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A cooperativa foi fundada no dia 2 de Novembro de 2012, através de instrumento particular previsto na lei e conforme consta da respectiva “Acta de Assembleia de Fundadores” e foi de seguida registada na Conservatória do Registo Comercial de Vila Real e deu-se início à sua actividade legal em 4 de Janeiro de 2013. Na cooperativa não constam para já, oleiros em actividade em Bisalhães, pois os mesmos não mostraram nenhuma vontade em integrar-se e não acreditam muito neste projecto, preferindo seguir o seu caminho habitual. Estão contudo disponíveis para cooperarem na obtenção de pastas preparadas e na venda dos seus produtos. E é por

aqui que se deve iniciar o processo integrador dos oleiros num projecto mais ambicioso de relançamento da actividade.

Rege-se pelo disposto no Código Cooperativo, nomeadamente do previsto no Decreto – Lei nº 303/81, pelos Estatutos e pelos Regulamentos aplicáveis às relações cooperativas dos seus membros. Ficaram ainda previstas que, as reservas cooperativas e sociais, previstas nos artigos 69º e 70º do Código Cooperativo, se destinarão integralmente para a Reserva de Educação, Formação e Informação Cooperativa, respeitando a velha tradição dos “Probos Pioneiros de Rochdale” (Santos, 2004).

Para poder proceder-se à sua fundação e competente legalização foi solicitado o certificado do Registo Nacional de Pessoas Colectivas a que atribuíram o nº 2012044045.

A Sede da cooperativa é na Rua Dr. Amândio de Figueiredo, no lugar do Assento, na vila da Cumieira nas instalações de um centenário lagar de vinhos.

A Sigillata Crl elaborou um plano de negócios, um estudo de viabilidade económica e financeira e candidatou no dia 23 de Fevereiro de 2013, o projecto ao PRODER (Subprograma 3 – Dinamização das Zonas Rurais) através do Programa Leader (Associação Douro Histórico) “Acção 3.1.2. – Criação e desenvolvimento de Microempresas”.

A decisão de candidatura foi aprovada em reunião de Direcção de 14 de Fevereiro de 2013, conforme consta da Acta de Direcção nº 2.

Parcerias:

Tendo formado 2 jovens através dos contactos mantidos com a Cooperativa de Actividades Artísticas Árvore e garantido o acompanhamento prático na oficina do mestre João Carqueijeiro, a Sigillata Crl tem já vários acordos de parceria.

Destacam-se neste âmbito a Rede das Aldeias Vinhateiras do Douro, a Junta de Freguesia de Favaios, a Quinta da Avessada, o Museu do Douro, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão em Viana do Castelo, a Universidade de Aveiro, a associação “Portugal à mão” e a AETUR. São ainda parceiros a Associação Cultural Recreativa e Desportiva da Cumieira e a Junta de Freguesia da Cumieira que contribuíram em muito para que a sua Freguesia pudesse recuperar uma antiga tradição de produção de olaria, como indiciam documentos coevos.

A cooperativa apoiará os oleiros existentes com o fornecimento de pastas já fabricadas, fará a venda de peças por eles produzidos e mantém a porta aberta aos que queiram integrar-se neste modelo, como é boa norma nas cooperativas e dentro do preconizado na matriz social em que se fundamenta o seu ideário (Colombain, 1972).

Instituições:

No âmbito das suas abordagens, o promotor da iniciativa desenvolveu contactos institucionais com um conjunto de entidades e através destas abordagens foi possível ir definindo o enquadramento do projecto, nas suas variáveis e complexidades e colher opiniões que criaram limites a um projecto empresarial estruturado.

A complexidade ou o diálogo entre pressupostos teóricos e a acção concreta foram bem visíveis neste contexto em cuja base, como defende Lewin (1946) nasce o carácter cíclico e espiralado da Investigação/Acção.

- Junta Freguesia de Mondrões - Município de Vila Real

- Centro Regional de Artes Tradicionais (Porto) - Entidade Regional de Turismo do Douro (ERTD) - Comissão Coordenação Região Norte (CCDRN) - Estrutura de Missão do Douro (EMD)

- Associação de Empresários Turísticos do Douro e Trás-os-Montes (AETUR) - Cenários D’Ouro, SA

- Douro Azul, SA

- Fundação Escultor José Rodrigues - Paulo Lobo (Designer)

- Nervir AE

- Associação Douro Histórico; - Uninorte CRL

- Cooperativa António Sérgio para o Sector Cooperativo CRL - Associação Cultural, Recreativa e Desportiva da Cumieira - Junta de Freguesia da Cumieira

- Quinta da Avessada

Lista de cooperadores: - Manuel Osório Tapada - Luís Miguel Marques

- Rosa Maria Fernandes Osório - Manuel Alberto Tapada da Costa - Raquel Condado Marques

- António Alves Martinho - Samuel Osório Tapada - Maria de Jesus Figueira

Ementa curricular de Curso de Modelação Cerâmica (Olaria de Bisalhães):

1 – Objectivos gerais

- Promover a qualificação de jovens, em qualquer situação face ao emprego, motivando-os para o desenvolvimento de competências técnicas e pessoais que melhorem a sua integração profissional e pessoal.

- Dar continuidade a uma história local ligada à olaria negra, criando uma bolsa renovada de jovens profissionais.

- Promover alternativas de criação do próprio emprego, através do incentivo à criação de actividades ligadas à produção cerâmica, estabelecendo pontes entre a produção tradicional e a sua renovação estética.

- Dotar o “Destino Douro” de um recurso turístico único, adequadamente enquadrado e essencial para a oferta regional

2 - Objectivos específicos

- Promover formação na área da olaria e da modelação cerâmica adaptada às características da produção local tradicional, dando enfoque à sua renovação que alie uma formação técnica específica e o desenvolvimento de competências pessoais necessárias à criação de actividades económicas e à preservação do património regional. - Promover a construção de projectos individuais e cooperativos de emprego e de auto-emprego adequados, tendo em conta o contexto local e o interesse dos formandos. - Interligar essas dinâmicas empresariais com as tendências emergentes da economia e da procura turística do Vale do Douro.

3 – Destinatários

- Desempregados e outros interessados, provenientes das áreas envolventes do tradicional centro oleiro e que demonstrem perfil e apetência para este tipo de actividade e com predisposição natural para empreender, integrando-se ou não num modelo cooperativo.

Poder-se-à contemplar um modelo de dupla certificação, atribuindo formação escolar (9º ano) aos formandos enquadrados nesta tipologia.

Metodologia de intervenção

- Este projecto tem como pressuposto essencial o apoio prioritário à criação de projectos de cooperação e de auto-emprego nas áreas da olaria e da modelação cerâmica, tendo como referência a produção artesanal da “olaria tradicional de Bisalhães”.

Propõe-se uma estrutura curricular que articule uma formação técnica de qualidade, cruzada com uma outra, voltada para a renovação da concepção de peças de cerâmica negra, tendo em conta o respeito pelos materiais e tecnologias tradicionais, mas melhorando o processo produtivo e qualificando o produto final.

Aposta-se também no desenvolvimento de competências pessoais e numa formação diversificada, aberta a novos saberes e preocupações contemporâneas, tais como a informática, a gestão, o marketing comercial e turístico, a promoção de produtos integrados, a valorização da cidadania, da cooperação e das questões ambientais.

Assim e para além dos módulos técnicos e tecnológicos directamente relacionados com a área de formação do curso (com o qual se pretende proporcionar uma sólida e consistente formação que faculte os indispensáveis conhecimentos a um trabalho de qualidade, inserido na tradição e num contexto histórico de referência, embora aberto à criatividade e à inovação), incluem-se também módulos mais direccionados para o desenvolvimento da iniciativa, do turismo e da autonomia pessoal, da responsabilidade individual e colectiva, indispensáveis à realização de qualquer projecto.

Plano curricular

Módulos de formação sócio-cultural:

- Língua e cultura portuguesa 120 h - Cálculo 120 h - Cidania e Desenvolvimento Pessoal 60 h

- Formação p/ Integração no Mercado de Trabalho 60 h - Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho 60 h - Educação para as Artes e Património 42 h - Formação Cooperativa e Associativa 150 h Sub-total 612 h

Módulos de Formação Técnica e Tenológica

- Informática 90 h - Gestão e Marketing Turístico e Comercial 90 h - Desenho Técnico 120 h - Tecnologias do Materiais Cerâmicos 384 h - Modelação Cerâmica 384 h Sub-total 1.068 h

Desenvolvimento do Projecto 420 h

CONCLUSÃO

O trabalho agora apresentado sobre o centro oleiro de Bisalhães é o culminar de um longo trabalho de aproximação àquela comunidade e de pesquisa documental, histórica e sociológica, iniciado em 2005 e que tinha como objectivos reescrever a história desta actividade e dar suporte teórico para a fundamentação do processo de certificação iniciado pela Nervir, o CRAT e a AETUR e que nunca se terminara.

Este tempo alongado da investigação, o conhecimento prévio de Bisalhães, dos seus mundos físicos e simbólicos e do perfil humano das suas gentes, muito anterior à elaboração desta tese, tanto funcionou como quadro facilitador, como campo de resistências, até porque, de acordo com a larga sabedoria popular, “santos da porta não fazem milagres”, ditado este que se afirmou ainda que de forma subtil. Por isso, a condução da investigação esteve sujeita ao vaivém das sensibilidades, das desconfianças, dos ciúmes, dos estados de humor e da percepção ilusória transmitida de que os oleiros é que geriam e conduziam as informações como e quando lhes aprouvera obrigando por conseguinte à recolha lúcida e paciente das informações sem se desfocar das linhas de rumo estabelecidas, como quando se pesca à linha e o peixe é forte.

Os objectivos à partida consistiam na criação de uma cooperativa de artesanato que agrupasse os oleiros em actividade e que integrasse outros potenciais que proviriam de desempregados jovens ou pessoas de outros quadros etários e que, através desta iniciativa, na qual convergiriam agentes públicos, privados e associativos, seria relançado um novo projecto, assente na modernização tecnológica de algumas fases da produção.

A viragem que esta iniciativa preconizava abria ainda portas à requalificação da imagem dos produtos oláricos, ao sistema de embalagem apelativa e à introdução das componentes de marketing turístico e comercial de modo a centrar cada vez mais a venda deste artesanato junto dos mercados turísticos nacionais e internacionais em pontos de venda no Douro, no Porto e Lisboa e nos pontos de chegada do turismo fluvial e transatlântico, catapultando este artesanato para a sua internacionalização. A metodologia aplicada ao longo do trabalho, assentou na investigação/acção que se veio a demonstrar profundamente adequada à prossecução dos objectivos estabelecidos, ao envolvimento e participação dos diversos agentes e à edificação democrática e cooperativa, sempre presentes. Aliás, sobre esta metodologia, convém referir que ela já

vinha a ser seguida na prática, por ser comum nos projectos cooperativos anteriores onde a participação social fora sempre muito intensa, desconhecendo eu que essa prática metodológica afinal tinha nome e importância acrescida nos meios académicos.

Durante a elaboração dos trabalhos de campo, as dificuldades situaram-se no convívio com a natureza específica dos oleiros, com as suas susceptibilidades e rivalidades e por outro lado a débil motivação efectiva das instituições mobilizáveis para o projecto de relançamento da actividade olárica, o que levou a um grande desgaste e por vezes desilusões.

Quanto ao resultado do trabalho, ele corresponde globalmente aos objectivos estabelecidos com o orientador e com alguns parceiros estipulado tendo, contudo, obrigado o investigador a ter um papel de maior envolvimento, também como empreendedor, remetendo muitas vezes a vertente académica que a elaboração do trabalho naturalmente impunha para um segundo plano, corporizando contudo, por essa via, o pensamento de W. F. Dearborn que: “se queres compreender uma certa realidade, procura mudá-la”in Bronfenbrenner, V. (1979:37).

Este facto resultou em muito da débil articulação institucional de natureza pública face à problemática do centro oleiro e da sua crónica debilidade, muito próxima do desaparecimento a curto prazo. E neste contexto de deficiente resposta pública, coube à iniciativa associativa e cooperativa o papel de liderar a edificação de um novo modelo empresarial que evidenciasse o papel da cidadania na resolução dos problemas da comunidade.

A actividade artesanal associada à produção dos barros negros, assenta, nos seus últimos produtores tradicionais, naquilo a que certos autores designam como agentes de actividades informais, dado estarem estruturados na pequena dimensão do negócio, na precariedade dos contextos físicos em que se desenvolvem as produções e a sua comercialização e pelo carácter ilusório de trabalhadores independentes, subjugados porém, ao conceito e posicionamento social burguês tal como é defendido por Gerry e Birkbeck (1981).

A isto se contrapõe o esforço decorrente para estruturar a Sigillata Crl como empresa viável que tem também um efeito desagregador do modelo de actividade económica informal (Gerry e Birkbeck; 1981) em que se pode enquadrar a tradição comercial de Bisalhães, conferindo, a partir de agora ao projecto empresarial cooperativo no qual, o rigor estatístico, a organização empresarial e contabilística e o

qualquer empresa privada do mercado, como bem defendem Nunes, Reto e Carneiro (2001).

Importa contudo referir que a materialização do projecto cooperativo tem decorrido num contexto de extrema dificuldade financeira, tendo contado até hoje com a vontade e empenho dos seus membros cooperantes, seja na aquisição de matéria-prima, do transporte, da articulação com algumas experiências turísticas, da produção de artefactos e dos contactos institucionais estratégicos para o sucesso empresarial da cooperativa Sigillata Crl.

E não fora o caso do modelo proposto ser de cariz vincadamente alternativo pela sua natureza jurídica e fins estatutários, o resto ou seja a actividade olárica e consequente negócio inserem-se no tradicional espírito capitalista, embora possam corporizar uma janela de oportunidade comercial para aqueles que não se enquadram nas políticas do neoliberalismo um pouco dispersas por todo o globo (Bessa Ribeiro, 2010:500) e que pela via associativa, cooperativa e auto-gestionária recriam um espaço de experiência e de afirmação da alternatividade (Santos, 2004).

Existe uma consciência generalizada de que a actividade turística configura em simultâneo a última esperança para o desenvolvimento regional e nacional previsto no Plano Estratégico Nacional para o Turismo, na Agenda Regional, no Plano de Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro, nos variados projectos e iniciativas de internacionalização e de reforço da notoriedade do Douro e na convergência de políticas de desenvolvimento regional e autárquico e da afirmação das organizações associativas de natureza privada, impõem a perpetuação da singularidade dos barros negros de Bisalhães.

Este ponto de partida associado às reconhecidas competências dos membros da cooperativa, também eles vincadamente ligados a experiências de desenvolvimento turístico em diferentes áreas: experiência de gestão, técnicas do design, da comunicação, do marketing, da actividade olárica e do saber específico no turismo, fazem crer que se estará perante uma iniciativa empresarial e cooperativa que terá sucesso junto dos fluxos turísticos nacionais e internacionais.

Neste campo alargado de intervenção têm vindo a ser desenvolvidos contactos diversos junto dos pontos de venda que resultaram de consultas realizadas junto dos operadores do negócio turístico de modo a dotar o mercado de uma nova oferta artesanal fortemente comprometida com a região e a sua história.

Para a região e para o país, a Sigillata Crl desempenhará uma outra função de preservação de um milenar saber que enriquece a nossa história, salvaguardando uma memória insubstituível, diversa e irrepetível que em muito beneficiará o turismo, pela via do reforço da sua oferta de produtos representativos que bem expressam os símbolos identitários do território.

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