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O segundo objetivo era analisar se os bilíngues possuem vantagens comparados a monolíngues na execução da tarefa WFC (Word-Fragment

Completion - descrita na seção 7.2.2), que avalia a memória de trabalho através da

utilização de palavras abstratas, ou seja, os participantes precisam lembrar as palavras imediatamente após elas serem apresentadas na tarefa Naming By

Definition (NBD) e também 5 dias depois. Para isso, a segunda hipótese previa que

haveria uma diferença estatisticamente significativa a favor dos bilíngues na tarefa WFC (Word Fragment Completion).

4.3.1 Descrição

Com o intuito de verificar se as tarefas WFC1 e WFC2 aderiam à distribuição normal, também foi realizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov. Em nenhum dos casos, a hipótese de que a variável segue distribuição normal foi rejeitada. Foi utilizado o programa SPSS versão 18 para esta análise.

Para o segundo teste realizado pelos dois grupos (monolíngues e bilíngues), o WFC1, realizado poucos minutos após o término do teste NBD, foi aplicada a mesma metodologia estatística usada para os resultados do NBD. Não foi constatada uma diferença significativa estatisticamente, conforme os dados apresentados na tabela 17.

Tabela 27 - Desempenho dos participantes monolíngues e bilíngues na tarefa Word Fragment Completion

Variável Grupo Média Desvio-padrão P-valor do teste t

WFC 1 Bilíngues 0,687 0,138 0,109

Monolíngues 0,63 0,093

WFC 2 Bilíngues 0,68 0,129 0,034*

No entanto, através da tabela 17, pode-se verificar que houve diferença significativa entre o grupo de bilíngues e monolíngues no teste WFC2, ou seja, os bilíngues apresentaram uma proporção de acertos bem superior aos monolíngues nas questões respondidas 5 dias após a primeira etapa. Os monolíngues obtiveram uma média de acertos de 0,607, enquanto os bilíngues obtiveram a média de 0,680. Nos demais casos, apesar de a proporção de acertos ter sido maior para os bilíngues, o teste não detectou diferença estatística.

Na tabela 18, a seguir, verifica-se que a correlação linear entre WFC1 e WFC2 é superior, descritivamente, entre os bilíngues do que entre os monolíngues. Isto é, à medida que cresce a proporção de acertos de WFC1, cresce linearmente a proporção de acertos em WFC2, e esse crescimento mútuo, ou relação linear é, descritivamente, maior para os bilíngues, sugerindo que o percentual de acerto nos testes é mais parecido nesta categoria. Em contrapartida, para os monolíngues, essa relação é quase inexistente, não sendo significativa.

Tabela 18 – Correlação linear entre WFC 1 e WFC 2

Monolíngues Bilíngues WFC1 WFC 1 Cognatas WFC2 WFC1 WFC 1 Cognatas WFC2 WFC1 Pearson Correlation 1 1 Sig. (2-tailed) WFC 1 Cognatas Pearson Correlation ,477 1 ,874 1 Sig. (2-tailed) ,021 ,000 WFC2 Pearson Correlation ,465 ,299 1 ,687 ,600 1 Sig. (2-tailed) ,025 ,166 ,000 ,002 WFC 2 Cognatas Pearson Correlation ,503 ,482 ,643 ,682 ,759 ,841 Sig. (2-tailed) ,014 ,020 ,001 ,000 ,000 ,000 Fonte: Da autora, 2016

Uma vez apresentados os resultados descritivos em relação à segunda hipótese, passa-se agora à discussão desses resultados.

4.3.2 Discussão

Em relação à segunda hipótese, previa-se que haveria uma diferença estatisticamente significativa a favor dos bilíngues no desempenho da tarefa Word

Fragment Completion, que mede a memória de trabalho. Assim como Baker (2013),

cujo trabalho está sendo replicado aqui, não se encontrou diferençasentre os dois grupos em relação à primeira etapa de aplicação do WFC (ou WFC1), ou seja, minutos após a aplicação do teste Naming By Definition, também não foi encontrada uma vantagem significativa dos bilíngues em relação aos monolíngues na execução da tarefa.

Porém, os resultados da aplicação da segunda etapa do WFC (o WFC2), realizada 5 dias após a primeira, mostram uma vantagem que é considerada significativa dos bilíngues em relação aos monolíngues. Essa vantagem se dá em relação não só à memória de trabalho, mas principalmente em relação à memória de longa duração, pois informações que são lembradas depois de seis horas, como é o caso da segunda etapa da tarefa WFC (a WFC2), são consideradas memória de longa duração.

Alguns pesquisadores afirmam que há uma relação entre a memória de trabalho e a memória de longa duração (MIYAKE, SHAH, 1999), embora a natureza e a extensão dessa relação seja discutível. De acordo com Baddeley, a memória de trabalho conecta-se com a memória de longa duração através do buffer episódico ou

episodic buffer12. Graças a sua capacidade para reter uma gama de dimensões, o

buffer episódico conecta vários subsistemas da memória de trabalho e liga esses

subsistemas a inputs da memória de longa duração e da percepção. (BADDELEY et al., 2011, p. 70). Pode-se verificar, desse modo, que a segunda hipótese foi parcialmente corroborada, pois se encontrou uma vantagem significativa dos bilíngues em relação aos monolíngues apenas na execução do WFC2, replicando o resultado encontrado por Baker (2013).

Paap e Greenberg (2013) afirmam que a experiência dos bilíngues, especialmente os fluentes, em trocar de código linguístico, envolvendo a avaliação do contexto, a seleção de uma língua e a inibição da outra língua pode levar a uma

melhora nas funções executivas, como diversos pesquisadores já reportaram (BIALYSTOK, 2006; BIALYSTOK, CRAIK, KLEIN, & VISWANATHAN, 2004; BIALYSTOK, CRAIK, LUK, 2008; COSTA, HERNÁNDEZ, SEBASTIÁN-GALLÉS, 2008).

Paap e Greenberg (2013) argumentam que há indícios de que as funções executivas dos bilíngues sejam mais exercitadas e, portanto, mais fortalecidas durante a compreensão e produção oral pelo monitoramento do ambiente comunicativo constante em caso de haver necessidade de troca de código ou

codeswitching.

Contudo, os referidos autores acrescentam que, embora os monolíngues não necessitem fazer o mesmo tipo de monitoramento que os bilíngues fazem durante o

codeswitching, o ato de falar qualquer língua também requer outras formas de

monitoramento e inibição. Em qualquer conversação, por exemplo, há a necessidade de monitoramento do ambiente para perceber os sinais para a troca de turnos, para possíveis usos de sarcasmos, mudanças de tópico, etc.

Os falantes monolíngues também precisam fazer escolhas sintáticas e semânticas constantemente. Portanto, ainda que os bilíngues fluentes tenham mais necessidade de monitoramento do ambiente conversacional, essa necessidade extra pode não ser suficiente para garantir melhor desempenho quanto às funções executivas (PAAP; GREENBERG, 2013).

A ausência de uma vantagem bilíngue no WFC1 talvez possa ser explicada pelo efeito de outras variáveis como proficiência, tempo e frequência de uso da língua, entre outros, que influenciam o processamento e memorização bilíngue.

O aprendizado de uma língua é um contínuo, ocorrendo ao longo de um tempo, com prática e vivências, e de um modo monolíngue a um modo bilíngue (GROSJEAN, 2001; COOK, 2003). Assim, acredita-se que o tempo de uso das línguas também tem influência sobre a ativação interlinguística e, sobre o desempenho dos participantes nas tarefas. Grosjean (1989) sugere que, na medida em que o bilíngue recebe mais input e faz um maior uso da língua ao longo do tempo, ele conhece novas situações, novos ambientes e interlocutores, que fazem com que esse falante desenvolva melhor suas habilidades na língua estrangeira. Portanto, após períodos de prática, o falante bilíngue tem acesso a um

conhecimento mais amplo necessário à maioria de suas necessidades comunicativas.

Embora alguns estudos encontrados na literatura (PEREIRA, 2012; BIALYSTOK et al., 2008) tenham reportado uma vantagem bilíngue em relação à memória de trabalho, outros trabalhos, como o de Pinto (2009), não obtiveram a mesma vantagem. No grupo de adultos jovens, observou-se uma tendência de melhor desempenho dos grupos bilíngues, adultos jovens em relação aos adultos jovens monolíngues na execução da tarefa Simon, que mediu a memória de trabalho em sua pesquisa, apesar disso, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas na execução da tarefa. Existem muitos outros trabalhos que não encontraram uma vantagem bilíngue, como os relatados em uma metanálise feita por Hilchey e Klein (2011). Na próxima seção serão descritos os resultados referentes à terceira hipótese, bem como a discussão desses resultados.