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O Dilúvio de Noé e o Épico de Gilgamesh

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Academic year: 2021

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O Dilúvio de Noé e o Épico de Gilgamesh

Artigo traduzido de: Creation 30(3):12–15, jun–ago 2008. Título original: “The Noah’s Flood and the Gilgamesh Epic”. Copyright Creation Ministries International Ltda, <www.creation.com>. Usado com permissão.

por Jonathan Sarfati

Tradução de Daniel Ruy Pereira

Na Bíblia, dificilmente algo é tão atacado como o julgamento cataclísmico de Deus, expresso no Dilúvio de Noé. Os ataques começaram com um físico escocês chamado James Hutton (1726-1797), que decretou em 1785, antes de examinar as evidências:

o passado do nosso planeta deve ser explicado pelo que vemos acontecendo agora… Não há poderes há serem empregados que não sejam naturais ao globo, nem ação a ser admitida exceto aquelas cujo princípio conhecemos” (ênfase nossa). (1)

De fato, a descrença no Dilúvio tornou-se tão forte que muitos colégios cristãos claramente não o ensinam mais. Porém, Jesus ensinou que o Dilúvio foi uma história real, tão real como Sua futura segunda vinda:

Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos.” (Lucas 17:26-27)

Nesta passagem, Jesus fala diretamente sobre Noé como sendo uma pessoa real (que foi Seu antecessor – Lucas 3:36), a Arca como uma embarcação real, e o Dilúvio como um evento real. Aqueles que têm uma disposição teológica mais ou menos conservadora não negarão o Dilúvio completamente, mas, em geral, dirão que ele foi um evento meramente local, na região da Mesopotâmia (atual Iraque). (2) Porém, os liberais, que não se importam com as palavras de Jesus, vão mais longe. Um ponto-de-vista bem comum é que a história bíblica do Dilúvio de Noé não foi sequer histórico, mas sim emprestado das lendas diluvianas da Mesopotâmia.

O Épico de Gilgamesh

Em 1853, o arqueólogo Austen Henry Layard e sua equipe escavavam a livraria palaciana da antiga capital assíria, Nínive. Entre os seus achados estavam uma série de 12 tabletes de um grande épico. Os tabletes datavam de cerca de 650 a.C., mas o poema era muito mais antigo. O herói, Gilgamesh, de acordo com a Lista dos Reis Sumérios, (3) foi um rei da primeira dinastia de Uruk, que reinou por 126 anos. (4)

Na lenda, porém, Gilgamesh é 2/3 divino e 1/3 mortal. Ele tinha enorme inteligência e força, mas oprimia seu povo. As pessoas clamaram aos deuses, e o deus do céu, Anu, o deus chefe da cidade, criou um homem perigoso chamado Enkidu, forte o suficiente para desafiar Gilgamesh. Quando chegou a hora, eles lutaram, mas nenhum dos dois venceu. Sua inimizade, então, transformou-se em respeito mútuo e devotada amizade.

Os dois novos amigos partiram juntos em aventuras, mas os deuses acabaram matando Enkidu. Gilgamesh pranteou dolorosamente seu amigo, e compreendeu que ambos deveriam morrer um dia. Porém, ele aprendera sobre alguém que se tornara imortal – Utnapishtim, o sobrevivente do Dilúvio global. Gilgamesh viajou através dos mares para encontrar Utnapishtim, que lhe contou sobre sua vida extraordinária.

O Dilúvio de Gilgamesh

Na verdade, foi “O Dilúvio de Utnapishtim”, que é contado no 11ª tablete. O conselho dos deuses decidiu enviar um dilúvio sobre toda a terra, a fim de destruir a humanidade. Mas Ea, o deus que criou o homem, alertou Utnapishtim, de Shruppak, uma cidade às margens do Eufrates, e mandou-o construir um enorme barco:

Oh! homem de Shuruppak, filho de Ubartutu: Demolí a casa e construí um barco!

(2)

Abandona a fartura e procura seres vivos! Despreza possessões e mantém vivos esses seres! Faz todos os seres vivos entrarem no barco. O barco que constróis, suas dimensões devem ser iguais umas às outras: seu comprimento deve corresponder à sua largura.” (5) Utnapishtim obedeceu: “Um acre (inteiro) era o espaço do seu chão (660′ x 660′) Dez dúzias de côvados a altura de cada uma de suas paredes, Dez dúzias de côvados cada canto do convés quadrado. Eu sulquei a forma de seus lados e os juntei. Dei a ela seis conveses, Dividindo-a (assim) em sete partes.”… (6)

Utnapishtim selou a arca com piche, (7) tomou todos os tipos de animais vertebrados, e os membros de sua família, mais alguns outros humanos. Shamash, o deus do sol, fez chover pães e trigo. Então veio o dilúvio, tão violento que:

“Os deuses ficaram apavorados pelo dilúvio, e se retiraram, ascendendo ao céu de Anu. Esconderam-se como cães, agachando-se na parede exterior. Ishtar gritou, como uma mulher na hora do parto, a doce voz da Soberana dos Deuses lamentou: ‘Ai dos dias antigos tornados em barro, porque eu disse coisas más na Assembléia dos Deuses! Como pude eu dizer coisas más na Assembléia dos Deuses, ordenando uma catástrofe para destruir meu povo!! Mal dera eu à luz meu querido povo e eles encheram o mar, como muitos peixes!’ Os deuses – aqueles de Anunnaki – choravam com ela, humildemente assentaram-se chorando, soluçando de tristeza (?), seus lábios queimando, ressecados de sede.” (5)

Porém, o dilúvio foi relativamente curto:

Seis dias e sete noites vieram o vento e o dilúvio, a tempestade sobre a terra. Quando o sétimo dia chegou, a tempestade foi parando. O dilúvio foi uma guerra – lutando consigo mesmo como uma mulher padecendo (em labor).” (5)

Então a arca repousou sobre o Monte Nisir (ou Nimush), a quase 500 km do Monte Ararat. Utnapishtim enviou uma pomba e depois uma andorinha, mas nenhuma delas pôde encontrar terra, e retornaram. Então ele enviou um corvo, e este não voltou. Por fim, ele soltou os animais e sacrificou uma ovelha. Mas isso não foi tão breve, porque os pobres deuses estavam morrendo de fome:

Os deuses cheiraram o aroma, os deuses cheiraram o doce aroma, e reuniram-se como moscas sobre o sacrifício (de ovelha).”

Então Enlil viu a arca e ficou furioso porque alguns humanos haviam sobrevivido. Mas Ea o repreendeu severamente por trazer a grande matança através do dilúvio. Consequentemente Enlil concedeu imortalidade a Utnapishtim e sua esposa, e mandou-os para viver muito longe, no Monte dos Rios.

Foi ali que Gilgamesh o encontrou, e ouviu sua notável história. Primeiro Utnapishtim testou a dignidade de Gilgamesh, para obter a imortalidade, desafiando-o a ficar acordado por 7 noites. Mas Gilgamesh estava muito exausto e caiu rapidamente no sono. Utnapishtim pediu à sua esposa para assar pães e os colocava ao lado de Gilgamesh, todos os dias em que ele dormia. Quando Gilgamesh acordava, pensava que tinha dormido por apenas um momento. Mas Utnapishtim mostrou a Gilgamesh os pães em diferentes estágios de maturação, mostrando que ele tinha dormido por muitos dias.

Mais uma vez, Gilgamesh lamentou sua morte inevitável, e Utnapishtim compadeceu-se dele. Então lhe revelou onde poderia encontrar uma planta da imortalidade. Era uma planta espinhosa, nos domínios de Apsu, o deus da água doce subterrânea. Gilgamesh abriu um canal até Apsu, atando pesadas pedras ao seu tornozelo, afundando cada vez mais, e pegou a planta. E, embora ela o ferisse, ele se livrou das pedras, e subiu.

(3)

Infelizmente, na viagem de volta, Gilgamesh parou em uma nascente fria para se banhar, e uma cobra pegou a planta. Gilgamesh, então, chorou amargamente, porque não podia mais retornar às águas subterrâneas.

Comparação de Gênesis e Gilgamesh (8)

——————————————– Gênesis Gilgamesh

Extensão do Dilúvio Global Global

Causa Maldade dos homens Pecados dos homens

Quem era o Alvo? Toda a humanidade Uma cidade e toda a humanidade

Quem o enviou? Yahweh Assembléia dos “deuses”

Nome do herói Noé Utnapishtim

Caráter do herói Justo Justo

Meios de anunciação Diretamente de Deus Em um sonho

Foi ordenado a construir um barco? Sim Sim

O herói se queixou? Não Sim

Tamanho do barco Três andares Sete andares

Tinha compartimentos internos? Muitos Muitos

Portas Uma Uma

Janelas Pelo menos uma Pelo menos uma

Revestimento externo Piche Piche

Forma do barco Caixa oblonga Cubo

Passageiros humanos Somente os membros da família

Família e alguns outros

Outros passageiros Todos os tipos de animais terrestres (vertebrados)

Todos os tipos de animais terrestres

Meios do Dilúvio Águas subterrâneas e chuva forte

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Duração do Dilúvio Longo (40 dias e noites) Curto (6 dias e noites)

Teste para encontrar terra Envio de pássaros Envio de pássaros

Tipos de pássaros Corvo e três pombas Pomba, andorinha e corvo

Lugar de repouso da Arca Montanhas – de Ararat Montanhas – de Nisir

Houve sacrifício após o Dilúvio? Sim, por Noé Sim, por Utnapishtim

O herói foi abençoado após o Dilúvio?

Sim Sim

Quem veio primeiro?

Podemos ver, a partir do tablete, que há muitas similaridades – o que indica uma fonte comum. Mas há também diferenças significativas. Inclusive a ordem de envio dos pássaros, no relato de Noé, é mais lógico. Ele compreendeu que o não-regresso de um pássaro decompositor, como o corvo, não provava nada. Por outro lado, Utnapishtim mandou o corvo por último. Noé, entretanto, compreendeu que enviar uma pomba era mais lógico – quando a pomba retornasse com uma folha fresca de oliveira, Noé saberia que a água baixara. E se não retornasse em uma semana, isso significaria que a pomba encontrara um bom lugar para se estabelecer.

Referências

1. Hutton, J., ‘Theory of the Earth’, um artigo (com o mesmo título do seu livro de 1795)

comunicado à Sociedade Real de Edinburgh, e publicado no Transactions of the Royal Society

of Edinburgh, 1785; citado com aprovação em Holmes, A., Principles of Physical Geology, 2ª

edição, Thomas Nelson and Sons Ltd., Grã-Bretanha, pp. 43–44, 1965.

2. Para refutações da concessão do dilúvio local veja, Anon., Noah’s Flood covered the whole earth, Creation 21(3):49, Junho–Agosto 1999.

3. López, R.E., The antediluvian patriarchs and the Sumerian king list, Journal of Creation 12(3):347-357, 1998.

4. Heidel, A., The Gilgamesh Epic and Old Testament Parallels, University of Chicago Press, p. 3, 1949.

5. The Epic of Gilgamesh, Tablete XI,

<www.ancienttexts.org/library/mesopotamian/gilgamesh/tab11.htm>, 12 Março 2004.

6. The flood narrative from the Gilgamesh Epic, <www.piney.com/Gilgamesh.html>, 12 Março 2004.

7. Pelo menos para a verdadeira Arca de Noé, esse piche teria sido feito de resina fervida de pinheiro e carvão vegetal. De fato, as maiores indústrias de piche da Europa fazem piche desta forma por séculos.

8. Adaptado de Lorey, F., The Flood of Noah and the Flood of Gilgamesh, ICR Impact 285, Março 1997.

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PERGUNTAS

1. Em que aspectos o dilúvio contado no Épico de Gilgamesh se assemelha ao

dilúvio contado pelos hebreus na Bíblia?

2. Por que histórias de dilúvios são recorrentes entre as civilizações do Oriente

próximo?

3. Explique com conhecimento científico esta afirmação do Épico de Gilgamesh:

"Shamash, o deus do sol, fez chover pães e trigo. Então veio o dilúvio".

4. Explique com conhecimento científico esta afirmação: "Os deuses cheiraram o

aroma, os deuses cheiraram o doce aroma, e reuniram-se como moscas sobre

o sacrifício (de ovelha).”

5.

Qual a posição do autor do artigo a respeito da história do dilúvio contada pelos

hebreus e do dilúvio relatado no Épico de Gilgamesh? Refute esta posição.

Referências

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