UNIVERSIDADE
`FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
SÓCIO
ECONOMICO
“I =
_DEPARTA|vlENTo
DE
sERv|Ço sociAL
.Ã Q , I 2' r ".. 4" _
ÀD_oLEsc.ÊNc|ÍA
ETRABALHO
''OF1FICE-BOYS/GIRLS
NO
IPESC.` ' ~P
›‹›rDSS
Efiprovadø ` WII -`.0STnQM,
liápto. de Sorinw Sflll css-urso‹ Trabalho de conclusão do curso,
apresentado ao Departamento de Serviço
“Social da Universidade Federal de Santa
ff.-Catarina para obtenção do título de
' '
lAssistente Social pela Acadêmica
Glaucimir Maria Hell Spinello
O U
Dedico
esse trabalho,
as
minhas
netas,
Mariana,
Vanessa
e
Clarissa
A
elas
o
meu
amor,
e
“ln
Memorian”
O
amor
é
eterno.É
a forçaque
nos
impulsiona'
nas
lutasda
vida.É
o
eloque
nos
mantém
unidosàqueles
que
já partiram.Para
meu
paiUrbano
Hei/e
para
meu
ma/idoAmadeu
A. Spinelloque
jánão
estãomais
entre nós,todo
meu
amor
e
a certezaque
a distância
não
rompeu
o
eloC z» r , - › ¡
Agradecimentos
.J _ x . . ‹.Esse
trabalho representao
fim
de
uma
jomada.
Não
foi fácilchegar
atéaqui. Muita luta, muitos sacrifícios
e
muitas alegrias,permearam
essa caminhada,
mas
também
uma
certeza,não
estava sozinha.i _»
II 1
rs
Quero
agradecerde
coraçao: "1
›-»
-
A
minha mãe,
irmãs, irmãoe
cunhado, pelo carinhoe
pela confiançaz'
-
-
Aos
meus
filhos e noras, pela ajuda, pelo apoio, pelo amor,.
Á `
-
Aos
professores pela dedicação; `Í
-
Aos
office-boys/girlse
ao
IPESC
pela oportunidade;-
As
colegasde
curso pela amizade;-
E
a todos,que
de
uma
forma
ou de
outra contribuiram paraque
esteLISTA
DE TABELAS
... ..Introdução
... ..I -
A
Geração
Adolescente:
Suas
Significaçõesna
Realidade
Atuale
No
Mundo
do
Trabalho
... _.1.1 -
Considerações e Aspectos
Pertinentesda
.Condição Adolescente.. ..1.1.1 - Adolescência ... ..
1.2 -
A
Inserçãodo
Adolescenteno
Mundo
do
Trabalho ... ..1.2.1 -
O
Adolescentenas Relações e na
Divisão Socialdo
Trabalho ... ._1.3 - Adolescência
e
a Realidadede
Sua
Condição
Perante
essa
Sociedade:Um
Desafio
... _.1.3.1 -
A
Nova
Etapa: Conquistado
Estatutoda
Criança edo
Adolescentell -
O
Desenvolvimento
e
o
Relatode
Uma
Práticade
Estágio
Junto
ao
Institutode
Previdência
do
Estado
de Santa
Catarina -IPESC
... ..2.1 - Caracterização Institucional ... _.
2.3 - Identificação
do
Programa
do
Menor
Trabalhador:Suas
Atribuiçõese
Parcerias ... _.
2.3.1 -
As ONG's
em
Parcerias ... ._2.3.2 - Office-boyslgirls
no
IPESC
... ... ._2.4 -
A
PesquisaEnquanto
Instrumentode
Conhecimento das Condições
do
Programa:
em
relaçãoaos
adolescentes trabalhadorese
em
relação aInstituição ... ..
3 -
Considerações
Finais ... ..4
-Sugestões
... ..ANEXOS
... ..l - Trata
da
caracterizaçãodos
jovens trabalhadores, relacionandoidade
e
escolaridade ... ..67ll -
O
que
representao
trabalho paravocê
7 ... ..69lll -
Você
trabalha paraz., ... .... ..72lV -
Você
está satisfeitocom
o seu
trabalho ? ... ..74V
-O
que
você acha do
horáriode
trabalho serde
8 horas ? .l ... ..76Vl - Cite
o
que
você
consegue
atravésdo
seu
trabalho ... ..78VII -
O
que
gostariade
conseguircom
seu
salário e aindanão
conseguiu ?....80VIII -
Você
já exerceu outra atividade antesde
ser office-boy/girlno
IPESC
?..82lX -
Como
é
o
relacionamentodo jovem
trabalhadordo
IPESC
com
sua
família ? ... ..83X
-Como
sua
familiavê seu
trabalho ? ... ..85Xl -
O
que
o
estudo representa parao
adolescente ? ... ..87XII -
Você
acha
que
a escolatem
contribuído parao seu
crescimento pessoale
profissional ? ... ..88, w
XIII-
Como
o
jovem
se
sentesendo
estudantee
trabalhadorao
mesmo
tempo
... ..90¬XIV
-Se
pudesse
escolher: ... ..90z .
XV
-Em
termos
profissionaiso
que
você espera
dofifuturo?
... ..92XVI
-Como
você
acha
que
vai conseguirseus
objetivos?
... ..96XVII -
Quai o seu
maiorsonho ?
... .., ... ..`....97XVIII
-Que
tipode
contribuição oPrgrama
Menor
Trabathadordeu
para
você
?
... ..'...99V
O
modelo econômico adotado
em
nosso
pais gera desigualdade. caracterizauma
época onde
milhõesde
pessoas
lutam pormelhores
condiçõesde
vidae
muitas
vezes
não
conseguem
o
necessário para asua
sobrevivência.Tal problemática leva pais
ou
responsáveiscada vez mais_a
realizarematividades laborativas integrais
e
a lançaremmão
de
seus
filhosna
estratégiade
sobrevivência familiar.
O
adolescenteé precocemente
incorporadoao
mercado de
trabalho.Até
que
pontoesse
processode
adultizaçãopode
ajudá-loou
prejudicá-loem
seu
desenvolvimento escolar,nas
relações familiarese
sociais,no seu
desenvolvimento físico? r
Desde que
começamos
atomar
parteno Programa
de
Acompanhamento
ao
Menor
Trabalhadorno IPESC, nos
vem uma
pergunta:o
que
é, serum
adolescente
e
trabalhadorao
mesmo
tempo?
. ._
Essa preocupação
levou a elaboraresse
estudo,envolvendo os
jovenstrabalhadores
da
instituição. Atravésde
uma
pesquisade
campo
procuramos
compreender,
questionare
resgatar atravésda
falade
boys/girls asua
visão sobreo
trabalho,sua
experiênciaenquanto
trabalhadornum
espaço
institucionale
a
contribuição
que
o programa
trouxe para eles.10
No
primeiro capítuloapresentamos
tópicosque
estão diretamentevinculados a adolescência,
ao
trabalho,a
realidade socialde
nossos
adolescentese a
importânciado
Estatutoda
Criançae do
Adolescente
-ECA,
na
vidados
mesmos.
No
segundo
capítulo, caracterizamos a instituição;as
ONG's
conveniadas;os
sen/içosque
prestam; a vivênciada
práticade
estágio;a
tabulaçãoe
análisedos
dados
da
pesquisa realizada juntoaos
adolescente atendidos. edas
gerênciase
diretorias.cAPíTu|_o
iA
Geração
Adolescente:
Suas
Significações,Inserção na
Realidade
Atual
e
no
Mundo
do
Trabalho.1.1 -
Considerações
e
Aspectos
Pertinentesda Condição
Adolescente.
É
cada vez
maioro
número de
adolescente incorporadosao
mercado de
trabalho. .
É
cada vez
maioro
número
de
familias vulnerabilizadas pela pobreza,desestruturadas
que
recorremao
trabalhode
seus
filhos paraaumentar a
rendafamiliar.
O
modelo
socialadotado
em
nosso
Paísé
excludente.Gera
desigualdadessociais
com
concentraçãode
riquezanas
mãos
de
uma
elite privilegiadae
uma
enorme
parcelada
populaçãona
mais absoluta miséria.Convivemos
com
gravesproblemas
de
sub-alimentação, salários reduzidos,carência
médica
hospitalar, dificuldadesde
formação
profissional, etc.Os
efeitosdessa
realidadese
fazem
sentir “na vida”dos
adolescentes. Esta realidadel 12
Com
vistasao nosso
objetode
reflexäoprocuraremos
primeiramente definiro
que
é
adolescência.Em
seguida oque
o
trabalho representa parao
ser'humano
e mais especificamente
parao
adolescentee finalmente
a realidade socialde
nossos
adolescentes. .~
1.1.1 -
Aoo|.EscÊNc|A
“Etmológicamente a palavra adolescente
vem
o verbo latino adolecere, que significacrescer ou desenvolver-se até a maturidade”.(ROSA, 1.986, p. 43)
“Cronologicamente, segundo CAP. I, Art. 2°, do Estatuto da Criança e do Adolescente,
considera-se adolescente a pessoa que estiver entre doze e dezoito anos de idade”.
_ “Sociologicamente, segundo Merval Rosa, adolescência seria o período de transição
em
que o indivíduo passa do estado de dependência para
uma
condição de autonomia assumindodeterminadas funções características do
mundo
adulto".“Psicologicamente, ainda segundo Merval Rosa, é o período crítico de definição da
identidade do eu cujas repercussões podem ser de graves conseqüências para o indivíduo e para
a sociedade". (ROSA, l986; p.43-45) V
A
adolescênciacomo
se vê
éum
períodode
mudanças
significativasna
vida
humana, é
um
períodode
transição.O
adolescentenão ê mais
criança,mais
também
não
é aindaum
adulto.O
jovem
encontra-sea meio caminho
entrea
infância
e a
adolescência. Precisa enfrentara
toda horaafirmações
do
tipo “vocêé
grande demais
para isso".,ou você é
pequeno
de_mais para aquilo”. Ficameio
marginalizado tanto
no
mundo
adultocomo
no
mundo
infantil. Estacondição
ambígua
tendea
gerarconfusäopara o
jovem que
não sabe exatamente o
papelintelectualmente
é
nessa
faseque
elecomeça
a contestaro
sistemade
valores
a
que
foisubmetido
até então,e aos
quaisse
submeteu
quase
que
'deforma
automática.Agora no
entantoo
adolescente estáem
busca de
algo novo,algo
que
lhe seja próprio, algo pelo qual elepossa assumir
responsabilidadepessoal.
A
criança, amedida
que
cresce precisaafirmar seu
ego
e
criarsua
própriaidentidade, diferenciar-se
de
seus
pais. W _Dai,
Segundo
MervalROSa
“as lutas por que passa o ser humano nessa fase de suavida no sentido de definir seu próprio sistema de valores, seus próprios padrões de
comportamento”. (ROSA, 1.986, P. 44) .
Cabe
aquitambém
salientar , ainda referente abusca
pela identidade,a
lutaque
o
jovem
precisa enfrentar contraas
ideologias,que segundo
a teoriado
psicanalista Erik Erikson, influenciam
na formação da
identidadedo
adolescente.Mas, o
que entendemos
por ideologia?ideologia seria
o
processo pelo qualas
idéiasda
classedominante se
universalizam, para
que o
domínio se faça tantono
plano material, quantono
planodas
idéias.A
classedominante
utiliza-sedas
instituições sociais (família, escola,meios
de
comunicação,
etc.) para propagaressas
idéiase
enraizá-iascada
vez
14
A
ideologiaé
poisuma
força invisível, ela formulao
únicomodo
de
vidasocialmente possivel estabelecido pelo
poder
dominante.São
os
interessesdessa
classe
que
precisam ser preservados. VAs
instituições sociais tentam amanutenção
do
sistema ideológicodo
qualfazem
parte, valorizandoo
que
está estabelecido, tentando forçaro
jovem
areproduzir
os padrões de
vida vigente.Os
que
não
aceitamde
forma
passivaas
normas
ditadas,são
considerados problemas, taxados pela sociedadecomo
jovens
em
crise, desajustados. 'No
entanto,sabemos que
o conflitonão é
uma
prerrogativado
adolescente.Vivemos
numa
sociedadede
contradiçõese
conflitosque
exigem
uma
constantebusca
de
resoluçãoe
de
síntese.Nossa
civilização estáembasada numa
sistemarígido
e
pouco
flexível,que
representa emantém
os
interessesda
classedominante.
Se
é
dificil parao
adulto vivernum
mundo
de
crisee mutação
onde
novos
valoresconvivem
com
valores arcaicose
ultrapassados,é
muitomais
difícilainda para
o
adolescente. Elese
sente perdidoem
meio a
tanta contradição.Mesmo
assim
precisa lutar, precisa encontrarsua
identidade.Não
aceitamais
a
posição
de
“Objeto Submisso”,acomodado
e
manipulado.Quer
ser sujeito ativo.Acha-se
em
condiçãode
reinterpretaro
Universoem
que
vive,passando
de
simples
consumidor
para criador.Existe pois
um
conflito ideológico,e
é através deste conflitoque
o
adolescente
aprende
a diferença complexa, sutile
preciosa entre elemesmo
e o
seu meio
ambiente.Dessa
maneira o
homem
e a sociedadese
renovam.Se
não
que é
a adolescência, provavelmente tudo tenderiaa se
reproduzirsempre
igual,de forma
alienada..
Porém,
parao
mundo
adulto,essa
atitudedo
adolescente representauma
ameaça. Geralmente os
pais sedesesperam
com
o
comportamento dos
filhos.Não
conseguem
entender.A
família praticamente entraem
crise.Segundo
DanielBecker a
famosa
frase: “Os fiinos de hoje já não respeitam mais ospais como antigamente". Pode ser encontrada
em
escritos de 4.000 anos atrás. (BECKER, 1.991)Como
sepode
ver a “criseda
adolescência"não é
coisa nova.Sempre
existiu
e
vai existir.Acreditamos
até, sero meio
que
a
natureza utiliza para forçaro
homem
a
mudar,a
evoluir.Mas
averdade é
que
ela existee se quisermos
superá-la, se
quisermos
pelomenos
tentarcompreender nossos
adolescentes,precisamos
olhá-los por
uma
perspectivamais ampla
que
incluanão só as
transformaçõesbiológicas
e
psicológicas,de
importância fundamental,mas também
o
contextosócio-econômico, cultural
e
históricono
qual ele está inserido.A
maioriados
psicólogose
psicanalistas, entre eles Erik Erikson,Anna
Freud, Merval Rosa,
definem
a
adolescênciacomo uma
fasede
conflitos.Uma
fase difícil para a maioria
dos
adolescentes.Cabe
aqui salientarque
existemjovens
que
passam
pela adolescênciae
chegam
a
idade adultasem
qualquerconflito.
Mas
isto,não
é,no
entanto regra geral.Para
J. Mc. Hunt.e
M.Deutsch
principais divulgadoresda
teoriada
16
mais
difícil paraos
jovensda
classe popular pela privação cultural sofridanos seus
primeiros
anos de
vida.Esclarecemos
que
por classe popularentendemos
todosos
setores ditosde
“baixo renda”
de
uma
sociedade complexa.Antes de
continuarmosvamos
abrirum
parêntese paraconhecermos
um
pouco da
teoriada
Privação Cultural.'
i
lncluímos esta teoria
em
nosso
trabalho, pois acreditamosque
através delaencontraremos algumas
respostas para tãopropagada
“criseda
adolescência”e
principalmente a “delinqüência infanto-juvenil”
que
atingeas
classes popularesde
nosso
Pais.O
conceitoda
privação' cultural, apoia-sena
teoria neurofisiológicade
D.Hebb,
que
a partirde
estudoscom
animais situados“em
diversos níveis'da
escalafilogenética”,
chegou
a conclusãode que
as experiências iniciaissão
de
importância central para
capacidade
intelectualque o organismo
manifestarámais
tarde. Esta visão
da
“importânciadasprimeiras
experiências”, desenvolvidaem
1.949, foi ressuscitada
e
estendidaao
desenvolvimentode
sereshumanos
sendo
divulgada
no
inicioda
década de
60 sob o
rótulode
“Privação Cultural" .(COSTA,
1.987). g
Os
dois textosque
serão transcritos a seguir foram tiradosdas
obrasde
Hunt e Deutsch e
vão nos
esclarecer melhor oque
elesentendem
por “Privação Cultural”.“Embora ainda saibamos muito pouco sobre o desenvolvimento intelectual, para
fazer qualquer afirmação com grande segurança, é pouco provável que a maioria dos
bebês que pertencem a familia de baixo status sócio-econômico sofra
uma
grandeprivação durante o primeiro ano de vida.
Uma
vez queum
dos aspectos maiscaracterísticos da pobreza é a aglomeração, é concebível que
um
bebê tenha realmentea possibilidade de encontrar maior variedade de estímulos visuais e auditivos
em
condições de pobreza do que na maioria dos lares de classe média ou alta. lsto facilitaria
desenvolvimento intelectual do bebê durante seu primeiro ano de vida.
Durante o segundo ano de vida, entretanto, as condições de vida na aglomeração
provavelmente impedirãoe desenvolvimento.
A
medida que a criança pequena começa ase locomover por iniciativa própria, a manipular coisas e atirar objetos, muito
provavelmente entrará no caminho de adultos que já estão predispostos ao
mau
humordevido às sua próprias preocupações e frustrações. (...)
Em
tal atmosfera, asoportunidades de
uma
criança executar atividades necessárias ao seu desenvolvimentolocomotor e de manipulação são quase que inevitavelmente contidas de maneira
drástica. Além disso, durante o final do segundo e o início do terceiro ano de vida, após
ter desenvolvido algumas pseudopalavras e aprendido que “as coisas tem nome”, a
criança que vive numa família numerosa, afetada pela pobreza, provavelmente se
defronta
com
outros obstáculos: suas perguntas muito raramente obtém respostasadequadas e muito freqüentemente são punidos, o que inibe perguntas posteriores.
Assim as condições, que inicialmente forneciam -uma variedade rica de entradas
sensoriais para o bebê, agora fornecem
uma
escassez de brinquedos e de modelos paraimitação.
Os
efeitos deum
ambiente de classe baixa sobre o desenvolvimento infantilpodem
tornar-se ainda mais sérios durante o quarto e o quinto anos de vida. Além dissoquanto mais essas condições se fizerem presentes, maior a possibilidade de seus efeitos
serem duradouros. (Hunt, 1.975, p. 24-25; originalmente 1.964. in Sujeito e Cotidiano,
p.21) _
...seria útil delinear algumas das caracteristicas principais da vida na favela
urbana. Geograficamente, há habitações superpovoadas e dilapidadas, completamente
diferentes da imagem que a
TV
forma a respeito de como o povo vive. Quer sejamnegros, ...brancos, estas pessoas vivem
numa
comunidade segregada. Muitoprovavelmente haverá apartamentos superpovoados, altos índices de desemprego,
crônica insegurança econômica,
um
número desproporcional de lares desfeitos e(particularmente no caso dos negros) a exposição continua ã difamação e ao ostracismo
social
em
vários graus.O
nível educacional dos adultos é relativamente limitado. Noslares, é provável que haja
uma
quase total ausência de livros, relativamente poucosbrinquedos e,
em
muitos casos, nada mais do que alguns poucos objetos caseiroscomuns que podem ser transformados
em
brinquedos (...).O
resultado éum
padrão devida que expõe a criança a
um
mínimo de contato direto com os canais principais denossa cultura. As condições de desigualdade social, a falta de
uma
estrutura acessívelde oportunidades e a ausência freqüente de modelos masculinos adultos bem-sucedidos
criam
uma
atmosfera que não facilita o desenvolvimento individual. Além dos problemasda vida cotidiana, particularmente a insegurança econômica e o número excessivo de
filhos fazem
com
que os adultos disponham de muito pouco tempo para estarempresentes e darem assistência à criança na exploração do mundo, para recompensa-la
pelo completamento
bem
sucedido de tarefas e para ajudá-Ia no desenvolvimento deum
18
práticas da marginalidade econômica resultam no pai que mantém dois empregos e tem
pouco tempo para interagir com o filho. Através de vários estudos, verificamos que as
crianças que vivem nestas circunstâncias tem número relativamente pequeno de
atividades familiares compartilhadas e planejadas, o que também resulta
num
estreitamento de experiência”.
(Deutsch, 1.975 in Sujeito e Cotidiano)
Na
leiturados
textosacima
podemos
percebercom
bastante clarezao
que
os autores classificam
como
privação cultural._
Como
“obstáculo”
ao
desenvolvimento“adequado” da
criança, eles citam:aglomeração, predisposição
dos
adultosao
mau
humor, ausênciade
respostasadequadas
as
perguntas infantis, puniçãodas
perguntas,escassez
de
brinquedose de modelo
de
imitação. Salientam aindao
nível cultural limitadodos
pais.A
privação cultural sofrida por estas famílias trás
como
conseqüência
a incapacidadedas
mesmas
de
produzirum
ambiente
estávele
estimulador parabem
cumpriras
tarefas
de
socializaçãode
seus
filhos.Todos
sabemos
da
importânciada
familiae
do
meio ambiente na
estruturação
das
primeiras experiências.São
essenciais paraum
bom
desenvolvimento biológico, psicológico
e
intelectualdo
serhumano.
Sabemos
também
dos
problemas,das
privações sofridas pelos jovensda
classe populardurante
seus
primeirosanos
de
vida.Essas
privaçõesnão são
só materiais,mais
também
culturais,e
isto,como podemos
constatar,a
realidade está aí paracomprovar,
marca-os
parao
restode
suas
vidas, diminuindo-lhesas
oportunidades. i
O.
jovem da
classemais
pobrechega
a adolescênciacom
grandes
“atravessa-a
com
muita dificuldade, freqüentemente sem podernem
sequer pensarem
, conflitos familiares, sexuais ou mudanças no corpo, pois tem necessidades básicas mais
prementes a serem resolvidas, como conseguir roupa e comida; e suas perspectivas e
opções para o futuro são limitadas. É
bom
lembrar que no Brasil a grande maioria dosadolescentes encontra-se nesta situação”. (BECKER, 1.991). Í
A
descrição feita porBecker
representa a realidadedos
adolescentesbrasileiros.
A
faltade
perspectivase opções fazem
com
que
nossos
jovensvivam
em
condições precáriasou
mesmo
sub-humanas. Por necessidade
precisamtrabalhar.
Começa
para eleso
fim
da
adolescência.O
jovem
prematuramente,devido
as
circunstâncias sociais, entra parao
mercado
de
trabalhoe
começa
seu
treinamento profissional.
Não
importa para a sociedadese
ele está pronto,se
eleencontrou
sua
identidade,seu
referencial.Segundo
Merval Rosa,o
trabalhocontribui para a adultização precoce
do
adolescente.Uma
faseda
vidaé
interrompida
de
formanão
naturale
elepassa a
sermais
um
trabalhador.1.2 -
A
Inserção
do
Adolescente
no
Mundo
do
Trabalho
NO
dizerde
Engels, ..."o único fato histórico que existe é que ohomem
precisasobreviver” .(Wanderley Codo, 1.998, p. 140)
Para
sobrevivero
homem
trabalha.O
trabalhoenquanto
modo
de produção
de
sua
própria existência exigiudo
homem
a convivênciaem
grupos,e
a
sobrevivência
do
homem
passa
adepender não de sua ação ou de seu
trabalhomesmo,
mas
simdo
trabalho social,e
por outro lado,sua ação
deixade
ser20
O
homem
para sobrevivervende
sua
forçade
trabalho. Destaforma o
trabalho
passa a
seruma
mercadoria.Mas
o trabalhonão é
apenas
uma
mercadoria.
É
a
única mercadoriacapaz
de
produzir excedentes, por sero
únicovalor
de uso capaz
de
criar valor.Consumir
trabalhoé
criar trabalho(O
Capital,Cap. III).
“trata-se do único elo na cadeia de gerar mercadorias que pode ser explorado para gerar
mais-valia (maior valor), pois o trabalho é vendido como qualquer mercadoria, pelo preço
de custo de sua produção (preço do sustento do trabalhador e sua família, produção e
reprodução da força de trabalho)". (CODO, 1.989, p. 145)
Marx
diziaque
o trabalhoem
nosso
modo
de produção
atualé
um
trabalhoalienado
e
explorado. Alienado, tendoem
vistaque
o
trabalhadornão
domina o
processo
de
produção
e exploradono
sentidode
que
seu
papel éo de
produzirriqueza para o outro, e, ato contínuo,
sua
própria miséria.A
,exploraçãoé
poisuma
realidade
que
não
pode
ser negada. Existeno
trabalhodo
adultoe é
muitomais
acentuado no
trabalho adolescente. ›1.2.1 -
O
Adolescente
nas Relações
e na
Divisão Socialdo
Trabalho.Em
nosso
-País, milhõesde
brasileirinhos trabalham. Estão por toda parte,no campo, nas
cidades,exercendo
asmais
variadas atividades."Trabalham como se fossem exército de formigas, invisíveis para a sociedade, Estado,
Seu
trabalho é rentável para muitos adultos desavisados,só não
é
rentávelpara ele próprio. Estas crianças
e
jovensvêm-se
privadosda
escola,do
lazer,da
formação
profissional,da
possibilidadede
serem
cidadãos deste Pais, restandopara eles
somente
o
trabalhocomo
possibilidadede
garantiada
cidadania,prevenir _o ócio
e supostamente
garantiro
aumento
da
renda familiar.O
Brasil entrana
década
de 90
com
uma
população
de
aproximadamente
l50 milhões
de
habitantes distribuídosde
forma
desigual entre26 Estados
eo
Distrito Federal. ~
H
O
problema
que
o
Pais enfrenta,de
crises cíclicasem
sua
conjuntura,acompanhadas
de
recessão,desemprego e
achatamento
salarial,fazem
com
que
os grandes
centrosurbanos
esgotem
asua capacidade
de
oferecer os serviçosbásicos
à
população.Embora
o
Brasil tenha investido pertode
20%
do seu
PIBcom
programas
sociais,
o
gasto socialnão
alcançaUS$
500
per capita anuais.Uma
cifrabem
inferior
a dos
paísesdo
1°mundo
que
fica
entreUS$
3.000e
US$
4.000,00dólares. (Santos, l992, p.11).
ç
'
A
evolução estruturaldo
trabalhode
criançase
jovenstem
como
fatordeterminante
os
processos politico,econômico e
sociaisde
um
Pais.O
modelo econômico
brasileiro, é excludente.Gera
desigualdadese
impede
a
criaçãode
mecanismos que
revertamo
processode
concentraçãoda
rendae
da
propriedade. ~
Segundo
Pereira:"A pobreza, persistente na história da humanidade, leva os adultos a lançarem
22
“A pobreza, persistente na história da humanidade, leva os adultos a lançarem
mão
de seus filhos nas estratégias de sobrevivência do grupo familiar.O
mercado de trabalho oferece espaços e até incentiva a incorporação dessamão-de-obra.” (Pereira, 1994, p. 9)
Ainda,
de
acordocom
Pereira,a Pesquisa
Nacional porAmostragem de
Domicílio -
PNAD,
demostrou
que
em
l990 - 58,2%
das
criançase
adolescentesbrasileiros, viviam
em
famílias, cujas rendamensal
per cápita,não
ultrapassava '/zsalário mínimo. Isso corresponde a
32
milhõesde
pessoas
que
viviamsem
condições de, só
com
seu
salário, adquirirbens
e
serviços necessáriosa
sobrevivência familiar.
'
Os
efeitosdessa
situaçãose
fazem
sentirna
vidade
criançase
adolescentes,
que
sevêem
privadosde
seus
direitos básicos (saúde,educação,
habitação)
e na
inserção precocedos
mesmos
no
mercado de
trabalho.'
Historicamente
o
trabalhosempre
fez parteda
vidade
criançase
adolescentes. Tal fato
pode
serobservado nos
diversosmodos
de
produção,independente
do
graudo
capitalismoe do
avanço
científico e tecnológico. -Segundo
Pereira,o
Instituto Brasileirode
Geografia
e
Estatística -IBGE,
registrou
em
l990,que
7 milhõese meio
de
criançase
adolescentesna
faixa etáriade
10 a I7anos
trabalhavam .Esse dado assume
proporções substantivasse
considerarmos
que
a Constituiçãonão
permiteo
trabalho antesdos
14anos
de
idade.
A
legislaçãoda
infância - Estatutoda
Criançae
do
Adolescente -ECA
(LeiFederal n° 8069/90)
também
proíbe qualquer trabalhoa
menores de
14anos de
bolsa-aprendizagem).
acima
desse
limite sóé
permitido atividadesque
não sejam
insalubres, perigosas
ou
penosas.A
própriaconvenção,
n.°138
da
Organização
Internacionaldo
Trabalho(OIT)
recomenda que
o
ingressono
mercado de
trabalhonão deve
ser antesde
cessada
a obrigatoriedadeescolar.No
Brasilessa
obrigatoriedadecorresponde
aos O8 anos da educação
básica.4
No
entanto, indicadores revelamque
a
década de
90
começou
com
4
milhões
de
criançasem
idade escolar for'adas
salasde
aula.É
sabidoque
crianças
e
adolescentes estão forado
mundo
da
escola,ao
mesmo
tempo
em
que
estão
no
mundo
do
trabalho.O
trabalho infantil correspondeem
primeiro lugar a exigênciasde
satisfaçãodas necessidades
básicasdas
famílias. .Segundo
Santos, a famíliaé
um
espaço
social concreto atravésdo
qualos
diferentes setores sociais
conseguem
sua
sobrevivênciae
reprodução.Para
enfrentar
os
desafios
sócio-político-culturais, a famíliaassume
formas
concretasde
organização, expressa através
de
uma
unidade cotidianade
práticase
representações
que define
e
integra'os
diferentes papéisde cada
componente
familiar. (Santos, 1992, p.20)
Nessa
perspectiva,o
fatode
uma
criança trabalhar vaidepender da
posiçãoque
elaocupa
na
estrutura familiar,da
posiçãoque
a
famíliaocupa
na estruturasocial
e
das
condiçõesdo
mercado
de
trabalho.De
acordocom
pesquisas realizadas, a incorporaçãoda
criançae
do
adolescente
no
mercado de
trabalho está vinculada a dois fatoresde
atração: a24
Estudos
realizadosnessa
áreaapontam
o
graude
informalidadeno
Brasil,como
sendo
o
principal facilitadordo trabalho infantil.Vale lembrar
também
que
o
trabalho infanto-juvenilalem
de
ser altamentelucrativo para
o
mercado, ainda trásvantagens de
ordem
comportamental.Sabe-
se
que
esse
segmento
da
classe trabalhadora,apesar
dos seus
baixíssimos níveisde
remuneração, não
reivindica salários maiores,não se
organizae
não
faz greve.Essa
“incapacidade”, é realimentada pelasociedade
atravésde
suas
instituições,que
estabelecem
que
o
jovem
trabalhadoré
um
agente socialcom
muitasobrigações
e poucos
direitos.O
único direitoque
a sociedade lhesconcede
livremente,
é o
de
trabalhar._
A
maioriadas
criançase
adolescentes brasileirosdas
camadas
popularesdesenvolvem
atividadesno
mercado
informal.Nos
centros urbanos trabalhamcomo:
engraxates,guardadores
e lavadoresde
carros,empacotadores
em
supermercados, vendedores
ambulantes, etc.Só
no
Riode
Janeiro,segundo
o
que
foi divulgado pelo Jornal Nacional,da
Rede
Globo,
em
18.02.1995,mais
de
3.000 criançase
adolescentes trabalhamcomo
vendedores
ambulantes.São
jovensque perambulam
pelas ruasconvivendo
com
o
perigoe
com
a criminalidade.Estes jovens
também
estão presentesnos
sen/içosde
limpeza,nos
trabalhos domiciliares,
nos
escritórioscomo
office-boys/girlse
nos
serviçosterceirizados (industria e comercio).
Na
zona
ruralé
decisiva _a participaçãoda
criança
e do
jovem na produção
agro-industrial,nas
culturasde
cana,do
chá,do
Nestas
regiões acapacidade
produtivado jovem
chega
a ser muitasvezes
bem
maiorque
ade seus
pais.No
entanto, tanto criançasquanto
adolescentesnão
aparecem
como
contratados diretos,a
contratadaé a
unidade familiar.Os
dados do
IBGE
de
I990,mostram que
dos
72%
dos
adolescentestrabalhadores
que
possuem
vínculocom
um
empregador,
só32%
possuem
carteira assinada. (Pereira, 1994, p. 11)
Em
termos
salariais,o
IBGE
indicouque 91,1%
dos
trabalhadores infanto-juvenis (10 a 14 anos)
recebem
no
mᛋimo atéum
salário mínimo; entreos
de
15a 17 anos,
66,2%
também
estãonessa
faixa. (Pereira, 1994, p. 11)Os
dados
do
IBGE
são
de
1990.Mas,
infelizmente a realidadenão
mudou.
Segundo
o
que
foi divulgadono
Jornal Nacional,em
18.02.95,em
Franca,Estado
de
São
Paulo,mais de
4.000 criançase
adolescentes trabalhamem
fábricasde
calçados
de
fundosde
quintal.›
Trabalham
até 10 horas por dia.
Recebem menos
que
meio
saláriomínimo
.Alguns
nem
recebem
salário.Recebem
doces
como
pagamento
peloseu
trabalho.Não
têm
nenhum
direito trabalhista. Estãocom
asua
saúde
comprometida,intoxicados pelo cheiro
da
colaque
manuseiam
na execução de suas
tarefas.Essa
cola
também
produz efeitos alucinógenose
em
muitoscasos
criadependência
de
uso.
Ainda
segundo
a reportagem30%
destas criançase
jovensabandonaram
a
escola.
Dos queainda
freqüentam, ametade
foi reprovadano
ano
letivode
1994.A
realidade apresentada pelaTV
nos
enche
'de tristeza ede
vergonha.Principalmente
quando temos
certezaque
não
se tratade
um
caso
isolado,e
simde
uma
realidade nacional.Como
exemplo
podemos
citarmais 02
notícias veiculadas pelo JornalNacional:
26
I
' ›
_ Q
A
primeiraem
01.04.95, divulgouque
nas
salinasdo
RioGrande do
Norte,um
acordo
feito entreas
empresas
de
extração, estabeleceque
em
cada
20
trabalhadores adultos, 01
pode
sér criança.Porém, esse
acordonão
vem
sendo
cumprido, pois atualmente
10%
dos
trabalhadoresdas minas são
crianças.Elas trabalham 12 horas por dia.
Ganham
1/z salário minimo.Mais
da
metade, estão
com
doenças nos
olhos,provocada
pela incidência 'dos raiossolares sobre
o
sal. .A
segunda
em
15.04.95,mostrou
que
em
Tuiutaba, interiorde Minas
Gerais,20.000
crianças e adolescentesabandonaram
a escola para trabalharnas
lavourasde
algodão.Levantam as
3 horasda manhã.
Viajamde caminhão
30Km,
atéchegarem
as frentesfde trabalho.Trabalham
12 horas por dia.Cada
jovem
colheem
média
45
Kg
de
algodão por diae
recebeR$0,06
por quilo.A
maioria destascrianças
e
adolescentesnão
sabem
ler,nem
escrevere são
elasque
sustentam
a
_
_ \
familia. ~
Os
estudosde casos de
criançase
adolescentes trabalhadoresem
nosso
País, revelam
uma
situaçãode
exploração.No
caso
de
Franca, Tuiutaba e R. Gâdo
Norte,chega
a ser escravidão. lsto ocorre porque, entre outros fatores,no
níveldas
empresas
é
generalizadaa
idéiade
que
o
trabalho infantilé
complementar
ao
do
adulto,e consequentemente, sua
remuneração também.
0Uma
outra razãoé
a
de
encararesse
trabalhocomo
sendo
menos
'eficiente_ Mn '
1
0 911 ~'
do
que
o
realizado pelos adultos.É
dessa
forma,o
jovem
que
buscou
no trabalhouma
forma
de aumentar
a rendade
sua
família,não
vai conseguir complementá-la,tendo
em
vistaque
aremuneração
recebidacom
seu
trabalho muitasvezes
não
da
nem
paraseus
gastos pessoais. Vz'~
As
remunerações
obtidasem
funçãodo número de
horas trabalhadasé
outro importante indicador
que
caracterizaa
posiçãoque
criançase
adolescentesocupam
na
disputa pelomercado de
trabalho.Para o
trabalho infanto-juvenilmelhores remunerações
sóocorrem
com
um
aumento
significativono
número
de
horas trabalhadas,ou
seja,quando
a jornadade
trabalhopassa
de
40
horas porsemana.
Esta situação se
dá
com
mais
evidência justamentena
faixa etáriamais
frágil- 10 a 14 anos.
Para os
adolescentes, por outro lado,há
uma
correlaçãomais
estreita entre
o
aumento
nas
horas trabalhadascom
o
aumento
dos
rendimentos,expressando
desta forma, maiorreconhecimento
monetário pelo trabalho realizado.As
diferenças etáriasnos
perfisde
remuneração
dependem também
das
peculiaridades
de
cada
mercado.Segundo dados do
IBGE
(IN Pereira, 1994, p.20)mais
da
metade
dos
jovens trabalham
acima de
8 horas por dia,sem
receber qualquerpagamento
adicional.
Há
aindaos
que
nada ganham, ou ajudam os
paisou são
aprendizes.Cerca de
30%
dos
que
trabalham (ou seja,mais
de
2 milhõesde
meninos e
meninas)
não
chegam
aganhar
um
salário mínimo,nem
tem
carteirade
trabalhoassinada.
A
maioriadesses
jovensnão
podem
escolhero emprego,
aceitamo
que
aparecem,
pornão
teremuma
qualificação profissional.E que
acesso
tem
tidoa
formação
profissionalo
universode
adolescentes deste País,que
na sua
maioriapossuem
baixa rendae
baixa escolaridade?Na
realidadenão
existe muitaspossibilidades para
esses
jovens.Os
programas
de
profissionalização existentessob
a chancelado
Ministério28
Segundo
Pereira“Não
existemnem
mesmo
propostasde
se viabilizarprogramas
profissionalizantesque
priorizemesse
segmento”.(Pereira, 1994, p.20)Embora
a formação
profissional tenha sidosempre
vistacomo
um
“projetopara
os
pobres", foiao
longoda
históriaassumindo
contraditoriamente o caráterde
sistema
de
aperfeiçoamentoe
reciclagem, dissociadodo
sistema educacional.Mesmo
o
SENAI
que
foi criadocom
o
objetivode
oferecerprogramas
de
aprendizagem e formação
profissional, deslocou-se para cursosde
aperfeiçoamento
de
mão-de-obra
já qualificadacom
vistas a atenderas
demandas
do
mercado.
Houve
um
desvirtuamentode sua
finalidade,que
veioem
prejuizodas
“classesmenos
favorecidas”.Desta
forma,o
trabalho, para maioriados
adolescentes
com
baixa escolaridadee
socialização vai corrernas
trilhasda
desqualificação,
na
economia
formale
informal. AA
concepção
do
capital sobre o trabalhose
constrói, portanto,de
acordo
com
Pereira... “medianteum
processoque
o reduza
uma
mercadoria,a
um
objeto”.
A
representaçãodo
trabalho destaforma
vaise
igualar a ocupação,à
tarefa,
ao emprego
simplesmente.Neste
caso, perde-se adimensão
de que
o
trabalho
é
uma
relação social -que
porum
ladoé
uma
relaçãode
força,de
poder,e
de
outro:“é o que define 'o
modo
humano de existência, e que, enquantotal, não se reduz a
atividade de produção material para responder a reprodução físico-biológica (mundo da
necessidade), mas envolve as dimensões sociais, estéticas, culturais, artísticas, de lazer,
etc.” (Pereira, 1994, p.21).
Concluindo, diríamos
que
o
capitalismo,que
a
partirdo
séculopassado se
também
com
os
jovens.E
continua sendo, sobretudoem
paísescomo
o Brasil,que
une
industrializaçãomoderna
e
exploração primária.`
Milhões
de
crianças e adolescentesadoecem
e
morrem
no
Brasil, vítimasde
condições
inadequadas e
abusivasde
trabalho.Dedos
e
mãos
decepadas, corpose
saúde
comprometidos, mortes violentasprovocadas
por acidentesde
trabalho.Conforme
foi enfatizadono
início, entreas
razõesque
empurram
os
jovenspara
o
trabalho, para doença, infelicidadee
até a morte; “a pobreza”,é
certamentea
principal.A
“pobreza”é
ressaltadacomo
um
fenômeno
tãomais
preocupante
quanto mais
graves foremsuas
conseqüências. Estassão
tão graves quantomais
a sociedade
permiteque
o
bem-estardos
menores
seja sensívelao
nívelde
rendadas
famílias aque
pertencem.Preocupa não só
pela injustiça social advindada
concentração das
privações derivadasda pobreza
em um
subgrupo de
menores
mas, acima de
tudo, por caracterizá-lacomo
sendo
uma
sociedadeonde não
prevalece a igualdade
de
oportunidades.Sendo
assim chega-se a
triste conclusãoque
se o
ciclonão
for rompido,os
jovens pobresde
hoje, possivelmente,constituirão
as
unidades familiares pobresde
amanhã.
'1.3 -
Adolescência e
aRealidade
de sua condição peranteessa
Sociedade:
Um
Desafio.A
situação vividaem
nosso
Paísé
bastante peculiar.Não
fomos
devastados
por
nenhuma
guerra,não sofremos os
efeitosde
nenhum
cataclisma,nem nenhum
período revolucionário,
e no
entantoestamos mergulhados
em
uma
profunda crisesocial,
econômica e
moral, cujo preço,em
termos de
vidase
sofrimentosé
bem
maior
que
muitos conflitos bélicos.De
fato todos os indicadores sociaisdas
últimasdécadas
demonstram que
o
30
brasileira
e
principalmente para aquele setormais
vulnerável -nossas
criançase
adolescentes.
A
dimensão da
tragédia socialdessas
crianças edesses
jovens,pode
serobservado nos
rostosdos
meninos(as)jogados nas
ruasde nossa
cidade,nos
internatos - prisões,
nas
jaulasdas
delegacias,nas
prisões para meninos,nas
penitenciárias
e
prostíbulosdo
País.Não
é
preciso ser especialista para perceberque
a
sociedade brasileira estádoente.
Os
sintomas estão por toda parte.Convivemos
hojecom
altos índicesde
analfabetismos,de
mortalidadeinfantil,
de
miséria,além de
sermos
de acordo
com
Deodato
Rivera, recordistasmundiais
em
número de
meninos
mortos por violência.Matam-se
mais
adolescentes aqui,
que
nas
.demaisnações
do
planeta. Atravésdos meios
de
comunicação,
todosos
diastomamos
conhecimento das
barbaridadescometidas
contra
nossas
criançase
adolescentes.Segundo
Globo
Repórter apresentadono
dia 08/06/95,uma
pesquisa sobrea violência contra crianças e adolescentes, realizada pelo Ministério Público
de
São
Pauloe
pelaUNICEF,
revelou que: as' vítimasda
violência,em
sua
maioriasão
jovens trabalhadores,que
nunca
cometeram
crime algum.Dos
622
assassinatosde
criançase
adolescentes, ocorridosem
São
Pauloem
1991,os
pesquisadores analisaram 307,e
chegaram
a
seguinte conclusão.Sobre as
proposições:-
Os
jovens assassinadosestavam
envolvidoscom
a
criminalidade..
68%
dos
jovensnão
estavam, eles trabalhavam eestudavam;
.
26%
estavam
envolvidos;-
Os
jovens assassinados viviamnas
ruas..
95%
viviamcom
a família.-
Os
jovens assassinadoseram
usuáriosde
drogas..
só
2/3dos
jovensusavam
drogas;_
os demais não usavam.
Como
sepode
perceber,o
que
ocorreem
nossa
sociedade,é
um
genocídionão
planejado,mas
altamenteeficaz na
eliminaçãode
brasileirosa
quem
se
nega
as
condiçõesde
cidadania garantida pela CartaMagna.
»A
Constituiçãode
1988,em
seu
artigo227
“... assegura a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
o respeito, à liberdade e convivência familiar e comunitária, além de colocá-lo a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
A
Leié
clara.Mas
apesar dos
direitos constitucionais adquiridos,nossas
crianças e adolescentes
andam
por ai,à
mercê de
todosos
riscos. Riscosesses
provenientes
de
um
processo cruelde
estigmatização edegradação
social.Fala-se muito
em
preservaçãoda
natureza. Ecologistasdo
mundo
inteiroestão
preocupados
com
a devastação da
“mãe
natureza"e
a “naturezahumana”
o
32
Vemos
nossas
criançase
adolescentes destruídos,degradados
pordoenças
físicas, mentaise
sociais evitáveis.Perdemos
em
1990,segundo dados
divulgados pelo “Correio Brasileiro”,MAR.90,
400.000
crianças entre 0e
5anos de
idade, a maioria vitimada pordoenças
preveníveis. 'Um
estudoda
UNICEF
mostraque
os programas de
ajusteeconômico da
última
década
tiveramconseqüências
trágicas para milhõesde
criançasdos
paisespobres. Diz-se
nesse
documento
que: “nenhuma teoria econômica ou ideologia políticapoderá justificar,
mesmo
a titulo transitório, qualquer sacrifício sobre o desenvolvimento físico emental de milhões de crianças e adolescentes
em
crescimento”.(DEODATO
RlVERA: 1990). ~Sem
dúvida,nossa
criançase
jovensempobrecidos
estãopagando
com
suas
vidas,seu
sofrimento,seu
presentee seu
futuroos
desmandos
políticosde
nosso
País.Como
exemplo
desta realidadevamos
transcrevera
,mancheteque
o
Diário Catarinense, apresentou
no
“Diado
Trabalho”,sob o
título: Exploraçãode
menores
não tem
fiscalização. V“No Brasil, a grande preocupação são milhares de crianças de 7 a 13 anos,
exploradas
em
atividades perigosas e insalubres. Quase sempre trabalhandosem
receber remuneração ou por menos de meio salário-mínimo e sem carteira de trabalho
assinada. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o trabalho de menores de 14 anos
é proibido, a não ser nos casos de aprendizado.
Denúncia da
CONTAG
(Confederação Nacional dos Trabalhadores), na zona ruralelas atuam
em
condições desumanas, especialmente no corte de cana e colheita delaranja.
A
entidade condena o descaso do poder público.O
Ministério do Trabalhoalega sempre que não tem estrutura para acabar com a irregularidade.
Uma
pesquisa divulgada pela Confederação mostra que,em
Pernambuco, hácerca de 70 mil crianças de 7 a 13 anos trabalhando nos canaviais, a maioria
sem
carteira de trabalho.
Na
Paraíba, crianças entre 9 e 12 anos de idade trabalham na roça,em
atividades 'de risco nas lavouras, apesar dos patrões terem sido multados. -Como
Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, o trabalho irregular de menores é naprodução de carvão, com jornadas iguais as de adultos.
Nas fábricas e setores terceirizados de calçados, foram até denunciadas por
Bahia, crianças de 6 anos de idade são forçadas a trabalhar na produção do sisal e nas
pedreiras, sem qualquer segurança.
A CONTAG
apurou ainda que, no municípioparanaense de Nova Londrina, há crianças de até 5 anos trabalhando na lavoura".
(Diário Catarinense; 1°/05/1995, fls. 25).
A
realidademostrada nessa
reportagemé a
mesma
que
muitos brasileirosteimam
em
não
ver.O
textoé
claro.Nos
da
uma
dimensão
realdo
que
estáacontecendo
em
nosso
País.C
Crise, recessão,
desemprego.
Aumento
da
miséria.Degradação
físicae
moral
de
milhõesde
cidadãos.Vivemos
hojenum
climade
insegurançae
medo.
O
que
aconteceu
com
o
Brasil?Por
quemergulhamos
nesta cirandade
incompetência social? e
. .
Como
explicar isso, sesomos
possuidoresdo
5° território,da
6° população,do
11°PIB
do
mundo
e
setemos
em
nosso
subsolo riquezas imensas.Por
que
existe tanta insegurança, tanto
medo,
tanta revolta?Se
olharmos
o
mapa
econômico do
mundo vamos
vero
Brasilocupando
um
11° lugar.'Agora se
olharmos o
mapa
social: possivelmenteestaremos
em
últimolugar.
Como
explicar isso?Década
após
década
aumenta
a concentraçãode
renda
e
crescea
distância entre apequena
,elite privilegiadaque
viveno
luxo e agrande
massa
popularque
vivena
miséria.Segundo
Paulo Freire,em
seu
livro:Educação
como
práticada
Liberdade,“A renda nacional relaciona-se