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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO- UFES CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS HUGGO BRAGA DEMONER

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO- UFES CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS

HUGGO BRAGA DEMONER

A VIOLÊNCIA NO FUTEBOL: UM PANORAMA HISTÓRICO E UM OLHAR ESPECÍFICO DO TORCEDOR CAPIXABA.

VITÓRIA-ES 2017

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A VIOLÊNCIA NO FUTEBOL: UM PANORAMA HISTÓRICO E UM OLHAR ESPECÍFICO DO TORCEDOR CAPIXABA.

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Federal do Espírito Santo como parte dos requisitos necessários para a obtenção do diploma de Licenciado em Educação Física. Sob a orientação da Professora Ms.Rosely Silva Pires .

VITÓRIA-ES 2017

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A VIOLÊNCIA NO FUTEBOL: UM PANORAMA HISTÓRICO E UM OLHAR ESPECÍFICO DO TORCEDOR CAPIXABA.

Artigo apresentado ao Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para a conclusão do Curso de Licenciatura em Educação Física.

Aprovado em...de ... de 2017.

COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________________ Prof. Msª Rosely Silva Pires (Orientadora) Universidade Federal do Espírito Santo

_________________________________________ Prof. Dr Nelson Figueiredo Andrade Filho Universidade Federal do Espírito Santo

_________________________________________ Prof. Drª Karen Calegari Santos Campos Escola Superior São Francisco de Assis.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por tudo o que fez em minha vida e por ter me guiado ao longo desses anos, agradeço a meus pais por serem a minha base e pelo amor incondicional, meus familiares e amigos por todo apoio e momentos marcantes que me proporcionaram, meus professores pelos ensinamentos que carregarei em minha profissão, a minha orientadora Rosely por todo esforço e paciência para que este trabalho fosse realizado e a todos aqueles que de alguma forma colaboraram na minha graduação.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...……..…………..6

2. FUTEBOL E VIOLÊNCIA: REFLEXÕES POSSÍVEIS...…...……...7

2.1. Análises históricas da violência no Futebol..….……….………..….8

2.2. Entendendo melhor a violência entre torcidas ……….. ….……….…...11

3. FUTEBOL E VIOLÊNCIA: OBSERVAÇÃO EM UM ESTÁDIO DE FUTEBOL...……….….12

3.1 Características dos torcedores e um olhar acerca das Torcidas capixabas....………...13

3.2 Estádio de futebol: Uma nova observação em um novo patamar…….………....17

3.3 Entrevistas com torcedores capixabas………..………18

4. CONCLUSÃO...………….………20

5. REFERÊNCIAS...…...………...21

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente, o Futebol é o jogo coletivo mais praticado em todo o mundo. O mais antigo vestígio de práticas corporais que se assemelham a esse esporte é proveniente da China, por volta de 3000 a.C. Na Grécia Antiga e na Roma, era uma prática exclusivamente masculina. Em Florença, na Idade Média, se usavam as mãos e os pés. Já na Gália e na Bretanha, os jogadores davam socos e rasteiras nos adversários. O esporte obteve um grande avanço na Inglaterra. Nesse país, o jogo ganhou regras claras e objetivas, além de ser organizado e sistematizado (RIBEIRO, 2013).

O Futebol é de longe o esporte mais popular do Brasil. Em uma pesquisa feita em 2012 pelo Ibope o futebol foi apontado por 77% dos entrevistados como a paixão do brasileiro.1 É comum notarmos em diversas localidades campos e áreas para a prática do futebol, além de pessoas de diferentes idades praticando ou assistindo a esse esporte tão popular.

Um dos aspectos presentes no futebol é a violência. Seja ela dentro ou fora de campo, verbal ou física. Porém a que mais causa polêmica perante a mídia e a sociedade é a violência entre torcidas. No Brasil esse tipo de violência chega a causar mortes, como retrata uma pesquisa feita em 2016 pelo sociólogo Mauricio Murad da Universo (Niterói- RJ) que mostra que entre 2010 e 2016 houveram 113 mortes2 relacionadas ao futebol. Apesar de ser um número preocupante, anualmente as mortes relacionadas vem diminuindo.

Esta pesquisa objetiva entender o comportamento de pessoas durante atividades em que o futebol está envolvido, como objetivo buscamos refletir sobre a relação entre futebol e violência considerado os espaços de estádio.

A importância dessa pesquisa se deve ao fato de que o futebol é um conteúdo da educação física e a violência é algo presente no Futebol. É de suma importância entender esse fator, pois o futebol no Brasil é um fenômeno nacional assistido e praticado por milhões de pessoas, e tem como um de seus principais personagens o Torcedor, que é o indivíduo que assiste aos jogos, e dentre os diversos tipos de torcedor existem diferentes tipos de paixão por determinada equipe, o que causa diferentes tipos de comportamentos entre cada torcedor. Esta pesquisa se mostra importante do

1

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/12/futebol-e-maior-paixao-para-77-dos-brasileiros-aponta-pesquisa-ibope.html Acesso em 20/01/2017

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ponto de vista acadêmico, pois aborda o conteúdo futebol e o comportamento de crianças e adolescentes, que são aspectos presentes no cotidiano da Educação Física. A nível pessoal esta pesquisa se mostra importante para mim, pois o futebol é um tema o qual possuo grande afinidade por tê-lo vivenciado em grande parte da minha vida, assim como esse “universo” das torcidas organizadas.

A pesquisa em relação à sua abordagem se caracteriza como qualitativa e em relação aos objetivos se caracteriza como um estudo exploratório. A metodologia empregada para alcance dos objetivos foi a pesquisa de campo. Segundo Gil (2002, p. 53) “ a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre com o grupo”. Assim esse estudo foi desenvolvido por meio de entrevistas com os sujeitos que integram os grupos e por meio de observação direta das atividades desse grupo, buscando entender melhor questões como: O que os influenciam a terem determinado comportamento?; Como lidam com a questão da violência no futebol?; O que os motivam a participar desse segmento de torcidas?; Como é o convívio com os demais torcedores?; dentre outras questões.

2. FUTEBOL E VIOLÊNCIA: REFLEXÕES POSSÍVEIS

Para entender melhor esse universo das torcidas é necessário abordar o tema de uma maneira histórica e também contemporânea com o objetivo de compreender como foi ocorrendo esse fenômeno das torcidas organizadas com o passar dos anos e como ele está nos dias de hoje. Por isso buscamos entende, por meio de fatos do passado, o surgimento dos Hooligans na Inglaterra e suas mudanças com o passar dos anos, o surgimento das torcidas no Brasil e os principais episódios envolvendo a violência nesse meio. Uma questão importante neste estudo seja pensar a força que tem este esporte na produção da cultura de violência, para Sampaio (1985)

O futebol talvez seja a única forma de expressão de todo o país, [...] e que nas demais atividades o resto do país recusasse terminantemente acompanhar o gosto da maioria: isso só ocorre no futebol. O futebol é tão ou mais unificado que o sentimento religioso, e em matéria de religião, todavia o brasileiro tem fé e se cala; no futebol, põe fé e se manifesta (SAMPAIO, 1985, p. 68).

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Com base nestas questões optamos por apresentar uma discussão sobre essa relação histórica entre futebol e violência e também como as torcidas organizadas fazem parte deste contexto de violência do futebol.

2.1 ANÁLISES HISTÓRICAS DA VIOLÊNCIA NO FUTEBOL

O futebol é um dos conteúdos da educação física escolar mais populares e por isso exige uma reflexão acerca de sua análise pedagógica. É possível dar aula de futebol sem discutir a violência que historicamente esteve ligada a ele? Bracht (1986) nos alerta sobre o papel da Educação Física fazendo uma crítica aos professores que buscam apenas a performance ou a aprendizagem dos domínios psicomotor, afetivo, cognitivo e social. Segundo o autor são visões “históricas da dimensão social da Educação Física” (BRACHT, 1986, p.62).

O esporte é burguês, não porque esta é a sua essência, e, sim, por suas múltiplas determinações que lhe fornecem as características para tal. De maneira que, para termos um esporte não-burguês, precisamos, logicamente, atuar sobre suas determinações. E o educador representa o momento de ruptura em relação ao que é determinado socialmente, ao mesmo tempo que define uma conduta para levar o educador uma solidariedade consciente, vale dizer, ao sentido coletivo de sua formação (p. 87).

No contemporâneo o educador ainda conta com uma influencia negativa da mídia, hoje é possível notar por meio de redes sociais, televisão e outros tipos de mídia que tanto dentro quanto fora de um estádio de futebol a violência está presente, seja ela verbal ou física; além de possuir diferentes sujeitos envolvidos sejam eles torcedores, membros de comissão técnica, pessoas ligadas diretamente ao clube e também os próprios jogadores. Mas a que chama bastante a atenção da mídia e sociedade é a violência que envolve as torcidas organizadas.

É possível notar esse tipo de enfoque dado pela mídia, como, por exemplo, no episódio que ocorreu em dezembro de 2013 numa partida entre Atlético Paranaense e Vasco da Gama pelo Campeonato Brasileiro3, as principais torcidas organizadas de ambos os clubes entraram em confronto durante a partida que estava sendo transmitida ao vivo para todo o país, as cenas chocaram quem assistia a transmissão, a repercussão foi grande e durou mais de uma semana, além de ter sido alvo de debates

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em diversos programas e até mesmo em conversas informais. O Futebol é um esporte que gera bastante diferentes emoções e tensões em seus adeptos e por muitas vezes se torna difícil de controlá-las, segundo Soffredi & Azevedo (2008, p.52)

Hoje, no que se refere à forma espetáculo, assumida pelos esportes, em especial o futebol, acredita-se que, por determinados motivos as tensões produzidas estão sendo exacerbadas, tanto dentro, como fora do campo de jogo; pois, muitas vezes, os esportes, que deveriam criar e regular as tensões, acabam provocando atos de violência entre torcedores.

É impossível falar da violência de torcidas sem citar os “Hooligans”, famosos torcedores ingleses que ficaram conhecidos em todo o mundo por sua extrema violência e atos de vandalismo. Segundo o livro A Rainha de Chuteiras escrito por Marcos Alvito, jornais ingleses de 1906 relataram um confronto entre torcedores do West Ham United e do Millwall durante uma partida entre as equipes, nessa mesma época árbitros e jogadores adversários eram atacados, havia brigas fora do estádio e em bares sendo algumas delas causadas pelo álcool, os indivíduos envolvidos em tais atos eram chamados de “Hooligans”, alcunha que permanece viva até os dias de hoje. Esses incidentes ocorriam em jogos de maior rivalidade e eram incidentes espontâneos e individualizados. Isso mostra que desde o século XIX a violência estava ligada ao futebol.

Com o passar dos anos e a chegada de um público mais jovem aos estádios o chamado “Hooliganismo” foi aumentando cada vez mais e na década de 60 foi surgindo grupos de jovens voltados exclusivamente para a violência e confrontos entre si, eram chamados de Crews ou Firms. Assim como nos dias de hoje a violência entre torcidas chamava a atenção da mídia, a televisão mostrava os confrontos entre torcidas, na década de 70 jornais publicavam uma espécie de ranking com os grupos mais violentos, e isso incentivou ainda mais os atos violentos desses grupos, pois queriam aumentar sua “reputação”.

Apesar de hoje não existir essa espécie de ranking, essa busca por reputação permanece até os dias atuais, no Brasil torcidas que possuem a violência como uma de suas ideologias, buscam aumentar sua reputação vencendo confrontos contra rivais, tomando materiais que pertencem aos mesmos, dentre outras formas de aumentar sua “reputação”. Na década de 80 os Hooligans passaram a não somente limitar-se a jogos de suas equipes e começaram a acompanhar a seleção inglesa por outros países, aumentando assim sua fama pelo mundo, o que acabou inspirando jovens de outros países inclusive do Brasil. No final da década de 80 e início dos anos 90 o ”Hooliganismo” entrou em declínio graças a medidas tomadas pela então primeira ministra britânica Margareth Thatcher, dentre elas estavam a proibição do álcool em estádios, instalação de circuitos internos de TV para identificar os torcedores violentos, além da infiltração de policiais dentro desses grupos. Mas a

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principal medida foi a de exigir que os clubes adequassem seus estádios as novas normas, sendo assim foram instalados assentos nos estádios e houve certa modernização do mesmo, além do encarecimento dos ingressos, o que deixou o futebol mais elitizado e afastou boa parte dos desordeiros que frequentavam os estádios (ALVITO, 2014).

No Brasil existe um imbróglio em relação a qual foi a primeira torcida organizada a surgir no país, em alguns almanaques de futebol a “Charanga Rubro-Negra” criada em outubro de 1942 por torcedores do Flamengo que levavam para os jogos instrumentos musicais é considerada a primeira. Porém, de acordo com uma revista que circulava em São Paulo na época, a primeira torcida organizada foi a Torcida Uniformizada do São Paulo (TUSP), numa edição publicada em setembro de 1942 mostra a foto dessa torcida presente em um jogo contra o Palmeiras em agosto de 1942, ou seja, antes do surgimento da torcida Rubro-Negra.4

As principais torcidas organizadas dos grandes times brasileiros em sua maioria surgiram no final da década de 60 e inicio dos anos 70. Torcidas como a Força Jovem (Vasco), Jovem do Flamengo(Flamengo),Jovem do Botafogo( Botafogo), Young Flu (Fluminense), Gaviões da Fiel (Corinthians), Tricolor Independente (São Paulo), entre algumas outras.

A primeira morte relacionada a torcidas organizadas que se tem registro no Brasil ocorreu um 19885, quando o então presidente da torcida Mancha Verde do Palmeiras é assassinado com dois tiros por um torcedor rival. Desde essa morte até os dias de hoje ocorreram centenas de mortes relacionadas a torcidas.

Para o jornalista e especialista no assunto Mauro Cezar Pereira (2013), as brigas que aconteciam eventualmente e sem grandes consequências, foram se tornando algo estruturado como uma guerrilha. Emboscadas, ataques surpresas, confrontos marcados com rivais foram se tornando comuns nesse meio. E, além disso, outro aspecto que foi se tornando comum foi o uso de barras de ferro, bombas, pedras, paus e em casos extremos até mesmo armas de fogo nos confrontos entre torcidas rivais. 4 http://guiadoscuriosos.uol.com.br/blog/2012/10/24/qual-foi-a-primeira-torcida-organizada-do-brasil-sao-paulo-ou-flamengo Acesso em 20/06/2017. 5 https://oglobo.globo.com/esportes/briga-entre-torcidas-mortes-confusao-3196817 Acesso em 20/06/2017.

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Esses confrontos entre torcidas geram grande repercussão na mídia, um dos casos mais famosos foi a Guerra do Pacaembu6, em que durante a final da Supercopa de Futebol Júnior de 1995 entre Palmeiras e São Paulo torcedores de ambas agremiações invadiram o gramado e iniciaram uma grande batalha campal, causando a morte de um rapaz de 16 anos, armados com paus e pedras promoveram uma grande barbárie ao vivo para todo o país, visto que estava sendo transmitido por uma das principais emissoras do país, o que aumentou bastante a repercussão do fato.

Outro caso que gerou grande repercussão pela mídia foi a morte do torcedor botafoguense Rhafick Tavares7 à golpes de foice em um confronto com uma torcida do Flamengo em um dia de clássico. O caso foi relembrado posteriormente no famoso e extinto programa Linha Direta da TV Globo.

2.2.ENTENDENDO MELHOR A VIOLÊNCIA ENTRE TORCIDAS.

Nos episódios de violência nos estádios as torcidas organizadas possuem grande protagonismo, isso se deve a diversos fatores como: Brigas, emboscadas, músicas ofensivas, intimidação e xingamentos são práticas que contribuem para essa visão de protagonismo.

Para Palhares e Schwartz (2015, p.96) as brigas e confrontos são vistas de maneira positiva pelos torcedores, pois geram visibilidade e “status” para eles mesmos e sua torcida. Passar por situações perigosas, ferir-se em confrontos e enfrentar a morte são experiências as quais concedem certo poder e status a um torcedor organizado como ressalta Teixeira (2001,2013).

A busca pela autoafirmação e um melhor “status” é um dos principais combustíveis para a violência entre as torcidas organizadas. Por a torcida rival “pra correr” ou vence-la em uma briga melhora a imagem da torcida perante as outras no contexto das torcidas organizadas. Porém em alguns casos isso gera o desejo de vingança por parte da torcida derrotada e provoca uma espécie de ciclo contínuo de violência como afirmam Palhares e Schwartz (2015): “a revanche sempre aparece

6 http://esportes.terra.com.br/futebol/brasileiro2005/interna/0,,OI635952-EI4847,00.html

Acesso em 20/06/2017.

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como um mecanismo de recuperação da honra perdida em confrontos anteriores. Essa lógica contribui para o aumento dos episódios de violência entre torcidas organizadas”.

Os confrontos entre torcidas organizadas podem ser tanto premeditados quanto ocasionais. Os confrontos ocasionais são aqueles que ocorrem repentinamente, geralmente quando ocorre um encontro inesperado de torcidas rivais em algum local. Já os confrontos premeditados são aqueles em que a torcida vai com a intenção de brigar e ferir a outra torcida, Teixeira (2001) afirma que nesse tipo de confronto é possível notar o uso de instrumentos como paus, pedras, bombas e até mesmo armas de fogo. Porém Murad (2007) afirma que apenas uma pequena parte da torcida compactua com esse tipo de violência premeditada. O que mostra que o estigma de “violento” acaba se estendendo por toda uma torcida, mesmo boa parte dela sendo contra a violência como afirmam pesquisas e o discurso de muitos torcedores.

Outro aspecto muito importante é a maneira como se identificam os torcedores organizados, eles fazem uso de uma vestimenta característica geralmente nas cores do time o qual torcem denominada de “farda”. Nela contém o símbolo da torcida, geralmente algum personagem ou objeto que passe a imagem de algo intimidador para as torcidas rivais como ressalta Teixeira (2006). Seguindo esse mesmo intuito de intimidar torcedores rivais, muitas torcidas criam e entoam cânticos e músicas com conteúdo violento, ameaças ou xingamentos à torcidas consideradas inimigas. Para Teixeira (2006) tudo isso possui o intuito de passar uma imagem para as demais torcidas que esses grupos são perigosos e que além de temidos, devem ser respeitados.

Os atos de violência praticados por torcidas organizadas causam uma repercussão negativa pela mídia, é comum vermos em programas esportivos quando retratam a questão da violência entre torcidas o discurso de que os torcedores são “vândalos” e isso acaba alimentando o senso comum de que torcedor organizado é “baderneiro”, dentre outros adjetivos que os depreciam. Palhares e Schwartz (2015) afirmam que “os discursos que estigmatizam o torcedor organizado como “vândalo”, “vagabundo” contribuem para condicionara opinião de diversas pessoas sobre esse grupo”.

3. FUTEBOL E VIOLÊNCIA: OBSERVAÇÃO EM UM ESTÁDIO DE FUTEBOL

Nesta pesquisa foram realizadas entrevistas com torcedores e observações em dias de jogos da Desportiva Ferroviária, com o intuito de coletar dados e informações que contribuam para a

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pesquisa de maneira que se obtenha um melhor entendimento sobre o torcedor de futebol e a violência presente nesse ambiente.

Nas entrevistas procuro descobrir e entender o motivo que levou os entrevistados a ingressarem em uma torcida organizada, quais as suas ideologias, o que pensam acerca da violência no futebol, dentre outras perguntas.

As observações no estádio foram realizadas a fim de entender na prática como é o ambiente de um estádio e como os torcedores se comportam nele. Foram realizadas no Estádio Engenheiro Alencar Araripe, situado no bairro Jardim América em Cariacica-ES. Nas datas de 24/09/2016 e 25/06/2017.

3.1. CARACTERÍSTICAS DOS TORCEDORES E UM OLHAR ACERCA DAS TORCIDAS CAPIXABAS

As principais torcidas capixabas que ainda estão em atividade podem ser consideradas novas em relação às dos principais clubes do Brasil, pois surgiram à partir da segunda metade da década de 90 e no decorrer dos anos 2000, diferentemente das grandes torcidas nacionais que surgiram nas décadas de 60,70 e 80. A grande exceção é a Torcida Organizada Grenamor (TOG) da Desportiva Ferroviária, que foi a primeira8 a surgir no Espírito Santo no ano de 1976 e hoje é considerada a principal torcida organizada da Desportiva e também uma das principais do estado.

Assim como nos demais estados do país, no Espírito Santo as torcidas organizadas possuem diferentes ideologias e maneiras de torcer. As torcidas consideradas de “bancada” como por exemplo a Grenamor e a Comando Alvinegro possuem como principal objetivo o apoio ao clube, seja por meio de cânticos de incentivo ou com uma grande “festa” na arquibancada. Mesmo possuindo certas semelhanças em suas ideologias, ambas possuem jeitos diferentes de torcer. Enquanto a Comando Alvinegro utiliza cânticos e músicas advindas de torcidas brasileiras famosas, a Grenamor tem em suas músicas e cânticos versões adaptadas de torcidas sul-americanas.

Assim como nos principais estados do país, o Espírito Santo possui também torcidas organizadas que praticam atos violentos, essas torcidas são conhecidas como torcidas de “pista”. Uma das

8 http://www.organizadasbrasil.com/torcida/TORCIDA-ORGANIZADA-GRENAMOR-238.html

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grandes e principais diferenças das torcidas capixabas de “pista” em relação as principais do país é que existe de maneira informal uma espécie de código de conduta9 que os torcedores capixabas desse tipo de ideologia seguem desde 2009 quando foi publicado em uma extinta rede social, nele havia regras a serem seguidas para um melhor funcionamento das torcidas de “pista”, como podemos ver abaixo:

1- Não faça ação, mas reaja.

2- Não use armas de fogo. É coisa de polícia e bandido. Apesar de "alemão" (inimigo), do outro lado há um cara que tem família igual a você.

3- Respeite o "povão" (torcedor não-organizado).

4- Briga só na "pista" (choque das torcidas), nunca na rua, shopping, balada... 5- Ser de torcida não é botar "farda" (camisa de organizada) e sair na porrada.

6- Seja "humanitário". Se o adversário estiver fora de combate, vá para outro. "T.O." (torcida organizada) não precisa de assassino.

7- Jogo de guerra? Vá para sua sede e forme o "bonde (grupo de torcedores) pesado". 8- Evite desfilar "fardado". "T.O." não é moda.

9-O principal motivo da T.O. deve ser o time.

10- Saiba quando parar ou dar um tempo. Sua vida e família vêm em primeiro lugar (Bruno Marques, 2009.)

Apesar de não ser seguido totalmente, esse código é respeitado pelas torcidas capixabas, na maioria das vezes, a prova disso é que até hoje não houve nenhum registro de mortes ligadas a confrontos de torcidas organizadas no estado.

A partir da minha vivencia como torcedor, construir algumas observações que considero importantes para essa pesquisa.

Observo que a Grenamor é um exemplo claro de torcida com a ideologia de “bancada”, ou seja, seu intuito é o de apenas torcer e fazer a festa na arquibancada, sem qualquer tipo de envolvimento em atos de violência. Essa ideologia pacífica colabora para atrair adeptos para a torcida, prova disso é que hoje ela é a mais popular da Desportiva Ferroviária, outro exemplo disso é a principal e mais popular do rival Rio Branco a torcida Comando Alvinegro, a qual possui essa mesma ideologia de “bancada”. No estado existem também as torcidas consideradas de “pista”, que são aquelas que não limitam-se apenas ao apoio da equipe a qual torcem e também fazem uso da violência, seja ela verbal ou física. Este tipo de torcida tem como públicos adolescentes e jovens aproximadamente entre 15 e 25 anos.

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Os dados acima são importantes, mas julguei relevante realizar algumas observações mais pontuais por isso estive no Estádio durante dois dias, segue as descrições. No dia 24/09 de 2016 estive presente no Estádio Engenheiro Araripe para acompanhar a partida entre Desportiva x Vitória válida pela Copa Espírito Santo e observar o envolvimento de crianças e jovens no papel de torcedores. Dentro do estádio existem diferentes estereótipos e para entender melhor os diferentes tipos de torcedores, separei os mesmos em três grandes grupos: O “Povão”; os de torcedores de “Bancada” e os torcedores de “Pista”. O chamado “Povão” são aqueles torcedores que não fazem parte de alguma torcida organizada, assistem ao jogo de maneira passiva apenas como um mero espectador sem entoar cânticos ou coisas do tipo no decorrer da partida, é composto em sua grande maioria por idosos e famílias (pai e filhos basicamente), é possível notar que algumas crianças e adolescentes presentes nesse meio tem o comportamento parecido com os pais ou a pessoa que o acompanha, assistindo tudo de maneira passiva tendo aquilo como uma espécie de passatempo para aquela tarde. É comum vermos também no “povão” algumas crianças durante o jogo correndo pelos lances de arquibancada brincando umas com as outras enquanto os pais assistem ao jogo, devido a pouca idade de algumas eles pouco acompanham o que acontece no gramado e estão ali apenas para acompanhar seus pais.

Os torcedores de “Bancada” fazem parte de torcidas organizadas, mas ao contrário do senso comum à respeito de torcedores organizados os torcedores de “Bancada” são totalmente contrários à violência, tendo como ideologia apoiar a equipe por meio de cânticos enaltecendo o clube, sua história e seus jogadores. Se vestem com uma espécie de “uniforme” tendo nele o escudo do clube e um personagem de desenho ou filme estampado. Neles pude notar a presença de muitos adolescentes e poucas crianças, os adolescentes utilizam esse tipo de torcida para se socializar com pessoas da mesma faixa etária ou mais que torcem para o mesmo time, as vezes também por querer fazer parte de uma torcida organizada mas não estar disposto a se envolver com algo mais violento eles buscam se associar as torcidas denominadas “ bancada”.

Por último, os torcedores de “Pista” são aqueles que possuem em sua ideologia além do apoio ao time, o combate físico com torcidas rivais. Seus cânticos em sua grande maioria possuem ofensas e ameaças à rivais e são paródias ou versões de alguns funks . O funk na torcida de “pista” da Desportiva predomina também na linguagem dos membros e também na maneira de se vestir. Seu uniforme é chamado de “farda” e possui além do escudo do time a imagem de uma caveira em pose de luta. É comum vermos muitos adolescentes nesse meio, muitos deles em busca de certo“status” e de passar uma imagem de ser alguém perigoso, muitos também entram em busca de adrenalina a

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qual encontram nos combates com rivais. Para os adolescentes e membros desse tipo de torcida existem duas reputações que estão em jogo: a deles perante sua torcida e a de sua torcida perante as outras. E para aumentar essa reputação devem superar os rivais em combates. O adolescente que frequenta este tipo de torcida é atraído por aspectos como certo fascínio por violência, as vestimentas, o status que isso traz perante seus amigos, o convívio em grupo com pessoas da mesma faixa etária que torcem pelo mesmo time e possuem os mesmos ideais.

Pude notar nestas observações pontos em comum em relação ao que alguns autores dizem, como por exemplo, o uso do símbolo de uma caveira em pose de luta pela torcida considerada de pista com o intuito de intimidar torcidas rivais e impor respeito, como dito anteriormente por Teixeira (2006). Outro ponto abordado por este mesmo autor e que pude presenciar no estádio são as músicas utilizadas pela torcida organizada considerada de “pista” que em sua maioria continha xingamentos, ameaças e conteúdo violento, como por exemplo uma paródia da música Rap do Pantanal 10que dizia “eu vou contar uma história que é na moral, peguei de bambu a Cobra Coral, TJE do Estrela não aguentou, Comando alvinegro já acabou...”. (Torcida de “pista” da Desportiva). Em outro cântico entoado pela mesma torcida é possível notar uma alusão aos famosos e violentos Hooligans: “Spray de pimenta não deu pra segurar, Hooligans, Hooligans... Esquadrão Grená”.(Torcida de “pista” da Desportiva).

Tanto Palhares e Schwartz (2015) quanto Teixeira (2001, 2013) abordam uma questão muito presente nas torcidas a qual observei , que é a busca por “status” e reputação. Foi possível perceber que os indivíduos envolvidos nesse contexto de torcidas organizadas buscam em alguns casos aumentar sua reputação por meio de atos de violência contra torcidas rivais, esta

busca por uma melhor reputação possui um elemento que se assemelha bastante com o que é relatado pelo escritor Marcos Alvito no livro “A Rainha de Chuteiras” em que na década de 70 eram publicados em jornais ingleses, rankings com as torcidas mais violentas daquela determinada época. Hoje esse “ranking” não é mais impresso e sim de maneira informal entre as torcidas, por meio de redes sociais ou por “boca-a-boca”. As principais maneiras de conseguir aumentar sua reputação são conseguir colocar a torcida rival para correr, tomar materiais como bandeiras, faixas, ”fardas” e instrumentos, comparecer em jogos fora de seu domínio e principalmente saindo-se vencedores em brigas.

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Embora não seja nosso objeto de estudo neste momento, toda essa discussão sobre violência e esporte nos provoca a reflexão de pensar qual o papel da escola como agente transformador da visão do futebol que segundo nossa pesquisa apresenta tanto processo histórico de violência. Pois segundo Lucena: “Somos um povo marcado por uma perversa herança de exclusão social” (LUCENA, 2001.p. 09).

3.2 ESTÁDIO DE FUTEBOL: UMA NOVA OBSERVAÇÃO EM UM NOVO PATAMAR. Realizei uma nova observação no dia 25/07/2017 durante a partida entre Desportiva Ferroviária x Portuguesa de Desportos-SP, dessa vez válida pelo Campeonato Brasileiro da Série D. O jogo contou com um ótimo público para os padrões do Futebol Capixaba, cerca de 2200 pagantes e mais alguns presentes, tudo isso graças ao apelo que o jogo possuía, por se tratar de uma competição de nível nacional contra uma equipe que possui grande tradição no futebol brasileiro, além de grande divulgação nas redes sociais e o ingresso a preço acessível. Todos esses fatores colaboraram para o comparecimento de um bom número de torcedores para esta partida.

Por se tratar de uma partida decisiva para a Desportiva Ferroviária, durante a semana os torcedores organizaram por meio de redes sociais a chamada “Rua de Fogo” para o dia da partida. Essa prática consiste em uma recepção na rua de entrada do estádio para o ônibus com a delegação da equipe mandante, com cânticos de apoio e bastante pirotecnia com sinalizadores, fumaças na cor do time e fogos de artificio. Tudo isso para motivar os jogadores a buscarem um resultado e também protagonizar uma linda festa para os que estavam presentes.

Por se tratar de um jogo entre equipes de estados diferentes que não possuem rivalidade e pelo fato de as principais torcidas dos respectivos times terem boa relação, não houve confrontos e nem ofensas por parte das torcidas. Apesar de não ter havido violência entre as torcidas, durante a chegada da delegação da equipe visitante, torcedores da Desportiva se aproximaram do ônibus da equipe visitante e iniciaram cânticos, ofensas e provocações aos atletas, tendo que serem contidos por policiais para evitar um incidente maior. Já durante a partida houve apenas violência verbal, geralmente contra o árbitro após o mesmo marcar alguma infração que os torcedores discordavam ou em alguns cânticos que provocavam o maior rival. Um dos alvos preferidos da torcida grená foi o renomado jogador Marcelinho Paraíba que possui passagens por grandes clubes brasileiros e também pela seleção, por ser o principal jogador do adversário toda vez que o mesmo tocava na

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bola recebia além de uma sonora vaia, xingamentos e ofensas à fim de desestabilizá-lo e causar uma má atuação do mesmo.

Nesse jogo pude notar que o único tipo de violência ocorrido foi a verbal, que apesar de ser uma espécie de violência, não causa tantos transtornos quanto à violência física. Apesar de um grande número de policiais presentes para realizar a segurança do evento, não houve caso de violência física, simplificando assim o trabalho dos policiais presentes neste dia.

3.3. ENTREVISTAS COM TORCEDORES CAPIXABAS.

Foram realizadas três entrevistas com torcedores diferentes. Sendo duas com torcedores da Desportiva Ferroviária de perfis diferentes e uma com um torcedor do maior rival, o Rio Branco Atlético Clube. Os entrevistados seguiram um roteiro de perguntas pré-definidos pelo autor, nele continham perguntas que buscavam entender o posicionamento dos entrevistados acerca da violência nos estádios e suas ideologias, além de conhecer um pouco o sujeito por meio dos relatos de suas vivências como torcedor.

Mesmo com perfis diferentes pude notar pontos em comum entre os torcedores entrevistados, como a opinião de que a violência afasta as pessoas do estádio, a ideia de que punições individuais aos que praticam a violência no estádio seja o melhor caminho para combater e diminuir esses tipos de prática, além de concordarem que a violência presente nos estádios é algo que leva os sujeitos que a praticam a lugar nenhum.

A única maneira de impedir esses casos é punindo o indivíduo e não o clube ou a torcida que muitas vezes é composta em sua maioria por torcedores que não procuram a violência. Punindo apenas a organização, o indivíduo pode continuar a praticar os atos de violência sem ser punido pelos seus atos (Torcedor da Desportiva com perfil Bancada).

Dentre os torcedores entrevistados, apenas o torcedor do Rio Branco exerce algum cargo numa torcida organizada, justamente o mais alto na hierarquia de uma torcida, o de presidente. Já entre os torcedores da Desportiva, um não é ligado a torcidas organizadas e o outro é apenas um membro sem algum cargo na hierarquia da torcida a qual pertence. “Já exerci alguns cargos, já fui diretor de patrimônio, diretor de batalhão e hoje sou presidente.” (Torcedor do Rio Branco).

Os três entrevistados afirmam não possuir divergências com os demais torcedores do seu time mesmo eles possuído uma ideologia diferente das suas. Um fator que colabora para isso segundo os mesmos é o respeito entre eles, o que colabora bastante para uma relação pacífica entre os

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torcedores que possuem diferentes ideologias. Porém pra o torcedor do Rio Branco o que faz com que ele não possua uma boa relação com torcedores de outros times é justamente pelo fato de não haver respeito dos mesmos para com sua torcida.

Do mesmo time não tenho nada contra, cada um com seu pensamento, se o cara acha que tá ajudando daquele jeito, vida que segue, de outros times normalmente não, por não respeitar a posição da nossa torcida (Torcedor do Rio Branco).

Por meio das entrevistas é possível notar na fala dos entrevistados que a violência é algo presente nos estádios. Todos eles já foram testemunhas de algum episódio de violência de torcidas dentro do estádio ou em seu entorno, porém apenas o torcedor que não pertence a alguma torcida organizada não participou diretamente de episódios desse tipo. Os demais, mesmo fazendo parte de torcidas de caráter pacífico se envolveram como um meio de se defender de outra torcida que na ocasião os atacaram.

Já sim, não por vontade, o mais marcante foi contra a GAV(torcida do vitória), armaram uma emboscada na frente da assembleia legislativa , mas saímos todos bem. (Torcedor do Rio Branco).

Isto nos remete a discussão do surgimento dos Hooligans, famosos torcedores ingleses conhecidos por seus atos de violência. Formavam-se grupos para enfrentar grupos rivais pertencentes a outros times, algo semelhante às torcidas consideradas de “pista” dos dias atuais. Como relatado nas entrevistas, a violência está ligada as torcidas organizadas e em alguns casos torcidas de caráter pacífico acabam sendo envolvidas nesses episódios de violência, ou seja, uma torcida organizada pode não ser em sua essência uma torcida violenta mas de alguma forma acaba participando de algum ato de violência praticado por outra torcida rival, mesmo que seja para sua própria proteção.

Algumas vezes esses atos são gerados pelas tensões geradas pelo jogo, como dito por Soffredi& Azevedo no capítulo 2.1, prova disso é o episodio citado pelo torcedor da Desportiva que possui o perfil “Bancada”.

[...] Já testemunhei diversos episódios de brigas nos estádios, em alguns precisei me defender, como no jogo Desportiva e Estrela no Sumaré em Cachoeiro pela final da Segunda divisão capixaba. No meio do jogo a torcida do Estrela jogou objetos para o lado da torcida da Desportiva que jogava de volta para se defender. Geralmente quem está próximo a esses episódios precisa buscar formas rápidas para tentar se defender”. (Torcedor da Desportiva com perfil “Bancada”)

O episódio citado ocorreu no decorrer da partida, o que mostra que a tensão produzida pela partida pode levar o torcedor a atos de violência. E por se tratar de uma final de campeonato é possível que

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a tensão se torne ainda maior, devido ao fato dos torcedores estarem com muito anseio de ver seu time sair vitorioso e coroado como campeão.

4. CONCLUSÃO

Por meio deste estudo foi possível entender melhor a violência das torcidas organizadas tendo como espaço o estádio. Foram abordados os aspectos históricos desta temática tanto no Brasil quanto na Inglaterra com os Hooligans que foram os grandes expoentes da violência nos estádios, e também aspectos atuais por meio das pesquisas de campo e entrevistas realizadas que foram de suma importância para compreender a visão, os costumes e os diferentes perfis do torcedor capixaba.

Podemos notar que a violência ainda permanece presente nos estádios de futebol e que os protagonistas são as torcidas organizadas, como fica claro nos exemplos citados e também na fala dos torcedores entrevistados, em que todos eles já testemunharam atos de violência envolvendo torcidas organizadas. Durante as observações não houve casos de violência física, houve apenas violência verbal e xingamentos, porém assim como os entrevistados durante minha vivência como torcedor pude testemunhar casos de violência física no estádio e é algo que mesmo não atingindo níveis absurdos como em alguns casos que ocorreram em outros estados como citados no decorrer do trabalho, ela ainda se mostra presente nos estádios capixabas.

Os estádios, o futebol e as torcidas organizadas refletem também o mundo em que vivemos, cercado por diversos tipos de violência que ocorrem no dia-a-dia. E por mais que não exista previsão para a mesma acabar, cabe a cada individuo e também aos órgãos competentes tentar diminuir esses atos.

Como citado no início deste trabalho, o futebol é esporte bastante popular no Brasil e isso o torna um dos principais conteúdos trabalhados na Educação Física no país. E assim como no ambiente escolar, pude notar nos estádios e nas torcidas organizadas a presença de adolescentes e jovens. Por isso é necessário abordar esse tema da violência nos estádios no ambiente escolar para que jovens e adolescentes entendam as consequências que esses atos podem trazer e que assim não absorvam mais este tipo de violência em suas vidas, visto em que vivemos numa sociedade onde existem diversos tipos de violência. Podendo assim desfrutar e vivenciar apenas o lado positivo desse maravilhoso esporte chamado Futebol e se tornarem não somente torcedores melhores, demonstrando toda a sua paixão pela sua equipe com cânticos de incentivo, festas na arquibancada e respeito aos demais torcedores, como também cidadãos melhores para a sociedade em que vivemos.

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5. REFERÊNCIAS

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BRACHT, Valter. A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista. Revista brasileira de ciências do esporte. v.7, n.2, p.62-68,1986.

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Briga generalizada de torcidas deixa quatro feridos na Arena Joinville. Globo Esporte.(2013) Disponível em: http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2013/12/briga-na-arquibancada-paralisa-jogo-entre-furacao-e-vasco.html , Acessado em 01/06/2017.

Desde 2010, 113 pessoas morreram em brigas de torcidas. Folha de São Paulo.(2016) Disponível

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http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2016/04/1757121-desde-2010-113-pessoas-morreram-em-brigas-de-torcida.shtml , Acessado em 10/05/2017.

Futebol é maior paixão para 77% dos brasileiros, aponta pesquisa Ibope. G1 Globo.(2012) Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/12/futebol-e-maior-paixao-para-77-dos-brasileiros-aponta-pesquisa-ibope.html , Acessado em 20/01/2017.

Futebol tem década perdida após barbárie no Pacaembu. Portal Terra (2005). Disponível em:http://esportes.terra.com.br/futebol/brasileiro2005/interna/0,,OI635952-EI4847,00.html , Acessado em 20/06/2017.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. LUCENA, Ricardo. Futsal e a iniciação. 5 ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.

MARQUES, B. Crise do futebol capixaba ganha mais um ingrediente: violência das torcidas. A Gazeta (2009) Disponível em:

http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2009/10/550432-crise+do+futebol+capixaba+ganha+mais+um+ingrediente+violencia+das+torcidas.html , Acessado

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6.APÊNDICE

Entrevistas com torcedores capixabas.

Entrevista com membro de uma torcida organizada do Rio Branco A.C

1- Como foi seu primeiro contato com o futebol capixaba?

A muito tempo, não sei dizer a data, mas assistia os jogos no antigo Kleber Andrade junto com meu pai, que me ensinou a torcer pro melhor time do estado.

2- Você faz parte de alguma torcida organizada? Qual é a ideologia dessa torcida?

Faço parte da Comando Alvinegro, do Rio Branco Atlético Clube, temos como ideologia apoiar o clube como um todo, não só na modalidade do futebol profissional.

3- O que motivou você a entrar nessa torcida?

Na torcida do Rio Branco, antes de 2007, realmente existiam muitos idosos que era das torcidas, e a comando veio com uma galera mais jovem e veio realmente pra ser uma torcida diferente, no qual me orgulho de fazer parte.

4- Já participou de episódios de violência? Qual(is) os mais marcantes?

Já sim, não por vontade, o mais marcante foi contra a GAV(torcida do vitória), armaram uma emboscada na frente da assembleia legislativa , mas saímos todos bem.

5- Já exerceu algum cargo dentro dessa torcida? O que fazia?

Já exerci alguns cargos, já fui diretor de patrimônio, diretor de batalhão e hoje sou presidente.

6- Você possui boa relação com os outros torcedores com ideologias diferentes da sua?

Do mesmo time não tenho nada contra, cada um com seu pensamento, se o cara acha que ta ajudando daquele jeito vida que segue, de outros times normalmente não, por não respeitar a posição da nossa torcida.

7- Como você lida com a questão da violência nos estádios?

Cada um faz suas escolhas na vida, e essa é uma que não vai levar ninguém a lugar nenhum, não incentivo e reprimo todo ato de violência envolvendo torcedores seja do mesmo time ou de times rivais.

8- Você acredita que a violência afasta o publico dos estádios?

Afasta um pouco, mas violência tem em qualquer lugar, até no portão de casa, todos sabem como evitar a violência nos arredores dos estádios, e muitas vezes usam isso como desculpa para não ir a jogos.

9- Para você o que motiva a pratica da violência entre torcidas organizadas?

A violência entre torcidas é histórica, mas ela veio a se tornar mais forte com a mídia marretando na cabeça dos torcedores a “rivalidade” entre os times, normalmente as torcidas são compostas por “bondes de bairros” que normalmente já se odeiam, e usam as torcidas como desculpa para brigar; outro motivo também é ter um troféu de uma torcida rival, e exibi-lo como premio, para ganhar status dentro de sua torcida.

10- Para você existe alguma maneira de impedir casos de violência entre torcida? Como?

Existe sim, monitoramento e punição ao individuo e não a instituição, como no Brasil, onde se pune a organizada mas deixa os brigões soltos, e também a retirada de regras idiotas que já foi provado que não são motivos de violência como a proibição dos sinalizadores e de mastros de bambu

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Entrevista com um torcedor do perfil “Povão”

1- Como foi seu primeiro contato com o futebol capixaba?

Foi por meio de um amigo, ele me convidou para assistir a final da segunda divisão do Capixabão entre Desportiva e Rio Bananal no estádio, apesar de ser a segunda divisão o estádio estava lotado e a Desportiva venceu o jogo e saiu campeã. Isso tudo me fez ter vontade de acompanhar melhor a equipe.

2- Já fez parte de alguma torcida organizada?

Não, nunca fiz parte de verdade de uma torcida organizada mas em algumas vezes eu fiquei no meio delas pra participar da “festa”.

3- Qual a sua ideologia como torcedor?

Eu gosto apenas de ir e assistir o jogo, mesmo eu algumas vezes participando da festa que a torcida faz em alguns jogos importantes, eu gosto mesmo é de assistir a partida tranquilo.

4- Já testemunhou ou participou de episódios de violência no estádio? Como foi?

Já testemunhei uma vez em uma partida contra o Serra, que os torcedoresdeles tentaram atacar uma torcida da Desportiva mas foram surpreendidos porque o pessoal grená estava em maior número e botaram eles pra correr pra dentro da Estação Pedro Nolasco, isso tudo aconteceu pouco depois do jogo começar, cheguei a perder o primeiro gol por conta disso.

5- Você possui boa relação com os outros torcedores com ideologias diferentes da sua?

Sim, como falei antes, de vez em quando eu me junto ao pessoal da Grenamor e participo da festa que eles fazem, acho muito bacana algumas músicas deles.

6- Como você lida com a questão da violência nos estádios?

Eu não gosto. Acho algo totalmente desnecessário, é horrível ver na TV o que acontece nessas brigas de torcida, parecem animais, chegam a espancar o outro torcedor até a morte, tudo isso a troco de nada.

7- Você acredita que a violência afasta o publico dos estádios?

Sim, já convidei amigos para irem ao clássico Desportiva x Rio Branco e eles não quiseram vir por receio de alguma confusão acontecer, apesar de isso estar mudando ainda vejo algumas pessoas com receio e torço pra que isso acabe de vez.

8- Para você o que motiva a pratica da violência entre torcidas organizadas?

É difícil tentar explicar o porque dessas coisas acontecerem, talvez seja uma tentativa de humilhar o torcedor do time rival ou algo do tipo, eu realmente não sei explicar o que se passa na cabeça de quem faz isso.

9- Para você existe alguma maneira de impedir casos de violência entre torcida? Como?

Acredito que punindo rigorosamente os responsáveis diretos por tudo isso,prendendo os indivíduos que se envolvem nesse tipo de confusão e aplicando uma pena considerável neles, talvez sirva para que outros pensem antes de cometer algum ato desse tipo. Mas para isso acontecer depende muito da postura da justiça com esses casos.

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1- Como foi seu primeiro contato com o futebol capixaba?

Meu primeiro contato foi na final da Copa ES em 2006, Vilavelhense e Estrela no Estádio Engenheiro Araripe. Jogo tranquilo, público médio e sem brigas.

2- Você faz parte de alguma torcida organizada?

Sim, da Grenamor. O meu primeiro contato foi na final da Copa ES de 2008, no clássico Desportiva e Rio Branco. Jogo festivo de final, estádio lotado, comprei uma camisa da torcida e passei a acompanhar mais jogos junto dela.

3- Qual a sua ideologia como torcedor?

Busco uma ideologia de apoio ao clube, fazendo festa, cantando ou protestando, sempre em benefício ao clube, sem envolvimento em brigas.

4- Já testemunhou ou participou de episódios de violência no estádio? Como foi?

Sim, já testemunhei diversos episódios de brigas nos estádios, em alguns precisei me defender, como no jogo Desportiva e Estrela no Sumaré em Cachoeiro pela final da Segunda divisão capixaba. No meio do jogo a torcida do Estrela jogou objetos para o lado da torcida da Desportiva que jogava de volta para se defender. Geralmente quem está próximo a esses episódios precisa buscar formas rápidas para tentar se defender.

5- Você possui boa relação com os outros torcedores com ideologias diferentes da sua?

Sim, a relação é possível desde que cada um respeite aideologia do outro.

6- Como você lida com a questão da violência nos estádios?

Acredito que o estádio é um lugar para torcer e apoiar seu clube. Violência não traz nenhum benefício para o esporte, muito menos para o clube e a torcida. Não me importo com brigas de torcidas em locais distantes dos estádios que envolvem apenas “torcedores” interessados no confronto, sem atingir terceiros. Acho desnecessário, mas pelo menos só prejudicam os mesmos.

7- Você acredita que a violência afasta o publico dos estádios?

Sim, muitas pessoas ficam assustadas com as cenas de violência e não voltam para um ambiente perigoso. A maioria quer apenas um lazer e não mais uma forma de por sua vida em risco. Torcedores mais velhos, mulheres, e pais de família acabam evitando a presença no estádio devida ao fator violência.

8- Para você o que motiva a prática da violência entre torcidas organizadas?

Acredito que as pessoas utilizam o futebol como desculpa para se reunir em grupos e buscar um caminho para violência. A impunidade, adrenalina e rivalidade são fatores que motivam as pessoas que buscam esse caminho.

9- Para você existe alguma maneira de impedir casos de violência entre torcida? Como?

Existe, mas não é adotada de maneira correta no país. A única maneira de impedir esses casos é punindo o indivíduo e não o clube ou a torcida que muitas vezes é composta em sua maioria por torcedores que não procuram a violência. Punindo apenas a organização, o indivíduo pode continuar a praticar os atos de violência sem ser punido pelos seus atos.

Referências

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