As grandes ideias da Atenas democrática As grandes ideias da Atenas democrática
Depois das guerras médicas, o pensamento politico grego atravessa um Depois das guerras médicas, o pensamento politico grego atravessa um período de desenvolvimento extraordinário, condicionado em grande parte período de desenvolvimento extraordinário, condicionado em grande parte pelas transformações económicas e sociais que se operam na Grécia
pelas transformações económicas e sociais que se operam na Grécia continental, e particularmente em Atenas.
continental, e particularmente em Atenas.
A cidade vai construindo uma estrutura politica democrática, é ela que domina A cidade vai construindo uma estrutura politica democrática, é ela que domina o movimento dos ideais.
o movimento dos ideais. A democracia A democracia
o estado politico que prevalece em Atenas no séc. !. "éricles. o estado politico que prevalece em Atenas no séc. !. "éricles.
"éricles #século ! a.$., de % ou & '()*'+ a.$.- foi um nore ateniense, "éricles #século ! a.$., de % ou & '()*'+ a.$.- foi um nore ateniense, /omem inteligente e sáio, que aril/antou a apreciada 0gura do estadista /omem inteligente e sáio, que aril/antou a apreciada 0gura do estadista culto, moderado e cívico através da sua defesa da democracia #ainda /o1e o culto, moderado e cívico através da sua defesa da democracia #ainda /o1e o 2século de "éricles3 é con/ecido como o período áureo da democracia
2século de "éricles3 é con/ecido como o período áureo da democracia ateniense-.
ateniense-.
4ual o regime político ideal5 4uem deve ser governante5 6m enefício de 4ual o regime político ideal5 4uem deve ser governante5 6m enefício de quem se deve governar5 4uais as vantagens e inconvenientes respectivos do quem se deve governar5 4uais as vantagens e inconvenientes respectivos do governo de um só /omem #monarquia, ditadura- e do governo do povo
governo de um só /omem #monarquia, ditadura- e do governo do povo #rep7lica, democracia-5
#rep7lica, democracia-5
8a sua apologia pela democracia, "éricles defendia um modelo de democracia 8a sua apologia pela democracia, "éricles defendia um modelo de democracia directa, e caracteri9a o regime vigente em Atenas como um regime em que o directa, e caracteri9a o regime vigente em Atenas como um regime em que o 6stado era administrado no interesse do povo e n:o das minorias. Deste modo, 6stado era administrado no interesse do povo e n:o das minorias. Deste modo, este pensador entende que as regras principais da democracia seriam a
este pensador entende que as regras principais da democracia seriam a
igualdade e a lierdade; igualdade, na medida em que as leis asseguravam a igualdade e a lierdade; igualdade, na medida em que as leis asseguravam a todos um tratamento por igual, e, no que di9ia respeito
todos um tratamento por igual, e, no que di9ia respeito
< vida p7lica, cada um otin/a uma igual consideraç:o em funç:o dos seus < vida p7lica, cada um otin/a uma igual consideraç:o em funç:o dos seus méritos e valores pessoais #e n:o em valor da classe social a que se pertence-= méritos e valores pessoais #e n:o em valor da classe social a que se pertence-= a lierdade, seria um princípio fundamental, uma ve9 que estimulava a
a lierdade, seria um princípio fundamental, uma ve9 que estimulava a participaç:o da opini:o p7lica, mesmo nos deates que envolvessem as participaç:o da opini:o p7lica, mesmo nos deates que envolvessem as
grandes questões do 6stado #pois "éricles entendia que as grandes questões só grandes questões do 6stado #pois "éricles entendia que as grandes questões só tin/am a gan/ar com a livre discuss:o e argumentaç:o das opiniões-.
tin/am a gan/ar com a livre discuss:o e argumentaç:o das opiniões-.
Deste modo, facilmente se conclui que todo o seu discurso 0ca indelevelmente Deste modo, facilmente se conclui que todo o seu discurso 0ca indelevelmente marcado pela apologia do equilírio, da toler>ncia e moderaç:o da acç:o
marcado pela apologia do equilírio, da toler>ncia e moderaç:o da acç:o política, demonstrando particular atenç:o pelas leis sociais, e defendendo a política, demonstrando particular atenç:o pelas leis sociais, e defendendo a possiilidade dos mais pores saírem da sua déil situaç:o através do traal/o. possiilidade dos mais pores saírem da sua déil situaç:o através do traal/o. Durante o tempo que governou Atenas #mediante ?) eleições sucessivas para o Durante o tempo que governou Atenas #mediante ?) eleições sucessivas para o cargo de estratego-, "éricles privilegiou a qualidade de vida #o desporto, a
cargo de estratego-, "éricles privilegiou a qualidade de vida #o desporto, a cultura, os espectáculos, en0m os 2costumes de Atenas3 -, exacerou a cultura, os espectáculos, en0m os 2costumes de Atenas3 -, exacerou a prosperidade económica da cidade #em como a sua aertura ao exterior-, prosperidade económica da cidade #em como a sua aertura ao exterior-, além de elogiar os que morriam como /eróis em defesa da "átria, exortando além de elogiar os que morriam como /eróis em defesa da "átria, exortando aos vivos para que saiam /onrar o exemplo dos que pereceram no
aos vivos para que saiam /onrar o exemplo dos que pereceram no
cumprimento do dever, em como as 2as instituições políticas3 de Atenas. cumprimento do dever, em como as 2as instituições políticas3 de Atenas.
A democracia ateniense apresentava, contudo, algumas imperfeições e A democracia ateniense apresentava, contudo, algumas imperfeições e limitações. $aracteri9ava*se por ser uma democracia directa e n:o
limitações. $aracteri9ava*se por ser uma democracia directa e n:o
representativa, na qual somente participavam os cidad:os de Atenas, ou se1a, representativa, na qual somente participavam os cidad:os de Atenas, ou se1a, os indivíduos que eram 0l/os de pai e m:e atenienses, com mais de @? anos de os indivíduos que eram 0l/os de pai e m:e atenienses, com mais de @? anos de
idade, e com serviço militar cumprido. As mul/eres n:o possuíam idade, e com serviço militar cumprido. As mul/eres n:o possuíam
poderesdireitos cívicos nem 1urídicos, n:o podiam possuir propriedades e era* poderesdireitos cívicos nem 1urídicos, n:o podiam possuir propriedades e era* l/es vedado o ensino. 8o entanto, respeitava a lierdade de opini:o, a
l/es vedado o ensino. 8o entanto, respeitava a lierdade de opini:o, a
lierdade de entrar e sair do país e outras lierdades essenciais, e conferia aos lierdade de entrar e sair do país e outras lierdades essenciais, e conferia aos cidad:os o direito de participaç:o no deate das grandes questões de
cidad:os o direito de participaç:o no deate das grandes questões de interesse geral.
interesse geral.
Bacilmente se constata que Atenas era palco de uma sociedade esclavagista, Bacilmente se constata que Atenas era palco de uma sociedade esclavagista, na qual os metecos #os cidad:os estrangeiros, como veio a ser o caso de
na qual os metecos #os cidad:os estrangeiros, como veio a ser o caso de Aristóteles, por exemplo- eram origados a cumprir determinados deveres, Aristóteles, por exemplo- eram origados a cumprir determinados deveres,
como pagar impostos e cumprir serviço militar, além de n:o poderem participar como pagar impostos e cumprir serviço militar, além de n:o poderem participar da vida política da cidade.
da vida política da cidade. Pontos essenciais:
Pontos essenciais:
"éricles elogia a democracia e a sua superioridade sore os restantes regimes "éricles elogia a democracia e a sua superioridade sore os restantes regimes políticos= a a0rmaç:o dos princípios ásicos da igualdade, da lierdade e da políticos= a a0rmaç:o dos princípios ásicos da igualdade, da lierdade e da participaç:o cívica na vida p7lica= a apologia do deate p7lico das grandes participaç:o cívica na vida p7lica= a apologia do deate p7lico das grandes questões do 6stado= a defesa da toler>ncia, do equilírio e da moderaç:o na questões do 6stado= a defesa da toler>ncia, do equilírio e da moderaç:o na acç:o política= a atenç:o particular concedida <s leis sociais de protecç:o dos acç:o política= a atenç:o particular concedida <s leis sociais de protecç:o dos pores e a concepç:o da possiilidade de 2sair da pore9a pelo traal/o3= a pores e a concepç:o da possiilidade de 2sair da pore9a pelo traal/o3= a impotante dada < cultura, o desporto, os espectáculos e divertimentos
impotante dada < cultura, o desporto, os espectáculos e divertimentos
p7licos-= a referCncia, < prosperidade económica da cidade e < sua aertura p7licos-= a referCncia, < prosperidade económica da cidade e < sua aertura do exterior= a ideia de que qualquer país, mesmo democrático, carece de
do exterior= a ideia de que qualquer país, mesmo democrático, carece de poderio militar para conseguir defender*se com Cxito dos seus inimigos= a poderio militar para conseguir defender*se com Cxito dos seus inimigos= a defesa inteligente da ideia de uma sociedade democrática #aerta, tolerante, defesa inteligente da ideia de uma sociedade democrática #aerta, tolerante, organi9ada civilmente e respeitadora do indivíduo-, em contrato permanente organi9ada civilmente e respeitadora do indivíduo-, em contrato permanente com o modelo oposto de uma sociedade totalitária #fec/ada, intolerante,
com o modelo oposto de uma sociedade totalitária #fec/ada, intolerante, militari9ada e colectivista-= e, en0m, o elogio dos que aceitam morrer pela militari9ada e colectivista-= e, en0m, o elogio dos que aceitam morrer pela "átria e a exortaç:o aos vivos para que saiam /onrar o exemplo dos que "átria e a exortaç:o aos vivos para que saiam /onrar o exemplo dos que tomaram no cumprimento do dever.
tomaram no cumprimento do dever. Xenofonte
Xenofonte
enofonte #séculos ! e E! a.$., % ou & '+*+) a.$.-, terá nascido enofonte #séculos ! e E! a.$., % ou & '+*+) a.$.-, terá nascido
provavelmente no 7ltimo ano em que "éricles viveu. Boi discípulo de Fócrates. provavelmente no 7ltimo ano em que "éricles viveu. Boi discípulo de Fócrates. omem de espírito irrequieto e de carácter guerreiro, comateu por mais de omem de espírito irrequieto e de carácter guerreiro, comateu por mais de uma ve9 ao serviço de 6sparta #regime com o qual se identi0cava- contra uma ve9 ao serviço de 6sparta #regime com o qual se identi0cava- contra Atenas #regime ao qual se opun/a-.
Atenas #regime ao qual se opun/a-.
Daqui emerge outro importante ponto de distinç:o entre "éricles e enofonte; Daqui emerge outro importante ponto de distinç:o entre "éricles e enofonte; se o primeiro surge como defensor da democracia ateniense e apologista de se o primeiro surge como defensor da democracia ateniense e apologista de valores como a pa9, a igualdade e a lierdade, o segundo, ao invés, vai*se valores como a pa9, a igualdade e a lierdade, o segundo, ao invés, vai*se
identi0car mais com a ditadura vigente em 6sparta, elogiando o poder militar e identi0car mais com a ditadura vigente em 6sparta, elogiando o poder militar e o uso da força, mostrando*se favorável a um líder forte e
o uso da força, mostrando*se favorável a um líder forte e
autoritário #governo de um só, governo de autoridade, militar, personali9ado autoritário #governo de um só, governo de autoridade, militar, personali9ado num c/efe-.
num c/efe-.
enofonte per0lava*se como amante da guerra e via nas principais regras da enofonte per0lava*se como amante da guerra e via nas principais regras da democracia ateniense #igualdade e lierdade- os grandes inimigos de um
democracia ateniense #igualdade e lierdade- os grandes inimigos de um 6stado que deveria ser forte e rigoroso, presidido por um líder carismático e 6stado que deveria ser forte e rigoroso, presidido por um líder carismático e autoritário, ou se1a, uma sociedade fec/ada e um regime ditatorial #tal como autoritário, ou se1a, uma sociedade fec/ada e um regime ditatorial #tal como 6sperta-, sendo esse o o1eto de uma das suas principais oras A Hep7lica dos 6sperta-, sendo esse o o1eto de uma das suas principais oras A Hep7lica dos Iacedemónios.
"ara enofonte, as leis de 6sparta seriam impostas n:o apenas como normas "ara enofonte, as leis de 6sparta seriam impostas n:o apenas como normas de origem /umana, mas como preceitos de emanaç:o divina; Iicurgo n:o
de origem /umana, mas como preceitos de emanaç:o divina; Iicurgo n:o
legislou sem primeiro de dirigir a Delfos para perguntar aos deuses se n:o seria legislou sem primeiro de dirigir a Delfos para perguntar aos deuses se n:o seria om para 6sparta oedecer <s leis que ele tin/a feito.
om para 6sparta oedecer <s leis que ele tin/a feito.
"ara enofonte, a política é o con/ecimento do que é preciso saer #e do que "ara enofonte, a política é o con/ecimento do que é preciso saer #e do que é preciso ser- para governar em um país. A política é uma arte. 8o entender é preciso ser- para governar em um país. A política é uma arte. 8o entender deste defensor da ditadura, só os mais capa9es e auda9es estariam /ailitados deste defensor da ditadura, só os mais capa9es e auda9es estariam /ailitados assumir e exercer o poder. "ara ele, o líder seria dotado de uma
assumir e exercer o poder. "ara ele, o líder seria dotado de uma
aptid:oautoridade natural, que o caracteri9a e o distingue, levando os outros a aptid:oautoridade natural, que o caracteri9a e o distingue, levando os outros a respeitá*lo e segui*lo. J c/efe ou líder político, deveria ser um /omem culto, de respeitá*lo e segui*lo. J c/efe ou líder político, deveria ser um /omem culto, de inegável con/ecimento, que souesse persuadir os que o rodeiam através do inegável con/ecimento, que souesse persuadir os que o rodeiam através do seu carisma, que souesse incutir respeito e oediCncia através do seu
seu carisma, que souesse incutir respeito e oediCncia através do seu carácter forte e autoritário. 6n0m, n:o astam ao c/efe os
carácter forte e autoritário. 6n0m, n:o astam ao c/efe os
con/ecimentos e o dom da palavra, é tamém necessário o estudo das con/ecimentos e o dom da palavra, é tamém necessário o estudo das paixões /umanas.
paixões /umanas.
Assim sendo, enofonte entende ainda que o poder é a 2faculdade de mandar Assim sendo, enofonte entende ainda que o poder é a 2faculdade de mandar e de se fa9er oedecer3, considerando estas como as qualidades inatas do
e de se fa9er oedecer3, considerando estas como as qualidades inatas do c/efe, a sua apetCncia natural.
c/efe, a sua apetCncia natural.
6m 1eito de síntese, pode considerar*se que o líder surge perspetivado num 6m 1eito de síntese, pode considerar*se que o líder surge perspetivado num sentido psicológico e n:o num sentido 1urídico, tendo em vista que, o poder n:o sentido psicológico e n:o num sentido 1urídico, tendo em vista que, o poder n:o resultaria das leis, mas da mentalidade, da motivaç:o, das atitudes e acções resultaria das leis, mas da mentalidade, da motivaç:o, das atitudes e acções de determinados /omens. J poder é, para enofonte, a 2faculdade de mandar de determinados /omens. J poder é, para enofonte, a 2faculdade de mandar e a capacidade de se fa9er oedecer3. F:o as qualidades do c/efe, a sua
e a capacidade de se fa9er oedecer3. F:o as qualidades do c/efe, a sua aptid:o natural, geram um ascendente psicológico sore os s7ditos e os aptid:o natural, geram um ascendente psicológico sore os s7ditos e os levam < aceitaç:o da autoridade e ao acatamento das ordens dadas pelo levam < aceitaç:o da autoridade e ao acatamento das ordens dadas pelo c/efe.
c/efe.
Aquilo que interessa fundamentalmente aos governantes n:o é a legitimidade Aquilo que interessa fundamentalmente aos governantes n:o é a legitimidade do cargo, mas a e0cácia demonstrada no exercício do poder #emora enfati9e do cargo, mas a e0cácia demonstrada no exercício do poder #emora enfati9e que este nunca deve ser posto em prática com o mero o1ectivo do interesse que este nunca deve ser posto em prática com o mero o1ectivo do interesse pessoal de quem o exerce, porque deve ser aplicado ao serviço da
pessoal de quem o exerce, porque deve ser aplicado ao serviço da prosperidade de todos-. Ju se1a, para enofonte o que importa, nos prosperidade de todos-. Ju se1a, para enofonte o que importa, nos
governantes é a legitimidade da investidura no cargo #ou 2legitimidade de governantes é a legitimidade da investidura no cargo #ou 2legitimidade de
título3-, mas a e0cácia no demonstrada no exercício do poder #ou 2legitimidade título3-, mas a e0cácia no demonstrada no exercício do poder #ou 2legitimidade de exercício3-. pelo exercício do poder que este se torna om e 7til, mesmo de exercício3-. pelo exercício do poder que este se torna om e 7til, mesmo quando na sua origem ten/a estado um acto ilegítimo.
quando na sua origem ten/a estado um acto ilegítimo.
Platão
Platão
6mora ten/a nascido em Atenas, "lat:o #séculos ! e E! a.$., de '@(*+'K 6mora ten/a nascido em Atenas, "lat:o #séculos ! e E! a.$., de '@(*+'K a.$.-, de família nore, descendia pelo lado materno de Fólon, um dos
a.$.-, de família nore, descendia pelo lado materno de Fólon, um dos
fundadores da democracia ateniense. Apresentou forte simpatia por 6sparta, fundadores da democracia ateniense. Apresentou forte simpatia por 6sparta, nomeadamente por ter presenciado o 1ulgamento e assistido < morte de
nomeadamente por ter presenciado o 1ulgamento e assistido < morte de Fócrates, considerado por ele como 2o mel/or e mais sáio dos /omens3. Fócrates, considerado por ele como 2o mel/or e mais sáio dos /omens3.
Empulsionado pelo sentimento de revolta, começou a despre9ar Atenas e foi Empulsionado pelo sentimento de revolta, começou a despre9ar Atenas e foi viver para 6sparta. A ora de longe mais importante de "lat:o é a "oliteia, viver para 6sparta. A ora de longe mais importante de "lat:o é a "oliteia, usualmente tradu9ida por A Hep7lica.
usualmente tradu9ida por A Hep7lica.
"lat:o foi o primeiro grande pensador a avançar com o modelo daquilo que "lat:o foi o primeiro grande pensador a avançar com o modelo daquilo que seria, no seu entender, uma sociedade ideal, atacando aqueles que considera seria, no seu entender, uma sociedade ideal, atacando aqueles que considera serem os grandes males da sociedade do seu tempo * a família e a propriedade serem os grandes males da sociedade do seu tempo * a família e a propriedade
privada. A "olítica é, pois, para "lat:o, a arte de governar os /omens com o seu privada. A "olítica é, pois, para "lat:o, a arte de governar os /omens com o seu consentimento
consentimento
8en/um dos regimes existentes, nem doutrinas, satisfa9iam "lat:o. 8en/um dos regimes existentes, nem doutrinas, satisfa9iam "lat:o. "ara ele, a democracia era ao reino dos so0stas, que, em lugar de "ara ele, a democracia era ao reino dos so0stas, que, em lugar de esclarecerem o povo se limitavam a estudar*l/e o comportamento e a esclarecerem o povo se limitavam a estudar*l/e o comportamento e a transformar em valores morais os seus apetites.
transformar em valores morais os seus apetites.
A primeira tentativa de mudança, por parte de plat:o, consistiu em A primeira tentativa de mudança, por parte de plat:o, consistiu em
transformar em ciCncia a moral e a politica, que assentam num alicece comum, transformar em ciCncia a moral e a politica, que assentam num alicece comum, o em, que n:o é diferente do verdadeiro= em sutrair a politica ao empirismo, o em, que n:o é diferente do verdadeiro= em sutrair a politica ao empirismo, para a ligar a valores eternos que n:o se1am perturados pelas Lutuações do para a ligar a valores eternos que n:o se1am perturados pelas Lutuações do devir.
devir.
Fegundo "lat:o o mel/or governo é o da saedoria, da ra9:o, da inteligCncia. Fegundo "lat:o o mel/or governo é o da saedoria, da ra9:o, da inteligCncia. J governo ideal é o 0lósofo; toda a sua ora está marcada pela defesa
J governo ideal é o 0lósofo; toda a sua ora está marcada pela defesa constante e vigorosa da entrega do poder ao Hei*Bilósofo, isto é, ao rei que constante e vigorosa da entrega do poder ao Hei*Bilósofo, isto é, ao rei que saia tornar*se 0lósofo, ou ao 0lósofo que consiga vir a ser rei.
saia tornar*se 0lósofo, ou ao 0lósofo que consiga vir a ser rei.
J poder, para "lat:o deve pertencer <queles que saem, aos mais instruídos J poder, para "lat:o deve pertencer <queles que saem, aos mais instruídos pelas ciCncias, nomeadamente pela "olítica e pela Biloso0a. "lat:o considera pelas ciCncias, nomeadamente pela "olítica e pela Biloso0a. "lat:o considera que os políticos n:o podem ser moderados nem violentos. Js moderados que os políticos n:o podem ser moderados nem violentos. Js moderados gostam de viver tranquilamente, s:o pací0cos em sua casa e querem sC*lo gostam de viver tranquilamente, s:o pací0cos em sua casa e querem sC*lo tamém perante as potCncias estrangeiras; s:o incapa9es de comater, 0cam tamém perante as potCncias estrangeiras; s:o incapa9es de comater, 0cam < mercC de quem os atacar. Js violentos tamém n:o servem, porque sendo < mercC de quem os atacar. Js violentos tamém n:o servem, porque sendo elicosos empurram o país para a guerra; suscitam inimigos e arruinam a
elicosos empurram o país para a guerra; suscitam inimigos e arruinam a "átria, ou arrastam*na para a sumiss:o ao estrangeiro. J político ideal é, "átria, ou arrastam*na para a sumiss:o ao estrangeiro. J político ideal é, assim, o Hei*Bilósofo, t:o 0rme que n:o violento.
assim, o Hei*Bilósofo, t:o 0rme que n:o violento.
"ara "lat:o, a Mustiça deixa da ser uma virtude individual para ser um atriuto "ara "lat:o, a Mustiça deixa da ser uma virtude individual para ser um atriuto do 6stado ideal & J 6stado 1usto, a sociedade 1usta, um 6stado que se1a uno, do 6stado ideal & J 6stado 1usto, a sociedade 1usta, um 6stado que se1a uno, em ve9 de 6stado dividido em dois grupos inimigos & o dos pores e o dos em ve9 de 6stado dividido em dois grupos inimigos & o dos pores e o dos ricos. "lat:o, com um conceito inteiramente novo de Mustiça, que nada a ver ricos. "lat:o, com um conceito inteiramente novo de Mustiça, que nada a ver tem a ver com a equidade nas relações particulares dos indivíduos entre si, tem a ver com a equidade nas relações particulares dos indivíduos entre si,
mas sim com a correcta ordenaç:o do 6stado. "ela Mustiça, o 6stado impõe aos mas sim com a correcta ordenaç:o do 6stado. "ela Mustiça, o 6stado impõe aos indivíduos a pro0ss:o e os cargos que devem desempen/ar, e n:o deixa
indivíduos a pro0ss:o e os cargos que devem desempen/ar, e n:o deixa ninguém sair do lugar que l/e compete no sistema do con1unto.
ninguém sair do lugar que l/e compete no sistema do con1unto.
A $idade Edeal de "lat:o assentava a sua teoria no estaelecimento de um A $idade Edeal de "lat:o assentava a sua teoria no estaelecimento de um paralelo entre a alma individual e a $idade; esta deverá ser estrutura como paralelo entre a alma individual e a $idade; esta deverá ser estrutura como aquela o é.
aquela o é.
Jra & di9 o 0lósofo & a alma /umana tem + partes; a primeira é a parte Jra & di9 o 0lósofo & a alma /umana tem + partes; a primeira é a parte
racional e corresponde ao plano das ideias= a segunda é a parte irascível, que racional e corresponde ao plano das ideias= a segunda é a parte irascível, que compreende os impulsos e afetos do ser /umano= e a terceira é a parte
compreende os impulsos e afetos do ser /umano= e a terceira é a parte sensual, que integra as necessidades elementares do /omem.
sensual, que integra as necessidades elementares do /omem.
A cade uma destas partes corresponde uma virtude ou qualidade principal; A cade uma destas partes corresponde uma virtude ou qualidade principal;
•
• N primeira, a saedoria=N primeira, a saedoria= •
• N segunda, a coragem= N segunda, a coragem= •
• < terceira, o dese1o= a sumiss:o da segunda terceira < ra9:o< terceira, o dese1o= a sumiss:o da segunda terceira < ra9:o
consiste na temperança= consiste na temperança=
•
+. Jra em; a $idade deverá ter, segundo "lat:o, a mesmo estrutura tripartida, posto que a $idade é como 2um /omem em ponto grande3 #concepç:o antropomór0ca do 6stado-.
Assim, /averá na $idade ideal + classes;
* a classe dos magistrados #governantes- corresponde < parte racional da alma, deve actuar segundo a ra9:o, ou saedoria, e complete*l/e governar a $idade=
* a classe dos guardas #militares- corresponde < parte irascível da alma, deve actuar segundo a coragem, e compete*l/e garantir a defesa e a segurança da $idade=
* a classe dos lavradores e artí0ces em geral #traal/adores- corresponde < parte sensual da alma, deve actuar segundo o dese1o, e compete*l/e assegurar o sustento material da $idade.
"ropOs a aoliç:o da propriedade privada #só para a classe dos guardas e, eventualmente para a dos magistrados- * pois entendia que o património
individual tornava as pessoas egoístas #2nen/um deles possuirá quaisquer ens próprios, a n:o ser coisa de primeira necessidade...nen/um terá /aitaç:o ou depósito algum, em que n:o possa entrar quem quiser.3-, por fa9er com que se preocupassem primeiramente com aquilo que l/es pertencia, descurando assim a preocupaç:o com o em geral da cidade & do casamento e da família
tradicionalmente conceida.
Pornou*se favorável < igualdade entre os sexos, numa sociedade que deveria direccionar os seus elementos num o1ectivo comum, evitando assim o
egoísmo das sociedades multifacetadas. As uniões teriam por ase um sorteio organi9ado pelos governantesmagistrados, e que seria, em determinadas alturas, engen/osamente determinado pelos mesmos, para que do resultado
dessas uniões emergisse um con1unto de pessoas dotadas de mel/ores características, tendo em vista uma espécie de 2aprimoramento da raça3, e, por conseguinte, mais um passo em frente no o1ectivo da sociedade ideal.
As crianças que nascessem deformadas ou fora do esquema por ele proposto, seriam aandonadas e deixadas < sua sorte ou ocultadas.
Jutro aspecto fundamental no pensamento platónico foi a import>ncia dada < educaç:o. 6le propun/a que as crianças fossem retiradas <s m:es aquando do seu nascimento, e seriam entregues a amas. Ao longo da sua inf>ncia, seriam os magistrados a 0car encarregues de escol/er as fáulas para serem lidas pelas amas <s crianças. "lat:o defendia um modelo educativo que
privilegiasse um acompan/amento dedicado e constante <s crianças, de forma a que se estudasse o desenvolvimento das aptidões naturais das mesmas, e para que os magistrados tivessem uma ideia mais precisa das suas reais capacidades. "ara tal, estariam previstas fases de ginástica e de
m7sica, para que as crianças experimentassem novas emoções, e mais tarde estaria prevista nova fase, mas que incidisse sore as artes militares e as
ciCncias, tendo em vista a integraç:o nas trCs classes sociais avançadas pelo 0lósofo.
6staria ent:o estaelecido que aos + anos aqueles que fossem os mel/ores de entre os guerreiros seriam educados com ase na arte do diálogo e da
0loso0a, com vista < magistratura que seria atingida aos ) anos de idade após serem superadas todas as provas. Deste modo, triunfaria, no entender de
"lat:o, aquilo que ele designava como a so0ocracia, o governo da saedoria, e o mel/or de entre os 0lósofos seria considerado o 2Hei*0lósofo3.
"lat:o conceeu trCs moldes de classes sociais, tendo por ase a célere 2teoria dos metais3, segundo a qual cada pessoa possui na sua alma um metal colocado por Deus.
8algumas, esse metal seria o ferro ou o ron9e, e nesse caso a pessoa estaria destinada a pertencer < classe dos artes:osartí0ces #seriam os traal/adores, cu1a principal funç:o consistia em assegurar os ens e o sustento da cidade-, noutras pessoas seria a prata, e pertenceriam portanto < classe dos
guardasmilitares #cu1a funç:o seria a proteger e defender a cidade-, e, 0nalmente, teríamos um restrito grupo de pessoas cu1a alma seria
caracteri9ada pelo ouro, pertencendo tais elementos < classe mais importante, a dos magistradosgovernantes, < qual as outras duas estariam suordinadas #a funç:o dos governantes seria, logicamente, a de colocar a saedoria ao serviço do governo da cidade-.
A teoria dos metais seria um dos critérios para seleccionar os cidad:os para as classes propostas por "lat:o, todavia, esse 2metal3 seria apurado, n:o por
/ereditariedade, mas pelo sistema educacional imposto pelos magistrados que faria soressair as inclinações naturais de cada um.
Jutro grande contriuto de "lat:o para a istória das Edeias "olíticas prendese com a sua tipologia das formas de Governo. J 0lósofo pro1ecta ) modelos;
• * monarquia * podia ser uma so0ocracia #descrita como a forma de
Governo
da $idade Edeal, assente na saedoria e exercida pelo Hei*0lósofo-, ou uma tirania #e neste caso o poder asoluto assentava num só /omem de cari9 violento, e desprovido das lu9es da 0loso0a-=
• * oligarquia * podia ser uma timocracia #e nesse caso o poder estaria
assente
na classe dos guardas, aca*ando por se instalar o predomínio da força sore a saedoria-, ou podia ser tamém uma plutocracia #descrita como o governo de uma minoria de ricos, voltados para os seus interesses pessoais-=
• * um modelo democrático, emora apreciasse pouco a democracia,
pois
entendia que as grandes massas e multidões s:o incapa9es de, no seu todo, possuir a Ha9:o e a Faedoria necessárias para o governo da cidade.
"lat:o considera que a mel/or forma de governo é a monarquia so0ocrática #a cargo do Hei*Bilósofo- e que a pior é a tirania.
A democracia, quanto a ele, é mel/or que a tirania & pois o governo da multid:o é incapa9 de gerar um grande mal *, mas é pior que a monarquia so0crática & pois o governo da multid:o é incapa9 de gerar um grande em. 6ntrego a um Hei*Bilósofo, a so0ocracia seria, noutras palavras 2o governo de uma só pessoa com o máximo de con/ecimento3 na arte de governar. "ara ele, o governante ideal está acima da lei, e n:o só pode como deve ignorá*la ou
afastá*la sempre que, no seu critério, o interesse superior da colectividade assim o exi1a; o estadista deve forçar os cidad:os a ir contra o disposto nos seus códigos e tradições se, no interesse deles, isso for mel/or do que acatar as leis. "lat:o n:o quer o governo das leis, mas antes o governo de um /omem sore os
demais /omens. "lat:o preconi9a, para a sua $idade ideal, um regime geral de relações entre governantes e governados assente no comando autoritário dos primeiros e na oediCncia cega dos segundos.
8o entender de "lat:o as formas de governo n:o s:o imutáveis, na medida em que evoluiriam consoante as circunst>ncias. 6le dá inclusivamente como
assente uma espécie de ciclo #A sucess:o cíclica das formas de governo- em termos governamentais, que se iniciaria com a so0ocracia, passaria para a timocracia e posteriormente < oligarquia, dando esta lugar < democracia e o
governo democrático, devido <s suas vicissitudes, culminaria numa tirania. A tirania seria uma espécie de culminar esta espécie de ciclo governamental, dando origem a novo ciclo que se iniciaria novamente com a so0ocracia.
Aristóteles
Aristóteles nasce #séc. E! a.$., de +Q'*+@@ a.$.- na cidade de 6stagira, naRacedónia= por isso 0cará a ser con/ecido como o 6stagirita.
$om Aristóteles /á, no pensamento político grego, um certo regresso a
"éricles e aos ideais e valores da democracia ateniense, em contraste com a orientaç:o favorável a 6sparta que detetámos em enofonte e em "lat:o.
Aristóteles é partidário do om senso, do equilírio, da moderaç:o & isto é, em sentido grego, da virtude. "ara ele, o ideal a atingir n:o é a $idade 1usta, mas sim o om cidad:o, o cidad:o virtuoso, o cidad:o 1usto, orientado para a
felicidade por um 6stado ético e tutelar.
Aristóteles, no seu célere tratado sore a Política profere que “o homem é, naturalmente, um animal político” , porque é 2feito para viver em sociedade3.
Aristóteles di9 em Política que 2todas as $idades s:o uma espécie de
associaç:o3 e que 2todas as associações n:o se formam sen:o em vista de algum em3 e, portanto, como o 6stado é a comunidade perfeita, o seu em é o em supremo. 6ste em é a reali9aç:o de uma vida oa ou feli9
#2eudaimonia3-; é a prossecuç:o da felicidade entendida num sentido ético #a felicidade como soma de virtudes-. J /omem feli9 será aquele que for capa9 de dedicar a mel/or parte da sua vida < contemplaç:o 0losó0ca das verdades eternas, mas sem despre9ar por outro lado a vida activa, assente numa
quantidade moderada de ens materiais e de sa7de.
Ras para que os /omens se tornem ons, é necessário que o governo e as leis do país se1am
orientadas para a consecuç:o do em, em suma; 2é através das leis que nós podemos tornar*nos ons3. A política está, pois, ao serviço da moral; as leis devem condu9ir < virtude do om cidad:o, e se possível, ainda mais, < virtude #suprema- do /omem de em. J 6stado n:o é, portanto, apenas um fenómeno político ou 1urídico; o 6stado é, e deve ser, um 6stado ético, um fenómeno
moral e religioso.
Aristóteles critica o modelo da unicidade da $idade de "lat:o, defendendo a superioridade do pluralismo social e político #a $idade ao tornar*se mais una e
ao ser recondu9ida o mais possível < unicidade, acaará por ser redu9ida a uma família e esta a um indivíduo, aniquilando a $idade, que deve pressupor uma pluralidade.
Aristóteles defende a família ao exprimir a sua repugn>ncia #moral e social-por esse tipo de sociedade onde será praticamente 2impossível que um pai diga; meu 0l/o= ou que um 0l/o diga; meu pai3. J fundamento é de que 2nada inspira menos interesse #ao omem- do que uma coisa cu1a posse é comum a grande n7mero de pessoas= porquanto se dá uma grande import>ncia ao que nos pertence3.
Jutro con1unto de consequCncias da teoria de "lat:o era a generali9aç:o dos laços familiares #ou se1a, inexistentes- e que provocaria 2assassinatos, rixas e in17rias3, em como a possível
anali9aç:o de relações promíscuas tais como o incesto.
Aristóteles defende a propriedade privada, principalmente pelo sentimento de satisfaç:o de que uma coisa nos pertence como coisa própria. J Estagirita
argumenta que pela comun/:o de ens mais prolemas sociais advCm, pelo facto de existirem 2mais frequentemente dissensões entre aqueles que
possuem coisas em comum do que entre aqueles cu1as fortunas s:o distintas e separadas3.
Aristóteles, sore as classes sociais, defende o predomínio das classes médias, pois a mel/or forma de governo, a mel/or espécie de sociedade política, é
aque for constituída, em maioria, por cidad:os das classes médias. Defende que os que pertencem < classe média integram*se mais
/armoniosamente numa sociedade equilirada e s:, pois a violCncia #dos mais aastados- e a intriga #dos mais pores- s:o duas fontes iniquidades.
2De maneira que estes, incapa9es de comandar #os mais pores-, n:o saem sen:o mostrar uma sumiss:o servil= e aqueles #os mais ricos-, incapa9es de se sumeter a qualquer poder legítimo #desoediCncia aos magistrados-, n:o
saem sen:o exercer uma autoridade despótica3. 6, assim, 2os cidad:os de condiç:o média n:o empregam violCncias nem intrigas, porque n:o
amicionam as magistraturas3. Assim, Aristóteles conclui que a sociedade civil mais perfeita é aquela em que a condiç:o média é mais numerosa e poderosa que as outras duas #ou pelo menos mais poderosa que cada uma das outras-, pois quando 2uns tCm rique9as imensas e os outros n:o tCm nada, daí resulta sempre ou a pior das democracias, ou uma oligarquia desenfreada, ou uma tirania insuportável3.
Aristóteles defende o primado da lei sore a vontade dos /omens. "ara ele a regra geral é a do respeito pela lei, a da oserv>ncia da legalidade, a dos
sistemas das leis, o1etivas e impessoais, acima da vontade, do capric/o e da discricionariedade dos /omens. á, pois, neste sistema, toda a possiilidade de atender <s circunst>ncias particulares de cada caso; será essa a tarefa dos
órg:os executores da lei, por delegaç:o dela e dentro dos limites por ela de0nidos. Ju se1a, 2o primado da lei é preferível ao governo livre de qualquer cidad:o3, pois 2a lei é a ra9:o sem o apetite3, ao passo que o poder pessoal é o domínio das paixões incontroláveis, su1ectivo e aritrário.
"ara Aristóteles, o regime legítimo ou 2om3 é aquele que tem por 0m o em comum e que é conforme < 1ustiça, ao invés daqueles que apenas só tendem para o enefício particular de alguns. Assim, o Estagirita apresenta uma
classi0caç:o de regimes políticos agrupados em regimes sãos (monarquia, aristocracia e a república) e regimes degenerados (tirania, oligarquia e
democracia:
• * 6ntre as monarquias, dá*se o nome de realea aquela que tem por
0m o
interesse geral=
• * J governo de um pequeno n7mero de /omens, ou de vários, mas
n:o de um
só, c/ama*se aristocracia, porque eles o exercem para o maior em do
• 6stado e de todos os memros da sociedade=
• * 4uando a multid:o governa no sentido do interesse geral, c/ama*
se
república.
Js governos que constituem desvio ou degenerações s:o;
• * em relaç:o < reale9a, a tirania & monarquia governada no interesse
exclusivo do monarca=
• * em relaç:o < aristocracia, a oligarquia & dirigida unicamente no
interesse dos pores=
• * em relaç:o < rep7lica, a democracia & somente no interesse dos
pores.
"ara Aristóteles a mel/or forma de governo seria uma república #governo
assente no poder do grande n7mero, exercido no interesse de todos os
cidad:os- de carácter misto, contendo alguns elementos de oligarquia #muitas
instituições oligárquicas, tais como as magistraturas por eleiç:o- e de
democracia #muitas coisas populares, tais como educaç:o e vestuário acessível a todos- e apoiada no predomínio das classes médias.
Pal como "lat:o, Aristóteles tamém emitiu a sua teoria sore a sucess:o cíclica das formas de governo; começaria na monarquia #o governo dos antigos-, passaria para a aristocracia, oligarquia, tirania, de seguida a
democracia e resultaria na rep7lica mista que resultará tanto mel/or quanto se apoiar mais na classe média.
"ontos essenciais;
Js principais contriutos de Aristóteles para a istória das Edeias "olíticas s:o; a apresentaç:o de uma concepç:o acerca da nature9a /umana, da qual dedu9 depois como consequCncias as suas outras oservações e propostas= a crítica directa da $idade Edeal de "lat:o e, portanto, a defesa da família, da propriedade privada e do pluralismo essencial= a análise das classes sociais e o papel preponderante recon/ecido <s classes médias= a defesa do primado da lei sore a vontade dos /omens= a classi0caç:o dos regimes políticos s:os e degenerados= e a teoria do regime misto como forma de governo ideal.
CAPÍTULO 3 MONA!U"A #$L$NÍ%T"CA
& ' #elenismo e "dade das Tre(asApesar do esforço grandioso, o processo dos sécs. EEE e EE a. $. é mal con/ecido. J motivo da oscuridade e o padr:o renascentista da /istória toma a 6uropa ocidental e a seculari9aç:o diferente dos estados nacionais como foco da
/istória e como eixo e daí traal/a para o presente e põe no passado a
Antiguidade $lássica, /elénica e romana. Edade das Prevas é designaç:o de período entre Antiguidade e renascença. Encapacidade de analisar período que n:o é 0el a estereótipo de sociedade política que evolui para democracia
constitucional. Assim /á mais que uma idade das trevas sempre que precede lutas internas pelo poder ou que se segue o desgaste das lierdades
constitucionais que desgastou a comunidade até sociedade de massas. Js séculos /elenísticos s:o idade das trevas porquanto vista do passado grego a polis atingiu a canal/a urana e ol/ando para o futuro a ansiedade espiritual de uma nova alma produ9 o fenómeno dos Deuses*reis.
& ) Monar*+ia ,i(ina
A controvérsia acerca do sentido efetivo do culto dos reis deuses, sincero ou n:o, cínico resolve*se aceitando que amos os lados tCm ra9:o. J rei pode divini9ar*se por dese1o sincero de s7ditos ou porque irreligiosidade
generali9ada 1á n:o se importa de ter um rei por Deus. "oetas e 0lósofos podem criar reis. Sma alma pode criar símolos da profundidade que personalidade consciente re1eitaria.
Acerca das origens orientais ou /elénicas do culto real amos os lados tCm ra9:o. Js gregos tin/am faculdades teopoéticas antes de Alexandre. Ras é certo que ellas n:o produ9iu deuses*reis antes do contacto com o Jriente. Prata*se de um novo fenómeno /istórico. Js novos reis diádocos s:o
macedónios= depois emora /eroi9ações e divini9ações em vida existissem na Grécia, o primeiro rei*deus é "tolomeu EE do 6gipto e sua irm: Arsinoé em @K a.$.,- J culto dos "tolomeus n:o se confundia com o dos Baraós. J culto do governante foi adoptado na Fíria n:o na Racedónia.
& 3 A Lei Animada
A instituiç:o era nova, o dese1o antigo. A tragédia do pensamento socrático mostrava que povo n:o renovava o cosmion político."lat:o procurava o /omem que cominasse espírito e poder para salvar ellas. Alexandre transferiu o
prolema para a área Rediterr>neo. A diáspora /elénica criara reinos de populaç:o mista. Empossível criar estados nacionais na Tsia. Jrgani9aç:o política n:o poderia ter ase popular durante séculos mas teria de provir de dinastias e governantes. A nova teoria política lida com rei e governaç:o n:o com povo e constituiç:o.
Js 0lósofos interpretados como racionali9adores da polis lutavam a0nal com agonia da polis e fornecem alternativas. J 0losofo salvador em comunicaç:o com céus salva a polis, através da divina ideia que enc/e a alma. Até ao povo que ele tem de assimilar. ele é a lei animada. Desta doutrina vem a teoria
/elenística do nomos empsUc/os criando o cosmion político dos poderes da sua divina personalidade.
Aristóteles considera a possiilidade de que um /omem se1a t:o superior a outro em virtude a todos os outros que seria in1usto sumetC*los a regra
constitucional. "olitica ?@Q', ? e ss. omens de virtude eminente s:o a sua lei, ?+ e ss. 6 se família produ9ir superioridade seria família real a fornecer os reis da naç:o "olítica ?@QQ a ?.Q ?.?). referencia <s instituições persas. Jnde a família eminente dos Aqueménidas exercia a funç:o real. emanaç:o de poderes
de A/urama9da para o rei e o caso de Aquenaton. Palve9 as ideias orientais fossem con/ecidas dos 0lósofos /elenísticos. Vailónia marcava eraclito, "ersa o vel/o "lat:o e o símolo do sol é oriental. Jrientalismo latente da Grécia.
& - ,iotógenes
Js fragmentos de Diotógenes, pitagórico da uma fórmula .WJ rei tem a mesma relaç:o < polis que Deus para com o mundo e a cidade está na mesma relaç:o ao mundo que o rei está para DeusX "orque a cidade*estado, feita como é de uma /armonia de muitos elementos distintos é uma imitaç:o da ordem e da /armonia do mundo enquanto o rei tem governo asoluto é ele próprio Iei Animada foi metamorfoseado em divindade pelos /omens.W
6rYin Goodenoug/ salientou o paralelo entre universo e o estado, o cosmos e o cosmion, entre Deus e o Hei. 6, supremo realismo, a ordem teria de vir do poder do governante como /armoni9ador do povo, previsto em Jpis situaç:o mantida durante um milénio de ordem imperial.
& . $cfanto
6laora a fórmula de Diotógenes. J rei adquire ma1estade se a conduta for divina. $ontemplar o rei afeta a alma daqueles que o veem n:o menos que o som da Lauta ou a /armonia. "ara 6cp/antus o rei tem a mesma comun/:o com os s7ditos como deus tem para com o universo e as coisas que l/e pertencem.
Js reis diádocos s:o elevados ao poder pela fortuna pessoal em tempos desordenados; o seu prolema pessoal é idCntico ao de qualquer pessoa. J conceito de autarcia redu9iu*se até < esfera individual. Fe ele quer viver vida perfeita tem de ser auto*su0ciente. omens diferentes reali9am 0nalidades diferentes e o rei torna*se o modelo exemplar para que outros modelem suas vidas. A cosmopolis aerta, a comunidade anárquica de /omens sáios adquire articulaç:o interna que a1uda os indivíduos a encontrar o seu camin/o. J rei tem de ser t:o auto*su0ciente e semel/ante a Deus quanto possível para
transferir esse em para a nature9a /umana. J seu logos fortalece os corruptos cura os doentes, afasta o esquecimento e fa9 a memória viver, donde resulta a oediCncia.
& / Os reis sal(adores
A doença da alma diagnosticada por "lat:o era profunda demais para ser curada por uma alma poderosa. Bragmentos de 6cp/antus explicam os títulos reais dos reis /elenísticos; Foter salvador 6uergetes emfeitor 6pip/anes
Femel/ante a Deus até que J logos que se fe9 carne e /aitou entre nós Mo:o ESE, ?'. J estatuo político da ideia é imperfeito. Fucederá a comunidade
perfeita sem aplicaç:o de força; WJ/ se fosse possível eliminar da nature9a /umana qualquer necessidade de oediCnciaW. 6ste era o prolema da
evoluç:o da legalidade externa da acç:o para estado de coisas em que seres /umanos actuem por imposiç:o motivo de moralidade.
O $%TO"C"%MO $ POLÍ0"O
A experiCncia imperial encontrou em "olíio o autor capa9 de interpretar as novas movimentações políticas, em particular no período @@*?ZQ a.$. que estaeleceu a grande9a de Homa. A grande força que domina os
acontecimentos /istóricos é a fortuna, sentimento su1ectivo dos protagonistas e facto o1ectivo que determina o rumo da /istória. Ao considerar que a fortuna criava um campo unitário de inteligiilidade para os movimentos /istóricos a que assistia, "olíio recon/ecia nela a força o1ectiva que determina a forma da /istória e o sentimento su1ectivo do conquistador que recua perante a
possiilidade de, tamém um dia, declinar. #E, @ e !EE, @-. Apresenta Demétrio de Baleros a advertir da inconst>ncia da fortuna após a vitória
macedónia sore a "érsia. Após a vitória de "idna, o cOnsul "aulo 6mílio lemra ao senado os reveses da fortuna. 6 na /ora da conquista de $artago, perante as ruínas do maior inimigo que Homa 1amais tivera, $ipi:o 6miliano derrama lágrimas ao antecipar o dia inevitável em que Homa sofreria idCntico destino. [?\
"olíio aperceeu*se que Homa era uma naç:o diferente das outras. !isava organi9ar a /umanidade numa só cidade com uma exemplaridade imperial que se transmitiu < posteridade.
"ara descrever a causa desse triunfo crescente, dispun/a da teoria clássica das formas de governo, um tópico recorrente da ciCncia política, que reaparece no sec.!EEE com Rontesquieu e na constituiç:o dos 6SA. Apoiado na doutrina de Dicearco de Ressina que aplicara a 6sparta o modelo da 2tripoliteia3 * o regime misto que cominava os trCs tipos de regime * "olíio sustenta que a decadCncia de cada elemento seria contraalançada pela presença do outro.
Js cOnsules de Homa seriam o elemento monárquico, o senado o aristocrático e os comícios triunícios o democrático. Js equilírios m7tuos predestinavam a vitória de Homa.
$ontudo, "olíio sae que as secções do célere livro !E que tratam da
tripoliteia #!E, +*?Q- tCm pouca import>ncia para descrever a realidade política de Homa.
As causas reais surgem nos caps. '+*)Q. As duas causas da condiç:o #sUstasis-de um estado s:o costumes e leis. Fe as vidas privadas forem virtuosas, o
estado será om; sen:o, n:o. A aristocracia romana parece ter mais sentido de dever cívico do que os adversários. Js romanos nunca d:o nada em troca. Js ritos funerais impressionam o povo. A /onestidade nos cargos p7licos
distingue Homa de $artago. 6 0nalmente o temor reverencial religioso do povo romano, #deisidaimonia-, mostra que Homa n:o passou pela desintegraç:o cultural que afectou a Grécia e manteve a integridade de um povo rural lançado < conquista do mundo.
Fe estes s:o as verdadeiras causas da sucesso romano, por que ra9:o "olíio insiste no modelo do regime misto para compreender a evoluç:o política de Homa cu1a semel/ança com a Grécia é super0cial5 A sua 1usti0caç:o é de que os argumentos dos clássicos, "lat:o e Aristóteles, s:o complexos, e apenas tCm sentido pleno para os que a conceeram #!E, ),@-. "olíio apela ao 2senso
comum3 #]oine epinoia- A sua grande9a reside em conceer a força e a fraque9a da ideia imperial; Homa representava a ordem de0nitiva da
/umanidade e n:o uma organi9aç:o de poder entre outras. J oris terrarum tornara*se em unidade geopolítica a ser disputada por todos os contendores. 6m segundo lugar, o imperium crescera < custa de populações que perdiam a
individualidade. A nova ordem, a pax romana, estendia a sua m:o férrea sore os povos. Binalmente, irrompera a ideia de $aesar, o /omem cu1a força pessoal consegue dominar os poderes erráticos e moldá*los num todo. Ras a mesma fortuna que impusera este Wdestino manifestoW poderia liquidá*lo, tal como lemrará Raquiavel ao teori9ar a fortuna secunda et adversa.
CÍC$O
As ideias gregas sore cidadania estavam < disposiç:o dos 1uristas romanos constituindo um património rico de que $ícero é porta*vo9 no sec.E a.$., $ícero é, de certo modo, o triunfador do 2senso comum3, o indivíduo dotado da
clare9a do orador e do advogado, um dos autores mais citados no Jcidente desde os padres da Egre1a, aos 6scolásticos até aos criadores do moderno
direito natural racionalista. "assa pelo 2cicerone3 perfeito de muitos dos termos constantes no pensamento político ocidental, em particular no capítulo da
cidadania= re0ra*se apenas a traduç:o que fe9 fortuna de politeia por res pulica. J termo latino é tanto traduç:o como traiç:o ao grego porque res é oriundo do direito civil. $ontudo, estamos perante um autor que é claro nas
fórmulas mas n:o no conte7do do que pensa. 8este sentido, tem a import>ncia do 2opinion*ma]er3 e n:o do cientista, do 0lósofo, do teórico ou do visionário da vida da cidade.
6m imitaç:o de "lat:o, tamém $ícero escreveu uma 2Hep7lica3 e as 2Ieis3. Ras ao compararmos os diálogos vemos que para além de a Hep7lica de
$ícero tratar do estado ideal e terminar com o famoso son/o de $ipi:o de que a ideia de virtude deveria guiar o estadista, * em paralelo com a "oliteia
platónica, que descreve a cidade *modelo e termina com o son/o de 6r de um mundo mais 1usto * pouco mais existe de comum. $ipi:o 6miliano é o porta*vo9 do diálogo porque 2acrescentou o saer estrangeiro, originado por Fócrates, aos costumes tradicionais do seu país e dos antepassados3 #Hep. EEE, +-. 6 este porta*vo9 é signi0cativo porque, tal como outros romanos do seu tempo, $ícero sente um misto de superioridade e de ressentimento perante a Grécia.
Fuperioridade porque a força romana impediu os Gregos de caírem no caos e na arárie= ressentimento porque a sumiss:o esconde a maior perfeiç:o da civili9aç:o vencida. A 2Grécia cativa cativou os captores3 como escreveu
orácio.
A 1usti0caç:o da posiç:o ciceroniana é o sucesso; o sucesso colectivo de Homa e o sucesso pessoal do /omem novo na política, cego para os dramas da
/istória < sua volta, pelo menos até que l/e ven/am ater < porta. "ara o 1urista romano, "lat:o e os demais 0lósofos gregos eram apenas teóricos que
expuseram com pouco sucesso um sistema ideal de governo. J ideal de $ícero é o do cidad:o romano que se origa a seguir os preceitos da autoridade. "ara de0nir o estado ideal asta descrever a constituiç:o da rep7lica. 8uma
passagem de saor amargo para nós, portugueses, a0rma $ícero que a
instailidade de um povo de navegadores, como eram os gregos, afectava as suas cidades e instituições que 2Lutuavam3, instáveis #Hep. EE, '-. Js 1uristas romanos s:o muito superiores aos gregos e o imperium romano cresceu e estaili9ou*se até ocupar a cosmopolis, apenas son/ada por outros.
As opiniões de $ícero, representativas do seu tempo, alimentavam*se da corrente do estoicismo, do sec EE a. $., presente no círculo dos $ipiões através de personalidades como "anécio de Hodes e "olíio. J estoicismo inicial insistia no que /o1e foi seculari9ado como 2gloali9aç:o3, ou se1a na existCncia de um espírito, logos e nomos #ratio e lex- que emana do todo para todos os /omens e que determina a igualdade. 6m consequCncia desta igual participaç:o na ra9:o divina, cada /omem tem duas pertenças e duas cidadanias; a do seu
nascimento e a cosmopolis.
$ícero transformará esta fórmula estóica na fórmula de que um /omem tem duas cidadanias, a terra natal e Homa #Ieis, EE,@-. J laço da ordem 1usta é
constituído por nature9a. A verdadeira lei * vera lex * é recta ratio consonante com a nature9a, difundida em todos, eterna e imutável= c/ama o cidad:o ao dever pela sua autoridade e impede a prática do mal pela sua proiiç:o. #Hep, EEE, @@-. A lei adquire ma1estade. J império adquire a qualidade de ser divino. 6sta concepç:o legalista tornou*se um factor decisivo na /istória das ideias. Homa tornou*se o modelo de futuros impérios que concedem a cidadania a
troco da sumiss:o. Fe 1á existe o povo e o governo imperiais, n:o é necessário inquirir das condições de existCncia do que é uma oa comunidade política. Js prolemas políticos devem ser tratados no quadro da legalidade existente.
Sma ve9 estaili9ado o quadro constitucional, os prolemas políticos tendem a ser redu9idos a prolemas de ordem 1urídica. J governo de Homa é a res
pulica, relacionada com a res populi. A aplicaç:o <s instituições p7licas do conceito de res, oriundo do direito civil, torna*se fonte de especulações in0ndas sore a soerania popular #Hep, E, @)-. J povo n:o é só uma multid:o mas uma assemleia que se 1unta para consentir numa ordem 1usta e com interesses comuns #Hep.,E, @). e Hep., EEE, +?-. De0ne a cidade como a aglomeraç:o
/umana na qual existe consentimento na lei. 8a realidade, o que designa por vinculum 1uris * o laço 1urídico que constitui a comunidade * é o 7ltimo produto dos processos que originam um povo.
Ao insistir na ideia do Direito como independente de pressupostos, $ícero diminui a de0niç:o da cidadania. Ao tornar a ordem legal da comunidade no elemento decisivo da política sem mais questionamento sore a sua origem nature9a, diuturnidade, e 0nalidades, are um precedente para numerosas teorias centradas no direito como ase da sociedade política. A0rmar que o verdadeiro governo só é possível por consenso dos governados é uma ideia va9ia de origem ciceroniana e que nada a0rma sore o
conte7do * 1usto ou in1usto * desse consenso cu1a qualidade tem de ser avaliada. 6nquanto a forma de Homa continua, desaparece o conte7do. 6nquanto $ícero fundava o mito da autonomia do Direito e da concepç:o estritamente 1urídica da cidadania, a rep7lica romana foi sustituída pelo
império. Rarco P7lio $ícero será cruelmente assassinado por estar nas listas de Rarco António de /omens a aater e será entregue por Jctávio Augusto, o
futuro $ésar, e liquidado por um cliente que defendera numa causa. J drama da /istória atia*l/e fatalmente < porta.
C1cero
$ícero nasceu em Homa #séc. EE e E a.$., de ?Z*'+ a.$.-. Boi um dos maiores 1uristas, governantes e 0lósofos da Antiguidade $lássica. 6screveu o tratado De
Hepulica. inLuenciado por "lat:o e Aristóteles. 6screve num período
importante da /istória de Homa, o período 0nal da Hep7lica, quando este 1á vai ser sustituído pelo Empério.
$ícero é um dos mais representantes do estoicismo, os quais defendem que; a ideia de que o princípio do mundo e da realidade é a ra9:o #logos-= a noç:o de devoç:o permanente ao dever e do controle de si mesmo= a existCncia de um deus 7nico cu1a relaç:o com os /omens é igual ou semel/ante < de um pai para com os seus 0l/os= a noç:o de igualdade fundamental entre os
/omens como memros de uma mesma família= a ideia de um 6stado mundial e de uma cidadania universal= e 0nalmente a ideia de uma lei ou direito natural de origem divina.
8o tratado De Hepulica, $ícero defende o dever de participaç:o política, que considera ser o primeiro dos deveres que a moral social impõe aos /omens.
Defende que é natural que os /omens participem na vida política pois na natre9a uma grande necessidade de 2agir3, com vista < 2salvaç:o comum3 e que o /omem deve procurar a virtude e só a possui quando a aplicar,
principalmente no governo da cidade.
Donde vem o sentimento do dever5 De onde nasceu a religi:o5 4ual a origem do direito das gentes ou do direito civil5 Pudo isto, segundo $ícero, provém do exemplo dado pelos governantes, pelos /omens de 6stado.
J político é, pois, mais importante que o 0lósofo e que o moralista, pois
consegue através das leis e do poder de comando que exerce origar todo um povo a fa9er aquilo que os 0lósofos só conseguiriam a um pequeno n7mero de pessoas.
$ícero tamém teori9ou formas de Governo como a monarquia ou reale9a
#poder atriuído apenas a uma pessoa-, aristocracia #poder atriuído a vários- e democracia #poder atriuído < totalidade do povo-. Fegundo $ícero tudo isto tem de ser cominado, porque cada uma destas formas de governo,
separadamente, tem vários inconvenientes; a monarquia porque se presta a toda a espécie de ausos e asta o auso de um só rei para que o povo
comece a detestar o próprio regime monárquico= a aristocracia, uma ve9 que tende a ser o governo dos ricos, o governo de
pessoas que pelo seu nível de vida est:o muito afastadas das necessidades do povo e procurar:o, se o governo l/es pertencer, exercC*lo apenas no seu
interesse= quanto < democracia, ela é para $ícero, o pior de todos os regimes; quando entregue a si própria, a multid:o & com os seus apetites, a sua
cegueira, os seus ausos de poder & é o pior de todos os tiranos.
"ara $ícero a mel/or forma de governo seria a cominaç:o das trCs formas; a monarquia, para que /a1a uma a0rmaç:o de poder= a aristocracia, para que /a1a lucide9 e con/ecimento no tratamento dos negócios p7licos= a
democracia, para que /a1a o princípio popular de lierdade e 1ustiça para o povo. $ícero acrescenta a Aristóteles a ideia de um poder executivo num /omem que mande #monarquia % aristocracia % democracia, ao invés de oligarquia % democracia-.
$ícero defende a necessidade de um magistrado fundamental, de um líder. Jra a funç:o do magistrado é representar o povo, sustentar a dignidade e a
/onra do país, exectuar as leis, respeitar os direitos de cada um, e cumprir as origações con0adas < sua lealdade. $ícero sulin/a a necessidade do
magistrado oedecer <s leis; o magistrado está aaixo das leis, emora este1a acima dos governados, porque é governante.
$ícero teori9a o Direito 8atural a que se refere no tratato De Hepulica; 2uma lei verdadeira, que é a recta ra9:o, conforme < nature9a, presente em todos os /omens, constante e sempre eterna. 6sta lei condu9*nos imperiosamente a fa9er o que devemos, e proíe*nos o mal desviando*nos dele.3
Ju se1a, para $ícero o Direito 8atural engloa a ideia que; existe uma nature9a, uma ordem
natural, que foi criado por Deus= essa ordem natural é descoerta pela ra9:o /umana= dela resulta um direito natural, que impõe direitos e deveres aos /omens, e que estes tCm de acatar so pena de desrespeitarem a própria
nature9a /umana= os principais imperativos decorrentes do direito natural s:o universais, eternos e invariáveis= o direito positivo, o 6stado, os governos, n:o
podem alterar essa lei, nem podem dispensar ninguém da oediCncia aos seus preceitos. $ícero defende a existCncia de uma umanidade e da dignidade do ser /umano, a igualdade de todos os seres /umanos do ponto de vista 1urídico, e portanto a igualdade de direitos. De notar ainda o seu
permanente comate < tirania, criticada em nome de uma lei superior o1ectiva e n:o com fundamento em qualquer su1ectivismo.
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0re(e referncia ao Cristianismo
J $ristianismo começa muito antes de a Edade Rédia principiar; começa no tempo do Empério Homano. Mesus $risto nasce so o principado de $ésar Augusto.
J $ristianismo é, como se sae, essencialmente uma revoluç:o religiosa, mas s:o inegáveis as suas implicações morais, sociais e políticas. N dimens:o
vertical do $ristianismo & referente ao plano das relações do omem com Deus & acresce uma outra dimens:o, a c/amada dimens:o /ori9ontal & que incide no plano das relações dos /omens uns com os outros.
8o que respeita < dimens:o vertical, o $ristianismo veio tra9er uma nova
concepç:o da divindade, unitária e transcendente, contraposta < noç:o plural e imanente dos deuses do paganismo= apresentou a ideia da incarnaç:o /umana de Deus claramente diferenciada da vis:o puramente celeste da divindade no 1udaísmo= e preconi9ou a sustituiç:o do dever de 1ustiça pelo
dever de caridade, assente num mandamento considerado t:o importante como o amor a Deus & o do amor ao próximo.
Dos principais aspectos inovadores do $ristianismo;
* 6m primeiro lugar, foi a noç:o de /umanidade como noç:o nova,
equivalente < gloalidade do género /umano. Podos os /omens s:o iguais, todos s:o 0l/os do mesmo Deus, nen/uma diferença de nature9a existe entre eles.
* 6m segundo lugar, e pela mesma ordem de ra9ões, o $ristianismo veio proclamar, com todas as suas forças, a nature9a inviolável da pessoa
e os direitos do /omem, a limitaç:o do poder político, a garantia do direito < vida, etc.
* 6m terceiro lugar, surge com os primeiros doutrinadores crist:os uma
concepç:o inteiramente nova do poder político & a partir de agora entenderse* á que todo o poder vem de Deus & quer quanto ao sentido do seu exercício & o poder passará a ser visto n:o como um direito próprio dos governantes ou como pura autoridade do 6stado sore os cidad:os, mas soretudo como
funç:o posta ao serviço do em comum, da qual resultam para o seu titular mais deveres do que direitos, e menos privilégios do que responsailidades. * "or 7ltimo, a criaç:o de uma Egre1a universal incumida de defender e
propagar a fé crist:, deu origem < prolemática das relações entre a Egre1a e o 6stado. $om o $ristianismo os aspectos do familiar, do moral e do religioso passam para a esfera de competCncia da Egre1a, 0cando para o 6stado apenas o político. J /omem medieval é sumetido a um dualismo de poderes e
1urisdições & a Deus o que é de Deus, a $ésar o que é de $ésar.
%anto Agostin4o
8asce em Pagaste, na 8umídia #8orte de Tfrica- e vive entre +)'*'+ #séc. E! e !-. A sua inspiraç:o mais forte foi sem d7vida a de "lat:o; muitos o
consideram, mesmo, um neo56latónico7
O 6ensamento 6ol1tico de %anto Agostin4o
8:o /averá um nexo de causalidade evidente entre a generali9aç:o do
$ristianismo e a decadCncia do poderio de Homa5 neste pano de fundo que Fanto Agostin/o se empen/a em redigir uma das suas maiores oras, a De $ivitate Dei ou $idade de Deus.
8esta ora, s:o tratados vários prolemas de relevo & a distinç:o entre as duas cidades, uma concepç:o particular sore a nature9a /umana, a noç:o de 6stado, a sociedade e o poder, a pa9, as funçoes da autoridade e, en0m, as relações entre a Egre1a e o 6stado.
As d+as Cidades
Fanto Agostin/o considera /aver duas $idades & a cidade celeste ou $ivitas Dei, comunidade dos /omens que vivem segundo o espírito e uscam a Mustiça= e a cidade terrena, ou $ivitas Diaoli, con1unto dos /omens que vivem segundo a carne a para satisfaç:o dos seus pra9eres. Sma é a cidade do em, outra a cidade do mal. Amas est:o em luta permanente, uma contra a
outra, e amas disputam a posse do mundo. A vida presente é uma luta, um comate quotidiano; só na vida futura /averá pa9 autCntica e duradoira.
Daí que o 6tado, em si mesmo, n:o possa ser considerado a priori como om ou mau; tudo vai dos que o governam. Fe o 6stado é governado por /omens que praticam o em e amam a Deus, é om e traal/a para a cidade celeste= se o governam aqueles que praticam o mal e ignoram ou /ostili9am Deus, é mau e concorre para a $idade Perrena.
Fó na $idade $eleste /á verdadeira pa9, verdadeira 1ustiça, verdadeiro em= na $idade Perrena, os /omens esforçam*se por alcançar a pa9 mas, como n:o /á pa9 sem Deus, contra apenas uma aparCncia de pa9= procuram alcançar a
1ustiça mas, como n:o /á 1ustiça sem Deus, encontram apenas uma aparCncia de 1ustiça= e tentam alcançar o em mas, como n:o /á em sem
Deus, encontram apaenas a aparCncia de em.
Conce68ão so9re a nat+rea 4+mana
Fanto Agostin/o apresenta*nos uma vis:o profundamente pessimista acerca da nature9a /umana.
$onsidera o ispo de ipona #ou Fanto Agostin/o- que os primeiros /omens #Ad:o e 6va- foram criados como seres ons, perfeitos, com todas as
qualidades e sem defeitos. Ras pela desoediCncia #pecado
original-afastaram*se de Deus e foram punidos para sempre; tornaram*se infeli9es e c/eios de defeitos; o omem transformou*se num pecador. As suas
características principais passaram a ser o egoísmo, a arrog>ncia, a vontade de dominar os outros e a tendCncia para procurar o em próprio com despre9o do em dos outros. J omem é, assim, um ser irreversivelmente marcado pelo pecado, é um pecador.
No8ão de $stado
Da conceç:o pessimista acerca do omem e da nature9a /umana, /á*de resultar como consequCncia lógica uma concepç:o repressiva do 6stado; se o omem é mau para o seu semel/ante, o 6stado deve servir essencialmente para prevenir e reprimir os erros, as in1ustiças, os crimes.
J 6stado & ao contrário do que defendi Aristóteles & n:o deve procurar #porque é impossível- tornar os /omens ons e virtuosos; apenas deve tentar fa9er
reinar uma certa pa9 e segurança exteriores nas relações sociais entre os /omens.
J 6stado é pois uma ordem exterior e coerciva #a pa9 e a segurança terrenas devem ser asseguradas através da coacç:o e puniç:o, através do sistema
1urídica, o Direito-, n:o tem a ver com o Vem e com a Mustiça, mas apenas com a pa9 e a segurança possíveis na $idade Perrena. A $idade de Deus é uma
ordem de amor= o 6stado, no interior da $idade Perrena, é uma ordem de coacç:o.
O de(er de o9edincia ao Poder 6ol1tico
Fanto Agostin/o entende que todo o poder vem de Deus e, por conseguinte, considera que o 6stado é um instrumento ordenado por Deus; é mesmo 2um dom de Deus aos /omens3. Daí resultam @ consequCncias;
A primeira é que o dever de oediCncia é asoluto; n:o /á limitações ao "oder dos governantes, n:o /á espaço para 1usti0caç:o da desoediCncia ou para quaisquer formas de resistCncia dos governados.
A segunda consiste em que os /omens n:o podem distinguir entre ons e maus governantes, entre formas de governo 1ustas e in1ustas #como fa9ia Aristóteles-; a todos se deve, por igual, oediCncia.
8uma palavra; o 6stado deve ser duro e repressivo= o cidad:o deve aceitar passivamente a autoridade do "oder. 6 n:o deve dar grande import>ncia < possível existCncia de maus governantes, ou de dirigentes tir>nicos. porque o que soretudo interessa é a vida eterna, e n:o é longo o tempo que se passa na vida terrena. J que interessa n:o é ser em governado, mas manter sempre a lierdade interior, que permite amar a Deus sore todas as coisas e preparar o ingresso futuro na $idade de Deus.
A 6a
A principal 0nalidade a prosseguir no uso do poder é, para Fanto Agostin/o, a preservaç:o da pa9. Fanto Agostin/o considera ent:o que 2a pa9 é o supremo em da $idade3 e que existe uma 2aspiraç:o universal em direcç:o < pa93.
As f+n8;es da a+toridade
Fanto Agostin/o analisa as + funçoes em que se desdora a autoridade;
imperare #comandar-, providere #prover- e consulare #aconsel/ar-. F:o estes os deveres do c/efe, que tradu9em + funções ou o^cia; o o^cium imperandi, o o^cium providendi, e o o^cium consulendi.
* J o^cium imperandi é o primeiro de todos; consiste na funç:o de comando e é o mais importante e o mais difícil dos deveres do c/efe. J poder n:o é uma propriedade pessoal, mas uma funç:o, um serviço.
* J o^cium providendi é a segunda das funções do governante; consiste em prever as necessidades do país e em prover < sua satisfaç:o.
* J o^cium consulendi fa9 ressaltar a posiç:o do c/efe como consel/eiro do seu povo. J governante deve n:o apenas comandar e prover, mas tamém aconsel/ar & e deve fa9C*lo com espírito fraterno.
A "gre<a e o $stado
Fanto Agostin/o tin/a ideias claras sore a matéria; os poderes eclesiástico e civil s:o distintos e independentes. $ada um move*se na sua esfera própria de 1urisdiç:o e actua por sua conta, só sendo responsável perante Deus. Poda e
qualquer ingerCncia de um nos domínios reservados do outro é inconveniente e perigosa.
Fanto Agostin/o manteve*se na posiç:o tradicional do $ristianismo primitivo. 6 especi0cava mesmo que a Egre1a, por amor da concórdia civil, deve aceitar o 6stado tal como ele é, com os erros e insu0ciCncias que inevitavelmente o
caracteri9am, oferecendo*l/e, na pessoa dos seus 0éis, cidad:os ons e virtuosos. A Egre1a devia ser, assim, uma verdadeira escola de civismo.
Ras /ouve dois factores que formariam o 2agostinianismo político3, ou a doutrina da supremacia da Egre1a sore o 6stado;
* J primeiro foi a doutrina de Fanto Agostin/o favorável < intervenç:o do 6stado contra as seitas /eréticas, na medida em que defender ser dever o 6stado punir com as suas leis os /ereger & funcionando assim na prática como 2raço secular3 da Egre1a, e aceitando as de0nições da verdade
religiosa dadas por esta *, n:o /á d7vida de que contriuiu poderosamente para acentuar a ideia de suordinaç:o do 6stado < Egre1a.
* J segundo factor foi a própria concepç:o da $idade de Deus, como algo de intrinsecamente superior < $idade Perrena. certo que nem aquela
correspondia < Egre1a, nem esta ao 6stado.
A necessidade de o 6stado se sumeter < religi:o e camin/ar para Deus,
como elemento da $idade $eleste, ia provocar o desvio de interpretaç:o que nela estava implícito. 8asceu assim o 1á referido 2agostinianismo político3.