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O centro oleiro de Bisalhães: uma proposta cooperativa para o seu desenvolvimento turístico

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Manuel Alberto Tapada da Costa

O centro oleiro de Bisalhães:

Uma proposta cooperativa para o seu desenvolvimento turístico

Dissertação de Mestrado em Turismo

Orientador: Professor Doutor Fernando Bessa Ribeiro

Vila Real

2013

(2)

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM TURISMO

O centro oleiro de Bisalhães:

(3)

Índice Geral

Lista de Siglas 9 Agradecimentos 10 Abstract 12 Introdução 13 Capítulo I 15 Teoria e método 1. Origem e direcção 15 2. Teorização e compromisso 17

3. As complexidades de um caminho sinuoso 19

4. A iniciativa 21

5. Artesanato, recurso turístico e desenvolvimento 27

Capítulo II 35

Cooperativismo, uma história singular

1. Origens do Movimento Cooperativo 35

2. Industrialização e a génese do cooperativismo moderno 36

3. Os 28 tecelões de Rochdale 37

4. O contexto das lutas operárias e ideológicas 38

5. Cooperativas, partidos e sindicatos: a coabitação ambígua 39

6. As disputas ideológicas na Europa 40

7. O deslocamento para a Europa continental 42

(4)

9. O 25 de Abril e a dinâmica cooperativa 46

10. Enquadramento e definição 48

11. As cooperativas e o mercado 49

12. Cooperativismo e globalização 50

Capítulo III 53

Geografia e História dos Lugares

1. No Princípio…Era a Terra. 53

2. Eu vim de longe! 56

3. Fornos de produção cerâmica 57

4. A Telheira de Parada de Cunhos 58

5. Uma Geografia dos Locais de Produção 60

6. Comercialização 63

Capítulo IV 76

Origens e Trajecto da Produção Cerâmica

1. O contexto geológico 76

2. Bisalhães: uma aldeia na freguesia de Mondrões 77

3. Incertezas e omissões 82

Capítulo V 86

Produção Cerâmica – Produtos e Tecnologia

1. Os Forais Medievais – Uma Carta de Identidade 86

2. Produção 89

3. Descrição das peças artesanais de Bisalhães e respectivos períodos de

produção 125

Capítulo VI 127

Os sobreviventes do centro oleiro de Bisalhães

1. Oleiros e sua história de vida 127

Capítulo VII 130

(5)

Conclusão 139

Referências Bibliográficas 143

Índice de quadros, figuras e fotografias

Quadros

Quadro 1. O Instrumental do Oleiro 91

Quadro 2. Equipamentos e acessórios para a cozedura 96

Quadro 3. Equipamentos e acessórios para o transporte 97

Quadro 4. Inovações técnicas na olaria 98

Quadro 5. Relação dos Fornos de Produção de Olaria Negra

construídos por Oleiros de Bisalhães. 100

Figuras

Figura 1: Esquema adaptado de Investigação/Acção 22

Figura 2: Esquema adaptado às fases da Investigação/Acção 22 baseado em Kemmis

Figura 3: Sequência de ciclos no âmbito da Investigação/Acção

adaptado à pesquisa sobrea olaria de Bisalhães 28

Figura 4: modelo esquemático de roda de oleiro 54

Figura 5: modelo esquemático de roda de oleiro 54

Figura 6: Esquema de forno em corte - modelo 3D 57

Figura 7: modelo gráfico da distribuição dos fornos telheiros 59 Figura 8: modelo gráfico da distribuição dos Barreiros 61 Figura 9: modelo gráfico da distribuição dos Centros Oleiros 64 Figura 10: modelo gráfico da distribuição das feiras onde se vendiam

as peças 66

Figura 11: modelo gráfico da distribuição de louças do Centro

(6)

Figura 12: modelo gráfico da localização dos distribuidores

tradicionais do centro oleiro 74

Figura 13: Esquema de tridimensional de pio e malho 91

Figura 14: forma decorativa de Bisalhães 104

Figura 15: forma decorativa de Bisalhães 105

Figura 16: forma decorativa de Bisalhães 105

Figura 17: forma decorativa de Bisalhães 106

Figura 18: forma decorativa de Bisalhães 106

Figura 19: forma decorativa de Bisalhães 107

Figura 20: forma decorativa de Bisalhães 107

Figura 21: forma decorativa de Bisalhães 108

Figura 22: forma decorativa de Bisalhães 108

Figura 23: forma decorativa de Bisalhães 109

Figura 24: forma decorativa de Bisalhães 109

Figura 25: forma decorativa de Bisalhães 110

Figura 26: forma decorativa de Bisalhães 110

Figura 27: forma decorativa de Bisalhães 111

Figura 28: forma decorativa de Bisalhães 111

Figura 29: forma decorativa de Bisalhães 112

Figura 30: forma decorativa de Bisalhães 112

Figura 31: forma decorativa de Bisalhães 113

Figura 32: forma decorativa de Bisalhães 113

Figura 33: forma decorativa de Bisalhães 114

Figura 34: forma decorativa de Bisalhães 115

Figura 35: forma decorativa de Bisalhães 115

Figura 36: forma decorativa de Bisalhães 116

Figura 37: forma decorativa de Bisalhães 116

Figura 38: forma decorativa de Bisalhães 117

Figura 39: forma decorativa de Bisalhães 117

Figura 40: forma decorativa de Bisalhães 117

Figura 41: forma decorativa de Bisalhães 118

Figura 42: forma decorativa de Bisalhães 119

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Figura 45: forma decorativa de Bisalhães 120

Figura 46: forma decorativa de Bisalhães 121

Figura 47: forma decorativa de Bisalhães 121

Figura 48: forma decorativa de Bisalhães 122

Figura 49: forma decorativa de Bisalhães 123

Figura 50: forma decorativa de Bisalhães 123

Figura 51: forma decorativa de Bisalhães 124

Figura 52: forma decorativa de Bisalhães 124

Figura 53: forma decorativa de Bisalhães 125

Fotografias

Fotografia 1: Pormenor da louça preta de Bisalhães 14

Fotografia 2: oleiro a trabalhar na tradicional roda baixa 55 Fotografia 3: Oleiro a colocar as “roncas” para a cozedura no forno

comunitário 58

Fotografia 4: fotografia do espaço de comercialização à entrada da

cidade 67

Fotografia 5: caminho rural por onde se fazia o transporte das louças 71 Fotografia 6: Bisalhães no primeiro plano com os seus dois núcleos

Primitivos 76

Fotografia 7 e 8: 7 – Calçada Romana; 8 – Pormenor escultórico

da Igreja Matriz 78

Fotografia 9: Peças nas lojas na entrada de Vila Real 80

Fotografia 10: Pormenor da louça preta 85

Fotografia 11: fotografia da capa do Foral de Lordelo 86

Fotografia 12: pormenor do Foral de Lordelo 87

Fotografia 13: pormenor do Foral de Lordelo 87

Fotografia 14: forno em combustão 89

Fotografia 15: artefactos de apoio do oleiro de Bisalhães 90 Fotografia 16: pormenor de decoração de peça de Bisalhães 101

Fotografia 17: forma decorativa aplicada 106

Fotografia 18: forma decorativa aplicada 107

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Fotografia 20: forma decorativa aplicada 108

Fotografia 21: forma decorativa aplicada 108

Fotografia 22: forma decorativa aplicada 109

Fotografia 23: forma decorativa aplicada 110

Fotografia 24: forma decorativa aplicada 111

Fotografia 25: forma decorativa aplicada 111

Fotografia 26: forma decorativa aplicada 112

Fotografia 27: forma decorativa aplicada 113

Fotografia 28: forma decorativa aplicada 113

Fotografia 29: forma decorativa aplicada 114

Fotografia 30: forma decorativa aplicada 116

Fotografia 31: forma decorativa aplicada 117

Fotografia 32: forma decorativa aplicada 117

Fotografia 33: forma decorativa aplicada 119

Fotografia 34: forma decorativa aplicada 120

Fotografia 35: forma decorativa aplicada 120

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Lista de Siglas

ACI: Aliança Cooperativa Internacional

AETUR: Associação de Empresários Turísticos do Douro e Trás-os-Montes AIT: Associação Internacional do Trabalho

CCDRN: Comissão de Coordenação Regional e Desenvolvimento do Norte CRAT: Centro Regional de Artes Tradicionais

CRL: Cooperativa Responsabilidade Limitada EMD: Estrutura de Missão Douro

EN: Estrada Nacional

ERTD: Entidade Regional Turismo do Douro

IEFP: Instituto de Emprego e Formação Profissional IP4: Itinerário Principal Nº 4

IPSS: Instituições Privadas de Segurança Social

NERVIR: Núcleo Empresarial de Vila Real: Associação Empresarial OIT: Organização Internacional do Trabalho

PENT: Plano Estratégico Nacional do Turismo PIB: Produto Interno Bruto

PRODER: Programa de Desenvolvimento Regional

(10)

Agradecimentos

Começo por agradecer ao Professor Doutor Fernando Bessa Ribeiro o facto de ter aceitado ser meu orientador, a quem enalteço o rigor, a exigência e a coerência com que sempre se apresentou, nas metas, nas observações e na pertinência das sugestões que implacavelmente foi fazendo, num território por vezes de resistência que eu corporizava e naquilo que eu defendia. Reconheço a sua sabedoria, paciência e exemplo, que respeito e admiro.

Em segundo lugar enalteço o papel da minha família, o seu carinho e sábio incentivo. A todos estou grato, nomeadamente à Rosa Maria, ao Manuel e sobretudo ao Samuel, bordão e amparo em que mais me apoiei. De igual modo lembro a minha mãe e o Orlando. Não posso finalmente esquecer a Professora Maria Adelina Fernandes, pelo seu carinho e entusiasmo.

Não podia deixar de manifestar aos últimos oleiros de Bisalhães e às suas famílias o profundo reconhecimento pela sua tolerância, afabilidade e cooperação. Também por terem partilhado comigo alguns dos seus mais recônditos e inconfessáveis mundos. Agradeço às senhoras: Adélia Fontes, Adorinda Sigre e Glória Martins, os seus contributos e sobretudo os desenhos decorativos que, com prazer, fizeram para este trabalho. À família do oleiro Cesário Martins fica um particular agradecimento pelo incentivo que deram à cooperativa, apoiando a todos os níveis os jovens oleiros na sua iniciação nesta actividade e permitindo inclusive a cozedura conjunta das peças produzidas.

Não posso deixar de referir os valiosos contributos técnicos prestados pela Longomai, Lda e pela Sigillata Crl.

Este trabalho é também um tributo às seculares gerações de oleiros anónimos que magicamente transformaram terra disforme em artefactos úteis, belos e enigmáticos. Por fim deixo um tributo a todos os cooperadores que em todo o mundo, buscam através da entreajuda e da cooperação, construir um tempo emancipatório, mais justo e mais solidário, conforme o ideário cooperativo reconhecido e praticado por mais de 800 milhões de pessoas e em cujo exemplo se ancora o espírito da alternatividade, da esperança e da utopia.

(11)

“as realidades importantes do presente já foram utopias no passado; assim acontecerá no futuro a muita utopia de hoje. O utopista é um condutor de turbas e a quem as turbas apupam. Do utopista, enterrado com o nome de doido, surge o grande homem, e ressurgia antigamente o semi-deus”.

(12)

Abstract

The Bisalhães Pottery Centre is but a trace of a model for ceramic firing very used all across Europe and specially in the north of Portugal. Its color characteristics, the manufacture by archaic wheel and its firing process, confer it a rare singularity in the context of pottery production. Like other centres and models of artisanal production, this pottery centre reached a critical point of survival putting to an end a beautiful and functional neolithic tradition.

In the framework of this thesis, the cooperative model is proposed as a way to relaunch such emblematic artisanal activity that could surely assert itself as a distinctive element in the region's tourism offer.

Key words: pottery, history, investigation-action, cooperativism, globalization, tourism.

Resumo

O Centro Oleiro de Bisalhães é um resquício de um modelo de cozedura cerâmica muito propagado na Europa e em especial no norte de Portugal. As suas características de cor, de fabrico através de roda arcaica e o seu processo de cozedura, conferem-lhe uma singularidade rara no contexto das produções oláricas. À semelhança de outros centros e de outros modelos de produções artesanais, este centro oleiro atingiu um ponto crítico de sobrevivência pondo fim a uma bela e funcional tradição neolítica.

O modelo cooperativo é proposto, no âmbito desta tese, como a via para o relançamento de tão emblemática actividade artesanal que pode, com segurança, afirmar-se como um elemento distintivo da oferta turística regional.

Palavras-chave: olaria, história, investigação-acção, cooperativismo, globalização, turismo.

(13)

Introdução

Após largos séculos de produção de artefactos cerâmicos e oláricos em vários lugares do termo de Vila Real, parece chegar ao fim esta singular tradição, hoje confinada às mãos dos últimos 4 oleiros, de avançada idade e moradores no lugar de Bisalhães, pequeno povoado situado na freguesia de Mondrões, no município de Vila Real.

Na base deste fim anunciado afigura-se um conjunto de problemas de diversa ordem, verificados nas últimas décadas e que, agindo em concertação sistémica, conduziram a loiça tradicional do vale do Corgo à situação de desaparecimento próximo e irreversível.

As razões desta situação são de natureza funcional, de desajustamento de mercado, de vontade e de circunstância.

Emergem ainda contextos de posicionamento e de opção e onde o primeiro aspecto tem a ver com a derivação dos jovens para outras áreas de actividade, nomeadamente no sector dos serviços, sobretudo em Vila Real, rompendo-se nas últimas décadas a tradicional passagem da actividade de pais para filhos, situação que torna irreversível a reposição artesanal e a regeneração empresarial a partir da comunidade residente.

Outra dificuldade enfrentada e que só o tempo de investigação permitiu aferir, relaciona-se com um profundo sentimento de individualismo enraizado em heranças geracionais e familiares, em disputas de nichos de mercado, na afirmação do presente sucesso dos filhos e netos e até em formas de espionagem comercial e tecnológica, tornando o centro oleiro num palco de concorrência desenfreada, com as suas alianças, conspirações e batalhas simbólicas, configurando-se Bisalhães como um reflexo micro cósmico e periférico, das realidades macro da sociedade contemporânea.

Acresce o desajustamento da oferta produtiva face às exigências domésticas, aos padrões de gosto e ao rompimento com artefactos pouco funcionais num estilo de vida moderno e profundamente padronizado.

Por fim realçam-se, como aspectos marcantes para a extinção do centro oleiro, as razões de circunstância, que se prendem com a avançada idade dos oleiros e as doenças que atingiram as esposas da maioria dos últimos oleiros que praticamente

(14)

deixaram de cooperar nas suas funções tradicionais levando ao definhamento da actividade.

O objectivo deste trabalho visa propor o relançamento desta actividade artesanal sob a forma de uma cooperativa de artesanato, procurando incorporar novos artesãos e modelos apelativos e sugerir a estruturação de uma actividade produtiva tecnologicamente avançada no fabrico e no fornecimento de pastas cerâmicas já preparadas e na comercialização dos excedentes provenientes dos oleiros tradicionais, contribuindo para a solução de alguns constrangimentos verificados. O modelo empresarial de base cooperativa procurará implementar uma rede comercial moderna, elegendo como mercado prioritário o incoming turístico regional e nacional.

Na abordagem promocional da cooperativa serão considerados os aspectos da comunicação e da imagem, rompendo com a forma tradicional de embalamento que desprestigia o produto acabado e incorporando aspectos de apelativo marketing turístico que eleve os factores distintivos da “olaria negra de Bisalhães”.

(15)

Capítulo I

Teoria e método

1.

Origem e direcção

Ao longo deste capítulo procura-se desenvolver em paralelo a teorização da metodologia da Investigação/Acção com a sua aplicação prática ao caso da olaria de Bisalhães e às vicissitudes inerentes ao desenrolar do processo e das propostas que se foram apresentando até ao consumar do objecto central da tese.

Para John Dewey (1859 – 1952), pioneiro na ruptura com a visão hegliana in Esteves (1986:251-278), a investigação científica é analisada numa perspectiva unitária, acentuando ainda que a mesma

“é a transformação controlada ou directa de uma situação indeterminada numa outra que seja totalmente determinada, nas suas distinções e relações constitutivas, a ponto de converter os elementos da situação originária num todo unificado”.

A abordagem à temática do centro oleiro, à sua complexidade e dispersão parece adaptar-se a este enunciado teórico pois tudo é conduzido tendo um fim objectivo para onde se pretende convergir.

Por sua vez Esteves (1986), entende dever ser reconhecido a Dewey não só o pioneirismo como também a sua proposta metodológica que assenta num carácter inovador dado a acção de nível realista, ser seguida por uma reflexão autocrítica, objectiva e uma permanente avaliação de resultados o que também esteve presente nas várias etapas do processo e da sua articulação com os agentes envolvidos.

As diversas facetas geradoras de rupturas face ao positivismo, que é uma das características identitárias da Investigação/Acção, emprestaram os contornos ao carácter aglutinador do artigo “Action Research and Minority Problems” tornado público por Kurt Lewin, in Esteves (1986:251-278). Este pensamento veio introduzir, na década de 1940, um princípio basilar na edificação da Investigação/Acção, condensando as diversas propostas emergentes da crítica ao positivismo até esse período. Além disso, a nova forma de pesquisa para que aponta, visa ultrapassar a lógica distanciada e os patamares compartimentados, que tradicionalmente se colocavam entre os

(16)

investigadores e os agentes envolvidos, preocupação bem evidente na investigação, reflexão transversal e dinâmicas tentadas, numa solução associativa para o problema, criando um campo dialéctico que é “o espaço de vida que contém a pessoa e o seu

ambiente psicológico” Lewin (1935).

Longe da rigidez clássica e da relação vertical tradicional, emerge por esta fórmula metodológica, a pluralidade da participação e dos contributos colhidos pelo investigador e que se tornam cruciais para a solução dos problemas e para a efectividade da pesquisa. O modelo de estrutura defendido por Lewin, correspondia a uma concepção de “ciclos de acção reflexiva”, correspondendo cada um a três fases essenciais assente na planificação, na acção e na avaliação da acção, sujeitando a investigação a um perfil espiralado o que aliás se manteve (ainda que com pequenas variações), noutros investigadores, tais como Stephen Kemmis, John Elliot e Jack Whitehead (Latorre, 2003).

Outras propostas metodológicas são defendidas por U. Bonfrenbrenner (1979:37) que buscam acentuar uma trajectória de deslocamento da investigação para contextos da vida real, fazendo eco do princípio defendido por Dearborn: “Se queres compreender

uma certa realidade, procura mudá-la”. E esta ideia esteve desde sempre presente em

toda a abordagem, não só da metodologia mas em todo o trabalho de investigação desde 2004 e que consistiu, não só em identificar o problema e as suas causas, mas ir mais além nessa compreensão que implicava uma alternativa prática, lógica e portadora de uma alternativa em que deveria desaguar todo o processo. Por isso a constituição da SIGILLATA Crl consubstancia o resultado dessa “compreensão”.

Este posicionamento vem evidenciar o antagonismo de forças em presença, entre a investigação/acção e o positivismo, dado existir um desvio da investigação solitária e neutra dos gabinetes, para o campo das realidades concretas onde o investigador se envolve, contribui para a mudança e se transforma a si próprio, colocando a metodologia ao serviço de uma causa social mobilizadora (Bogdan; Biklen, 1994) susceptível de transformar uma realidade identificada, o que também é verificável no contexto do centro oleiro.

Com efeito esta área do conhecimento evoluiu do contexto da ciência tradicional em que se integrava, submetida à razão e à imparcialidade, até se implicar fortemente nos processos de mudança social. O debate sobre a sua postura e a natureza dialéctica em que se estrutura, conduzem a investigação para as problemáticas humanas e para as

(17)

Segundo Patton (1980), a investigação assenta numa matriz ou num padrão onde vivificam princípios estruturados que orientam um sistema teórico, configurando-se como portadores de uma visão diferente de ver a realidade, de observar o mundo e de desagregar a sua complexidade. São afinal estes aspectos que conferem às investigações uma identidade própria.

Para o trabalho em mãos e que incide sobre a problemática da “Olaria de Bisalhães”, serão tidos em conta estes contributos e a sua aplicação através dos ciclos dinâmicos na busca de uma solução para o projecto cooperativo, a partir de uma ideia geral, sobre a qual se insere a investigação, Kemmis (in Latorre 2003:32).

2.

Teorização e compromisso

Se é inquestionável o virtuosismo e pertinência social da Investigação/Acção (Coutinho, 2005), contudo ela não escapa a alguma ambiguidade, problemática e indefinição teórica, Gomez (1996) e pese o seu carácter conceptual ser de difícil balizamento, ela compreende, para Dewey (1938) a capacidade de transformar de forma controlada e directa, uma situação indeterminada, numa outra perfeitamente determinada, configura-se como um processo de colocar questões e tentar obter respostas para melhorar o ambiente de aprendizagem.

Sendo no entanto, dinâmica, cíclica e em espiral encontra aí uma delimitação do seu campo existencial onde se submete ao primado da prática, das experiências e da evolução pois, a dinâmica cíclica leva a que os resultados da investigação sejam transformados em prática, que por sua vez origina novos projectos de reflexão. Então a Investigação/Acção tende a provocar mudanças das realidades através das transformações e da acção associadas (Hugon; Seibel, 1988) como se demonstra nas fases de discussão, de tentativas de compromisso e de envolvimento de pessoas e instituições muito diferenciadas e à sua maneira, profundamente condicionadas.

Neste caso a metodologia ancorou-se no seu compromisso com a construção social e a sua vertente sócio organizacional cooperativa (Coutinho, 2005) envolvendo os agentes em formas de cooperação que sustentaram certos processos de mudança, sendo capaz de os mobilizar alguns para atingir três objectivos claros: questionar, compreender e mudar (Ebbutt, 1985), pressupostos sempre presentes ao longo de todo o trabalho.

A investigação/acção inclui na sua estratégia de actuação “produzir resultados que

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programas e sua implementação” Schein, (1986) e promove a mudança social e as suas

complexidades pois os agentes têm de ser implicados, pois é na nova realidade que vão viver (Bogdan; Biklen, 1994).

Na prática, é solicitado aos grupos envolvidos que assumam a responsabilidade de mudarem e o grau de amplitude dessa mudança que definirá o novo patamar para onde se remeterão, implicando, por sua vez, novos passos a dar na investigação (Ainscow, 1995). E esta sucessiva implicação dos intervenientes nas reflexões e tomadas de decisão, dentro da dinâmica prática e reflexiva e de novo a acção, configura uma estratégia eficaz de realização e de auto-estima.

Na prática, esta metodologia vem implicar activa e seriamente o investigador, assume o seu papel ao serviço de uma causa mobilizadora, capaz de suscitar mudanças sociais (Bogdan; Biklen, 1994) transformando uma conjuntura dispersa e ambígua, em algo bem determinado, claramente definido e por conseguinte altamente mobilizador.

Mobiliza e facilita a formação reflexiva, promove o seu posicionamento investigativo face à prática e à sua própria emancipação (Moreira, 2001), onde os agentes deixam de ser somente aqueles que utilizam mas, sobretudo, passam a ser aqueles que criam, como defende Arends (1995) e implicados nesse quadro são impelidos a compreender a realidade através do seu acto de transformação que decorre da identificação de um problema real (Hugon; Seibel, 1988).

Curiosamente a investigação/acção, tem na sua base a matriz da cooperação pois insere-se numa trajectória inclusiva intrínseca à identidade do movimento cooperativo e é também nesse contexto que expressa toda a sua abrangência social, de credos, de raças e estatuto, dentro do preceituado cooperativo.

O reconhecimento teórico e prático das virtudes da cooperação estão, aliás, muito presentes nos defensores desta metodologia tais como Dewey (1915) e Slavin (1983), citado por Arends, (1995) que fundamentam a aprendizagem cooperativa na incitação e tarefa cooperativas e na heterogeneidade do grupo, que se configuram como os seus relevantes ingredientes (Herbert Thelen, 1970). Também se enquadra na experiência pedagógica alternativa, o projecto de Freinet (1975)1assente na matriz cooperativa e que

1 A filosofia subjacente ao Projecto Alternativo Árvore coloca todos os cursos superiores artísticos no mesmo plano de importância cultural, e conceptualiza uma educação assente na "unidade e diversidade,

experimentação e abertura à inovação, aprendizagem em vez de ensino, organização como acto inteligente em vez de burocracia, convívio contra a indiferença, preocupação pelos problemas individuais, … ousadia artística no seio de rigor científico. … Vida democrática, número ecológico de

(19)

funcionou como um instrumento para responder aos anseios e competências dos alunos desfavorecidos e socialmente excluídos à semelhança do que se passou em Portugal com a Cooperativa de Ensino Árvore na cidade do Porto.

Os projectos assentavam nos princípios da aprendizagem, da cooperação e do grupo, aumentando por esta via o desempenho escolar, a interacção dos alunos e as competências sociais por contraponto à competição e ao individualismo que caracterizam a sociedade e o ensino, motivando por essa via o desejo de continuar a aprender como defendia Dewey, citado em Esteves (1986).

Também o trabalho de pesquisa e a reflexão que se seguiu sobre esta metodologia aplicada ao estudo da olaria de Bisalhães, levou a uma conclusão deveras curiosa, pois o que parecia inicialmente pouco sustentado, difuso e entrelaçado, auto-avaliativo e intrinsecamente ligado à mudança (Coutinho, 2005), revelou-se como a matriz de desenvolvimento das diversas experiências cooperativas em que me envolvi ao longo de muitos anos e que aos poucos, com o andamento da pesquisa acabei por descobrir.

E foi esta metodologia, multifacetada e transformadora que se aplicou neste trabalho.

3.

As complexidades de um caminho sinuoso

Os primeiros trabalhos de estudo sobre o centro oleiro iniciaram-se em 2004 no âmbito da “Certificação da Olaria Negra de Bisalhães” promovida pela Nervir, pelo CRAT e pelo IEFP. Neste quadro foram auscultadas a Câmara Municipal de Vila Real e a Junta de Freguesia de Mondrões. Foi elaborado o “Caderno de Especificações Técnicas” e imagem estilizada para vigorar na promoção e marketing destas produções. Este processo não ficou completo e por conseguinte parte dos objectivos acabaram por não ser atingidos. E em parte, os oleiros e as instituições foram os responsáveis pelo pouco sucesso da iniciativa.

A transferência desta problemática para este trabalho justifica-se pela ausência de uma continuidade desta procura e pela constatação generalizada de que nada havia a fazer. Por isso o relançamento desta questão não esteve isento de descrença e até de algum desconforto. Contudo o conhecimento das particularidades do contexto

(20)

envolvente, quer dos oleiros e dos seus mundos, quer das Instituições e das suas sensibilidades, permitiram fazer um caminho que tinha um fim e um objectivo bem claro.

No trabalho de campo foram actualizadas informações, melhoradas entrevistas, ouvidos novos relatos e novas formas de aproximação. Neste quadro foram feitas recolhas relevantes através de fotografias, de registos de vídeo e foi dada voz às mulheres, porque elas retractam uma outra realidade e estão mais predispostas a certas mudanças nomeadamente porque sobre elas recai a penosidade do trabalho mais difícil. Por outro lado deram um contributo assinalável na elaboração dos desenhos que decoram as peças e no apoio à sua adequação esquemática.

O arcaísmo do sistema produtivo e até alguma violência de alguns trabalhos foram detectados desde as primeiras auscultações e das entrevistas realizadas. As actividades mais duras resultam do picar, peneirar e amassar o barro e ainda o sistema de cozedura.

As sugestões apresentadas foram no sentido de se criar 1 forno comum com substituição do combustível tradicional de lenhas por um outro mas que garantisse os resultados finais em termos de resistência, de toque e de cor como agora se verifica. Também foi proposto a aquisição em comum de barros, de moinho e de fieira de mistura. E embora a ideia fosse ir mais longe e actuar na área do marketing turístico associado, de uma imagem apelativa e por conseguinte atribuir à loiça um carácter de distinção, os problemas começaram logo na primeira fase. E embora dissessem que “se

isso existisse” tudo seria melhor, invocavam por outro lado as dificuldades de

relacionamento entre clãs familiares ou acordos de conveniência.

São ancestrais as rivalidades, as disputas, a espionagem e a abordagem negativa que os oleiros fazem uns dos outros e o processo de os agrupar pelas suas necessidades genericamente aceites, aos poucos emergiam novas problemáticas e novos antagonismos. Por sua vez o poder autárquico condicionou a sua intervenção à meritória ideia de criar um centro interpretativo desta arte, sem acautelar a aquisição prévia de uma casa adequada acabando o processo por sucumbir. E todos encontraram uma forma de lavar as mãos.

A ideia de criar uma régie-cooperativa, envolvendo agentes públicos e privados caiu assim por terra. Foram tentadas outras formas, a primeira das quais assentava na criação de uma cooperativa de produção operária, mas era necessário haver cooperadores formados. Mas tal, nunca foi possível conciliar entre as instituições

(21)

Tese, e onde envolvia também a venda dos produtos em espaço atractivo, fora dos oleiros, separando-se a produção da comercialização.

4.

A iniciativa

Avaliando os factos e considerando que era assunto mais ou menos pacífico a aquisição de pastas já preparadas ou de barro apenas moído e além disso que o processo de valorização das produções podia decorrer fora do contexto tradicional dos oleiros, decidiu-se avançar para a constituição da cooperativa. Nela caberão os oleiros que a queiram integrar podendo usufruir dos seus serviços na medida e nos contextos que cada um considere adequado, garantindo completa liberdade de acção. Em simultâneo a cooperativa tanto pode funcionar como fornecedor, como comprador das produções dos oleiros tradicionais, o que já se vem a verificar. Em suma foi considerado que era necessário abrir esta porta pois tinham decorrido muitos anos e a estratégia de envolver todos os oleiros desde o início, era tarefa impossível.

Foi dado conhecimento às instituições públicas da materialização desta iniciativa e mantém-se aberta a possibilidade da sua Sede ser transferida para Bisalhães como consta do seus estatutos e tem-se reforçado o diálogo com alguns oleiros que estão disponíveis para colaborarem na instalação dos equipamentos na freguesia da Cumieira e na afinação de aspectos peculiares da aprendizagem dos novos oleiros.

A investigação sobre a Olaria Negra de Bisalhães iniciou-se em 2004 no âmbito do projecto de “Certificação da Olaria Negra de Bisalhães” promovido pela Nervir que por sua vez solicitou a colaboração da AETUR para o trabalho de cariz monográfico sobre o centro oleiro. Nesse âmbito fui o responsável pela investigação que se traduziu na detecção de dados relevantes para a história deste artesanato e de que resultaram 2 publicações.

No âmbito deste trabalho, a questão da sobrevivência do centro oleiro esteve sempre presente, impondo-se a busca de uma solução organizacional que pudesse viabilizar ou relançar a olaria e já então, a modalidade cooperativa foi de imediato considerada. Seguiram-se anos de auscultações, discussões, tentativas de convergências, envolvendo instituições públicas e privadas, mas sem resultados práticos.

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Figura 1: Esquema adaptado de Investigação/Acção (Bisalhães)

Os passos seguidos, calcorrearam as fases da Investigação/Acção, adequando-a à problemática do “Centro Oleiro de Bisalhães”, traduziu esta problemática num verdadeiro ”projecto de acção”, assente numa dinâmica cíclica ou “ciclos de acção reflexiva” e tendo como pressuposto que a investigação parte sempre de uma ideia geral e de um problema real como sustentava Kemmis, (1993).A cada ciclo espiralado, correspondem 4 fases (planificação, acção, observação e reflexão) e eles estiveram sempre presentes nas dinâmicas que se desenvolveram.

Figura 2: Esquema adaptado às fases da Investigação/Acção baseado em Kemmis

Planificação

• Princípios especulativos hipotéticos e gerais

• Estabelece hipóteses quanto à acção a conduzir

• Pode gerar hipóteses posteriores e alteração dos princípios

Acção • Melhoramentos desejados • Acção experimentada • E assim sucessivamente Observação • Recolha informações correspondentes aos seus efeitos

• Informações utilizadas – Rever hipóteses preliminares

Reflexão

• Identificar uma acção apropriada que reflicta modificação

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1º Ciclo: Planificação

A iniciativa começou pela investigação tradicional, compreendendo a consulta bibliográfica, a leitura de publicações, de artigos, auscultação de testemunhos orais, inventário de acervos e depósitos bibliotecários;

Investigação no contexto sociológico do centro oleiro, das suas tradições, experiências de vida, opiniões sobre a actividade;

Elaboração de um primeiro questionário aos oleiros e primeira auscultação sobre os contributos que um modelo associativo poderia trazer, como mais-valia.

Acção

Foram elencados, em parceria com algumas instituições e com os oleiros o conjunto de melhorias necessárias ao centro oleiro;

Cada oleiro em particular foi acrescentando outras opiniões, pois, conhecendo o seu contexto social tinha que ser dado espaço a que cada um se manifestasse em separado, dada a sua rivalidade.

Observação

O tratamento das informações recolhidas no ponto anterior, permitiram obter várias conclusões. Sendo necessários passos para se ultrapassar a situação crítica da olaria, verificou-se uma avaliação e aceitação negativa sobre um modelo associativo/cooperativo.

Reflexão

Reflectindo sobre o processo, foi direccionada a ideia para ver em que aspecto se poderia intervir associativamente, virada para novos produtores e sem excluir os existentes.

2º Ciclo Planificação

Foram reequacionados os aspectos decorrentes do 1º Ciclo e repensado um novo plano de acção;

Foi ponderada a necessidade de controlo sobre a adulteração da louça tradicional, devido à introdução de louça de outras proveniências.

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Acção

Foram consultados e informados alguns organismos relevantes à escala regional, partilhando dúvidas e ouvindo sugestões para levar o projecto a bom porto;

Foram dados passos significativos no processo de “certificação da olaria de Bisalhães” em cooperação com instituições regionais.

Foram visitados outros centros oleiros em território nacional e em Zamora.

Observação

A certificação não ficou concluída bem como o registo da marca. Os oleiros não se mostraram sensíveis à necessidade da certificação, invocando antes apoios e reconhecendo que serão os últimos a produzir;

Aceitam no entanto ensinar jovens que pretendam iniciar-se nesta arte.

Reflexão

Perante este cenário, foi redireccionado e “melhorado” um novo questionário e partir para a estruturação de um projecto sustentado para a freguesia de Mondrões, equacionando uma abordagem diferente do problema, acrescentando-lhe mais objectividade.

3º Ciclo Planificação

No âmbito da AETUR, do CRAT, da UNINORTE, da Estrutura de Missão do Douro, da Turismo do Douro, da Associação Douro Histórico, da Junta de Freguesia de Mondrões e do Município de Vila Real, iniciou-se um processo de envolvimento, tendo em vista garantir um projecto cooperativo e de formação profissional, para relançar o centro oleiro.

Acção

Decorreram reuniões de trabalho com as instituições, foi desencadeado o processo formativo, a selecção da ementa curricular para o curso (estruturada pelo investigador), sustentabilidade económica e financeira, estudo de fontes de financiamento para se garantir a viabilidade do projecto.

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Observação

Foram enumeradas as áreas de melhoramentos indispensáveis, nas quais assentaria o modelo cooperativo:

- moagem de barros e fabrico de pastas

-inclusão da roda eléctrica na produção de peças

- modernização do forno de cozedura (que pode ser comunitário) - aquisição conjunta de lenhas

- processo integrado de certificação (anteriormente iniciado) - modernização de sistemas de comercialização

- formação profissional de novos oleiros

- procura de novos designs, introduzindo componentes de inovação - adequação ao turismo e a novos mercados

- necessidade de criar um “Centro Interpretativo da Olaria de Bisalhães”

Reflexão

Existiu adesão às sugestões apresentadas. Por sua vez, os oleiros, embora reconhecendo as necessidades atrás propostas, colocam, nalguns casos reticências;

Foi considerada a necessidade de encontrar uma solução intermédia através da qual pudesse existir uma proposta associativa (sobretudo para os novos oleiros) e os já instalados poderiam, querendo, adquirir alguns serviços à nova organização e manter a sua individualidade nomeadamente compra de pastas, comercialização, aquisição de lenhas, promoção e imagem.

4º Ciclo Planificação

A Junta de Freguesia de Mondrões manifestou a sua concordância (e referiu a mesma do Município de Vila Real) no avanço deste modelo e ficou acordado, em parceria com AETUR e Uninorte propor a criação de duas cooperativas, uma de produção/serviços (específica para a olaria) e outra para a área do turismo, englobando valências de outra ordem da freguesia e da sua proximidade a Vila Real.

Acção

Foram consultados vários artistas de renome para se associarem, através do desenho de novas peças, a esta necessidade de renovar e relançar o centro oleiro. Houve boa aceitação.

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Foi negociada com a AETUR, a organização (em parceria com IEFP e CRAT) da formação de novos oleiros, nas suas instalações.

Observação

Dado serem provenientes de Chaves, as actuais pastas usadas em Bisalhães, recorreu-se à Universidade de Aveiro para dar sustentação nas análises da matéria-prima e colher outras experiências.

Reflexão

Nas discussões havidas foi considerada como hipótese proceder à separação da produção e da comercialização das loiças. Os oleiros começaram a ficar mais sensíveis às propostas realizadas.

5º Ciclo Planificação

Iria ser necessário dar andamento à estruturação de um projecto turístico. Por outro lado seria necessário promover uma última reunião com entidades parceiras e implementar o projecto.

Deveria proceder-se, de imediato, à fundação de uma cooperativa do ramo da produção, conforme minuta já redigida.

A cooperativa deveria mandar elaborar o seu plano de negócios e candidatar o seu projecto.

Acção

Deveriam os parceiros requerer todos os formalismos e sediar provisoriamente a sede da cooperativa, na Junta de Freguesia.

A constituição da cooperativa deveria ser feita por instrumento particular e registada à posterior.

Os membros fundadores não teriam que ser forçosamente oleiros, até porque os destinatários naturais ainda teriam de ser seleccionados e formados.

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Verificaram-se que as pastas de Chaves apresentam composição físico-química idênticas às de Parada de Cunhos, conforme dados constantes do “caderno de especificações”.

Reflexão

Constatou-se, no decorrer deste processo uma boa cooperação entre entidades, o que valorizou o projecto e a proposta metodológica seleccionada. Foi ainda considerado urgente acudir a este problema

6º Ciclo Planificação

Verificou-se um inexplicável retrocesso institucional e a realidade começou a desagregar-se. Então um grupo de pessoas, com o suporte da AETUR e ao sector turístico, resolveram avançar para a criação de uma cooperativa de produção e de comercialização de artesanato, tendo como base a olaria e seus derivados.

Acção

Iniciaram-se as negociações com a Junta de Freguesia da Cumieira e a Associação Cultural, Desportiva e Recreativa da Cumieira e acordaram-se em definitivo as demais parcerias. Estipulou-se o fim de 2012 como o limite temporal para a realização do acto constitutivo da cooperativa e deu-se início aos cursos de formação para 2 jovens interessados.

Observação

Reuniram-se os interessados e definiu-se o modelo empresarial e o plano de negócios.

Reflexão

Constatou-se que o longo caminho de procura de uma solução, simultaneamente abrangente e eficaz, tinha chegado ao fim. Tinha sido dado um importante passo, quiçá decisivo, para a salvaguarda e relançamento da olaria de Bisalhães.

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Figura 3: Sequência de ciclos no âmbito da Investigação/Acção adaptado à pesquisa sobrea olaria de Bisalhães

O trabalho de pesquisa e a reflexão que se seguiu sobre esta metodologia levou a uma conclusão deveras curiosa. Aquilo que parecia pouco sustentado, difuso e entrelaçado, participativo e implicativo, auto-avaliativo e intrinsecamente ligado à mudança (Coutinho, 2005), não era mais do que aquilo em que assentou a experiência cooperativa dos diversos projectos em que participei.

O cooperador cresce e funde-se com o seu projecto colectivo, pelo retorno que daí lhe advém, pela solidariedade que aí encontra, pelo que cresce e como se transforma (Sérgio, 1948).

Segundo a Aliança Cooperativa Internacional (1995), este processo de transformação alquímico da natureza pessoal de todos e de cada cooperador, é tanto mais marcante, quanto maior predisposição houver para a partilha, para a aceitação e respeito das diferenças e para o reconhecimento de que todos os saberes e competências dos seus pares, são de levar em conta.

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5.

Artesanato, recurso turístico e desenvolvimento

A pressão exercida pela globalização generalizada e a desadequação das produções artesanais às necessidades correntes do quotidiano das comunidades originárias, o abandono e a desagregação de seculares modelos de vida e de sociabilidades, bem expressas no espaço rural e até urbano, têm colocado aos produtos artesanais, dificuldades, ruturas e complexidades que, por norma, têm arrastado essas produções para um visível apagamento (Vilarinho, 2003).

Apesar de se lhe reconhecer um papel mediador entre o passado e o presente e ainda entre as gerações da comunidade onde se desenvolve, o artesanato tem por norma associada uma carga de menoridade, de periférico e até de excluído, longe das manifestações artísticas premiadas e elitistas no presente quadro social (Canclini, 1990). Contudo, esse património, manifestado de forma tangível ou intangível, perpetua uma determinada herança colectiva de relevância cultural e de identidade, mantendo um sistema integrado de significados, por meio do qual se estabelece e se mantém a natureza de realidade, assente em primeiro lugar no seu carácter simbólico e da memória, junto das comunidades donde provém (Greenwood, 1972). Neste contexto faz sentido referir Bessa Ribeiro (2004:64) quando ao interpretar Bloch (1995) diz que

“a memória é, hoje, um tema da maior importância para a antropologia, a sociologia e a história. Interessadas nas representações sociais do passado e nos seus diferentes modos de transmissão, de geração em geração – oralidade, escrita, rituais e objectos culturais –, a reflexão sobre a memória, realizada simultaneamente nas vertentes teórica e metodológica, é uma tarefa que ajuda a clarificar a prática de terreno empreendida”.

Enquanto actividade económica, a produção artesanal é relevante no quadro das pequenas e micro empresas, desenvolvendo ainda nessas comunidades, sistema de coesão social bem como uma via para captar recursos de diversa tipologia, de catapultar dinâmicas e energias, de motivar fluxos turísticos e até, num sentido mais lato, como argumento do desenvolvimento local (Anico, 2004; Pereiro, 2003).

Na perspectiva da investigação das manufacturas cerâmicas segue-se um raciocínio idêntico, realçando o papel daquelas no reforço das identidades locais e regionais (Fernandes, 2003) e na afirmação de vínculos e símbolos dos territórios de onde emanam resgatando paulatinamente a sua legitimidade enquanto elementos

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essenciais à perpetuação da cultura e da história dos lugares (Ramos, 2006) e aos valores da sustentabilidade e da cooperação.

Com efeito, este virtuoso renascer dos objectos e práticas de matriz artesanal encerra também à sua medida uma dupla realidade que carece de ponderação pois, verifica-se que a redescoberta e a procura daquelas produções por parte dos emergentes mercados de perfil urbano, muito centrados no fenómeno turístico, levaram, por necessidade de escala e por gestão de oportunidade empresarial, à produção em série de réplicas artesanais alterando-se por esta via, a sua raiz artesanal e a sua função originária.

E este papel desempenhado pela indústria do turismo permite uma leitura mais plural (Barretto, 2007), podendo ser encarada, tanto como salvação destas manifestações artísticas ou ainda como expressão de aculturação resultante da afirmação do modelo imperialista, devido ao contacto intercultural e ao impacto dos turistas sobre as comunidades receptoras, exercendo-se por esta via formas de modelação de perfil dominante e de submissão (Nash, 1989).

Aliás muita da discussão teórica sobre o impacto do turismo nos territórios visitados, é resultado de visões geralmente antagónicas entre a antropologia e a economia (Greenwood, 1972), encarando uns, o turismo como um fenómeno monolítico e predatório e outros que chegam a considerar a cultura como um recurso transaccionável.

Ora, a amplitude destes campos visivelmente antagónicos, em que os territórios turísticos parecem antecipadamente remetidos para um campo perdedor (Barretto, 2007), fruto de uma dialética instalada e das profundas alterações culturais, económicas e sociais que o sistema industrial tecnologicamente mais avançado impõe (Boeke, 1953), é visivelmente contrariado em territórios turísticos como o Bali onde o turismo provocou a modernização ansiada e viabilizou o reforço da sua cultura própria. Esta constatação é também largamente evidenciada por Deitch (1977) ao referir que a cerâmica e outras produções artesanais do povo navajo estariam desaparecidas se não fosse o surgimento de um novo mercado turístico.

Este salto produtivo, que se destina unicamente a servir a procura crescente de cariz tradicionalmente urbano, assente numa nova demanda e num novo perfil de motivação que nada tem a ver com a tradicional, tem tido efeitos negativos nas comunidades locais, por não se identificarem nem com o novo sistema produtivo nem

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Este fenómeno de alteração e de transferência de representação dos “souvenirs” dos residentes para os turistas, junto dos quais desencadeia a representação do nível das suas emoções positivas (Carpenter, 1973), materializam um novo vínculo destes com a comunidade visitada ou com um destino turístico, perpetuando uma experiência desejada ou até uma espécie de viagem ao sagrado e ao “ter estado ali” (Deitch, 1987; Graburn, 1977). E pese o facto de terem acrescentado valia económica aos territórios e notoriedade aos agentes públicos, os produtos artesanais mudaram o seu meridiano simbólico, dos residentes para os turistas (Deitch, 1989).

Para Berlyne (1962) a vida humana, na sua totalidade, trata de manter um nível ideal de emoção e de fontes artificiais de estímulo, procurando por essa via compensar as carências e insuficiências do seu contexto natural. Ora, a principal função da conduta exploratória humana consiste na mudança do campo dos estímulos que a actividade turística possibilita e, dentro desta, os “souvenirs”, configuram-se como a prova palpável da realidade da viagem que se perpetua através da partilha com as pessoas mais próximas, depois do regresso (Carpenter, 1973).

Assim, para Smith (1992) não está já em causa reconhecer que o turismo tem vindo a ter um papel relevante no relançamento dessas práticas artesanais nas zonas turísticas onde opera, mas sim estudar os vários impactos culturais gerados e as mudanças que opera sobretudo nas regiões menos desenvolvidas do mundo (Pereiro, 2003).

Os estudos feitos sobre as produções artesanais destinadas ao mercado turístico, recomendam por sua vez, como afirma Santana (1997), que devem possuir as características de serem pequenas, baratas, não demasiado exóticas e poder conotar a região visitada. Aliás, trata-se de uma conclusão também subscrita por Deitch (1989) através de um exaustivo estudo sobre os impactos do turismo nas produções artesanais índias do sudoeste americano, reconhecendo que a diminuição do tamanho das peças se apresentou como aspecto mais marcante da evolução daquele artesanato.

Por sua vez Graburn (1980) converge na mesma ideia, e no mesmo conceito enquadrador de tamanho, de preços e de representação, explicando justamente a evolução dos produtos artesanais desde as suas funções utilitárias nos contextos local e urbano onde se desenvolveram e a sua evolução com a emergência do turismo onde se popularizam réplicas dos originais, baratas e transportáveis, para este novo mercado junto do qual assume um valor duradoiro e secularmente representativo da viagem realizada (Graburn, 1980). E deste contacto com uma nova cultura resulta a apropriação

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de ícones simbólicos que perduram amarrados às experiências do positivo e do autêntico que este na base das motivações da procura.

E embora, nestes casos ainda seja possível de início, conciliar a autenticidade com uma nova função que o consumidor turístico procura, estas produções vão perdendo, o seu carácter de identificação e o vínculo à comunidade original, à medida que a escala produtiva aumenta e se massifica e na proporção do aumento dos impactos turísticos em determinados territórios (Idem).

Apesar de suscitar múltiplas análises por parte de investigadores turísticos, dado ser o maior movimento de bens, serviços e pessoas que a humanidade viu ao longo da sua história (Grenwood, 1972) e de ser território de complexidades e até de visões muito contraditórias, o fenómeno turístico está fortemente vinculado à construção da modernidade social. E na perspectiva do estudo desse intercâmbio nos segmentos da cultura tradicional e da difusão dos produtos artesanais, por norma ligados ao fenómeno do turismo em escala, ele é para Deitch (1977) um processo encarado como factor de desorganização dessa cultura, propícia à afirmação de mudanças.

Focalizando a reflexão mais no âmbito do presente trabalho constata-se que a pressão exercida por elementos colonizadores exteriores e pela introdução de novos instrumentos e utensílios que levaram à exaustão e ao depauperamento dos centros oleiros tradicionais (Vilarinho, 2003) configura-se como algo semelhante aos impactos estudados em vários contextos e comunidades em várias regiões do mundo (Smith, 1989). E curiosamente é possível fazer coincidir a revitalização das produções artesanais com a globalização do fenómeno turístico, tal como se evidencia neste estudo do centro oleiro de Bisalhães a partir da década de 1960.

Contudo, o centro oleiro de Bisalhães, embora tenha feito algum esforço de modernização, nomeadamente nos seus padrões, designs e gramática decorativa à medida que se acentuou a predominância artística sobre a matriz utilitária para responder ao crescente apelo turístico junto desta forma de produção artesanal, não sendo portanto ainda visível, por debilidade de organização da oferta local, o impacto que se presencia em destinos turísticos consolidados (Smith, 1992).

Deste modo, sendo incontornável o papel que o artesanato de Bisalhães tem no turismo regional e porque a pressão dos agentes e do mercado turístico ainda é residual, está por agora garantida a qualidade das produções, a sua matriz histórica de forte identidade simbólica e a garantia do preço justo para o consumidor, não se colocando

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deste modo preocupações, quanto às alterações de qualidade, pese o facto de já surgirem peças artesanais de outras proveniências.

Na contextualização das artes tradicionais face ao desenvolvimento da sociedade moderna, uma questão que se coloca, prende-se com o facto da inovação, da tecnologia e da modernidade geralmente aceite como incontornável e desejável, ter tido um impacto negativo e assinalável no desaparecimento do saber tradicional, eliminando neste processo o conhecimento milenar em que se estruturou a edificação social, como afirma Wallerstein, (in Bessa Ribeiro; Silva, 2000: 121-135).

Estes autores defendem ainda que a compatibilização ou o compromisso em que se deve articular o desenvolvimento deve implicar a vertente ecológica, a valorização dos recursos naturais e a sustentabilidade, procurando não consumir recursos energéticos assinaláveis e onde a incorporação de novas tecnologias não deve desembocar na perda do conhecimento tradicional. A garantia deste equilíbrio, cada vez mais defendida e mais presente no pensamento alternativo moderno, procura fazer barreira à lógica predatória de recursos em que assenta o presente sistema capitalista, conjugando a matriz socialista da cooperação, que se pretende evidenciar neste trabalho, com os aspectos ecológicos e a valorização do produto cultural que valoriza quem o produz, Bessa Ribeiro; Silva (2000: 121-135).

Esta análise crítica da voragem desenvolvimentista não põe em causa, como defende Lévi-Strauss, a inequívoca existência de progresso, ancorado na revolução industrial e científica, bem evidente pelos artefactos produzidos e que caracterizam a sociedade do nosso tempo, não sendo contudo linear afirmar-se que o mesmo progresso se sincroniza de forma articulada e coerente num mesmo espaço e tempo determinado (in Bessa Ribeiro, 2001). Por outro lado verifica-se a existência da teoria evolucionária como descreve Wallerstein, afirmando a esse propósito que

“a teoria do progresso evolucionário envolveu não apenas a assunção de que o sistema posterior é melhor do que o anterior mas também a assunção de que um novo grupo dominante substitui um grupo dominante anterior” (in Bessa Ribeiro, 2001)”,

corroborado historicamente com a existência dos longos ciclos hegemónicos das potências mundiais bem explanados por Rodrigues; Devezas (2007:44).

A lógica do interminável progresso levanta ainda questões de fundo, motivando a formação de uma corrente de pensamento crítico que questiona a bondade desta

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construção desenvolvimentista, sustentando a sua oposição pelo facto de, como já foi dito, ela penalizar e tendencialmente destruir o equilíbrio ecológico e ambiental, por tender ao acelerado esgotamento dos recursos naturais (O’Connor, 1998). Não bastando esta constatação, outra emerge, reforçando a ideia que a presente modernidade contribui em certos casos para a regressão civilizacional e à constatação que, sendo verdade que a humanidade nunca esteve tão avançada e tão próxima de resolver os problemas da sociedade contemporânea, também é verdade que, paradoxalmente, nunca esteve tão longe de atingir tal desiderato (Santos, 2003:11).

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Capítulo II

Cooperativismo: uma história singular

1.

Origens do Movimento Cooperativo

Antiga como os primeiros modelos da organização social das comunidades humanas, a cooperação ancora aí as suas raízes mais profundas. Este carácter remoto, justificado pelo impulso e pela necessidade, está na base da construção da humanidade e dos seus modelos associativos, em que se estruturou o tecido social colectivo (Pinho, 1962).

São tradicionalmente apontados como exemplos dessas práticas cooperativas e comunitárias associações de artesãos no crescente fértil e noutras civilizações clássicas e até em sociedades populares de crédito na China antiga (Namorado, 2007). Na mesma lógica de continuidade histórica, evidenciam-se na Europa medieval e com assinalável importância, as hansas e guildas, a portuguesa “Casa dos 24”, o socorro mútuo islandês, o “mir” russo e as “fruitières” do Jura em França que deram origem às queijarias cooperativas alpinas (Colombain, 1972:12).

Por sua vez o termo Zadruga está profundamente associado às cooperativas tradicionais a que também corresponde a designação da “grande família” sérvia que remonta a um passado longínquo e que explora um património comum indivisível (idem), enquanto o México recuperou o modelo dos velhos “ejidos”, entre muitos outros exemplos espalhados pelo Mundo (Gabinete Internacional do Trabalho, 1953; Mladenatz, 1969).

Torna-se assim legítima a aspiração cooperativa em ser parte activa, na história presente e futura da humanidade, combatendo algumas correntes do pensamento que a ligam a debilidades históricas, funcionais e a fenómenos quase ilusórios, legitimando a tentativa de secundarização do movimento por certos meios de comunicação do presente sistema capitalista (Colombain, 1972; Namorado, 2007).

Por isso, na esteira do que defende Viegas (1986:111), é legítimo invocar-se a sua raiz histórica, de democracia participativa e de

“espaço de intervenção popular, contribuindo esta para a mudança social, pois as sociedades são organizadas de forma rígida e totalitária, cabendo-lhe neste contexto um

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papel emancipador da cidadania, contribuindo assim, através do empenhamento popular, na mudança social”.

A tentativa de aniquilamento da tradição de cooperação, não foi contudo capaz de eliminar as sementes primordiais, cujas latências se mantiveram, sobretudo nas economias fechadas, até que o advento da Revolução Industrial, que, inspirado nessas milenares tradições fez emergir as formas da moderna cooperação (Colombain, 1972:13-21).

E, é no contexto das novas condições sociais e económicas geradoras de um vasto proletariado fabril, da desertificação dos campos, das rupturas dos tradicionais sistemas produtivos e da conflitualidade social, que se criam as condições propícias à aplicação de um novo e natural modelo da cooperação, ao serviço dessas comunidades, do surgimento do mutualismo, do crédito e da agricultura (Bellocchi, 1986).

2.

Industrialização e a génese do cooperativismo moderno

As primeiras cooperativas surgem com os primórdios da revolução industrial, na proporção directa do crescimento da população suburbana, da conflitualidade social, da crise das actividades tradicionais e do confronto assumido pelo novo proletariado, resultante da afirmação do capitalismo industrial (Colombain, 1972:13-15).

As cooperativas desenvolveram-se portanto, como um reflexo de defesa e como propostas de organização alternativa, sobretudo junto das comunidades de tecelões da Grã-Bretanha, que, tendo as suas actividades caseiras, foram mais facilmente atingidas pela concorrência gerada pela industrialização, pelo aumento desenfreado dos preços e pela instabilidade generalizada, numa situação que se alastrou, pois, como afirmou Engels (2005),

“o que é verdadeiro para Londres é também para Manchester, Birminghan e Leeds, é também para todas as grandes cidades. Em toda a parte o que se vê é a indiferença barbara, a dureza egoísta de um lado e a miséria de outro. Em toda a parte, guerra social, em toda a parte pilhagem recíproca com cobertura da lei e tudo com um cinismo…”

É deste modo que, baseado no pensamento utópico da época, e no despertar para novas realidades sociais, que surgem na Escócia cooperativas em Fenwick (1761), em

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Govan (1777) e em Darvel (1840) e, em França, surgiu a primeira em Lyon (1835), na Alemanha, Chemnitz (1845), num período de experiências voluntariosas, na busca de soluções para o problema social enquanto na Inglaterra surge em 1844 a cooperativa dos “Pioneiros de Rochdale”, que se veio posicionar como uma bandeira da alternatividade, simbolizando o pioneirismo do cooperativismo moderno (Colombain, 1972:15).

3.

Os 28 tecelões de Rochdale

“Quando um homem luta sozinho, todos os homens o vencem; quando os homens se juntam, mesmo os mais fortes, não conseguem vencê-los! É assim a história do “feixe de vimes” e assim deverá ser o movimento cooperativo”. (mensagem ACI, 2009)

Com efeito e sempre que se fala de cooperativas em qualquer parte do mundo, vem à memória a mais longa tarde do solstício de inverno de 1844 na pequena vila de Rochdale, junto da cidade de Manchester quando os tecelões abrem as suas portas e com o capital de 28 libras, inauguram um mundo novo (Holyoake, 1891; Colombain, 1976 e Santos, 2004:29). Não sendo a primeira cooperativa e muito menos a primeira forma de cooperação, como se demonstrou, ela encarna contudo, a novidade, a iniciativa, o espírito visionário e ainda o conceito, os princípios e a matriz da moderna cooperação, em que se ancorou de vez a eficácia e a coerência que vieram a universalizar o movimento (Holyoake, 1891; Bedarida; 1972; Thornes, 1988 e Hornsby; 1988).

A Cooperativa dos Probos Pioneiros de Rochdale surge e afirma-se no centro do capitalismo industrial, num quadro de resistência à pauperização maciça do proletariado emergente e como oposição às difíceis condições de trabalho, à miséria e aos baixos salários, buscando pela cooperação, bens e produtos baratos para os consumidores e sobretudo um novo modelo de vida (Santos, 2004:29).

Ora, a solidez da iniciativa cooperativa, resulta em primeiro lugar da observação e análise dos motivos que levaram muitas outras cooperativas ao fracasso e ao correspondente desaparecimento, descredibilizando a iniciativa popular e minando, por esta via, a vontade emancipadora dos trabalhadores (Colombain, 1972), pelo que tem de

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se considerar que o sucesso de Rochdale resultou de décadas de resistência e de dinamismo social na procura de um modelo duradoiro de alternatividade.

As conclusões dessa procura crítica, levaram à necessidade de implementar uma “magna carta cooperativa”, com um compromisso de regras simples, funcionais e profundamente revolucionárias, consubstanciadas nos seus princípios cooperativos e que, com as adaptações de cada época, ainda hoje perduram como essência das sociabilidades solidárias (Santos, 2004) e como matriz teórica do pensamento cooperativo actual, no âmbito da Aliança Cooperativa Internacional.

Em número de oito, os princípios asseguravam a democracia interna, a participação nos resultados económicos, a liberdade de adesão, o respeito pelas diferenças políticas e religiosas e a educação cooperativa (Holyoake, 1933), o que para a época e para o contexto social e económico em que se desenvolveram, se posicionavam então, como marcos revolucionários validando a modernidade popular (Santos, 2004).

Tendo como principal objectivo a procura de uma solução para o problema social, o ideal destes cooperadores da época industrial, enquadra-se por um lado na nostalgia intrínseca às suas origens e por outro lado procura ocorrer à miséria generalizada e ainda fundar colónias cooperativas, como se de um modelo franchisado se tratasse, configurando-se como uma barreira à enorme pressão a que as classes populares foram gradualmente sujeitas (Holyoake, 1891; Colombain, 1972:16), pela exploração, pela miséria e pela pobreza alarmante dum proletariado febril emergente nas cidades europeias.

E é neste contexto que pensadores progressistas, como Robert Owen, Charles Fourier, Saint Simon, Proudhon, Huber e Raiffeisen, entre muitos outros, que por toda a Europa industrializada, se dedicam à disseminação e incentivo da via associativa e cooperativa, anunciando o prenúncio de um novo modelo de organização, enquadrada no palco obrigatório das intensas disputas e confrontos, do operariado europeu contra a exploração capitalista (Santos, 2004:29).

4.

O contexto das lutas operárias e ideológicas

A expansão do cooperativismo no séc. XIX, coincidente com o apogeu do 2º longo ciclo económico inglês em que, pelo domínio tecnológico, a Grã-Bretanha acentuou a liderança da economia mundial (Rodrigues; Devezas, 2007:45), substituindo

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Figura 2: Esquema adaptado às fases da Investigação/Acção baseado em Kemmis
Figura 3: Sequência de ciclos no âmbito da Investigação/Acção adaptado à pesquisa sobrea olaria  de Bisalhães
Figura 6: Esquema de forno em corte - modelo 3D(Alberto Tapada / Longomai)
Figura 7: modelo gráfico da distribuição dos fornos telheiros
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Referências

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