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Não perceber patavina Tirar o pai da forca Com sete pedras na mão Andar à nora Ouvidos de mercador Cor de burro quando

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Academic year: 2021

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Não perceber patavina . . . 10

Tirar o pai da forca . . . 13

Com sete pedras na mão . . . 14

Andar à nora . . . 16

Ouvidos de mercador . . . 18

Cor de burro quando foge . . . 21

Dar a mão à palmatória . . . 22

À grande e à francesa . . . 24

Para inglês ver . . . 26

Um erro crasso . . . 29

Quem tem boca, vai a Roma . . . 30

Maria vai com as outras . . . 32

Doutor da mula ruça . . . 34

Ir para o maneta . . . 36

Dos quatro costados . . . 39

Calcanhar de Aquiles . . . 40

Correr Ceca e Meca . . . 43

Pôr as mãos no fogo . . . 44

Água vai . . . 46

Ser calhandreira . . . 48

OK . . . 51

Eureka! . . . 52

Brilhar pela ausência . . . 54

Ficar a ver navios . . . 56

A pensar morreu um burro . . . 58

Velho do Restelo . . . 60

De pequenino se torce o pepino . . . 62

Passar de cavalo para burro . . . 64

Tirar o cavalinho da chuva . . . 67

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Tudo começou quando uma noite, ao jantar, o meu pai, pelo meio da conversa, disse uma frase que eu não entendi, e eu lembrei-me de exclamar:

— O quê?!

Eu já devia saber que nunca se pergunta «o quê?» a um adulto, porque GHUHSHQWHWRGRVGHVFREUHPDVXDYRFD©¥RSDUDSURIHVVRUHVHˉFDP horas a explicar.

Nós já percebemos tudo — e eles ainda explicam. Nós já saímos da sala — e ainda os ouvimos a explicar. Nada a fazer, adulto é assim mesmo.

E a partir dessa noite, mesmo que eu não perguntasse «o quê?», assim que alguém lá de casa dizia uma frase mais estranha, aproveitava logo para me dar uma lição.

Aqui para nós, que eles não me ouvem, confesso: às vezes até tinham graça… E sempre servia para eu me armar em bom com a setôra de Português, que está sempre a dizer que eu tenho falta de leituras…

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Não perceber patavina

Os meus pais gostam sempre de assistir ao telejornal. Não sei que graça é que lhe acham, mas pronto.

Mas naquela noite o meu pai parecia não estar a achar graça nenhuma. Levantou-se do sofá e, meio aborrecido, disse:

— Vou-me embora, que não estou a perceber patavina… — Não estás a perceber o quê?! — exclamei eu.

Então ele voltou a sentar-se e explicou: — Há muitos anos…

— No tempo dos dinossáurios, pai? — Não, no tempo dos Romanos.

(Cá para mim, dinossáurios ou Romanos é quase DPHVPDFRLVDȨ 

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— …a cidade de Pádua…

— Onde morreu Santo António! — disse logo a Avó Helena, que tem estátuas do santo pelo quarto todo, para ver se a minha tia se casa. Parece que o santo é muito casamenteiro…

— Não complique, mãe! — disse o pai, retomando a explicação. — Dizia eu que em tempos antigos a cidade de Pádua chamava-se Patavium. E havia um grande escritor, Tito Lívio, natural dessa cidade, que foi acusado de utilizar nos seus escritos palavras que só se usavam na sua terra e que as pessoas, em Roma, não entendiam. «Patavinadas», diziam eles. Ou seja: palavras de Patavia. E daí nasceu a expressão «não perceber patavina».

E logo a minha mãe:

— Posso agora eu acrescentar qualquer coisa? A minha história não mete o Tito Lívio, mas acho que também é verdadeira: sempre ouvi dizer que a expressão

tinha cá nascido, na Idade Média, quando começaram a chegar a Portugal muitos frades vindos de Pádua. As pessoas ouviam-nos e não entendiam nada. Daí o «não perceber patavina». Ou seja, não entender os patavinos.

— Digamos que estarão as duas certas — disse o meu pai. Fez-se silêncio.

— Percebeste? — perguntou a minha mãe. Acenei com a cabeça e fui para o quarto.

Mas ainda ouvi o meu pai murmurar: «tenho a impressão de que não percebeu patavina...», antes de regressar ao telejornal.

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Tirar o pai da forca

— Alguém sabe se aconteceu alguma coisa à vizinha de cima? — perguntou a minha mãe. — Eu ia a sair de casa e ela passou por mim na escada numa tal correria que parecia que ia tirar o pai da forca!

Abri os olhos, assustado.

— O pai da D. Augusta vai ser enforcado?

— Estou farta de dizer que esta criança anda a ver televisão a mais… — disse a Avó Helena.

A minha mãe encolheu os ombros e disse:

— Não, acalma-te que hoje já ninguém é enforcado! Dizemos «aquele vai tirar o pai da forca» quando alguém passa por nós em grande correria. E isso tem que ver com uma história que se conta…

— …de Santo António! — disse logo o pai, rindo.

— Exatamente — disse a mãe, que continuou. — Conta-se que no tempo em que ele vivia em Pádua…

— Que então se chamava Patávia! — exclamei eu logo, para mostrar que tinha aprendido alguma coisa.

— Muito bem! Pois então foi em Pádua que um dia Santo António sentiu que alguém o chamava de Lisboa.

— Que alguém o chamava, como? Nessa altura não havia telemóveis, pois não? Todos se riram.

Detesto que se riam de mim.

— Nem telefones, nem telegramas — acrescentou a mãe.

— Sentiu… — disse o pai. — Nunca ouviste a tua avó Sara dizer «tive um pressentimento»?

É assim qualquer coisa que se sente e não se consegue explicar.

— E Santo António — continuou a mãe — sentiu que o pai corria grande perigo HP/LVERD(QW¥RHQˉRXRFDSX]QDFDEH©DHVHQWRXVHDXPFDQWRDPHGLWDU E de repente, no meio da meditação, viu-se na cidade de Lisboa, onde o pai ia ser enforcado por ter sido acusado injustamente de ter matado um homem. Conta-se que então Santo António conseguiu o milagre de ressuscitar

o homem, que contou a verdade, e o pai de Santo António foi libertado. E logo nessa altura Santo António viu-se de novo a um canto da igreja de Pádua, como se nunca de lá tivesse saído. As pessoas da terra juraram mesmo

que ele nem se tinha mexido daquele lugar, e passara o dia todo embrulhado no seu hábito, em meditação.

— Milagre do santo… — murmurou a Avó Helena.

Pelo sim pelo não, ao sair da sala, ainda fui até à escada, ver se por acaso a D. Augusta não estaria lá num canto, a meditar…

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Com sete pedras na mão

O que a vizinha Augusta tinha de tão urgente a fazer, nunca ninguém soube. — Não sou de me meter na vida dos outros — disse a minha mãe —, mas desde esse dia em que passou por mim a correr, nunca mais foi a mesma. E fala a todos os vizinhos com sete pedras na mão!

Ȟ(WDPE«PWHPˉVJD"— perguntei logo. — E será que ela sabe atirar as SHGUDVFRPDˉVJD"

— Ainda não chegámos a tanto! — disse a mãe, a rir.

— Tu é que disseste que ela andava com sete pedras na mão… Pode ser um perigo…

Ȟ$LLVVRSRGH0HVPRVHPˉVJD

Desta vez foi o meu pai que, largando o jornal, explicou tudo:

— Usamos a expressão «com sete pedras na mão» quando queremos dizer que alguém nos fala mal, com um ar superior, ou de forma agressiva. E isso tem que ver…

— …com o Santo António! — exclamei.

— Não, desta vez não. Desta vez, a história passa-se num tempo muito antigo, muito antes do Santo António…

— Antes dos dinossáurios?

— Não, passa-se um pouco depois dos dinossáurios… — Com os Romanos?

— Boa! Estás a aprender umas coisas! — exclamou o meu pai. — Pois nesse tempo, quando Jesus Cristo andava na terra, castigavam-se as mulheres pecadoras…

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— E que pecados eram os delas?

— Depois a tua mãe explica-te os pormenores… Mas, dizia eu, nesse tempo castigavam-se as mulheres atirando-lhes pedras. Enchiam-se as mãos de pedras e era ver quem atirava mais.

— Se lesses a Bíblia — murmurou então a Avó Helena, que está sempre a dizer à minha mãe que me devia pôr na catequese —, lembravas-te da história que lá vem de uma mulher que estava a ser assim castigada e que foi salva por Jesus Cristo.

— Pois. E dizem que é daí que vem a expressão «com sete pedras na mão», DTXHUHUVLJQLˉFDUDJUHVVLYLGDGHPDXVPRGRV

Passados uns segundos, o meu pai rematou:

— Mas isto é só o que a tradição diz... Não há certezas nenhumas. — Mas pelo sim pelo não — disse eu —, o melhor é não passarmos perto da D. Augusta nestes dias mais próximos…

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Andar à nora

Ontem, a minha mãe, atirando para cima da mesa toda a papelada que trouxera da empresa, exclamou:

— Já li e reli estes documentos e vou sempre dar ao mesmo. Estou completamente à nora… — Tu não estás à nora, tu és nora! — exclamei eu, certo de estar DOLDID]HUERDˉJXUD

— A Avó Sara é sempre assim que te chama. A minha nora… Mais uma vez, todos se riram de mim.

— Claro que sou nora, sou casada FRPRˉOKRGHOD0DVDSDODYUD WHPRXWURVLJQLˉFDGR

— E não tem nada a ver com as noras da família! — acrescentou imediatamente o meu pai,

não fosse ainda sobrar para a mãe dele.

Parece que às vezes a relação entre as noras e as sogras não é lá muito boa…

— Chama-se «nora» — explicou então a minha mãe — a um mecanismo que antigamente se usava para tirar a água

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dos poços. Era uma roda de ferro, com pequenos reservatórios chamados alcatruzes, que desciam ao fundo

do poço vazios e subiam cheios de água. E a roda andava sempre… a rodar.

É por isso que «andar à nora» quer dizer andar sempre à roda do mesmo assunto. — Mas claro – repetiu o meu pai —, não tem nada a ver com as noras e as sogras…

— Claro — disse eu.

$KLVWµULDˉFRXSRUD¯HDPLQKDP¥H — que remédio … — lá voltou à papelada.

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Ouvidos de mercador

— Ó pai, o que é um mercador? O meu pai olhou para mim com aquele ar de espanto com que ˉFDVHPSUHTXHXPDGYHUV£ULRPHWHJRORQDEDOL]DGR%HQˉFD — Tu não sabes o que é um mercador?! — Ó rapaz! — exclamou a Avó Helena. — Não te lembras daquelas histórias que eu te contava quando eras mais pequenino e em que entravam sempre reis e princesas e mercadores? Os mercadores eram os homens que andavam de terra em terra a vender os seus produtos, a sua mercadoria... — E tinham ouvidos diferentes do resto das pessoas? — perguntei.

De novo o mesmo olhar na cara do meu pai. — Já percebi tudo… — murmurou a minha mãe. — Alguém deve ter falado ao pé de ti de «ouvidos de mercador». — O pai do Afonso.

Quando esta tarde o foi buscar à escola,

Referências

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