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Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento

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Casa de Sarmento

Centro de Estudos do Património Universidade do Minho

Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães

E-mail: geral@csarmento.uminho.pt URL: www.csarmento.uminho.pt

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Revista de Guimarães

Publicação da Sociedade Martins Sarmento

POESIAS.

SARMENTO, Francisco Martins Ano: 1990 | Número: 100

Como citar este documento:

SARMENTO, Francisco Martins, Poesias. Revista de Guimarães, 100 Jan.-Dez. 1990, p. 19-26

(2)

Poesias

Francisco Martins Sarmento

Revista de Guimarães, n.º 100, 1990, pp. 19-26

Amo-te

(*)

Amo-te –sim– com que fogo Só mo diz o coração.

Não no vou ler nos gemidos Do soprar da viração;

Nem no fulgir de alma estrela A reinar na escuridão;

Nem no suspirar da linfa Do rouxinol da canção;

Nem nas vagas, que gemendo Fina areia beijar vão.

(*)Publicado na revista Miscellanea Poética - Jornal de Poesias, do Porto, em 1852, com a seguinte nota assinada por J. Machado Pinheiro:

Recebendo numa carta esta poesia, para a remeter à redacção da Miscellanea, era-me proibido nela, por o seu autor, assinar-lhe o seu nome, nem mesmo as iniciais dele.

Assineia-as.

O amigo que não desejasse a glória ao seu amigo, seria um traidor à sua amizade. O futuro que promete a poesia =Amo-te= ao seu jovem autor, deixa já ver por entre tantas belezas poéticas o lugar distinto que em breve ocupará, entre tantos génios que hoje enobrecem a pátria de Camões; – A coroa finalmente que o espera; que, por mais brilhante que seja, nunca será tanto, como a que lhe deseja o seu amigo.

J. M. Pinheiro.

(3)

Estrela, linfa, aves e vagas Ai! de mim! pérfidas são.

Eu fugi da turba insana, Fui um ermo procurar, Quis ali em magos sonhos Ir contigo conversar.

Auras, estrelas, linfas, aves, Vagas quis antes sondar. Uma a uma seus encantos, Seus mistérios perguntar.

=Mansa linfa cristalina, Porque vás a suspirar, Se por entre verde relva Vida aos prados vás levar? Peregrino exausto à sede Vem aqui vida buscar... Porque vás tu pois, oh! linfa, Porque vás a suspirar!

=Eu suspiro, eu gemo, eu choro De saudades, de pesar;

Se dou vida ao prado, ao campo, Campos, prados vou deixar, Vou pagar meu feudo aos rios, Vou-me ao pego lá finar.

Se sou doce entre verduras, Serei sal do largo ao mar. Eu suspiro, eu gemo, eu choro

(4)

De saudades, de pesar.= Ondazinhas correm, fogem Uma... e outra a suspirar.

Se aqui brincam entre seixos Vão lá longe em rochas dar. Se aqui entre lírios gemem, Voz nas praias vão deixar. Se doçuras aqui levam,

Que amarguras tem no mar!.. Também pode inda teu peito De suspiros se cansar.

=Ciciante aura de incensos Porque vás tu a gemer?..

Tu aqui em lábios virgens Vás de mil beijos viver... Acolá em níveas rosas Vás perfumes lá colher... É teu trono o espaço infindo... Mais feliz quem pode ser? Ciciante aura ligeira

Porque vás tu a gemer?=

=Eu suspiro, eu gemo, eu choro, Gosto mesmo de gemer.

Sou feliz; não há quem possa Mais do que eu livre viver. Já me enoja esta ventura... Já sorri... quero gemer. Também tu podes ainda

(5)

Como a aura varia ser.

=Porque vens, oh! maga estrela, Entre trevas –só– fulgir?..

Teus segredos, teus mistérios Bem quisera eu descobrir...

Mas que vale?.. em vão... não posso Ir arcanos teus ouvir:

Dize, dize, oh! maga estrela, Porque –só– vens tu fulgir?..=

Mas a estrela ficou muda, Foi embalde o meu pedir.

Também eu te pedi juras, Teus protestos quis ouvir, Mas ficou mudo teu lábio, Foi em balde o meu pedir. Se tu também tens mistérios, Não nos posso eu descobrir.

=Porque trinas doces queixas, Rei das selvas, rei cantor?..

Cantas tu de argêntea lua, Maga luz, almo palor? Vivo matiz das campinas, Perfumes da rubra flor! Ou revivendo a natura, reviveu o teu amor?.. Dize, dize, porque trinas, Rei das selvas, rei cantor?

=Canto cantos de alegria São meus cantos ao senhor.

(6)

Perdi filhos, perdi tudo, Perdi tudo, o meu amor. Olvidei os seus desprezos, Torno a ser seu amador. Canto cantos de alegria,

São meus cantos ao Senhor.= Também tu podes ainda Ser perjura ao meu amor. Quebraria então esta harpa Já sem vozes, sem calor; Sem calor, morta, sem vozes, Que não tem vozes a dor.

=Branda vaga feiticeira, Como vens gentil assi!..

De alva espuma ornada em frente Serpeando a rocha ali...

E depois buscando a areia, Afagando-a ao longe... aqui. Branda vaga, feiticeira, Como vens gentil assi!..=

=Eu sou mortalha de neve, Vem o céu rever-se em mi. Nos meus braços vaporosos Mil humanos já cingi.

Enganei-os –lá ao largo Engoli-os –e rugi.

O sangue tingiu-me a alvura... Veio o céu rever-se em mi. Vim gemer de novo à praia Feiticeira, sempre assi!..

Venho ver com meus gemidos

(7)

Se também te iludo a ti... Ah! tu tremes... dize agora =Como vens gentil assi!..=

Eu tremi –verdades duras Me dissera a vaga ali.

Também tu... mas não, não podes Tão cruel ser tu assi!..

Teus suspiros, teus sorrisos Brotam de alma... são para mi. Quero ter inda uma crença, Uma só –será em ti.

Creio-te, amo-te é que diga Com que fogo o coração.

Não no digam as perfídias Do soprar da viração. Nem a linfa cristalina No seu doce, triste som. Nem a estrela radiosa Astro –só– na escuridão. Nem o cantor solitário A trinar terna canção. Nem as vagas refalsadas Que nas rochas quebrar vão. Auras, estrelas, aves linfas, Vagas mais que falsas são.

Amo-te –sim– porque o oiço Numa voz do coração.

Guimarães 4 de Agosto.

F. M. de G.

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Depois de Ler Meslier

(*)

Maldito sejas tu, padre descrido,

Que às portas do sepulcro inda blasfemas, E no Deus, que juraste amar com culto, Cuspiste sem piedade.

Maldito sejas tu, que me levaste Às bordas dum abismo tenebroso, E, com frases de hipócritas remorsos,

Lá me arrojaste então.

Maldito sejas tu, que me turvaste As crenças cardiais de toda a vida;

Que, apontando o altar, disseste: «nada» «Nada» apontando a campa.

O bronze meia noite geme ao longe; O mocho nas ruínas pia, e eu tremo; Maldito sejas tu, padre descrido,

Que me fazes tremer.

Maldito sejas tu, que me apavoras, E horrorosas visões dás à mente;

(*) Do livro Poesias por F. Martins, Porto, 1855, pág. 66 e 67.

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© Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 9

Maldito sejas tu, que escarneceste O Deus que eu tanto amava.

Se esta crença morrer, quem, oh! maldito, Me dará outra igual? Sem esta crença, Quem, se o egoísmo do homem me repele,

Me afagará na dor?

Errarei eu sobre a terra, abandonado, Em busca duma cova, onde me esconda, E inda ali, oh! maldito, eu, que fui homem,

Cinza só ficarei!!...

Maldito sejas tu, se foi a ciência, Quer te abriu os arcanos tenebrosos De verdades cruéis... cruéis. Se mentes,

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