• Nenhum resultado encontrado

OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS"

Copied!
109
0
0

Texto

(1)

LINGUAGEM, INTERAÇÃO E PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

ANA CLAUDIA BENNETT

OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS

PORTO ALEGRE 2016

(2)

OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras.

Orientadora: Profª. Drª. Márcia Zimmer

PORTO ALEGRE 2016

(3)

Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis

B471e

Bennett, Ana Claudia.

Os efeitos do bilinguismo na memória de trabalho de jovens adultos sul-brasileiros / Ana Claudia Bennett. – 2016.

109f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro Universitário Ritter dos Reis, Faculdade de Letras, Porto Alegre - RS, 2016.

Orientador: Profª. Drª Márcia Zimmer.

1. Letras. 2. Bilinguismo. 3. Psicolinguística. I. Título. II. Zimmer, Márcia.

(4)

OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO

DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS

Dissertação de Mestrado, apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Linguagem, Interação e Processos de Aprendizagem

Orientadora: Profª. Drª. Márcia Zimmer

____PROVADA

Conceito final: ...

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Profª. Drª. Ana Beatriz Arêas da Luz Fontes (UFRGS)

__________________________________________ Profª. Drª. Noeli Reck Maggi (Uniritter)

__________________________________________ Profa. Dra. Márcia Cristina Zimmer (Orientadora – Uniritter)

(5)

Em primeiro lugar, o meu agradecimento especial a Deus pela vida e por permitir que eu alcançasse mais esta conquista.

Ao meu marido Scott G. Bennett, à minha mãe Neida Noeli Malmann Gomes e à minha irmã Liane Gomes da Rosa Zacouteguy pelos conselhos e apoio.

Aos demais familiares, pela confiança.

Aos meus queridos colegas de trabalho (da Biblioteca de Psicologia da UFRGS) e à minha chefe, pela compreensão, paciência e apoio;

À UFRGS (EDUFRGS) pela bolsa de Mestrado e pela licença para capacitação que possibilitaram a realização do curso e o término da presente dissertação;

Aos professores do curso de mestrado do Centro Universitário Ritter dos Reis, pelos exemplos e ensinamentos, especialmente à prof. Noeli Reck Maggi e à Prof. Valéria Brisolara;

Ao pastor Waldemar Garcia Jr. pelas orações e pelos conselhos nos momentos mais difíceis;

Aos participantes desta pesquisa, pela colaboração fundamental para a dissertação. Aos meus queridos colegas de aula, pelo incentivo.

À Profa. Dra. Márcia Zimmer, minha orientadora, e às Prof. Dras. Profª. Drª. Ana Beatriz Arêas da Luz Fontes (UFRGS) e Profª. Drª. Noeli Reck Maggi, membros da banca de qualificação e defesa desta dissertação, pela orientação.

Ao Alexandre Verfe, ao Silvio Gusmão e ao Daniel Sganzerla pela ajuda com o programa SPSS, usado na análise dos dados.

À Brenda Pierobon pela ajuda na coleta de dados.

A todos aqueles amigos que me ajudaram, de uma forma ou de outra, muito obrigada.

(6)

RESUMO

Pesquisas apontam que o bilinguismo é uma experiência que exerce efeitos benéficos sobre as funções executivas. O presente estudo tem como objetivo colaborar com as pesquisas dessa área da psicolinguística, replicando um estudo americano (BAKER, 2013) que investiga os efeitos do bilinguismo na memória de trabalho de jovens adultos. Os participantes da presente pesquisa são quarenta e seis adultos brasileiros, universitários ou que já terminaram o curso de graduação, entre dezoito e trinta e cinco anos, sendo vinte e três deles monolíngues, falantes de português brasileiro e vinte e três bilíngues, falantes de português brasileiro e inglês. Foram aplicados os testes NBD e WFC1 para medir a memória de trabalho e o teste WFC2 para testar a memória de longa duração. Também foi aplicado o PNT (Picture

Naming Task) para verificar o nível de proficiência na língua inglesa. Os testes NBD e WFC utilizam vinte palavras abstratas, sendo dez cognatas para verificar se (e de que forma) a experiência bilíngue influencia a memória de trabalho. Diversos estudos canadenses sobre os efeitos do bilinguismo no desenvolvimento cognitivo, como os desenvolvidos por Ellen Bialystok e seus colaboradores (BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2008; BIALYSTOK, 2009; BIALYSTOK, BARAC, 2012, entre outros), e estudos americanos (BAKER, 2013; MACNAMARA, CONWAY, 2014) evidenciaram vantagens dos bilíngues em relação aos monolíngues. Contudo, mais recentemente, uma série de outros estudos (BIALYSTOK, 2008; LIMBERGER, BUCHWEITZ, 2012; PAAP, GREENBERG, 2013; PAAP et al. 2014) vem contestando a chamada vantagem bilíngue. Foi encontrada uma diferença estatisticamente significativa somente em um dos testes, o WFC2. Os resultados aqui encontrados estão em consonância com os achados do estudo replicado e colaboram para o debate sobre a existência ou não da vantagem bilíngue.

(7)

Bilingualism is an experience that seems to have beneficial effects on the executive functions. This thesis aims at collaborating with other studies in this area of psycholinguistics, replicating an American thesis (BAKER, 2013) which investigates the effects of bilingualism on young adults’ working memory. The research participants are 46 Brazilian adults (college students or people who have already finished their undergraduate course), between 18 and 35 years old, 23 monolinguals (Brazilian Portuguese speakers) and 23 bilinguals (English and Portuguese speakers). In this study, the following tests were applied: NBD (Naming by

Definition), WFC (Word Fragment Completion) and PNT (Picture Naming Task). The

two tests, NBD and WFC, use 20 abstract words (10 cognate words) to check whether (and how) the bilingual experience influences working memory. Several Canadian studies on bilingualism and cognitive development, as Ellen Bialystok and colleagues’ (BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2008; BIALYSTOK, 2009; BIALYSTOK and BARAC, 2012, among others), American ones (BAKER, 2013; MACNAMARA, CONWAY, 2014) and other nationalities have evidenced a bilingual advantage. However, most recently a series of studies (BIALYSTOK, 2008; LIMBERGER, BUCHWEITZ, 2012; PAAP, GREENBERG, 2013; PAAP et al. 2014) have been contesting the so-called bilingual advantage. In this study, a statistically significant difference was found in only one of the tests, namely, WFC2. The results reported here are in consonance with the findings of the study replicated (BAKER, 2013), and they collaborate in the debate about the possible existence of a bilingual advantage.

Keywords: Bilingualism. Working memory. Brazilian young adults

(8)

Quadro 1 - Vantagens e desvantagens cognitivas de bi/multilíngues Quadro 2 - Exemplos de palavras e definições utilizadas no teste NBD Quadro 3 - Exemplos de palavras usadas no teste WFC

(9)

Gráfico 1 -Distribuição dos participantes por sexo Grafico 2 - Atividade profissional dos participantes Gráfico 3 – Local de conversação de inglês

Gráfico 4 – Pessoas com quem os participantes bilíngues falam inglês

gráfico 5 – Porcentagem diária de pensamento em inglês e português

(10)

Tabela 1 – Média de idade dos grupos Tabela 2 – Escolaridade dos participantes Tabela 3 – Tempo de Estudo Pós Ensino Médio Tabela 4 – Instituição educacional

Tabela 5 – País em que aprenderam inglês

Tabela 6 –Como os participantes bilíngues aprenderam inglês

Tabela 7 – Idade em que os participantes bilíngues iniciaram o aprendizado de inglês

Tabela 8 – Tipos de textos escritos pelos participantes em inglês Tabela 9 – Leitura de textos em inglês

Tabela 10 –Autoavaliação das quatro habilidades Tabela 11 – Horas diárias de conversação em inglês Tabela 12 – Autoavaliação do sotaque em inglês

Tabela 13 – Comparação do nível de bilinguismo com o PNT Tabela 14 – Comparação das habilidades com o PNT

Tabela 15 – Escores dos grupos na tarefa NBD

Tabela 16 – Desempenho dos participantes monolíngues e bilíngues na tarefa WFC Tabela 17 - Correlação linear de Pearson

Tabela 18 - Correlação linear entre WFC 1 e WFC 2

Tabela 19 – Comparação entre palavras cognatas e não cognatas (grupo dos bilíngues)

(11)

CI – Controle inibitório

CLPT- Competing Language Processing Task FEs – Funções executivas

FMT – Frogs Matrices Task IB – Idosos Bilíngues

IM – Idosos Monolíngues JB – Jovens Bilíngues JM – Jovens Monolíngues L1 – Língua materna

L2 - Língua adicional ou estrangeira MCD – Memória de Curta Duração MLD – Memória de Longa Duração MT – Memória de trabalho

NBD – Naming By Definition PB – Português Brasileiro PNT – Picture Naming Task QI – Quociente de Inteligência

SPSS - Statistical Package for Social Sciences TR – Tempo de Reação

WFC1- Word Fragment Completion – primeira etapa

WFC2 – Word Fragment Completion – segunda etapa (realizada 5 dias após a primeira etapa)

(12)

1 INTRODUÇÃO– MODIFIQUEI A ORDEM E ALGUMAS INFORMAÇÕES EM

ALGUNS PARÁGRAFOS:... 13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 18

2.1 BILINGUISMO– MODIFIQUEI A ORDEM DE ALGUNS PARÁGRAFOS: ... 18

2.2 FUNÇÕES EXECUTIVAS E VANTAGEM BILÍNGUE ... 23

2.3 MEMÓRIA DE TRABALHO E VANTAGEM BILÍNGUE – TAMBÉM MUDEI PARÁGRAFOS DE LUGAR ... 27

2.4 ESTUDOS EMPÍRICOS ... 35

2.4.1 Estudos empíricos sobre bilinguismo e memória de trabalho ... 35

2.4.2 Estudos sobre bilinguismo e efeito cognato. ... 45

3 METODOLOGIA ... 48 3.1 OBJETIVOS ... 48 3.1.1 Objetivo geral ... 48 3.1.2 Objetivos específicos ... 48 3.2 HIPÓTESES ... 49 3.3 OS INFORMANTES ... 50 3.3.1 Critérios de inclusão ... 50 3.3.2 Critérios de exclusão ... 51

3.4 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados ... 51

3.4.1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO ... 51

3.4.2 Questionário de sondagem e autoavaliação linguística ... 52

3.4.3 Os testes usados no estudo ... 52

3.4.3.1 NBD - NAMING BY DEFINITION ... 53

3.4.3.2 WFC - WORD-FRAGMENT COMPLETION ... 54

3.4.3.3 PNT- PICTURE NAMING TASK ... 55

3.5 PROCEDIMENTOS ... 55

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: ... 58

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES ... 58

4.2 RESULTADOS RELATIVOS À PRIMEIRA HIPÓTESE: ... 69

4.2.1 Descrição ... 69

4.2.2 Discussão ... 71

(13)

4.4 RESULTADOS RELATIVOS À TERCEIRA HIPÓTESE ... 78

4.4.1 Descrição ... 78

4.4.2 Discussão ... 80

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 83

5.1 RESULTADOS OBTIDOS NA DISCUSSÃO DOS OBJETIVOS DA PESQUISA 83 5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ... 85

REFERÊNCIAS ... 89

ANEXOS ... 100

ANEXO 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 100

ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO DE SONDAGEM ... 102

ANEXO 3 - PALAVRAS USADAS NOS TESTES NBD E NA PRIMEIRA E SEGUNDA ETAPA DO TESTE WFC ... 105

(14)

1 INTRODUÇÃO

Atualmente sou professora de inglês e como sempre busco meu aperfeiçoamento profissional, decidi cursar o mestrado em Letras. O meu interesse pela aprendizagem e pelo ensino de inglês, além da minha experiência como bilíngue, levaram-me a escolher os temas deste trabalho: bilinguismo e memória de trabalho1.

Há muito tempo o bilinguismo tem atraído a atenção de teóricos e profissionais de diferentes áreas (BHATIA; RITCHIE, 2013), como a linguística aplicada (FINGER et al., 2011; MARTIN, ELLIS, 2012, a psicolinguística (JAY, 2003; HARLEY, 2008; BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2007; BIALYSTOK et al., 2008; MARTIN-RHEE; BIALYSTOK, 2008), a neurolinguística (ABUTALEBI; GREEN, 2007; BIALYSTOK, 2005 e HALSBAND, 2006) e a fonoaudiologia (ABUTALEBI et al., 2009; MICHAEL, GOLLAN, 2005), entre outros.

De acordo com King (2007) e Maher (2007), há uma relação positiva entre o bilinguismo, o funcionamento cognitivo e a competência comunicativa. O aumento do pensamento divergente/criativo, a maior predisposição ao pensamento abstrato e a maior sensibilidade para o contexto de comunicação são apenas algumas das vantagens. Kroll e Bialystok (2013) acrescentam que o bilinguismo apresenta benefícios para o funcionamento do cérebro, como a plasticidade e a flexibilidade cerebrais e habilidades linguísticas, como a consciência metalinguística.

Outras vantagens também podem ser citadas: Os bilíngues também apresentam maior densidade de massa encefálica no lado esquerdo do córtex parietal. Essa diferença é maior nos bilíngues precoces (que aprenderam a se comunicar em duas línguas desde a infância) e naqueles com uma proficiência maior na segunda língua (MECHELLI et al., 2004).

1Segundo Baddeley e colaboradores (2011), a memória de trabalho é o sistema que armazena e

manipula informação de forma temporária, permitindo que as pessoas executem atividades complexas como o raciocínio, o aprendizado e a compreensão.

(15)

Além das vantagens cognitivas e fisiológicas, o bilinguismo também apresenta vantagens sociais. As pessoas bilíngues, por exemplo, tendem a ser mais abertas para se relacionarem com pessoas de outras culturas e grupos e para aceitar diferenças, o que também contribui para um melhor relacionamento interpessoal na escola e no trabalho.

Apesar das diversas vantagens relacionadas ao bilinguismo citadas acima e de muitas outras, ainda existe certo preconceito e alguns mitos. Como preconceitos, podemos citar o fato de que alguns pais, até mesmo com bom nível cultural, ainda hesitam em matricular seus filhos em cursos de idiomas, com receio de que eles fiquem confusos com o aprendizado de duas línguas, ou seja, que a aprendizagem de uma língua adicional possa prejudicar a aprendizagem da primeira língua ou língua materna (BIALYSTOK et al, 2012). Em relação aos mitos, há na literatura inicial sobre bilinguismo estudos que mencionavam que os bilíngues apresentaram QI mais baixo do que monolíngues (SAER, 1922).

Até os anos 1920, as pesquisas apresentavam desvantagens da população bilíngue em relação à monolíngue, principalmente devido a problemas metodológicos das pesquisas da época. Entretanto, a partir dos anos 1960, mais precisamente tendo o estudo de Peal e Lambert (1962) como um marco para o desenvolvimento das pesquisas sobre o bilinguismo, os estudos começaram a ter problemas metodológicos solucionados, como o controle de variáveis, como o nível socioeconômico dos participantes, e os resultados começaram a apresentar uma vantagem bilíngue.

Tal vantagem, de acordo com Rodrigues e colaboradores (2015), consiste em uma hipótese de que o bilinguismo reforçaria um conjunto específico de habilidades intelectuais chamado de funções executivas2 (FEs), demonstrada em inúmeras

pesquisas, como as que envolvem o estudo da consciência metalinguística, do controle inibitório, da melhora da memória de trabalho, etc. (CODERRE et al., 2012; BIALYSTOK, BARAC, 2012; BIALYSTOK et al. 2008; COSTA et al., 2008;

2Funções executivas são habilidades cognitivas envolvidas no planejamento, iniciação, seguimento e

monitoramento de comportamentos complexos dirigidos a um fim. Há inúmeras FEs como: atenção, concentração, seletividade de estímulos, capacidade de abstração, planejamento, flexibilidade, controle mental, autocontrole e memória operacional ou de trabalho (HAMDAN, BUENO, 2005).

(16)

BIALYSTOK, 2006; BIALYSTOK et al., 2004). Em outras palavras, o bilinguismo é uma experiência que parece exercer efeitos benéficos sobre as funções executivas.

Um dos aspectos de interesse recente das pesquisas sobre a chamada vantagem bilíngue é a memória de trabalho. Ela também é um assunto relevante para a linguística aplicada, pois o seu papel é fundamental para qualquer aprendizagem e, em especial, para a aprendizagem de línguas estrangeiras (MARTIN, 2012).

Segundo Bialystok (2008), é evidente que experiências desafiadoras têm um efeito poderoso no desempenho cognitivo e na organização e estrutura cerebral. Desse modo, um dos objetivos do presente trabalho é contribuir com as pesquisas que buscam elucidar se o bilinguismo consiste em uma experiência que contribui com resultados benéficos sobre as funções executivas, em particular sobre a memória de trabalho de adultos jovens.

A memória de trabalho (doravante MT), apesar de ser considerada uma função executiva (BARKLEY, 2012) que contribui na execução de atividades cognitivas complexas, como a compreensão e o raciocínio (BADDELEY, 1992), ainda carece de estudos no Brasil (PINTO, 2009). Além disso, até mesmo os estudos internacionais ainda apresentam resultados divergentes e inconclusivos. Assim, não há uma evidência clara de que os bilíngues possuam uma memória de trabalho melhor do que os monolíngues (MORALES et al., 2013, p. 5).

A vantagem bilíngue, portanto, continua sendo um construto bastante questionado, principalmente por um grupo de pesquisadores (PAAP et al. 2014, PAAP; GREENBERG, 2013, BIALYSTOK, 2008, LIMBERGER; BUCHWEITZ, 2012), que afirmam não haver um consenso sobre a evidência de uma vantagem bilíngue entre os estudos realizados até o momento.

Entender tanto o papel da memória de trabalho junto às funções executivas quanto o efeito que o bilinguismo exerce no seu desenvolvimento é extremamente relevante porque a MT é fundamental para diversas habilidades cognitivas, especialmente aquelas envolvendo interferência, conflito ou distração (KANE et al.,

(17)

2007). A compreensão de uma língua e a aprendizagem de uma segunda língua, por exemplo, dependem muito da MT (MARTIN, 2012; WEN, 2012; CONWAY, 2008). Mais estudos verificando o potencial benefício da MT, comparando o desempenho de bilíngues e monolíngues em populações adultas contribuiriam muito para com a literatura sobre o bilinguismo, a memória e o entendimento de seu funcionamento.

Justifica-se, assim, o presente estudo sobre os efeitos do bilinguismo na memória de trabalho em adultos jovens, por ainda não existir um consenso sobre os reais efeitos que o bilinguismo desempenha sobre as funções executivas e sobre a memória de trabalho. Este é um dos motivos que me fizeram decidir sobre o tema: trazer contribuições para as pesquisas que buscam esclarecimentos em relação às possíveis vantagens ou desvantagens do bilinguismo. Mais especificamente, esta pesquisa tem por tema o efeito do bilinguismo na memória de trabalho de jovens adultos sul brasileiros.

Dessa forma, o presente estudo pretende responder principalmente à questão: O bilinguismo pode, de fato, incrementar a memória de trabalho de adultos jovens sul-brasileiros? Para isso, optou-se por replicar o estudo americano de Baker (2013), intitulado Effects of bilingualism on working memory ability. A autora americana utilizou, em seu estudo, o inglês como língua materna e o espanhol como língua estrangeira. No presente estudo, a língua materna será o português brasileiro e a língua estrangeira será o inglês.

Após ter sido exposto o tema, as motivações e as justificativas para o presente estudo, passa-se para a descrição de sua organização. No capítulo dois, encontra-se a revisão de literatura, que se subdivide em quatro seções. A seção 2.1, intitulada Bilinguismo, traz definições dos termos bilíngue e bilinguismo, além de apresentar os tipos de bilinguismo; a seção 2.2 trata da definição de Funções Executivas (FEs) e das explicações sobre o funcionamento das principais FEs, assim como a sua relação com a vantagem bilíngue; a seção 2.3 discute conceitos a respeito da memória de trabalho; e finalmente, a seção 2.4 aponta alguns estudos empíricos sobre bilinguismo, memória de trabalho e efeito cognato.

(18)

No terceiro capítulo, são apresentados o objetivo principal e os objetivos específicos; as hipóteses decorrentes dos objetivos a que esta investigação se propõe; o perfil dos participantes e o contexto da pesquisa; os procedimentos utilizados para a efetivação da investigação, assim como a amostragem, a definição e a aplicação dos instrumentos.

No capítulo quatro, os resultados da pesquisa são apresentados e discutidos. Por fim, no capítulo cinco, são apresentadas as conclusões do trabalho, bem como as contribuições e as limitações da presente dissertação de mestrado.

(19)

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, são apresentados os pressupostos teóricos que nortearam o presente estudo. O capítulo inicia com uma seção que trata sobre alguns conceitos básicos sobre o bilinguismo. Logo depois, discorre-se sobre as funções executivas e a vantagem bilíngue. A seção seguinte é dedicada à memória de trabalho. Por fim, são descritos alguns estudos empíricos sobre bilinguismo, memória de trabalho e efeito cognato reportados na literatura.

2.1 BILINGUISMO

O estudo do bilinguismo tem ocupado, cada vez mais, um importante lugar nos debates sociais, políticos, culturais, linguísticos e psicológicos que definem as comunidades e regiões sociais e étnicas, pois o bilinguismo não pode ser separado do contexto social e político em que a aprendizagem acontece (DORIA, 2010; JAY, 2003).

A existência do bilinguismo explica-se principalmente pela necessidade que o homem teve, desde muito tempo atrás, de viajar com fins comerciais, religiosos, políticos e culturais. A interação entre diferentes grupos linguísticos se intensificou nos últimos anos com as mudanças políticas e econômicas em muitos países, assim como com as rápidas inovações na área da tecnologia da informação, como é o caso da internet, das redes sociais e de sites como o Skype. Muitos outros motivos também podem ser citados, como a imigração e o casamento entre pessoas de países diferentes (JAVIER, 2007).

Metade da população mundial, ou até mais, é bilíngue. Pode-se constatar que existem bilíngues de todas as idades, em todas as classes sociais e na grande maioria dos países, pois existem 30 vezes mais línguas do que países. Alguns países possuem mais de 400 línguas, como no caso da Índia, por exemplo, e na Nigéria existem em torno de 500 línguas (GROSJEAN, 2013).

(20)

Nos Estados Unidos e no Canadá, aproximadamente 20% da população fala uma língua estrangeira em casa. Esse número é ainda maior em áreas urbanas, chegando a 60% em Los Angeles e a 50% em Toronto. Na Europa, os números são semelhantes: em uma pesquisa recente, 56% de toda a população da união europeia declarou ser bilíngue funcional e alguns países alcançaram médias ainda mais altas, como é o caso de Luxemburgo, que obteve 99% (BIALYSTOK et al., 2012).

No Brasil, são faladas em torno de 200 idiomas. As línguas autóctones, faladas pelos indígenas são 170, e as línguas alóctones, faladas pelas comunidades de descendentes de imigrantes como de alemães, italianos, poloneses, ucranianos e japoneses, por exemplo, somam um total de 30 línguas. Portanto, o Brasil está entre os 94% de países do mundo em que são faladas mais de uma língua (OLIVEIRA, 2009; CAVALCANTI, 1999).

Mas, afinal, o que é bilinguismo e/ou o que é ser bilíngue? O novo dicionário Aurélio da língua portuguesa apresenta a seguinte definição para bilíngue: “Bilíngue. [Do lat. Bilíngue. ] Adj. 2 g. 1. E. Ling. Diz-se de indivíduo, ou comunidade, que faz uso regular de duas línguas”. O referido dicionário define bilinguismo como “[De bilíngue + -ismo.] s.m. E. Ling. Utilização regular de duas línguas por indivíduo, ou comunidade, como resultado de contato linguístico. [Cf. multilinguismo.]”

No entanto, não há uma unanimidade entre os teóricos e pesquisadores sobre uma definição operacional, tanto de bilíngue quanto de bilinguismo. Romaine (1995) e muitos outros autores, como Chin e Wigglesworth (2007), citam inúmeras definições para os termos bilíngue e bilinguismo, que vão desde a de Bloomfield (1933), que considerava que para ser bilíngue o indivíduo teria que dominar as duas línguas como um falante nativo, até a definição de Haugen (1953), Mackey (2000) e Weinreich (1968), que consideravam como bilíngue a pessoa que pudesse usar duas línguas alternadamente.

Antigamente, considerava-se bilíngue apenas quem falasse duas ou mais línguas “perfeitamente”, isto é, até mesmo sem sotaque na língua adicional, de acordo com alguns estudiosos, como Saer, (1922). Atualmente, a maior parte dos

(21)

pesquisadores define o bilinguismo ou o multilinguismo como o uso de duas ou mais línguas (ou dialetos) no dia-a-dia, pois sabe-se que os bilíngues não são dois monolíngues em uma pessoa, e sim falantes usando duas línguas em situações diferentes e com propósitos diferentes (FABBRO, 2008).

Segundo Zimmer e colaboradores:

é praticamente impossível atingir-se uma proficiência total em duas ou mais línguas, considerando-se as quatro habilidades linguísticas (fala, escrita, compreensão auditiva e leitora) e cada um dos subcomponentes linguísticos de cada língua (morfologia, sintaxe, semântica, pragmática, discurso e fonologia) (ZIMMER et al., 2008).

As autoras também defendem que o nível de proficiência dos bilíngues em cada um dos domínios de habilidade, como a da fala e da escrita em ambas as línguas, por exemplo, assim como a forma em que eles usam esses sistemas linguísticos separadamente ou como alternam entre um e outro sistema são influenciados por fatores como “o tópico de discussão, a relação de intimidade entre interlocutores, o nível de formalidade do ambiente, as condições psicológicas e físicas dos indivíduos” (ZIMMER et al., 2008, p. 5).

Além de ser possível encontrar dezenas de definições na literatura, também encontram-se muitas subdivisões e tipos de bilinguismo, conforme a idade de aprendizagem, o domínio da língua adicional, entre outras condições. Serrani-Infante (1998), por exemplo, apresenta uma classificação para os bilíngues que depende de como se deu a aquisição da língua adicional:

· Bilinguismo precoce: ambas as línguas materna e adicional são aprendidas simultaneamente na primeira infância;

· Bilinguismo tardio: refere-se ao bilíngue que aprendeu a língua adicional depois da língua materna;

· Bilinguismo residual ou regressivo: quando conservam-se somente algumas competências reduzidas;

· Bilinguismo equilibrado: quando os níveis de competência são relativamente equilibrados;

(22)

· Bilinguismo ativo: as competências de compreensão e expressão são efetivas em ambas as línguas;

· Bilinguismo passivo: uma das línguas só é dominada no nível da compreensão;

· Bilinguismo técnico: quando é limitado apenas a usos especializados; · Bilinguismo substrativo: o contexto desvaloriza a língua materna.

Baker (2011) afirma que o bilinguismo e o multilinguismo podem ser analisados de acordo com as dimensões que interagem entre si, a saber:

1) Habilidade: alguns bilíngues possuem uma competência produtiva, isto é, são capazes de falar e escrever em ambas as línguas, ao passo que outros são mais passivos, tem uma habilidade receptiva, apenas compreendem textos escritos e orais.

2) Uso: os bilíngues geralmente usam as suas línguas para diferentes propósitos. Um mesmo falante pode usar a sua língua materna apenas em casa e no trabalho e na escola ele pode usar somente a sua segunda língua e vice-versa.

3) Equilíbrio das duas línguas: muito raramente, a habilidade e uso da língua materna e da segunda língua dos bilíngues é a mesma. Muito frequentemente, uma língua é dominante.

4) Idade: considera-se um bilinguismo simultâneo quando uma criança apreende a língua materna e a segunda língua ao mesmo tempo (desde o nascimento). Se a criança aprende a segunda língua após os três anos de idade, tem-se o bilinguismo sequencial ou consecutivo.

5) Desenvolvimento: existem bilíngues que apresentam uma diferença bem grande no desenvolvimento das suas línguas. Enquanto a língua materna está bem desenvolvida, a segunda língua está nos estágios iniciais de desenvolvimento e podem ser chamados de bilíngues incipientes.

6) Cultura: um bilíngue pode aprender bem uma segunda língua e tornar-se bicultural quando conhece, tem empatia e se comporta de forma adequada em relação à cultura da sua segunda língua. Por outro lado, pode apenas conhecer a segunda língua, sem interesse pela cultura dessa língua.

7) Contextos: alguns bilíngues fazem parte de comunidades bilíngues endógenas que usam uma ou duas línguas no seu dia-a-dia, enquanto outros somente usam a sua segunda língua quando viajam, então o contexto é exógeno.

(23)

8) Bilinguismo eletivo: quando o bilíngue escolhe estudar a segunda língua, como os que estudam em cursos particulares.

No início das pesquisas sobre o bilinguismo, até aproximadamente a década de 1960, foram encontrados mais resultados negativos do que positivos na comparação entre sujeitos bilíngues e monolíngues. Ao testar 1400 crianças no país de Gales, Saer (1922) reportou um resultado significativamente inferior apresentado pelas crianças bilíngues moradoras de comunidades rurais comparadas com as monolíngues também moradoras de localidades rurais. A explicação de Saer para o resultado negativo dos bilíngues em comparação com os monolíngues de seu estudo foi a “confusão mental” apresentada pelas crianças bilíngues, participantes da pesquisa. Entretanto, quando apenas crianças bilíngues e monolíngues moradoras de localidades urbanas foram comparadas, o pesquisador não encontrou diferenças estatisticamente significativas. Deve-se ressaltar que não houve um controle sobre o nível socioeconômico dos participantes nessa pesquisa. Hakuta (1986) salienta que as crianças bilíngues participantes da amostra foram testadas na língua que estavam recém começando a aprender.

Porém, em 1962, com o estudo de Peal e Lambert, a história dos estudos sobre o bilinguismo começa a mudar. Os autores desenvolveram uma pesquisa com crianças morando em Montreal, divididas em dois grupos: monolíngues, falantes de francês e bilíngues, falantes de inglês e francês. A hipótese era de que os bilíngues tivessem escores inferiores aos dos monolíngues nos testes linguísticos e escores equivalentes em testes espaciais não linguísticos. Contudo, os participantes bilíngues obtiveram escores superiores em quase todos os testes, principalmente aqueles que demandavam a manipulação e reorganização de símbolos (BIALYSTOK et al., 2012).

Mais recentemente, um crescente número de estudos (BIALYSTOK, VISWANATHAN, 2009; BIALYSTOK et al, 2008; LUK, 2011; OSSHER et al, 2013) vem relatando uma vantagem bilíngue. Existem também, diversos estudiosos que reportam, como visto anteriormente na introdução, um número considerável de pesquisas que apresentam resultados negativos ou que não apresentam diferenças significativas entre os participantes monolíngues e bilíngues (PAAP et al. 2014,

(24)

PAAP; GREENBERG, 2013, BIALYSTOK, 2008, LIMBERGER; BUCHWEITZ, 2012). Portanto, ainda não há um consenso mostrando apenas resultados positivos em relação à experiência bilíngue.

Nesta seção procurou-se trazer os motivos para a existência do bilinguismo, além de definições apresentadas na literatura, tipos de bilinguismo e alguns outros dados sobre o bilinguismo no Brasil e no mundo. Na seção a seguir, discorre-se sobre as funções executivas, que exercem um papel fundamental quando se estabelece uma relação entre o bilinguismo e vantagens cognitivas.

2.2 FUNÇÕES EXECUTIVAS E VANTAGEM BILÍNGUE

Barkley (2012) afirma que existem inúmeras definições para o termo funções executivas (FEs), e não há um consenso na literatura sobre a sua definição. O autor apresenta definições de vários pesquisadores, sendo que algumas possuem características semelhantes, como a noção de que as funções executivas estão ligadas à resolução de problemas, ao planejamento, à seleção de objetivos, à memória e à tomada de decisão, entre outros. Uma das definições apresentadas por ele é a de Gioia et al. (2000, p. 1), na qual as funções executivas são vistas como um conjunto de processos responsáveis por guiar e organizar funções cognitivas, emocionais e comportamentais, principalmente durante a resolução de problemas.

Hamdan e Bueno definem as funções executivas (FEs) como

habilidades cognitivas envolvidas no planejamento, iniciação, seguimento e monitoramento de comportamentos complexos dirigidos a um fim. Na avaliação neuropsicológica, o termo FE é utilizado para designar uma ampla variedade de funções cognitivas que implicam: atenção, concentração, seletividade de estímulos, capacidade de abstração, planejamento, flexibilidade, controle mental, autocontrole e memória operacional

(HAMDAN, BUENO, 2005).

Existe uma divergência quanto à localização das FEs, mas a maior parte dos estudos, marcados por uma visão localizacionista da cognição, indica que elas estão situadas no córtex pré-frontal (BARKLEY, 2012; DIAMOND, 2006). Todavia, visões mais dinâmicas e distribuídas das funções cognitivas humanas (ABUTALEBI; GREEN, 2007) apontam que as FEs fazem parte de uma rede que

(25)

conecta o córtex frontal, o córtex cingulado anterior, os gânglios basais e o córtex parietal inferior.

Também há certa controvérsia em relação aos seus componentes. Entretanto, podem-se enumerar os mais citados na literatura, como o controle executivo, que consiste em um sistema ou mecanismo responsável pela coordenação dos vários processos implicados na realização das FEs (HAMDAN; BUENO, 2005); o controle inibitório, que é um componente que suprime as interferências externas ou internas que podem atuar como distratores (KLUWE-SCHIAVON; VIOLA; GRASSI-OLIVEIRA, 2012); a atenção seletiva, que define os processos que permitem a seleção de informações relevantes e seu processamento cognitivo (DALGALARRANDO, 2008); a flexibilidade cognitiva, responsável por mudar as nossas perspectivas e abordagens para nos ajustarmos a novas prioridades, exigências ou para resolver problemas, entre outros (DIAMOND, 2012) e a memória de trabalho (MT), que é um sistema que armazena as informações somente enquanto uma determinada tarefa está sendo realizada (MOURÃO JUNIOR; MELO, 2011), na qual o nosso trabalho focará.

De acordo com Morales et al. (2013) e Bialystok (2009), atualmente reconhece-se que experiências cognitivas complexas como o code-switching, que é uma situação vivida pelo bilíngue, na qual ele pode mudar de uma língua para a outra completamente em uma frase, vêm evidenciando um melhor desempenho cognitivo, pois modificam o desenvolvimento cerebral e, consequentemente, as funções cognitivas. O falante pode alternar a língua no discurso sem ter consciência sobre as trocas que fez durante a conversação. Outros fatores também podem fazer com que o falante tenha esse comportamento, como, por motivos sociais ao escolher adotar a língua de uma minoria como modo de expressar solidariedade com o grupo social. Por outro lado, o codeswitching pode acontecer como forma de excluir outras pessoas que não pertencem ao grupo utilizando uma língua que aquelas pessoas não entendem (CRYSTAL, 1997).

O bilinguismo requer um constante envolvimento do sistema de controle executivo para administrar a atenção para a língua alvo; então, credita-se a essa

(26)

experiência uma melhora no funcionamento do controle executivo, deixando-o mais preparado também para executar outras tarefas.

É importante destacar que, segundo Abutalebi e Green (2007), o processo do

code-switching é ensejado pelas funções executivas distribuídas nas diferentes

partes do cérebro, o que configura um processo dinâmico envolvendo estruturas corticais e subcorticais, que usam a inibição para resolver a competição lexical e selecionar a língua-alvo. Os autores, então, defendem a ideia de que há uma única rede mediando a representação e o controle da L1 e da L2, conforme pode ser observado na figura 1.

Figura 1 - Áreas envolvidas no processo de controle

Fonte: ABUTALEBI, J; GREEN, D, 2007

Rodrigues e colegas (2015) sugerem que uma função executiva pode ter influência sobre o funcionamento de outra. Sem o adequado funcionamento do controle inibitório, por exemplo, “a memória de trabalho se ocupa com informações

(27)

irrelevantes e há a diminuição da eficiência do processamento cognitivo” (RODRIGUES et al., 2015, p. 114).

Bialystok e colaboradores (2012) acrescentam que a vantagem bilíngue não se reduz somente a uma função executiva. Ao contrário, a experiência constante de gerenciar duas línguas modifica a maneira como o cérebro e a mente dos bilíngues age em qualquer conversa, pois além de monitorar o contexto, o interlocutor e outros aspectos de uma conversação, os bilíngues precisam inibir a atenção à língua que não está em uso, mas que continua ativa. Os bilíngues mostram uma ativação das duas línguas e uma interação entre elas, mesmo em contextos onde apenas uma das línguas é usada (BIALYSTOK, 2011, p. 241).

Um exemplo dessa interação ou interatividade é o efeito cognato, observado em pesquisas descritas na literatura (PREUSS et al., 2015;COSTA et al, 2000; HERMANS et al., 1998), que ocorre por as palavras cognatas usadas nos testes possuírem a mesma origem etimológica (MORRIS, 1981) e semelhança na forma escrita da palavra, em outras palavras, quando há uma semelhança fonológica e ortográfica entre a L1 e a L2, como por exemplo, a palavra irmão em inglês - brother - e em alemão - Bruder (KROLL; De GROOT, 2009). Devido à semelhança de forma e significado entre as línguas, as palavras cognatas são processadas de forma diferente das outras palavras. Em algumas tarefas, as palavras são processadas mais rapidamente, o que é chamado de efeito cognato ou efeito de facilitação (YAN, 2014), como é o caso, por exemplo, de uma tarefa onde os bilíngues têm de traduzir palavras cognatas e não cognatas oralmente, sendo a tradução de cognatas mais rápida do que a de não cognatas (SANCHEZ-CASAS et al., 1992).

Uma outra vantagem ligada ao bilinguismo é apresentada por alguns estudos (KROLL; BIALYSTOK, 2013; BIALYSTOK et al., 2009; BIALYSTOK, 2004) que investigam o controle executivo. Eles sugerem que há uma vantagem bilíngue durante toda a vida. Assim, segundo esses autores, o controle executivo se desenvolve mais cedo nas crianças bilíngues, mantém-se mais eficiente na fase adulta e apresenta um declínio mais suave com o envelhecimento por apresentar um efeito cumulativo de uma experiência estimulante durante toda a vida, consistindo numa reserva cognitiva, um conceito que descreve os efeitos protetores da

(28)

experiência bilíngue contra o seu declínio durante o envelhecimento (MONIRI, 2006; BIALYSTOK et al., 2012).

Aqui nesta seção foi apresentada a definição e a localização das funções executivas. Na próxima seção, discorre-se sobre uma das funções executivas: a memória de trabalho, que tem papel central nesta pesquisa.

2.3 MEMÓRIA DE TRABALHO E VANTAGEM BILÍNGUE

A memória está intimamente ligada ao aprendizado. Conforme Gazzaniga e colaboradores, o aprendizado é o processo de aquisição de informação, enquanto a memória refere-se à persistência do aprendizado. “O aprendizado, então, tem um resultado ao qual chamamos de memória” (GAZZANIGA et al., 2006, p. 320). Em outras palavras, o aprendizado acontece quando se cria uma memória ou ela é reforçada pela repetição.

A memória humana necessita de três qualidades: as capacidades de codificar, armazenar e evocar a informação. Apesar de esses três estágios atenderem a diferentes funções, eles interagem, isto é, a codificação determina qual informação deve ser armazenada e como ela deve ser armazenada, limitando o que pode ser evocado mais tarde (BADDELEY et al., 2011). Segundo Gazzaniga e colaboradores (2006), a codificação possui duas fases. A primeira fase é a aquisição, que é o registro das informações em arquivos sensoriais e estágios de análise sensorial e a segunda é a consolidação, na qual é criada uma forte representação da informação através do tempo. King (2011) acrescenta que para a codificação acontecer, quer dizer, para processar a nova informação a ser armazenada, é necessário prestar atenção à informação. Pessoas que têm o hábito de executar várias atividades ao mesmo tempo, como assistir a uma palestra enquanto enviam uma mensagem pelo celular, por exemplo, apresentam mais dificuldades para prestar atenção à palestra e consequentemente, para codificar as informações.

(29)

O armazenamento é o resultado da aquisição e da consolidação. Ele cria e mantém um registro permanente. Finalmente, o passo seguinte que pode ocorrer ou não, é a evocação, que é a capacidade de localizar ou lembrar das informações armazenadas e reutilizá-las (CARLSON et al., 2010; LENT, 2005).

Na literatura, é possível encontrar vários tipos de memória. Elas estão classificadas de acordo com a duração ou conteúdo, ou com os vários tipos de pesquisa, como a memória de longa duração, de curta duração, memória remota, memórias associativas e não associativas, declarativas e procedurais, etc.

A Memória de curta duração, por exemplo, (MCD) estende-se desde os primeiros segundos ou minutos após o aprendizado até entre três e seis horas. Já a Memória de Longa Duração (MLD) pode durar de seis horas até vários dias, meses ou anos. As lembranças da infância, os conhecimentos que adquirimos na escola ou o aprendizado de uma língua estrangeira são exemplos deste tipo de memória. O papel básico da MCD é o de manter a informação disponível enquanto esta não é armazenada pela MLD. Experiências repetidas ou a presença de um forte alerta emocional podem converter a memória de curta duração em memória de longa duração (IZQUIERDO et al., 1999; MCGAUGH, 2000; IZQUIERDO, 2011; KANDEL et al., 2014).

A Memória de trabalho (MT), que é o principal foco do presente trabalho, de acordo com King (2011), é um tipo de memória em que o cérebro manipula e armazena informações para nos ajudar a entender, tomar decisões e resolver problemas. Izquierdo (2011, p. 27) afirma que “a expressão memória de trabalho provém da área de computação e se emprega pela analogia com sistemas que cumprem essa função nos computadores”. Se por exemplo, toda a informação no disco rígido de um computador é como a memória de longo prazo, então a MT é comparável ao que está aberto e ativo em um dado momento. Desse modo, a memória de trabalho é um sistema de memória ativo.

A memória de trabalho é processada, principalmente, pelo córtex pré-frontal, nas suas porções anterolateral e órbito-frontal e nas suas conexões com a amígdala basolateral e o hipocampo, através do córtex entorrinal. A MT depende da atividade

(30)

elétrica dos neurônios dessas regiões do cérebro. Os potenciais de ação de alguns neurônios acontecem no início dos acontecimentos, enquanto para outros se dão no meio ou no fim. Os neurônios responsáveis por detectar o início e o fim dos acontecimentos são chamados de neurônios on e neurônios off. Eles encontram-se no córtex frontal e em todas as vias sensoriais. Para gerir a MT, o córtex pré-frontal atua juntamente com o córtex entorrinal, o parietal superior e cingulado anterior e com o hipocampo. Essas regiões trocam informações entre si por meio de suas conexões (IZQUIERDO, 2011, p. 26).

O principal papel da MT é o de gerenciador, quer dizer, no momento de receber qualquer tipo de informação, determinar, entre outras coisas, se esta informação é nova ou não e também se é útil ou prejudicial para o organismo. Para fazer isso, a MT deve ter acesso rápido às memórias preexistentes no indivíduo; se a informação que lhe chega é nova, não haverá registro dela no resto do cérebro, e o sujeito pode aprender (formar uma nova memória) sobre aquilo que está recebendo do mundo externo. “As possibilidades de que, ante uma situação nova, ocorra ou não um aprendizado, estão determinadas pela memória de trabalho e suas conexões com os demais sistemas mnemônicos” (IZQUIERDO, 2011, p. 29).

Baddeley e colaboradores (2010) defendem que a memória de trabalho é responsável pelo armazenamento temporário de informações e pela manipulação dessas informações, o que é muito útil na execução de tarefas complexas. O nome memória de trabalho foi criado por Baddeley para enfatizar o seu papel funcional, como um sistema que sustenta atividades cognitivas complexas. Como a memória de trabalho tem uma capacidade de armazenar informações temporariamente; se ocorrer alguma interferência durante este processo, provavelmente a informação será esquecida, porque a MT é sensível a interferências, exigindo atenção para manter-se intacta (IZQUIERDO, 2004, 2011).

Riesgo (2006) acrescenta que a memória de trabalho também auxilia outros processos executivos como a atenção e seus subtipos: estado de alerta, atenção sustentada, seletiva, serial, compartilhada, de deslocamento, e os mecanismos inibitórios que favorecem a exclusão dos estímulos quando não interessam ao objetivo da atividade desenvolvida no momento. Portanto, o papel da MT é

(31)

coordenar o fluxo de informações necessárias para a execução de determinadas tarefas e controlar a transmissão de informações entre outras partes do sistema cognitivo (EYSENCK; KEANE, 1994).

Diversos estudos sugerem que a MT desempenha um papel ativo nos processos cognitivos ligados à compreensão da linguagem e à aprendizagem (CACERES, 2012; MARTIN, 2012). Por outro lado, não há ainda um consenso sobre o seu exato funcionamento. Os pesquisadores dos diversos componentes da MT concordam com a noção de que ela é um sistema cognitivo que permite que a informação seja armazenada, manipulada e aplicada às tarefas presentes (BADDELEY, 1992; ENGEL DE ABREU, 2011; GASS; LEE, 2011; MORALES et al., 2012).

Embora a MT tenha sido estudada por décadas, ainda não há um consenso acerca do papel do bilinguismo sobre a MT. Também não existem muitos estudos feitos com adultos jovens, isto é, a maior parte dos estudos envolvendo a MT e o bilinguismo foi feita com crianças ou idosos (MORALES et al., 2013; FARHADIAN, 2013; BILLIG, 2009; PINTO, 2009; BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2006).

É muito importante entender tanto o papel que a memória de trabalho desempenha dentro das funções executivas quanto o efeito que o bilinguismo tem sobre essa FE, uma vez que a memória de trabalho é um dos componentes mais importantes entre as funções executivas (MORALES et al., 2013; BAKER, 2013; BIALYSTOK et al., 2008).

Vários modelos de memória de trabalho foram propostos, de acordo com a área de interesse de cada teórico. A seguir são apresentados alguns dos modelos de MT encontrados na literatura.

Um dos principais modelos é o proposto por Baddeley, que apresenta quatro componentes: um mecanismo central executivo, semelhante à atenção; a alça fonológica, que retém as informações de uma forma fonológica/baseadas na fala (um modelo de memória de curto prazo verbal que serve para ajudar no aprendizado

(32)

de uma língua estrangeira, por exemplo); o esboço visuoespacial, especializado na codificação espacial e visual e o buffer episódico, que permite que os outros componentes da memória de trabalho interajam entre si e se conectem tanto com a percepção quanto com as memórias de curto e de longo prazo. (BADDELEY, 2010; EYSENCK, KEANE, 2007).

O modelo atual de memória de trabalho de Baddeley (2000) é apresentado na figura 2. Pode-se ver a ligação com a memória de longa duração a partir dos subsistemas fonológico e visuoespacial. Também pode-se notar que as informações conseguem acessar o buffer através de subsistemas visuoespaciais e fonológicos e da memória de longa duração.

Figura 2 - modelo de memória de trabalho de Baddeley (2000)

Fonte: Baddeley, 2011, p. 71

Baddeley e colaboradores (2011) explicam que a alça fonológica atua aumentando a amplitude em até três itens na tarefa de repetir números que se acabou de ouvir, por exemplo, além de estar intimamente ligada à aquisição de vocabulário, gramática e possivelmente da leitura.

O buffer episódico ou episodic buffer, segundo Baddeley et al. (2011), é o sistema de armazenamento responsável por reter aproximadamente quatro segmentos de informação em um código multidimensional. Graças a essa capacidade para reter uma gama de dimensões, ele age como uma conexão entre

(33)

vários subsistemas da memória de trabalho e liga esses subsistemas a inputs da memória de longa duração e da percepção. Apesar de cada uma dessas fontes de informação usar um código diferente, elas podem ser combinadas dentro de um

buffer multidimensional.

O esboço visuoespacial possui uma capacidade de armazenamento limitada, que restringe-se a aproximadamente três ou quatro objetos. O esboço visuoespacial é importante para a orientação espacial e o conhecimento geográfico, entre outros. Ele também é indispensável à leitura, “pois apesar de não “fotografarmos” na memória todas as palavras que lemos em um texto, para compreendê-lo de forma coerente é necessário que o cérebro retenha as quatro ou cinco últimas palavras lidas” (MOURÃO JUNIOR; MELO, 2011).

O principal componente da memória de trabalho é o executivo central, que gerencia todo o funcionamento da MT. Há várias tentativas de identificar as principais funções do executivo central. Baddeley identificou as seguintes funções: a) mudança nos planos de resgate; b) compartilhamento nos estudos de tarefa dupla; c) atenção seletiva a alguns estímulos enquanto se ignora outros; d) ativação temporária da memória de longo prazo. Um exemplo de dividir a atenção entre duas ou mais tarefas seria conversar com alguém que está no carro enquanto dirige (BADDELEY, 2010; EYSENCK, KEANE, 2007). Os processos básicos do sistema executivo da memória de trabalho são o processo inibitório, a comutação de dados (ou a flexibilidade cognitiva) e a atualização e fortalecimento da informação na MT (BIALYSTOK, 2008). Esses processos exercem um impacto interessante no caso do bilinguismo, como será visto mais adiante.

Existem outros modelos para explicar o funcionamento da MT na literatura. Um deles é o Modelo Atencional Executivo de Kane e Engle (2002; Kane, Conway) e outro modelo que também pode ser citado é o Modelo do Processo Integrado (Cowan, 1995; 2005).

No modelo de Engle (2002), a memória de trabalho é vista como um sistema conjugado de dois tipos de domínios, sendo um específico e um geral. O domínio específico consiste em uma reserva para a representação temporária da informação

(34)

e é agrupado com o geral, que envolve um mecanismo de atenção executiva ou controle de atenção. Alguns tipos de domínios são o visual, o auditivo e o espacial.

Nesse modelo, os conteúdos retidos na Memória de Trabalho seriam representações ativadas (temporariamente) da memória de longo prazo. Com o tempo, essas ligações podem perder forças e permanecer abaixo do limite da consciência. Entretanto, essa ligação pode ser reativada e manter-se no nível da consciência, se houver atenção (KANE et al. 2007, p. 44).

Assim, Kane e Engle (2002), consideram que a Memória de trabalho é capaz de controlar a atenção, com a finalidade de manter as informações em um estado ativo e rapidamente recuperáveis. A atenção seria o controle atencional, que refere-se à habilidade em manter a meta, a informação ou o estímulo do contexto ativo. Manter a informação no contexto ativo permite o fácil acesso quando há interferência e inibe os estímulos irrelevantes (Kane et al. 2001).

A habilidade de inibir a interferência permite maior processamento e retenção de informações. Segundo Kane e Engle (2000) o principal papel da MT é a recuperação e ativação das informações mantidas na memória de longo prazo. Diferenças individuais na MT refletem o grau em que a distração é inibida e informações relevantes podem ser mantidas ativadas com o foco de atenção (Kane et al. 2001). De acordo com essa teoria o controle atencional é um fator que vincula todos os processos cognitivos, componentes e funcionamentos juntos.

Em resumo, esse modelo propõe que a MT consiste em domínios gerais de controle atencional, utilizados para recuperar e manter a ativação de estruturas da MLP. Diferenças individuais na MT, refletem o grau em que a distração é inibida e informações relevantes podem ser mantidas ativadas com o foco de atenção (Kane et al. 2001).

Um outro modelo de MT encontrado na literatura é o modelo de Cowan (1999) – o modelo dos processos embutidos. Esse modelo enfatiza as relações entre memória e atenção.

(35)

Nas próprias palavras do autor:

Nessa abordagem, o termo memória de trabalho foi usado para indicar o nível funcional no qual a memória ativada, o foco de atenção e os processos executivos centrais trabalham juntos para manter os itens temporariamente na mente a fim de ajudar nas várias tarefas cognitivas (COWAN, 2010, p. 453).

Nesse modelo, o funcionamento da memória ocorreria num processo de integração entre seus componentes (ativação, atenção e inibição). Ele propõe que exista uma interação e interdependência mutua entre a MT e a memória de longo prazo (Cowan, 2005).

Além de inúmeros modelos de MT apresentados na literatura, também é possível verificar diversas vantagens ligadas ao bilinguismo. De acordo com Kalat (2013), os indivíduos bilíngues exercitam o controle da atenção, trocando de um código linguístico para outro (code switching). Nesse processo, eles melhoram a habilidade de controlar a atenção, de inibir as distrações e de armazenar informações na memória de trabalho.

Bialystok e colaboradores (2008) sugerem que a memória de trabalho de bilíngues pode ser mais demandada do que a de monolíngues, pois os bilíngues têm de lidar com duas línguas. Michael e Gollan (2005) apresentam um estudo que sugere que os bilíngues possuem uma memória de trabalho melhor do que os monolíngues devido à necessidade dos primeiros em administrar dois sistemas de línguas, o que requer a inibição de um dos sistemas enquanto a outra língua está em uso. Dessa forma, o bilinguismo requereria um maior controle e manipulação dos recursos da memória de trabalho, melhorando assim também o uso da memória de trabalho em outras atividades e tarefas.

Rodrigues e colaboradores (2015) afirmam que:

[...] a interpretação dominante a respeito da vantagem bilíngue é a de que bilíngues praticam mais o exercício da atenção seletiva e de flexibilidade cognitiva, devido às exigências de coordenação das línguas, pois para falar fluentemente e evitar intromissões indesejadas é preciso inibir a língua não alvo para produzir a língua alvo em um determinado momento de fala (RODRIGUES et al., 2015).

(36)

Foi possível, nesta seção, verificar como se dá o funcionamento da MT, de acordo com os principais modelos encontrados na literatura. Na seção a seguir, quando forem relatados estudos sobre bilinguismo e memória de trabalho, será possível observar com maior clareza a relação entre memória de trabalho e bilinguismo.

2.4 ESTUDOS EMPÍRICOS

Nesta seção são relatados alguns estudos sobre bilinguismo, memória de trabalho e efeito cognato.

2.4.1 Estudos empíricos sobre bilinguismo e memória de trabalho

Esta seção relata estudos sobre a relação entre memória de trabalho e vantagem bilíngue.

Dentre os trabalhos que investigam a influência que o bilinguismo exerce sobre a memória de trabalho, destaca-se o de Bialystok e colaboradores (2004). Esses pesquisadores desenvolveram um estudo com 40 participantes, divididos em 2 grupos: o primeiro com 20 pessoas entre 30 a 54 anos (idade média de 43 anos) e o segundo, também de 20 pessoas, com idades entre 60 a 88 anos (idade média de 71,9). Em ambos os grupos, 50% era monolíngue, falantes de inglês morando no Canadá e 50% era bilíngue, falantes de Tamil3 como primeira língua e inglês como

segunda língua (bilíngues desde os seis anos de idade, moradores da Índia). A pesquisa foi realizada no país onde os pesquisados moravam e com condições semelhantes de background (origem, classe social, educação ou experiência profissional) e sexo. Foi utilizado o teste Simon para comparar o desempenho de bilíngues e monolíngues quanto à memória de trabalho. O teste foi feito utilizando um computador laptop. O teste começava com uma cruz no centro da tela que permanecia por 800 ms, seguida por uma tela em branco (por 250 ms). No final do

3O Tamil é uma língua falada no sul da Índia, em caráter oficial, bem como no Sri Lanka e em

(37)

intervalo, aparecia um quadrado vermelho ou azul no lado esquerdo ou direito da tela por até 1000 ms. Os participantes eram instruídos a pressionar a tecla shift do lado esquerdo do teclado marcada com um “X” assim que eles vissem o quadrado azul e a tecla shift marcada com “O” ao ver o quadrado vermelho. Os resultados demonstram que os bilíngues foram mais rápidos do que os monolíngues, tanto na condição congruente4 como na incongruente5e a vantagem bilíngue quanto à rapidez

foi ainda maior nos itens incongruentes, demonstrando que os participantes bilíngues responderam mais rapidamente em condições que demandavam mais da memória de trabalho. Além disso, o grupo de idosos bilíngues (média de idade de 71,9 anos), demonstrou melhor desempenho nos testes medindo a memória de trabalho, a inteligência verbal e espacial, o vocabulário receptivo, a atenção e a seleção comparados com os participantes monolíngues, tendo um desempenho equivalente aos dos jovens monolíngues e bilíngues (com média de idade de 43 anos). Tais resultados indicam vantagens dos bilíngues em relação aos monolíngues na realização de tarefas que envolviam grande demanda da memória de trabalho e que essas vantagens são ainda mais significativas no caso dos participantes mais idosos.

É importante salientar que há controvérsias na literatura sobre o uso da Simon task (condição central) para medir a memória de trabalho, pois ela não é a tarefa mais típica para medir a memória de trabalho. A memória de trabalho envolve armazenamento e processamento de informações (BADDELEY, 1992; PARK; PAYER, 2006; ENGEL DE ABREU, 2011; GASS; LEE, 2011; MORALES et al., 2012). Assim, uma tarefa apropriada para medir a memória de trabalho deve exigir não apenas armazenamento breve de informações, mas também manipulação da informação. Na tarefa Simon de quadrados, utilizada no estudo de Bialystok (2004) e de Billig (2009), por exemplo, os participantes tinham de memorizar a regra arbitrária associando uma cor a uma tecla de resposta. Nessa tarefa, portanto, não havia uma manipulação de informação. Park e Payer (2006) afirmam que as tarefas apenas exigem memorização de itens, mas não exigem manipulação. Portanto, de acordo com os referidos autores, a tarefa Simon mede a memória de curto prazo e não a MT.

4Condição congruente, nesse teste: a tecla que correspondia à resposta correta ficava no mesmo

lado do estímulo.

(38)

Outro estudo que Bialystok e colaboradores (2008) também desenvolveram foi a pesquisa em que eles investigaram o desempenho de 96 participantes em tarefas que mediam a memória de trabalho e o controle executivo. Os participantes eram 24 jovens adultos monolíngues (idade média de 20,7 anos), 24 jovens adultos bilíngues (idade média de 19,7 anos), 24 idosos monolíngues (idade média de 67,2 anos) e 24 idosos bilíngues (idade média de 68,3 anos). Foram utilizados os seguintes testes: Teste dos Blocos Corsi, o Teste Simon de flechas e o Teste Stroop. Para verificar o desempenho da memória de trabalho foi utilizado o teste de Corsi. O teste consiste basicamente em recordar as sequências de blocos de madeira apontadas pelo pesquisador, em ordem normal e inversa. Os bilíngues jovens lembraram mais sequências do que suas contrapartes monolíngues, tanto na ordem normal quanto na inversa, demonstrando uma vantagem em relação aos monolíngues jovens. Os bilíngues (jovens e idosos) também tiveram um desempenho melhor do que os monolíngues nas tarefas que testavam o controle executivo.

Morales e colaboradores (2013) desenvolveram dois estudos comparando a memória de trabalho de crianças monolíngues e bilíngues. O primeiro estudo contava com 56 crianças de classe média, moradoras de uma cidade grande, com uma média de idade de cinco anos e meio, sendo 29 monolíngues (17 meninos) e 27 bilíngues (11 meninos). Todas as crianças bilíngues falavam inglês na escola e uma outra língua em casa. Foram feitos três testes: Peabody Picture Vocabulary

Test (PPVT-III, Dunn & Dunn, 1997) Kaufman Brief Intelligence Test (K-BIT,

Kaufman & Kaufman, 2004) e a Simon task – condição central (para medir a memória de trabalho), na qual as crianças foram instruídas a pressionar uma tecla específica para cada figura mostrada na tela do computador, e.g.: “pressione a tecla da direita para a árvore verde”. As crianças bilíngues responderam mais rapidamente do que as monolíngues e alcançaram uma maior acurácia na execução da tarefa medindo a memória de trabalho.

O segundo estudo contava com 125 crianças (as mesmas 56 crianças de cinco anos do primeiro estudo e mais 69 crianças de sete anos). Os participantes de sete anos estavam divididos em 33 monolíngues, sendo 16 meninos e 35 bilíngues (18 meninos). Assim como no estudo 1, as crianças falavam inglês na escola e na comunidade onde moravam e outra língua em casa. Os participantes executaram a

(39)

Frogs Matrices Task (FMT), que é uma variante do teste de Corsi e testa a memória

de trabalho visuoespacial. Foi apresentada aos participantes uma matriz no formato 3x3. As crianças foram informadas que cada célula representaria uma lagoa que seria ocupada por um sapo. Os nove sapos eram apresentados por um determinado tempo, um de cada vez ou em grupos, seguidos por uma matriz em branco que ficava também por alguns segundos na tela. Após esse tempo, as crianças tinham de lembrar onde os sapos estavam localizados, sendo instruídas a tocar na tela do computador para mostrar em que lagoa/célula os sapos foram apresentados anteriormente. Em ambos os estudos, os participantes bilíngues tiveram um desempenho melhor nas tarefas que mediam a memória de trabalho do que os monolíngues e a vantagem bilíngue foi maior nos testes com condições mais difíceis. No estudo 1, foi encontrada uma vantagem bilíngue relacionada à acurácia nos testes mais difíceis, enquanto no estudo 2, as crianças bilíngues mais novas apresentaram um desempenho melhor na condição simples do que os monolíngues e na condição mais difícil houve uma vantagem bilíngue em todas as idades.

Diversas pesquisas brasileiras relacionando o bilinguismo à memória de trabalho e outras funções executivas foram inspiradas principalmente nos trabalhos de Bialystok. A maior parte delas investiga os bilíngues do sul do Brasil, falantes da variedade da língua alemã Hunsrückisch.

Billig (2009) analisou o desempenho de quatro grupos de participantes: adultos e idosos bilíngues e monolíngues de duas cidades do interior do Rio Grande do Sul em relação às funções executivas. Foram aplicados testes para verificar o Controle Inibitório (CI) e a MT (Simon de Flechas e Quadrados e Teste Stroop) nos 83 participantes, sendo 42 bilíngues, falantes de hunsrückisch e português e 41 monolíngues, falantes de português. Para medir a memória de trabalho foi utilizada a tarefa Simon de quadrados (com estímulo central), a mesma tarefa utilizada por Bialystok et al. (2004). Não houve uma diferença significativa entre os grupos bilíngues e monolíngues, como a autora previa em sua hipótese. Foi constatado que não houve diferenças significativas entre os grupos no desempenho dos testes de função executiva (testes não linguísticos). Também não houve diferenças significativas em relação ao CI. Uma explicação para a falta de vantagem dos bilíngues pode estar relacionada com a escolaridade (o nível de escolaridade dos participantes era, em média, oito anos) ou ao fato de as palavras usadas nos testes

(40)

estarem em português, apesar da língua dominante dos participantes ser o

Hunsrückisch.

Pinto (2009) desenvolveu um estudo com 60 participantes, distribuídos em quatro grupos envolvendo as variáveis idade e bilinguismo. O grupo dos adultos idosos (entre 60 e 75 anos de idade) foi dividido igualmente em monolíngues, falantes de Português Brasileiro (PB) como L1, e bilíngues, falantes de

Hunsrückisch (língua de imigração alemã) como L1 e PB como L2. E no grupo de

adultos jovens (entre 30 e 50 anos de idade), a metade foi composta de monolíngues, falantes de PB como L1; e a outra metade, de bilíngues, falantes de

Hunsrückisch, como L1; e PB como L2. A pesquisa foi realizada nas cidades de

Porto Alegre e de Ivoti, no Rio Grande do Sul. Para avaliar as capacidades cognitivas relativas à memória de trabalho, à inteligência e ao vocabulário, foram utilizados, respectivamente, as Tarefas Simon 1 e 2, o Teste Raven de Matrizes Progressivas e o Teste Peabody de Vocabulário Receptivo com Figuras. Observou-se que os Idosos Bilíngues (IB) apreObservou-sentaram uma tendência de melhor performance em relação aos adultos idosos monolíngues (IM), uma vez que, em todas as condições propostas na tarefa Simon 1 e 2, os IB obtiveram percentual maior de acurácia, menor tempo de reação (TR) nas testagens congruentes e incongruentes, e de efeito Simon. Apesar de não terem sido encontradas diferenças estatísticas significativas na tarefa Simon - testes 1 e 2, a autora observou uma tendência de melhor desempenho dos grupos bilíngues, adultos jovens (JB) em relação aos adultos jovens monolíngues (JM) na execução dessa tarefa.

Pereira (2012) realizou um estudo com 56 participantes, adultos jovens entre 19 e 35 anos de idade e idosos entre 60 e 75 anos, sendo 20 monolíngues e 28 bilíngues (falantes de português brasileiro e do dialeto vêneto). Os participantes eram descendentes de imigrantes italianos do sul do Brasil. A autora tinha como objetivo verificar como o bilinguismo influencia o processamento de alguns componentes cognitivos, como a Memória de Trabalho, a atenção e o Controle Inibitório. Pereira utilizou o teste de Geração Aleatória de Números (GAN)6 para

6Nesse teste, o participante ouve estímulos sonoros de um computador (som de compasso) e deve

gerar números aleatórios (sempre de 1 a 10), na mesma velocidade em que os sons vão aparecendo. É enfatizado ao participante que este não deve formar sequências crescentes,

Referências

Documentos relacionados

Os dados de incidência foram obtidos do RCPB de Fortaleza a partir do sistema basepopWeb (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2010), sendo coletados: o número de casos novos

Beatriz Cardoso Carla Veloso Filipe Santos João Pedro Teixeira José Manuel Teixeira Maria Júlia Lopes Pedro Granate Ricardo Frada Susana Castro

Cândida Fonseca Duração e local: 11/09/2017 a 03/11/2017 – Hospital São Francisco Xavier Objectivos e actividades desenvolvidas: Os meus objectivos centraram-se na

Da mesma forma que podemos verificar quais são as despesas associadas diretamente às receitas, e as despesas associadas indiretamente às receitas, podemos verificar as

Na perspectiva da gestão, destacam-se: o diálogo ainda fragilizado entre as ações de formação e os demais eixos do PAIC; a falta de articulação entre as ações de formação

Este estudo se dedicou a analisar como ocorreu a implementação da política pública para o Ensino Médio, vigente no Estado de Minas Gerais, em três

O objetivo que se estabeleceu para o estudo foi avaliar de forma crítica alguns dos processos que integram a Pró-Reitoria de Recursos Humanos, tais como assistência à

Assim pa a além do Secto das Est adas este modelo de O&M Assim, para além do Sector das Estradas, este modelo de O&M poderá estender-se no curto prazo a outros sectores,