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Adolescência e trabalho office-boys/girls no IPESC

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(1)

UNIVERSIDADE

`

FEDERAL DE

SANTA

CATARINA

CENTRO

SÓCIO

ECONOMICO

I =

_DEPARTA|vlENTo

DE

sERv|Ço sociAL

.

à Q , I 2' r ".. 4" _

ÀD_oLEsc.ÊNc|ÍA

ETRABALHO

'

'OF1FICE-BOYS/GIRLS

NO

IPESC.` ' ~

P

›‹›r

DSS

Efiprovadø ` WII -`.0STn

QM,

liápto. de Sorinw Sflll css-urso

‹ Trabalho de conclusão do curso,

apresentado ao Departamento de Serviço

“Social da Universidade Federal de Santa

ff.-Catarina para obtenção do título de

' '

lAssistente Social pela Acadêmica

Glaucimir Maria Hell Spinello

O U

(2)

Dedico

esse trabalho,

as

minhas

netas,

Mariana,

Vanessa

e

Clarissa

A

elas

o

meu

amor,

e

(3)

“ln

Memorian”

O

amor

é

eterno.

É

a força

que

nos

impulsiona

'

nas

lutas

da

vida.

É

o

elo

que

nos

mantém

unidos

àqueles

que

já partiram.

Para

meu

pai

Urbano

Hei/

e

para

meu

ma/ido

Amadeu

A. Spinello

que

não

estão

mais

entre nós,

todo

meu

amor

e

a certeza

que

a distância

não

rompeu

o

elo

(4)

C z» r , - › ¡

Agradecimentos

.J _ x . . ‹.

Esse

trabalho representa

o

fim

de

uma

jomada.

Não

foi fácil

chegar

até

aqui. Muita luta, muitos sacrifícios

e

muitas alegrias,

permearam

essa caminhada,

mas

também

uma

certeza,

não

estava sozinha.

i _»

II 1

rs

Quero

agradecer

de

coraçao: "

1

›-»

-

A

minha mãe,

irmãs, irmão

e

cunhado, pelo carinho

e

pela confiançaz

'

-

-

Aos

meus

filhos e noras, pela ajuda, pelo apoio, pelo amor,

.

Á `

-

Aos

professores pela dedicação; `

Í

-

Aos

office-boys/girls

e

ao

IPESC

pela oportunidade;

-

As

colegas

de

curso pela amizade;

-

E

a todos,

que

de

uma

forma

ou de

outra contribuiram para

que

este

(5)

LISTA

DE TABELAS

... ..

Introdução

... ..

I -

A

Geração

Adolescente:

Suas

Significações

na

Realidade

Atual

e

No

Mundo

do

Trabalho

... _.

1.1 -

Considerações e Aspectos

Pertinentes

da

.Condição Adolescente.. ..

1.1.1 - Adolescência ... ..

1.2 -

A

Inserção

do

Adolescente

no

Mundo

do

Trabalho ... ..

1.2.1 -

O

Adolescente

nas Relações e na

Divisão Social

do

Trabalho ... ._

1.3 - Adolescência

e

a Realidade

de

Sua

Condição

Perante

essa

Sociedade:

Um

Desafio

... _.

1.3.1 -

A

Nova

Etapa: Conquista

do

Estatuto

da

Criança e

do

Adolescente

ll -

O

Desenvolvimento

e

o

Relato

de

Uma

Prática

de

Estágio

Junto

ao

Instituto

de

Previdência

do

Estado

de Santa

Catarina -

IPESC

... ..

2.1 - Caracterização Institucional ... _.

(6)

2.3 - Identificação

do

Programa

do

Menor

Trabalhador:

Suas

Atribuições

e

Parcerias ... _.

2.3.1 -

As ONG's

em

Parcerias ... ._

2.3.2 - Office-boyslgirls

no

IPESC

... ... ._

2.4 -

A

Pesquisa

Enquanto

Instrumento

de

Conhecimento das Condições

do

Programa:

em

relação

aos

adolescentes trabalhadores

e

em

relação a

Instituição ... ..

3 -

Considerações

Finais ... ..

4

-

Sugestões

... ..

ANEXOS

... ..

(7)

l - Trata

da

caracterização

dos

jovens trabalhadores, relacionando

idade

e

escolaridade ... ..67

ll -

O

que

representa

o

trabalho para

você

7 ... ..69

lll -

Você

trabalha paraz., ... .... ..72

lV -

Você

está satisfeito

com

o seu

trabalho ? ... ..74

V

-

O

que

você acha do

horário

de

trabalho ser

de

8 horas ? .l ... ..76

Vl - Cite

o

que

você

consegue

através

do

seu

trabalho ... ..78

VII -

O

que

gostaria

de

conseguir

com

seu

salário e ainda

não

conseguiu ?....80

VIII -

Você

já exerceu outra atividade antes

de

ser office-boy/girl

no

IPESC

?..82

lX -

Como

é

o

relacionamento

do jovem

trabalhador

do

IPESC

com

sua

família ? ... ..83

X

-

Como

sua

familia

vê seu

trabalho ? ... ..85

Xl -

O

que

o

estudo representa para

o

adolescente ? ... ..87

XII -

Você

acha

que

a escola

tem

contribuído para

o seu

crescimento pessoal

e

profissional ? ... ..88

(8)

, w

XIII-

Como

o

jovem

se

sente

sendo

estudante

e

trabalhador

ao

mesmo

tempo

... ..90¬

XIV

-

Se

pudesse

escolher: ... ..90

z .

XV

-

Em

termos

profissionais

o

que

você espera

dofifuturo

?

... ..92

XVI

-

Como

você

acha

que

vai conseguir

seus

objetivos

?

... ..96

XVII -

Quai o seu

maior

sonho ?

... .., ... ..`....97

XVIII

-Que

tipo

de

contribuição o

Prgrama

Menor

Trabathador

deu

para

você

?

... ..'...99

V

(9)

O

modelo econômico adotado

em

nosso

pais gera desigualdade. caracteriza

uma

época onde

milhões

de

pessoas

lutam por

melhores

condições

de

vida

e

muitas

vezes

não

conseguem

o

necessário para a

sua

sobrevivência.

Tal problemática leva pais

ou

responsáveis

cada vez mais_a

realizarem

atividades laborativas integrais

e

a lançarem

mão

de

seus

filhos

na

estratégia

de

sobrevivência familiar.

O

adolescente

é precocemente

incorporado

ao

mercado de

trabalho.

Até

que

ponto

esse

processo

de

adultização

pode

ajudá-lo

ou

prejudicá-lo

em

seu

desenvolvimento escolar,

nas

relações familiares

e

sociais,

no seu

desenvolvimento físico? r

Desde que

começamos

a

tomar

parte

no Programa

de

Acompanhamento

ao

Menor

Trabalhador

no IPESC, nos

vem uma

pergunta:

o

que

é, ser

um

adolescente

e

trabalhador

ao

mesmo

tempo?

. .

_

Essa preocupação

levou a elaborar

esse

estudo,

envolvendo os

jovens

trabalhadores

da

instituição. Através

de

uma

pesquisa

de

campo

procuramos

compreender,

questionar

e

resgatar através

da

fala

de

boys/girls a

sua

visão sobre

o

trabalho,

sua

experiência

enquanto

trabalhador

num

espaço

institucional

e

a

contribuição

que

o programa

trouxe para eles.

(10)

10

No

primeiro capítulo

apresentamos

tópicos

que

estão diretamente

vinculados a adolescência,

ao

trabalho,

a

realidade social

de

nossos

adolescentes

e a

importância

do

Estatuto

da

Criança

e do

Adolescente

-

ECA,

na

vida

dos

mesmos.

No

segundo

capítulo, caracterizamos a instituição;

as

ONG's

conveniadas;

os

sen/iços

que

prestam; a vivência

da

prática

de

estágio;

a

tabulação

e

análise

dos

dados

da

pesquisa realizada junto

aos

adolescente atendidos. e

das

gerências

e

diretorias.

(11)

cAPíTu|_o

i

A

Geração

Adolescente:

Suas

Significações,

Inserção na

Realidade

Atual

e

no

Mundo

do

Trabalho.

1.1 -

Considerações

e

Aspectos

Pertinentes

da Condição

Adolescente.

É

cada vez

maior

o

número de

adolescente incorporados

ao

mercado de

trabalho. .

É

cada vez

maior

o

número

de

familias vulnerabilizadas pela pobreza,

desestruturadas

que

recorrem

ao

trabalho

de

seus

filhos para

aumentar a

renda

familiar.

O

modelo

social

adotado

em

nosso

País

é

excludente.

Gera

desigualdades

sociais

com

concentração

de

riqueza

nas

mãos

de

uma

elite privilegiada

e

uma

enorme

parcela

da

população

na

mais absoluta miséria.

Convivemos

com

graves

problemas

de

sub-alimentação, salários reduzidos,

carência

médica

hospitalar, dificuldades

de

formação

profissional, etc.

Os

efeitos

dessa

realidade

se

fazem

sentir “na vida”

dos

adolescentes. Esta realidade

(12)

l 12

Com

vistas

ao nosso

objeto

de

reflexäo

procuraremos

primeiramente definir

o

que

é

adolescência.

Em

seguida o

que

o

trabalho representa para

o

ser'

humano

e mais especificamente

para

o

adolescente

e finalmente

a realidade social

de

nossos

adolescentes. .

~

1.1.1 -

Aoo|.EscÊNc|A

“Etmológicamente a palavra adolescente

vem

o verbo latino adolecere, que significa

crescer ou desenvolver-se até a maturidade”.(ROSA, 1.986, p. 43)

“Cronologicamente, segundo CAP. I, Art. 2°, do Estatuto da Criança e do Adolescente,

considera-se adolescente a pessoa que estiver entre doze e dezoito anos de idade”.

_ “Sociologicamente, segundo Merval Rosa, adolescência seria o período de transição

em

que o indivíduo passa do estado de dependência para

uma

condição de autonomia assumindo

determinadas funções características do

mundo

adulto".

“Psicologicamente, ainda segundo Merval Rosa, é o período crítico de definição da

identidade do eu cujas repercussões podem ser de graves conseqüências para o indivíduo e para

a sociedade". (ROSA, l986; p.43-45) V

A

adolescência

como

se vê

é

um

período

de

mudanças

significativas

na

vida

humana, é

um

período

de

transição.

O

adolescente

não ê mais

criança,

mais

também

não

é ainda

um

adulto.

O

jovem

encontra-se

a meio caminho

entre

a

infância

e a

adolescência. Precisa enfrentar

a

toda hora

afirmações

do

tipo “você

é

grande demais

para isso".,

ou você é

pequeno

de_mais para aquilo”. Fica

meio

marginalizado tanto

no

mundo

adulto

como

no

mundo

infantil. Esta

condição

ambígua

tende

a

gerar

confusäopara o

jovem que

não sabe exatamente o

papel

(13)

intelectualmente

é

nessa

fase

que

ele

começa

a contestar

o

sistema

de

valores

a

que

foi

submetido

até então,

e aos

quais

se

submeteu

quase

que

'de

forma

automática.

Agora no

entanto

o

adolescente está

em

busca de

algo novo,

algo

que

lhe seja próprio, algo pelo qual ele

possa assumir

responsabilidade

pessoal.

A

criança, a

medida

que

cresce precisa

afirmar seu

ego

e

criar

sua

própria

identidade, diferenciar-se

de

seus

pais. W _

Dai,

Segundo

Merval

ROSa

“as lutas por que passa o ser humano nessa fase de sua

vida no sentido de definir seu próprio sistema de valores, seus próprios padrões de

comportamento”. (ROSA, 1.986, P. 44) .

Cabe

aqui

também

salientar , ainda referente a

busca

pela identidade,

a

luta

que

o

jovem

precisa enfrentar contra

as

ideologias,

que segundo

a teoria

do

psicanalista Erik Erikson, influenciam

na formação da

identidade

do

adolescente.

Mas, o

que entendemos

por ideologia?

ideologia seria

o

processo pelo qual

as

idéias

da

classe

dominante se

universalizam, para

que o

domínio se faça tanto

no

plano material, quanto

no

plano

das

idéias.

A

classe

dominante

utiliza-se

das

instituições sociais (família, escola,

meios

de

comunicação,

etc.) para propagar

essas

idéias

e

enraizá-ias

cada

vez

(14)

14

A

ideologia

é

pois

uma

força invisível, ela formula

o

único

modo

de

vida

socialmente possivel estabelecido pelo

poder

dominante.

São

os

interesses

dessa

classe

que

precisam ser preservados. V

As

instituições sociais tentam a

manutenção

do

sistema ideológico

do

qual

fazem

parte, valorizando

o

que

está estabelecido, tentando forçar

o

jovem

a

reproduzir

os padrões de

vida vigente.

Os

que

não

aceitam

de

forma

passiva

as

normas

ditadas,

são

considerados problemas, taxados pela sociedade

como

jovens

em

crise, desajustados. '

No

entanto,

sabemos que

o conflito

não é

uma

prerrogativa

do

adolescente.

Vivemos

numa

sociedade

de

contradições

e

conflitos

que

exigem

uma

constante

busca

de

resolução

e

de

síntese.

Nossa

civilização está

embasada numa

sistema

rígido

e

pouco

flexível,

que

representa e

mantém

os

interesses

da

classe

dominante.

Se

é

dificil para

o

adulto viver

num

mundo

de

crise

e mutação

onde

novos

valores

convivem

com

valores arcaicos

e

ultrapassados,

é

muito

mais

difícil

ainda para

o

adolescente. Ele

se

sente perdido

em

meio a

tanta contradição.

Mesmo

assim

precisa lutar, precisa encontrar

sua

identidade.

Não

aceita

mais

a

posição

de

“Objeto Submisso”,

acomodado

e

manipulado.

Quer

ser sujeito ativo.

Acha-se

em

condição

de

reinterpretar

o

Universo

em

que

vive,

passando

de

simples

consumidor

para criador.

Existe pois

um

conflito ideológico,

e

é através deste conflito

que

o

adolescente

aprende

a diferença complexa, sutil

e

preciosa entre ele

mesmo

e o

seu meio

ambiente.

Dessa

maneira o

homem

e a sociedade

se

renovam.

Se

não

(15)

que é

a adolescência, provavelmente tudo tenderia

a se

reproduzir

sempre

igual,

de forma

alienada.

.

Porém,

para

o

mundo

adulto,

essa

atitude

do

adolescente representa

uma

ameaça. Geralmente os

pais se

desesperam

com

o

comportamento dos

filhos.

Não

conseguem

entender.

A

família praticamente entra

em

crise.

Segundo

Daniel

Becker a

famosa

frase: “Os fiinos de hoje já não respeitam mais os

pais como antigamente". Pode ser encontrada

em

escritos de 4.000 anos atrás. (BECKER, 1.991)

Como

se

pode

ver a “crise

da

adolescência"

não é

coisa nova.

Sempre

existiu

e

vai existir.

Acreditamos

até, ser

o meio

que

a

natureza utiliza para forçar

o

homem

a

mudar,

a

evoluir.

Mas

a

verdade é

que

ela existe

e se quisermos

superá-

la, se

quisermos

pelo

menos

tentar

compreender nossos

adolescentes,

precisamos

olhá-los por

uma

perspectiva

mais ampla

que

inclua

não só as

transformações

biológicas

e

psicológicas,

de

importância fundamental,

mas também

o

contexto

sócio-econômico, cultural

e

histórico

no

qual ele está inserido.

A

maioria

dos

psicólogos

e

psicanalistas, entre eles Erik Erikson,

Anna

Freud, Merval Rosa,

definem

a

adolescência

como uma

fase

de

conflitos.

Uma

fase difícil para a maioria

dos

adolescentes.

Cabe

aqui salientar

que

existem

jovens

que

passam

pela adolescência

e

chegam

a

idade adulta

sem

qualquer

conflito.

Mas

isto,

não

é,

no

entanto regra geral.

Para

J. Mc. Hunt.

e

M.

Deutsch

principais divulgadores

da

teoria

da

(16)

16

mais

difícil para

os

jovens

da

classe popular pela privação cultural sofrida

nos seus

primeiros

anos de

vida.

Esclarecemos

que

por classe popular

entendemos

todos

os

setores ditos

de

“baixo renda”

de

uma

sociedade complexa.

Antes de

continuarmos

vamos

abrir

um

parêntese para

conhecermos

um

pouco da

teoria

da

Privação Cultural.

'

i

lncluímos esta teoria

em

nosso

trabalho, pois acreditamos

que

através dela

encontraremos algumas

respostas para tão

propagada

“crise

da

adolescência”

e

principalmente a “delinqüência infanto-juvenil”

que

atinge

as

classes populares

de

nosso

Pais.

O

conceito

da

privação' cultural, apoia-se

na

teoria neurofisiológica

de

D.

Hebb,

que

a partir

de

estudos

com

animais situados

“em

diversos níveis'

da

escala

filogenética”,

chegou

a conclusão

de que

as experiências iniciais

são

de

importância central para

capacidade

intelectual

que o organismo

manifestará

mais

tarde. Esta visão

da

“importância

dasprimeiras

experiências”, desenvolvida

em

1.949, foi ressuscitada

e

estendida

ao

desenvolvimento

de

seres

humanos

sendo

divulgada

no

inicio

da

década de

60 sob o

rótulo

de

“Privação Cultural" .

(COSTA,

1.987). g

Os

dois textos

que

serão transcritos a seguir foram tirados

das

obras

de

Hunt e Deutsch e

vão nos

esclarecer melhor o

que

eles

entendem

por “Privação Cultural”.

(17)

“Embora ainda saibamos muito pouco sobre o desenvolvimento intelectual, para

fazer qualquer afirmação com grande segurança, é pouco provável que a maioria dos

bebês que pertencem a familia de baixo status sócio-econômico sofra

uma

grande

privação durante o primeiro ano de vida.

Uma

vez que

um

dos aspectos mais

característicos da pobreza é a aglomeração, é concebível que

um

bebê tenha realmente

a possibilidade de encontrar maior variedade de estímulos visuais e auditivos

em

condições de pobreza do que na maioria dos lares de classe média ou alta. lsto facilitaria

desenvolvimento intelectual do bebê durante seu primeiro ano de vida.

Durante o segundo ano de vida, entretanto, as condições de vida na aglomeração

provavelmente impedirãoe desenvolvimento.

A

medida que a criança pequena começa a

se locomover por iniciativa própria, a manipular coisas e atirar objetos, muito

provavelmente entrará no caminho de adultos que já estão predispostos ao

mau

humor

devido às sua próprias preocupações e frustrações. (...)

Em

tal atmosfera, as

oportunidades de

uma

criança executar atividades necessárias ao seu desenvolvimento

locomotor e de manipulação são quase que inevitavelmente contidas de maneira

drástica. Além disso, durante o final do segundo e o início do terceiro ano de vida, após

ter desenvolvido algumas pseudopalavras e aprendido que “as coisas tem nome”, a

criança que vive numa família numerosa, afetada pela pobreza, provavelmente se

defronta

com

outros obstáculos: suas perguntas muito raramente obtém respostas

adequadas e muito freqüentemente são punidos, o que inibe perguntas posteriores.

Assim as condições, que inicialmente forneciam -uma variedade rica de entradas

sensoriais para o bebê, agora fornecem

uma

escassez de brinquedos e de modelos para

imitação.

Os

efeitos de

um

ambiente de classe baixa sobre o desenvolvimento infantil

podem

tornar-se ainda mais sérios durante o quarto e o quinto anos de vida. Além disso

quanto mais essas condições se fizerem presentes, maior a possibilidade de seus efeitos

serem duradouros. (Hunt, 1.975, p. 24-25; originalmente 1.964. in Sujeito e Cotidiano,

p.21) _

...seria útil delinear algumas das caracteristicas principais da vida na favela

urbana. Geograficamente, há habitações superpovoadas e dilapidadas, completamente

diferentes da imagem que a

TV

forma a respeito de como o povo vive. Quer sejam

negros, ...brancos, estas pessoas vivem

numa

comunidade segregada. Muito

provavelmente haverá apartamentos superpovoados, altos índices de desemprego,

crônica insegurança econômica,

um

número desproporcional de lares desfeitos e

(particularmente no caso dos negros) a exposição continua ã difamação e ao ostracismo

social

em

vários graus.

O

nível educacional dos adultos é relativamente limitado. Nos

lares, é provável que haja

uma

quase total ausência de livros, relativamente poucos

brinquedos e,

em

muitos casos, nada mais do que alguns poucos objetos caseiros

comuns que podem ser transformados

em

brinquedos (...).

O

resultado é

um

padrão de

vida que expõe a criança a

um

mínimo de contato direto com os canais principais de

nossa cultura. As condições de desigualdade social, a falta de

uma

estrutura acessível

de oportunidades e a ausência freqüente de modelos masculinos adultos bem-sucedidos

criam

uma

atmosfera que não facilita o desenvolvimento individual. Além dos problemas

da vida cotidiana, particularmente a insegurança econômica e o número excessivo de

filhos fazem

com

que os adultos disponham de muito pouco tempo para estarem

presentes e darem assistência à criança na exploração do mundo, para recompensa-la

pelo completamento

bem

sucedido de tarefas e para ajudá-Ia no desenvolvimento de

um

(18)

18

práticas da marginalidade econômica resultam no pai que mantém dois empregos e tem

pouco tempo para interagir com o filho. Através de vários estudos, verificamos que as

crianças que vivem nestas circunstâncias tem número relativamente pequeno de

atividades familiares compartilhadas e planejadas, o que também resulta

num

estreitamento de experiência”.

(Deutsch, 1.975 in Sujeito e Cotidiano)

Na

leitura

dos

textos

acima

podemos

perceber

com

bastante clareza

o

que

os autores classificam

como

privação cultural.

_

Como

“obstáculo”

ao

desenvolvimento

“adequado” da

criança, eles citam:

aglomeração, predisposição

dos

adultos

ao

mau

humor, ausência

de

respostas

adequadas

as

perguntas infantis, punição

das

perguntas,

escassez

de

brinquedos

e de modelo

de

imitação. Salientam ainda

o

nível cultural limitado

dos

pais.

A

privação cultural sofrida por estas famílias trás

como

conseqüência

a incapacidade

das

mesmas

de

produzir

um

ambiente

estável

e

estimulador para

bem

cumprir

as

tarefas

de

socialização

de

seus

filhos.

Todos

sabemos

da

importância

da

familia

e

do

meio ambiente na

estruturação

das

primeiras experiências.

São

essenciais para

um

bom

desenvolvimento biológico, psicológico

e

intelectual

do

ser

humano.

Sabemos

também

dos

problemas,

das

privações sofridas pelos jovens

da

classe popular

durante

seus

primeiros

anos

de

vida.

Essas

privações

não são

só materiais,

mais

também

culturais,

e

isto,

como podemos

constatar,

a

realidade está aí para

comprovar,

marca-os

para

o

resto

de

suas

vidas, diminuindo-lhes

as

oportunidades. i

O.

jovem da

classe

mais

pobre

chega

a adolescência

com

grandes

(19)

“atravessa-a

com

muita dificuldade, freqüentemente sem poder

nem

sequer pensar

em

, conflitos familiares, sexuais ou mudanças no corpo, pois tem necessidades básicas mais

prementes a serem resolvidas, como conseguir roupa e comida; e suas perspectivas e

opções para o futuro são limitadas. É

bom

lembrar que no Brasil a grande maioria dos

adolescentes encontra-se nesta situação”. (BECKER, 1.991). Í

A

descrição feita por

Becker

representa a realidade

dos

adolescentes

brasileiros.

A

falta

de

perspectivas

e opções fazem

com

que

nossos

jovens

vivam

em

condições precárias

ou

mesmo

sub-humanas. Por necessidade

precisam

trabalhar.

Começa

para eles

o

fim

da

adolescência.

O

jovem

prematuramente,

devido

as

circunstâncias sociais, entra para

o

mercado

de

trabalho

e

começa

seu

treinamento profissional.

Não

importa para a sociedade

se

ele está pronto,

se

ele

encontrou

sua

identidade,

seu

referencial.

Segundo

Merval Rosa,

o

trabalho

contribui para a adultização precoce

do

adolescente.

Uma

fase

da

vida

é

interrompida

de

forma

não

natural

e

ele

passa a

ser

mais

um

trabalhador.

1.2 -

A

Inserção

do

Adolescente

no

Mundo

do

Trabalho

NO

dizer

de

Engels, ..."o único fato histórico que existe é que o

homem

precisa

sobreviver” .(Wanderley Codo, 1.998, p. 140)

Para

sobreviver

o

homem

trabalha.

O

trabalho

enquanto

modo

de produção

de

sua

própria existência exigiu

do

homem

a convivência

em

grupos,

e

a

sobrevivência

do

homem

passa

a

depender não de sua ação ou de seu

trabalho

mesmo,

mas

sim

do

trabalho social,

e

por outro lado,

sua ação

deixa

de

ser

(20)

20

O

homem

para sobreviver

vende

sua

força

de

trabalho. Desta

forma o

trabalho

passa a

ser

uma

mercadoria.

Mas

o trabalho

não é

apenas

uma

mercadoria.

É

a

única mercadoria

capaz

de

produzir excedentes, por ser

o

único

valor

de uso capaz

de

criar valor.

Consumir

trabalho

é

criar trabalho

(O

Capital,

Cap. III).

“trata-se do único elo na cadeia de gerar mercadorias que pode ser explorado para gerar

mais-valia (maior valor), pois o trabalho é vendido como qualquer mercadoria, pelo preço

de custo de sua produção (preço do sustento do trabalhador e sua família, produção e

reprodução da força de trabalho)". (CODO, 1.989, p. 145)

Marx

dizia

que

o trabalho

em

nosso

modo

de produção

atual

é

um

trabalho

alienado

e

explorado. Alienado, tendo

em

vista

que

o

trabalhador

não

domina o

processo

de

produção

e explorado

no

sentido

de

que

seu

papel é

o de

produzir

riqueza para o outro, e, ato contínuo,

sua

própria miséria.

A

,exploração

é

pois

uma

realidade

que

não

pode

ser negada. Existe

no

trabalho

do

adulto

e é

muito

mais

acentuado no

trabalho adolescente. ›

1.2.1 -

O

Adolescente

nas Relações

e na

Divisão Social

do

Trabalho.

Em

nosso

-País, milhões

de

brasileirinhos trabalham. Estão por toda parte,

no campo, nas

cidades,

exercendo

as

mais

variadas atividades.

"Trabalham como se fossem exército de formigas, invisíveis para a sociedade, Estado,

(21)

Seu

trabalho é rentável para muitos adultos desavisados,

só não

é

rentável

para ele próprio. Estas crianças

e

jovens

vêm-se

privados

da

escola,

do

lazer,

da

formação

profissional,

da

possibilidade

de

serem

cidadãos deste Pais, restando

para eles

somente

o

trabalho

como

possibilidade

de

garantia

da

cidadania,

prevenir _o ócio

e supostamente

garantir

o

aumento

da

renda familiar.

O

Brasil entra

na

década

de 90

com

uma

população

de

aproximadamente

l50 milhões

de

habitantes distribuídos

de

forma

desigual entre

26 Estados

e

o

Distrito Federal. ~

H

O

problema

que

o

Pais enfrenta,

de

crises cíclicas

em

sua

conjuntura,

acompanhadas

de

recessão,

desemprego e

achatamento

salarial,

fazem

com

que

os grandes

centros

urbanos

esgotem

a

sua capacidade

de

oferecer os serviços

básicos

à

população.

Embora

o

Brasil tenha investido perto

de

20%

do seu

PIB

com

programas

sociais,

o

gasto social

não

alcança

US$

500

per capita anuais.

Uma

cifra

bem

inferior

a dos

países

do

mundo

que

fica

entre

US$

3.000

e

US$

4.000,00

dólares. (Santos, l992, p.11).

ç

'

A

evolução estrutural

do

trabalho

de

crianças

e

jovens

tem

como

fator

determinante

os

processos politico,

econômico e

sociais

de

um

Pais.

O

modelo econômico

brasileiro, é excludente.

Gera

desigualdades

e

impede

a

criação

de

mecanismos que

revertam

o

processo

de

concentração

da

renda

e

da

propriedade. ~

Segundo

Pereira:

"A pobreza, persistente na história da humanidade, leva os adultos a lançarem

(22)

22

“A pobreza, persistente na história da humanidade, leva os adultos a lançarem

mão

de seus filhos nas estratégias de sobrevivência do grupo familiar.

O

mercado de trabalho oferece espaços e até incentiva a incorporação dessa

mão-de-obra.” (Pereira, 1994, p. 9)

Ainda,

de

acordo

com

Pereira,

a Pesquisa

Nacional por

Amostragem de

Domicílio -

PNAD,

demostrou

que

em

l990 - 58,2

%

das

crianças

e

adolescentes

brasileiros, viviam

em

famílias, cujas renda

mensal

per cápita,

não

ultrapassava '/z

salário mínimo. Isso corresponde a

32

milhões

de

pessoas

que

viviam

sem

condições de, só

com

seu

salário, adquirir

bens

e

serviços necessários

a

sobrevivência familiar.

'

Os

efeitos

dessa

situação

se

fazem

sentir

na

vida

de

crianças

e

adolescentes,

que

se

vêem

privados

de

seus

direitos básicos (saúde,

educação,

habitação)

e na

inserção precoce

dos

mesmos

no

mercado de

trabalho.

'

Historicamente

o

trabalho

sempre

fez parte

da

vida

de

crianças

e

adolescentes. Tal fato

pode

ser

observado nos

diversos

modos

de

produção,

independente

do

grau

do

capitalismo

e do

avanço

científico e tecnológico. -

Segundo

Pereira,

o

Instituto Brasileiro

de

Geografia

e

Estatística -

IBGE,

registrou

em

l990,

que

7 milhões

e meio

de

crianças

e

adolescentes

na

faixa etária

de

10 a I7

anos

trabalhavam .

Esse dado assume

proporções substantivas

se

considerarmos

que

a Constituição

não

permite

o

trabalho antes

dos

14

anos

de

idade.

A

legislação

da

infância - Estatuto

da

Criança

e

do

Adolescente -

ECA

(Lei

Federal n° 8069/90)

também

proíbe qualquer trabalho

a

menores de

14

anos de

(23)

bolsa-aprendizagem).

acima

desse

limite só

é

permitido atividades

que

não sejam

insalubres, perigosas

ou

penosas.

A

própria

convenção,

n.°

138

da

Organização

Internacional

do

Trabalho

(OIT)

recomenda que

o

ingresso

no

mercado de

trabalho

não deve

ser antes

de

cessada

a obrigatoriedadeescolar.

No

Brasil

essa

obrigatoriedade

corresponde

aos O8 anos da educação

básica.

4

No

entanto, indicadores revelam

que

a

década de

90

começou

com

4

milhões

de

crianças

em

idade escolar for'a

das

salas

de

aula.

É

sabido

que

crianças

e

adolescentes estão fora

do

mundo

da

escola,

ao

mesmo

tempo

em

que

estão

no

mundo

do

trabalho.

O

trabalho infantil corresponde

em

primeiro lugar a exigências

de

satisfação

das necessidades

básicas

das

famílias. .

Segundo

Santos, a família

é

um

espaço

social concreto através

do

qual

os

diferentes setores sociais

conseguem

sua

sobrevivência

e

reprodução.

Para

enfrentar

os

desafios

sócio-político-culturais, a família

assume

formas

concretas

de

organização, expressa através

de

uma

unidade cotidiana

de

práticas

e

representações

que define

e

integra'

os

diferentes papéis

de cada

componente

familiar. (Santos, 1992, p.20)

Nessa

perspectiva,

o

fato

de

uma

criança trabalhar vai

depender da

posição

que

ela

ocupa

na

estrutura familiar,

da

posição

que

a

família

ocupa

na estrutura

social

e

das

condições

do

mercado

de

trabalho.

De

acordo

com

pesquisas realizadas, a incorporação

da

criança

e

do

adolescente

no

mercado de

trabalho está vinculada a dois fatores

de

atração: a

(24)

24

Estudos

realizados

nessa

área

apontam

o

grau

de

informalidade

no

Brasil,

como

sendo

o

principal facilitadordo trabalho infantil.

Vale lembrar

também

que

o

trabalho infanto-juvenil

alem

de

ser altamente

lucrativo para

o

mercado, ainda trás

vantagens de

ordem

comportamental.

Sabe-

se

que

esse

segmento

da

classe trabalhadora,

apesar

dos seus

baixíssimos níveis

de

remuneração, não

reivindica salários maiores,

não se

organiza

e

não

faz greve.

Essa

“incapacidade”, é realimentada pela

sociedade

através

de

suas

instituições,

que

estabelecem

que

o

jovem

trabalhador

é

um

agente social

com

muitas

obrigações

e poucos

direitos.

O

único direito

que

a sociedade lhes

concede

livremente,

é o

de

trabalhar.

_

A

maioria

das

crianças

e

adolescentes brasileiros

das

camadas

populares

desenvolvem

atividades

no

mercado

informal.

Nos

centros urbanos trabalham

como:

engraxates,

guardadores

e lavadores

de

carros,

empacotadores

em

supermercados, vendedores

ambulantes, etc.

no

Rio

de

Janeiro,

segundo

o

que

foi divulgado pelo Jornal Nacional,

da

Rede

Globo,

em

18.02.1995,

mais

de

3.000 crianças

e

adolescentes trabalham

como

vendedores

ambulantes.

São

jovens

que perambulam

pelas ruas

convivendo

com

o

perigo

e

com

a criminalidade.

Estes jovens

também

estão presentes

nos

sen/iços

de

limpeza,

nos

trabalhos domiciliares,

nos

escritórios

como

office-boys/girls

e

nos

serviços

terceirizados (industria e comercio).

Na

zona

rural

é

decisiva _a participação

da

criança

e do

jovem na produção

agro-industrial,

nas

culturas

de

cana,

do

chá,

do

(25)

Nestas

regiões a

capacidade

produtiva

do jovem

chega

a ser muitas

vezes

bem

maior

que

a

de seus

pais.

No

entanto, tanto crianças

quanto

adolescentes

não

aparecem

como

contratados diretos,

a

contratada

é a

unidade familiar.

Os

dados do

IBGE

de

I990,

mostram que

dos

72%

dos

adolescentes

trabalhadores

que

possuem

vínculo

com

um

empregador,

32%

possuem

carteira assinada. (Pereira, 1994, p. 11)

Em

termos

salariais,

o

IBGE

indicou

que 91,1%

dos

trabalhadores infanto-

juvenis (10 a 14 anos)

recebem

no

mᛋimo até

um

salário mínimo; entre

os

de

15

a 17 anos,

66,2%

também

estão

nessa

faixa. (Pereira, 1994, p. 11)

Os

dados

do

IBGE

são

de

1990.

Mas,

infelizmente a realidade

não

mudou.

Segundo

o

que

foi divulgado

no

Jornal Nacional,

em

18.02.95,

em

Franca,

Estado

de

São

Paulo,

mais de

4.000 crianças

e

adolescentes trabalham

em

fábricas

de

calçados

de

fundos

de

quintal.

Trabalham

até 10 horas por dia.

Recebem menos

que

meio

salário

mínimo

.

Alguns

nem

recebem

salário.

Recebem

doces

como

pagamento

pelo

seu

trabalho.

Não

têm

nenhum

direito trabalhista. Estão

com

a

sua

saúde

comprometida,

intoxicados pelo cheiro

da

cola

que

manuseiam

na execução de suas

tarefas.

Essa

cola

também

produz efeitos alucinógenos

e

em

muitos

casos

cria

dependência

de

uso.

Ainda

segundo

a reportagem

30%

destas crianças

e

jovens

abandonaram

a

escola.

Dos queainda

freqüentam, a

metade

foi reprovada

no

ano

letivo

de

1994.

A

realidade apresentada pela

TV

nos

enche

'de tristeza e

de

vergonha.

Principalmente

quando temos

certeza

que

não

se trata

de

um

caso

isolado,

e

sim

de

uma

realidade nacional.

Como

exemplo

podemos

citar

mais 02

notícias veiculadas pelo Jornal

Nacional:

(26)

26

I

' ›

_ Q

A

primeira

em

01.04.95, divulgou

que

nas

salinas

do

Rio

Grande do

Norte,

um

acordo

feito entre

as

empresas

de

extração, estabelece

que

em

cada

20

trabalhadores adultos, 01

pode

sér criança.

Porém, esse

acordo

não

vem

sendo

cumprido, pois atualmente

10%

dos

trabalhadores

das minas são

crianças.

Elas trabalham 12 horas por dia.

Ganham

1/z salário minimo.

Mais

da

metade, estão

com

doenças nos

olhos,

provocada

pela incidência 'dos raios

solares sobre

o

sal. .

A

segunda

em

15.04.95,

mostrou

que

em

Tuiutaba, interior

de Minas

Gerais,

20.000

crianças e adolescentes

abandonaram

a escola para trabalhar

nas

lavouras

de

algodão.

Levantam as

3 horas

da manhã.

Viajam

de caminhão

30

Km,

até

chegarem

as frentesfde trabalho.

Trabalham

12 horas por dia.

Cada

jovem

colhe

em

média

45

Kg

de

algodão por dia

e

recebe

R$0,06

por quilo.

A

maioria destas

crianças

e

adolescentes

não

sabem

ler,

nem

escrever

e são

elas

que

sustentam

a

_

_ \

familia. ~

Os

estudos

de casos de

crianças

e

adolescentes trabalhadores

em

nosso

País, revelam

uma

situação

de

exploração.

No

caso

de

Franca, Tuiutaba e R. Gâ

do

Norte,

chega

a ser escravidão. lsto ocorre porque, entre outros fatores,

no

nível

das

empresas

é

generalizada

a

idéia

de

que

o

trabalho infantil

é

complementar

ao

do

adulto,

e consequentemente, sua

remuneração também.

0

Uma

outra razão

é

a

de

encarar

esse

trabalho

como

sendo

menos

'eficiente

_ Mn '

1

0 911 ~'

do

que

o

realizado pelos adultos.

É

dessa

forma,

o

jovem

que

buscou

no trabalho

uma

forma

de aumentar

a renda

de

sua

família,

não

vai conseguir complementá-la,

tendo

em

vista

que

a

remuneração

recebida

com

seu

trabalho muitas

vezes

não

da

nem

para

seus

gastos pessoais. V

z'~

(27)

As

remunerações

obtidas

em

função

do número de

horas trabalhadas

é

outro importante indicador

que

caracteriza

a

posição

que

crianças

e

adolescentes

ocupam

na

disputa pelo

mercado de

trabalho.

Para o

trabalho infanto-juvenil

melhores remunerações

ocorrem

com

um

aumento

significativo

no

número

de

horas trabalhadas,

ou

seja,

quando

a jornada

de

trabalho

passa

de

40

horas por

semana.

Esta situação se

com

mais

evidência justamente

na

faixa etária

mais

frágil- 10 a 14 anos.

Para os

adolescentes, por outro lado,

uma

correlação

mais

estreita entre

o

aumento

nas

horas trabalhadas

com

o

aumento

dos

rendimentos,

expressando

desta forma, maior

reconhecimento

monetário pelo trabalho realizado.

As

diferenças etárias

nos

perfis

de

remuneração

dependem também

das

peculiaridades

de

cada

mercado.

Segundo dados do

IBGE

(IN Pereira, 1994, p.20)

mais

da

metade

dos

jovens trabalham

acima de

8 horas por dia,

sem

receber qualquer

pagamento

adicional.

ainda

os

que

nada ganham, ou ajudam os

pais

ou são

aprendizes.

Cerca de

30%

dos

que

trabalham (ou seja,

mais

de

2 milhões

de

meninos e

meninas)

não

chegam

a

ganhar

um

salário mínimo,

nem

tem

carteira

de

trabalho

assinada.

A

maioria

desses

jovens

não

podem

escolher

o emprego,

aceitam

o

que

aparecem,

por

não

terem

uma

qualificação profissional.

E que

acesso

tem

tido

a

formação

profissional

o

universo

de

adolescentes deste País,

que

na sua

maioria

possuem

baixa renda

e

baixa escolaridade?

Na

realidade

não

existe muitas

possibilidades para

esses

jovens.

Os

programas

de

profissionalização existentes

sob

a chancela

do

Ministério

(28)

28

Segundo

Pereira

“Não

existem

nem

mesmo

propostas

de

se viabilizar

programas

profissionalizantes

que

priorizem

esse

segmento”.(Pereira, 1994, p.20)

Embora

a formação

profissional tenha sido

sempre

vista

como

um

“projeto

para

os

pobres", foi

ao

longo

da

história

assumindo

contraditoriamente o caráter

de

sistema

de

aperfeiçoamento

e

reciclagem, dissociado

do

sistema educacional.

Mesmo

o

SENAI

que

foi criado

com

o

objetivo

de

oferecer

programas

de

aprendizagem e formação

profissional, deslocou-se para cursos

de

aperfeiçoamento

de

mão-de-obra

já qualificada

com

vistas a atender

as

demandas

do

mercado.

Houve

um

desvirtuamento

de sua

finalidade,

que

veio

em

prejuizo

das

“classes

menos

favorecidas”.

Desta

forma,

o

trabalho, para maioria

dos

adolescentes

com

baixa escolaridade

e

socialização vai correr

nas

trilhas

da

desqualificação,

na

economia

formal

e

informal. A

A

concepção

do

capital sobre o trabalho

se

constrói, portanto,

de

acordo

com

Pereira... “mediante

um

processo

que

o reduz

a

uma

mercadoria,

a

um

objeto”.

A

representação

do

trabalho desta

forma

vai

se

igualar a ocupação,

à

tarefa,

ao emprego

simplesmente.

Neste

caso, perde-se a

dimensão

de que

o

trabalho

é

uma

relação social -

que

por

um

lado

é

uma

relação

de

força,

de

poder,

e

de

outro:

“é o que define 'o

modo

humano de existência, e que, enquanto

tal, não se reduz a

atividade de produção material para responder a reprodução físico-biológica (mundo da

necessidade), mas envolve as dimensões sociais, estéticas, culturais, artísticas, de lazer,

etc.” (Pereira, 1994, p.21).

Concluindo, diríamos

que

o

capitalismo,

que

a

partir

do

século

passado se

(29)

também

com

os

jovens.

E

continua sendo, sobretudo

em

países

como

o Brasil,

que

une

industrialização

moderna

e

exploração primária.

`

Milhões

de

crianças e adolescentes

adoecem

e

morrem

no

Brasil, vítimas

de

condições

inadequadas e

abusivas

de

trabalho.

Dedos

e

mãos

decepadas, corpos

e

saúde

comprometidos, mortes violentas

provocadas

por acidentes

de

trabalho.

Conforme

foi enfatizado

no

início, entre

as

razões

que

empurram

os

jovens

para

o

trabalho, para doença, infelicidade

e

até a morte; “a pobreza”,

é

certamente

a

principal.

A

“pobreza”

é

ressaltada

como

um

fenômeno

tão

mais

preocupante

quanto mais

graves forem

suas

conseqüências. Estas

são

tão graves quanto

mais

a sociedade

permite

que

o

bem-estar

dos

menores

seja sensível

ao

nível

de

renda

das

famílias a

que

pertencem.

Preocupa não só

pela injustiça social advinda

da

concentração das

privações derivadas

da pobreza

em um

subgrupo de

menores

mas, acima de

tudo, por caracterizá-la

como

sendo

uma

sociedade

onde não

prevalece a igualdade

de

oportunidades.

Sendo

assim chega-se a

triste conclusão

que

se o

ciclo

não

for rompido,

os

jovens pobres

de

hoje, possivelmente,

constituirão

as

unidades familiares pobres

de

amanhã.

'

1.3 -

Adolescência e

a

Realidade

de sua condição peranteessa

Sociedade:

Um

Desafio.

A

situação vivida

em

nosso

País

é

bastante peculiar.

Não

fomos

devastados

por

nenhuma

guerra,

não sofremos os

efeitos

de

nenhum

cataclisma,

nem nenhum

período revolucionário,

e no

entanto

estamos mergulhados

em

uma

profunda crise

social,

econômica e

moral, cujo preço,

em

termos de

vidas

e

sofrimentos

é

bem

maior

que

muitos conflitos bélicos.

De

fato todos os indicadores sociais

das

últimas

décadas

demonstram que

o

(30)

30

brasileira

e

principalmente para aquele setor

mais

vulnerável -

nossas

crianças

e

adolescentes.

A

dimensão da

tragédia social

dessas

crianças e

desses

jovens,

pode

ser

observado nos

rostos

dos

meninos(as)

jogados nas

ruas

de nossa

cidade,

nos

internatos - prisões,

nas

jaulas

das

delegacias,

nas

prisões para meninos,

nas

penitenciárias

e

prostíbulos

do

País.

Não

é

preciso ser especialista para perceber

que

a

sociedade brasileira está

doente.

Os

sintomas estão por toda parte.

Convivemos

hoje

com

altos índices

de

analfabetismos,

de

mortalidade

infantil,

de

miséria,

além de

sermos

de acordo

com

Deodato

Rivera, recordistas

mundiais

em

número de

meninos

mortos por violência.

Matam-se

mais

adolescentes aqui,

que

nas

.demais

nações

do

planeta. Através

dos meios

de

comunicação,

todos

os

dias

tomamos

conhecimento das

barbaridades

cometidas

contra

nossas

crianças

e

adolescentes.

Segundo

Globo

Repórter apresentado

no

dia 08/06/95,

uma

pesquisa sobre

a violência contra crianças e adolescentes, realizada pelo Ministério Público

de

São

Paulo

e

pela

UNICEF,

revelou que: as' vítimas

da

violência,

em

sua

maioria

são

jovens trabalhadores,

que

nunca

cometeram

crime algum.

Dos

622

assassinatos

de

crianças

e

adolescentes, ocorridos

em

São

Paulo

em

1991,

os

pesquisadores analisaram 307,

e

chegaram

a

seguinte conclusão.

Sobre as

proposições:

-

Os

jovens assassinados

estavam

envolvidos

com

a

criminalidade.

(31)

.

68%

dos

jovens

não

estavam, eles trabalhavam e

estudavam;

.

26%

estavam

envolvidos;

-

Os

jovens assassinados viviam

nas

ruas.

.

95%

viviam

com

a família.

-

Os

jovens assassinados

eram

usuários

de

drogas.

.

2/3

dos

jovens

usavam

drogas;

_

os demais não usavam.

Como

se

pode

perceber,

o

que

ocorre

em

nossa

sociedade,

é

um

genocídio

não

planejado,

mas

altamente

eficaz na

eliminação

de

brasileiros

a

quem

se

nega

as

condições

de

cidadania garantida pela Carta

Magna.

»

A

Constituição

de

1988,

em

seu

artigo

227

“... assegura a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,

o respeito, à liberdade e convivência familiar e comunitária, além de colocá-lo a salvo de

toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

A

Lei

é

clara.

Mas

apesar dos

direitos constitucionais adquiridos,

nossas

crianças e adolescentes

andam

por ai,

à

mercê de

todos

os

riscos. Riscos

esses

provenientes

de

um

processo cruel

de

estigmatização e

degradação

social.

Fala-se muito

em

preservação

da

natureza. Ecologistas

do

mundo

inteiro

estão

preocupados

com

a devastação da

“mãe

natureza"

e

a “natureza

humana”

o

(32)

32

Vemos

nossas

crianças

e

adolescentes destruídos,

degradados

por

doenças

físicas, mentais

e

sociais evitáveis.

Perdemos

em

1990,

segundo dados

divulgados pelo “Correio Brasileiro”,

MAR.90,

400.000

crianças entre 0

e

5

anos de

idade, a maioria vitimada por

doenças

preveníveis. '

Um

estudo

da

UNICEF

mostra

que

os programas de

ajuste

econômico da

última

década

tiveram

conseqüências

trágicas para milhões

de

crianças

dos

paises

pobres. Diz-se

nesse

documento

que: “nenhuma teoria econômica ou ideologia política

poderá justificar,

mesmo

a titulo transitório, qualquer sacrifício sobre o desenvolvimento físico e

mental de milhões de crianças e adolescentes

em

crescimento”.

(DEODATO

RlVERA: 1990). ~

Sem

dúvida,

nossa

crianças

e

jovens

empobrecidos

estão

pagando

com

suas

vidas,

seu

sofrimento,

seu

presente

e seu

futuro

os

desmandos

políticos

de

nosso

País.

Como

exemplo

desta realidade

vamos

transcrever

a

,manchete

que

o

Diário Catarinense, apresentou

no

“Dia

do

Trabalho”,

sob o

título: Exploração

de

menores

não tem

fiscalização. V

“No Brasil, a grande preocupação são milhares de crianças de 7 a 13 anos,

exploradas

em

atividades perigosas e insalubres. Quase sempre trabalhando

sem

receber remuneração ou por menos de meio salário-mínimo e sem carteira de trabalho

assinada. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o trabalho de menores de 14 anos

é proibido, a não ser nos casos de aprendizado.

Denúncia da

CONTAG

(Confederação Nacional dos Trabalhadores), na zona rural

elas atuam

em

condições desumanas, especialmente no corte de cana e colheita de

laranja.

A

entidade condena o descaso do poder público.

O

Ministério do Trabalho

alega sempre que não tem estrutura para acabar com a irregularidade.

Uma

pesquisa divulgada pela Confederação mostra que,

em

Pernambuco, há

cerca de 70 mil crianças de 7 a 13 anos trabalhando nos canaviais, a maioria

sem

carteira de trabalho.

Na

Paraíba, crianças entre 9 e 12 anos de idade trabalham na roça,

em

atividades 'de risco nas lavouras, apesar dos patrões terem sido multados. -

Como

Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, o trabalho irregular de menores é na

produção de carvão, com jornadas iguais as de adultos.

Nas fábricas e setores terceirizados de calçados, foram até denunciadas por

(33)

Bahia, crianças de 6 anos de idade são forçadas a trabalhar na produção do sisal e nas

pedreiras, sem qualquer segurança.

A CONTAG

apurou ainda que, no município

paranaense de Nova Londrina, há crianças de até 5 anos trabalhando na lavoura".

(Diário Catarinense; 1°/05/1995, fls. 25).

A

realidade

mostrada nessa

reportagem

é a

mesma

que

muitos brasileiros

teimam

em

não

ver.

O

texto

é

claro.

Nos

da

uma

dimensão

real

do

que

está

acontecendo

em

nosso

País.

C

Crise, recessão,

desemprego.

Aumento

da

miséria.

Degradação

física

e

moral

de

milhões

de

cidadãos.

Vivemos

hoje

num

clima

de

insegurança

e

medo.

O

que

aconteceu

com

o

Brasil?

Por

quemergulhamos

nesta ciranda

de

incompetência social? e

. .

Como

explicar isso, se

somos

possuidores

do

5° território,

da

6° população,

do

11°

PIB

do

mundo

e

se

temos

em

nosso

subsolo riquezas imensas.

Por

que

existe tanta insegurança, tanto

medo,

tanta revolta?

Se

olharmos

o

mapa

econômico do

mundo vamos

ver

o

Brasil

ocupando

um

11° lugar.'Agora se

olharmos o

mapa

social: possivelmente

estaremos

em

último

lugar.

Como

explicar isso?

Década

após

década

aumenta

a concentração

de

renda

e

cresce

a

distância entre a

pequena

,elite privilegiada

que

vive

no

luxo e a

grande

massa

popular

que

vive

na

miséria.

Segundo

Paulo Freire,

em

seu

livro:

Educação

como

prática

da

Liberdade,

“A renda nacional relaciona-se

sempre

com

os

valores políticos

e o

estilo

de

vida

da

classe dominante.

Tanto mais

pobre seja

uma

nação,

e mais

baixos os

padrões

de

vida

das

classes inferiores, maior será ai pressão

dos

extratos superiores sobre

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