 79) 2. Como comentado por Zubizarreta (1999), o espanhol do Caribe não requer a posposição do sujeito em interrogativas parciais. Vejam-se, por exemplo, López Morales (1992a) e Toribio (2000)..

(26) 9. (4) a. DALILA traicionó a Sansón. b. A SANSÓN traicionó Dalila. (HERNANZ e BRUCART, 1987, p. 80). Nas duas orações em (3) e (4), os níveis sintático e semântico, como funções objetivas, são as mesmas: Dalila – sujeito agente; a Sansón – objeto paciente. O que vem a ser alterado é a estrutura funcional (nível informacional): em (3a) o tema é “Dalila” e o rema, “traicionó a Sansón”; já em (3b), o tema é “A Sansón” e o rema, “lo traicionó Dalila”. Em (4a), o rema é “Dalila” e o tema é “traicionó a Sansón”; já em (4b), o rema é “A Sansón” e o tema é “tracionó Dalila” 3. Sendo assim, todas as línguas oferecem, aos seus falantes, estratégias sintáticodiscursivas que lhes permitem enfatizar elementos de seu interesse no discurso. As línguas dispõem de dois tipos de estratégias de ênfase bastante recorrentes: a topicalização, que põe em evidência elementos já conhecidos pelos falantes (as chamadas informações dadas, ou seja, o tema ou tópico) bem como define o assunto da conversa, como em (3), e a focalização, que põe em destaque os elementos que expressam informação nova (o foco) como ilustrado em (4). Os exemplos (3b) e (4b) ainda mostram que a estrutura sintática nem sempre coincide na topicalização e na focalização, haja vista que o tema pode ser redobrado por um clítico na sentença, como em (3b), ao contrário do rema que não é redobrado por um clítico como ilustrado em (4b) 4.. 3. Zubizarreta (1999) faz uma diferença entre tema discursivo e tema oracional. Observem-se exemplos como (i) e (ii) a seguir de Zubizarretam (1999, p. 4218): (i) El Sr. González es un científico muy erudito, pero su originalidad deja mucho que desear. (ii) a. El Sr. González. b. La habilidad científica del Sr. González. Uma sentença como (i) pode ter como tema discursivo os exemplos (iia) e (iib). Porém, só o exemplo em (iia) pode ser considerado um tema oracional. O tema discursivo pode funcionar como temas de unidades mais amplas que a oração e pode ser abstrato; por outro lado, o tema oracional deve ser uma expressão contina na oração. 4 Sobre a duplicação de DP por um clítico no espanhol, ver Correa (2006a), para uma análise discursiva, e Correa (2006b), para uma análise formal. Ver também a nota 26 a seguir..

(27) 10. 1.1.2. Sobre a ordem de palavras e a focalização nas línguas humanas e no espanhol Desde muito tempo, os estudos já vinham sinalizando que as línguas apresentavam diferenças em relação à ordenação das palavras e que existe um numeroso grupo de línguas que parece não impor restrições com relação à ordem de palavras. Considerando apenas constituintes como sujeito (S), verbo (V) e objeto (O), podem-se estabelecer seis tipos de línguas: SVO, SOV, VSO, VOS, OVS, OSV. Dentro dessas possibilidades, existem línguas que são mais flexíveis e línguas que são menos flexíveis5. No entanto, não existe língua que seja tão rígida que não permita a menor variação na ordem e nem existe língua que seja tão flexível que não tenha uma ordem básica. Assim, em uma língua SVO fixo, como é o caso do inglês, não estará totalmente vetada uma construção OSV, que terá algum valor pragmático discursivo diferenciado da construção SVO (cf. HERNANZ e BRUCART, 1987, p. 73-74). Considerando a modalidade declarativa, a ordem básica pode ser definida pela maneira como os falantes respondem a uma pergunta como “O que aconteceu?”, já que a resposta não estará dividida num par “tema-rema”, sendo a resposta considerada toda como o rema (cf GUTIÉRREZ ORDÓNEZ, 2000, p. 23-27). Se o falante responde a essa pergunta com uma sentença como “O Pedro comeu o bolo”, a ordem básica pode ser considerada SVO; se o falante responde com uma sentença como “Comeu o Pedro o bolo”, essa língua pode ser considerada como uma língua VSO, e assim por diante. Considerando as sentenças marcadas, divididas em um tema e um rema, como comentado na seção anterior, Lambrecht (2001) destaca as seguintes estratégias como recursos de focalização em diferentes línguas:. 5. Observar que existem línguas com ordem livre de palavras e línguas com ordem livre de constituintes. Hernanz e Brucart (1987, p. 103) ilustram essa diferença com exemplos de Lope de Vega (séc. XVII) e Gustavo Adolfo Bécquer (séc. XIX), como em (i) e (ii) respectivamente abaixo: (i) “En una de fregar cayó caldera” (ii) “Del salón en el ángulo oscuro, de su dueño tal vez olvidada, silenciosa y cubierta de polvo, veíase el arpa” o exemplo em (i) representa uma ordem livre de palavras e, por outro lado, o exemplo em (ii) representa uma ordem livre de constituintes. No caso de que Xº e XP sejam coincidentes não se pode determinar se é ordem livre de palavras ou de constituintes..

(28) 11. (5). Contexto: Seu joelho está doendo? a. inlgês SV / it-cleft No, my foot hurts. / No, it’s my foot that hurts. (Não, meu pé dói / Não, expl é meu pé que dói) b. alemão SV Nein, mein Fuss tut weh. (Não, meu pé dói) c. italiano VS / it-cleft No, mi fa male il PIEDE. / No, è il PIEDE che mi fa male (Não, me dói o pé / Não, é o pé que me dói) d. francês it-cleft Non, c'est mon PIED qui me fait mal. (LAMBRECHT, 2001, p.486) (Não, expl é meu pé que me dói). (6). Contexto: Por que você está andando tão devagar? a. inglês My foot hurts. (Meu pé dói) b. alemão Mein Fuss tut weh. / Mir tut ein Fuss weh. (Meu pé dói / A mim, doi um pé) c. italiano Mi fa male un piede. / Ho un piede che mi fa male. (Me dói um pé / Tenho um pé que me dói) d. francês J'ai mon PIED qui me fait mal. (Eu tenho meu pé que me dói). SV. SV / OVS. VS / have-cleft. have-cleft (LAMBRECHT, 2001, p. 487). Nos exemplos em (5), onde o contexto é de foco contrastivo, têm-se algumas possibilidades sintáticas; por exemplo: a) SV e clivagem para o inglês; b) SV para o alemão; c) VS e clivagem para o italiano; d) clivagem para o francês. Por outro lado, nos exemplos em (6), que representam um contexto de foco informativo, existem outras possibilidades sintáticas; por exemplo: a) SV para o inglês; b) SV e OVS para o alemão; c) VS e clivagem para o italiano; d) clivagem para o francês. As possibilidades de focalização variam a depender do contexto, se o foco é informativo ou contrastivo; assim, o francês utilizará uma it-cleft para foco contrastivo, como ilustrado em (5d), e uma have-cleft para ilustrar um foco informativo, como ilustrado em (6d)..

(29) 12. Nas subseções seguintes, comento resumidamente como a acentuação e a inversão da ordem funcionam no espanhol com base nos estudos de Hernanz e Brucart (1987) e Zubizarreta (1998; 1999). Na seção 1.2, discuto o fenômeno da clivagem em geral.. 1.1.3. Acentuação Zubizarreta (1999) diz que, em muitas línguas (assim como no espanhol), a proeminência prosódica desempenha um papel fundamental na identificação do foco. Sobre proeminência prosódica, a autora diz que: ... todo enunciado va acompañado de una melodía o entonación la cual se puede describir a un nivel más abstracto como una secuencia de acentos tonales. La melodía puede estar constituida por uno o más grupos melódicos (o constituyentes prosódicos). En ciertos casos, la pausa indica una frontera entre dos constituyentes prosódicos. En otros casos, la frontera no coincide con pausa alguna, y se manifiesta mediante propiedades de la curva melódica. Por ejemplo, en una oración declarativa, puede indicarse mediante el descenso completo de la curva melódica, seguida inmediatamente de un ascenso. (Así en el caso de la dislocación a la izquierda A María, Pedro la ama, la frontera entonativa entre el constituyente dislocado y el sujeto puede o no coincidir con una pausa.) El constituyente prosódico está constituido por una o más palabras prosódicas, y cada palabra está prosódica está asociada a un acento tonal. Dicho de modo más preciso, el acento tonal se asocia a la sílaba de mayor prominencia dentro de la palabra (por ejemplo, se asocia a la primera sílaba de la palabra mesa y a la segunda sílaba de la palabra sillón). Los acentos tonales pueden ser altos, bajos, ascendentes o descendentes. Dentro del constituyente prosódico (o grupo melódico), una de las palabras se destaca como más prominente. Llamaremos ‘acento nuclear” al acento tonal asociado a la palabra de mayor prominencia perceptiva dentro del grupo melódico.. (ZUBIZARRETA, 1999, p. 4228). Desta forma, o acento tonal se associa à sílaba de maior proeminência dentro da palavra. E, dentro do grupo melódico, a palavra de maior proeminência receberá o acento nuclear. Zubizarreta (1998; 1999) distingue dois tipos de acentos nucleares: o acento neutro e o acento enfático ou contrastivo; e diz que, em espanhol, o acento nuclear neutro é colocado na palavra ou constituinte mais encaixado do grupo melódico6:. (7). 6. El gato se comió un ratón.7. (ZUBIZARRETA, 1999, p. 4229). Conforme discutido detalhadamente em Zubizarreta (1998), essa propriedade não é universal. Para uma resenha de Zubizarreta (1998), ver Kato (2000a). 7 O sublinhado indica o acento neutro..

(30) 13. Essa regra é formalmente definida por Zubizarreta (1998, p. 19, 124) e chamada de C-NSR, que copio a seguir em (8):. (8). C-NSR: Given to sister categories Ci and Cj, the one lower in the asymetric c-comand ordering is more proeminent.8 No entanto, se o acento é colocado em outra posição, que não a última palavra ou. constituinte do grupo melódico, ter-se-á uma leitura enfática ou contrastiva:. (9). EL GATO comió un ratón.9. (ZUBIZARRETA, 1999, p. 4229). A sentença em (9) é impossível como resposta para a pergunta em (10), no caso do espanhol, tendo em vista que o foco nuclear (informativo) só pode ser identificado por um acento nuclear como definido em (8).. (10) ¿Quién comió un ratón? (ZUBIZARRETA, 1999, p. 4229). No entanto, como o acento contrastivo ou enfático pode ser colocado em qualquer posição, o exemplo (9) é possível apenas como um foco contrastivo, como se pode ver pelo contraste entre os exemplos em (11).. (11). ¿Quién va a ir al cine? ¿Pepe o Juanito? a.. JUANITO va a ir al cine.. b.. JUANITO va a ir al cine, y no Pepe.. Assim, como o espanhol requer que o acento nuclear, que identifica o foco informativo, seja colocado na posição mais encaixada na sentença, conforme as regras prosódicas desenvolvidas em Zubizarreta (1998), a prosódia implicará alterações sintáticas. 8. “C-NSR: dadas duas categorias irmãs Ci e Cj, aquela mais baixa na ordenação de c-comando assimétrico é mais proeminente”. Tradução minha. 9 O destaque em caixa alta indica que os constituintes receberam o acento enfático..

(31) 14. a fim de satisfazer o requerimento fonológico quando se queira responder a uma pergunta como “¿Quién comió el pastel?”, conforme se verá na próxima seção.. 1.1.4. Alteração da ordem básica Hernanz e Brucart (1987, p. 94-99) e Zubizarreta (1999, p. 4232-4241) analisam as variações na ordem dos constituintes como recurso de focalização. Conforme proposto por Zubizarreta (1998), a inversão da ordem tem a finalidade de satisfazer requerimentos fonológicos de situar o elemento na posição mais encaixada da sentença, como é o caso da focalização do sujeito. Contudo, quando o foco é contrastivo, tal requerimento fonológico não necessita ser satisfeito. Admitindo que a ordem básica do espanhol é SVO10, vejam-se alguns exemplos de ordenação possível na focalização.. (12) a. Se comió un ratón el gato.. VOS – S é o foco. b. Ayer discutieron sobre el problema los congresistas.. VPS – S é o foco11. c. El gato con botas escondió el queso debajo de la cama.. SVOP – P é o foco. d. Los alumnos se enfrentaron con la policía. e. Los alumnos colgaron en el aula la bandera francesa.. SVP – P é o foco SVPO – O é o foco. f. Ayer colgaron los alumnos de primaria la bandera en el VSOP – P é o foco mástil. (ZUBIZARRETA, 1999, p. 4232, 4235). No caso dos exemplos em (12), que ilustram focos informacionais, o acento deve permanecer na posição mais encaixada. Assim, há alteração da ordem básica, que seria SVO(P), a fim de que o elemento focalizado esteja na posição mais baixa. Esse movimento é chamado por Zubizarreta (1998) de P-movement (prosodically motived movement – “movimento motivado prosodicamente”). No entanto, seguindo o requerimento fonológico de Zubizarreta (1998; 1999), o espanhol não deveria exibir a ordenação VSO, na qual o sujeito é o foco informativo, conforme ilustram os exemplos em (13). 10. Hernanz e Brucart (1987) assumem que a ordem básica do espanhol é SVO. Por outro lado, Zubizarreta (1999) assume que a ordem básica do espanhol pode ser SVO ou VSO. 11 P equivale ao sintagma preposicionado (PP)..

(32) 15. (13) a. Todos los días compra Juan el periódico. b. Espero que te devuelva Juan el libro12.. (ZUBIZARRETA, 1998, p. 100) (ORDÓÑEZ, 1997 apud BELLETTI, 2002, p. 33). Assim, pode-se questionar, tendo em vista que a regras fonológicas de Zubizarreta (1998) não têm caráter universal, mas são particulares de cada língua, se não estaria acontecendo um processo de mudança lingüística no espanhol. Por outro lado, quando o elemento focalizado indica um foco contrastivo, o acento pode ser colocado em qualquer posição, bem como pode ser deslocado para a frente da sentença. Neste caso, a inversão verbo-sujeito é obrigatória, exceto quando o próprio sujeito é o foco, como mostram os exemplos em (14) e (15) respectivamente a seguir.. (14) a. El gato de BOTAS rojas se comió un ratón. ... y no el de PANTUFLAS rojas. b. El GATO de botas rojas se comió un ratón. ... y no el PERRO de botas rojas. c. El gato de botas ROJAS comió un ratón. ... y no el de botas AZULES. (ZUBIZARRETA, 1999, p. 4231) (15) a. LAS ACELGAS detesta María.. OVS – O é o foco. b. EN PRIMAVERA visitó Juan Leningrado.. PVSO – P é o foco. c. PEDRO se casará con María.. SVP – S é o foco (HERNANZ e BRUCART, 1987, p. 94-96 ). Outra observação relevante é que, somente na focalização, os complementos verbais preposicionados podem ser deslocados para a frente da sentença como ilustra o contraste entre a topicalização, em (16), e a focalização, em (17) abaixo:. 12. Para evitar problemas na análise, Belletti (2002) comenta que está considerando os casos com entonação normal, em que não há pausa entre S e O, como numa sentença com ordem VS#O..

(33) 16. (16). Topicalização a. *En el paro, el problema reside. b. *De dos partes el examen consta. (HERNANZ e BRUCART, 1987, p. 95). (17). Focalização a. EN EL PARO reside el problema. b. DE DOS PARTES consta el examen. (HERNANZ e BRUCART, 1987, p. 95). Nesta seção, apresentei alguns conceitos sobre a alteração da ordem básica, que está relacionada com critérios fonológicos, segundo Zubizarreta (1998; 1999).. 1.1.5. A clivagem Uma outra maneira de focalizar elementos no discurso é a clivagem, que divide a sentença em uma parte pressuposta e outra parte assertiva. A parte pressuposta contém uma relativa livre com uma variável aberta; já a parte assertiva contém um elemento que fixa o valor da variável aberta na parte pressuposta. Veja-se o exemplo em (18):. (18). Fue Juan el que salió. Parte pressuposta: alguém saiu. Parte assertiva: alguém = João.13. Outros exemplos de construções de clivagem são ilustrados em (19) a seguir:. (19) a. Quien comió la manzana fue PEDRO. b. Fuiste VOS que lo hiciste. c. EL DULCE DE COCO es lo que más me gusta. d. María leyó fue EL QUIJOTE.. Como foi comentado na introdução deste capítulo, as construções de clivagem são bem-sucedidas apenas nos contextos em que há um par “foco-pressuposição”. Gutiérrez 13. Sobre uma definição de foco, pressuposição e assserção, ver Zubizarreta (1998), Lambrecht (1994; 2001).

(34) 17. Ordónez (2000) fala de estruturas monorremáticas, cuja característica principal é a presença exclusivamente de um rema. No entanto, como nenhuma estrutura é, em termos lógicos, monorremática, deve-se fazer uma pergunta inicial implícita “o que aconteceu?”, que poderá ser respondida com uma construção de clivagem chamada “factiva”, segundo Moreno Cabrera (1999). Neste caso, a construção de clivagem deverá ter, na parte pressuposta, um verbo de evento, como “acontecer” ou “ocorrer”, como em “Lo que pasa es que comimos mucho anoche”. Por fim, como foi comentado, na Introdução da Dissertação, as línguas podem escolher construções de clivagem diferentes para representar funções discursivas diferentes. Assim, a mesma pergunta em português brasileiro e espanhol, por exemplo, pode ser respondida com construções diferentes, como ilustram os exemplos abaixo:. (20) a. A: Quem chegou? B: Foi o Pedro que/quem chegou14. B’: Quem chegou foi o Pedro. b. A: ¿Quién llegó? B: *Fue Pedro que/quien llegó. B’: Quien llegó fue Pedro. Os exemplos em (20) mostram que, num contexto de foco informativo, o português brasileiro pode responder com uma clivada básica, com uma pseudo-clivada extraposta ou com uma pseudo-clivada básica, como em (20a), já o espanhol só pode responder à pergunta com uma pseudo-clivada básica como ilustrado em (20b)15. Observa-se que a agramaticalidade de (20bB) não se deve a restrições estruturais, já que esta construção é possível em outros contextos. A restrição se deve a questões meramente discursivas. Então, uma outra questão que se levanta é a possibilidade de haver variação nos usos discursivos da clivagem nas diversas zonas do espanhol. Ou seja, ilustrativamente, o espanhol da. 14. Esta sentença é gramatical em PB (cf. CÔRTES JÚNIOR, 2006) porém é agramatical em PE (cf. BRITO e DUARTE, 2003). Ver a discussao no item 3.3.3, no terceiro capítulo. 15 Para os usos discursivos de clivagem ver Prince (1978), a última seção de Moreno Cabrera (1999) e Lambrecht (2001) por exemplo. Para um estudo comparativo da clivagem em diferentes línguas ver, por exemplo, Pinedo (2000), Belletti (2005), Ribeiro (2006) e Conceição Pinto e Ribeiro (2006). Ver também Ilari e Geraldi (1987)..

(35) 18. Espanha pode optar por uma estratégia de clivagem em um contexto e, por outro lado, o espanhol do México pode optar por outro tipo de construção nesse mesmo contexto. Seguindo a linha de pensamento desenvolvida ao longo desta seção, sobre a estrutura informacional da sentença, que refletirá na sintaxe e na fonologia das línguas humanas, apresentei a clivagem preliminarmente dentro de uma visão discursiva. No restante deste capítulo, discuto, como ponto central deste trabalho, as características sintáticas da clivagem, comentando algumas análises que já foram feitas para o fenômeno em diversas línguas, principalmente no português e no espanhol.. 1.2. REVISANDO O FENÔMENO DA CLIVAGEM Nesta seção, apresento alguns conceitos sobre as construções de clivagem que nortearão a análise formal do terceiro capítulo. Utilizo o termo “construções de clivagem” para indicar o fenômeno da focalização e o termo “construção clivada”, por exemplo, para indicar um tipo específico de construção de clivagem.. 1.2.1. A definição de clivagem Modesto (2001) questiona a definição de clivagem pautada apenas em critérios sintáticos. Para Modesto (2001, p. 21), “as construções clivadas são sentenças especificacionais em que um movimento A-barra dispara leituras características de contraste, exclusividade e exaustividade”. Dentro dessa discussão sobre a definição de clivagem, diversos autores distinguem as sentenças predicacionais das sentenças especificacionais (cf. MORENO CABRERA, 1999; MODESTO, 2001; SEDANO, 2005; entre outros). Uma construção como (21) terá duas leituras possíveis, como em (22) e (23)16:. (21). 16. O que José é é divertido.. Para uma maior discussão da diferença entre essas duas construções ver: a) Moreno Cabrera (1999, p. 4291-4295). Por exemplo, uma construção como “la que ha venido ha sido mi mujer” tem duas leituras: “mi mujer ha venido” (especificacional) e “la persona que vino fue mi mujer, pero ya no lo es” (predicacional); b) Modesto (2001, p. 23-41) faz uma ampla discussão sobre esse ponto das leituras semânticas dessas construções..

(36) 19. (22) a. Leitura especificacional: predica diretamente sobre José. b. José é divertido.. (23) a. Leitura predicacional: predica sobre uma propriedade de José. b. José é X (por exemplo, músico) e ser X é divertido.. Sendo assim, somente as sentenças com leitura especificacional podem ser consideradas construções de clivagem, porque, como mostram Moreno Cabrera (1999), Lambrecht (2001) e Brito e Duarte (2003), o valor de verdade da construção de clivagem deve ser o mesmo valor de verdade de uma sentença simples como ilustrado em (24).. (24) a. O que eu quero é ler o livro de matemática. b. Quero ler o livro de matemática.. Desta maneira, Modesto (2001) inclui no grupo das construções de clivagem sentenças jamais tratadas como clivagem por outros autores e retira do grupo outras construções consideradas pela literatura lingüística como construções de clivagem. De acordo com esse posicionamento teórico, construções como (25) seriam construções de clivagem e, inversamente, construções como (26) deixariam de fazer parte deste grupo:. (25) A conta pago eu.. (MODESTO, 2001, p. 22). (26) A Suzanita é quem quer casar.. (MODESTO, 2001, p. 21). O exemplo (25) é considerado como construção de clivagem por Modesto (2001) porque o DP “A conta” se realiza na esquerda da sentença, evidenciando movimentos de constituinte, a fim de que este DP receba leitura focal. Já no caso do exemplo (26), Modesto (2001, p. 62-65) não o considera como construção de clivagem porque “A Suzanita” está desacentuada e a oração relativa equivale a um adjetivo; portanto, (26) teria uma interpretação como “A Suzanita é a casadoira” (MODESTO, 2001, p. 38). Para que haja a leitura de clivagem, o DP “A Suzanita” deve estar acentuado, como em (27), para receber.

(37) 20. leitura focal, seguindo os requerimentos fonológicos de Zubizarreta (1998), que são adotados por Modesto (2001)17:. (27) A SUZANITA é quem quer casar.. (MODESTO, 2001, p. 65). Estou de acordo com a definição de clivagem baseada em critérios sintáticos e ao mesmo tempo semânticos, como ilustra a diferença entre (25) e (26). No entanto, não adoto a posição de Modesto (2001) de incluir sentenças como (25) dentro do grupo das construções de clivagem tendo em vista que entendo como construções de clivagem um tipo de construção com estrutura sintática específica que apresenta, além da estrutura sintática específica, uma leitura semântica especificacional, como ilustrado em (22). Ressalto que a estrutura específica que considero é aquela formada pela cópula (ser) e o complementizador ou pronome relativo, como ilustrado nos exemplos em (19) 18. Um segundo aspecto a ser discutido da definição de Modesto (2001) é a distinção entre sentenças clivadas e sentenças pseudo-clivadas, que, na sua opinião, não apresentam a mesma estrutura sintática, embora a leitura semântica possa ser idêntica. As sentenças clivadas são constituídas por duas orações bipartidas, cada qual com seu verbo; já as sentenças pseudo-clivadas são constituídas por uma sentença copulativa em que a relativa livre ocuparia a posição do predicado, que seleciona um sujeito, que satisfaz o valor da variável na relativa que constitui o predicado. Assim, a estrutura equivalente às sentenças clivadas e às sentenças pseudo-clivadas seriam as representadas em (28) e (29) respectivamente:. 17. Veja-se que o português brasileiro não precisa satisfazer esse requisito fonológico tendo em vista que uma resposta possível para a pergunta “Quem chegou?” é “O João chegou.”. 18 Lambrecht (2001) também considerada como construções de clivagem aquelas construções formadas com verbo to have (ter) e outros, como em (5) e (6). Moreno Cabrera (1999) considera também as “perífrasis condicionales”, formadas por uma conjunção condicional como em “si vamos a comer algo será paella”, “si voy al cine es por ti”. Essas construções são desconsideradas na minha análise da clivagem..

(38) 21. (28) sentença clivada CP | IP | VP wi ser CP | C’ wi C IP que | VP wi DP V’ João wi V DP comprar o livro. (29) sentença pseudo-clivada19 CP | IP | VP wi ser SC wi DP CP o livro o que João comprou. Em ambos os exemplos, em (28) e (29), tem-se uma estrutura como em (30):. (30) VP wi ser CP/SC. A diferença é que na clivada, em (28), o CP se constitui de uma oração completa sem a cópula, mas a pseudo-clivada, em (29), só se constitui uma sentença com a cópula. Por isso,. 19. No item 3.3.1, no terceiro capítulo, apresento uma discussão sobre a análise de Modesto (2001) com relação a estrutura das mini-orações, que podem ter seus sujeitos analisados como argumento ou adjunto do núcleo..

Referências

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